Dilemas e avanços da Responsabilidade Social Empresarial

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Dilemas e avanços da Responsabilidade
Social Empresarial
O Trabalho do Instituto Ethos
Ricardo Young
Presidente do UniEthos
e presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos
Brasília, março de 2005
Breve histórico
• Pobreza e exclusão social no Brasil é conseqüência direta de nossa histórica produção
de desigualdades
• No século 20, o PIB cresceu mais de 100 vezes e a população saltou de 17 milhões
para 170 milhões (IBGE, 2003)
• Riqueza não foi distribuída e a concentração de renda aumentou
• Em 1960 os 10% mais ricos tinham uma renda 34 vezes maior que os 10% mais
pobres. Na virada do século 21 a renda do 1% mais rico era igual aos dos 50% mais
pobres (IBGE, 2003)
• Cerca de 1/3 da população convive com a insegurança alimentar no Brasil que, em
2003 e 2004, o país alcançou o posto de maior exportador mundial de carne e soja e
produção recorde de grãos
• A concentração de renda no Brasil (4ª maior do mundo), mantém na pobreza mais de
50 milhões de pessoas
• A população em estado de pobreza, além de insuficiência de renda, convive com a
dificuldade de acesso à educação, saúde, assistência social e habitação
Breve histórico
Conquistas
• Retorno da democracia a partir de 1990 possibilitou a reorganização da sociedade
civil
• Em uma década, vários movimentos sociais se destacaram em iniciativas de:
combate à fome; educação e saúde; universalização da educação básica; expansão da
população universitária; combate à Aids; diminuição da mortalidade infantil;
consolidação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) etc.
• Preocupação considerável e ação dos grupos de pressão – consumidores, clientes,
investidores, ONGs, sindicatos, mídia, entre outros
• A Rio 92, no Rio de Janeiro; a Rio+10, em Johanesburgo; O Fórum Social Mundial,
em Porto Alegre; são demonstrações de que não há possibilidade de construção de um
mundo justo e saudável – social, econômica e ambientalmente – se a questão da
sustentabilidade não for incorporada na gestão das organizações e do próprio Estado
• Inúmeras organizações empresarias foram criadas para lidar com temas sociais,
direitos humanos e sustentabibilidade ambiental – o Compromisso Empresarial para
Reciclagem (Cempre), o Conselho Empresarial Brasileiro para o DS (CEBDS) e a
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS).
• Na área social criou-se o Ibase, ICE, Gife, Abrinq etc.
• Para tratar de responsabilidade social corporativa, fundou-se o Instituto Ethos
Avanços da RSE no Brasil
Da filantropia a RSE
• 60% das empresas realizam investimentos sociais (Ipea/2003)
• Lideranças empresariais estão mais conscientes de que a RSE é estratégia de negócio
que contribui para competitividade e sustentabilidade
• Praticas de RSE como balizadoras de relações com o mercado -Petrobrás, CPFL, ABN
Amro Bank – critérios de RSE para avaliação de fornecedores
• Composição de carteiras de investimento e inclusão de cláusulas socioambientais em
contratos de concessão de crédito – ABN Amro Bank; Itaú e Unibanco
• Fundos de Pensão adotam diretrizes e critérios para seus investimentos, privilegiando
empresas que se pautem pela gestão socialmente responsável
• Criação do Novo Mercado pela Bolsa de Valores de São Paulo e do índice de
sustentabilidade
• Aumento do número de empresas certificadas por padrões de qualidade e de
adequação ambiental, como as normas ISOs, SAs, AA1000 entre outras
• 209 companhias aderiram ao Global Compact, da ONU
Avanços da RSE no Brasil
Indicadores
Surgem novas ferramentas de gestão para orientar as empresas no ingresso ou no
aperfeiçoamento de práticas de RSE:
Indicadores Ethos de RSE
334 empresas utilizaram os Indicadores Ethos de RSE (2003)
Evolução para indicadores setoriais Financeiro, Mineração e Papel e
Celulose
Indicadores específicos para Micro e Pequena Empresa (Ethos-Sebrae);
Energia Elétrica (Ethos-Abradee); Panificação e Confeitaria (Ethos-Abip);
Bares e Restaurantes (Ethos-Abrasel)
Banco de Práticas
590 práticas empresariais já foram selecionadas pelo Instituto Ethos
Guia de Balanço Social
• Cerca de 200 empresas publicam Balanço Social – muitas já utilizam as
diretrizes do Global Reporting Initiative (GRI)
• 167 empresas concorreram à edição 2004 do Prêmio Balanço Social –
aumento de 10% em relação à edição anterior
RSE e Desenvolvimento
Sustentável
• Desde a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em
Johanesburgo, em 2002, lançou-se um alerta sobre os riscos que a humanidade está
impondo à sua própria sobrevivência.
Degradação ambiental está provocando o aquecimento acelerado do planeta,
derretimento das camadas polares e a elevação do nível dos mares
Cem espécies animais desaparecem a cada dia e as florestas existentes estão
submetidas à progressiva destruição
As reservas de água potável caminham para o esgotamento – mais de 2 bilhões de
pessoas já enfrentam escassez desse recurso e até 2025 saltará para 4 bilhões
(global Environment Outlook 3 – GEO3)
• Uma sociedade que se guia pela sustentabilidade busca atender às necessidades
básicas dos seres humanos; evitar a degradação ambiental e manter o equilíbrio dos
ecossistemas; evitar desperdícios e a injustiça social
• Para as empresas a sustentabilidade deve assegurar o sucesso do negócio no longo
prazo, contribuindo simultaneamente para o desenvolvimento econômico, social e o
equilíbrio entre meio ambiente e sociedade
RSE e Desenvolvimento
Sustentável
• As empresas para terem sustentabilidade e longevidade estão sendo convocadas a
repensarem seus negócios em função da diminuição de resíduos, ciclos de desperdício,
energias sustentáveis, além de novos modelos de gestão.
• Entre as oportunidades mais significativas proporcionadas pela busca efetiva por
negócios mais sustentáveis são:
Redução de custos pela diminuição dos impactos ambientais e pelo bom tratamento
aos funcionários
Aumento de receitas devido aos cuidados ambientais e ao favorecimento das
economias locais
Redução de riscos por meio do envolvimento com stakeholders
Desenvolvimento do capital humano por meio de gestão de recursos humanos mais
eficazes
Acesso ao capital por meio de melhores práticas de governança corporativa
(Estudo Criando Valor – O business case para sustentabilidade em mercados emergentes, 2002)
Novos indicadores de
sustentabilidade
• Vários teóricos contemporâneos tem evidenciado que existe uma outra forma de
pensar a economia e novas abordagens em relação a indicadores macroeconômicos, a
indicadores de desempenho e ao conceito de competitividade das nações
• A futurista Hazel Henderson articulou com várias ONGs a Conferência Internacional de
Indicadores de Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida – Icons 2003, em
Curitiba/PR
• O resultado da Conferência foi apontar para dois grandes eixos que devem servir de
parâmetros para o desenvolvimento sustentável:
Agenda 21, estabelecida na Rio 92
Objetivos das Metas do Milênio, firmados pela ONU em 2000
• O Observatório Brasil nasceu na Icons 2003 e pretende ser uma referência importante
desses objetivos de desenvolvimento sustentável. Pretende-se atuar de maneira
insistente, chamando para os governos estaduais e federal, além da sociedade civil para
a preservação das ações do desenvolvimento sustentável
Impacto das Políticas de Organizações
Intergovernamentais no Brasil
A) Banco Mundial
• Estímulo ao desenvolvimento da RSE e do Desenvolvimento Sustentável – iniciativa
tímida, mas expressiva
• Civil Society Team
• Divisão para Sociedade Civil do BID (IADB)
• Country Assistance Strategy (CAS)
B) Global Compact
O Instituto Ethos conduziu em 2000, de forma pioneira, um processo de engajamento
das empresas brasileiras no importante desafio proposto pelo secretário-geral das
Nações Unidas, Kofi Annan.
• Na ocasião, 206 organizações atenderam à convocação do Instituto Ethos e
tornaram-se signatárias do Global Compact – garantindo liderança no âmbito
internacional
• Em 2003, o Brasil sediou a terceira edição do Learning Forum, em BH/MG, reunindo
diversos públicos de vários países
• Policy Dialogue sobre cadeias de fornecedores contou com a participação do Sebrae
• Outro avanço estão reunidos em publicação editada pelo Instituto Ethos – Práticas
Empresariais de Responsabilidade Social: relações entre os princípios do Global
Compact e os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social
Impacto das Políticas de Organizações
Intergovernamentais no Brasil
B) Global Compact
Atualmente, 229 organizações brasileiras são signatárias do Global Compact – 86 delas
participam ativamente da iniciativa e 37 constituem o Comitê Brasileiro do Global
Compact, fundado em 2003
Objetivos do Comitê Brasileiro do Global Compact
Massificação dos seus princípios
Ampliação da adesão de empresas
Criação de uma Rede Nacional que trabalhe os princípios do GC
Apoio às empresas brasileiras para a implantação dos princípios
Promoção de troca de experiências, facilitação de aprendizados e desenvolvimento
de ações práticas relacionadas aos princípios do GC (Learning Forums e Policy
Dialogues)
Promoção de parcerias que envolvam os princípios do GC e demais objetivos das
Nações Unidas (Iniciativas de Parceria)
Exercício das funções de articulador internacional com as demais redes do GC e
com o escritório em Nova Iorque
Promoção do vínculo entre os princípios do GC e as Metas do Milênio
Assessoramento ao representante brasileiro no Global Compact
Construção do compromisso das
empresas com as Metas do Milênio
e os princípios do Global Compact
O Compromisso das Empresas com as
Metas do Milênio
Reúne um conjunto de iniciativas empresariais desenvolvidas
no Brasil que contribuem no enfrentamento de questões
globais apontadas pela ONU nas "Metas do Milênio“.
Práticas Empresariais de RS - Relação entre os
princípios do Global Compact e os Indicadores
Ethos de RSE
300 casos empresariais brasileiros e suas ações de RSE foram
selecionadas e comparadas com os nove princípios do Global
Compact e os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social
Empresarial.
Os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial estão em
sintonia com os princípios do Pacto Global e as Metas do Milênio
Construção do compromisso das
empresas com as Metas do Milênio
Exemplos do Projeto Ethos desenvolvidos para
estimular os associados
Programa Cisternas (MM 1 e 4)
Iniciativas locais (MM 1, 4 e 5)
Banco de alimentos (MM 1)
Restaurantes populares (MM 1)
Semana Nacional de mobilização: Cidadania e
solidariedade (MM 1 e 8)
Trabalho decente para todos (MM 3 e 8)
Promoção da eqüidade / diversidade (MM 3)
Programa Escola Aberta (MM 2)
Programa Analfabetismo Zero (MM 2)
Programa Cisternas
Estudo de caso
Programa de Convivência com o Semi-Árido
Projeto 1 milhão de cisternas rurais
Região conhecida como Semí-Árdio
brasileiro
11 Estados
Ceará
Maranhão
Rio Grande do Norte
Paraíba
Piauí
Pernambuco
Alagoas
Sergipe
Bahia
Minas Gerais
15% da população do País -24 milhões
de pessoas
Seca e pobreza
Piores taxas sociais, econômicas e
ambientais
Forte êxodo para regiões
metropolitanas (sul do País)
Tentativas mal-sucedidas de
administrações passadas de combater a
seca e a pobreza
Formação de várias ONGs em uma única entidade chamada ASA (Articulação no Semi-Árido Brasileiro)
A Asa é composta por mais de 800 entidades sociais sendo que 59% são de organizações comunitárias,
21% de sindicatos, 11% de entidades assistenciais religiosos, 6% de ONGs e 3% de cooperativas de
trabalho.
Programa Cisternas
Estudo de caso
Programa de Convivência com o Semi-Árido
Projeto 1 milhão de cisternas rurais
‰ Iniciativa de multistakeholders
ASA (Articulação no Semi-Árido Brasileiro);
Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos)
Outras empresas
Governo Federal, pelo Programa Fome Zero
Objetivos consolidados: Influenciar políticas-públicas
Programa Cisternas
Estudo de caso
Programa de Convivência com o Semi-Árido
Projeto 1 milhão de cisternas rurais
‰ Sustentabilidade do Projeto
Etapa 1: Construção de 10 mil cisternas individuais
• 50 mil habitantes beneficiados
• Atividades de mobilização
• Capacitação das famílias e populações locais
• Aquisição de competências para soluções de baixo custo
• Infra-estrutura necessária para as etapas seguintes
Etapa 2: Construção de outras 10 mil cisternas
Implementação de grupos temáticos para:
• Inclusão Social e Combate à Desigualdade
• Recuperação da Capacidade Produtiva do Semi-Árido
• Preservação, conservação e uso sustentável de recursos naturais
• Recuperação da capacidade produtiva do semi-árido (envolverá espaços
para a inserção do sistema financeiro na aplicação de recursos de crédito
(micro-finanças) às famílias e/ou comunidades)
Programa Cisternas
Estudo de caso
Programa de Convivência com o Semi-Árido
Projeto 1 milhão de cisternas rurais
‰ Resultados alcançados pelo Programa
¾
Resultados intangíveis
ƒ
Redução de custos sociais futuros
ƒ
Avanço na cidadania
ƒ
Geração de renda
ƒ
Diminuição da dependência
ƒ
Elevação da solidariedade
ƒ
Otimização geral de recursos
¾
Comunidade local
ƒ
50 mil pessoas livres da opressão política e falta de água
ƒ
Elevação do nível educacional e da consciência socioambiental das
populações locais
ƒ
Capacitação das famílias e populações locais
ƒ
Redução de sua dependência externa
ƒ
770 novos trabalhos criados para pedreiros
ƒ
Ativação das economias locais
ƒ
Geração de renda
Programa Cisternas
Estudo de caso
Programa de Convivência com o Semi-Árido
Projeto 1 milhão de cisternas rurais
¾ ASA (Articulação no Semi-Árido Brasileiro);
ƒ Concretização de um sonho: conseguir colocar em operação um
programa de extrema complexidade, da tamanha abrangência
geográfica, repleto de variáveis específicas
¾ Governo
ƒ Foi um dos poucos projetos, para não dizer o único, cuja matriz
inspiradora foi a chamada ao problema da fome e que precisava de apoio
para sua principal causa – Fome Zero
¾ Federação Nacional dos Bancos (Febraban)
ƒ Além do ganho de imagem, ampliou a oportunidade de aprendizado
deste trabalho e ampliou a inserção da temática no seu processo de RSE
e desenvolvimento sustentável
Programa Cisternas
Relação entre os resultados alcançados,
Metas do Milênio e Indicadores Ethos
Resultados na sociedade
Metas do Milênio
Indicadores Ethos
Geração de renda
Meta 1
Indicadores 2, 4, 5, 6 e 7
Redução de custos sociais futuros
Metas 1, 2, 4, 6, 7 e 8
Indicadores 1, 2, 4, 5, 6 e 7
Avanço na cidadania
Meta 8
Indicadores 4, 5, 6 e 7
Diminuição da dependência
Meta 7
Indicador 3
Otimização geral de recursos
Meta 8
Indicadores 4, 5, 6 e 7
50 mil pessoas livres da opressão política
e falta de água
Meta 7
Indicador 3
Elevação do nível educacional e da
consciência socioambiental das
populações locais
Metas 2, 3, 6 e 7
Indicadores 2, 4, 5, 6 e 7
Capacitação das famílias e populações
locais
Metas 2, 3, 4, 5 e 7
Indicadores 2, 4, 5, 6 e 7
Redução de sua dependência externa
Metas 7 e 8
Indicadores 3, 4, 5, 6 e 7
770 novos trabalhos criados
Metas 7 e 8
Indicadores 3, 4, 5, 6 e 7
Ativação das economias locais
Metas 1, 2, 7 e 8
Indicadores 2, 4, 5, 6 e 7
RSE e Políticas Públicas
Conclusões
A sociedade civil organizada tem sido o principal motivador de iniciativas da RSE e DS
Construção de um novo modelo:
nova articulação entre governo, empresas e sociedade civil organizada levando-se
em consideração, inclusive, aqueles setores com maior capacidade de geração de
emprego, renda e cadeias produtivas de sustentabilidade, como as pequenas e
médias empresas
Expandir e incorporar práticas de RSE como uma ferramenta prática ao mercado
Possibilitar que ações de RSE e desenvolvimento sustentável desenvolvidas pelas
empresas possam inspirar políticas públicas
Estabelecer incentivos para empresas que vão além da conformidade com a legislação
Possibilitar ações de redirecionamento fiscal em projetos de inclusão social e
sustentabilidade
Disseminar e promover políticas sociais
Criar mecanismos de monitoramento de RSE e desenvolvimento sustentável em conjunto
com a sociedade civil organizada
Criar o Fórum Nacional de Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável
RSE e Políticas Públicas
Conclusões
Facilitar e catalisar esforços para que agentes dispersos atuem em programas comuns e
convergentes
Estimular a criação de um conselho e órgãos técnicos que dêem suporte científico às
iniciativas de RSE e desenvolvimento sustentável;
Disseminar nas universidades públicas e privadas programas de capacitação em gestão
socialmente responsável
Reciclar gestores públicos em conceitos de RSE e desenvolvimento sustentável
Incorporar nas agendas de negociação acordos e tratados internacionais, como OMC,
ALCA, Mercosul, FMI, Banco Mundial, BID, Unctad e outros, bem como critérios e
mecanismos de apoio à RSE e ao desenvolvimento sustentável
Reforçar os acordos e as decisões das conferências multilaterais que tratam do tema,
esforçando-se para implementá-los
Promoção de sinergias entre os diferentes agentes públicos e privados
Replicação das experiências de sucesso das empresas
Modelo de vinculação da Responsabilidade Social, Políticas Públicas e Metas do Milênio
Obrigado!
www.ethos.org.br
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