Volume 11 nº 53 Jul/Set de 2013 - Open Access P O S T U R O L O G I A ed ex ind se” a l is ua atab n Ma L® d ia H rap INA “Te he C t in in ed ex ” ind base a l is ua ® dat n a s M u c ia is rap rt D “Te Spo the r Spo us sc tDi d in ” xe de base is in data al nu S B2 a M E ia AP rap SC “Te UALI Q the ES AP C IS AL B2 U Q CO EBS shing li Pub ASSOCIATION POSTUROLOGIE INTERNATIONALE Association Posturologie Internationale LE COMITE ` SCIENTIFIQUE DE L’API BUREAU DE L’API: Président d’honneur: Dr Pierre Marie GAGEY Président: Philippe VILLENEUVE Vice-président: Dr Bernard WEBER † Vice-président: Dr Patrick QUERCIA Secrétaire General: Jean Philippe VISEU Trésorier: Sylvain CARON Responsable Belgique: Anne Marie LEPORCK Responsable Suisse: Christophe DREVOT Responsable Italie: Dr Alfredo MARINO Resp. Amérique du Nord: Joël LEMAIRE Association Posturologie Internationale 20 rue du rendez-vous 75012 Paris Tél. : 01 43 47 14 55 - Fax : 01 43 47 13 73 Mail : [email protected] Professeur P. BESSOU † Professeur S. BOUISSET Professeur A. CASTROS Madame C. JOURNOT Docteur J.M. KIRSH † Professeur J. DUYSENS Monsieur P. MONTHEARD Professeur J.P. ROLL Docteur C. THEMARD-NOEL Professeur A. VILLADOT † Monsieur P. VILLENEUVE Docteur P. QUERCIA EXPEDIENTE Editor Chefe Prof. Dr. Luís Vicente Franco de Oliveira Pesquisador PQID do Conselho Nacional de Pesquisa CNPq - Professor pesquisador do Programa de Pós Graduação Mestrado/Doutorado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE - São Paulo – SP Ter. Man. 2013 Jul/Set 11(53) ISSN 1677-5937 ISSN-e 2236-5435 Co-Editores Dr Pierre Marie Gagey Président d'honneur de l’Association de posturologie internationale. Dr Philippe Villeneuve Président de l’Association de posturologie internationale. Posturologue, podologue, ostéopathe et chargé de cours à la faculté de Paris XI en Physiologie de la posture et du mouvement. Dr Bernard Weber † Vice-président: de l’Association de posturologie internationale. Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal LILACS Latin American and Caribbean Health Sicience Editores associados Prof Dr Antônio Nardone teacher and researcher at Posture and Movement Laboratory – Medical Center of Veruno – Veruno – Itália Prof Daniel Grosjean professeur et elaborateur de la Microkinesitherapie. Nilvange, France. Il partage son temps avec l’enseignement de la méthode depuis 1984, la recherche, les expérimentations et la rédaction d’articles et d’ouvrages divers sur cette technique. Prof François Soulier – créateur de la technique de l’Equilibration Neuro musculaire (ENM). Kinésithérapeute, Le Clos de Cimiez, Nice, France. Prof Khelaf Kerkour – Coordinateur Rééducation de L’Hopital Du Jura – Delémont – França • President de l’Association Suisse de Physiothérapie. Prof Patrice Bénini - Co-foundateur de la Microkinesitherapie. Il travaille à l’élaboration de la méthode, aux expérimentations, à la recherche ainsi qu’à son enseignement. Montigny les Metz, France. Prof Pierre Bisschop - Co-founder and administrator of the Belgian Scientific Association of Orthopedic Medicine (Cyriax), BSAOM since 1980; Professor of the Belgian Scientific Association of Orthopedic Medicine; Secretary of OMI - Orthopaedic Medicine International – Bélgium. EBSCO Publishing Conselho Científico Prof. Dr. Acary Souza Bulle Oliveira • Departamento de Doenças Neuromusculares Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo, SP - Brasil. Prof. Dr. Antônio Geraldo Cidrão de Carvalho • Departamento de Fisioterapia - Universidade Federal da Paraíba - UFPB – João Pessoa, PB - Brasil. Profª. Drª. Arméle Dornelas de Andrade • Centro de Ciências da Saúde - Universidade Federal do Pernambuco - UFPE – Recife, PE - Brasil. Prof. Dr. Carlo Albino Frigo • Dipartimento di Bioingegneria - Istituto Politécnico di Milano – MI - Itália Prof. Dr. Carlos Alberto kelencz • Centro Universitário Ítalo Brasileiro - UNIÍTALO – São Paulo, SP – Brasil. Prof. Dr. César Augusto Melo e Silva • Universidade de Brasília – UnB – Brasília, DF – Brasil. Profª. Drª. Claudia Santos Oliveira • Programa de Pós Graduação /Doutorado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE - São Paulo, SP – Brasil. Profª. Drª. Daniela Biasotto-Gonzalez • Programa de Pós Graduação Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE - São Paulo, SP – Brasil. Profª. Drª. Débora Bevilaqua Grossi • Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação da Universidade de São Paulo USP – Ribeirão Preto – SP - Brasil. Prof. Dr. Dirceu Costa • Programa de Pós Graduação Mestrado/Doutorado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE - São Paulo, SP – Brasil. Prof. Dr. Edgar Ramos Vieira • University of Miami, Miami, FL, USA. Profª. Drª. Eliane Ramos Pereira • Departamento de Enfermagem Médico-Cirúgica e PósGraduação da Universidade Federal Fluminense – São Gonçalo, RJ – Brasil. Profª. Drª. Eloísa Tudella • Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR - São Carlos, SP – Brasil. Profª. Drª. Ester da Silva • Programa de Pós Graduação Mestrado em Fisioterapia - Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP – Piracicaba, SP – Brasil. Prof. Dr. Fábio Batista • Chefe do Ambulatório Interdisciplinar de Atenção Integral ao Pé Diabético - UNIFESP – São Paulo – Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP – São Paulo, SP, Brasil. Prof. Dr. Fernando Silva Guimarães • Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – Rio de Janeiro, RJ - Brasil. Profª. Drª. Gardênia Maria Holanda Ferreira • Programa de Pós Graduação Mestrado em Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – Natal, RN – Brasil. Prof. Dr. Gérson Cipriano Júnior • Universidade de Brasília – UnB – Brasília, DF – Brasil. Prof. Dr. Heleodório Honorato dos Santos • Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba – UFPB – João Pessoa, PB - Brasil. Prof. Dr. Jamilson Brasileiro • Programa de Pós Graduação Mestrado em Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – Natal, RN – Brasil. Prof. Dr. João Carlos Ferrari Corrêa • Programa de Pós Graduação Mestrado/Doutorado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE - São Paulo, SP – Brasil. Profª. Drª. Josepha Rigau I Mas • Universitat Rovira i Virgili – Réus - Espanha. Profª. Drª. Leoni S. M. Pereira • Programa de Pós Graduação Mestrado/Doutorado em Ciências da Reabilitação da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte, MG – Brasil. Profª. Drª. Luciana Maria Malosa Sampaio Jorge • Programa de Pós Graduação Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE - São Paulo, SP – Brasil. Prof. Dr. Luiz Carlos de Mattos • Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP – São José do Rio Preto, SP – Brasil. Prof. Dr. Marcelo Adriano Ingraci Barboza • Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP – São José do Rio Preto, SP – Brasil. Prof. Dr. Marcelo Custódio Rubira • Centro de Ens. São Lucas – FSL – Porto Velho, RO – Brasil. Prof. Dr. Marcelo Veloso • Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte, MG – Brasil. Prof. Dr. Marcus Vinicius de Mello Pinto • Departamento de Fisioterapia do Centro Universitário de Caratinga, Caratinga, MG – Brasil. Profª. Drª. Maria das Graças Rodrigues de Araújo • Centro de Ciências da Saúde - Universidade Federal do Pernambuco - UFPE – Recife, PE - Brasil. Profª. Drª. Maria do Socorro Brasileiro Santos • Centro de Ciências da Saúde - Universidade Federal do Pernambuco - UFPE – Recife, PE - Brasil. Prof. Dr. Mário Antônio Baraúna • Centro Universitário UNITRI – Uberlândia, MG – Brasil. Prof. Dr. Mauro Gonçalves • Laboratório de Biomecânica da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Rio Claro, SP – Brasil. Profª. Drª. Patrícia Froes Meyer• Universidade Potiguar – Natal, RN – Brasil Prof. Dr. Paulo de Tarso Camillo de Carvalho • Programa de Pós Graduação Mestrado/Doutorado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE - São Paulo, SP – Brasil. Prof. Dr. Paulo Heraldo C. do Valle • Universidade Gama Filho - São Paulo, SP – Brasil. Profª. Drª. Regiane Albertini • Programa de Pós Graduação Mestrado/Doutorado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE - São Paulo, SP – Brasil. Profª. Drª. Renata Amadei Nicolau • Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento IP&D Universidade do Vale do Paraíba – Uni Vap – São José dos Campos, SP – Brasil. Prof. Dr. Renato Amaro Zângaro • Universidade Castelo Branco – UNICASTELO - São Paulo, SP – Brasil. Prof. Dr. Roberto Sérgio Tavares Canto • Departamento de Ortopedia da Universidade Federal de Uberlândia – UFU – Uberlândia, MG – Brasil. Profª. Drª. Sandra Kalil Bussadori • Programa de Pós Graduação Mestrado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho – UNINOVE - São Paulo, SP – Brasil. Drª. Sandra Regina Alouche • Programa de Pós Graduação Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo - UNICID - São Paulo, SP – Brasil. Profª. Drª. Selma Souza Bruno • Programa de Pós Graduação Mestrado em Fisioterapia - Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – Natal, RN - Brasil. Prof. Dr. Sérgio Swain Müller • Departamento de Cirurgia e Ortopedia da UNESP – Botucatu, SP – Brasil. Profª. Drª. Tânia Fernandes Campos • Programa de Pós Graduação Mestrado em Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – Natal, RN – Brasil. Profª. Drª. Thaís de Lima Resende • Faculdade de Enfermagem Nutrição e Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, UFRGS - Porto Alegre, RS – Brasil. Profª. Drª. Vera Lúcia Israel • Universidade Federal do Paraná – UFPR – Matinhos, PR - Brasil. Prof. Dr. Wilson Luiz Przysiezny • Universidade Regional de Blumenau – FURB – Blumenau, SC – Brasil. Responsabilidade Editorial Instituto Salgado de Saúde Integral S/S LTDA - CNPJ 03.059.875/0001-57 A Revista Terapia Manual - Posturologia ISSN 1677-5937 ISSN-e 2236-5435 é uma publicação científica trimestral que abrange as áreas da Posturologia, Terapia Manual, Ciências da Saúde e Reabilitação. A distribuição é feita em âmbito nacional e internacional com uma tiragem trimestral de 1.000 exemplares e também de livre acesso (open access) pelos sites http://institutosalgado.com.br/, www.revistatm.com.br do sistema SEER de editoração eletrônica, http://terapiamanual.net/ e http://revistaterapiamanual.com.br Direção Editorial: Luis Vicente Franco de Oliveira • Supervisão Científica: Jéssica Julioti Urbano • Revisão Bibliográfica: Vera Lúcia Ribeiro dos Santos – Bibliotecária CRB 8/6198 • Editor Chefe: Luís Vicente Franco de Oliveira • Email: [email protected] Missão Publicar o resultado de pesquisas originais difundindo o conhecimento técnico científico nas áreas da Posturologia, Terapia Manual, Ciências da Saúde e Reabilitação contribuindo de forma significante e crítica para a expansão do conhecimento, formação acadêmica e atualização profissional nas áreas afins no sentido da melhoria da qualidade de vida da população. A revista Terapia Manual - Posturologia está indexada nas bases EBSCO Publishing Inc., CINAHL - Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature, SportDiscus™ - SIRC Sport Research Institute, LILACS - Latin American and Caribbean Health Science, LATINDEX - Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal e é associada da ABEC - Associação Brasileira de Editores Científicos. Esta revista é membro, e subscreve os princípios do Committee on Publication Ethics (COPE). Revista Terapia Manual – Posturologia ISSN 1677-5937 ISSN-e 2236-5435 Capa e Diagramação: Mateus Marins Cardoso Instituto Salgado de Saúde Integral S/S LTDA Rua Martin Luther King 677 - Lago Parque, CEP: 86015-300 Londrina, PR – Brasil. Tel: +55 (43) 3375-4701 - www.revistatm.com.br Solicita-se permuta/Exchange requested/Se pide cambio/On prie l’exchange Ter. Man. 2013 Jul/Set 11(53) ISSN 1677-5937 ISSN-e 2236-5435 SUMÁRIO/SUMMARY yy Editorial..................................................................................................................................................................................................................................318 Artigos Originais •Análise comparativa das alterações posturais de praticantes regulares de Taekwondo e de indivíduos sedentários.................. 319 Comparative analysis of postural changes in regular Taekwondo practitioners and sedentary subjects. Ítalo Dany Cavalcante Galo, Daniel Miyazaki Namba, Jefferson Rodrigues Soares, Taís Malysz •Associação do treinamento resistido e aeróbico em pacientes com doença pulmonar crônica......................................................327 Association in the resistance and aerobic training in patients with disease chronic pulmonary. Alexandre Ricardo Pepe Ambrozin, Anna Maria Joel Paschoal, Doralice Fernanda da Silva Raquel, Juliana Bassalobre Carvalho Borges, Robison José Quitério •Avaliação da qualidade de registro em prontuário de pacientes de fisioterapia em um hospital de Manaus – AM......................333 Evaluation of quality of registration patient medical records of physiotherapy in a hospital in Manaus – AM. Fabiane Corrêa Batista, Maria das Graças Vale Barbosa, Luíza Garnelo. •Desempenho versus Estatura no Nado Crawl em crianças de 10 anos................................................................................................ 341 Performance versus height in Crawl Swim in children of 10 years. Ivan Wallan Tertuliano, Caio Graco Simoni da Silva, Antonio Carlos Mansoldo, Afonso Antônio Machado, Sonia Maria Geraldo, Patrícia Miranda de Abreu, Vinicius Rodrigues Correia de Almeida, Carlos Alberto Kelencz. •Efeito dos exercícios de facilitação neuromuscular proprioceptiva (fnp) de tronco na estabilidade lombar em idosos............ 348 Effect of exercise proprioceptive neuromuscular facilitation (pnf) trunk in lumbar stability in the elderly. Maiara Luciano de Gois da Silva, Noélia Machado Silva Brito, Kelma Regina Galeno Pinheiro, Thaís Cristina da Costa Rocha, Laiana Sepúlveda de Andrade Mesquita, Fabiana Texeira de Carvalho •Estabilometria e baropodometria na avaliação do equilíbrio em paciente com malformação de Arnold Chiari submetido a tratamento fisioterapêutico. ............................................................................................................................................................................355 Stabilometry and Baropodometry in the Evaluation of Balance in Patient with Arnold Chiari Malformation subjected to physical therapy. Evaneide Pereira de Sá Carvalho, Jefté Borges da Silva , Lília Lima de Alencar , Ruan Luiz Rodrigues de Jesus , Ludmilla Karen Brandão Lima de Matos , Laiana Sepúlveda de Andrade Mesquita , Maria Ester Ibiapina Mendes de Carvalho . •Análise de condições clínicas em estudantes com disfunção temporomandibular.............................................................................. 361 Clinical conditions in students with Temporomandibular Dysfunction. Gabriela Sanches Geres, Célia Aparecida Stellutti Pachioni, Maria Rita Masselli, Dalva Minonroze Albuquerque Ferreira, Daniele Cristina de Assis Gomes, Fernanda Stellutti Magrini Pachioni, Tatiana Emy Koike. •Análise da espessura dos músculos abdominais por meio do ultrassom de imagem em indivíduos com dor lombar crônica e assintomáticos: um estudo piloto.....................................................................................................................................................................367 Analysis muscles thickness deep in individuals with low back pain and asymptomatic patients using ultrasound imaging: a pilot study. Fabrício José Jassi, Priscila Kalil Morelhão, Daniela Licka Tanigiti, Fábio Antônio Néia Martini, Paulo Fernandes Pires. •Percepção de profissionais da saúde acerca de parâmetros e treinamento cardiorrespiratório utilizados na reabilitação pós Acidente Vascular Encefálico.....................................................................................................................................................................373 Perceptions of health professionals regarding the cardiorespiratory parameters and training used in post stroke rehabilitation Janaine Cunha Polese, Louise Ada, Giselle Silva e Faria, Patrick Avelino, Aline Alvim Scianni, Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela. •Análise da força dos músculos estabilizadores da escápula em pacientes com dor no ombro.......................................................378 Analysis of the scapular stabilizers muscles strength in patients with shoulder pain. Nina Teixeira Fonsêca, Thamille Rodrigues Cavalcanti, Tuíra Oliveira Maia, Jéssica Julioti Urbano, Israel dos Reis dos Santos, Ana Candice Coêlho. •Influência da prática regular de dança contemporânea sobre a postura corporal........................................................................... 384 Influence of regular practice of contemporary dance on the body posture Jefferson Rodrigues Soares, Daniel Miyazaki Namba, Ítalo Dany Cavalcante Galo, Taís Malysz •Atividade eletromiográfica de músculos lombares durante contrações isométricas submáximas: um estudo cinesiológico.......... 389 Electromyographic activity of low back muscles during submaximal isometric contractions: a kinesiologic study Fernando Sérgio Silva Barbosa, Mauro Gonçalves. •Efeitos do método Pilates na autonomia funcional de idosas fisicamente ativas................................................................................395 Effects of method Pilates in functional autonomy of active elderly women. Laís Campos de Oliveira, Rodrigo Franco de Oliveira, Raphael Gonçalves de Oliveira, Ana Cláudia Ganzella, Deise Aparecida de Almeida Pires Oliveira. Relato de Caso •A importância do realinhamento articular na síndrome do túnel do carpo: relato de caso............................................................. 401 The importance of joint realignment in Carpal Tunnel Syndrome: a case report. João Filipe Albuquerque do Amaral, Milena Liberal da Mata, Fátima Natário Tedim de Sá Leite, Richard Biton. •Evolução neurofuncional em traumatismo cranioencefálico difuso grave: relato de caso...................................................................405 Neurofunctional Development in Severe Traumatic Brain Injury: Case Report. Carla de Oliveira Carletti, Ariane Pereira Ramirez, Ana Paula Camargo, Roberta Munhoz Manzano. •A realidade virtual como ferramenta para melhorar o equilíbrio dinâmico e a velocidade da marcha na doença de Charcot Marie Tooth: Relato de Caso...........................................................................................................................................................................410 Virtual reality as a tool to improve dynamic balance and gait velocity in Charcot Marie Tooth: Case Report. Renata Calhes Franco, Cibele Almeida Santos, Thalita Renata Santos de Oliveira, Bruna de Mendonça Bicudo, Raquel Sato, Natalia Duarte, Luanda Andre Collange Grecco. Revisão de Literatura •O alongamento estático manual da musculatura envolvida na inspiração pode promover benefícios para os volumes inspiratórios? .... 415 The static stretching guide muscle involved in benefits for inspiration can promote inspiratory bulk? Francisco Eudison da Silva Maia, Erick de Castro Medeiros, Roney Remo Praxedes Carvalho, Antonio Gabriel Kaio de Oliveira Pinto, Ellen Luzia Rebouças Moura, Saniely Aratany Lacerda da Silva, Giorgia Penereiro Pascoal •Efeitos da cinesioterapia na escoliose idiopática: uma revisão bibliográfica...................................................................................... 421 Effects of the kinesiotherapy in idiopathic scoliosis: a literature review. Tatiana Emy Koike, Vanessa Tiemi Haro, Thaliny Kanevieskir, Dalva Minonroze Albuquerque Ferreira, Maria Rita Masselli, Celia Aparecida Stellutti Pachioni. •Utilização da Imagética Motora no processo de reabilitação e no aperfeiçoamento do movimento – Revisão Sistemática............ 428 Utilization of Motor Imagery in the process of rehabilitation and perfecting of the movement - Systematic Review. Glauber da Silva Taveira. •Contribuição da rigidez do sistema musculoesquelético nas lesões esportivas............................................................................... 436 Contribution of the stiffness of musculoskeletal system in sport injuries. Thiago Ribeiro Teles Santos, Luciana De Michelis Mendonça, Carlos Vinícius Barros, Sérgio Teixeira Fonseca, Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela. •Avaliação e tratamento da fisioterapia respiratória no pós-operatório de cirurgias plásticas. ...................................................... 444 Evaluation and treatment of postoperative physical therapy plastic surgery. Ingrid Jullyane Pinto Soares, Rodrigo Marcel Valentim da Silva , Melyssa Lima de Medeiros, Esteban Pacheco Fortuny, Patrícia Froes Meyer . •Propriedades psicométricas de questionários relacionados à endometriose................................................................................... 451 Psychometric properties of questionnaires related to endometriosis Tatiane Regina Sousa, Raquel Eleine Wolpe, Ariana Machado Toriy, Fabiana Flores Sperandio. •Ventilação não invasiva no edema agudo de pulmão de origem cardiogênica: revisão sistemática. ................................................461 Noninvasive ventilation in acute pulmonary edema of cardiogenic origin: systematic review. Francisco Assis Vieira Lima Júnior , Lívia Maria Mendonça Ferreira, Ivan Daniel Bezerra Nogueira, Patrícia Angélica de Miranda Silva Nogueira Editorial Caros leitores, gostaríamos de destacar o XIV ENEC (Encontro Nacional de Editores Científicos) que ocorrerá no período de 10 a 13 de novembro de 2013, no Hotel Fonte Colina Verde em Estância de São Pedro – SP. Durante o evento, acontecerão o VIII Seminário Satélite para Editores Plenos e o IV Encontro Nacional de Bibliotecários. Organizado em parceria com o SIBiUSP - Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo, o XIV ENEC terá como tema; Gestão Integrada de Periódicos Científicos. Este importante evento científico é promovido pela ABEC. A ABEC - Associação Brasileira de Editores Científicos é uma sociedade civil de âmbito nacional, sem fins lucrativos e de duração indeterminada, fundada em 28 de novembro de 1985, que congrega pessoas físicas e jurídicas com interesse em desenvolver e aprimorar a publicação de periódicos técnicos-científicos; aperfeiçoar a comunicação e divulgação de informações; manter o intercâmbio de idéias, o debate de problemas e a defesa dos interesses comuns. Dentre os seus objetivos citamos o de zelar pelo padrão da forma e conteúdo das publicações técnico-científicas no país; promover periodicamente um encontro nacional dos associados; manter contato com instituições e sociedades correlatas do país e do exterior; divulgar regularmente matérias de interesse editorial técnico-científico e promover conferências, seminários e cursos no âmbito de seus objetivos. Também gostaríamos de chamar a atenção de nossos leitores para futuras alterações que acorrerão junto a revista Terapia Manual. Devemos adotar um nome fantasia em inglês para chamar mais a atenção de autores internacionais, bem como devemos passar a publicar apenas em inglês e a adoção do DOI em nossos artigos. Estas mudanças visam a indexação nas bases de dados Pub Med/Med Line e ISI. Acreditamos que com o novo padrão da revista para 2014 e com o apoio dos autores, revisores e corpo editorial, que muito tem contribuído para o sucesso da revista, teremos êxito em mais este desafio. Saudações. Luis Vicente Franco de Oliveira. Editor Chefe. Dear readers, we would like to highlight the XIV ENEC (National Meeting of Scientific Editors) which will take place from 10 to 13 November 2013 at the Hotel Fonte Colina Verde in Estancia São Pedro - SP. During the event, will be held the VIII Satellite Seminar for Editors plenums and IV National Meeting of Librarians. Organized in partnership with the SIBiUSP - Integrated Library System of the University of São Paulo, the XIV ENEC will focus; Integrated Scientific Journal. This important scientific event is sponsored by ABEC. The ABEC - Brazilian Association of Science Editors civil society is a nationwide, nonprofit and untimed, founded on 28 November 1985, bringing together individuals and companies with an interest in developing and enhancing the publication of technical journals-scientific, improve communication and dissemination of information; keep exchanging ideas, debating issues and the defense of common interests. Among its objectives quote to ensure the standard form and content of the technical-scientific publications in the country, promoting a regular national meeting of members; maintain contact with institutions and related companies in the country and abroad; provide regular technical matters of editorial -scientific and promote conferences, seminars and courses. We would also like to draw the attention of our readers for future changes that we make in the Manual Therapy journal. We should adopt a english fantasy name to draw more attention from international authors, to publish only in English, and the adoption of the DOI in our articles. These changes aim indexing in databases Pub Med / Med Line and ISI. We believe that with the new standard of our journal for 2014 and with the support of authors, reviewers and editorial staff, which has greatly contributed to the success of the magazine, we will succeed in this challenge. Greetings. Luis Vicente Franco de Oliveira. Editor-in-Chief. 319 Artigo Original Análise comparativa das alterações posturais de praticantes regulares de Taekwondo e de indivíduos sedentários. Comparative analysis of postural changes in regular Taekwondo practitioners and sedentary subjects. Ítalo Dany Cavalcante Galo(1), Daniel Miyazaki Namba(1), Jefferson Rodrigues Soares(1), Taís Malysz(2) Universidade Federal de Goiás (UFG), Campus Jataí, Jataí (GO), Brasil. Resumo Introdução: A postura corporal é considerada ideal quando há bom alinhamento e equilíbrio musculoesquelético, necessários para a manutenção de estruturas de sustentação e na execução adequada de atividades corporais dinâmicas. Objetivo: O presente estudo objetivou descrever padrões posturais de praticantes regulares de Taekwondo e comparar com indivíduos sedentários. Método: A amostra foi de 19 homens, nove praticantes regulares de Taekwondo (tempo de prática com regularidade: 5,88±3,1 anos) e 10 indivíduos sedentários. Em uma sala privada, os participantes foram fotografados em posição ortostática em vista anterior, perfis direito e esquerdo, flexão anterior de tronco em vista anterior e em perfil esquerdo. A avaliação postural computadorizada foi feita através do programa Posturograma 3.0. A análise estatística foi utilizada para identificar possíveis diferenças entre as medidas bilaterais (teste de Wilcoxon, p<0,05) e entre os grupos (teste Mann-Whitney, p<0,05), através do software SPSS 17.0. Resultados: A maioria dos indivíduos de ambos os grupos apresentaram desvios posturais associados à postura escoliótica, evidenciados pelas diferenças nas alturas dos acrômios e espinhas ilíacas antero-superiores, nas larguras dos triângulos do Talhe e inclinação da cabeça. Todos os indivíduos avaliados apresentaram protusão de cabeça e ombros, rotação de cabeça, tronco e pelve. Na comparação bilateral entre as variáveis, foram encontradas diferenças significativas entre as diferenças das distâncias dos tragos e dos acrômios ao fio de prumo, evidenciando maior rotação de cabeça e tronco para o lado esquerdo, em ambos os grupos. O encurtamento de cadeia muscular posterior foi identificado em 4 atletas e em 10 sedentários. Não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos. Conclusão: A maioria dos indivíduos avaliados apresentou postura escoliótica, todos os indivíduos apresentaram protusão de cabeça e ombros e rotações de cabeça, tronco e pelve predominante para a esquerda. Todos os sedentários e a menor parte dos praticantes de Taekwondo apresentaram postura compatível com encurtamento de cadeia muscular posterior. Palavras-chave: Postura, Tae Kwon Do, sedentarismo. Abstract Introduction: The body posture is considered optimal when there is good alignment and musculoskeletal equilibrium, necessary for the maintenance of support structures and proper execution of dynamic bodily activities. Objective: This study aimed to describe postural patterns of regular practitioners of Taekwondo and compare with sedentary individuals. Method: The sample consisted of 19 men, nine regular practitioners of Taekwondo (practice time regularly: 5.88 ± 3.1 years) and 10 sedentary individuals. In a private room, participants were photographed standing erect in front view, the left and right profiles, anterior trunk in frontal and in left profile. Postural assessment scan was done through the program Posturograma 3.0. Statistical analysis was used to identify possible differences between bilateral measures (Wilcoxon test, p <0.05) and between groups (Mann-Whitney test, p <0.05) by SPSS 17.0 software. Results: The majority of subjects in both groups showed postural deviations associated with scoliosis posture, as evidenced by the differences in the heights of the acromial and anterior-superior iliac spines, the widths of the triangles Whittle and head tilt. All subjects evaluated had protrusion of the head and shoulders, rotating head, torso and pelvis. In bilateral comparison between variables, significant differences were found between the differences of distances of gulps and acromions to the plumb line, with increased head and trunk rotation to the left side in both groups. The shortening of the posterior muscular chain was identified in 4 athletes and 10 sedentary. No significant differences were found between groups. Conclusion: Most of the subjects had scoliosis posture, all subjects showed protrusion of the head and shoulders and rotations of the head, trunk and pelvis predominant left. All sedentary and lower part of Taekwondo practitioners presented posture compatible with shortening posterior muscular chain Keywords: Posture, Tae Kwon Do, sedentary lifestyle Recebido em: 04/07/2013; Aceito em: 09/09/2013 1. Discente do curso de Fisioterapia, Universidade Federal de Goiás (UFG), Campus Jataí, Jataí (GO), Brasil. 2. Fisioterapeuta, Prof(a) Doutora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Campus Jataí, Jataí (GO), Brasil. Autor para correspondência Ítalo Dany Cavalcante Galo - Rua Leo-Lince, Nº 187, Bairro Santa Maria, Jataí, GO, Brasil. Telefone: (64) 9961-6438. Email: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):319-326 320 Postura de praticantes de Taekwondo. Introdução blema sério de saúde pública e suas causas podem ser o O Taekwondo é uma arte marcial milenar que teve resultado de problemas estruturais congênitos ou adqui- origem na Coréia e é caracterizada pela importante par- ridos provocados por vários fatores, podendo inclusive ticipação dos membros inferiores, com aproximadamen- ser de natureza funcional ou não-estrutural, onde os há- te 98% dos pontos marcados em um combate sendo de- bitos diários podem resultar em desequilíbrios.(6,11) Além A execução de destes fatores, outro fator que influencia na postura é a rivado de diferentes tipos de chutes. (1,2) seus golpes exige força e resistência muscular, flexibili- prática de exercícios físicos.(4) Embora diferentes traba- dade, agilidade, grandes amplitudes, coordenação mo- lhos tenham descrito os padrões posturais de atletas de tora e expressão corporal, havendo nos combates mo- diferentes modalidades, poucos foram os que descreve- vimentos de alta potência muscular e atos reflexos, o ram, quantitativamente, através da avaliação postural uso de bases trocadas durante o combate, exigindo bom computadorizada, o padrão postural de indivíduos pra- condicionamento físico dos atletas. ticantes regulares de diferentes modalidades de treina- (2,3) Postura é uma posição mantida através de características automáticas e espontâneas, de um organismo mento físico.(12-15) No que se refere ao esporte Taekwondo, a em harmonia com a força gravitacional e predisposto a maioria dos trabalhos encontrados abordam aspectos passar do estado de repouso ao estado de movimento. fisiológicos,(16,17) aspectos biomecânicos,(3,18) ocorrência Boa postura seria um estado de bom alinhamento e de lesões e de seus mecanismos,(19,20) formas de trei- equilíbrio musculoesquelético que protege as estruturas namento(2,21) bem como a estruturação de categorias do de sustentação do corpo. Tal alinhamento e equilíbrio esporte.(22) No entanto, em relação a estudos sobre pa- (4) são importantes também nas atividades corporais dinâ- drões posturais dos praticantes de Taekwondo a literatu- micas.(5) Assim, boa postura favorece a execução corre- ra se mostra escassa(23) e não foram encontrados traba- ta dos movimentos e garante vantagens em programas lhos que a comparem com dados de indivíduos sedentá- de fortalecimento e variadas modalidades esportivas. rios. Desta forma o presente estudo objetivou descrever No alinhamento corporal ideal usado como padrão, os padrões posturais dos praticantes regulares de Ta- a posição dos pés apresenta calcanhares separados ekwondo da cidade de Jataí-GO e comparar os mesmos cerca de 7,5 cm com aproximadamente 8º a 10º de ro- com os de indivíduos sedentários. tação lateral de cada membro inferior em relação à linha mediana. Ao visualizar uma posição em pé, é usado um Métodos fio de prumo para representar uma linha gravitacional Fizeram parte desta pesquisa 19 homens, sendo 9 vertical de referência. O ponto fixo desta linha é padro- praticantes regulares de Taekwondo e 10 indivíduos se- nizado, na vista lateral, levemente à frente do maléolo dentários. O grupo de praticantes de Taekwondo apre- lateral e nas vistas anterior e posterior, no ponto médio sentou idade média de 23±5,4 anos e Índice de Massa entre os pés.(6) As metades direita e esquerda das estru- Corpórea (IMC) de 22,27±2,95 kg/m², sendo o tempo turas musculoesqueléticas são essencialmente simétri- de prática com regularidade de 5,88±3,1 anos, frequên- cas, tendo assim as duas metades do corpo exatamen- cia semanal de treinamento de 4,66±1,32 dias e dura- te contrabalançadas. Desta forma o fio de prumo deve ção de sessão de 100±26 minutos. Já o grupo de indiví- acompanhar o plano sagital mediano do corpo, passan- duos sedentários apresentou idade média de 18,6±0,69 do entre os membros inferiores, pelos processos espi- anos, o IMC de 22,14±3,26 kg/m² e foi relatado por nhosos da coluna vertebral, esterno e linha mediana da todos a não prática de atividade física regular no período cabeça. Na vista lateral, o fio então deve passar na linha de no mínimo um ano em relação à data da avaliação. anterior ao maléolo lateral, imediatamente posterior à Todos os indivíduos concordaram em participar da pes- patela, através do trocanter maior do fêmur, corpos ver- quisa através da assinatura do Termo de Consentimento tebrais da parte lombar da coluna, acrômio da escápula Livre e Esclarecido (CEP-UFG 290/2010). e orelha externa.(6,7) Para este estudo, os indivíduos foram questiona- Em uma avaliação postural busca-se visualizar e dos sobre qual membro superior era utilizado como pre- determinar desalinhamentos corporais, podendo ser uti- ferencial para escrever e qual membro inferior era uti- lizada para testar a eficácia de diferentes métodos te- lizado preferencialmente para chutar. De acordo com o rapêuticos e para promover a prevenção de problemas relato de cada um, os que respondiam serem os mem- causados pela má postura.(8-9) Para este estudo, a ava- bros do lado direito ou lado esquerdo foram considera- liação postural computadorizada foi escolhida por ser dos destros ou sinistros, respectivamente. prática e confiável, sendo que, através de imagens cap- A avaliação postural foi realizada através do soft- turadas de um indivíduo, é possível conseguir dados -ware Posturograma 3.0, onde dados referentes à idade, quantitativos que a avaliação observacional tradicional- peso, altura, prática de exercício físico e histórico clí- mente não fornece.(10) nico foram também registrados. Posteriormente foram Alterações posturais têm sido consideradas um pro- Ter Man. 2013; 11(53):319-326 obtidas 6 fotos digitalizadas (câmera fotográfica Sony® Ítalo Dany Cavalcante Galo, Daniel Miyazaki Namba, Jefferson Rodrigues Soares, Taís Malysz. 321 Cyber-shot DSC-N1) no formato de 640x480 pixels que (distância do EIPS ao solo em flexão) e outra do ápice permitiram avaliar a face ventral e dorsal, perfil direi- da curvatura torácica ao solo (distância do ápice da cur- to, perfil esquerdo, flexão anterior (vista face ventral) e vatura torácica ao solo em flexão). O encurtamento de flexão anterior (vista face perfil). Foram usadas etique- cadeia muscular posterior foi detectado neste trabalho, tas adesivas de 5 mm de raio para marcação dos pon- nos casos em que a distância da EIPS ao solo foi maior tos anatômicos: glabela, acrômio, espinha ilíaca ântero- que a distância do ápice da curvatura torácica ao solo. -superior (EIAS), espinha ilíaca póstero-superior (EIPS) A avaliação postural observacional foi realiza- e trago bilateralmente. Para fins de escala em medições da para verificar alinhamento dos maléolos mediais e do programa, réguas de 10 cm de comprimento foram côndilos mediais, classificando assim o joelho em varo, fixadas na superfície anterior e lateral do braço direito e valgo ou normal.(24) O indivíduo foi caracterizado com jo- na superfície posterior e lateral do braço esquerdo. elho varo se este apresentasse alguma distância entre Os praticantes de Taekwondo foram avaliados e fo- os côndilos mediais femorais e contato dos maléolos tografados no Centro de Artes Marciais (Jataí, GO). Os mediais na tentativa de manter contatos entre as duas sedentários passaram pelo mesmo procedimento no 41º regiões, se o indivíduo teve contato entre os côndilos Batalhão de Infantaria Motorizada de Jataí – GO. Os in- mediais femorais e teve alguma distância entre os ma- divíduos foram avaliados em uma sala privada com uma léolos mediais, este foi caracterizado como valgo. O ali- parede branca e trajados de roupa de ginástica. A má- nhamento de joelho no plano sagital foi realizado para quina fotográfica foi posicionada em um tripé a uma dis- verificar prevalência de joelho em flexão ou em hipe- tância de 3 m da pessoa a ser avaliada que se manti- rextensão, sendo o primeiro verificado quando a patela nha em posição ortostática sobre um tapete de EVA que não mostra mobilidade látero-lateral (indicando contra- permite a posição entre os pés de 20° em cada imagem. ção do músculo quadríceps femoral) e o outro quando o Uma pessoa de cada vez foi fotografada, para posterior- joelho apresenta valor menor que 170º no ângulo for- mente ser realizada a mensuração das imagens na tela mado por retas que, numa vista lateral, partem do tro- de edição do programa, verificando a distância entre os cânter maior do fêmur e do centro do maléolo lateral e pontos anatômicos e permitindo quantificar os desvios que se cruzam ao nível do centro do côndilo femoral.(25) posturais. A avaliação do arco longitudinal plantar foi realiza- Através do programa, na vista anterior, foi traçada da por meio da análise da impressão plantar do pé di- uma linha no meio dos maléolos mediais (representando reito e esquerdo de cada indivíduo, utilizando um Pedí- o fio de prumo), esta deveria estar alinhada com a gla- grafo da marca SalvaPé. A análise foi feita através do bela (ponto craniométrico localizado entre as sobrance- Índice de Chipaux – Smirak (ICS).(26) Para a obtenção lhas), se não alinhada, a distância foi calculada em des- desse índice, foram traçadas duas tangentes, uma pas- vio da glabela. Ainda na vista anterior foram mensura- sando pelos pontos mais mediais e outra passando pelos das a distância do acrômio direito e esquerdo ao solo em pontos mais laterais nas regiões das cabeças dos meta- vista anterior, distância das EIAS ao solo. Em vista pos- tarsos e do calcâneo. Em seguida, foram traçadas duas terior, bilateralmente, foi traçada uma régua medindo a retas paralelas, a primeira ligando o ponto mais medial distância entre o epicôndilo medial do úmero e o tronco, ao mais lateral na região das cabeças dos metatarsos, representando a distância do Triângulo do Talhe. obtendo nesse ponto a maior largura da impressão (seg- Em perfil direito e esquerdo também foram tra- mento a); a segunda reta foi traçada sobre a menor lar- çadas retas representando o fio de prumo que come- gura do arco longitudinal plantar (segmento b). Ambos çou na borda anterior do maléolo lateral e este deveria os segmentos foram medidos, e o valor de b foi divido estar alinhado com o ponto médio do acrômio e trago. por a. Para esse índice, os valores de referência foram: 0 Também foi traçada a linha posterior tangente à região - pé cavo; 0,01 a 0,29 - pé normal; 0,30 a 0,39 - pé in- mais posterior de cada indivíduo. Para identificar os de- termediário; 0,40 a 0,44 - pé rebaixado e 0,45 ou maior salinhamentos e rotações foram calculadas as distân- - pé plano. cias bilaterais entre o acrômio e o trago ao fio de prumo A análise estatística foi realizada com o software e distância da EIAS a linha posterior. Foi traçada uma SPSS® for Windows versão 17 (SPSS Inc., Chicago IL, régua partindo desta linha até o occipital para calcular EUA).Os dados foram apresentados por meio de esta- a distância do occipital a linha posterior (normalmen- tística descritiva (média e erro padrão da média). Pa- te alinhados),e a distância do ápice da curva da lordose dronizou-se utilizar o valor negativo para indicar des- lombar e a linha posterior. vios da cabeça para o lado esquerdo e positivo para in- Em flexão de tronco na vista anterior foi traçada dicar desvio para o lado direito. Constatada a não nor- bilateralmente uma régua para mensurar as distâncias malidade dos dados por meio do teste de Shapiro-Wilk, dos ápices das curvaturas torácicas ao solo, para de- utilizou-se o teste de Wilcoxon pareado (p<0,05) para tectar a presença de gibosidade torácica. Em flexão de comparar variáveis bilaterais da postura estática (Direi- tronco em perfil foi traçada uma régua da EIPS ao solo to X Esquerdo) tanto entre os praticantes de Taekwon- Ter Man. 2013; 11(53):319-326 322 Postura de praticantes de Taekwondo. do quanto entre os sedentários. Para identificar possí- prumo(7/9 atletas e 6/10 sedentários com rotação à es- veis diferenças posturais entre grupos de praticantes de querda). Tae-kwondo e sedentários foram comparadas entre os Tanto nos atletas quanto nos sedentários as distân- mesmos as seguintes variáveis: desvio da glabela, dis- cias dos tragos ao fio de prumo (p=0,015 e p=0,028, res- tância do occipital à linha posterior, distância do ápice da pectivamente) e dos acrômios ao fio de prumo (p=0,021 curvatura lombar à linha posterior, índice plantar direi- e p=0,013, respectivamente) mostraram ser maiores no to e esquerdo. Além disso, foram comparados entre os lado direito, indicando respectivamente rotação de ca- grupos os valores das diferenças existentes entre variá- beça e tronco para o lado esquerdo (Tabela 01, Fig 01- veis coletadas bilateralmente (valor obtido do lado direi- 02). Entretanto, não foram encontradas diferenças sig- to menos o valor obtido do lado esquerdo para cada va- nificativas entre outras variáveis posturais comparadas riável). As variáveis analisadas desta forma foram dife- bilateralmente como distância das EIAS à linha posterior rença entre as distâncias bilaterais do acrômio ao solo, (p=0,214 e p=0,386), distância dos acrômios ao solo diferença entre as distâncias da EIAS ao solo, diferença (p=1 e p=0,225), distância das EIAS ao solo (p=0,463 entre as distâncias do triângulo do Talhe, diferença entre e p=0,4), largura dos triângulos do Talhe (p=0,066 e as distâncias da EIAS a linha posterior, diferenças das p=0,889) e os índices plantares (p=0,944 e p=0,575), distâncias do trago ao prumo e do acrômio ao prumo. respectivamente em atletas e sedentários (Tabela 01). Para tais análises entre grupos foi usado o teste Mann-Whitney U para amostras independentes (p<0,05). Não foram encontradas diferenças significativas entre o desvio da glabela (p=0,487), a distância do occipital à linha posterior (p=0,307), a distância do ápice Resultados A maioria dos indivíduos de ambos os grupos apresentaram desvios posturais associados à postura escoliótica. Os atletas mostraram grande prevalência de diferenças entre as alturas dos acrômios (8/9, em 6 o lado direito foi mais alto), desvio da glabela (9/9, em 8 o desvio foi para o lado esquerdo), diferença entre as larguras dos triângulos do Talhe (9/9, em 7 o lado direito foi maior) e diferença nas alturas das EIAS (6/9, em 3 o lado esquerdo foi mais alto). Entre os sedentários 5 indivíduos apresentaram diferença na altura dos acrômios (em 4 casos o lado direito foi mais alto), em 8 deles houve desvio da glabela (sendo 7 casos de desvio para esquerda), em 8 casos a largura do triângulo do Talhe se mostrou diferente entre os lados (sendo que em 4 o lado esquerdo foi maior) e houve ainda 8 casos em que as EIAS mostraram alturas diferentes (em 4 casos o lado esquerdo foi mais alto). No entanto, apenas 6 dos 19 indivíduos apresentaram gibosidade torácica, sendo 2 entre os atletas (gibosidade à esquerda) e 4 entre os Figura 01. Gráfico representando a média e desvio de erro padrão das variáveis posturais mensuradas bilateralmente em perfil direito e esquerdo (distância do trago ao fio de prumo, distância do acrômio ao fio de prumo e distância da EIAS à linha posterior) em praticantes regulares de Taekwondo. * p<0,05. sedentários (1 com gibosidade à direita e 3 com gibosidade à esquerda). Todos os indivíduos avaliados mostraram algum grau de protusão de cabeça e ombros, bem como de rotação de cabeça, tronco e pelve (Tabela 01). Nos 19 indivíduos houve anteriorização dos tragos em relação ao fio de prumo e do occipital em relação à linha posterior (protusão de cabeça) e acrômios (protusão de ombros). Associados a essa protusão, todas essas medidas ainda se mostram discrepantes na comparação entre os dois lados, indicando rotação de cabeça (8/9 atletas e 7/10 sedentários com rotação à esquerda), rotação de tronco verificada pela diferença entre distância dos acrômios ao fio de prumo (7/9 atletas e 8/10 sedentários com rotação à esquerda) e rotação de pelve verificada através da diferença entre as distâncias das EIAS ao fio de Ter Man. 2013; 11(53):319-326 Figura 02. Gráfico representando a média e desvio de erro padrão das variáveis posturais mensuradas bilateralmente em perfil direito e esquerdo (distância do trago ao fio de prumo, distância do acrômio ao fio de prumo e distância da EIAS à linha posterior) em indivíduos sedentários. * p<0,05. 323 Ítalo Dany Cavalcante Galo, Daniel Miyazaki Namba, Jefferson Rodrigues Soares, Taís Malysz. Tabela 1. Tabela demonstrativa das variáveis posturais (média ± erro padrão da média) dos grupos de praticantes regulares de Taekwondo e sedentários Variáveis posturais Taekwondo Sedentários Distância do acrômio direito ao solo 140,22±1,61 139,96±3,02 Distância do acrômio esquerdo ao solo 140,24±1,51 139,65±3,06 Diferença entre as distâncias dos acrômios ao solo** -0,02±0,29 0,3±0,29 Distância da EIAS direita ao solo 97,97±1,36 97,97±2,28 Distância da EIAS esquerda ao solo 98,20±1,22 97,78±2,43 Diferença entre as distâncias das EIAS ao solo** -0,23±0,25 0,09±0,21 Desvio da glabela -1,87±0,66 -1,42±0,59 Distância da largura do Triângulo do Talhe direito 3,83±0,48 3,21±0,26 Distância da largura do Triângulo do Talhe esquerdo 4,55±0,45 3,22±0,38 Diferença entre as distâncias dos Triângulos do Talhe** -0,72±0,39 -1,0±1,17 Distância do trago direito ao fio de prumo 8,47±0,59* 9,78±1,21* Distância do trago esquerdo ao fio de prumo 5,02±1,05 7,25±1,2 Diferença entre as distâncias dos tragos ao prumo** 3,45±0,89 2,53±0,78 Distância do ápice posterior do occipital a linha posterior 5,20±0,65 6,81±1,17 Distância do acrômio direito ao fio de prumo 5,48±0,67* 7,43±1,08* Distância do acrômio direito ao fio de prumo 2,64±0,83 4,9±1,16 Diferença entre as distâncias dos acrômios ao fio de prumo** 2,65±0,92 2,51±0,63 Distância da EIAS direita à linha posterior 22,17±0,81 21,54±0,62 Distância da EIAS esquerda à linha posterior 21,89±0,56 21,21±0,72 Diferença entre as distâncias das EIAS à linha posterior** 0,32±0,43 0,33±0,38 Distância do ápice da lordose lombar à linha posterior 7,22±0,55 6,71±0,25 Índice Plantar Direito 0,282±0,06 0,28±0,04 Índice Plantar Esquerdo 0,286±0,06 0,28±0,04 * p<0,05vs lado esquerdo **Estes valores se referem às médias das diferenças obtidas através da subtração dos valores das variáveis posturais do lado direito com o do lado esquerdo. Assim o sinal negativo indica lado esquerdo. da curvatura lombar à linha posterior (p=0,595) e o ín- preferências, os dois membros inferiores para chutar. dice plantar direito e esquerdo (p=0,806 e p=0,87, res- Na comparação das distâncias do ápice da curva- pectivamente) entre os grupos de praticantes regulares tura torácica e da EIPS ao solo, em flexão de tronco na de taekwondo e de sedentários (Tabela 01). Também, vista em perfil, os 10 indivíduos sedentários mostraram na comparação entre os grupos não foram encontradas maior distância do ápice da curvatura torácica, indican- diferenças estatisticamente significativas entre os valo- do encurtamento da cadeia muscular posterior. Entre- res de diferenças das variáveis coletadas bilateralmen- tanto, esse padrão ficou evidenciado em 4 dos 9 atle- te comparativamente entre os grupos de praticantes re- tas avaliados. gulares de Taekwondo e de sedentários. Estas variáveis Os dados referentes ao Índice de Chipaux – Smi- incluíram as diferenças entre as distâncias bilaterais do rak mostraram que a maior variação entre tipos de pé acrômio ao solo (p=0,59), diferença entre as distâncias foi entre os praticantes de Taekwondo. Entre os atletas, da EIAS ao solo (p=0,592), diferença entre as distâncias 2 indivíduos apresentaram os pés normais, 2 com pés do triângulo do Talhe (p=0,22), diferença entre as dis- cavos, 3 com pés intermediários e 2 com pés planos. tâncias da EIAS a linha posterior (p=0,935), diferenças Já no grupo dos sedentários, 5 indivíduos apresentaram das distâncias do trago ao prumo (p=0,414) e do acrô- pés normais, 2 apresentaram pés intermediários, 1 in- mio ao prumo (p=0,935; Tabela 01). divíduo mostrou pé direito rebaixado e pé esquerdo in- Apenas dois indivíduos, um de cada grupo, rela- termediário, 1 mostrou pé direito intermediário e pé es- taram possuir o membro superior esquerdo como do- querdo normal e 1 indivíduo apresentou pé direito rebai- minante. Em relação aos membros inferiores, todos os xado e pé esquerdo plano. indivíduos sedentários relataram ter o membro direito Em relação ao posicionamento dos joelhos na vista como dominante, e, dentre os praticantes de Taekwondo anterior, 4 atletas apresentaram os joelhos normais, 3 foram 3 destros, 3 sinistros e 3 relataram utilizar, sem atletas com joelhos varos e 2 atletas com joelhos val- Ter Man. 2013; 11(53):319-326 324 Postura de praticantes de Taekwondo. gos. Entre os sedentários, 3 indivíduos apresentaram com faixa de idade semelhante à deste estudo, verificou joelhos normais, 5 com joelhos varos e 2 com joelhos que a maioria dos indivíduos apresentou ombros ante- valgos. Já no plano sagital, os joelhos dos praticantes riorizados, hipercifose torácica, atitude escoliótica, joe- de Taekwondo apareceram em maioria como normais lhos varos e pés com redução do arco plantar.(28) Em es- (6/9), existindo 2 casos em que o joelho direito se mos- tudo que também analisou a postura de praticantes de tra em flexão e 1 caso em que o joelho direito está fle- Taekwondo houve semelhança nos resultados acerca da tido e o joelho esquerdo se apresenta em hiperexten- anteriorização de cabeça e tronco dentre os indivíduos são. Em relação ao grupo sedentário, existiu uma varia- avaliados, bem como as assimetrias laterais associadas ção maior sendo 4 com joelhos em flexão, 2 com joelhos a postura escoliótica.(23) No entanto, os autores relatam normais, 3 com o joelho direito em flexão e o joelho es- maior prevalência de assimetrias à direita enquanto que querdo normal e 1 com joelho direito normal e joelho es- o presente estudo encontrou maior prevalência de des- querdo em hiperextensão. vios, especialmente rotacionais, para a esquerda. Este padrão para a esquerda poderia ser gerado pela tendên- Discussão Tanto no grupo sedentário quanto no grupo dos cia dos praticantes em se apoiar preferencialmente no membro inferior direito para deferir os golpes. praticantes de Taekwondo, várias evidências de postu- Assimetrias para o lado esquerdo também foram ra escoliótica foram encontradas, mas, poucos foram os identificadas por outros autores,(13) o que reforça a im- casos em que houve presença da gibosidade. Em rela- portância de trabalhos que notifiquem e justifiquem tal ção ao tórax, essa deformidade é tida como uma pro- tendência, considerando sua prevalência evidente tam- eminência existente no hemitórax e consiste em uma bém em sedentários. Para o caso do Taekwondo, isso rotação vertebral na qual o corpo da vértebra desloca- seria interessante para fundamentar a criação de proto- -se para um dos lados (o lado da rotação), sendo que colos de treinamento que incluam a prevenção referen- seu processo transverso posterioriza-se levando junto te a tais alterações posturais e as possíveis lesões rela- as costelas com as quais se articulam;(25) é considerado cionadas. o mais determinante dos sinais de escoliose, não bas- Não foram encontradas diferenças significativas tando apenas outros sinais de desvios laterais de coluna entre variáveis posturais de praticantes regulares de Ta- para tal.(4) Semelhante à resultados de estudo da postu- ekwondo e de sedentários. Acreditamos que estes re- ra de nadadores,(12) todos os indivíduos do presente es- sultados possam ser justificados pelo número de sujei- tudo mostraram desvio da glabela e anteriorização de tos avaliados neste trabalho. Salientamos que, para este cabeça e tronco, bem como outras assimetrias laterais estudo houve dificuldade em encontrar voluntários para referentes à postura escoliótica. a pesquisa, dispostos a permitir a realização de imagens Em todos os casos foram encontrados protusão de fotográficas do seu corpo para análise no Posturograma. cabeça e ombros, observados através das distâncias do Desta forma, ressaltamos a importância da conscienti- trago e acrômio ao fio de prumo e do occipital à linha zação de profissionais da área da saúde e atletas sobre posterior. O trago anteriorizado pode indicar encurta- a importância de registrar quantitativamente as altera- mento dos músculos extensores do pescoço e alonga- ções posturais e assim permitindo melhor adaptação de mento dos músculos flexores do pescoço (o que leva- protocolos de treinamento, permitindo melhora de de- ria a anteriorização da cabeça) e a protusão de ombros sempenho no esporte, menor risco de lesões e menor é geralmente ligada a um padrão defeituoso da posição gasto energético. das escápulas.(6) No presente estudo, em ambos os gru- A flexibilidade, que aperfeiçoa o aprimoramento de pos houve a presença de rotação de cabeça e tronco em técnicas esportivas e é um fator de prevenção no espor- todos os indivíduos avaliados, com predomínio estatis- te,(14) é tida como necessária para a prática do Taekwon- ticamente significativo para a esquerda; o que corrobo- do. O treinamento da flexibilidade através do alonga- ra com dados encontrados na literatura,(24) os quais afir- mento muscular é bastante incentivado e trabalhado nas mam que boa parte da população normalmente apre- aulas de Taekwondo, especialmente em membros infe- senta esse padrão. Alguns trabalhos enfatizam que a riores.(21) Considerando isso, é plausível o fato de todos lateralidade representa uma força que proporciona de- os sedentários mostrarem encurtamento da cadeia mus- senvolvimento muscular desigual e podem estar propor- cular posterior, levando em conta que a falta de treina- cionando padrões posturais relacionados à dominância mento direcionado a alongar a cadeia muscular poste- do indivíduo.(6,27) Dessa forma acreditamos que nossos rior. No entanto, 4 dos 9 praticantes de Taekwondo ava- resultados estejam associados à lateralidade destra de liados apresentaram também características de encurta- membro superior apresentada pela maioria dos indiví- mento de cadeia muscular posterior, o que pode indicar duos.(6) possíveis falhas em protocolos de treinamento ou na re- Assim como em nossos resultados, um estudo feito sobre a postura de homens praticantes de musculação, Ter Man. 2013; 11(53):319-326 alização do exercício pelo atleta. Em relação ao posicionamento dos joelhos, em 325 Ítalo Dany Cavalcante Galo, Daniel Miyazaki Namba, Jefferson Rodrigues Soares, Taís Malysz. concordância com a literatura,(28) nosso estudo mostrou ção ereta com o mínimo esforço muscular, opor-se con- que a maioria dos indivíduos avaliados apresentou joe- tra as forças externas, ter equilíbrio na realização do lhos varos. Este tipo de alteração geralmente é uma de- movimento e lutar contra a ação da gravidade.(30) formidade mais relativa à tíbia, sendo uma alteração si- Em conclusão, a maioria dos indivíduos avaliados tuada costumeiramente sob a epífise proximal, relacio- apresentou postura escoliótica, desvio da cabeça para nado à cartilagem de conjugação.(24) Diferente do nosso o lado esquerdo, joelhos varos e redução do arco plan- estudo, em outro trabalho foi notificado prevalência de tar longitudinal medial. Todos os indivíduos, de ambos joelhos valgos em praticantes de Taekwondo, sendo ar- os grupos, apresentaram protusão de cabeça e ombros gumentado que tal padrão poderia ser devido ao estres- e rotações de cabeça, tronco e pelve preferencialmente se em valgo que a execução dos golpes gera.(23) para a esquerda. Todos os sedentários e a menor parte Em estudo que apresentou caracterização de pés dos praticantes de Taekwondo apresentaram postura de atletas foi encontrada maior incidência de posição em compatível com encurtamento de cadeia muscular pos- valgo (67% da amostra),(29) o qual se associa com redu- terior. As rotações de cabeça e tronco foram, de forma ção de arco plantar. Da mesma forma, em praticantes de estatisticamente significativa, maiores à esquerda em musculação encontrou-se maior quantidade de indivídu- ambos os grupos e não foram encontrados dados esta- os com redução do arco plantar.(28) Estes dados estão de tisticamente significantes ao comparar os dois grupos. acordo com os nossos resultados, os quais mostraram Estudos longitudinais, que verifiquem padrões pos- que a maioria dos praticantes de Taekwondo apresentou turais antes e durante a prática da modalidade, com redução do arco plantar. uma amostra maior e controle mais sistemático sobre Cabe aqui ser considerado que a postura é uma ca- e mesma (um grupo de mesma faixa etária e que apre- racterística muito individual determinada por uma re- sente o mesmo padrão de lateralidade de membro infe- lação particular das estruturas corporais, dependente rior), mostram-se necessários para melhor determinar a de características hereditárias e lateralidade, do histó- real influência do Taekwondo sobre a postura dos prati- rico de lesões músculo-esqueléticas e neurológicas, do cantes. A determinação de padrões específicos de possí- crescimento corporal, hábitos de vida diária e prática de veis desvios posturais característicos a serem encontra- atividade física regular. Dessa forma a padronização do dos na prática do Taekwondo pode dar respaldo a alte- que seria uma boa postura torna-se difícil de ser estabe- rações em protocolos de treinamento, visando evitar le- lecida. Assim, concordamos com autores que sugerem sões que possam estar relacionadas a tais padrões e ga- que a postura ideal para cada indivíduo seja aquela que rantindo maior rendimento com menor gasto energético preenche todas as necessidades mecânicas do seu corpo por parte dos atletas. e também que possibilita ao indivíduo manter uma posi- Referências 1. Bouhlel E, Jouini A, Gmada N, Nefzi A, Ben Abdallah K, Tabka Z. Heart rate and blood lactate responses during Taekwondo training and competition. Science & Sports. 2006; 21: 285–290. 2. Moreira PVS, Teodoro BG, Santos SS. 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Association in the resistance and aerobic training in patients with disease chronic pulmonary. Alexandre Ricardo Pepe Ambrozin(1), Anna Maria Joel Paschoal(2), Doralice Fernanda da Silva Raquel(2,3), Juliana Bassalobre Carvalho Borges(4), Robison José Quitério(1,3) Departamento de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus Marília, Marília (SP), Brasil. Resumo Introdução: A Reabilitação Pulmonar (RP) é constituída por exercícios aeróbicos e resistidos que melhoram a capacidade funcional ao exercício, a qualidade de vida e reduzem sintomas respiratórios em portadores de doença pulmonar crônica. Objetivo: Avaliar os efeitos de um programa de reabilitação pulmonar combinado na função cardiorrespiratória e força muscular periférica de portadores de doença pulmonar crônica. Método: Pacientes portadores de doenças pulmonares crônicas foram submetidos ao programa de RP que foi desenvolvido em 24 sessões com duração de 60 minutos (três vezes por semana). O programa era constituído por exercícios aeróbicos (duas vezes por semana) e resistidos (uma vez por semana). Antes e após a RP os pacientes foram submetidos a manovacuometria para medida da pressão inspiratória máxima (Pimáx) e pressão expiratória máxima (Pemáx), ventilometria, Pico de Fluxo Expiratório (PFE), teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6) e teste de uma repetição máxima (1RM). Os dados são apresentados em frequência absoluta, porcentagens e média±desvio-padrão. Foi utilizado o Teste t de Student para comparação dos dados antes e após a RP e Teste de ANOVA para comparação das distâncias do TC6 antes, após e prevista (p<0,05). Resultados: Participaram do estudo 7 pacientes, 85,70% mulheres, 71,40% com diagnostico de enfisema pulmonar. A média da idade foi de 69,43±5,59 anos, da altura foi de 1,61±0,07 m, a média de peso foi de 66,20±8,40 kg e a média do IMC de 25,50±2,48 kg/m². Das variáveis estudadas a Pemáx aumentou de 79,71±13,69 para 84,42±12,83 cmH2O (p=0,03), o PFE aumentou de 255,71±66,3 para 320,00±93,63 l/min (p=0,03) e a distância no TC6 teve aumento de 415,28± 47,90 para 483,79±79,77 m (p=0,02). A carga no teste de 1RM nos exercícios Peck Deck invertido (antes - 17,10±8,10kg; depois - 21,04±9,00kg), mesa extensora (antes 17,10±9,50kg; depois - 26,40±13,10kg) e extensor de quadril (Direito Antes - 48,60±22,10kg; depois - 62,90±19,30kg; e Esquerdo Antes - 46,40±20,10kg; depois - 62,10±18,20kg) aumentaram significativamente (p<0,05). Conclusão: Após o programa de RP houve melhora na força muscular expiratória, na força de membros inferiores e na capacidade funcional, e diminuição na obstrução ao fluxo aéreo dos portadores de doença pulmonar crônica. Palavras-chave: Reabilitação; Teste de esforço; Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica; Asma Abstract Introduction: The pulmonary rehabilitation (PR) is composed of aerobic and resisted exercises that improve the functional capacity to the exercise, life quality and decrease respiratory symptoms in subjects with chronic pulmonary disease. Objective: Assess the effects of a combined PR program in the cardiorespiratory function and peripheral muscle strength in subjects with chronic pulmonary disease. Method: Patients with chronic pulmonary disease were submitted to the PR program, which was developed on 24 sessions of 60 minutes (three times per week). The program was composed of aerobic exercises (two times per week) and resisted exercises (once a week). Before and after the PR the patients were submitted to manovacuometry in order to measure the maximum inspiratory pressure (MIP) and the maximum expiratory pressure (MEP), ventilometry, peek expiratory flow (PEF), six minute walking test (6MWT) and one maximum repetition (1RM). The data are presented in absolute frequency, percentage and mean±standard deviation. The t Student test was used to compare data before and after the PR and the ANOVA test to compare before, after and predicted distances in the 6MWT (p<0.05). Results: Seven patients were part of this study, 85.70% of women, 71.40% with pulmonary emphysema diagnosis. The mean age was 69.43±5.59 years old, the height was 1.61±0.07 m, the mean weight was 66.20±8.40 kg and the body mass index mean was 25.50±2.48 kg/m². From the variables assessed, the MEP increased from 79.71±13.69 to 84.42±12.83 cmH2O (p=0,03), the PEF increase from 255.71±66.3 to 320.00±93.63 l/min (p=0,03) and the distance in the 6MWT from 415.28±47.90 to 483,79±79,77 m (p=0,02). The load in the 1RM test in the reverse peck deck exercise (before - - 17.10±8.10kg; after – 210.40±9.00kg), knee in leg extension machine (before – 17.10±9.50kg; after – 26.40±13.10kg) and hip extensors (right before – 48.60±22.10kg; after – 62.90±19.30kg; and left before – 46.40±20.10kg; after – 62.10±18.20kg) increased significantly (p<0,05). Conclusion: After the PR program there was improvement in the expiratory muscular strength, in the lower limbs strength and in the functional capacity. Besides that, there was a reduction in the airflow obstruction of the subjects with chronic pulmonary disease. Key-words: Rehabilitation; Exercise Test; Pulmonary Disease Chronic Obstructive; Asthma Recebido em: 02/07/2013; Aceito em: 06/09/2013 1. Professor Assistente; Doutor, Departamento de Fisioterapia e Terapia Ocupacional –Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus Marília, Marília (SP), Brasil. 2. Fisioterapeuta formada pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus Marília, Marília (SP), Brasil. 3. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Humano e Tecnologias – Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus Rio Claro, Rio Claro (SP), Brasil. 4. Professora Adjunta, Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), Alfenas (MG), Brasil. Endereço para correspondência: Alexandre Ricardo Pepe Ambrozin. Av. Higyno Muzzi Filho, 737 - Bairro: câmpus Universitário; CEP 17.525-900 - Marília, SP Tel: 014 – 3402-1300. E-mail: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):327-332 328 Associação do treinamento resistido e aeróbico em pacientes com doença pulmonar crônica. INTRODUÇÃO ram a sequência de testes, incapazes de deambular e/ Pacientes portadores de doenças pulmonares crô- ou com limitações para realização dos exercícios. Tam- nicas podem apresentar dispneia, hiperinsuflação pul- bém foram excluídos pacientes que apresentaram 25% monar, aumento do espaço morto e aumento do consu- de falta no tratamento, três faltas consecutivas ou que mo energético durante o exercício. Alterações funcionais não concordaram em participar do estudo. que levam a intolerância ao exercício, piora progressiva do condicionamento físico e limitação nas atividades Momentos do Estudo de vida Diária (AVDs), culminam com isolamento social, O estudo foi dividiu em três momentos: avaliação ansiedade, depressão, dependência e a perda da quali- inicial, programa de reabilitação pulmonar e avaliação dade de vida.(1) final. A fim de combater estas alterações a Reabilitação Pulmonar (RP) é um programa multidisciplinar e contí- Avaliação nuo, direcionado a portadores de doença pulmonar crô- Na avaliação inicial os pacientes foram questiona- nica que busca restabelecer a capacidade funcional do dos quanto a história atual e pregressa de doenças pul- indivíduo.(2,3) Dentre os objetivos da RP estão maximi- monares, doenças associadas (hipertensão arterial, dia- zar a independência funcional durante as AVDs, tornar betes mellitus) e hábito tabágico. Foram realizadas as o gasto de energia mais eficiente, reduzir os sintomas medidas de massa corporal(kg) e estatura(m) e calcula- respiratórios e melhorar a qualidade de vida. O progra- do o índice de massa corporal (IMC), dividindo a massa ma de RP tem o treinamento físico como enfoque prin- corporal pela estatura ao quadrado (kg/m2). cipal, e deve ser acompanhado de sessões educativas Os pacientes foram então submetidos a manova- em relação ao processo da doença, medicação e técni- cuometria, ventilometria, medida do pico de fluxo ex- cas terapêuticas para aumentar a aderência do pacien- piratório, avaliação de uma repetição máxima (1RM) e te ao tratamento.(3) TC6. Estes testes foram realizados antes e após o pro- A RP busca melhorar a tolerância aos exercícios, a grama de reabilitação pulmonar. capacidade funcional e a força muscular respiratória e periférica por meio de exercícios físicos aeróbicos. Sabe- Manovacuometria -se porém, que nos programas que associam exercícios A força muscular respiratória foi avaliada utilizando aeróbicos com exercícios resistidos, o ganho na força o manuvacuômetro (marca Comercial Médica®), previa- muscular periférica é maior, mesmo não mudando a dis- mente calibrado, onde foram verificadas a pressão ins- tância no teste de caminhada de seis minutos (TC6).(4) piratória máxima (Pimáx) e pressão expiratória máxi- Mesmo assim, a utilização de exercícios aeróbicos e de ma (Pemáx). O paciente na posição sentada, com clipe força combinados parece ser uma alternativa interes- nasal e bucal entre os dentes, foi orientado a realizar sante para compor programas de RP.(5) uma inspiração forçada a partir do volume residual para Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar os efei- a avaliação da Pimáx. E para obtenção da Pemáx uma tos de um programa de reabilitação pulmonar combina- expiração forçada a partir da capacidade pulmonar total do na função cardiorrespiratória e força muscular perifé- foi solicitada. Os procedimentos foram repetidos três rica em portadores de doença pulmonar crônica. vezes e o maior valor considerado para analise.(6) MÉTODOS Ventilometria Foi realizado um estudo clínico, quantitativo e des- O volume minuto (VM), volume corrente (VC) e ca- critivo com pacientes portadores de doença pulmonar pacidade vital (CV) foram avaliados por meio da venti- crônica encaminhados para o setor de Fisioterapia Res- lometria digital (marca Ferraris®). Na posição sentada, piratória do Centro de Estudo e Ensino em Saúde após com clipe nasal e o bucal entre os dentes, o paciente foi aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade conectado durante um minuto ao ventilometro onde foi de Medicina de Marilia (nº 564/11). registrado o VM e a frequência respiratória (FR) contada observando a movimentação da caixa torácica. A partir Sujeitos dos valores de VM e FR o VC foi calculado. E finalmen- Foram avaliados 10 pacientes de ambos os gêne- te, a CV foi obtida solicitando ao paciente que realizas- ros, com diagnóstico clínico funcional de doença pul- se uma inspiração máxima e uma expiração máxima e monar crônica (bronquite crônica, enfisema pulmonar, lenta até volume residual. asma ou bronquectasia) que apresentavam dispnéia, intolerância ao exercício físico e que estavam clinicamente estáveis. Pico de Fluxo Expiratório Para avaliação do Pico de Fluxo Expiratório (PFE) Foram excluídos pacientes com exacerbação da do- foi utilizado o medidor de fluxo expiratório (marca As- ença pulmonar ou cardiovascular, que não compreende- maplant – Vitalograph®) com o paciente na mesma posi- Ter Man. 2013; 11(53):327-332 329 Alexandre R. P. Ambrozin, Anna M. J. Paschoal, Doralice F. S. Raquel, Juliana B. C. Borges, Robison J. Quitério . ção descrita anteriormente, e solicitando que realizasse flexão do joelho contralateral). Todas as posições eram expiração rápida e forçada (três vezes) e o maior valor mantidas por 20 segundos. considerado.(7) Antes e após cada sessão foram verificadas a pressão arterial, a frequência cardíaca, a frequência respi- Teste de 1 Repetição Máxima O Teste de 1 RM foi realizado aumentando as cargas progressivamente até a obtenção da maior carga ratória, a saturação de pulso de oxigênio e Escala de Borg(11) (dispnéia e membro inferior), a fim de controlar e monitorizar a atividade proposta. deslocada na amplitude articular total nos exercícios escolhidos.(8) Análise Estatística Teste de Caminhada de Seis Minutos sentadas por meio de frequência absoluta, porcentagens As características gerais dos pacientes são apreO TC6 foi realizado em corredor plano de 30m onde e média±desvio-padrão. Foi utilizado o Teste t de Stu- os pacientes foram orientados a caminhar o mais rápido dent para comparação dos momentos antes e após a RP possível durante seis minutos, com incentivo verbal pa- e adotado o nível de significância de 5%. As distâncias dronizado a cada minuto.(9) A distância total percorrida do TC6 antes, após e prevista foram comparadas pelo no TC6 foi comparada com a distância prevista pela for- teste de ANOVA. mulas de Enright e Sherrill.(10) RESULTADOS Programa de Reabilitação Pulmonar Dos 10 pacientes que iniciaram o programa de rea- O programa de reabilitação pulmonar teve dura- bilitação, três foram excluídos (dois por exacerbação da ção total de 24 sessões de 60 minutos cada (três vezes doença e um faltou mais que 25%) e sete concluíram o por semana), sendo duas de treinamento aeróbio e uma protocolo de estudo. Estes pacientes tinham diagnóstico de treinamento resistido. Todas as sessões foram reali- de enfisema pulmonar, asma ou bronquectasia, média zadas no período da manhã e previamente ao treino era de idade de 69,43±5,59 anos, altura de 1,61±0,07 m realizado aquecimento e após alongamentos. e IMC de 25,50±2,48 kg/m². Outras características da O aquecimento constou de exercícios respiratórios amostra são apresentadas na Tabela 1. (Padrão ventilatório diafragmático e freno-labial), exer- Após o programa de RP pode-se observar aumen- cícios de membros superiores (diagonais com halteres to significativo da Pemáx, PFE e da distância no TC6 (Ta- de 1kg, flexão e extensão de ombro), exercícios de tron- bela 2). co (rotação e flexo-extensão) e exercícios de membros inferiores (agachamento). O condicionamento aeróbico foi feito duas vezes Antes da intervenção 14,3% do pacientes percorreram a distância prevista no TC6 e após 28,6%, sendo que, todos melhoram a distância percorrida após a RP. por semana por meio de caminhada livre durante 30 minutos mantendo o pulso em 60% da freqüência cardíaca de reserva determinada a partir da equação de Karvonen: FCt=[(FCmáx – FCrepouso) x 60%.(12) O treinamento resistido foi realizado utilizando 60% de uma 1RM visando as seguintes regiões: costas (Peck Deck invertido); peitoral (supino em maquina sentado); posterior do braço - tríceps (Extensão de cotovelo com halteres); anterior do braço - biceps (Biceps Scott com pegada supinada); anterior da coxa - quadríceps (mesa extensora) e posterior do quadril - glúteo (extensão de quadril). Foram realizadas 3 séries de 10 Tabela 1. Dados demográficos, diagnóstico pulmonar, história de tabagismo e doenças associadas. Variáveis n (%) Gênero Feminino Masculino 6 (85,70) 1 (14,30) Diagnóstico Enfisema Pulmonar 5 (71,40) Asma e Bronquiectasia 2 (28,60) Tabagismo repetições de cada exercício com intervalo de 1 minuto Não 2 (28,60) entre as séries. Ex-tabagista 5 (71,40) Os alongamentos foram feitos visando alongar a musculatura da região peitoral (em pé com membro superior em abdução na horizontal), do pescoço (em pé Doenças Associadas Hipertensão Arterial Sistêmica Sim 6 (85,70) anterior da coxa (em pé com flexão do joelho), poste- Não 1 (14,30) rior da coxa (sentado, membros inferiores estendidos e Diabetes Mellitus flexão do tronco) e região posterior da perna (apoiado Sim 6 (85,70) Não 1 (14,30) realizando flexão/extensão e flexão lateral de pescoço), na parede, com extensão de joelho da perna a ser alongada, calcanhar apoiado no solo, inclinação do tronco e Ter Man. 2013; 11(53):327-332 330 Associação do treinamento resistido e aeróbico em pacientes com doença pulmonar crônica. Quando comparadas as distâncias antes e depois a RP ca, alterou de forma significativa a força muscular expi- houve diferença significativa, porém quando compara- ratória, o pico de fluxo expiratório e a capacidade fun- das com a prevista não houve diferença (Figura 1). cional avaliada por meio da distância percorrida no TC6. As cargas máximas aumentaram significativamente Além disso, melhorou a força muscular periférica espe- depois da RP nos exercícios Peck Deck invertido, mesa cialmente de membros inferiores. Resultados que con- extensora e extensor de quadril (Tabela 3). cordam com outros autores que afirmam que a RP melhora a capacidade de realizar exercício.(4) Apesar da maior incidência de doenças pulmonares DISCUSSÃO Nesta pesquisa observou-se que o protocolo de RP crônicas em homens, decorrente da maior prevalência constituído por exercícios aeróbico e resistido combina- de homens tabagistas e da maior exposição ocupacio- dos aplicados a portadores de doença pulmonar crôni- nal,(13) neste estudo 85,7% dos pacientes eram mulheres. Sabe-se mulheres procuram mais por atendimentos Tabela 2. Comparação das variáveis respiratórias e da distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos antes e depois do programa de Reabilitação Pulmonar. médicos e engajando-se mais em cuidados com a saúde. (14) A amostra aqui estudada foi constituída por procura espontâneo, o que justifica maior porcentagem de mulheres, porém acreditamos que a resposta frente ao pro- Variáveis Antes Depois PImax (cmH2O) -76,95±29,25 -89,28±18,35 PEmax (cmH2O)* 79,71±13,69 84,42±12,83 PFE (L/min)* 255,71±66,30 320,00±93,63 crônicas apresentem quadro de desnutrição decorren- CV (L) 2,47±1,08 2,27±0,94 te da ingestão inadequada de alimentos e do aumento FR (rpm) 20,00±6,14 20,28±2,98 no gasto energético, já que a dispneia, tosse, secreção VM (L/min) 9,74±2,82 10,27±3,04 e fadiga podem dificultar a mastigação. O gasto energé- VC (L) 0,55±0,35 0,59±0,36 TC6 (m)* 415,28±47,90 483,79±79,77 tocolo de RP não teve influencia do gênero já que os resultados foram comparados antes e após o mesmo. É comum que pacientes com doenças pulmonares tico aumentado é consequência do trabalho excessivo dos músculos respiratórios diante das alterações de me- PImáx (Pressão Inspiratória máxima); PEmáx (Pressão Expiratória máxima); PFE (Pico de Fluxo Expiratório); FR (Frequência Respiratória); VM (Volume Minuto); VC (Volume Corrente); CV (Capacidade Vital); TC6 (Teste de caminhada de seis minutos); cmH2O (centímetros de água); L (Litros);L/ min (litros por minuto); m (metros); *p<0,05; cânica respiratória decorrente da doença. O efeito mais evidente da desnutrição no sistema muscular é a diminuição da resistência muscular, predisposição à fadiga e perda das fibras de contração rápida.(15) Os pacientes submetidos ao protocolo deste estudo tinham média de IMC dentro da normalidade, assim o protocolo de RP pode ser aplicado e havendo inclusive aumento na força muscular. Ainda quanto a amostra, a maioria dos pacientes avaliados eram portadores de hipertensão arterial sistêmica e alguns de Diabetes Mellitus, doenças comuns em portadores de doença pulmonar.(16) Todos os pacientes foram orientados durante o protocolo a manter as medicações já prescritas e nenhum paciente foi excluído por apresentar decompensações pressóricas antes e duran- Figura 1. Distância percorrida antes, após a Reabilitação Pulmonar e distância prevista no Teste de caminhada de seis minutos (*p>0,05; # p<0,05). te as sessões de reabilitação. Em relação habito tabagico, em nosso estudo a Tabela 3. Comparação de 1RM em quilogramas antes e depois do programa de Reabilitação Pulmonar Exercício Peck Deck Invertido * Supino em maquina sentado Biceps Scott com pegada supinada Extensão de cotovelo com halteres Antes Depois 17,10±8,10 21,40±9,00 13,30±12,20 14,40±12,40 7,10±2,70 9,30±3,50 6,30±3,40 7,90±3,70 17,10±9,50 26,40±13,10 Extensão de quadril - Glúteo D ** 48,60±22,10 62,90±19,30 Extensão de quadril -Glúteo E * 46,40±20,10 62,10±18,20 Mesa extensora ** *p<0,05; **P<0,01 Ter Man. 2013; 11(53):327-332 Alexandre R. P. Ambrozin, Anna M. J. Paschoal, Doralice F. S. Raquel, Juliana B. C. Borges, Robison J. Quitério . 331 maioria tinha história de tabagistas e 28,6% eram não superior ao encontrado em outro estudo que observou tabagistas. O tabagismo é um dos fatores mais impor- aumento de 58m após oito semanas de RP.(24) Esta di- tantes para o desenvolvimento da doença obstrutiva ferença pode ter sido consequente a diferença na dura- crônica(17) e a resposta deste tipo de paciente frente a ção do programa de reabilitação ou mesmo nos exercí- um programa de RP é melhora da capacidade funcional cios adotados durante o programa. A melhora na distân- sem melhora na obstrução.(2,18) Nossos pacientes tive- cia do TC6 é um importante achado já que estudos mos- ram melhora na distancia percorrida no TC6 e também traram que pacientes portadores de DPOC que apresen- melhor no pico de fluxo expiratório em média. A melho- tam maior distância percorrida no TC6 tem maior sobre- ra no pico de fluxo pode ter ocorrido, pois dois pacien- vida e menor morbidade.(25,26) tes eram portadores de asma, doença que a obstrução é reversível. Estudo mostrou aumento da força dos músculos inspiratórios e a distância percorrida no TC6 em pacien- Sabe que pacientes com obstrução ao fluxo áereo tes com DPOC submetidos a RP associado a treinamento podem apresentar diminuição na força muscular respira- especifico da musculatura inspiratória.(27) Nossos resul- tória, e tanto a força inspiratória como a expiratória au- tados concordam com a melhora da capacidade funcio- mentam após a RP.(18,19) Nosso resultados mostraram pe- nal, porém sem aumento da força muscular inspiratória quena diminuição na força no inicio do programa e me- e com aumento da força expiratória. A Pimáx pode não lhora após o protocolo de RP, porém a melhora foi signifi- ter aumentado em nosso estudo por não termos treina- cativa somente na força dos músculos expiratórios. do a musculatura inspiratória de forma especifica. Segundo Gáldiz Iturri(20) em pacientes com obstru- No nosso estudo, tanto o PFE como a distância per- ção grave ao fluxo aéreo, a contração da musculatura corrida no TC6 aumentaram depois da RP, estas variá- expiratória determina elevação e redução do diâmetro veis antes e após um protocolo de RP apresentam as- das cúpulas diafragmáticas, otimizando a relação com- sociação positiva, sugerindo maior capacidade funcional primento-tensão do diafragma, o que favorece a contra- nos pacientes com menor obstrução ao fluxo aéreo.(28) ção diafragmática, a ventilação pulmonar e, consequen- As cargas no treinamento resistido em aparelhos temente, a capacidade física do paciente portador de de musculação aumentaram significativamente após a DPOC. Apesar disso, nosso estudo não mostrou melho- aplicação do protocolo de RP nos aparelhos Peck Deck ra na PImáx mas observou-se melhora na capacidade de invertido, mesa extensora e extensor de quadril. O exercício avaliada pela distância no TC6. ganho de força de membros inferiores é benéfico para Nossos resultados em relação a força muscular ins- esses indivíduos considerando que evidências indicam piratória diferem de outros trabalhos que obtiveram me- que as maiores perdas de força e trofismo muscular ma- lhora desta após RP(2,19) mas outros estudos da literatu- nifestam-se em membros inferiores provavelmente de- ra encontraram resultados semelhantes aos nossos em vido ao fato de a maioria das atividades de vida diá- relação a Pemáx.(19,21) ria serem realizadas utilizando membros superiores.(29) O TC6 vem sendo utilizado para a medida do de- O aumento da força muscular obtida com o exercício sempenho durante o exercício, em programas de rea- resistido mostra-se efetivo na reversão da redução de bilitação e tem sido considerado um instrumento válido força e na atrofia muscular que é um dos comprometi- para avaliação funcional e manejo clínico do portador de mentos funcionais que pode contribuir para a intolerân- DPOC. (22) Quando usado pré e pós-reabilitação pode-se cia ao exercício.(30) considerar melhora clinicamente significativa quando há Conclui-se que após programa de RP houve melho- aumento igual ou maior que 54 m na distância percorri- ra na força muscular expiratória e de membro inferiores, da.(23) Neste trabalho houve aumento de 68 m na distân- na capacidade funcional e diminuição na obstrução ao cia percorrida após dezesseis semanas de RP, aumento fluxo aéreo de portadores de doença pulmonar crônica. Referências 1. Dal Corso S, Nápolis L, Malaguti C, Gimenes AC, Albuquerque A, Nogueira CR, et al. Skeletal muscle structure and function in response to electrical stimulation in moderately impaired COPD patients. Respir Med. 2007;101(6):1236–43. 2. Zanchet RC, Viegas CAA, Lima T. A eficácia da reabilitação pulmonar na capacidade de exercício, força da musculatura inspiratória e qualidade de vida de portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica. J Bras Pneumol. 2005;31(2):118-24. 3. 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Dentre os meios de avaliação da qualidade das ações ofertadas ao usuário, a análise da precisão e acurácia do registro em saúde é um dos mais relevantes, particularmente no que se refere ao registro em prontuário. Este é definido como um documento único, constituído por um conjunto de informações, sinais e imagens registradas, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e assistência prestada a ele, de caráter legal, sigiloso e científico. Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade dos registros em prontuários fisioterapêuticos num hospital de Manaus-AM. Método: O estudo foi descritivo, exploratório e retrospectivo. Dos 471 prontuários analisados e revisados entre junho de 2008 a junho de 2009, teve como indicadores de avaliação: preenchimento e completude das informações nos prontuários, e como variáveis: Identificação do paciente e do profissional, Dados Vitais, História Clinica e Evolução. Para análise foi usada uma matriz de julgamento que permitiu classificar, pontuar variáveis e suas subcategorias; avaliar o grau de completude de preenchimento, através de escores que variaram de zero a dois, e a qualidade do preenchimento dos prontuários (insatisfatório, regular, satisfatório). Na análise qualitativa dos prontuários foi considerada de insatisfatória a regular, visto que havia ausência de registro em alguns itens como sinais vitais, peso, história da doença atual, história familiar, exame físico e exames complementares, diagnóstico funcional, conduta fisioterapêutica e evolução do paciente. Resultados: O percentual de preenchimento completo das informações não ultrapassou 5,73 %, o registro adequado de informações sobre a identificação do paciente e identificação do profissional totalizou 70,05% do somatório desses dois conjuntos de informações. Conclusão: A pesquisa mostrou a necessidade de instituir medidas técnicas e operacionais visando à melhoria na qualidade do registro no serviço, contribuindo no aprimoramento do atendimento do paciente e sensibilizar os profissionais sobre a importância do registro correto de informações referentes aos serviços prestados. Palavras-chave: Avaliação do serviço hospitalar. Qualidade de informação em saúde. Prontuários. Fisioterapia. Abstract Introduction: The assessment of quality of health should be the object of constant concern of public policy. Among the means of assessing the quality of the offered shares to the user, the analysis of the precision and accuracy of the record in health is one of the most relevant , particularly with regard to the medical record notes . This is defined as a single document , consisting of a set of information , signs and recorded images , events and situations on the patient’s health and care given to him , cool character , secretive and scientific . Objective: The aim of this study was to evaluate the quality of patient records in a hospital physiotherapy ManausAM. Objective: The aim of this study was to evaluate the quality of records in physical therapy records at a hospital in Manaus-AM. Method: The study was descriptive, exploratory and retrospective study. Of 471 charts reviewed and analyzed from June 2008 to June 2009, had as evaluation indicators: completion and completeness of the information in their files, and variables: Identification of patient and professional, Vital Statistics, Medical History and Evolution. For analysis we used an array of trial which allowed to classify, score variables and their subcategories, and to evaluate the degree of completeness of fill, using scores ranging from zero to two, and quality of information from medical records (poor, fair, satisfactory). The qualitative analysis of medical records was considered unsatisfactory to regulate, since there was no registration of some items such as vital signs, weight, history of present illness, family history, physical examination and complementary examinations, functional diagnosis, practice of physical therapy and patient outcomes . Results: The percentage of complete filling of the information did not exceed 5.73%, the proper recording of information on patient identification and identification of the work amounted to 70.05% of the sum of these two sets of information. Conclusion: The survey showed the need to establish technical and operational measures aimed at improving the quality of record of service, contributing to the improvement of patient care and educate professionals about the importance of recording the correct information regarding their services. Keywords: Evaluation of hospital service. Quality of health information. Records. Physiotherapy. Recebido em: 02/07/2013; Aceito em: 06/09/2013 1. Mestra em Biologia Urbana; Fisioterapeuta; Centro Universitário Nilton Lins, Manaus (AM), Brasil. 2. Doutora em Ciências Biológicas (Entomóloga); Bióloga; Pesquisadora da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas; Docente do Centro Universitário Nilton Lins, Manaus (AM), Brasil. 3. Doutora em Ciências Sociais; Médica sanitarista; Pesquisadora do Centro de Pesquisa Leônidas & Maria Deane/Fiocruz ; Docente do Centro Universitário Nilton Lins, Manaus (AM), Brasil. Endereço: Av. Prof. Nilton Lins, nº 3259 - Parque das Laranjeiras - Flores. Cep.: 69058-030, Manaus, AM. E-mails: [email protected] (Fabiane); gvbarbosa@ ig.com.br (Maria das Graças); [email protected] (Luíza). Ter Man. 2013; 11(53):333-340 334 Qualidade de registro em prontuário. INTRODUÇÃO das doenças crônicas não transmissíveis; dentre essas, A qualidade na prestação de serviços em saúde é as afecções do aparelho locomotor surgem como agra- um elemento relevante para o enfrentamento dos agra- vos de grande magnitude, com tendência de crescimen- vos que acometem a população. Assim sendo, a avalia- to em nível nacional e mundial.(13) Dentre as patologias ção da qualidade das ações de saúde deve ser objeto de do aparelho locomotor as afecções da coluna vertebral, preocupação permanente das políticas públicas. Dentre em especial a coluna lombar e sacral, são as mais fre- os vários meios de avaliar a qualidade das ações oferta- qüentes nas estatísticas mundiais com elevada freqüên- das ao usuário, a análise da precisão e acurácia do re- cia na população e por gerar comprometimento da qua- gistro em saúde é um dos mais relevantes, particular- lidade de vida e das atividades laborativas dos indivídu- mente no que se refere ao registro em prontuário.(1) os com dor lombar.(14,15) O prontuário do paciente é um... “documento Nesses casos o atendimento fisioterapêutico é um único, constituído por um conjunto de informações, si- componente dos mais importantes para a recuperação nais e imagens registradas, acontecimentos e situações do paciente, e alguns autores reforçam o papel do fisio- sobre a saúde do paciente e assistência prestada a ele, terapeuta para efetuar uma correta avaliação funcional de caráter legal, sigiloso e científico”.(2) E ainda... “é pro- e prover análises da evolução clínica e mesmo traçar os priedade do paciente, e a responsabilidade da guarda é objetivos e as condutas necessárias ao paciente.(16) da instituição ou do profissional que o atende, deven- No contexto descrito a avaliação da qualidade das do estar disponível nos ambulatórios, nas enfermarias ações de fisioterapia mediante análise de registro do e nos serviços de emergência permitindo a continuida- processo diagnóstico e das condutas se mostra um ob- de do tratamento do paciente e o registro da atuação de jeto relevante, particularmente frente a carência de li- cada profissional”.(3) Assim sendo, o prontuário pode ser teratura especializada. Assim, o objetivo desta pesquisa um auxílio relevante na avaliação da qualidade da assis- foi avaliar a qualidade de registro de prontuários de pa- tência, servindo também como instrumento de audito- cientes com dor lombar atendidos no serviço de fisiote- ria e de avaliação das contas médicas,(4) e se constitui rapia em um hospital na cidade de Manaus – AM, no pe- numa forma de proteção aos registros e direitos do pa- ríodo de junho de 2008 a junho de 2009. ciente(4,5) sendo ao mesmo tempo, um grande aliado do profissional em eventual defesa judicial, desde que haja correto e completo preenchimento do mesmo.(6) MATERIAL E MÉTODOS Este é um estudo de caso, de caráter descritivo, ex- A completude, tanto no preenchimento de cada vari- ploratório, retrospectivo, desenvolvido mediante a revi- ável da identificação do paciente, quanto no registro mi- são de prontuários registrados no setor de fisioterapia nucioso do processo de atendimento, representa um ele- de hospital estadual de grande porte, que atua como re- mento essencial para avaliar a qualidade do atendimento. ferência para atendimento ortopédico, na cidade de Ma- Esses autores propõem, que em itens como identificação naus, Amazonas. do prontuário e do indivíduo, a adequada informação se Foram revisados 471 prontuários de pacientes re- dá pela presença de atributos imprescindíveis, tais como gistrados no serviço com diagnóstico de lombalgia. nome completo, sexo, data de nascimento, naturalidade, Como critérios de inclusão foram considerados todos os endereço completo, data da abertura do prontuário, situ- prontuários de indivíduos de ambos os sexos, de todas ação familiar, escolaridade e ocupação. as faixas etárias, que tinham diagnóstico de lombalgia, (7) A avaliação da qualidade da assistência nos servi- com ou sem preenchimento básico das informações con- ços de saúde tem uma larga tradição no campo da saúde tidas nos prontuários. O critério de exclusão foi à ausên- pública, tendo entre seus pilares as clássicas pesquisas cia de diagnóstico de lombalgia registrado em prontuá- do autor, voltadas para a descrição e análise de estru- rio no período. tura, de processo e de resultados das ações de saúde. Baseada nas propostas dos autores,(9) os prontuá- Nesse âmbito, a avaliação da qualidade de registro, en- rios foram submetidos a exame detalhado, selecionan- tendida como um indicador indireto da qualidade da as- do-se os indicadores iniciais de avaliação que permiti- sistência se vincula à análise de processo na avaliação ram mensurar a qualidade das variáveis dos prontuá- normativa deste, da qual esse trabalho pode ser consi- rios, que se caracterizam pela atribuição de escores, va- derado tributário.(8) riando de mínimos a máximos, sendo os últimos corres- Na literatura disponível sobre o tema avaliação da qualidade de registro em prontuário(9,10,11,12) foi encon- pondentes à plena completitude das informações registradas nos prontuários pesquisados. trada, principalmente, pesquisas realizadas em prontu- As variáveis do estudo foram selecionadas a par- ários médicos e de enfermagem, sendo raros os estudos tir do modelo de prontuário de papel (não eletrônico), sobre atendimento em fisioterapia. já existente no serviço avaliado; esse modelo compre- O campo da fisioterapia é influenciado pelo cená- endia as categorias: Identificação (número do regis- rio epidemiológico atual no qual há forte predomínio tro, nome do paciente, idade, sexo, endereço, telefo- Ter Man. 2013; 11(53):333-340 335 Fabiane Corrêa Batista, Maria das Graças Vale Barbosa, Luíza Garnelo. ne, data da avaliação e profissão ou ocupação), Sinais Para a análise dos registros encontrados no servi- Vitais (pressão arterial, frequência cardíaca e peso), ço estes foram classificados através da atribuição de es- História Clinica e Evolução do Quadro, subdivididas cores que variaram de zero (ausência de informação) a em: 1) Anamnese (queixa principal, história da doença dois (informação presente e completa), de acordo com atual e história familiar); 2) Exame Físico do paciente a proposta deles ainda, sendo que os dados foram tabu- (inspeção, palpação e testes clínicos funcionais; e exa- lados em planilhas Excel versão 2003; e a análise des- mes complementares); 3) Desfecho do Caso do pacien- critiva foi realizada com apoio do Minitab versão 14.0. te (diagnóstico funcional, registro de conduta fisiotera- Uma matriz de julgamento, adaptada do modelo pêutica e registro de evolução) e Identificação do Pro- dos mesmos autores, foi utilizada para subsidiar a cole- fissional (assinatura e carimbo profissional). Os termos ta dos dados e orientar a análise subsequente, auxilian- entre parênteses expressam as subcategorias que foram do na mensuração do grau de completitude e qualida- também incluídas na análise. de do preenchimento dos prontuários. Para o conjunto Quadro 1. Matriz de Julgamento pontuada, segundo as categorias e subcategorias priorizadas. ESCORES POSSÍVEIS EM CADA VARIÁVEL FORMULÁRIO CATEGORIAS (pontuação limite) SUBCATEGORIAS 2 E PONTUAÇÃO DA VARIÁVEL Registro Ausente Registro Presente Incompleto Registro Presente Completo ESCORE 0 ESCORE 1 ESCORE 2 0% - 100% Nome (3 pontos) 0,20% - 99,80% Idade (3 pontos) 20% - 80% Sexo (2 pontos) 0,60% - 99,40% Endereço (1,5 pontos) 62,40% - 37,60% Telefone de contato (1,5 pontos) 32,70% - 67,30% 7,40% - 92,60% 76,20% - 23,80% Número do registro (2 pontos) Identificação do paciente (20 pontos) F I Data de avaliação (3 pontos) S Profissão ou Ocupação (4 pontos) I Pressão Arterial (2,5 pontos) 100% - 0% Freqüência Cardíaca (2,5 pontos) 100% - 0% 99,60% - 0,40% 16% 16,30% 67,70% 0,20% 90,20% 9,60% História Familiar (3 pontos) 82,80% 11,70% 5,50% Inspeção + Palpação + Testes clínicos funcionais (10 pontos) 23,80% 74,30% 1,90% Exames complementares (10 pontos) 56,05% 27,60% 16,35% Diagnóstico Funcional (10 pontos) 85,10% 3,40% 11,50% 46,7% 45,70% 7,60% 87,40% 8,1% 4,5% 4,25% - 95,75% 96,20% - 3,80% O Sinais Vitais (15 pontos) T Peso (10 pontos) E Queixa Principal (7 pontos) R Anamnese (20 pontos) A P I A História Clínica e Evolução do Quadro (60 pontos) Exame físico (20 pontos) Desfecho do caso (20 pontos) História da Doença Atual (10 pontos) Conduta Fisioterapêutica (6 pontos) Registro de evolução (4 pontos) Assinatura Identificação do Profissional (2,5 pontos) (5 pontos) Carimbo (2,5 pontos) Ter Man. 2013; 11(53):333-340 336 Qualidade de registro em prontuário. da matriz, foi atribuído um total de 100 pontos, no qual a pesquisa, conforme os termos da Resolução 196/96 do as variáveis apresentaram pontuação limite, que variou Conselho Nacional de Saúde. segundo o grau de relevância atribuído aos itens constantes no prontuário. Para a análise dos dados contidos RESULTADOS na matriz calculou-se a pontuação de cada subcategoria Para o conjunto dos prontuários analisados foi ve- selecionada, obtendo-se, ao final do procedimento, uma rificado que a maior frequência de registro de lombal- média percentual para cada uma das categorias dispos- gia ocorreu no grupo de 39 a 49 anos de idade, com tas nas linhas da matriz, de acordo com o grau de pre- 24,2% (n=114) dos registros encontrados; porém 20 enchimento das informações contidas nos prontuários. % (n=94) não tinham registro de informação relaciona- Procedimento similar foi repetido até que se obtivesse a da à idade. Para o registro de distribuição por sexo 55% pontuação final para a matriz como um todo (quadro 1). (n=259) de pacientes eram do sexo feminino. A análise final da qualidade de registro no prontuá- Dentre os registros encontrados, 69% das lombal- rio foi baseada na conjunção das propostas de Silva e Ta- gias eram as denominadas lombalgias irradiadas (dor na vares-Neto (2007) e de Vieira da Silva et al (2007). Para região lombar com extensão para região glútea e coxa, concluir a classificação da completitude de preenchimen- podendo se estender até o joelho); 20% dos pacientes to procedeu-se a uma comparação entre a situação de tinham lombalgias por lesão no disco intervertebral e registro encontrada nos prontuários investigados e o mo- 3% dos registros referiam-se a lombalgias ocasionadas delo ideal, representado pela pontuação máxima atribu- por outras patologias, como artrose lombar, osteoporo- ível na matriz. A avaliação da completitude foi finaliza- se e cirurgias de coluna. da ao se obter uma pontuação atribuída a cada compo- Registrou-se um grande percentual de completu- nente da matriz, a qual correspondeu à diferença per- de do registro da categoria Identificação do paciente, a centual entre a pontuação máxima possível e aquela ob- partir do preenchimento (ou não) do prontuário, a pon- tida a partir da coleta dos dados. A pontuação final obti- tuação ideal prevista na matriz de julgamento para esta da foi classificada, de acordo com pontos de corte, estra- categoria poderia atingir até 20 pontos, porém a média tificados como: Insatisfatório (≥ 0 e ≤ 29,9%) estando percentual encontrada para a informação “presente e com ausência de preenchimento das categorias, Regular completo” foi de 75,03%, equivalendo a 15 pontos da (> 30 e ≤ 69,9%) quando encontrado preenchimento in- matriz. O registro de informações dos Sinais Vitais dos completo das categorias e Satisfatório (> 70,0%) quan- pacientes esteve ausente na quase totalidade dos pron- do houvesse preenchimento completo das categorias, e tuários analisados, sendo obtida uma pontuação de ape- foi adaptada ao estudo de Vieira da Silva et al, 2007. nas 0,02 na matriz de julgamento, em um total possível O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pes- de alcance de 15 pontos (tabela 1). quisa da respectiva instituição em que fora desenvolvido Os dados da categoria História Clínica e Evolução Tabela 1. Médias percentuais e pontuação obtida na matriz, segundo escores para as categorias. Identificação do Paciente e Sinais Vitais. Identificação Do Paciente Número do registro Nome do paciente Ausente (Escore 0) % Presente Completo (Escore 2) % 0 (0%) 471 (100%) 1 (0,20%) 470 (99,80%) Idade 94 (20%) 377 (80%) Sexo 3 (0,60%) 468 (99,40%) Endereço 177 (62,40%) 294 (37,60%) Telefone de Contato 317 (32,70%) 154 (67,30%) Data da Avaliação 35 (7,40%) 436 (92,60%) 392 (76,20%) 79 (23,80%) 24,93% 75,03% 5 15 Pressão Arterial 471 (100%) 0 (0%) Frequência Cardíaca 471 (100%) 0 (0%) 469 (99,60%) 2 (0,40%) 99,86% 0,14% 14,98 0,02 Profissão ou Ocupação Percentual Médio Total por escore Pontuação Atribuída por escore Sinais Vitais Peso Percentual Médio Total por escore Pontuação Atribuída por escore Ter Man. 2013; 11(53):333-340 337 Fabiane Corrêa Batista, Maria das Graças Vale Barbosa, Luíza Garnelo. do Quadro do paciente mostram que a média geral de de um valor total possível de ser obtida a partir da so- registro presente e completo para a categoria supraci- matória dos pontos, a pesquisa encontrou 26,42% de tada atingiu uma pontuação de 8,91 em um total de 60 prontuários cujo preenchimento pode ser considerado pontos passíveis de serem obtidos na matriz (tabela 2). completo (escore 2). O percentual de registros incom- Na categoria de Identificação do Profissional a pletos totalizou 21,88 % (escore 1). média obtida para o registro considerado presente e De acordo com os parâmetros instituídos no uni- completo foi equivalente a uma pontuação de 2,49 de verso de prontuários pesquisados, 51,70 % foram con- um total de 5 pontos possíveis na matriz de julgamen- siderados com qualidade de preenchimento insuficiente, to (tabela 3). 21,88% com preenchimento regular e 26,42% com pre- A figura 1, traz a totalização das médias por cate- enchimento satisfatório. goria, segundo a ausência de preenchimento (escore 0), preenchimento incompleto (escore 1) ou completo (escore 2), nos prontuários, mostrando que na categoria de Identificação do Paciente (75,03%) e a Identificação do profissional (49,80%) obtiveram registros presentes e completos. Nos sinais vitais, o registro de prontuário esteve ausente quase na totalidade e a categoria da História Clinica e Evolução do Quadro obteve 48,66% de prontuários sem registros. Segundo o preenchimento de informação nos prontuários, em comparação aos parâmetros instituídos pela Figura 1. Consolidado das Frequências médias obtidas em cada categoria segundo o escore. matriz de julgamento para cada categoria, mostrou que, Tabela 2. Médias percentuais e pontuação obtida na matriz, segundo escores da categoria História Clínica e Evolução do Quadro. Tipo Descrição Das Variáveis Queixa Principal História Doença Atual Anamnese 75 (16%) 77 (16,3%) 319 (67,7%) 425 (90,2%) 45 (9,6%) 55 (11,7%) 26 (5,5%) 3,0% 39,40% 27,60% 6,6 7,88 5,52 112 (23,8%) 350 (74,3%) 9 (1,9%) Exames complementares 264 (56,05%) 130 (27,6%) 77 (16,35%) Percentual Médio Parcial 39,93% 50,95% 9,13% 7,98 10,19 1,82 Inspeção + Palpação + Testes clínicos funcionais Pontuação Atribuída Diagnóstico Funcional 401 (85,10%) 16 (3,4%) 54 (11,5%) Conduta Fisioterapêutica 220 (46,7%) 215 (45,7%) 36 (7,6%) Registro de evolução 412 (87,4%) 38 (8,1%) 21 (4,5%) 73,07% 19,07% 7,87% Percentual Médio Parcial Pontuação Atribuída Total Presente Completo (Escore 2) 1 (0,20%) Pontuação Atribuída Desfecho Presente Incompleto (Escore 1) 390 (82,8%) História Familiar Percentual Médio Parcial Exame Físico Ausente (Escore 0) Percentual Médio por escore Pontuação Atribuída por escore 14,61 3,81 1,57 48,66% 36,47% 14,80% 29,19 21,88 8,91 Tabela 3. Médias percentuais e pontuação obtida na matriz, segundo escores da categoria Identificação do Profissional. Identificação Do Profissional Assinatura Carimbo Percentual Médio por escore Pontuação Atribuída por escore Ausente (Escore 0) Presente Completo (Escore 2) 20 (4,25%) 451 (95,75%) 453 (96,2%) 18 (3,8%) 50,20% 49,80% 2,51 2,49 Ter Man. 2013; 11(53):333-340 338 DISCUSSÃO Qualidade de registro em prontuário. situação familiar, escolaridade e ocupação, tendo encon- A temática de registro de prontuário é atual e de trado 34,70% de registros para esse item2. Na avaliação grande relevância, pois a qualidade das informações que aqui empreendemos foram encontrados 92,60% de nele contidas é indicador indireto da qualidade da as- registros de data de entrada no setor de fisioterapia, sistência ofertada ao paciente. É igualmente relevante a qual, no serviço que avaliamos, equivale à data da para o bom gerenciamento e a organização da institui- avaliação do paciente; já para a categoria ocupação en- ção, como também para o ensino e a pesquisa, nas ins- contramos um percentual de 23,80% de preenchimento tituições que desenvolvem essas atividades.(18) adequado de registros, o que representa um valor bem Dentre os dados encontrados na pesquisa, os da mais baixo que o encontrado na pesquisa supracitada. freqüência de lombalgias, mesmo com valor epidemioló- O baixo nível de preenchimento da variável pro- gico limitado por se tratar de dados obtidos em um único fissão ou ocupação é um indicador indireto de qualida- hospital, forneceram um conjunto de informações sobre de insuficiente do atendimento prestado aos clientes de o perfil dos usuários do serviço de fisioterapia do servi- fisioterapia com diagnóstico de lombalgia, pois se sabe ço de referência estudado. Observou-se que a clientela é que o fator laborativo é um importante elemento desen- formada por pessoas em idade produtiva, havendo uma cadeador dos sintomas de lombalgia. A ausência de re- discreta predominância de mulheres (55%). A correla- gistro é indicativa da falta de investigação sobre a carga ção entre a demanda por fisioterapia e o perfil ocupacio- de trabalho, ergonomia incorreta no ambiente de tra- nal dos usuários, ainda que muito relevante, não pôde balho, estresse ocupacional e outros fatores correlatos, ser analisada devido à insuficiência de registro. com interveniência no desencadeamento dos quadros No local pesquisado, os prontuários são de papel de lombalgia.(19) e estão armazenados em uma sala, agrupados em Na categoria de Sinais Vitais a qualidade desse re- ordem numérica de registros de identificação do pacien- gistro no serviço por nós avaliado teve percentual de te, porém alguns prontuários já registrados não são en- 0,5%, equivalendo a uma pontuação de 0 (zero) na ma- contrados com facilidade, devido à desorganização dos triz de julgamento. Esse dado diverge dos achados do arquivos, gerando dificuldade e morosidade no atendi- estudo(20) em que constataram um excelente nível de re- mento do paciente. O baixo percentual de preenchimen- gistro sobre Sinais Vitais (96,20%) em prontuários de to satisfatório (26,42%) nas informações requeridas enfermagem por ele analisados. O registro insuficien- para o registro do atendimento feito evidencia dificul- te dos indicadores da condição vital do paciente é tam- dade no cumprimento das normas técnicas que regem o bém sugestivo de lacunas na acuidade de avaliação clí- direito do paciente. Assim, resoluções como as dos con- nica do paciente, comprometendo a qualidade do cuida- selhos de medicina e fisioterapia, que expressam os dis- do, já que as medidas de pressão arterial e da frequên- positivos legais sobre o assunto, são sistematicamen- cia cardíaca podem evidenciar alterações cardiocircula- te descumpridas pelo serviço, dadas a incapacidade de tórias, que inviabilizam (ou dificultam) o trabalho fisio- gerar informações consistentes para subsidiar o diag- terapêutico, tais como hipo ou hipertensão e arritmias nóstico e para monitorar a evolução do paciente. cardíacas. O peso, por sua vez, tem forte influência na Constatou-se que na categoria Identificação do pa- indicação ou contraindicação de certas condutas fisiote- ciente a qualidade de registro foi melhor que nos demais rapêuticas, além de ser fator coadjuvante de importân- itens, sendo considerada boa, porque apresentou uma cia na expressão clínica das lombalgias.(19) média de 75% de preenchimento completo. Nos acha- Dentre os dados analisados, a categoria História dos da pesquisa1, que avaliou os prontuários de um am- Clínica e Evolução do Quadro foi uma das piores em ter- bulatório em cidade de porte médio e pautou seu estudo mos de qualidade de registro. Do total de prontuários pela análise dos dados de identificação, este encontrou analisados, apenas 14,80% puderam ser enquadrados um grau insuficiente de preenchimento de informações como registro adequado. Usando a lógica da pontuação nos prontuários. O autor concluiu que esses instrumen- pela matriz de julgamento, vimos que, de uma pontua- tos operavam precariamente como fonte de informação, ção ideal máxima de 60 pontos atribuíveis a um registro seja para uso operacional cotidiano, seja para auxiliar pleno das informações, essa categoria obteve apenas na avaliação da qualidade do atendimento. Esse último um total de 8,92 pontos. Se lembrarmos que essa cate- achado de Scochi é distinto da situação encontrada em goria congrega itens como Anamnese (com percentual nossa pesquisa, em que a categoria Identificação do pa- médio de preenchimento completo de 27,60%), Exame ciente superou os 70% definidos como preenchimento Físico (com média geral de registro completo de 9,13%) satisfatório de prontuários. e Desfecho do Caso (7,87%). Pode-se afirmar que há Na pesquisa feita em unidade básica de saúde no uma falência grave no registro daquilo que é o cerne do Rio de Janeiro, encontrou baixos percentuais do registro cuidado ao paciente, já que tais informações são vitais de dados de identificação, tais como data de entrada do para proceder ao diagnóstico, subsidiar a decisão sobre paciente no serviço (16,70%) e atributos sociais como o tratamento e monitorar a evolução do doente. O reco- Ter Man. 2013; 11(53):333-340 339 Fabiane Corrêa Batista, Maria das Graças Vale Barbosa, Luíza Garnelo. nhecimento da importância desse conjunto de itens para sinaturas frequentemente são ilegíveis. O maior percen- a qualidade do tratamento nos levou a prever 60 pon- tual de registros incompletos foi, nesse item, devido à tos, na matriz, a esse conjunto de informações. Assim falta de carimbo de identificação profissional, indicando, sendo, uma falha tão expressiva de registro nesses itens portanto, que os direitos do paciente não estavam de- é fortemente sugestiva de comprometimento na quali- vidamente salvaguardados. Porém os achados positivos dade da atenção prestada ao paciente, uma vez que os de identificação adequada dos profissionais foram su- prontuários carecem de informações que viabilizem um periores àqueles observados em um estudo que encon- adequado acompanhamento do caso. O cenário encon- trou somente 26% de presença de registro adequado de trado é, comparativamente, pior que os resultados na identificação do profissional, em pesquisa realizada em pesquisa feita no Distrito Sanitário na Bahia, no qual en- uma enfermaria de obstetrícia,(22) em contraponto à pes- contraram quase 50% dos prontuários com registro não quisa(11) que encontrou 100% de identificação completa satisfatório. (10) Nossos achados também são, comparativamente, do profissional em estudo realizado em hospitais universitários do município de São Paulo. menos satisfatórios que os resultados encontrados no estudo(6), no qual esses autores analisaram registro de CONSIDERAÇÕES FINAIS Anamnese em prontuário e encontraram 50% dos for- O processo de avaliação em saúde é complexo e mulários pesquisados com uma pontuação que variou deve ser estabelecido com base nos parâmetros prede- de 0 a 4, num sistema de escores, segundo o qual o terminados que instituem os padrões de qualidade de- valor máximo alcançável para o item era de 22 pontos. sejáveis para um serviço de saúde. Tal como aqui foi Para os autores, essa situação se apresentava preocu- feito, o avaliador deve construir um desenho de pesqui- pante, pois expressava uma baixa ou regular qualidade sa capaz de satisfazer os rigores da exigência acadêmi- do atendimento. ca; de apreender as singularidades da realidade inves- Na pesquisa feita na unidade hospitalar de medici- tigada; de obter uma aproximação entre os parâmetros na interna no Rio Grande do Sul no qual realizaram uma de avaliação adotados na pesquisa e os achados do con- avaliação do registro do exame físico em 120 prontuá- texto em que a pesquisa se desenvolve e de produzir in- rios foi encontrado que nenhum dos prontuários anali- dicadores capazes de mensurar a aproximação/distan- sados teve o registro do exame físico considerado com- ciamento entre o modelo ideal e a realidade encontrada. pleto de acordo com os critérios pré-estabelecidos no Nesse sentido o uso da matriz de julgamento se mostrou estudo.(21) uma ferramenta adequada para produzir indicadores de Igual raciocínio pode ser utilizado para analisar o qualidade dos registros investigados. registro do diagnóstico funcional, realizado pelo fisiote- Através da presente pesquisa percebeu-se que a rapeuta, que identifica as alterações mecânicas, com ou qualidade de registro nos prontuários de Fisioterapia do sem incapacidade funcional do paciente. Tal diagnóstico hospital estudado foi considerada de insatisfatória a re- subsidia o planejamento da conduta fisioterapêutica, a gular. ser adotada segundo a necessidade singular do paciente A literatura que trata de registro em prontuário é e é potencializado pelo registro da evolução, que permi- unânime em afirmar que a qualidade do registro é um te acompanhar se o quadro álgico se encerrou, diminuiu indicador indireto, mas relevante, da qualidade do cui- ou persistiu após o tratamento, e se houve recuperação dado, uma vez que a presença de informação adequa- funcional do indivíduo.(19) O baixo percentual de registro da se constitui em importante subsídio para a tomada de encontrado nos prontuários da Fundação Hospital Adria- condutas terapêuticas e seguimento da evolução. Além no Jorge (11,50%), em Manaus-AM, sugere importante disso, a análise do registro é parte importante do moni- limitação no acompanhamento da evolução dos quadros toramento periódico das rotinas clínicas e administrati- clínicos dos pacientes atendidos. vas de serviços de saúde e o adequado registro das in- A categoria Identificação do Profissional Responsá- formações é uma das vias preferenciais para tornar ro- vel foi incluída no estudo por ser considerada parte do tineiros os processos avaliativos, feitos com os próprios direito do paciente a uma identificação fácil e adequa- profissionais que executam as ações de saúde. da do profissional responsável pelo seu tratamento, con- Os achados dessa pesquisa mostram a necessida- forme a Resolução 1638/2002 do Conselho Federal de de de se instituírem medidas técnicas e operacionais vi- Medicina. Os dados de nossa pesquisa mostraram que sando à melhoria na qualidade do registro no serviço es- quase a metade dos prontuários (49,8%) tinha regis- tudado e, em consequência, contribuir para o aprimo- tro adequado para esse item. Mas, ainda que a maioria ramento do atendimento do paciente e para a sensibili- dos profissionais assinasse o documento, grande parte zação dos profissionais sobre a importância do registro deles não fazia uso de seu carimbo de identificação pro- correto de informações referentes aos serviços presta- fissional, medida necessária à clara identificação do pro- dos. Essa conduta também pode contribuir para valori- fissional responsável pelo cuidado, uma vez que as as- zar e dar visibilidade às suas condutas, muitas das quais Ter Man. 2013; 11(53):333-340 340 Qualidade de registro em prontuário. não sendo registradas se tornam invisíveis aos olhos do existência é imprescindível para iniciar uma discussão gestor e do próprio profissional. junto às equipes profissionais dos serviços de saúde, em E para finalizar, para quem a informação isolada não é solução dos problemas de qualidade, mas sua busca de valorizar o registro e instituir medidas de correção dos problemas encontrados(1). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Scochi MJ. Indicadores dos registros e da assistência ambulatorial em Maringá, Estado do Paraná – Brasil, 1991: Um exercício de Avaliação. Cadernos de Saúde Pública. 1994;10(3):356-367. 2. Vasconcellos MM, Gribel EB, Moraes IHS. Registros em saúde: avaliação da qualidade do prontuário do paciente na atenção básica, Rio de Janeiro, Brasil. 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Acta Paulista Enfermagem. 2003;16(1):7-13. Ter Man. 2013; 11(53):333-340 341 Artigo Original Desempenho versus Estatura no Nado Crawl em crianças de 10 anos. Performance versus height in Crawl Swim in children of 10 years. Ivan Wallan Tertuliano(1,4), Caio Graco Simoni da Silva(2,4), Antonio Carlos Mansoldo(2,3), Afonso Antônio Machado(4), Sonia Maria Geraldo(2), Patrícia Miranda de Abreu(2), Vinicius Rodrigues Correia de Almeida(2), Carlos Alberto Kelencz(2). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus Rio Claro, Rio Claro (SP), Brasil Resumo Introdução: O nado Crawl é atualmente o nado mais veloz que se conhece dentro do cenário competitivo. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi investigar as diferenças de desempenho em crianças de 10 anos, relacionando tempo total de nado e estatura, em uma distância de 25 metros. Método: Participaram 11 crianças do sexo masculino com 10 anos de idade. A tarefa foi nadar 25 metros, nado Crawl o mais rápido possível e, além dessa medida, utilizou-se medida antropométrica relacionada à estatura. Foi conduzido um teste de Correlação de Pearson. Resultados: Os resultados, de acordo com o teste de Correlação de Pearson, mostraram que a correlação é positiva e moderada – nadar mais rápido é positivamente correlacionado com a estatura das crianças. Conclusão: Os resultados permitem concluir que a estatura maior não é determinante para um melhor desempenho em provas de nado Crawl para crianças de 10 anos de idade. Palavras Chave: desempenho, estatura e nado Crawl. Abstract Introduction: The Swim Freestyle swimming is currently the fastest who is known within the competitive environment. Objective: The objective of this study was to investigate the differences in performance in children of 10 years, relating total time swimming and height, at a distance of 25 meters. Method: Participants were 11 male children aged 10 years old. The task was to swim 25 meters, swim Crawl as quickly as possible and, beyond this measure, we used anthropometric measure related to height. We conducted a Pearson correlation test. Results: The results, according to the Pearson correlation test showed that the correlation is positive and moderate - swim faster is positively correlated with the height of the children. Conclusion: The results allow the conclusion that greater height is not crucial for a better performance in competition Freestyle swimming for children 10 years of age. Keywords: performance, height and Freestyle. Recebido em: 09/07/2013; Aceito em: 13/09/2013 1. 2. 3. 4. Universidade de Ribeirão Preto, Campus Guarujá (UNAERP), Guarujá (SP), Brasil; Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UNIÍTALO), São Paulo (SP), Brasil; Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brasil; Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus Rio Claro, Rio Claro (SP), Brasil. Endereço para Correspondência: Rua Apucarana, 220 apto 73 CEP: 03311-000, São Paulo – SP. E-mail: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):341-347 342 INTRODUÇÃO Desempenho versus Estatura no Nado Crawl em crianças de 10 anos. Adultos melhoram o desempenho por fatores intrínsecos Para Anjos, Ferreira, Geiser, Medieros e Marques,(1) (individualidade biológica) e extrínsecos (treinamen- nadar é sustentar-se e deslocar-se sobre a água por im- to). E a criança? Que fatores levam a melhoria do de- pulso próprio. O nado Crawl é atualmente o nado mais sempenho em natação? As crianças melhoram indepen- veloz que se conhece dentro do cenário competitivo.(2) dentemente do treinamento? Fatores maturacionais tem Atletas de elite da natação conseguem percorrer, em mais relevância nas melhorias de desempenho? Crian- nado Crawl, a prova dos 100 metros em piscina de 25 ças devem participar de competições? Competições que metros em menos de 48 segundos. Sendo em 45 segun- visam o desempenho são benéficas às crianças? Mode- dos o atual recorde mundial em piscina curta. O nado los de competições que todos ganham são mais positi- Crawl possui cinco componentes importantes: ações dos vas para crianças? braços, sincronização entre os braços e respiração, ação Perguntas, como essas, são importantíssimas para do tronco, ações das pernas e sincronização entre bra- entender o “estado da arte” da área de Natação para ços e pernas. Crianças. Existe a necessidade da compreensão das me- Na ação dos braços existem duas fases, denomi- lhorias de desempenho (resultado e padrão de movi- nadas de aérea e aquática.(3) A fase aérea é subdividi- mento) em crianças na natação, bem como as crianças da em duas fases, a primeira corresponde à saída das aceitam esse esporte, para poder traçar estratégias ade- mãos no final da fase aquática, quebrando a superfície quadas de aprendizagem e estratégias que maximizam da água, até que as mãos passem por cima do ombro e o desenvolvimento motor das crianças. a segunda parte inicia-se na passagem da mão por cima O Desenvolvimento ocorre em diferentes cená- do ombro até a imersão da mão na água. A fase aquá- rios e é definido por diferentes características. Sendo tica é subdividida em 5 partes, sendo duas delas pro- assim, ele é definido por Haywood e Getchell(6) como pulsivas.(3) Essas duas fases propulsivas da fase aquá- um processo contínuo de mudanças na capacidade fun- tica são responsáveis por até 90% da propulsão do na- cional (capacidade de existir, de viver no mundo real). dador(4) e tornam a braçada um componente essencial Além disso, o desenvolvimento tem relação com a idade, do nado Crawl. mesmo não dependendo dela, pois, mesmo que o de- O movimento de pernas no nado Crawl compreen- senvolvimento ocorra com o avanço da idade, ele pode de duas fases, para cima e para baixo, com leves movi- ser mais rápido ou mais lento em diferentes períodos mentos laterais. Esses movimentos laterais estabilizam e suas taxas podem ser diferentes para pessoas com o corpo enquanto ele oscila de um lado para o outro. a mesma idade. O desenvolvimento, também, envolve Esse alinhamento lateral será mantido se as pernas ba- mudanças sequenciais, ou seja, uma fase depende da terem na mesma direção dos movimentos dos quadris. fase anterior. Essas mudanças são relacionadas às in- Para manter a sincronização e angulações perfeitas, a terações do sujeito com o ambiente. Todos passam por pernada para baixo começa antes que a perna tenha padrões previsíveis de desenvolvimento, mas o resulta- terminado a pernada para cima no movimento anterior do do desenvolvimento é único para cada sujeito.(6) da outra perna. O pé deve estar a uma profundidade de, Para discutir mudanças no movimento, utiliza-se aproximadamente, 30 a 35 centímetros para tornar-se o termo Desenvolvimento Motor. Haywood e Getchell(6) eficiente.(3) definem Desenvolvimento Motor com um processo de Em relação à sincronização dos braços e pernas, mudanças no movimento, processo que é contínuo e um ritmo de pernadas refere-se ao número de pernadas tem relação direta com a idade do indivíduo, bem como, por ciclo de braçada que é feito pelo atleta. Um ciclo de com suas interações com o ambiente e com as tarefas braçada no nado Crawl é definido pela entrada de uma que levam as mudanças. Newell(7) sugere que os mo- das mãos na água, realização da fase aquática, saída da vimentos surgem das interações do organismo (sujei- água, entrada da mão novamente na água, todo esse to), do ambiente em que o movimento ocorre e da tare- percurso tem que ser realizado pelos dois braços. Essa fa a ser executada. Mudança de um dos fatores (sujeito, sincronização deve variar em função das provas a serem ambiente e tarefa) resulta em mudança no movimento. nadadas.(5) Ritmos de pernadas de 2 e 4 tempos são A interação do indivíduo, da tarefa e do ambien- mais utilizados por nadadores que participam de pro- te modifica o movimento e, com o passar do tempo, os vas de longa distância (800 metros, 1500 metros, tra- padrões de interação levam a mudanças no desenvolvi- vessias), enquanto que para as provas curtas, 50, 100 mento motor do sujeito.(6) Estudo do Desenvolvimento e 200 metros, o ritmo mais preconizado é a pernada de Motor consiste em entender como as restrições do indi- 6 tempos. víduo (organismo), do ambiente e da tarefa conectam- No entanto, todo o exposto até agora se refere aos adultos. Sendo assim, temos que compreender e en- -se a ponto de produzir padrões que mudam qualitativamente ao longo do tempo.(8) tender a criança, para que se possam fazer as devidas Sendo assim, mudanças no crescimento (sujeito), ponderações, a respeito da natação para esse público. na exposição ao treinamento (ambiente) e aprendizagem Ter Man. 2013; 11(53):341-347 Ivan W. Tertuliano, Caio G. S. Silva, Antonio C. Mansoldo, Afonso A. Machado, Sonia M. Geraldo, Patrícia M. Abreu, et al. do nado Crawl (tarefa), poderiam levar a um melhor desempenho em crianças. No entanto, isso é verdadeiro? Apenas isso é o suficiente para definir desempenho? 343 MÉTODO Participaram do estudo, mediante assinatura do termo de consentimento, 11 crianças do sexo masculi- O estudo do Desenvolvimento Motor vem, ao longo no com 10 anos de idade, alunos de natação de diferen- dos anos, sendo conduzido por duas abordagens: orien- tes escolas de natação e participantes do Festival de Na- tação ao produto e orientação ao processo.(9) As aborda- tação da EEFE-USP. gens tentam explicar as mudanças no movimento utili- O evento foi realizado na piscina coberta e aquecida zando dados de produto e dados de processo, ou seja, de 25 metros de comprimento por 12.5 metros de largura as abordagens são voltadas ao produto final do movi- (semiolímpica), com quebra ondas laterais, raias para de- mento (orientação ao produto) ou ao processo de mu- limitar suas oito divisórias e com temperatura entre 27º dança do movimento (orientação ao processo). A abor- e 28º C (recomendação da FINA para eventos internacio- dagem orientada ao produto é conduzida por estudos nais), da própria escola de Educação Física da Universida- que descrevem as mudanças nos resultados do desem- de de São Paulo. A saída foi realizada na parte mais pro- penho motor.(10) Essas mudanças estão relacionadas, funda da mesma (3.60m), com a utilização do bloco de por exemplo, aos ganhos de velocidade em corrida, me- partida para a saída nas tentativas e a chegada foi reali- lhoria no salto em altura, precisão de acertos em arre- zada na parte mais rasa (1.20m). Todas as provas foram messo de basquetebol, ganhos em velocidade na nata- balizadas e cronometradas individualmente. Utilizou, ção etc. Sendo assim, a abordagem orientada ao pro- para esse estudo, as provas de nado Crawl na distância cesso focaliza as mudanças que ocorreram no padrão de de 25 metros. As medidas utilizadas foram desempenho movimento,(10) seja da corrida, do arremesso e da nata- (tempo total de nado) e estatura (altura das crianças). ção, ou seja, as melhorias de execução motora e não de desempenho (resultado final) do movimento. Não foi adotado tratamento diferenciado para as crianças. O experimento constitui-se, para todos, na Estudos que descrevem mudanças num dado com- execução da tarefa: percorrer 25 metros nadando Crawl portamento ao longo do tempo, também são estu- em velocidade máxima. Importante ressaltar que os Estudos que focalizam o alunos não treinavam essa velocidade (Potência anae- “como”, ou seja, tentam descrever como o movimento róbia), haja vista, que as aulas (seus treinos) são ofere- modifica-se, são estudos orientados ao processo. cidas duas vezes por semana (em média) com duração dos orientados ao produto. (9) As crianças entre 8 e 10 anos de idade tem um de 45 minutos com o caráter aeróbio durante suas exe- crescimento lento, mas regular, diferentemente de anos cuções. A sequência das provas foi estabelecida pela co- pré-escolares.(11) Nesse período, apesar de apresenta- missão organizadora do evento. rem ganhos em crescimento físico de forma gradual, as A coleta de dados ocorreu em três etapas. Na pri- crianças apresentam ganhos rápidos de aprendizado. A meira etapa os meninos recebiam as informações sobre mudança gradual de tamanho e a relação mantida entre o estudo e eram convidados a assinar o termo de con- o desenvolvimento dos ossos e dos tecidos, desempe- sentimento após esclarecimentos. nham um importante papel no aumento dos níveis de A segunda etapa compreendeu a coleta de estatu- funcionamento.(11) Nessa fase, tanto meninos, quanto ra (coletada em centímetros) dos sujeitos, antes de seus meninas apresentam padrões muito parecidos de cres- balizamentos para o Festival. cimento. As crianças passam por maior desenvolvimen- A terceira etapa compreendeu a execução da tare- to dos membros do que do tronco (braços representam fa, ou seja, nadar 25 metros, nado Crawl o mais rápi- 90% da força e velocidade em nado Crawl) e os meni- do possível (coletada em segundos). Para tal, os meni- nos apresentam pernas e braços maiores que as meni- nos foram conduzidos ao recinto da piscina. Os meninos nas, além de maior estatura. nadavam em grupos de 8 crianças, sendo cada criança Sendo assim, pode-se questionar que crianças em por raia de nado. uma mesma faixa etária terão resultados diferentes (in- Para as medidas relacionadas ao tempo de execu- terações entre sujeito, ambiente e tarefa), no entanto, ção da tarefa foi registrado o tempo total para vencer as crianças com maior estatura terão vantagem sobre as o percurso de 25 metros em segundos (seg.). As pro- crianças com menor estatura, no desempenho final de vas foram monitoradas via cronometro digital da marca uma prova de 25 metros Crawl, pois braços representam “CASIO” por árbitros (alunos de graduação do curso de 90% da velocidade no nado Crawl.(4) Educação Física) da própria escola. O balizamento se- Assim, o objetivo do presente estudo foi investigar guiu o modelo da Federação Aquática Paulista (FAP) as diferenças de desempenho em crianças de 10 anos, para fins de organização dos tempos. Os tempos foram relacionando tempo total de nado e estatura, em uma anotados em planilhas controladas pela arbitragem da distância de 25 metros, em um Festival de Natação na prova, as quais estão arquivadas digitalmente. Cada Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de bloco de partida era monitorado por um árbitro de saída São Paulo (EEFE-USP). e um árbitro de chegada. Ter Man. 2013; 11(53):341-347 344 Desempenho versus Estatura no Nado Crawl em crianças de 10 anos. Para a análise de estatura foi realizada a mensura- Considerando que todas as medidas utilizadas são ção da estatura em centímetros (cm). As medidas de es- de natureza intervalar e que o objetivo do presente es- tatura foram realizadas com os sujeitos em posição ver- tudo foi verificar a relação entre 2 variáveis (tempo total tical, utilizando trajes de natação, de costas para o equi- de nado e estatura das crianças), o teste utilizado foi o pamento de coleta (de frente para o experimentador) e teste de Correlação de Pearson. Os resultados demons- sem utilização de qualquer calçado. O equipamento uti- tram que a correlação é positiva e moderada – nadar lizado para coleta foi o estadiômetro standard da Ameri- mais rápido é positivamente correlacionado com a esta- can Medical do Brasil com marcação de oitenta centíme- tura das crianças. tros a dois metros e vinte centímetros. Esse resultado reflete algo interessante. As crian- Vale ressaltar que para a realização do experimento ças que executaram o melhor tempo de execução da ta- contou-se com a presença de 21 experimentadores, alu- refa eram os nadadores mais baixos, ou seja, estatu- nos de educação física da EEFE-USP e quatro experimen- ra não foi determinante para uma melhor velocidade de tadores do Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UNIÍTA- execução. A correlação moderada foi de que as crian- LO) com experiência em coleta de dados. Um experimen- ças menores são mais rápidas que as crianças maiores. tador recebeu os atletas e explicou o experimento. Outro experimentador forneceu os termos de consentimento. Por que isso ocorreu? Essa pergunta pode ter diferentes caminhos para explicação. Dois experimentadores participaram da coleta antropo- Um dos caminhos para explicação remete-se aos métrica de estatura e 17 experimentadores controlaram pensamentos sistêmicos. Sob um ponto de vista sistê- e marcaram o tempo de execução da tarefa. mico, quando dois componentes interagem, o compor- Vale esclarecer que o presente estudo foi aprovado pela Comissão de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UNIÍTALO). RESULTADOS Considerando que todas as medidas utilizadas são de natureza intervalar (Tabela 1) e que o objetivo do presente estudo foi verificar a relação entre 2 variáveis (tempo total de nado e estatura das crianças), o teste utilizado foi o teste de Correlação de Pearson. De acordo com o teste de Correlação de Pearson, a correlação é r = 0,614, p < 0,045, df = 11. Isso significa que a correlação é positiva e moderada – nadar mais rápido é positivamente correlacionado com a estatura das crianças (Figura 1). DISCUSSÃO Pode-se dizer que há certo consenso entre pesquisadores de Desenvolvimento motor que os movimentos surgem das interações do sujeito, do ambiente no qual os movimentos ocorrem e da tarefa a ser executada.(7) No presente trabalho, avaliou-se a relação entre tempo total Figura 1. Relação entre tempo total de nado e estatura dos sujeitos. Tabela 1. Medidas dos 11 sujeitos: Tempo total de nado e estatura. Estatura (cm) Tempo total de nado (seg.) 1 126,20 22,63 2 135,40 20,73 3 136,00 23,99 4 138,90 19,29 A hipótese levantada neste estudo é de que os su- 5 139,00 18,44 jeitos maiores (restrições estruturais) teriam um tempo 6 140,00 19,71 menor de nado (tempo total de nado). Essa hipótese foi 7 140,90 20,53 e Haywood e Getchell(6) 8 145,90 26,58 9 150,20 23,18 10 151,60 22,70 11 162,30 29,63 de nado e estatura das crianças. Sendo assim, o objeti- Sujeitos vo do presente estudo foi investigar as diferenças de desempenho em crianças de 10 anos, relacionando tempo total de nado e estatura, em uma distância de 25 metros, em um Festival de Natação na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP). levantada, baseada em Newell (7) que afirmam que as restrições do indivíduo, de ordem estrutural, restringem o movimento, ou seja, menor tamanho de corpo gera menor força e, consequentemente, menor velocidade de nado. Ter Man. 2013; 11(53):341-347 Ivan W. Tertuliano, Caio G. S. Silva, Antonio C. Mansoldo, Afonso A. Machado, Sonia M. Geraldo, Patrícia M. Abreu, et al. tamento resultante é diferente do comportamento individual dos componentes.(12) 345 Competição pode ser entendida por um confronto entre 2 ou mais participantes, visando um resulta- Dessa forma, os resultados individuais de tempo do positivo. Assim, as crianças devem ser capazes de total de nado mostram o sujeito mais rápido, não rela- lidar com as situações provocadoras de estresse, du- cionando essa velocidade com outra variável. Da mesma rante a competição, e manter os níveis adequados de forma, quando olhamos os sujeitos, pelos valores de es- ansiedade (fundamentais para o desempenho positivo) tatura, encontramos resultados diferentes dos resulta- para a manutenção de um estado aceitável que permi- dos do tempo de execução da tarefa, ou seja, os sujei- ta a criança, além de desempenhar-se em níveis apro- tos apresentam colocações diferentes em cada medida. priados, tomar decisões importantes em diferentes mo- Quando se aplica o modelo sistêmico de análise e rela- mentos do evento.(17) ciona as 2 variáveis para o mesmo sujeito, os resulta- As fontes causadoras de estresse podem gerar in- dos da análise modificam-se e apresentam uma terceira fluências negativas nas crianças e geralmente partem classificação. A explicação, baseada na visão sistêmica do treinador e da família, principalmente, quando estes é de que o todo não é visto como somatória das partes não admitem resultados que não sejam àqueles referen- (tempo total de nado e estatura), mas como algo que tes ao resultado esperado, ou seja, vitória.(18, 19) surge da interação das partes (relação entre tempo total O estresse competitivo ocorre quando existe um de nado e estatura). Sendo assim, procura-se enten- desequilíbrio entre a exigência de desempenho na com- der as funções das partes e a relação que elas mantêm, petição e a capacidade do executante em atender satis- entre si, para que o objetivo do todo seja alcançado.(13) fatoriamente às exigências requeridas pelo treinador ou Outro caminho para explicar os achados é basear pais.(20) No entanto, é importante resaltar que o estres- os achados em teorias de Aprendizagem Motora. Sem se é importante à competição, porém, é seu nível que irá sombra de dúvidas, investigar a interação de variáveis determinar se é positivo ou negativo à criança.(19) não é nada fácil, mas, a consideração do pressuposto O estresse que ocorre com as crianças durante acima (visão sistêmica) estimula o direcionamento de uma competição pode desencadear uma série de even- esforços para, no mínimo, prática. A prática refere-se a tos bioquímicos e fisiológicos que preparam o organis- um esforço consciente de organização, execução, ava- mo para uma resposta que pode ser para a luta ou para liação e modificação das ações motoras a cada execu- a fuga.(21) Sendo assim, a apreensão e a alta ativação Acrescenta-se a essas considerações aquela de fisiológica determinam um desequilíbrio do comporta- MAGILL(15) de que a qualidade/quantidade de prática mento das crianças, mais especificamente, antes da são fatores determinantes para atingir os estágios mais competição ou em momentos determinantes nas com- avançados de aprendizagem. petições.(22) ção. (14) Sendo assim, é possível especular que os sujei- Essas características remetem à importância de um tos que tiveram melhores tempos foram os sujeitos que trabalho cuidadoso com as crianças da faixa etária deste foram expostos mais tempo à aprendizagem da tarefa estudo (10 anos de idade), observando todos os sin- (restrições da tarefa) (nadar em velocidade máxima) ou tomas de estresse pré-competitivos que possam sur- foram expostos por mais tempo à natação (maior quan- gir, tanto de ordem interna (cobrança pessoal pela vitó- tidade de tempo na natação – experiência). No entanto, ria) ou de ordem externa (cobrança do professor e pais não se pode confirmar essa hipótese pelos achados, haja e avaliação negativa por eles pelo resultado obtido).(19) vista que essa variável não foi controlada no experimento. Portanto, é possível especular que os sujeitos que Outra possível caminho para explicação remete-se tiveram melhores tempos foram os sujeitos que lidaram as restrições funcionais do indivíduo durante o festival.(7) melhor com o estresse competitivo, desencadeando me- Restrições funcionais podem ser entendidas como limi- lhores respostas ao evento e, consequentemente, rea- tadores de taxa relacionados à função comportamental lizando um desempenho positivo. Por outro lado, o fato do indivíduo como, por exemplo, medo para nadar em de as maiores crianças terem a expectativa de alcança- um festival, motivação para nadar em um festival. Nesta rem os melhores resultados, pode ter levado-as a um visão, os resultados estão relacionados à psicologia es- estresse muito elevado e, consequentemente, ao dese- portiva. Mesmo sendo um Festival, existia a questão da quilíbrio entre a exigência de desempenho na competi- vitória em jogo, ou seja, o teor de competição entre as ção e a sua capacidade em atender satisfatoriamente às crianças. Sendo assim, pode-se pensar em competição exigências requeridas pelo treinador ou pais. Isso pode infanto-juvenil. A competição infanto-juvenil é o período ter ocorrido, pois todos esperavam, principalmente os compreendido entre os 07 anos de idade e os 18 anos. técnicos e pais, que as crianças maiores fossem as mais As competições são atividades organizadas e controla- velozes e conseguissem os melhores resultados e isso das por adultos, onde são formadas equipes para a par- não ocorreu. No entanto, não se pode confirmar essa hi- ticipação em torneios e campeonatos com a finalidade pótese pelos achados, haja vista que essa variável não de determinar os vencedores.(16) foi controlada no experimento. Ter Man. 2013; 11(53):341-347 346 Outra possibilidade de explicação dos achados é interpretar os resultados com teorias de Desenvolvimento Desempenho versus Estatura no Nado Crawl em crianças de 10 anos. aumento gradual e linear de força, independente do aumento da estatura. Motor. Entre o sexto e o décimo ano de vida, as crianças Sendo assim, os resultados encontrados levam a apresentam aumentos lentos, mas constantes de peso crer que independente da estatura, a força muscular e o e altura, além de uma maior organização dos sistemas tempo de prática tiveram maiores influencia no resulta- sensorial e motor.(11) No período que compreende os 10 do do tempo de execução da tarefa. anos de idade, a criança tem um crescimento lento, o Retomando a hipótese deste estudo, sujeitos maio- que facilita o controle do próprio corpo, a criança acos- res (restrições estruturais) teriam um tempo menor de tuma com seu corpo. Isso pode ser observado na coor- nado (tempo total de nado), é possível verificar que a denação e no controle motor. mesma foi refutada, haja vista os resultados encontra- Aos 10 anos de idade, a criança apresenta um apa- dos no presente estudo. Sendo assim, a estatura da rato sensório-motor trabalhando em harmonia, fazen- criança não é o fator determinante para um melhor de- do com que ela consiga executar numerosas habilidades sempenho. Parece que fatores como força, exposição à sofisticadas.(11) Nessa fase existe uma melhora no tempo tarefa (prática) e estresse competitivo e pré-competiti- de movimento e no tempo de reação, além de melho- vo tem maior relevância no desempenho de crianças de rias na integração motora. Para Gallahue, Ozmun e Goo- 10 anos de idade para nadar 25 metros Crawl. dway(11) a prática é a chave do desenvolvimento. A prática e a experimentação geram o processo de integração com as estruturas motoras. Quando a criança é privada da prática e, consequentemente, da experiência sua execução motora é prejudicada. Além disso, muitas vezes, entre 10 e 11 anos de idade, são acentuadas as diferenças de altura, bem CONCLUSÃO Com base nos resultados encontrados pode-se concluir que: Estatura maior não é determinante para um melhor desempenho em provas de nado Crawl para crianças de 10 anos de idade. como o surgimento do estirão de crescimento e o desen- Parece que força, prática e estresse são mais deter- volvimento das características sexuais. Dessa forma, as minantes em questões de melhorias ou pioras da veloci- crianças apresentam diferenças nos resultados em vá- dade em nado Crawl. rios medidores de performance motora, como por exem- Deve-se re-investigar o presente objetivo, porém, uti- plo velocidade. Em relação à força muscular, uma capa- lizando medidas complementares (força, tempo de prática, cidade física que tem direta interferência na capacida- maturação sexual, maturação física, envergadura e análi- de física velocidade. Beunen e Thomis(23) relatam que se de estresse e ansiedade antes e durante a competição) em meninos de 6 anos, até os 12 anos de idade, há um para relacioná-las com os dados aqui descritos e testados. REFERÊNCIAS 1. Anjos M, Ferreira MB, Geiser A, Medeiros EP, Marques JC. Mini Aurélio. São Paulo: Nova Fronteira. 2000. 2. Silva CGS, Tertuliano IW, Aoilinário MR, Oliveira TAC. Natação: os quatro nados, saídas, viradas e chegadas. Várzea Paulista: Fontoura, 2011. 3. Maglischo EW. Nadando sempre mais rápido. 3 ed. São Paulo: Manole, 2010. 4. Brooks RW, Lance CC, Sawhill JA. The biomechanical interaction of lift and propulsion forces during swimming. Madison: Med Scie Sports Exer. 2000; 32(5): 910. 5. Chollet D, Chalies S, Chatard JC. 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Método: Trata-se de um estudo longitudinal, de abordagem quantitativa, envolvendo 11 voluntárias sedentárias, idade entre 60 e 80 anos. Foi realizada a avaliação da força muscular e atividade eletromiográfica dos músculos paravertebrais lombares e a utilização da Unidade de Biofeedback Pressórico para análise da contração do músculo transverso do abdome, utilizando como técnica de tratamento a Facilitação neuromuscular Proprioceptiva(FNP) de tronco. Foi utilizado o teste de t de Student para amostras pareadas, considerando o nível de significância estatística de 95% (p<0,05). Resultados: Na avaliação eletromiográfica houve um aumento da RMS(Root-mean-Square) na extensão de tronco (M. Paravertebral Esquerdo: Média de 34,44±17,05 para 59,47±24,93 / M. Paravertebral Direito: Média de 29,58±4,64 para 54,10±19,52) e um aumento da força (Kgf) de contração, com média de 14,62±3,98 para 30,75±7,81. Além de apresentar uma redução significativa da pressão após avaliação com Unidade de Biofeeedback Pressórico (média de -3,90 ± 2,84 para -10,60 ± 1,42). Conclusão: A partir da amostra de idosas selecionadas pode-se verificar que o exercício de FNP de tronco aumentou a força muscular e a atividade eletromiográfica dos M.M. paravertebrais lombares e melhorou a contração do músculo transverso do abdômen, proporcionando um aumento da estabilidade lombar no grupo avaliado. Palavras-Chave: Exercícios de Alongamento Muscular, Estabilização Segmentar Lombar e Idosos. Abstract Objective: The purpose of this study was to analyze the effectiveness of proprioceptive neuromuscular facilitation exercises of trunk in the muscles strength (m.) stabilizers of the lumbar spine in the elderly. Method: This is a longitudinal study, a quantitative approach, using 11 sedentary volunteers, aged between 60 and 80 years. Our evaluation of muscle strength and electromyographic activity of the lumbar paraspinal muscles and using the pressure biofeedback unit for analysis of the twitch muscle transverses abdominis, using as a treatment technique to proprioceptive neuromuscular facilitation (PNF) trunk. We performed the Student t test for paired samples, considering the level of statistical significance of 95% (p <0,05). Results: There was an increase in the electromyographic evaluation in the RMS trunk extension (left paravertebral: Average 34.44 ± 17.05 to 59.47 ± 24.93 and paravertebral Right: Average of 29.58 ± 4.64 to 54 10 ± 19.52) and an increase of force (kgf) of contraction, with an average of 14.62 ± 3.98 to 30.75 ± 7.81. Besides presenting a significant reduction in pressure after evaluation with unit Biofeeedback pressure (mean -3.90 ± 2.84 to ± 1.42 -10.60). Conclusion: From the selected sample of elderly can be seen that the exercise PNF trunk increased strength and electromyographic activity of the lumbar paraspinal muscles and improved the muscle contraction of the transversusabdominis, providing an increase in lumbar stability in the group evaluated. Keywords: Muscle Stretching Exercises, Sectioned Lumbar Stabilization and Elders. Recebido em: 12/07/2013; Aceito em: 13/09/2013 1. Discente da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Teresina (PI), Brasil. 2. Docente da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Teresina (PI), Brasil. Endereço para correspondência: Maiara Luciano de Gois da Silva. Quadra 22, Casa 13, Setor E, Mocambinho III.- 64010440 – Teresina(PI), Brasil. Tel:(86) 8845-7158. Email: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):348-354 Maiara L. G. Silva, Noélia M. S. Brito, Kelma R. G. Pinheiro, Thaís C. C. Rocha, Laiana S. A. Mesquita, Fabiana T. Carvalho. INTRODUÇÃO 349 1436212.0.0000.5209) sob parecer Nº 273.770, em O ritmo acelerado do crescimento da população 24/04/2013, a coleta foi realizada entre os meses de idosa nos países em desenvolvimento nas últimas dé- abril e maio de 2013. A pesquisa foi desenvolvida no cadas tem despertado grande interesse da comunida- Ambulatório de Fisioterapia do Hospital Getúlio Vargas, de científica pelo envelhecimento e suas características. e iniciada após a assinatura do Termo de Consentimen- A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que, em to Livre e Esclarecido (TCLE) pelas participantes, confor- 2025, existirão 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 me a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. anos, sendo que as pessoas com 80 anos ou mais constituem o segmento populacional que mais cresce.(1) Amostra O envelhecimento é um processo dinâmico e pro- A amostra foi constituída por 11 voluntárias, com gressivo, no qual há alterações morfológicas, funcionais faixa etária entre 60-80 anos. Todas foram selecionadas e bioquímicas, com redução na capacidade de adapta- segundo os critérios de inclusão: sexo feminino, idade ção homeostática às situações de sobrecarga funcional, igual ou superior a 60 anos e inferior a 80 anos, seden- alterando progressivamente o organismo e tornando- tárias e hígidas. Como critérios de exclusão foram ado- -o mais susceptível às agressões intrínsecas e extrín- tados: restrição para execução das atividades propos- secas.(2) As alterações intrínsecas encontradas nos ido- tas, déficit de compreensão, bem como aquelas que não sos caracterizam-se pelo decréscimo do sistema neuro- aceitaram participar do estudo ou faltaram aos atendi- muscular, perda de massa muscular, debilidade do sis- mentos mais de 2 vezes. tema muscular, redução da flexibilidade e limitações na coordenação e no equilíbrio corporal estático e dinâmi- Protocolo de avaliação co.(3,4) Devido a essas alterações, os idosos apresentam As idosas foram avaliadas no início e final dos aten- problemas extrínsecos através das dificuldades nas suas dimentos e todos os procedimentos realizados pelo atividades de vida diária (AVD’s), propensão a quedas, mesmo avaliador. Inicialmente foi coletada informações hipoatividade, isolamento social, depressão, redução da pessoais e histórico médico e posteriormente verifica- qualidade de vida, institucionalização e morte. da a força e atividade eletromiográfica dos músculos pa- (5,6) Uma das medidas capaz de amenizar esses diver- ravertebrais lombares utilizando o eletromiógrafo EMG sos efeitos do envelhecimento é a prática regular de ati- System do Brasil, e avaliada a contração do músculo vidades e exercícios físicos, uma vez que esta práti- transverso do abdome de maneira indireta utilizando a ca pode influir significativamente em três capacidades Unidade de Biofeedback Pressórico (UBP), o Stabilizer. muito importantes para a autonomia e independência Unidade de Biofeedback Pressórico (UBP), o Stabi- do idoso, sendo elas a flexibilidade, a força e o equilí- lizer é um instrumento que permite registrar as altera- brio motor.(7) ções pressóricas numa bolsa pneumática.(9) Ele consis- A Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP) é te em um transdutor pressórico com uma bolsa inelásti- uma técnica de alongamento e fortalecimento utilizada ca (17 x 24 cm) dividida em três câmaras infláveis, um para melhorar a elasticidade dos músculos e tem mos- cateter e um conjunto pêra de insuflação / manômetro trado um efeito positivo sobre a movimentação ativa e (0-200 mmHg graduado de 2 em 2 mmHg) para monito- passiva. Pesquisas recentes têm demonstrado a eficá- rar a pressão e fornecer um feedback visual, tendo uma cia dessa intervenção na amplitude de movimento pas- margem de erro de +/- 3 mmHg. Para tal procedimen- sivo (ADM passiva), na amplitude de movimento ativa to foi considerado o teste em decúbito ventral (DV), na (ADM ativa), no pico de torque e na força muscular. Esta qual o Stabilizer foi posicionado debaixo do abdome e avaliação é importante para a sua utilização em contex- inflado de ar até a linha de base de 70 mmHg, que cor- tos terapêuticos e atlético, a fim de reabilitar lesões, ga- responde a faixa castanha no manômetro de pressão do nhando ADM ativa e ADM passiva ou melhorando o de- aparelho. O voluntário foi orientado para puxar a pare- sempenho motor.(8) de abdominal para cima e para dentro, sem mover a co- O presente estudo analisou a efetividade dos exer- luna ou a pelve, e manter esta posição por 10 segun- cícios de FNP de tronco na melhora da contração dos dos. A pressão deveria diminuir entre 6 e 10 mmHg, músculos estabilizadores da coluna lombar em idosas. sendo que, quanto maior fosse a diminuição da pressão em DV, maior seria a força da musculatura estabili- MATERIAIS E MÉTODOS zadora.(10) Richardson et AL(11) propuseram os possíveis resultados de medida da UBP (70 mmHg corresponde a Delineamento da pesquisa 0 mmHg - ausência de contração; 70-66 mmHg: 0 a -4 Trata-se de um estudo longitudinal de caráter mmHg - contração insuficiente do TrA; 66-60 mmHg: -4 quantitativo. O estudo foi iniciado após a aprovação a -10 mmHg - ótima performance; superior a 70 mmHg do projeto pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Univer- representa uma contração global de recrutamento mus- sidade Estadual do Piauí, Via Plataforma Brasil (CAAE: cular.(11) Ter Man. 2013; 11(53):348-354 350 Efeito da FNP de tronco em idosos. O teste consistiu de três contrações de 10 segun- movimentos foi aplicada uma resistência que seguiu o dos com intervalo de um minuto entre as mesmas, com contorno do corpo do paciente.(14) A técnica foi aplicada desinsuflação da bolsa após cada contração. Após 3 ten- em decúbito lateral seguindo o protocolo de atendimen- tativas, foi extraído o menor valor dos 3 valores obtidos tos: 1 série de 10 repetições, sendo a esta somado mais na contração e obtido uma média. 10 repetições a cada semana. Eletromiografia: Os dados de ativação muscular foram coletados por meio do eletromiógrafo EMG Sys- Analise Estatística tem do Brasil - São José dos Campos – SP - Brasil de 8 Após a coleta dos dados, as variáveis foram tabula- canais com software de aquisição e processamento de das, e a média e o desvio padrão calculados. Em segui- sinais. A frequência de amostragem de 2000 Hz, ampli- da foi realizado o teste t de Student para amostras pa- ficador de 1000 vezes, filtro passa alta de 20 Hz e passa readas, considerando o nível de significância estatística baixa de 500Hz, conversor analógico de 12 bits, sendo o de 95% (p<0,05). mesmo calibrado antes da realização deste estudo. Para avaliação da força isométrica, foi utilizado um transdutor de força (range 0-200Kg) da marca EMG system do Brasil LTDA conectado ao sistema de eletromiografia. RESULTADOS Na tabela 1 pode-se verificar os dados demográficos das idosas participantes do estudo. Para eliminar ruídos externos, foi fixado um eletrodo de A figura 1 representa a força muscular dos múscu- referência na mão da voluntaria, que funcionou como fio los paravertebrais nos momentos pré (14,62±3,98) e terra. Os eletrodos eram autoadesivos para não haver pós (30,75±7,81) intervenção. artefatos de deslizamento durante a contração muscu- Conforme podemos observar na figura 2, a análise lar, sendo realizada a limpeza da pele com álcool a 70% dos valores médios de RMS dos paravertebrais lombares antes da colocação dos eletrodos, para eliminação de re- quando comparados os momentos pré (D:29,58±4,64 síduos gordurosos e fixação dos eletrodos de superfície. / E: 34,44± 17,05) e pós(D: 54,10±19,52 / E: Os músculos monitorados foram os paravertebrais 59,47±24,93) de FNP das 11 voluntárias em estudo. lombares. Utilizou-se pares de eletrodos de superfície Quanto à lateralidade, a comparação entre os mús- descartáveis, da marca Kendall (Meditrace – 100; Ag/ culos localizados no lado direito e esquerdo da coluna AgCl; diâmetro de 2,2 cm, com adesivo de fixação, na vertebral não revelou diferenças estatísticas após a in- configuração bipolar). Os eletrodos foram colocados bi- tervenção. lateralmente em nível de L5 e alinhados paralelamente entre a linha das espinhas ilíacas póstero superiores (EIPS) e o espaço interespinhoso de L1 e L2(12), sobre o ventre muscular, paralelos as fibras musculares, de forma que ficassem distantes 2 cm um do outro.(13) Para efeitos de comparação, os sinais EMG foram normalizados com base na contração voluntaria máxima isométrica (CVMI) dos músculos paravertebrais. As voluntárias foram posicionadas sentadas e através de um estímulo sonoro a mesma realizou o movimento isométrico de extensão de tronco, sendo o sinal eletromiográfico captado durante 10 segundos (eliminou-se primeiro segundo da rampa de subida da contração). Os atendimentos foram iniciados no dia seguinte às avaliações, sendo realizados 3 vezes por semana, em dias não consecutivos, com duração de 20 minutos, durante um mês, totalizando 12 atendimentos em cada participante da pesquisa. Em todas as sessões foi aplicado o tratamento seguindo o método de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP – Método Kabat), com o objetivo de melhorar a contração muscular, e conseqüentemente melhorar a estabilização de tronco. No conceito de FNP foram utilizados padrões escapulares e pélvicos, em duas diagonais: Antero-elevação-póstero-depressão e póstero-elevação-ântero-depressão. O movimento em diagonal seguiu a curva do dorso do paciente. Durante a realização de cada um desses Ter Man. 2013; 11(53):348-354 Figura 1. Comparação da força muscular dos músculos Paravertebrais antes e após os exercícios de FNP. Legenda: p = nível de significância; Kgf = Quilograma força Tabela 1. Características das participantes demonstradas em média e desvio padrão (DP). Teresina/Piauí, 2013. Variáveis Média ± Desvio Padrão Idade (anos) 68,63 ± 6,81 IMC(kg/m²) 24,91 ± 3,73 Legenda: IMC: Indice de massa corporea; Kg = Quilogramas; m² = metro quadrado Maiara L. G. Silva, Noélia M. S. Brito, Kelma R. G. Pinheiro, Thaís C. C. Rocha, Laiana S. A. Mesquita, Fabiana T. Carvalho. 351 A Tabela 2 mostra a quantificação da contração má- com dor lombar crônica. Estes indivíduos evitam movi- xima do músculo transverso do abdome avaliados pelo mentos na coluna nas atividades do cotidiano, devido ao aparelho de unidade de Biofeedback pressórica, o Stabi- medo da dor e suas consequências. Isto leva principal- lizer, em 10 voluntárias antes e após aplicação do mé- mente a atrofia de fibras do tipo II nos músculos multífi- todo de FNP. dos, e consequentemente leva a maior dor e também ao Partindo desses valores de referência a capacida- desuso da coluna. Estes eventos determinam um ciclo, de de ativação do transverso do abdome (TrA) das ido- no qual quanto mais o acometimento dos paraespinhais, sas do presente estudo passou de insuficiente pra ótima menos uso destes músculos e, como conseqüência tem performance. se o surgimento de atrofia e dor. Além disso, a fadiga destes músculos resulta em movimentos anormais do DISCUSSÃO tronco e perda do controle muscular que podem levar à Esta pesquisa apresentou uma população homogê- micro lesões de ligamentos e discos intervertebrais.(16) nea dentro dos critérios de inclusão pré-estabelecidos O tratamento utilizando os princípios da FNP de (idosas, sedentárias e hígidas com idade entre 60 e 80 tronco obtém a máxima quantidade de atividade que anos), permanecendo as mesmas até final do estudo, pode ser conseguida em cada esforço voluntário e o permitindo comparação entre os momentos de pré e pós maior número possível de repetições desta atividade intervenção (Tabela 1). para facilitar a resposta.(17) As mudanças advindas com o processo de envelhe- Segundo Goldenberg(18), a facilitação neuromuscu- cimento, particularmente as associadas ao desequilíbrio, lar proprioceptiva é bem empregada quando se busca iniciam a partir dos 45 anos de idade e atingem os siste- tratamento envolvendo a coluna, fazendo com que o mas sensoriais (visual, vestibular e somatossensorial), tronco ganhe força, coordenação e equilíbrio, utilizando as qualidades físicas (flexibilidade, força, equilíbrio e co- os padrões escapulares e pélvicos em duas diagonais, ordenação), além de atingirem o tempo de reação, fa- uma em ântero-elevação-póstero-depressão e outra em zendo assim com que o indivíduo na terceira idade seja póstero-elevação-ântero-depressão. O resultado benéfico desta técnica pode ser obser- acometido pelo desequilíbrio. (15) Os músculos paraespinhais da coluna vertebral as- vado na avaliação da força muscular (Figura 1), que evi- seguram o posicionamento correto do tronco na posição denciou a melhora muito significativa da força dos mús- ereta e agem como sinergistas para os movimentos dos culos paravertebrais pós intervenção (p= 0,0001). Isso segmentos corporais. Quando há déficit no desempenho era esperado pelo tratamento utilizado devido os seus deste grupo muscular, ocorre a instabilidade da colu- princípios neurofisiológicos. na. Isto resulta em frouxidão ligamentar, alteração no Orsatti et al(19) retratam que a perda de massa mus- controle muscular, dor e predisposição a fadiga muscu- cular (sarcopenia) na região lombar associada ao enve- lar. A pouca resistência à fadiga dos músculos paraespi- lhecimento é um processo progressivo e causa redução na nhais, definida como redução na capacidade do sistema força muscular, contribuindo para a diminuição funcional e neuromuscular em gerar força, é comum em pacientes inabilidade física, particularmente em mulheres. Quando o desempenho deste grupo muscular não está adequado ocorre uma instabilidade da coluna que resulta em frouxidão ligamentar, alteração no controle muscular, dor e predispõe a fadiga muscular.(20) Essas alterações produzem uma topografia irregular na superfície do tronco.(21) A primeira intenção na prescrição de exercícios resistidos para idosos é o aumento e/ou manutenção da força em um esforço contrário à sarcopenia.(22) Sendo então, a FNP, uma excelente técnica para treino de força muscular, pois é baseada na aplicação de resistên- Figura 2. Comparação da atividade elétrica (RMS) dos M. Paravertebrais Direito e Esquerdo antes e após os exercícios de FNP. cia para facilitar a contração muscular,(23) favorecendo Legenda: RMS = Root Mean Square; p = nível de significância se comparar os resultados antes e após a intervenção. assim, o ganho de força muscular nestes pacientes ao Tabela 2. Capacidade de ativação do TrA. Teresina/Piauí, 2013. Ativação do TrA (mmHg) ANTES DEPOIS (Média ± DP) (Média ± DP) -3,90 ± 2,84 -10,60 ± 1,42 P 0,0001 Legenda: TrA = Transverso do Abdome; p = nível de significância; mmHg = milímetro de mercúrio; DP = Desvio Padrão Ter Man. 2013; 11(53):348-354 352 Efeito da FNP de tronco em idosos. A eletromiografia é uma técnica de monitoramento suficiente para ótima, pois a partir das médias apresen- da atividade elétrica das membranas excitáveis, tendo tadas na tabela 2 (p= 0,0001), teve-se significativa di- o sinal eletromiográfico obtido pela somação algébrica minuição da pressão ao comparar os momentos pré e de todos os sinais detectados em certa área. Esses si- pós intervenção. nais podem ser alterados pelas propriedades muscula- Estes resultados corroboram com os de Richard- res, anatômicas e fisiológicas, assim como pelo contro- son et al(11) que retratam a resposta normal para o re- le do sistema nervoso periférico e a instrumentação uti- gistro da UBP com uma diminuição da pressão entre 4 lizada para a aquisição dos sinais.(24) e 10 mmHg, ou seja, valores reais de 60 e 66 mmHg. Na figura 2 observa-se o recrutamento significativo Ademais, Hodges et al(26) demonstram que a depressão das fibras musculares pós intervenção (p< 0,01). Quan- ideal da parede abdominal deve ser superior ou igual do ele é relacionado com a força de contração do mesmo -5,82 mmHg. grupo muscular, pode-se concluir que são diretamen- Uma possibilidade para explicar o resultado encon- te proporcionais, pois para uma maior ativação elétrica trado está baseada no conceito de contração muscular, do músculo tem-se uma maior força de contração mus- segundo a qual, quando uma contração voluntária leve cular. Isto se confirma no estudo de Lopes,(25) no qual se inicia, os potenciais de ação resultantes são avaliados a melhora no torque articular e diminuição da latência pela forma, tipo histológico, tamanho, duração e taxa de muscular, provavelmente foram influenciados pela me- disparo do músculo. Como o músculo transverso abdomi- lhora dos níveis de força aumentados, já que o aumen- nal apresenta um tamanho superior em relação ao oblí- to da força muscular decorrente de treinamento tende a quo abdominal, contrações mais intensas estão presen- melhorar o torque articular e a ativação muscular. tes no transverso abdominal e não no oblíquo externo.(27) A relação entre aumento da força, produção de tor- Propostas de condicionamento da musculatura ab- que articular e ativação muscular, pode ser importan- dominal podem prevenir disfunções lombares e realizar te na redução na incidência de quedas em idosos, já o efeito estabilizador desejado.(28) Contudo, alguns des- que influenciam diretamente em uma melhor recupera- ses exercícios recrutam algumas fibras musculares mais ção diante de situações que podem potencialmente levar do que outras. Na realização do biofeedback pressórico a quedas.(25) e da eletromiografia de superfície pode-se observar que Mann et al.(15), referem que o exercício físico contí- os mesmos obtiveram significativa melhora com o méto- nuo pode contribuir para ganhos na força muscular, mi- do de FNP, pois foi possível a qualificação e quantificação nimizando desta forma o déficit de equilíbrio causado da informação proprioceptiva inerente ao músculo, pos- por esta capacidade. Os exercícios, por sua vez, aumen- sibilitando ao profissional de fisioterapia reconhecer se tam o fluxo sangüíneo para a região cerebral e órgãos aquele músculo analisado apresentava padrão de recru- sensoriais, auxiliando assim na manutenção dos ótimos tamento normal ou alterado, viabilizando desta forma, a níveis da função perceptiva. O aumento do fluxo san- prescrição de exercícios terapêuticos que reduzissem o guíneo pode estar relacionado também ao aumento na impacto primário da disfunção lombar.(29) capilarização das extremidades corporais, auxiliando a manter a contratibilidade das fibras musculares. CONCLUSÃO Pode-se perceber o efeito benéfico ao utilizar o pro- A partir da amostra de idosas selecionada pode- tocolo de FNP de tronco em idosos, pois as eletromio- -se verificar que o exercício de FNP de tronco aumentou grafias de superfície demonstraram aumento da ativida- a força e atividade eletromiográfica dos músculos para- de elétrica dos músculos estudados. vertebrais lombares e melhorou a contração do músculo Poucos estudos têm mostrado o uso da Facilita- TrA, proporcionando um aumento da estabilidade lom- ção Neuromuscular proprioceptiva na estabilização lom- bar no grupo avaliado. Desta forma, promove a melho- bar. Essa técnica já foi explorada em diferentes condi- ra na postura e previne as dores musculares, propician- ções patológicas e com variados enfoques terapêuticas. do assim melhoria na qualidade de vida desse grupo de Porém, sua utilização em busca de fortalecimento e es- idosas. tabilização lombar ainda é pouco explorada. Sugere-se ainda, estudos complementares com Nessa pesquisa, as idosas foram posicionadas em uma amostra maior de idosos para que corroborem com DV e orientados a puxar a parede abdominal para cima os resultados encontrados, e dessa forma os exercícios e para dentro, verificando assim, de maneira indireta, a de FNP de tronco sejam introduzidos nos idosos não só contração do músculo TrA através do aparelho de UBP. em protocolos de reabilitação, mas também como mé- Observou-se que a contração do músculo passou de in- todo preventivo. Ter Man. 2013; 11(53):348-354 Maiara L. G. Silva, Noélia M. S. Brito, Kelma R. G. Pinheiro, Thaís C. C. Rocha, Laiana S. A. 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Objetivo: Este estudo objetiva analisar através dos exames de estabilometria e baropodometria, escala de equilíbrio de Berg e roteiro para Atividades da Vida Diária (AVD’s) e Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD’s), os efeitos da intervenção fisioterapêutica sobre o déficit de equilíbrio de um paciente com diagnóstico de malformação de Arnold Chiari tipo I. Método: A amostra foi composta por um paciente com diagnóstico de malformação de Arnold Chiari tipo I com horizontalizarão do clivus, platibasia e invaginação vértebro-basilar. Foram realizados exames de baropodometria e estabilometria, escala de equilíbrio de Berg e a Escala das Atividades da Vida Diária (AVD’s). As técnicas fisioterapêuticas propostas para o tratamento do paciente foram: exercícios de coordenação de Frenkel, Kabat, técnicas de Reeducação Postural Sensório Perceptiva, treino de marcha e exercício de equilíbrio em posição ortostática, com balanço e com a bola suíça. Resultados: Os resultados obtidos na estabilometria demonstraram diminuição dos valores da velocidade média de oscilação(mm/s), amplitude de deslocamento ântero-posterior(mm) e latero-lateral(mm), comprimento(mm) e área(mm²) de oscilação total, após intervenção fisioterapêutica. Na baropodometria estática, o paciente apresentou aumento da superfície da região plantar do ante-pé, com maior distribuição de pressão para a região. Os resultados apresentam aumento na pontuação da escala de equilíbrio de Berg e aumento em 8 itens do roteiro para observação das AVD’s e AVID’s. Conclusão: O protocolo de tratamento fisioterapêutico proposto mostrou-se eficaz na melhora do equilíbrio estático e distribuição da pressão plantar do paciente com malformação de Arnold Chari tipo I, demonstrado através dos exames de estabilometria e baropodometria, e melhora no equilíbrio dinâmico, demonstrada pela escala de equilíbrio de Berg e roteiro das AVD’s e AIVD´s, realizados antes e após intervenção fisioterapêutica. Palavras-chave: Malformação de Arnold Chiari, Fisioterapia, Estabilometria, Baropodometria Abstract Introduction: The Arnold Chiari Malformation is defined as a congenital abnormality in which part of the protrudes cerebellar tissue through the foramen magnum. Objective: This study aims to analyze through exams stabilometry and baropodometry, Berg Balance Scale and Scale of Activities of Daily, Scale of Instrumental Activities of Daily Living, the effects of physical therapy in the balance of a patient diagnosed with Chiari Malformation Type I. Methods: The sample consisted of a patient diagnosed with Chiari malformation type I with flattening of the clivus, Platybasia and vertebral-basilar invagination. Were performed exams stabilometry and baropodometry, Berg Balance Scale and Scale of Activities of Daily Living (ADL). Physical therapy treatment proposed for the patient were: coordination exercises of Frenkel, Kabat, techniques Postural Reeducation Sensory Perceptual, gait training, balancing in standing position, with swing, with Swiss ball. Results: The results obtained with to stabilometry demonstrated decreased average speed of oscillation, amplitude of anteroposterior displacement and lateral, length and total oscillation area, after physical therapy intervention. On the baropodometry static, the patient showed an increase in the plantar surface of the forefoot, with higher pressure distribution in the region. The results show an increase in scores of Berg Balance Scale and improvement in performance of Activities of Daily Living (ADL) and Scale of Instrumental Activities of Daily Living (IADL), with an increase in 8 items on script for observation of ADL and IADL. Conclusion: The treatment protocol proposed was effective in improving static balance and plantar pressure distribution of the patient with Arnold Chari Malformation Type I, demonstrated through tests baropodometry and stabilometry, improves in the dynamic balance, demonstrated by the Berg Balance Scale and script of ADL and IADL, performed before and after physical therapy intervention. Keywords: Arnold Chiari Malformation, Physiotherapy, Stabilometry, Baropodometry Recebido em: 11/07/2013; Aceito em: 13/09/2013 1. Acadêmico(a) do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Teresina (PI), Brasil. 2. Fisioterapeuta; Mestre em Bioengenharia; Docente da Faculdade Integral Diferencial (FACID), Teresina (PI), Brasil. 3. Fisioterapeuta; Mestre em Ciências da Saúde; Doutoranda em Engenharia Biomédica; Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Teresina (PI), Brasil. 4. Fisioterapeuta; Mestre em Bioengenharia; Doutoranda em Engenharia Biomédica; Docente do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Teresina (PI), Brasil. Endereço para correspondência: Evaneide Pereira de Sá Carvalho, Conjunto Morada Nova I, Quadra 05, Bloco 05, Apto 304- Lourival Parente. Teresina, PI. CEP 64023-118. Email: [email protected]. Ter Man. 2013; 11(53):355-360 356 Estabilometria baropodometria no equilíbrio. Introdução Universidade Estadual do Piauí/ Via Plataforma Brasil A Malformação de Arnold Chiari é definida como (CAAE 13340313.4.0000.5209) sob o Nº 248.688 em uma anomalia congênita, em que parte do tecido ce- 18/04/2013. A amostra foi composta por um paciente rebelar se projeta através do forame magno. A patolo- com diagnóstico de Malformação de Arnold Chiari tipo I, gia de Arnold Chiari é uma doença progressiva, descri- que após assinar de livre arbítrio o termo de consenti- ta como rara devido à sua baixa morbidade na popula- mento livre e esclarecido, foi atendido no Serviço de Fi- ção em geral, afetando principalmente o sistema ner- sioterapia do Ambulatório de um Hospital Público, na ci- voso central, podendo ainda vir associada à mielome- dade de Teresina (PI). ningocele, hidrocefalia, seringomielia, entre outros.(¹, ²) O atendimento fisioterapêutico foi dividido em três A Malformação de Arnold Chiari tipo I pode ser as- etapas, contendo quinze sessões em cada. Com uma sintomática, mas quando presente, os sintomas geral- freqüência de cinco vezes por semana. mente surgem no início da idade adulta, onde a cefa- Na primeira etapa, o paciente realizou treino de mar- léia suboccipital é o sintoma mais frequente. A dor e o cha em linha reta: com pés paralelos; e com os pés a desconforto cervical, vertigem, ataxia e fraqueza mus- frente do outro. Treino de equilíbrio: com permanência cular podem estar presentes. A tontura, o desequilibrio, no balanço; com pé a frente do outro; um pé no solo e o os distúrbios visuais, a dificuldade para engolir, agili- outro em uma bola pequena. O paciente permaneceu nes- dade motora dificultada, fadiga crônica e dolorosa das tas posições pelo tempo máximo que conseguiu ou até mãos e dos pés, são sintomas frequentes nos pacien- cinco minutos. Foi realizado exercícios de coordenação em tes com Malformação de Arnold Chiari tipo I. Podendo posição ortostática, de maneira dinâmica, com as mãos haver também alterações do sono, problemas de me- de maneira alternada tocando o joelho oposto. Foram re- mória, pensamento e fala, falta de ar, taquicardia, hiper- alizados exercícios de Facilitação Neuromuscular Proprio- tensão e náuseas.(3,4) Pacientes com Malformação de Ar- ceptiva (FNP) de maneira ativa, em Decúbito Dorsal (DD), nold Chiari podem ainda apresentar alterações musculo- com o objetivo de proporcionar fortalecimento dos mem- esqueléticas, onde a escoliose é uma alteração comum. bros superiores e inferiores. O paciente foi submetido a Ao longo do tempo, pacientes com progressão da curva um exercício para a reeducação postural, onde foi posicio- de escoliose podem evoluir com perda de equilíbrio, dor nado em pé encostado na parede com permanência nessa e dificuldades para respirar.(5) postura por 10 minutos. Exercícios para amplitude de mo- Desordens de equilíbrio representam uma preo- vimento em membro superior direito. cupação de saúde pública crescente por causa da asso- Na segunda etapa, o paciente realizou treino de ciação com quedas e danos a elas relacionados.(6) Sendo marcha em linha reta e com desvios de obstáculos e o desequilíbrio um sintoma presente nos pacientes com marcha na ponta do pé. Treino de equilíbrio: no balan- Malformação de Arnold Chiari, a baropodometria e a es- ço, estando com os olhos fechados; permanência em um tabilometria são exames realizados para estudar a evo- pé só; sentado na bola suíça, com diminuição progressi- lução dos danos causados ao equilíbrio, através do es- va da base de sustentação, estando com os olhos aber- tudo da simetria da preensão plantar, oscilações ântero- tos e também com olhos fechados. Treino de reação de -posterior e látero-lateral do corpo. O comportamento retificação sentado na bola suíça. Treino de coordenação postural pode ser avaliado através de um equipamento de Frenkel, sentado na bola suíça. E FNP em membros com programa computadorizado denominado de esta- superiores. Exercícios para amplitude de movimento em bilômetro. Ele dispõe de uma plataforma de força onde membro superior direito. pode ser analisado o deslocamento do centro de pres- Na terceira etapa do tratamento, o paciente reali- são (CP) no plano, ou decomposto nas direções ortogo- zou treino de equilíbrio no balanço, estando com olhos nais ântero-posterior e laterais.(7) fechados. Treino de marcha em linha reta com pé a fren- O objetivo deste estudo foi analisar através dos te do outro, na ponta dos pés e sob calcanhares. Exer- exames de estabilometria e baropodometria, escala de cícios de coordenação de Frenkel sentado na bola suíça, equilíbrio de Berg e roteiro para Atividades da Vida Di- com base de sustentação diminuída. Exercicios de FNP ária (AVD’s) e Atividades Instrumentais da Vida Diá- em membros superiores. Exercícios para amplitude de ria (AIVD’s), os efeitos da intervenção fisioterapêutica movimento em membro superior direito. sobre o déficit de equilíbrio de um paciente com diagnóstico de Malformação de Arnold Chiari tipo I. A coleta de dados foi realizada mediante a aplicação da ficha de avaliação fisioterapêutica, roteiro para observação das Atividades da Vida Diária (AVD´S) e Ati- Método vidades Instrumentais da Vida Diária (AIVD´S) descrito Trata-se de uma pesquisa do tipo estudo de caso em teste de confiabilidade por Roberto Lopes dos Santos experimental, realizada em acordo com a Resolução e Jair Sindra Virtuoso Júnior(8) e Escala de Equilíbrio de 196/96 do conselho Nacional de Saúde (CNS). O es- Berg, aplicados antes e após as 45 sessões de fisiotera- tudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da pia. Bem como aplicação do exame de estabilometria e Ter Man. 2013; 11(53):355-360 357 Evaneide P. S. Carvalho, Jefté B. Silva, Lília L. Alencar, Ruan L. R. Jesus, Ludmilla K. B. L. Matos, Laiana S. A. Mesquita, et al. baropodometria no inicio e ao final do tratamento atra- do queixas de desequilíbrio e dor ao movimento ativo do vés do Baropodômetro S-Plate. Marca Medicapteurs®. ombro direito. No exame físico foi observado: pescoço Plataforma com 610 mm largura, 580 mm profundida- curto, cabeça anteriorizada, estrabismo, nistagmo láte- de, 4 mm espessura, pesando 6,5 kg. Área equipada ro-lateral, hipotrofia de trapézio superior direito, dor aos com 1600 sensores piezoelétricos de pressão (48x48), movimentos ativos de abdução e extensão do ombro di- tendo150 imagens por segundo de freqüência de aqui- reito acima de 90°, escoliose dorsal em S, pés planos, sição. A plataforma foi posicionada no solo, a um metro marcha com base alargada e sinal de Romberg positivo. de distância da parede. O indivíduo, descalço, foi orientado a subir na plataforma e ficar em posição ortostá- Resultados tica, para calibração do equipamento de acordo com a Os resultados obtidos na estabilometria demons- massa corporal e as instruções do fabricante. A calibra- traram que a velocidade média de oscilação (mm/s), ção é importante para estabelecer a validade das me- a amplitude de deslocamento ântero-posterior (mm) didas de pressão. Os exames foram realizados em uma e sala silenciosa, o paciente foi orientado a permanece- ção fisioterapêutica (Tabela 1), com diminuição do rem com a cabeça ereta, com os olhos abertos, olhan- comprimento(mm) e da área(mm²) de oscilação total do para o horizonte sem fixar o olhar em um ponto, bra- (tabela 2). Na baropodometria estática, o paciente obte- ços relaxados ao longo do corpo, adotando-se a posição ve aumento da superfície da região plantar do ante-pé, de conforto. Indivíduo em posição ortostática, permane- com maior distribuição de pressão para a região (tabe- ce com a boca com uma mordida relaxada, com as ar- la 3). Os resultados apresentaram aumento na pontua- cadas dentárias apenas apoiadas, sem haver contração, ção da escala de equilíbrio de Berg (Figura 1). O Pacien- durante 30 segundos.(9) te obteve melhora na realização das Atividades da Vida látero-lateral (mm), diminuíram após interven- Os dados foram transcritos para uma planilha de Diária (AVD’s) e Atividades Instrumentais da Vida Diária Excel e analisados através pelo Biostat 5.0 onde foi rea- (AIVD’s), com aumento em 8 itens do roteiro para ob- lizado teste de estatística descritiva. servação das AVD’s e AIVD’s (Tabela 4). Caso Clínico: Paciente D. S. L., 45 anos, sexo masculino, relata que aos 12 anos de idade iniciaram os sinTabela 2. Comparação do comprimento total de oscilação e área total de oscilação na estabilometria estática, antes e após intervenção fisioterapêutica. tomas de tontura e visão turva, com aumento progressivo com o passar dos anos. Em janeiro de 2011, apresentando picos hipertensivos, dor no membro inferior direi- Antes da intervenção Após intervenção Comprimento de oscilação em mm 82.1 63.6 Área de oscilação em mm² 51.0 13.0 to e quedas constantes, realizou exame de ressonância magnética que mostrou Malformação de Arnold Chiari I, com horizontalizarão do clivus, platibasia e invaginação vértebro-basilar. No mesmo ano submeteu-se a craniotomia occipital. Após cirurgia, paciente apresentan- mm– milímetros, mm²- milímetros quadrados Tabela 1. Comparação da velocidade média de oscilação, deslocamento antero/posterior, deslocamento latero/lateral e desvio médio, antes e após intervenção fisioterapêutica. Antes da intervenção Após intervenção Latero- Lateral Ântero-Posterior Latero- Lateral Ântero-Posterior 1.5 2.0 1.2 1.2 Amplitude de deslocamento mm 7.5 13.6 3.0 4.8 Desvio médio mm 1.5 3,5 0.7 1.0 Velocidade Média de Oscilação mm/s mm/s – milímetros por segundo, mm- milímetros Tabela 3. Comparação da área pressão plantar( cm²) e distribuição de pressão plantar na baropodometria estática, antes e após intervenção fisioterapêutica. Antes da intervenção Pé esquerdo Após intervenção Pé direito Pé esquerdo Pé direito Ante-pé Retro-pé Ante-pé Retro-pé Ante-pé Retro-pé Ante-pé Retro-pé Área superfície pressão plantar em cm² 100 77 94 80 105 80 101 93 Distribuição pressão plantar em porcentagem 48% 52% 43% 57% 58% 42% 45% 55% cm²-centimetros quadrados Ter Man. 2013; 11(53):355-360 358 Estabilometria baropodometria no equilíbrio. Tabela 4. Roteiro para observação das AVD’s e AIVD’s, antes e após intervenção fisioterapêutica. Itens avaliados (pontuação máxima por item) pontuação antes da intervenção pontuação após intervenção 10 12 Banho (máx 12) Vestir parte superior ( máx10) 7 10 Vestir parte inferior (máx10) 8 10 Arrumar-se (máx 16) 10 12 Alimentar-se (máx10) 9 9 Uso do banheiro (máx8) 6 8 Mobilidade funcional (máx 14) 12 12 Uso de equipamentos (máx6) 4 4 Compras (máx8) 7 8 Manejo financeiro (máx 4) 2 4 Preparação de refeição (máx8) 6 8 Trabalho doméstico (máx10) 5 5 máx- máximo Discussão A Malformação de Arnold Chiari tipo I, radiograficamente é definida como deslocamento das amígdalas cerebelares a 5 mm abaixo do forame magno.(10) Por atingir o cerebelo, um dos principais sintomas da Malformação de Arnold Chiari é o desequilíbrio.(11) Alterações do sistema nervoso levam a déficit do controle postural, no tocante a orientação postural, estabilidade postural e equilíbrio.(6) O papel da fisioterapia no processo multidisciplinar da reabilitação em pacientes com malformação de Ar- Figura 1. Escala de equilíbrio de Berg, antes e após a intervenção fisioterapêutica nold Chiari, incluem: a redução de dor, a melhoria da atividade muscular e amplitude articular de movimen- tude de deslocamento ântero-posterior (mm) e látero- to, equilíbrio, reeducação das reações verticais, entre -lateral (mm) os desvios médio látero- lateral (mm) e outros. Tendo a fisioterapia o papel de preservar e re- ântero-posterior (mm) (tabela 1) e o comprimento de cuperar a autonomia do paciente, reduzir dependência oscilação e área de oscilação total (tabela 2), diminuí- e melhorar a qualidade de vida e realização das ativida- ram após a intervenção fisioterapêutica. A estabilome- des da vida diária.(2) tria é uma técnica objetiva, utilizada para medir e re- O protocolo de tratamento fisioterapêutico propos- gistrar as oscilações corporais e permite a avaliação do to, mostrou que o paciente obteve melhora no equilíbrio equilíbrio através da quantificação das oscilações ânte- e na pontuação para realização das AVD’s e AIVD’s . Um ro-posteriores e latero-laterais do corpo na plataforma consenso na literatura sobre a plasticidade cerebral re- de força. Para esse registro se utiliza uma plataforma de fere que a prática de tarefas motoras induz mudanças força, que armazena dados do centro de pressão apli- plásticas e dinâmicas no SNC. As conexões neurais cor- cado nesse instrumento(13). O Centro de Pressão (CP) é ticais podem ser remodeladas por experiências prévias um ponto resultante de todas as forças que agem na su- ou pelo aprendizado. Mais importante do que a repeti- perfície de suporte, representando, com menos de 5% ção de movimentos é a manipulação de variáveis es- de erro, a projeção do Centro de Gravidade do corpo no pecíficas da prática como a intensidade e especificida- solo. A movimentação do corpo causa variação na distri- de da tarefa, que maximizarão o potencial da recupera- buição do peso nos pontos suporte na plataforma, per- ção. Essa especificidade de treinamento induz reorgani- mitindo que as oscilações corporais sejam identificadas. zação cortical, e o número de neurônios e a intensida- Essa percepção exata do CP só é possível pela existên- de das vias neurais envolvidas na tarefa são diretamen- cia de células de carga nas extremidades da plataforma, te relacionadas com a intensidade e freqüência da prá- usadas como transdutores de pressão em sinal elétri- tica das mesmas.(12) co, que será digitalizado. Através de cálculo de momen- O paciente mostrou melhora da estabilidade está- to de força é definida a posição do ponto resultante das tica, demonstrada pelos resultados da estabilometria, forças aplicadas sobre a plataforma (CP), em relação às onde a velocidade média de oscilação (mm/s), a ampli- coordenadas x (latero-lateral) e y (ântero-posterior).(6) Ter Man. 2013; 11(53):355-360 Evaneide P. S. Carvalho, Jefté B. Silva, Lília L. Alencar, Ruan L. R. Jesus, Ludmilla K. B. L. Matos, Laiana S. A. Mesquita, et al. A baropodometria mostra aumento na área da su- 359 apoio com pé a frente do outro. perfície da região plantar e descarga de peso para re- Após o tratamento fisioterapêutico houve aumen- gião do ante-pé (tabela 3). Melhor descarga de peso nos to na pontuação na escala de Atividades da Vida Diá- pés direito e esquerdo, indicando uma melhora na distri- ria (AVD’s) e Atividades Instrumentais da Vida Diária buição da pressão plantar em posição estática. A baro- (AIVD´s) (tabela 4), com maior independência para a podometria pode ser considerada uma técnica de regis- realização das atividades relacionadas aos cuidados pes- tro utilizada no diagnóstico e avaliação de pressão plan- soais, como: banhar-se, vestir-se, arrumar-se e usar o tar, da distribuição de carga na planta dos pés, tanto em banheiro mostrando também maior independência para posição estática, como dinâmica, ou deambulação, que a realização de compras, manejos financeiros e prepa- registra os pontos de pressão exercidos pelos pés no ração de refeições. A melhora da força e habilidades nos solo. Esse sistema de baropodometria fornece uma aná- membros superiores justificam este fato. Não houve me- lise quantitativa confiável, permite uma maior compre- lhora nos itens relacionados a: capacidade de alimen- ensão das respostas proprioceptivas e avalia a distribui- tar-se de maneira independente, justificado pela dificul- ção da pressão plantar.(14) dade em cortar alimentos com a faca devido ao maior Os resultados mostram melhora na estabilidade comprometimento motor na mão; mobilidade funcional, corporal, indicada na pontuação da escala de equilíbrio por necessitar de apoio para subir e descer escadas; uso de Berg (figura 1). A escala de equilíbrio de Berg in- de equipamentos de comunicação, por não fazer uso de clui quatorze ati­vidades funcionais, realizadas em uma computador; e trabalhos domésticos, por que não os re- ordem padroni­zada. Cada uma das tarefas tem um es- aliza. A escala de Avaliação Atividades Instrumentais da core em uma escala de 0 (pior) a 4 (melhor), em um Vida Diária (AIVD’s) exploram um nível mais complexo total de 56 pontos. Para administrar o teste, o exami- de funcionalidade.(16) nador precisa de alguns suprimentos como cronômetro, escada com degrau de 15 cm, régua (30 cm), cadei- Conclusão ra com braço e cadeira sem braço.(15) Na primeira ava- O protocolo de tratamento fisioterapêutico proposto liação, antes da intervenção, o paciente obteve 48 pon- mostrou-se eficaz na melhora do equilíbrio estático e dis- tos na escala de Berg, e atingiu 53 pontos após a inter- tribuição da pressão plantar do paciente com malforma- venção fisioterapêutica. Apresentando aumento na pon- ção de Arnold Chari tipo I, demonstrada através dos exa- tuação dos itens relacionados à: melhora no equilíbrio mes de estabilometria e baropodometria, e melhora no durante a realização das atividades de alcance a frente equilíbrio dinâmico, demonstrada pela escala de equilíbrio com os braços estendidos; apanhar um objeto no chão a de Berg e roteiro das Atividades da Vida Diária (AVD’s) e partir da posição em pé; colocar os pés alternados sobre Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD´S) aplica- degrau em pé e sem apoio; e permanecer em pé sem dos antes e após intervenção fisioterapêutica. Referências 1. Nurmi DL. Malformação de Chiari. Enciclopédia da Saúde da Criança. 2006. Disponível em: <http://www.answers. com> Acessado em: 20 de abril de 2013. 2. Fernández AA, Guerrero AI, Martínez MI, Vázquez MEA, Fernández JB, Octavio EC, et al. 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Centro de Estudos e Atendimento em Fisioterapia e Reabilitação, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Campus Presidente Prudente, Presidente Prudente (SP), Brasil. Resumo Introdução: A disfunção temporomandibular (DTM) apresenta causas e conseqüências que vão além das bases fisiopatológicas. As associações feitas entre DTM e fatores psicológicos vêm sendo mostradas, porém há uma lacuna nos estudos devidos às diferenças de metodologia. Objetivo: O objetivo deste trabalho foi avaliar e comparar sintomas clínicos e psicológicos em portadores e não portadores de DTM. Método: Foram avaliados 40 estudantes, divididos em dois grupos (grupo controle, n = 20 e grupo com DTM, n = 20) de ambos os gêneros e faixa etária entre 18 e 35 anos por meio do questionário: Critérios de Diagnóstico para Pesquisa das Disfunções Temporomandibulares (RDC/ TMD) eixos I e II para classificar os sujeitos com relação à intensidade da dor e incapacidade da articulação temporomandibular, grau de depressão e limitação da função mandibular. Resultados: Na comparação dos grupos sem e com DTM para os critérios de diagnóstico e pesquisa das desordens temporomandíbulares, observou-se diferença estatística significante (p<0,05) para as categorias limitação da mandíbula e intensidade da dor e incapacidade. As atividades que mais provocam a dor e limitam a função da mandíbula são: bocejar (75%), comer alimentos duros (70%) e mastigar (50%). Com relação à depressão, 95% dos sujeitos estiveram dentro da normalidade. Conclusão: Concluímos que o grupo de portadores de DTM apresentou dor em grau leve a moderado e limitação da mandíbula, diferentemente do grupo controle. Dois sujeitos portadores de DTM tiveram grau leve de depressão enquanto no grupo controle nenhum sujeito apresentou-se deprimido. Palavras-chave: Transtornos da Articulação Temporomandibular, Questionário, Fisioterapia Abstract Introduction: The temporomandibular dysfunction (TMD) has causes and consequences that go beyond the pathophysiology. The associations made between TMD and psychological factors have been shown, however there is a gap in studies due to differences in methodology. Objective: The aim of this study was to evaluate and analyze psychological symptoms in carriers and noncarriers of temporomandibular dysfunction (TMD). Methods: It was evaluated 40 students, divided into two groups (control group, n = 20 and DTM group, n = 20) of both genders and aged between 18 and 35 through the questionnaire: Research diagnostic criteria for temporomandibular disorders (RDC/TMD) axes I and II to classify subjects about pain intensity and disability of the temporomandibular joint, degree of depression and limitation of mandibular function. Results: Comparing the groups with and without DTM about criteria for diagnosis and research of temporomandibular dysfunction, there was a statistically significant difference (p <0.05) for the categories mandibular´s function limiting and the intensity of jaw pain and disability. The activities that caused pain and restricted jaw function are: yawning (75%), eating hard foods (70%) and chewing (50%). With respect to depression, 95% of subjects were within normal limits. Conclusion: We conclude that the group of TMD patients had pain of mild to moderate and limitation of jaw, unlike the control group. Two subjects with TMD had a mild degree of depression while in the control group had no subject-depressed. Keywords: Temporomandibular Joint Disorders, Questionnaire, Physiotherapy Recebido em: 26/06/2013; Aceito em: 09/09/2013 1. Fisioterapeuta Graduada pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCT/UNESP), Campus de Presidente Prudente, Presidente Prudente (SP), Brasil. 2. Professora do curso de graduação em Fisioterapia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCT/UNESP), Campus de Presidente Prudente, Presidente Prudente (SP), Brasil. 3. Fisioterapeuta Graduada pela Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba (SP), Brasil. Endereço para correspondência: Célia Aparecida Stellutti Pachioni. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FCT/ Unesp. Departamento de Fisioterapia. Rua Roberto Simonsen, 305 - CEP 19060-900 - Presidente Prudente – SP. Tel 18 3229-5800 – Ramal: 5542 E-mail: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):361-366 362 Análise de condições clínicas em estudantes com disfunção temporomandibular. INTRODUÇÃO Temporomandibular” (RDC/TMD), proposto por Dworkin A disfunção temporomandibular (DTM) é um termo e Leresche(15) inclui métodos para a classificação diag- coletivo agregando todos os problemas relacionados nóstica física das DTMs (eixo I), e ao mesmo tempo mé- com a articulação temporomandibular (ATM), que aco- todos para avaliar a intensidade e severidade da dor crô- mete as estruturas associadas que envolvem a muscu- nica e os níveis de sintomas depressivos (eixo II). Este latura da mastigação, cujas características são: dor crô- segundo eixo permite o registro dos fatores comporta- nica, sensibilidade nos músculos da mastigação, ruídos mentais, psicológicos e sociais como o grau de incapaci- e limitação de movimento.(1,2) dade mandibular, depressão, sintomas físicos não espe- É frequente na população, apresentando taxas de prevalência que variam entre 25 – 70% aproximadamen- cíficos, presença de hábitos parafuncionais e grau de interferência no cotidiano do indivíduo.(16) te, com maior prevalência do gênero feminino.(3,4) Apresen- Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar e com- ta origem multifatorial não sendo possível reconhecer um parar sintomas clínicos e psicológicos em estudantes único fator etiológico desencadeante, está relacionada com portadores e não portadores de DTM. a tensão emocional, interferências oclusivas, perda de dentes, disfunção muscular mastigatória, mudanças internas e MÉTODO externas na estrutura da ATM, desvio postural, variações Participaram deste estudo 40 sujeitos estudantes, hormonais, alterações psicossociais e de comportamento, em amostra de conveniência, da Universidade Estadual e uma associação de vários destes fatores.(4,5,6) Paulista “Júlio de Mesquita Filho” campus de Presiden- De maneira geral, os fatores psicológicos são freqüentemente negligenciados, enquanto os físicos são te Prudente, de ambos os sexos e com faixa etária entre 18 e 35 anos. valorizados no tratamento das DTMs. Tosato e Caria(4) A avaliação foi realizada apenas por um examina- observaram que ansiedade, depressão e estresse leva- dor e os sujeitos responderam aos Critérios de Diagnós- ram a um aumento da atividade muscular que acarretou tico para Pesquisa das Desordens Temporomandibulares em dor, verificando a associação desses estados emocio- (RDC/TMD) Eixos I e II(15). nais à presença de DTM. De acordo com Okino et al. , (7) Os sujeitos foram divididos em dois grupos: o estresse influencia a sintomatologia da DTM, pois de Grupo Controle: constituído por 20 sujeitos, sem his- 48 pacientes com DTM, 89,6% necessitavam de aten- tória de relato de dor e disfunção na ATM e região cervical. dimento psicológico. Por isso, a investigação de fatores psicológicos, como a depressão, se torna necessária também em portadores de DTM. Grupo DTM: constituído por 20 sujeitos, que apresentam DTM (grupo I, II e III do eixo I do RDC/TMD). Excluíram-se desta pesquisa os participantes com Para John, Dworkin e Mancl(8), na população em problemas neurológicos, doenças reumáticas, deficiên- que há manifestação clínica da DTM, ocorre significante cia física, história de fratura na mandíbula, que tenham comprometimento psicossocial e diminuição da qualida- sido submetidas à cirurgia ortognatia e em uso de próte- de de vida. Para Visscher et al.(9), por ser uma condição se dentária.(9) A cada participante da pesquisa foi entre- na qual ocorre dor crônica e em que há vários pontos gue um termo de consentimento livre e esclarecido pos- dolorosos, a DTM predispõe à ansiedade e à depressão, sibilitando sua participação nesse estudo. Este trabalho sendo importante a avaliação desses aspectos. Martins foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Facul- realizou um estudo com o intuito de avaliar a dade de Ciências e Tecnologia da UNESP – Campus de et al. (10) associação entre qualidade de sono e stress em sujeitos Presidente Prudente sob o protocolo 51/2009. com DTM, os resultados mostraram que, dentre os 354 O eixo I do RDC/TMD é um questionário constando portadores de DTM da cidade de Piacatu que participa- exame físico com 10 itens, além de especificações para ram do estudo, 53,3% apresentou distúrbios do sono e a realização do exame do sujeito e critérios de diagnós- 59,4% graus mais elevados de estresse. tico que permitem classificar os indivíduos em três gru- Atualmente, vários protocolos são utilizados para pos, sendo o grupo I, DTM muscular (dor miofascial, dor o diagnóstico e classificação, bem como tratamento clí- miofascial com abertura limitada), o grupo II, desloca- nico e estratégias de investigação. No entanto, a maio- mento do disco articular (deslocamento de disco com re- ria dos métodos são baseados apenas em sinais e sin- dução, deslocamento de disco sem redução, com aber- tomas físicos, sem avaliar os aspectos psicossociais re- tura limitada, deslocamento de disco sem redução, sem lacionados a essa patologia.(11,12) A escolha do RDC/TMD abertura limitada) e o grupo III, outras condições da nesse estudo foi feita por ser uma ferramenta aceita e ATM (artralgia, osteoartrite, osteoartrose)(6) e foi utiliza- validada para diagnóstico, aplicação em levantamentos do com o intuito de diagnosticar para classificar os indi- epidemiológicos e pesquisa clínica em DTM. Além disso, víduos entre o grupo controle e o grupo com DTM. tem vantagem de poder ser auto-aplicado, reduzindo o tempo de aplicação e custo.(13,14) O “Critério Diagnóstico para Pesquisa em Disfunção Ter Man. 2013; 11(53):361-366 O eixo II do RDC/TMD foi utilizado para classificar os sujeitos com relação à intensidade da dor e incapacidade, grau de depressão e limitação da função mandibular. 363 Gabriela S. Geres, Célia A. S. Pachioni, Maria R. Masselli, Dalva M. A. Ferreira, Daniele C. A. Gomes, et al. O critério proposto por Dworkin e Leresche(15) para a classificação da intensidade da dor e incapacidade ser- mesmos apresentaram distribuição Gaussiana (nível de significância p<0,05). viu para agrupar os indivíduos em cinco graus de severidade, que variam de 0 a 4, sendo o grau 0: ausência de RESULTADOS dor nos 6 meses anteriores, grau I: baixa incapacidade Neste estudo foram avaliados 40 sujeitos, 10 do – baixa intensidade da dor, grau II: baixa incapacidade gênero masculino e 30 do gênero feminino, sendo que – alta intensidade de dor, grau III: grande incapacida- 20 sujeitos foram diagnosticados com DTM. Foi verifi- de – limitação moderada e grau IV: grande incapacida- cada maior incidência de DTM no sexo feminino onde de – limitação severa. 56,7% das mulheres que participaram do estudo apre- A intensidade da dor é uma pontuação que varia de 0 à 100 derivado das questões 7, 8 e 9 do eixo II. Utilizou-se a média dos valores obtidos nas 3 questões, e multiplicou-se por 10. sentaram DTM, já no gênero masculino, apenas 30% dos participantes apresentou a patologia. Ao observarmos, no eixo II do RDC/TMD, as limitações da função da mandíbula, 45% dos portadores de O valor da incapacidade também varia de 0 à 100, DTM apresentaram nível leve ou moderado. Dentre o derivado das questões 11, 12 e 13 do eixo II. Utilizou- grupo com DTM, as atividades que mais provocam a dor se a média dos valores obtidos nas 3 questões e multi- e acabam impedindo ou limitando a função da mandí- plicou-se por 10. Esses pontos foram somados aos pon- bula são: bocejar (75%), comer alimentos duros (70%) tos obtidos na questão 10 do eixo II. e mastigar (50%) (Figura 1). Dentre as atividades lis- Para a classificação da depressão, optamos por utilizar os termos: normal, leve, moderada e severa de tadas, apenas a atividade sexual não foi marcada como um tipo de limitação por nenhum dos entrevistados. acordo com a pontuação obtida na questão 20 (normal Quanto ao nível de depressão, dois sujeitos (8%) 0 – 32 pontos, leve 33 – 64 pontos, moderada 65 - 96 tiveram a pontuação dentro do grau leve, ambos per- e severa mais de 96 pontos). Por último, para classificar tencentes ao grupo portador de DTM, e os demais foram as limitações da função da mandíbula devido à dor, tam- considerados como normais nesse aspecto. bém foram utilizados os termos: normal, leve, modera- Com relação à intensidade da dor e incapacidade, a da e severa, de acordo com a quantidade de atividades avaliação do grau de severidade da DTM em seus porta- que eram assinaladas pelos participantes na questão 19 dores mostrou 20% dos sujeitos atingindo grau 0, 55% do mesmo questionário (0-2 normal, 3-5 leve, 6-9 mo- grau I e 25% grau II (Figura 2). derada e 10-12 severa). Na comparação do grupo sem DTM com o grupo A comparação das categorias dos critérios entre os com DTM para os critérios de diagnóstico e pesquisa indivíduos com e sem DTM foi realizada por meio do das desordens temporomandíbulares (eixo II do RDC/ teste t de Student para dados não pareados, já que os TMD), observou-se diferença estatística significante com Tabela 1. Distribuição dos indivíduos de acordo com os Critérios de Diagnóstico para Pesquisa das DTM’s. Media ±DP [intervalo de confiança] *p<0,05 Sem DTM Com DTM p valor Limitação da Mandíbula 0,35±0,81 [-0,03-0,73] 2,80±2,58 [1,58-4,01] p=0,0003* Depressão 7,95±10,12 [3,21-12,69] 13,3±14,5 [6,50-20,09] p= 0,1845 Intensidade da dor 1,00±4,47 [-1,09-3,09] 34,35±29,84 [20,38-48,31] p<0,0001* Incapacidade 0,5±2,23 [-0,54-1,54] 8,85±13,48 [2,53-15,16] p=0,0095* Figura 1. Distribuição em porcentagens das atividades mais prejudicadas pela presença de dor e/ou alteração da mandíbula nos portadores de DTM. Figura 2. Distribuição do percentual de sujeitos portadores de DTM segundo os graus de severidade. Grau 0: ausência de dor nos 6 meses anteriores, Grau I: baixa incapacidade – baixa intensidade da dor, Grau II: baixa incapacidade – alta intensidade de dor, Grau III: grande incapacidade – limitação moderada e Grau IV: grande incapacidade – limitação severa. Ter Man. 2013; 11(53):361-366 364 Análise de condições clínicas em estudantes com disfunção temporomandibular. p<0,05 para as categorias Limitação da Mandíbula, In- são pode ser encontrada nos estudos de Wright et al.(22), tensidade da Dor e Incapacidade (Tabela 1). que encontraram um aumento da depressão de acordo com o aumento dos sintomas de DTM, quando compa- DISCUSSÃO rados grupos de pacientes de DTM e indivíduos assinto- O presente estudo teve como objetivo avaliar uni- máticos. versitários, classificá-los em portadores ou não de DTM, A etiologia da depressão tem sido vinculada a múl- e compará-los utilizando os critérios de diagnóstico e tiplas causas. De acordo com Kinney(23), mulheres são pesquisa em disfunção temporomandibular (eixo II de mais acometidas, principalmente em populações com RDC/TMD). Nesta comparação os critérios foram a de- faixa etária acima dos 30 anos e em indivíduos com his- pressão, intensidade da dor e incapacidade e limitação tórico de dor há mais de 6 meses. Embora a literatura suporte fortemente a relação da função mandibular. constataram que, em re- entre depressão e DTM(22), no presente estudo não foi lação à prevalência e gravidade da disfunção temporo- possível estabelecer essa relação, já que a grande maio- mandibular, as mulheres mostram um nível de severida- ria dos sujeitos apresentou valores de normalidade para de maior (12,96%) quando comparadas com os homens a depressão. Tal fato pode também ser explicado pela (2,27%). Dentre o grupo com DTM do presente estudo, faixa etária em estudo, que não passou de 35 anos. Biasotto-Gonzalez et al. (2) apenas os graus zero, I e II de severidade da DTM foram A dor crônica facial está intimamente relacionada observados, fato este que pode ser explicado devido a com o estresse físico e psicossomático, tais como fa- idade dos participantes da pesquisa ser jovem, sendo diga, alterações do sono, ansiedade e depressão.(24) A assim, os estudantes podem apresentar algum grau de transição da dor aguda para a dor crônica ainda não disfunção, porém ainda não severo. é bem compreendida. Sabe-se que há o envolvimen- Corroborando com outros estudos(3,4) houve maior to tanto dos sistemas fisiológicos quanto dos psicológi- prevalência do gênero feminino, e esta pode ser atribu- cos, predominando impulsos somáticos no início da ex- ída a correlações entre a DTM e influências hormonais periência dolorosa, enquanto que os fatores psicológi- visto que suas manifestações são mais frequentes no cos vão se tornando dominantes à medida que ocorre a sexo feminino. E a faixa etária mais comum de pacientes cronificação.(25) Portanto, uma síndrome de dor crônica é portadores de DTM é entre 21 e 30 anos. uma complexa rede de distúrbios psicológicos sobrepos- (17) Embora muitos indivíduos não se queixem de sin- tos que podem simular uma doença física de tal exten- tomas relacionados à DTM, estudos indicam que 40% a são que a dor torna-se a doença principal e o problema 60% da população têm algum tipo dessa disfunção.(10) somático torna-se secundário.(26) , 70% da população possui dis- Em relação à intensidade da dor, o presente estu- túrbios temporomandibulares e musculares, e um terço do encontrou diferenças significativas entre portadores dessa porcentagem com um ou mais sintomas presen- e não portadores de DTM, porém com relação ao tipo tes. Alguns autores consideram as alterações oclusais e de dor, aguda ou crônica, o instrumento utilizado não maloclusões como fatores etiológicos da DTM, enquanto oferece esse critério de avaliação. Este critério também outros autores associam a DTM a fatores psicossociais e poderia ser relevante para explicar o fato de não se ter emocionais.(17) encontrado relação entre DTM e depressão nesse estu- Para Ash e Ramfjordi (19) Um importante dado obtido por Toledo et al. foi a do, pois segundo Suvinen e Reade(19), as dores de dura- presença de depressão moderada ou grave nos pacien- ção muito breve estariam mais relacionadas com medo tes portadores de DTM grave, entretanto os pacientes e estresse, as dores agudas de maior duração seriam com DTM leve apresentaram quadro normal em relação acompanhadas por medo e ansiedade, enquanto as a depressão. Esse resultado é semelhante ao do presen- dores crônicas seriam mais ligadas à depressão, priva- te estudo, que por não apresentar nenhum sujeito com ção social, irritabilidade e neuroses de ordem somática. grau severo de disfunção, pode justificar o fato de tam- A literatura apresenta estudos(27,28) sobre a relação bém não ter encontrado associação significativa entre da DTM e depressão, e podemos encontrar tanto simila- DTM e depressão. ridades quanto diferenças entre os resultados. Isto pode (17) No estudo de Furegato et al.(20), em que também ocorrer devido a não padronização de questionários de foram avaliados universitários, apenas 19,2% dos su- depressão que são aplicados, sendo poucos os que utili- jeitos apresentou sinais de depressão e neste estudo o zam o eixo II do RDC/TMD como ferramenta de análise, percentual foi ainda mais baixo, 8%. Em outros estudos, o que torna difícil a comparação desejada. como de Zach e Andreasen(21), que analisaram a pre- As maiores dificuldades encontradas ao realizar cer- sença depressão em pacientes com e sem DTM, foram tos movimentos mandibulares, relatadas pelos universi- encontrados resultados semelhantes ao desse estudo, tários, como mastigar e bocejar foram constatadas tam- pois também não obteve diferença significativa entre bém nos estudos de Felício et al.(29) Em seu estudo, Oli- os grupos. No entanto, a relação entre DTM e depres- veira(30) comparou portadores de DTM com indivíduos sem Ter Man. 2013; 11(53):361-366 365 Gabriela S. Geres, Célia A. S. Pachioni, Maria R. Masselli, Dalva M. A. Ferreira, Daniele C. A. Gomes, et al. queixas de dor, os relatos de problemas funcionais, como CONCLUSÃO dificuldade para mastigar tipos específicos de alimentos, A maior incidência de portadores de DTM foi no gê- foram quatro vezes maiores para os portadores de DTM. nero feminino e estes apresentaram dor em grau leve Bove et al.(31), relataram a presença de dores em a moderado, limitação da função da mandíbula e inca- várias regiões do corpo e também sintomas emocionais pacidade, diferentemente do grupo controle. No entan- de ansiedade nos indivíduos portadores de DTM, e ve- to, não foi observada a mesma relação ao analisar a de- rificaram exagerada tensão, perfeccionismo e ambição pressão, pois os sujeitos apresentaram grau leve de de- que podem ser expressas, entre outras formas, atra- pressão em ambos os grupos. vés de parafunções ou hábitos orais. Tal fato pode expli- Não foi encontrado casos de disfunção severa entre car os resultados deste estudo, onde os indivíduos rela- os analisados, podendo ser devido ao pequeno núme- taram sentir dores na parte inferior da coluna e múscu- ro de sujeitos e faixa etária jovem, o que pode ter im- los doloridos, além de um excesso de preocupação, sen- plicado na não relação entre depressão e DTM. Portan- sação de falta de energia e lentidão. Além disso, as al- to, mais estudos devem ser realizados com intuito de terações posturais de cabeça e pescoço são frequentes analisar a relação das condições psicológicas de acor- em indivíduos com DTM, pois as influências neuromus- do com o grau de severidade da DTM, e também clas- culares das regiões cervicais e da mastigação participam sificá-los em agudos e crônicos, já que a literatura su- das funções de movimento da mandíbula e do posiciona- gere que a depressão está fortemente relacionada às mento da coluna cervical.(32) dores crônicas. 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Objetivo: Analisar por meio do ultrassom de imagem a espessura dos músculos transverso do abdome, oblíquo interno e oblíquo externo do lado direito, nas condições de repouso e durante o movimento sustentado de flexão de quadril. Método: A amostra foi composta por dez voluntários do gênero feminino com idade média de 20,8 ± 2 anos, distribuídos em dois grupos (Grupo dor lombar crônica e Grupo controle-assintomático), no qual foram submetidos à análise da espessura dos músculos abdominais por meio do ultrassom. A análise estatística foi realizada por meio do programa SPSS 12.0. Para testar a normalidade dos dados foi utilizado o teste Shapiro-Wilk seguido da comparação intergrupo por meio do teste t de student, considerando o nível de significância de p<0,05. Resultados: Foi constatada diferença significativa na espessura do músculo oblíquo externo (p=0,04) durante o movimento sustentado de flexão do quadril no grupo dor lombar crônica, observando-se aumento desta. Não foi observada diferença significativa entre os grupos nos músculos abdominais restantes avaliados, tanto na condição de repouso como no movimento sustentado flexão do quadril (p> 0,05). Conclusão: O músculo oblíquo externo apresentou uma maior espessura em indivíduos com dor lombar crônica talvez por uma tentativa de promover um melhor suporte para coluna lombar durante o movimento de flexão de quadril. Palavras chave: dor lombar, músculos abdominais, ultrassom Abstract Introduction: Chronic low back pain affects 80% of the young adult population is a major cause of absence from work. The pain can often be associated with instability of the lumbar segment, and its main cause is idiopathic. Objective: The aim of this study was to analyze by means of ultrasound image thickness of the muscles transversus abdominis, internal oblique, and external oblique on the right side, in resting conditions and during sustained movement of hip flexion. Method: The sample was made up of ten females with a mean age of 20.8 ± 2 years, divided into two groups (Group CLBP and asymptomatic-control group), which were submitted to analysis of the thickness of the abdominal muscles through ultrasound. Statistical analysis was performed using SPSS 12.0. To test the normality of the data we used the Shapiro-Wilk test followed by intergroup comparison using the Student t test, considering a significance level of p <0.05. Results: Was no significant difference in the thickness of the external oblique muscle (p = 0.04) during the sustained movement of hip flexion in the CLBP group, observing this increase. There was no significant difference between groups in the remaining abdominal muscles evaluated, both at rest and in motion sustained hip flexion (p> .05). Conclusion: Thus, it is concluded that the external oblique muscle showed a greater thickness in subjects with chronic low back pain perhaps an attempt to promote better support for the lumbar spine during movement of hip flexion. Key words: low back pain, abdominal muscles, ultrasound Recebido em: 28/06/2013; Aceito em: 05/09/2013 1. Professor Docente Mestre da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia do Centro de Ciências da Saúde (CCS) na Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Jacarezinho (PR), Brasil; Docente do Instituto Docusse de Osteopatia e Terapia Manual (IDOT), Presidente Prudente (SP), Brasil. 2. Discente do curso de Fisioterapia e Bolsista de iniciação científica financiada Fundação Araucária, Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Jacarezinho (PR), Brasil. 3. Discente do curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Jacarezinho (PR) e participante do Programa Ciências sem Fronteira financiada pela Fundação Araucária, Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Jacarezinho (PR), Brasil. 4. Professor Docente Doutor da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia do Centro de Ciências da Saúde (CCS), Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) Jacarezinho (PR), Brasil 5. Professor Docente Mestre da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia do Centro de Ciências da Saúde (CCS), Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Jacarezinho (PR), Brasil Correspondências: Fabrício José Jassi - Alameda Padre Magno, n°841, Nova Alcântara CEP:86400-000, Celular (43) 9628-7102, email: [email protected]. Ter Man. 2013; 11(53):367-372 368 Espessura dos músculos abdominais por meio do ultrassom de imagem, INTRODUÇÃO A dor lombar é uma dor e incômodo, localizado tornam-se instáveis e menos recrutados enquanto os músculos superficiais tornam-se hipersolicitados.(7,8) abaixo das margens costais e acima das pregas glúte- Portanto o objetivo deste estudo foi analisar em in- as inferiores, podendo ou não irradiar-se para o mem- divíduos com dor lombar crônica e controle (assintomá- bro inferior.(1) É classificada de acordo com a duração da ticos), a espessura dos músculos transverso do abdome sintomatologia; aguda (6 semanas), subaguda (6 a 12 (TrA), oblíquo interno (OI), e oblíquo externo (OE) do semanas) e crônica (quando os sintomas persistem por lado direito nas condições de repouso e durante o movi- mais de 12 semanas).(1) mento sustentado de flexão do quadril. A dor lombar crônica está presente em todas as nações industrializadas, afetando cerca de 70% a 80% MATERIAL E MÉTODOS da população adulta em algum momento da vida. Possui maior incidência na população adulta jovem sendo causa frequente de atendimento médico e afastamento do trabalho.(2,3) Amostra A amostra do estudo foi selecionada de acordo com os critérios de elegibilidade da presente pesquisa, com A etiologia da dor lombar crônica é desconheci- formação de dois grupos: grupo dor lombar crônica e da,(4,5) porém, algumas vezes encontra-se relacionada a grupo controle (assintomáticos). O recrutamento dos in- fatores musculoesqueléticos, como as síndromes dolo- divíduos foi realizado por meio de anúncio verbal. rosas miofasciais e instabilidades do segmento lombar.(3) Os critérios de inclusão utilizados para seleção dos Sabe-se que indivíduos com dor lombar apresen- voluntários do grupo com dor lombar crônica foram: his- tam atraso no padrão de ativação dos músculos trans- tórico de dor lombar (pelo menos três episódios durante verso do abdome e oblíquo interno do abdome, redução um período de seis meses), ser sedentário, e apresen- da espessura e redução na área de secção transversa tar índice de massa corpórea (IMC) dentro dos padrões dos mesmos; o que contribui para perda da estabilidade de normalidade (18 a 24,9 Kg/m2), pois um aumento do da coluna vertebral, e de maneira compensatória, gera tecido adiposo localizado na região abdominal poderia hipersolicitação dos músculos oblíquo externo e reto do interferir na visualização dos músculos abdominais, de abdome.(6,7,8,9,10) Dessa forma, a longo prazo, a tentativa forma a gerar uma má qualidade da imagem obtida.(15) de estabilidade da coluna vertebral realizada pelos mús- Os critérios de inclusão para a seleção dos volun- culos oblíquo externo e reto do abdome, poderá desen- tários do grupo controle (assintomáticos) foram: ausên- cadear aumento da carga de compressão sobre estrutu- cia de dor na região lombar nos últimos seis meses, ser ras da coluna vertebral.(6,7,8) sedentário e IMC dentro dos padrões de normalidade.(15) A eletromiografia de superfície se mostra como Os critérios de exclusão para ambos os grupos um instrumento adequado para análise da pré-ativação foram: diagnóstico de doenças neurológicas, cardiovas- muscular, pois avalia a atividade mioelétrica em movi- culares e cirurgia na coluna vertebral. mentos isotônicos e isométricos, fadiga muscular, e pré- Todos os voluntários foram submetidos ao mesmo -ativação muscular no início do movimento.(11) Já para procedimento de avaliação para mensuração da espes- mensuração da espessura da musculatura profunda uti- sura dos músculos do abdome (TrA, OI e OE), realizados liza-se o aparelho ultrassom de imagem, que segundo por um avaliador treinado com experiência em diagnós- Rasouli, (12) trata-se de um instrumento não invasivo que tico com ultrassom de imagem. permite visualização e investigação em tempo real da A pesquisa tratou-se de um estudo piloto com de- atividade dos músculos abdominais, e alem disso possi- lineamento observacional caso-controle, e foi aprovado bilita a avaliação do diâmetro, da área de corte transver- pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual do Norte sal, do volume, do ângulo de penação, da espessura e do Paraná (UENP) sob protocolo 024/12. As avaliações do comprimento do fascículo do músculo avaliado.(12,13,14) foram realizadas no Consórcio Público Intermunicipal do Em um estudo recente foi observado que o instru- Norte Pioneiro (CISNORP), e todos voluntários assina- mento ultrassom de imagem é ideal para investigar al- ram um termo consentimento livre e esclarecido. terações da atividade muscular do transverso do abdome em indivíduos com dor lombar crônica, já que a ele- Mensuração tromiografia de agulha é um instrumento inviável, pois abdome por meio do ultrassom de imagem oferece riscos de infecção ao indivíduo.(13) da espessura dos músculos do Para mensuração da espessura dos músculos trans- A hipótese do estudo é que indivíduos com dor lom- verso do abdome, oblíquo interno e oblíquo externo, uti- bar crônica apresentem em repouso e durante o movi- lizou-se o ultrassom de imagem Logiq 03 Expert-GE, mento sustentado de flexão quadril uma redução da es- configurado no modo-B e com um transdutor de cabeça pessura do músculo transverso do abdome e oblíquo in- linear de 10 MHz. A mensuração foi realizada em duas terno, e aumento da espessura do músculo oblíquo ex- posições: em repouso (Fig 1A) e ao movimento susten- terno; já que nessas condições os músculos profundos tado de flexão de quadril a 45°(Fig 1B). Toda a avalia- Ter Man. 2013; 11(53):367-372 369 Fabrício José Jassi, Priscila Kalil Morelhão, Daniela Licka Tanigiti, Fábio Antônio Néia Martini, Paulo Fernandes Pires. ção foi realizada sobre o lado direito dos músculos ab- foram expressos em média e desvio-padrão intragrupo, dominais. e diferença da média e intervalo de confiança a 95% in- O transdutor foi posicionado transversalmente no tergrupo. Para testar a normalidade dos dados foi utili- ponto médio entre o ângulo inferior da décima segunda zado o teste Shapiro-Wilk, seguido da comparação in- costela e a crista ilíaca, 10 centímetros laterais a linha tergrupo por meio do teste t de student para dados nor- média.(12) mais e independentes. O nível de significância considerado foi de p< 0,05. Posicionamento dos voluntários para avaliação As imagens foram capturadas em dois momentos RESULTADOS diferentes: em repouso e durante o movimento susten- O grupo dor lombar crônica foi formado por cinco tado de flexão o quadril a 45°. Não foi solicitada nenhu- voluntários do gênero feminino e o grupo controle por ma estratégia de respiração. cinco voluntários do gênero feminino. Não foi constata- Para avaliação na condição de repouso os voluntários da diferença significativa na avaliação anamnese sobre foram orientados a permanecer em decúbito dorsal com os as variáveis: idade (p=0,35), altura (p=0,51), peso membros inferiores estendidos e relaxados (Fig 2A). Para (p=0,64) e IMC (p=0,48) entre os grupos; dessa forma, avaliação ao movimento sustentado de flexão do quadril a ambos os grupos apresentavam-se homogêneos no iní- 45° os voluntários foram orientados a permanecer em de- cio da pesquisa, como expresso na tabela 1. cúbito dorsal e então o avaliador através de um feedback No que se refere à análise da espessura dos mús- verbal solicitou uma flexão de quadril de 45° do lado direi- culos abdominais na condição de repouso, não foi cons- to, monitorado por um goniômetro da marca Carci, fixado tatada diferença significativa entre o grupo dor lombar na lateral do divã (Fig 2B). A flexão do quadril foi susten- crônica e grupo controle nos músculos: transverso do tada por 5 segundos para que o examinador pudesse obter abdome (p=0,37), oblíquo interno (p=0,54), oblíquo ex- uma imagem clara da espessura muscular. terno (p=0,85), como expresso na tabela 2. Análise estatística dril a 45° foi constatada diferença significativa na espes- Durante o movimento sustentado de flexão do quaA análise estatística foi realizada por meio do pro- sura do músculo oblíquo externo do abdome (p=0,04) grama SPSS 12.0 (Chicago, USA). Os valores descritivos no grupo dor lombar crônica, no qual se observou maior Tabela 1. Dados antropométricos dos voluntários avaliados na avaliação anamnese. Grupo dor lombar crônica (média ± desvio-padrão) Grupo controle (média ± desvio-padrão) p valor 5 5 - nº de voluntários Gênero (fem/masc) Idade (anos) 5/0 5/0 - 21,4 ± 1,94 20,2 ± 1,9 0,35 Altura (cm) 167 ± 6 165 ± 2 0,51 Peso (Kg) 59,4 ± 5,4 57,8 ± 5,6 0,64 21,12 ± 1,94 20,24 ± 1,9 0,48 IMC (Kg/m2) Não houve diferença intergrupo (p>0,05). Teste t de Student. Tabela 2. Comparação da espessura dos músculos abdominais na condição de repouso. Grupo dor lombar crônica (média ± desvio-padrão) Grupo controle (média ± desvio-padrão) média (IC 95%) TrA 0,428 ± 0,129 0,366 ± 0,69 -0,06 (-0,21; 0,08) OI 0,626 ± 0,87 0,588 ± 0,103 -0,03 (-0,17; 0,10) OE 0,32 ± 0,065 0,31 ± 0,065 0,008 (-0,08; 0,10) Músculos Não houve diferença intergrupo (p>0,05). Teste t de Student. TrA: Músculo transverso do abdome; OI: Músculo oblíquo interno; OE: Músculo oblíquo externo; IC 95%: intervalo de confiança a 95%. Tabela 3. Comparação da espessura dos músculos abdominais durante o movimento sustentado de flexão do quadril a 45°. Grupo dor lombar crônica (média ± desvio-padrão) Grupo controle (média ± desvio-padrão) Diferença intergrupo média (IC 95%) TrA 0,404 ± 0,104 0,312 ± 0,51 -0,09 (-0,21; 0,02) OI 0,722 ± 0,119 0,576 ± 0,94 -0,14; (-0,30; 0,01) OE 0,364 ± 0,05 0,304 ± 0,028 -0,06 (-0,11; -0,0002)* Músculos *diferença significativa (p≤0,05); teste t de student. TrA: Músculo transverso do abdome; OI: Músculo oblíquo interno; OE: Músculo oblíquo externo, IC 95%: intervalo de confiança a 95%. Ter Man. 2013; 11(53):367-372 370 Espessura dos músculos abdominais por meio do ultrassom de imagem, bação causada. Dessa forma, ambos os autores corroboram com a justificativa da presente pesquisa que buscou avaliar a espessura de músculos abdominais após movimento sustentado de flexão do quadril, no qual deveria haver um planejamento da coluna para realização do movimento tanto para os indivíduos do grupo dor lombar crônica quanto assintomáticos. Rasouli(12) verificou a espessura do músculo transverso do abdome e oblíquo interno em voluntários com lombalgia e assintomáticos, em quatro posições diferentes: deitado em repouso em decúbito dorsal; sentado em uma cadeira com os pés apoiados sobre o chão; senFigura 1. Espessura dos músculos OE, OI e TrA. (A) Em repouso. (B) ao movimento sustentado de flexão do quadril a 45°. tado em uma bola suíça com os dois pés apoiados sobre o chão; e sentado em uma bola suíça com solicitação de uma flexão ativa do quadril esquerdo, elevando o pé a 10 cm do chão. Em todas as posições os voluntários permaneceram com os braços cruzados sobre o tórax. Sendo assim, Rasouli(12) observou aumento significativo da espessura do músculo transverso do abdome quando os indivíduos estavam sentados na bola suíça Figura 2. Posições de avaliação em (A) repouso e (B) flexão de quadril a 45°. com elevação do pé esquerdo. Esse aumento sugere que à medida que a postura se torna mais instável maior é a tendência de aumento da espessura dos músculos abdominais profundos na tentativa de melhorar o supor- espessura do músculo. Entretanto, não foi constatada te para coluna. Foi observado também que o grupo dor diferença significativa nos músculos transverso do abdo- lombar apresentou aumento da musculatura, entretan- me (p=0,11) e oblíquo interno (p= 0,06) quando com- to, menor que o grupo assintomático. parado os dois grupos como expresso na tabela 3. Ferreira(19) observou a espessura do músculo transverso do abdome, oblíquo interno e oblíquo externo com os seus voluntários posicionados em decúbito dor- DISCUSSÃO A presente pesquisa encontrou aumento significa- sal com flexão sustentada dos quadris a 50° e o joe- tivo na espessura do músculo oblíquo externo, duran- lhos a 90°. Os voluntários foram instruídos a manter-se te o movimento sustentado de flexão do quadril a 45°, na posição de repouso antes da avaliação, e após, exe- nos voluntários do grupo dor lombar. Entretanto, não foi cutar esforços isométricos de flexão ou extensão joelho constatada diferença significativa entre os grupos na es- com uma força de 7,5% do seu peso corporal, mensu- pessura dos músculos abdominais restantes, tanto na rado por uma célula de força acoplada ao tornozelo. Foi condição de repouso como na flexão do quadril a 45°. constatado que indivíduos que apresentavam dor lom- Cabe ainda ressaltar que ambos os grupos apresentam- bar possuíam déficit significativo na espessura do mús- -se inicialmente homogêneos quando comparado as va- culo transverso do abdome. riáveis idade, peso, altura, IMC e gênero. Estudos(12,13,20) documentaram claramente que ao , o ultrassom de imagem se trata movimento sustentado e isométrico de extensão do jo- de um instrumento não invasivo e ideal para visualiza- elho, indivíduos com dor lombar apresentam uma es- ção em tempo real da espessura de músculos em secção pessura significativamente menor do músculo transver- transversal, permitindo investigação de sua contração so do abdome quando comparado a indivíduos assinto- ou dificuldade desta, devido à dor. Este método de diag- máticos. Na presente pesquisa não foi observado qual- nóstico permite ainda visualizar a contração da muscu- quer diferença significativa entre os grupos no múscu- latura profunda em conjunto com a superficial sobre- lo transverso do abdome, talvez pelo fato do posiciona- posta, o qual complementa a avaliação fisioterapêuti- mento diferente empregado nos voluntários, no qual es- ca, criando assim possíveis estratégias de tratamento. tavam em decúbito dorsal e sustentado uma flexão de Segundo Hides (16) Segundo França , indivíduos com disfunção da (17) quadril a 45°. coluna lombar possuem falha no recrutamento da mus- Ferreira(8), observou por meio da eletromiografia , afirma que quando soli- de agulha, que voluntários com dor lombar apresentam citado um movimento dos membros, uma perturbação é atraso da pré-ativação do músculo TrA durante o movi- gerada na coluna, devendo esta planejar o ato motor e mento de elevação do membro superior, sendo verifica- proporcionar estratégia adequada para superar a pertur- do conjuntamente aumento da atividade mioelétrica do culatura do abdome. Hodges Ter Man. 2013; 11(53):367-372 (18) Fabrício José Jassi, Priscila Kalil Morelhão, Daniela Licka Tanigiti, Fábio Antônio Néia Martini, Paulo Fernandes Pires. 371 músculo OE. Dessa forma, esse estudo corrobora em As limitações encontradas na presente pesquisa parte com a presente pesquisa, que encontrou durante foram: ausência da observação da espessura dos mús- o movimento sustentado de flexão do quadril, no grupo culos abdominais em mais posicionamentos e planeja- dor lombar crônica, aumento significativo da espessu- mento de contração destes durante diferentes pertur- ra de um músculo localizado superficialmente no abdo- bações da coluna vertebral; utilização do instrumento me, o oblíquo externo. Contudo, não foi observada re- eletromiografia de superfície que elucidaria em segundo dução da espessura do músculo transverso do abdome, plano o somatório da atividade muscular e pré-ativação que se localiza profundamente. Uma possível justificati- destes; e ausência de avaliação no gênero masculino, já va para ausência de resultados sobre o músculo profun- que pesquisas anteriores não delimitam gênero especí- do do abdome talvez se deva a não utilização de um po- fico para análise. sicionamento de maior solicitação de controle da coluna, como na posição sentada com flexão sustentada de CONCLUSÃO Conclui-se, portanto, que indivíduos com dor lom- membros inferiores. Pinto(6,20) realizou o mesmo procedimento de Fer- bar crônica apresentam diferença significativa no padrão reira(17) e também analisou a coluna lombar na posi- de recrutamento do músculo oblíquo externo quando ção neutra e flexão da coluna lombar em decubito dor- comparado a indivíduos assintomáticos. A hipótese do sal, e constatou que não houve diferença significativa estudo foi em parte confirmada, pois apesar do achado na variação da espessura do TrA em ambos os grupos. sobre a espessura do músculo em questão, não foi cons- Hides(15) em seu estudo também não observou nenhuma tatada qualquer diferença no padrão de recrutamento diferença entre os grupos na espessura do TrA, na tare- e espessura do músculo transverso do abdome e oblí- fa de sustentação de peso unilateral do membro inferior. quo interno. REFERÊNCIAS 1. Van Tulder M, Becker A, Bekkering T, Breen A, del Real MTG, Hutchinson A, et al. European guidelines for the management of acute nonspecific low back pain in primary care. Ann Intern Med, 2004;1-55. 2. França FR, Burle TN, Caffaro RR, Ramos LA, Marques AP. Effects of muscular stretching and segmental stabilization on functional disability and pain in patients with chronic low back pain: a randomized, controlled trial. 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Effect of 2 lumbar spine postures on transverses abdominis muscle thickness during a voluntary contraction in people with and without low back pain. Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics. 2011;34(3);165-172. Ter Man. 2013; 11(53):367-372 373 Artigo Original Percepção de profissionais da saúde acerca de parâmetros e treinamento cardiorrespiratório utilizados na reabilitação pós Acidente Vascular Encefálico Perceptions of health professionals regarding the cardiorespiratory parameters and training used in post stroke rehabilitation Janaine Cunha Polese(1), Louise Ada(2), Giselle Silva e Faria(3), Patrick Avelino(3), Aline Alvim Scianni(4), Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela(5). Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte (MG), Brasil Resumo Introdução: Embora reconheça-se a importância do condicionamento cardiorrespiratório em indivíduos pós-Acidente Vascular Encefálico (AVE), profissionais da saúde são relutantes na prescrição desse tipo de treinamento. Objetivos: Identificar a frequência, duração e estratégias utilizadas para o treinamento cardiorrespiratório em indivíduos pós-AVE adotadas por profissionais de reabilitação de serviços públicos em uma capital metropolitana brasileira. Método: Trata-se de um estudo transversal, com coleta de dados por meio de um questionário específico. O conteúdo do questionário englobou questões acerca das condutas utilizadas durante o programa de reabilitação para indivíduos pós-AVE, além de questões relacionadas à formação do profissional. Resultados: Participaram do estudo 21 profissionais (cinco homens, 34,4±7,8 anos e tempo de formação médio de 9,2±8 anos); sendo 16 fisioterapeutas, três educadores físicos e dois terapeutas ocupacionais. A duração da sessão relatada foi em média de 45±10 minutos, com frequência semanal média de 2±1 sessões. 71% da amostra relatou que gostaria de utilizar de 21 a 50% da sessão para o treino cardiorrespiratório. Quando questionados acerca da real prescrição do treino cardiorrespiratório, observou-se que 47% da amostra realiza o treino entre 11 e 30 minutos. 65% da amostra responderam que há parâmetros seguros para a prescrição do treino para indivíduos pós-AVE. Conclusão: Embora a maioria dos profissionais tenha reportado que gostaria de utilizar até metade do tempo da sessão para o treino, menos de 50% dos profissionais reportaram realmente utilizar este período durante as sessões. Adicionalmente, a maioria dos profissionais reportou a existência de parâmetros seguros para a prescrição do treinamento cardiorrespiratório para indivíduos pós-AVE. Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral, capacidade ao exercício, reabilitação. Abstract Introduction: Although it has been recognized the importance of cardiorespiratory training in individuals post-stroke, health professionals are reluctant in prescribing this type of training. Aims: To identify the frequency, duration, and strategies used for cardiorespiratory training in individuals post-stroke adopted by rehabilitation professionals in a Brazilian metropolitan capital. Method: It is a cross-sectional study with data collection with a specific questionnaire. The questionnaire included questions regarding the approaches used during the rehabilitation program for individuals post-stroke, as well as issues related to professional training. Results: A total of 21 professionals (5 men, 34.4 ± 7.8 years and average training time of 9.2 ± 8 years), with 16 physiotherapists, three physical educators and two occupational therapists participated of this study. The session duration was reported on average of 45 ± 10 minutes, with weekly frequency of 2 ± 1 sessions. 71% of the sample reported that they would like to use 21-50% of the session to cardiorespiratory training. When asked about the actual cardiorespiratory exercise prescription, it was observed that 47% of the sample prescribed between 11 and 30 minutes. 65% of the sample answered that there are reliable parameters for prescribing cardiorespiratory training for individuals post stroke. Conclusions: Although the majority of the professionals reported they would like to up to of the session time for training, less than 50% of the professionals reported actually using” por “actually used this time this time during the sessions. Additionally, the majority of professionals reported the existence of reliable parameters for the prescription of cardiorespiratory training for individuals post-stroke. Key words: Stroke, exercise capacity, rehabilitation. Recebido em: 05/07/2013; Aceito em: 11/09/2013 1. Doutoranda em Ciências da Reabilitação/Health Sciences, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte (MG), Brasil; Physiotherapy Departament, University of Sydney, Sydney, New South Wales, Australia. 2. Associated Professor, Physical Therapy Department, University of Sydney, Sydney, New South Wales, Australia. 3. Acadêmico em Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte (MG), Brasil. 4. Professora Adjunta, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte (MG), Brasil. 5. Professora Titular, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte (MG), Brasil. Endereço para Correspondência Janaine Cunha Polese - Departamento de Fisioterapia - Universidade Federal de Minas Gerais - Avenida Antônio Carlos, 6627, Campus Pampulha - 31270-901 Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil - Fone: 55-31-3409-7403/ Fax: 55-31-3409-4783 E-mail: [email protected]; [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):373-377 374 INTRODUÇÃO Profissionais e treino cardiorrespiratório. tação públicos direcionados a reabilitação neurofuncio- Com o aumento da longevidade da população mun- nal, localizados na cidade de Belo Horizonte, Minas Ge- dial, observa-se um aumento expressivo de doenças rais. A aplicação do questionário foi realizada por três fi- crônicas e, dentre essas, o Acidente Vascular Encefá- sioterapeutas treinados, que compareceram aos locais lico (AVE) tem se destacado, uma vez que é a princi- de coleta e administraram o mesmo aos profissionais pal causa de incapacidade no Brasil.(1,2) Os déficits re- presentes. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Co- siduais motores apresentados por indivíduos hemipa- mitê de Ética da UFMG e pela Prefeitura Municipal de réticos acarretam restrições na mobilidade desses in- Belo Horizonte. divíduos,(3,4) e sendo assim, com uma maior tendência O questionário, elaborado após ampla revisão da li- à inatividade, as adaptações ocasionadas pelo desuso teratura, foi desenvolvido por dois especialistas e sub- em diferentes órgãos e sistemas, dentre eles, o siste- metido a um terceiro para revisão. O conteúdo englobou ma cardiovascular, tornam-se frequentes.(5) Achados re- questões acerca das condutas utilizadas durante o pro- centes demonstraram que hemiparéticos pós-AVE apre- grama de reabilitação para hemiparéticos pós-AVE, além sentam uma reduzida aptidão cardiorrespiratória, tanto de questões relacionadas à formação do profissional. A nas fases aguda quanto crônica.(6) Hemiparéticos pos- versão final compreendeu questões abertas e fechadas, suem a capacidade aeróbica reduzida em relação aos sendo que, em algumas delas, era possível mais de uma valores apresentados por indivíduos saudáveis,(7,8) pos- resposta. Para as questões fechadas e com mais de uma suindo em média, de 40% a 50% do VO2pico esperado, alternativa, foram estabelecidas quatro opções de res- quando comparados com indivíduos saudáveis pareados postas: muito importante; importante; pouco impor- por idade e sexo.(9) tante e irrelevante, sendo que opções que não fossem A reduzida capacidade ao exercício é associada com utilizadas durante a prática clínica poderiam ser deixa- a restrição da participação social de hemiparéticos,(9) das em branco. As perguntas deveriam ser respondidas uma vez que os indivíduos possuem uma menor capaci- de acordo com os conhecimentos prévios dos profissio- dade para percorrer longas distâncias. Sendo assim, os nais, após leitura das instruções contidas no cabeçalho programas de reabilitação que tem por objetivo reinserir do questionário. Ao final, um espaço foi reservado para os indivíduos na vida comunitária, deveriam focar, teo- anotações, caso os voluntários apresentassem alguma ricamente, no ganho da aptidão cardiorrespiratória. En- dúvida e/ou comentário que julgassem necessários. tretanto, a reabilitação de indivíduos pós AVE ainda é fo- Estatísticas descritivas, como média, porcentagem, cada na busca de “padrões normais de movimento”. Esta desvios-padrão e valores mínimos e máximos foram uti- abordagem não engloba todos os aspectos necessários lizados no presente estudo para análise dos dados. O para a reintegração dos indivíduos na comunidade, visto programa estatístico SPSS versão 17.0 foi utilizado para que estudos reportam que embora 60-70% dos hemipa- todas as análises. réticos readquirirem habilidade para andar independentemente após a alta da reabilitação(10,11), somente 7% RESULTADOS possuem capacidade para deambulação comunitária.(10) Participaram do presente estudo 21 profissionais Uma hipótese para a pouca atenção dada ao treino car- (cinco homens), com idade média de 34,4±7,8 [26-54] diorrespiratório pelos profissionais da reabilitação seria anos e tempo de formação de 9,2±8 [1,5-30] anos. De- o fato da existência de lacunas no entendimento sobre zesseis profissionais eram fisioterapeutas, três educa- parâmetros seguros de treinamento cardiorrespiratório dores físicos e duas terapeutas ocupacionais. A gran- e métodos para avaliação desses parâmetros e de be- de maioria (76%) referiu possuir especialização, embora nefícios a longo prazo deste tipo de intervenção em am- somente 37% tenha reportado possuir especialização na bientes clínicos.(5) área Neurofuncional. Os demais profissionais com espe- Diante do exposto, o objetivo do presente estudo cialização referiram ter formação complementar em Fi- foi identificar a frequência, duração e estratégias utili- sioterapia Respiratória, Fisioterapia Musculo-Esquelética zadas para o treinamento cardiorrespiratório em indi- e Fisioterapia na Saúde da Mulher. víduos pós-AVE adotadas por profissionais de reabilita- A duração da sessão relatada para indivíduos pós- ção de serviços públicos em uma capital metropolita- -AVE foi em média de 45±10 minutos, com uma frequên- na brasileira. cia semanal média de 2±1 sessões. De acordo com 48% da amostra, o fisioterapeuta é o profissional que deter- MATERIAIS E MÉTODO mina a duração e frequência das sessões, 33% reporta- Trata-se de um estudo transversal, com coleta de ram que a duração e frequência são dependentes da de- dados por meio de um questionário específico adminis- manda de pacientes e 19% reportaram que a equipe é trado em profissionais da reabilitação, sendo estes fisio- responsável por tal determinação. terapeutas, terapeutas ocupacionais e educadores físi- Setenta e um por cento da amostra relatou que cos. Estes foram recrutados em dois centros de reabili- gostaria de utilizar de 21 a 50% da sessão para o trei- Ter Man. 2013; 11(53):373-377 Janaine Cunha Polese, Louise Ada, Giselle Silva e Faria, Patrick Avelino, Aline Alvim Scianni, Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela. 375 no cardiorrespiratório, considerando os pacientes com Os resultados deste estudo apontaram que apesar de indicação para o treino. Dezenove por cento da amostra a grande maioria dos profissionais tenha reportado que relatou que gostaria de utilizar 50% da sessão e 10% gostaria de utilizar até 50% do tempo da sessão para o da amostra relatou que gostaria de utilizar menos de treino cardiorrespiratório, menos da metade dos profis- 20% da sessão para este tipo de treinamento. Nenhum sionais reportaram realmente utilizar este período para profissional relatou que gostaria de utilizar mais do que o treino durante as sessões. Além disso, a maioria dos 50% da sessão para o treino cardiorrespiratório. profissionais reportou a existência de parâmetros segu- Quando questionados acerca da real prescrição do ros para a prescrição do treinamento cardiorrespiratório treino cardiorrespiratório durante as sessões, observou- especificamente para indivíduos hemiparéticos pós-AVE, -se que 47% da amostra realiza o treino entre 11 e 30 embora não utilize o treino rotineiramente. minutos, 37% realiza a prescrição dependendo da dis- De acordo com os profissionais, o uso de esteira, ponibilidade dos equipamentos, 10% prescreve o treino cicloergômetro/bicicleta ergométrica e treino de marcha com uma duração de menos de 10 minutos e 6% pres- são as atividades mais importantes que compreendem creve o treino com uma duração superior a 30 minu- o treino cardiorrespiratório. Neste sentido, a literatura tos. A duração do treino prescrita pelos profissionais da reporta a eficácia do uso do treino em esteira(12) para saúde pode ser observada na Figura 1. o aumento da aptidão cardiorrespiratória, além da ve- A tabela 1 apresenta os dados referentes às ativi- locidade e capacidade para a marcha(13) de hemiparéti- dades prescritas e parâmetros cardiorrespiratórios ob- cos. Da mesma forma, observou-se aumento do condi- servados pelos profissionais da reabilitação. Os dados reportados são referentes às opções mais predominantes de resposta para cada opção. Quando questionados acerca da existência de parâmetros seguros para a prescrição do treino cardiorrespiratórios para indivíduos pós-AVE, 65% da amostra responderam conhecer tais parâmetros, 30% responderam não saber responder e 5% responderam que não existem parâmetros seguros para a prescrição do treino. DISCUSSÃO O presente estudo revelou as principais características acerca da frequência, duração e estratégias utilizadas para o treinamento cardiorrespiratório em indivíduos pós-AVE adotadas por profissionais da reabilitação. Figura 1. Duração do treinamento cardiorrespiratório prescrita por profissionais da reabilitação. Tabela 1. Distribuição das respostas de acordo com as opções predominantes em cada alternativa. Questão Atividades que compreendem o treino aeróbico Parâmetro que determina o treino aeróbico Parâmetro chave mensurado durante o treino aeróbico Parâmetro chave para aumento da intensidade do treino aeróbico Opções Resposta predominante Porcentagem Esteira Cicloergômetro/ bibicleta ergométrica Caminhada/barra paralela Treino funcional Fortalecimento MS/MI Alongamento Fortalecimento MR Muito importante 76% Muito importante 76% Muito importante 52% Importante 19% Importante 14% Pouco importante 14% Pouco importante 9% Estabilidade clínica Queixa do paciente Presença de equipamentos Marcha independente Força muscular grau 5 de MI Muito importante 76% Muito importante 24% Importante 14% Importante 9% Importante 9% Pressão arterial Frequência cardíaca Sensação de dispneia Sensação de cansaço Saturação de O2 Muito importante 62% Muito importante 52% Muito importante 48% Muito importante 48% Importante 52% Frequência cardíaca Diminuição da sensação de dispneia Quando o paciente refere “que está fácil” Pressão arterial Diminuição da sensação de cansaço Saturação de O2 Muito Muito Muito Muito Muito Muito importante importante importante importante importante importante 62% 43% 43% 38% 38% 19% MI= membro inferior; MS= membro superior; MR= musculatura respiratória Ter Man. 2013; 11(53):373-377 376 Profissionais e treino cardiorrespiratório. cionamento cardiorrespiratório após o treino em cicloer- Em relação aos parâmetros para mensuração e gômetro(14) em indivíduos pós-AVE. Michael et al.(15) ob- determinação do aumento da intensidade do exercí- servaram que após um protocolo de treinamento com cio, os resultados observados no presente estudo con- atividades cotidianas realizadas no domicilio, compos- cordam com os critérios estabelecidos pela ACSM, to por atividades como sentar e levantar e marcha, in- uma vez que de acordo com o protocolo, o programa divíduos hemiparéticos tiveram aumento do condiciona- de exercício deve ser estipulado e guiado de acordo mento cardiorrespiratório, além de melhora no equilí- com a atividade física habitual do individuo, percep- brio e velocidade da marcha. Desta forma, atividades ção de esforço individual, condição de saúde, repos- rotineiras poderiam ser utilizadas quando o objetivo do tas metabólicas e cardiovasculares ao exercício e ob- treino for o condicionamento cardiorrespiratório, poden- jetivos estabelecidos em conjunto com a equipe de re- do sanar as dificuldades relacionadas à disponibilidade abilitação,(16) fatores estes apontados pelos profissio- de equipamentos observadas principalmente em servi- nais como sendo determinantes na prescrição do trei- ços públicos, fator este apontado como determinante na no cardiorrespiratório. prescrição do treino por mais de um terço dos profissio- Embora grande parte dos profissionais tenha reportado a existência de parâmetros seguros de tratamen- nais entrevistados. Apesar de menos de 20% dos profissionais terem to para indivíduos pós-AVE, a grande maioria dos pro- apontado as demais atividades, tais como o fortaleci- fissionais não utiliza o treinamento cardiorrespiratório mento, alongamento e treino funcional, como sendo como prioridade, mesmo para aqueles pacientes com parte do treino cardiorrespiratório, as diretrizes da Ame- indicação para o treino. Cabe ressaltar que apesar de rican College of Sports Medicine (ACSM) apontam que os protocolos de exercícios descritos nos estudos atu- tais atividades são essenciais na prescrição do treino, ais estejam de acordo com as recomendações da ACSM, uma vez que podem prevenir lesões durante o exer- tais diretrizes foram estabelecidas para indivíduos sau- cício.(16) Da mesma forma, a minoria dos profissionais dáveis.(16,20) Não se sabe estas poderiam ser utilizadas (9%) optou pelo fortalecimento da musculatura respira- da mesma forma para hemiparéticos, visto que a gran- tória como resposta, sendo que destes, todos classifica- de maioria dos indivíduos possuem descondicionamento ram como pouco importante no treinamento cardiorres- grave,(20) além dos déficits residuais motores inerentes piratório. Apesar de não existirem evidências suficien- à condição de saúde. Desta forma, estudos futuros são tes acerca do efeito do treino da musculatura respirató- encorajados para determinação de parâmetros de trei- ria na aptidão cardiorrespiratória pós-AVE, sabe-se que namento específicos para esta população. o treino dessa musculatura proporcionaria fortalecimen- O presente estudo possui algumas limitações. Os to da mesma, o que poderia estar relacionado a uma achados observados se limitam apenas à percepção maior eficiência na tosse, prevenindo assim, complica- de profissionais da reabilitação de serviços públicos de ções respiratórias(17,18) e assim, diminuindo a morbidade saúde, não refletindo assim, a opinião global dos profis- desta população. sionais, devido à diferença de recursos disponíveis para De acordo com as diretrizes de treinamento car- o tratamento. Além disso, embora a formação acadêmi- diorrespiratório para indivíduos saudáveis propostas ca seja generalista, 63% dos profissionais que relata- pela ACSM, o tempo do treino deve ser superior a 30 ram possuir especialização não a tinham na área Neu- minutos diários, em um total de no mínimo 150 minu- rofuncional, o que pode ter influenciado nas respostas tos de treinamento por semana.(16,19) Este tempo míni- obtidas. mo não foi atingido para o treino cardiorrespiratório de Desta forma, a partir dos resultados do presen- pacientes pós-AVE, segundo relato dos profissionais en- te estudo pôde-se observar as principais característi- trevistados. Visto que a amostra foi composta por pro- cas acerca da frequência, duração e estratégias utiliza- fissionais inseridos no sistema público de saúde, cabe das para o treinamento cardiorrespiratório em indivídu- ressaltar que diversos fatores são determinantes para a os pós-AVE adotadas por profissionais da reabilitação. duração e frequência das sessões, tais como: demanda Os resultados deste estudo apontaram que apesar de do serviço, disponibilidade de equipamentos, acessibili- que a grande maioria dos profissionais tenha reporta- dade dos pacientes, dentre outros, o que deve ser leva- do que gostaria de utilizar até metade do tempo da ses- do em consideração para este achado. Desta forma, ati- são para o treino, menos de 50% dos profissionais re- vidades domiciliares deveriam ser encorajadas para tais portaram realmente utilizar este período durante as ses- indivíduos, já que atividades cotidianas podem induzir a sões para o treinamento cardiorrespiratório, mesmo em desde que realizadas em pacientes com indicação para tal. Além disso, a maioria intensidades suficientes, e assim, a reabilitação formal dos profissionais reportou a existência de parâmetros poderia ser um adjuvante no condicionamento cardior- seguros para a prescrição do treinamento cardiorrespi- respiratório e possuir um caráter de conduzir as ativida- ratório especificamente para indivíduos pós-AVE, embo- des realizadas no domicilio. ra não utilize o treino rotineiramente. efeitos cardiorrespiratórios, (15) Ter Man. 2013; 11(53):373-377 Janaine Cunha Polese, Louise Ada, Giselle Silva e Faria, Patrick Avelino, Aline Alvim Scianni, Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela. 377 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. André C, Curioni CC, Cunha CB, Veras R. Progressive Decline in Stroke Mortality in Brazil from 1980 to 1982, 1990 to 1992, and 2000 to 2002. Stroke. 2006;37(11):2784-9. 2. Martins SC, Pontes-Neto OM, Alves CV, de Freitas GR, Filho JO, Tosta ED, et al. Past, present, and future of stroke in middle-income countries: the Brazilian experience. 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Nina Teixeira Fonsêca(1), Thamille Rodrigues Cavalcanti(1), Tuíra Oliveira Maia(1), Jéssica Julioti Urbano(2), Israel dos Reis dos Santos(3), Ana Candice Coêlho(4). Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), Maceió (AL), Brasil. Resumo Introdução: O ombro pode ser foco de variadas lesões: estiramento, inflamação, fibroses, lesão incompleta ou completa do manguito rotador. A alteração no ritmo escapuloumeral consequente à fadiga muscular e alteração da força dos estabilizadores da escápula vem sendo proposta como a causa mais provável de dor no ombro. A dinamometria representa uma medida de força isométrica que envolve o emprego da força sobre um objeto imóvel e através da utilização do dinamômetro escapular é possível mensurar a força dos músculos estabilizadores da escapula. Objetivo: O presente estudo destinou-se a analisar se há correlação entre a redução da força dos estabilizadores da escápula e a presença de dor no ombro. Método: Foi realizado um estudo tipo coorte transversal, com uma amostra de 60 indivíduos selecionados por conveniência, sendo 30 indivíduos com dor no ombro e 30 sem queixas de dor ou alterações no ombro. A análise estatística foi realizada no software BioStat 5.0®, utilizando-se o teste t de student e o teste G, para analisar variáveis quantitativas. Resultados: Segundo a escala visual analógica para a dor (EVA), 10% dos indivíduos do grupo com dor (GCD) apresentaram dor leve, 54% dor moderada e 36% dor grave. A média da dinamometria obtida pelo GCD foi 7,63 Kgf (± 5.43) e no grupo sem dor (GSD) de 13,56 Kgf (± 5,78). Conclusão: Através da análise dos dados relacionados no presente estudo observou-se que, na amostra estudada, há uma significante redução da força dos estabilizadores escapulares e na funcionalidade do ombro em indivíduos com dor no ombro. Palavras chaves: Articulação do Ombro, Força muscular e Dor Abstract Background: The shoulder can be the focus of many injuries: stretch, inflammation, fibrosis, incomplete or complete rotator cuff disorders. The scapulohumeral rhythm changes consequent to muscular fatigue and disorders in the strength of the scapular stabilizers, has been proposed as the most likely cause of shoulder pain. The dynamometer represents a measure of isometric strength, which involves the use of force on a static object and through the use of the scapular dynamometer can measure the strength of the muscles of the scapula stabilizers. Objective: The aim of the present study is to analyze if there are any correlation between the reduction of strength scapula stabilizers and shoulder pain. The statistic analysis was realized by BioStat 5.0® software, using the t-test and the g-test, to analyse the quantitative variables. Method: It was realized a transversal cohort study with 60 participants selected by convenience, which was 30 participants with shoulder pain and 30 participants without shoulder pain or shoulder disorders. Results: According to the visual analogic scale (VAS), 10% of the participants of the shoulder pain group had light pain, 54% had moderate pain and 36% had serious pain. The dynamometry media of shoulder pain group was 7,63 Kgf (± 5.43) and in without shoulder pain group was 13,56Kgf (± 5,78). Conclusion: After analyzed of data in this study, it was noticed that there was a significant reduction in the strength of scapula stabilizers and functionality of shoulder in people with shoulder pain. Key words: Shoulder Joint, muscular strength and pain Recebido em: 25/06/2013; Aceito em: 02/09/2013 1. Fisioterapeuta, Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), Maceió (AL), Brasil. 2. Discente do curso de Fisioterapia, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo (SP), Brasil. 3. Programa de Mestrado e Doutorado em Ciências da Reabilitação, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo, Brasil. 4. Fisioterapeuta; Docente da disciplina de Fisioterapia Osteomioarticular, Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), Maceió (AL), Brasil. Autor Correspondente: Ana Candice Coêlho - Rua Doutor Jorge de Lima, 113 – Trapiche da Barra - CEP: 57010-300 - Maceió (AL), Brasil. - Telefone: (082) 3315-7463 - e-mail: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):378-383 379 Nina T. Fonsêca, Thamille R. Cavalcanti, Tuíra O. Maia, Jéssica J. Urbano, Israel R. Santos, Ana C. Coêlho. Introdução impõem sobrecarga no ombro e que o submetem a po- O movimento adequado da escápula é considerado sições elevadas, acima de 90 graus de abdução e/ou fle- crucial para a função normal do ombro, servindo como xão. A alteração no ritmo escapuloumeral, consequen- uma base estável para a funcionalidade do membro su- te a fadiga muscular, vem sendo proposta como a causa perior e permitindo grande amplitude de movimento mais provável da dor no ombro.(7) O termo força muscular é utilizado como a habilida- desta articulação. (1) Os músculos escapulotorácicos (trapézio, serrátil de de um determinado músculo em produzir ou resistir anterior, peitoral menor e rombóide) são responsáveis a uma força. Um dos métodos de mensuração utilizado pela estabilização da escápula no tórax e fornecem uma é através da dinamometria, que representa uma medi- base de suporte estável para os músculos da articula- da de força isométrica, que envolve o emprego da força ção glenoumeral se fixarem e exercerem sua função. sobre um objeto imóvel; e através da utilização do di- Qualquer desequilíbrio no ritmo escápulotorácico vai namômetro escapular é possível mensurar a força dos (2,3) originar uma condição denominada discinesia escapular, músculos estabilizadores da escápula.(9) termo usado para descrever a falta de controle do movi- A escassez de estudos que abordem a utilização mento e posição da escápula em relação ao gradil costal do dinamômetro escapular como instrumento para ava- vista clinicamente.(4) liação objetiva da força dos estabilizadores da escápu- A classificação de discinesia escapular pelo méto- la, principalmente entre o grupo de indivíduos que apre- do subjetivo de Kibler é considerada fator standard para sentam dor no ombro, justificou a execução do presen- avaliação dos movimentos da escápula. O método con- te estudo o qual visa contribuir para pesquisas futuras siste na avaliação da escápula pelo aspecto posterior do direcionadas para a funcionalidade, prevenção de doen- tronco em repouso e durante a abdução do ombro no ças do ombro e elaboração de programas de reabilita- plano escapular. Este método classifica a escápula em ção específicos para restaurar a biomecânica correta do três tipos: - Tipo I: proeminência do ângulo inferior da ombro e da escápula. borda medial da escápula; - Tipo II - proeminência de O objetivo principal deste estudo foi analisar a pre- toda a borda medial da escápula; e Tipo III - transla- sença de correlação entre a redução da força dos esta- ção superior da escápula e proeminência da borda me- bilizadores da escápula e a presença de dor no ombro. dial superior da escápula, com presença de espasmo de trapézio.(4,5) Materiais e métodos A disfunção escapular pode ser secundária a alte- Após aprovação do comitê de ética e pesquisa da rações posturais, doenças glenoumerais ou como uma Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alago- resposta de inibição muscular a um estímulo doloroso; as (CEP/UNCISAL) sob o protocolo nº 1739, foi realiza- porém, as causas mais comuns são a falta de flexibilida- do um estudo de coorte, transversal e prospectivo, com de, fraqueza ou contratura dos músculos e/ou ligamen- uma amostra de 60 indivíduos de ambos os sexos, sele- tos do ombro.(4,6,7) cionados por conveniência, dentre os quais, 30 apresen- Outros músculos também contribuem para a esta- tavam dor no ombro e formaram o grupo com dor (GCD) bilidade do ombro, a exemplo da cabeça longa do bíceps e 30 não apresentavam queixas de dor ou alterações no braquial que varia de acordo com as posições de rotação ombro, e formaram o grupo sem dor (GSD). Os indiví- do ombro e apresenta uma maior importância quando a duos que atenderam aos critérios de inclusão e volun- articulação glenoumeral torna-se mais instável; e o del- tariamente desejaram participar do estudo, leram e as- tóide, que juntamente com os músculos do manguito ro- sinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. tador (supra-espinhoso, infra-espinhoso, subescapular e A pesquisa foi realizada na Universidade Estadual redondo menor) atua sinergicamente para produzir mo- de Ciências da Saúde de Alagoas – Ambulatório de Fi- vimentos do úmero e garantir a estabilidade da glenou- sioterapia Delza Gitaí, no período de maio de 2012 à ou- meral. Quando suas estruturas estabilizadoras não pro- tubro de 2012, vinculada ao programa interdisciplinar movem o suporte adequado pode ocorrer execução in- de reabilitação dos MMSS e terapia da mão. A amos- correta da biomecânica articular e complicações que irão tra foi definida por conveniência e os voluntários deve- afetar a eficiência do complexo do ombro.(1) riam atender aos critérios de inclusão para participar do O ombro pode ser foco de variadas lesões: estira- estudo. mento, inflamação, fibroses, lesão incompleta ou com- Os critérios de inclusão para o GCD foram: faixa pletado manguito rotador, associada ou não a degene- etária entre 18 e 65 anos, apresentar diagnóstico clini- ração articular. Dentre as causas que concorrem para o co de síndrome do impacto subacromial (SIS), positivi- desenvolvimento dos distúrbios do ombro estão: o trau- dade nos teste de Neer e Hawkins-Kennedy(10) e apre- ma, a hipovascularização e o impacto subacromial. sentar dor no ombro por no mínimo 3 meses. O GSD (8) O relato de dor é frequente em indivíduos que uti- foi composto por indivíduos da mesma faixa etária, que lizam o membro superior em atividades repetitivas, que aceitaram participar do estudo voluntariamente e não Ter Man. 2013; 11(53):378-383 380 Análise da força dos músculos estabilizadores da escápula. apresentaram doença ou alterações nos membros su- A média da dinamometria escapular encontrada no periores. GCD foi de 12,16 Kgf (±7,97) nos homens e 6,89 Kgf (± Foram excluídos da pesquisa pessoas que se sub- 4,37) nas mulheres. Já no GSD, a média da dinamome- meteram a cirurgia no ombro ou que apresentassem re- tria escapular encontrada nos homens foi de 24,20 Kgf sultados positivos de ruptura do manguito rotador. (± 7,16) e nas mulheres foi de 12,50 Kgf(± 3,64). (fi- Os indivíduos foram avaliados, por um único ava- gura 2). No GCD, seis pessoas não conseguiram atingir liador e em única etapa, seguindo um protocolo de ava- a força de 5 Kgf, que é a menor medida estimada pelo liação básica composta por: Anamnese, inspeção e pal- dinamômetro escapular.Na realização do teste t de Stu- pação da cintura escapular; execução dos testes clínicos dent, com os dados da dinamometria escapular do GCD de Neer e Hawkins-Kennedy,(10) aplicação da Escala Vi- e GSD, foi observado que há uma correlação estatisti- sual Analógica de dor (EVA),(11) análise da presença de camente significante (p = 0,0001), representando que o discinesia escapular pelo método de classificação subje- GSD apresenta uma força estatisticamente significante tivo de Kibler(4) e investigação do arco doloroso de Sim- maior do que o GCD. monds, durante a abdução ativa do ombro. Os testes de Neer e Hawkins-Kennedy foram reali- A análise da funcionalidade do ombro foi realizada zados em ambos os grupos, a fim de confirmar presença através do University of California at Los Angeles Shoul- ou ausência de impactação. Na realização dos testes no der Rating Scale (UCLA) adaptado, composto por cinco GCD, 47% dos indivíduos apresentaram positividade so- domínios: dor, função, amplitude de flexão anterior ativa, teste de força manual para flexão anterior e satisfação do paciente; a qual apresenta pontuação mínima igual a 0 e máxima igual a 35, sendo que quanto maior o somatório, maior a funcionalidade do indivíduo.(12,13) Para avaliação objetiva da força dos músculos escapulares utilizou-se o dinamômetro escapular hidráulico de 50kgf Crown direita-esquerda, sendo o sujeito da pesquisa posicionado em pé com abdução de ombro, inferior a 90°, flexão de cotovelo, antebraço em posição neutra, punho com uma leve extensão, o polegar e os dedos tocavam a empunhadura e ao comando do examinador executava-se uma retração da escápula, ao tracionar a empunhadura para as laterais (figura 1). A dinamome- Figura 1. Posição para realização da dinamometria escapular. tria escapular foi realizada em três tentativas, sendo des- Fonte: Dados do autor. cartadas as duas medidas menores e tomando-se como valor de referência a maior aferição (melhor de três). Os dados coletados nesta pesquisa foram tabulados no software Microsoft Office Excel® 2007 e a análise estatística foi realizada no software BioStat 5.0®, utilizando-se o teste t de student e o teste G, para analisar variáveis quantitativas. Resultados O GCD foi composto por 20% de homens com idade média de 43,16 anos (± 11,77) e 80% de mulheres com idade média de 48,66 anos (± 10,64); e o GSD composto por 13% de homens com idade média de 28,5 anos(± Figura 2. Análise da variação da força por meio da dinamometria escapular. 10,84)e 87% de mulheres com idade média de 25,65 anos (± 7,74). (tabela 1) Fonte: Dados da pesquisa. Tabela 1. Perfil da amostra. Grupo com dor (GCD) Masculino Feminino Masculino Feminino 6 24 4 26 43,16± 11,77 48,66± 10,64 28,5± 10,84 25,65± 7,74 Número de indivíduos Idade (M/DP) Legenda: M – Média. DP – Desvio padrão. Fonte: Dados da pesquisa Ter Man. 2013; 11(53):378-383 Grupo sem dor (GSD) 381 Nina T. Fonsêca, Thamille R. Cavalcanti, Tuíra O. Maia, Jéssica J. Urbano, Israel R. Santos, Ana C. Coêlho. mente no membro superior direito e 36% dos indivíduos apresentaram positividade somente no membro superior esquerdo. Dentre os trinta indivíduos avaliados do GCD, 17% apresentaram positividade nos teste de Neer e Hawkins-Kennedy bilateralmente. Quanto a classificação de discinesia escapular de Kibler no GCD, 17% dos indivíduos apresentou Kibler tipo III, enquanto que os demais indivíduos, 83%, apresentaram ausência de discinesia escapular segundo o método de Kibler. No GCD, quinze pessoas apresentaram arco doloroso na articulação glenoumeral unilateralmente, enquanto que nove apresentaram arco doloroso nesta mesma Figura 3. Funcionalidade do ombro por meio da UCLA. articulação bilateralmente. Duas pessoas apresentaram Fonte: Dados da pesquisa. arco doloroso na articulação acromioclavicular unilateralmente, enquanto três apresentaram bilateralmente. e a aplicação da EVA, 10% dos indivíduos apresentaram Um indivíduo apresentou simultaneamente arco doloro- de dor leve, 54% de dor moderada e 36% dor grave. so na articulação glenoumeral direita e na articulação acromioclavicular esquerda. A dor no ombro é frequente na população em geral. Um estudo relatou que a dor no ombro ou desordens es- A EVA classificada em leve, moderada e grave, pecíficas como lesões de manguito rotador ou tendinites tendo com caracterização numérica: (1) para dor leve no ombro são frequentes, principalmente em trabalha- entre 0 e 3 cm, (2) moderada entre 3 e 8 cm e (3) grave dores industriais, vendedores, caixas de supermercados entre 9 e 10 cm. No GCD, 10% dos indivíduos apresen- e indivíduos que realizem atividades repetitivas. Outros taram dor leve, 54% dor moderada e 36% indivíduos estudos investigaram a presença de dor no ombro em apresentaram dor grave. enfermeiras e funcionários de escritório. Ambos os estu- Os resultados da UCLA foram analisados através do dos relataram que os fatores de risco para a presença de somatório de seus domínios. No GCD foi observado que dor no ombro são a utilização do braço acima da linha do 74% dos indivíduos apresentaram uma funcionalidade ombro, atividades que vibrem o ombro e a mão, movi- ruim e 26% indivíduos apresentaram funcionalidade ra- mentos repetitivos de puxar e empurrar e carregamento zoável, enquanto que no GSD 80% dos indivíduos apre- de objetos sustentados pelos ombros.(14,15,16) sentaram funcionalidade excelente, 17% dos indivídu- A cintura escapular é uma estrutura anatômica ex- os apresentaram um valor de funcionalidade bom e so- tremamente móvel e, por isso, depende de modo espe- mente 3%dos indivíduos apresentou funcionalidade ra- cial de forças musculares para sua estabilização. Assim, zoável. (figura 3). Ao correlacionar estatisticamente os suas alterações estão relacionadas, principalmente, a valores de funcionalidade do GCD e do GSD, através do desequilíbrios musculares, que podem gerar alterações teste G,foi percebido um nível de significância importan- no seu posicionamento e na amplitude de movimento te com p < 0,0001, demonstrando que o GCD apresen- dos membros superiores, principalmente devido à dimi- tou menor funcionalidade em comparação ao GSD. nuição de força muscular (fraqueza), e/ou encurtamento muscular dos músculos da cintura escapular.(17) Discussão A força muscular é um importante componente de O presente estudo se propôs a analisar, de forma aptidão física relacionada à saúde. O conhecimento pre- objetiva, a força dos músculos estabilizadores escapula- ciso do nível de força muscular do indivíduo é impor- res em indivíduos com dor no ombro. Os resultados de- tante, tanto para a avaliação da capacidade funcional monstraram que os indivíduos que têm dor no ombro ocupacional como para uma apropriada prescrição de apresentam significante redução da força dos estabiliza- exercícios de reabilitação.(18) A força muscular pode ser dores escapulares, além de uma diminuição evidente de mensurada de forma subjetiva através da prova de fun- funcionalidade nos membros superiores em comparação ção muscular, que se baseia no exame de um movimen- a indivíduos sem queixas de dor no ombro. to segundo a palpação da contração muscular, na ve- A dor no ombro é o 3° distúrbio músculo-esqueléti- rificação da amplitude de movimento e na capacidade co mais comum, após as queixas álgicas em região lom- do segmento móvel em opor-se às forças da gravida- bar e joelho. A prevalência total varia de 14% a 21% e de e manual.(19) Entretanto, a dinamometria mensura a cerca de 18% dos pagamentos de seguro de invalidez força de forma objetiva, fornecendo um valor numérico feito para dor musculoesquelética podem ser atribuídos e de maior confiabilidade, por não ser um teste exami- aos pacientes com distúrbios cervicais e do ombro.(13) No nador dependente. No presente estudo, a força dos es- presente estudo foram avaliados 30 indivíduos no GCD tabilizadores escapulares foi avaliada através da dina- Ter Man. 2013; 11(53):378-383 382 Análise da força dos músculos estabilizadores da escápula. mometria escapular e através da prova de função mus- os que apresentem alterações no ombro, principalmen- cular na flexão anterior do ombro, que consta nos do- te antes e após alguma intervenção cirúrgica ou trata- mínios da UCLA. mento fisioterápico, a fim de avaliar a melhora ou piora Atualmente, não existem valores normativos para da funcionalidade após a intervenção. Neste estudo, a dinamometria escapular, devido à escassez de estudos UCLA foi utilizada de forma pontual, no momento da com o dinamômetro escapular. Esta pesquisa demons- avaliação, para avaliar a funcionalidade do individuo que trou que há significância estatística quanto à diferença sente dor no ombro e compará-la com a funcionalidade de força em indivíduos que apresentam dor no ombro e de indivíduos que não sentem dor no ombro. Como foi indivíduos que não apresentam. descrito nos resultados, houve uma importante signifi- Um estudo se propôs a analisar a correlação entre os testes dinamométricos de preensão manual, escapu- cância (p < 0,0001) quanto à redução da funcionalidade entre os indivíduos que apresentam dor no ombro.(20,21) lar e lombar em 201 indivíduos saudáveis de uma faculdade em Santa Catarina, que relatava a importância Conclusão de pesquisas com o dinamômetro escapular, a fim de se Através da análise dos dados relacionados, no pre- obterem valores normativos, constatou a superiorida- sente estudo, observou-se que na amostra estudada há de na força dos indivíduos do sexo masculino em rela- uma significante redução da força dos estabilizadores ção aos do sexo feminino, corroborando com os achados escapulares e funcionalidade do ombro em indivíduos do presente estudo, onde foi observado que a superio- com dor no ombro. ridade da força dos estabilizadores escapulares em in- O presente estudo atingiu o objetivo proposto e divíduos do sexo masculino em relação ao sexo femini- acrescentou conhecimento na área da dinamometria es- no existe tanto na presença quanto na ausência de dor capular, entretanto ainda se fazem necessários novos no ombro.(9) estudos, com um maior número de indivíduos e que Atualmente, a UCLA tem sido utilizada para avaliar a funcionalidade, de uma forma geral, em indivídu- busquem a instituição de valores de normalidade para a dinamometria escapular. 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Resumo Introdução: A dança contemporânea é uma coleção de sistemas e métodos desenvolvidos da dança moderna e pósmoderna, onde o corpo em movimento estabelece sua própria dramaturgia, musicalidade e história, criando outro tipo de vocabulário e sintaxe. Objetivo: Verificar a influência da prática regular de Dança Contemporânea sobre a postura corporal. Método: Fizeram parte desta pesquisa cinco universitários, componentes do Grupo Corpore de Dança Contemporânea, com idade entre 18 e 25 anos. Todos foram avaliados e reavaliados após 6 meses da prática regular de dança. Em uma sala privada, os participantes foram fotografados em posição ortostática em vista anterior, perfis direito e esquerdo, flexão anterior de tronco em vista anterior e em perfil esquerdo. A avaliação postural computadorizada foi feita através do programa Posturograma 3.0. A análise estatística através do software SPSS 17.0foi utilizada para comparar os valores das variáveis posturais da avaliação com os da reavaliação (teste de Wilcoxon, p<0,05).Resultados:Tanto na avaliação quanto na reavaliação, a maioria dos praticantes apresentou desequilíbrios associados à presença de postura escoliótica, todos os indivíduos apresentaram projeção anterior da cabeça eombros, rotação de cabeça, de tronco e de pelve,todas predominantemente para a esquerda. Após 6 meses de prática regular de dança houve aumento da distância do acrômio esquerdo ao fio de prumo (p=0,043) e aumento do índice plantar do pé direito (p=0,043).Conclusão:A prática regular da dança diminuiu a rotação de tronco para a esquerda e aumentou a área de contato dos pés com o solo. Palavras-chaves: postura,dança, escoliose. Abstract Introduction: Contemporary dance is a collection of systems and methods developed from modern and post modern dance. It is where the body sets in motion his drama, musicality and story, creating another type of vocabulary and syntax. Objective: To investigate the influence of contemporary dance on the body posture. Method: The sampled consisted of five university components of the Group Corpore Contemporary Dance group, aged between 18 and 25 years. All were assessed and reassessed after 6 months of regular dance. In a private room, participants were photographed standing erect in front view, the left and right profiles, anterior trunk in frontal and in left profile. Postural assessment scan was done through the Posturograma 3.0 program. A statistical analysis using SPSS 17.0 software was used to compare the values of variables postural assessment with the revaluation (Wilcoxon test, p<0.05). Results: Both in the assessment and the reassessment, most practitioners presented imbalances associated with the presence of scoliosis posture, all subjects had anterior protrusion of the head and shoulders, rotating head, torso and pelvis, all predominantly to the left. After 6 months of regular practice dance was increasing distance from the left acromion to the plumb line (p=0.043) and increased plantar right foot index (p=0.043). Conclusion: The regular practice of dance decreased trunk rotation to the left and increased the contact area of the foot with the ground. Keywords: posture, dance, scoliosis. Recebido em: 24/06/2013; Aceito em: 03/09/2013 1. Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Goiás, Campus de Jataí, Jataí (GO), Brasil. 2. Fisioterapeuta;Doutora em Neurociências, Docente da Universidade Federal de Goiás (UFG), Campus de Jataí, Jataí(GO), Brasil. Autor para correspondência: Jefferson Rodrigues Soares - Rua 30, Quadra 67, Lote 18, Bairro JK Nova Capital, Anápolis, GO, Brasil. Telefone: (64) 8105-7832. Email: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):384-388 385 Jefferson Rodrigues Soares, Daniel Miyazaki Namba, Ítalo Dany Cavalcante Galo, Taís Malysz. Introdução e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo Desde a antiguidade, o homem sempre buscou se Seres Humanos, constantes da Resolução do Conselho comunicar e repassar ações através do seu corpo. De- Nacional de Saúde 196/96 e Declaração de Helsinky de senvolveu-se na dança um meio de comunicação, de 1975, revisada em 2000. Os indivíduos concordaram em manifestação cultural, social e educativa.(1) Hoje já se participar da pesquisa através da assinatura do termo sabe que, além do aspecto estético dos movimentos, de Consentimento livre e esclarecido e realizaram pelo a dança requer muito desempenho físico por parte dos menos dois ensaios semanais de 2 h cada, por no míni- praticantes tornando necessário um equilíbrio adequado mo um ano e meio. Todos foram avaliados e reavaliados entre força e flexibilidade.(2,3) após 6 meses da prática regular de dança. Na avaliação A prática da dança pode acarretar diversos benefí- a idade do grupo foi de 20,8±2,77anos, Índice de Massa cios à saúde, quando for executada corretamente. Mas Corpórea (IMC) de 19,43±2,32 Kg/m2 e tempo de prá- também a dança pode se tornar um agente patológico tica da atividade de 26,4±10,89 meses. Na reavaliação sobre o aparelho locomotor quando excedemos os limi- o IMC foi de 19,21±2,06 Kg/m2. tes corporais, sobrecarregando os músculos, ossos, tendões e articulações.(1,2) A avaliação e reavaliação foram realizadas através da análise fotográfica pelo software Posturograma 3.0. A A dança contemporânea é uma coleção de sistemas aquisição de imagens para a avaliação postural foi realiza- e métodos desenvolvidos da dança moderna e pós-mo- da em uma sala privada do Laboratório de Anatomia Hu- derna onde o corpo em movimento estabelece sua pró- mana da UFG - Campus Jataí, com os indivíduos em traje pria dramaturgia, musicalidade e história, criando outro de ginástica. Foram obtidas 6 fotos digitalizadas (Sony® tipo de vocabulário e sintaxe.(4) Além do aspecto esté- Cyber-shot DSC-N1), no formato de 640x480 pixels que tico dos movimentos, a dança requer muito desempe- permitiram avaliar a face ventral e dorsal, perfil direito, nho físico por parte dos praticantes tornando necessário perfil esquerdo, flexão anterior (vista face ventral) e fle- um equilíbrio adequado entre força e flexibilidade. Este xão anterior (vista face perfil). Foram usadas etiquetas equilíbrio está associado à postura corporal ideal a qual adesivas de 5 mm de raio para marcação dos pontos ana- corresponde a um estado de bom alinhamento e equi- tômicos e para escala em medições do programa, réguas líbrio musculoesquelético que protege as estruturas de de 10 cm de comprimento foram fixadas no indivíduo. sustentação do corpo em relação a lesões ou deformida- O encurtamento de cadeia muscular posterior foi de progressiva, tanto no repouso quanto nas atividades detectado quando a distância da espinha ilíaca póste- corporais dinâmicas.(5) ro-superior (EIPS) ao solo foi maior que a distância do Uma avaliação postural tem por objetivo visuali- ápice da curvatura torácica (ACT) ao solo. A avaliação zar e determinar os desalinhamentos corporais e pode observacional dos joelhos foi realizada segundo Bien- também ser utilizado para testar a eficácia de diferen- fait(10) e Santos(11) e a do arco longitudinal plantar foi re- tes atividades físicas sobre os desalinhamentos e para alizada pela análise da impressão plantar dos pés de promover a prevenção de problemas causados inicial- cada atleta, utilizando um Pedígrafo (SalvaPé) e a aná- mente pela má postura.(6-9) Dessa forma, trabalhos com lise foi feita pelo Índice de Chipaux – Smirak (ICS).(12) este foco são relevantes no sentido de verificar de forma A análise estatística foi realizada com o softwa- quantitativa as alterações posturais de praticantes re- re SPSS® for Windows 17.0. Os dados foram apresen- gulares de dança, embasando desta forma alterações tados por meio de estatística descritiva (percentual e por ventura necessárias em protocolos de treinamen- média±erro padrão da média). Padronizou-se utilizar o to e correlacionando as mesmas com lesões caracterís- valor negativo para indicar desvios da cabeça para o lado ticas da dança. esquerdo e positivo para indicar desvio para o lado direi- Desta forma o objetivo deste estudo foi verificar, to. Utilizou-se o teste de Wilcoxon (p<0,05) para com- através de avaliação postural computadorizada, os efei- parar as mesmas variáveis posturais obtidas na avalia- tos da prática regular de Dança Contemporânea dos ção e na reavaliação.As variáveis analisadas foram dis- componentes do Grupo Corpore da Universidade Federal tância do acrômio direito e esquerdo ao solo, distância de Goiás sobre as alterações posturais decorrentes da das espinhas ilíacas antero-superiores (EIAS) ao solo, prática regular da dança. desvio da glabela, largura dos triângulos do Talhe, distâncias dos tragos e acrômios ao fio de prumo, distân- Métodos cia do ápice da curvatura lombar até a linha posterior, Fizeram parte desta pesquisa os cinco universitá- distâncias das EIAS à linha posterior, distância do occi- rios componentes do Grupo Corpore de Dança Contem- pital à linha posterior, índice plantar direito e esquerdo. porânea da UFG– Campus Jataí sendo 3 do sexo feminino e 2 do sexo masculino. Este estudo foi aprovado pelo Resultados Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de A maioria dos praticantes de dança contemporânea Goiás sob o protocolo 290/2010, segundo as Diretrizes apresentou desequilíbrios associados à presença de pos- Ter Man. 2013; 11(53):384-388 386 Prática da dança na postura corporal. tura escoliótica, tanto na avaliação quanto na reavalia- meiro indivíduo não tocou os dedos V direito e esquer- ção. Quanto à gibosidade, somente um indivíduo apre- do no solo e o restante dos indivíduos tocaram todos os sentou tal alteração em ambas as avaliações posturais. dedos no solo. Na avaliação e na reavaliação todos os indivíduos apresentaram projeção anterior cefálica, projeção anterior de ombros, rotação cefálica, de tronco e pélvica, predominantemente para a esquerda (Tabela 01). Discussão A maioria dos praticantes de dança contemporânea apresentou postura escoliótica sema presença de gibosi- Com a análise estatística dos dados, comparando dade. A presença da gibosidade torácica em associação os dados da avaliação com os da reavaliação, foi pos- a desequilíbrios laterais é característica da escoliose.(13) sível identificar diferença estatisticamente significativa No nosso estudo houve variações entre desvios corpo- entre as distâncias do acrômio esquerdo ao fio de prumo rais laterais ao compararmos os dados da avaliação com e também entre os índices plantares do pé direito (Tabe- os da reavaliação. Acreditamos que esta variabilidade la 01; Figura 01). As outras variáveis não apresentaram de posicionamento tenha ocorrido devido à não estru- diferenças significativas. turação/estabilização da curvatura escoliótica na maio- Em relação à avaliação e reavaliação dos joelhos ria dos indivíduos.Corroborando com os nossos resulta- no plano sagital, todos apresentaram normalidade em ambos os joelhos. Entretanto, no plano anterior, 2 indivíduos apresentaram joelho varo tanto na avaliação quanto na reavaliação. No momento da avaliação, um indivíduo apresentou pés cavos e outro apresentou o pé direito intermediário e o pé esquerdo normal, os outros apresentaram pés normais. Na reavaliação, um indivíduo com o pé direito normal e o esquerdo cavo, dois com o pé direito intermediário e esquerdo normal e outros dois com pés intermediários. Além disso, na análise da marca do pé foi verificado que, na avaliação, dois indivíduos não tocaram todos os dedos no solo, sendo que um não tocou os dedos II ao V direitos e os dedos IV e V esquerdos e outro não tocou o dedo VI e V direito e o dedo V esquerdo. Na reavaliação somente o pri- Figura 01. Gráfico representando as médias dos índices plantares do lado direito (D) e esquerdo (E) na avaliação e na reavaliação.* p<0,05 vs reavaliação. Tabela 01. Tabela demonstrativa das variáveis posturais (média ± erro padrão da média) na avaliação e reavaliação dos indivíduos praticantes de dança contemporânea. Variáveis posturais Avaliação Reavaliação P Distância do acrômio direito ao solo 135,6±3,66 135,6±4,03 1 Distância do acrômio esquerdo ao solo 135,4±3,81 135,6±4,11 0,78 Distância do EIAS direita ao solo 95±2,81 94,8±2,88 1 Distância do EIAS esquerda ao solo 95±2,91 95,2±3,39 1 -0,94±0,85 0,43±0,91 0,225 2,5±0,21 2,8±0,33 0,138 Desvio da glabela Distância do Triângulo do Talhe direito Distância do Triângulo do Talhe esquerdo 3,14±0,34 3,45±0,27 0,345 Distância do trago direito ao prumo 14,0±0,82 13,5±0,87 0,5 Distância do trago esquerdo ao prumo 13,2±0,94 13,67±1,09 0,225 Distância do acrômio direito ao prumo 12,18±0,48 11,8±0,61 0,686 Distância do acrômio esquerdo ao prumo 9,87±0,9 11,58±0,65 0,043* 6,74±0,36 6,82±0,48 0,893 Distância da EIAS direita a linha posterior 20,84±0,63 20,8±0,73 1 Distância da EIAS esquerda a linha posterior 19,97±0,39 21,9±0,81 0,225 4,55±0,86 2,63±0,75 0,08 Distância da lordose lombar a linha posterior Distância do occipital a linha posterior Índice Plantar Direito 0,179±0,049 0,275±0,039 0,043* Índice Plantar Esquerdo 0,169±0,049 0,236±0,059 0,066 * p<0,05 vs reavaliação Ter Man. 2013; 11(53):384-388 387 Jefferson Rodrigues Soares, Daniel Miyazaki Namba, Ítalo Dany Cavalcante Galo, Taís Malysz. dos a maioria das bailarinas de Jazz(14) também apresen- A flexibilidade, que aperfeiçoa o aprimoramento de mo- tou postura escoliótica, assim como a maioria dos nada- vimentos corporais, é tida como necessária para a práti- dores do sexo masculino e feminino,(15,16) dos praticantes ca da dança e, considerando os resultados deste estudo, regulares de musculação(17,18), de praticantes de atletis- deve ser mais estimulada nos ensaios. Neste estudo dois mo(19), de futebol de campo(20) e de Taekwondo(21) indivíduos apresentaram joelhos varos tanto na avaliação Todos os indivíduos avaliados apresentaram proje- quanto na reavaliação. Este tipo de alteração geralmente ção anterior da cabeça e de ombros em relação ao fio de é uma deformidade mais relativa à tíbia, sendo uma al- prumo. Na anteriorização cefálica os músculos extenso- teração situada costumeiramente sob a epífise proximal, res de pescoço ficam em posição forte e encurtada, com relacionado à cartilagem de conjugação.(10) grande tendência de desenvolvimento do encurtamento De acordo com Prati e Prati,(2) bailarinas apresentam tam- uma tendência à hiperextensão de joelho. Diferente dos bém descrita por outros autores.(15, 17-21, 23) Os desequilí- resultados encontrados nesse estudo, onde nenhum dos brios de cintura escapular com projeção anterior de om- integrantes do grupo apresentou tal alteração nos joe- bros por retração da musculatura tônica anterior e fra- lhos. De acordo com o estudo de Lessa et al(14) bailarinas queza da musculatura escapular posterior é praticamen- de jazz apresentam joelhos normais assim como a maio- te comum na maioria dos indivíduos(10,23) e pode estar ria dos praticantes de dança avaliados neste estudo. adaptativo destes músculos e postura cifótica, (22) associado com vícios posturais e maior solicitação da musculatura anterior em atividades de vida diária. Os resultados dos índices plantares e do contato dos dedos com o solo evidenciaram que, com a práti- Houve grande incidência de rotação cefálica, de ca da dança houve um aumento da área de contato com ombros e de pelve para a esquerda nos praticantes de pé com o solo. Acreditamos que este aumento esteja dança neste estudo. De acordo com Santos,(11) as rota- promovendo uma melhor adaptação do mesmo e uma ções correspondem ao desvio horizontal dos segmen- maior base de sustentação para a realização dos movi- tos com anteriorização maior de pontos anatômicos lo- mentos da dança. calizados no lado direito. Este pode ser um padrão pos- Os resultados dos índices plantares dos pés direi- (22) tural associado à lateralidade destra dos indivíduos. to e esquerdo e do contato dos dedos com o solo, na Corroborando com os nossos resultados, Barcellos e Im- avaliação e reavaliação evidenciaram que, coma prática biriba(24) mostraram que bailarinas possuem tendência da dança houve um aumento da área de contato do pé a apresentar alterações na pelve. A inclinação e rota- com o solo. Considerando que indivíduos com arco plan- ção de tronco/pelve predominantemente para a esquer- tar normal apresentam um melhor equilíbrio que os in- da em atletas, assim como em nosso estudo, também já divíduos com pés planos ou cavos.(10,26) Acreditamos que foi descrita por outros autores. este aumento da área de contato dos pés com o solo es- (16,19,21,23) Neste trabalho verificou-se um aumento significa- teja promovendo uma melhor adaptação do mesmo e tivo da distância do acrômio esquerdo ao fio de prumo maior base de sustentação para a realização dos movi- após seis meses de prática de dança contemporânea, o mentos da dança. qual proporcionou uma menor diferença entre as dis- Em conclusão, a maioria dos praticantes de dança tâncias bilaterais do acrômio ao fio de prumo na rea- contemporânea apresentou postura escoliótica sem a valiação. Desta forma este resultado estaria indicando presença de gibosidade, rotação de cabeça, tronco e uma menor rotação de tronco para a esquerda após seis pelve para a esquerda,encurtamento da cadeia muscu- meses de prática de dança contemporânea e com isso lar posterior, joelhos normais e pés com arco plantar uma melhora no equilíbrio corporal com a prática regu- normal.Todos os indivíduos apresentaram projeção an- lar da mesma. terior cefálica, projeção anterior de ombros,rotação ce- A maioria dos praticantes de dança deste estudo fálica, rotação de tronco e rotação pélvica. Os resultados apresentou encurtamento muscular da cadeia posterior, indicaram que a prática regular da dança diminuiu a ro- que está relacionada a alterações no posicionamento dos tação de tronco para a esquerda e aumentou a área de joelhos e dos pés,(25) também encontradas neste estudo. contato dos pés com o solo. Referências 1. Melo SIL, Simas JPN. Padrão postural de bailarinas clássicas. 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Objetivo: Avaliar a ativação dos músculos iliocostais direito e esquerdo (L2-L3), e multífidos direito e esquerdo (L4-L5) durante contrações isométricas de intensidades correspondentes a 5%, 10%, 15% e 20% da contração isométrica voluntária máxima (CIVM). Método: Participaram do estudo nove voluntários do gênero masculino e saudáveis que realizaram a extensão do tronco na postura decúbito ventral. Resultados: Demonstraram uma ativação predominantemente similar dos diferentes músculos avaliados, não havendo diferença entre músculos localizados em níveis mais altos e mais baixos da coluna lombar, nem entre músculos localizados do lado direito e esquerdo. Conclusão: Desse modo, o presente estudo aponta para a existência de uma solicitação similar dos músculos iliocostal e multífido durante contrações musculares em intensidades de 5% a 20% da CIVM. Recomenda-se a reprodução deste estudo nas presentes condições experimentais para verificar os efeitos de contrações superiores a 20% da CIVM. Palavras-chave: Coluna vertebral; Contração isométrica; Eletromiografia; Abstract Introduction: The isometric contraction of the erector spinae muscle is an important therapeutic resource for the rehabilitation of back troubles. Objective: The purpose of this study was to assess the activation of the right and left iliocostalis and multifidus muscles during isometric contractions corresponding to 5%, 10%, 15% and 20% of maximal isometric voluntary contraction (MIVC). Method: Nine male and healthy volunteers performed the trunk extension in prone position. Results: The results showed a predominantly similar activation of the different muscles assessed in different efforts, there was no difference between muscles localized at higher and lower levels of low back and also between right and left side muscles. Conclusion: Thereby, the present study points to an existence of a similar request of iliocostalis and multifidus muscles during contractions from 5% to 20% of the MIVC. It is recommended the reproduction of this study in the same experimental condition, but using efforts above of 20% of the MIVC to verify the effects. Key words: Spine; Isometric contraction; Electromyography Recebido em ___________________ 1. Departamento de Ciências da Educação (DECED), Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Campus de Ariquemes, Ariquemes (RO), Brasil. 2. Departamento de Educação Física, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus Rio Claro, Rio Claro (SP), Brasil. Endereço para contato: Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Campus de Ariquemes. Avenida Tancredo Neves, 3450. Setor Institucional. Ariquemes, RO. CEP: 76.872-862. Telefone: (69) 3535-3563. E-mail: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):389-394 390 INTRODUÇÃO Atividade eletromiográfica de músculos lombares. cido de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Na- O exercício como recurso terapêutico para a pre- cional de Saúde contendo informações relacionadas com venção e tratamento das disfunções da coluna lombar os testes aos quais os voluntários seriam submetidos tem recebido muita atenção na última década,(1,2) sendo e assegurando também a sua privacidade. O presente sua utilização justificada por estudos que demonstraram estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa que a baixa força e resistência isométrica dos músculos da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de eretores da espinha(3,4) estão relacionadas com o com- Rio Claro, sob o protocolo 002777, segundo as Diretri- prometimento da integridade física e funcional da colu- zes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolven- na vertebral.(3,4,5) do Seres Humanos, constantes da Resolução do Conse- A fadiga muscular em particular, definida como a incapacidade do sistema músculo-esquelético de gerar lho Nacional de Saúde 196/96 e Declaração de Helsinky de 1975, revisada em 2000. força ou realizar trabalho,(7) tem demonstrado ser um Para a determinação da CIVM assim como para as importante fator etiológico para o desenvolvimento da contrações submáximas os voluntários foram posiciona- dor lombar. Segundo alguns autores(5,7,8) os tecidos pas- dos em decúbito ventral sobre uma mesa de teste (Fi- sivos (cápsulas, ligamentos e discos intervertebrais) da gura 1). coluna vertebral passam a ser sobrecarregados após os O teste consistiu na extensão isométrica da coluna elementos ativos (músculos) tornarem-se menos efeti- vertebral tracionando uma célula de carga (Kratos 200 vos como conseqüência da fadiga muscular. Em adição, Kg, Kratos Dinamômetros LTDA., São Paulo, SP) fixa a alguns estudos demonstraram que após um episódio de um colete utilizado pelos voluntários em uma extremi- dor lombar, ocorre rápida atrofia dos músculos eretores dade e a base da mesa de teste na outra extremida- da espinha da região lombar que persiste mesmo após de. A célula de carga foi acoplada a um indicador di- a resolução dos sintomas,(9,10) o que coloca em risco de gital (Kratos IK 14A, Kratos Dinamômetros LTDA., São recorrência o paciente com alta para retomar suas ativi- Paulo, SP, Brasil), o qual permitiu aos voluntários con- dades diárias mesmo quando houve remissão dos sinto- trolarem a intensidade da contração no momento dos mas. Com exercícios de extensão do tronco a atrofia de esforços submáximos. Durante a realização dos esfor- músculos lombares é reversível e as chances de recor- ços, o tronco do voluntário foi mantido em postura neu- rência da dor lombar são minimizadas.(3,11) tra por meio de feedback oferecido por contato com su- Como alternativa de postura para a realização de portes posicionados lateralmente no tronco e sobre as exercícios de extensão do tronco destaca-se o decúbi- escápulas para inibir a rotação e inclinação lateral da co- to ventral.(12) Essa postura tem sido comumente consi- luna vertebral respectivamente. Com o objetivo de for- derada para essa finalidade por oferecer uma possibili- necer maior estabilidade aos voluntários, cinco cintos de dade de baixo custo na qual a massa do tronco é utiliza- segurança foram posicionados sobre as regiões do qua- da como resistência. dril, joelho e tornozelo assim como no terço médio das Contudo, o número de estudos realizados com ob- coxas e pernas. jetivo de avaliar o padrão de ativação de músculos lom- A CIVM de cada voluntário foi determinada em um bares durante a realização desse tipo exercício é bas- dia antes do teste. Nesse dia, na postura padronizada tante limitado. Usualmente, apenas um nível vertebral para o estudo, os voluntários realizaram três CIVM com é avaliado e o efeito das contrações cujas intensidades duração de cinco segundos e intervalo de cinco minutos ultrapassam aquela necessária apenas para suportar o entre cada uma delas. A CIVM foi determinada a partir tronco é pouco conhecido. da média dos três valores correspondentes a força de Considerando essas informações, o objetivo do tração na célula de carga. presente estudo foi avaliar as características da ativação de músculos localizados em diferentes níveis da coluna lombar durante a extensão isométrica do tronco em diferentes intensidades da contração isométrica voluntária máxima (CIVM). MÉTODO Participaram do presente estudo nove voluntários do gênero masculino, saudáveis, sem história de dor lombar nas quatro semanas que antecederam o estudo(9) e com as seguintes características demográficas: idade 22.55±1.87 anos, estatura 175.16±5.61 cm e massa corpórea 73.77±11.32 kg. Todos os voluntários assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclare- Ter Man. 2013; 11(53):389-394 Figura 1. Postura e estação de teste utilizada no estudo. A: mesa de teste; B: cintos de segurança; C: limitadores de movimento; D: colete; E: célula de carga; F: indicador digital. 391 Fernando Sérgio Silva Barbosa, Mauro Gonçalves. Em outros quatro dias de teste, com intervalo de no mínimo 24 horas e no máximo de 72 horas entre de amostragem de 1000 Hz (Aqdados 4, Lynx Tecnologia Eletrônica LTDA., São Paulo, SP, Brasil). cada dia, foram realizadas contrações até a exaustão do O sinal EMG foi analisado por meio de rotinas es- voluntário nas intensidades de contração de 5%, 10%, pecíficas desenvolvidas em ambiente MATLAB (The Math 15% e 20% da CIVM. Esses percentuais de contração Works Inc, Natick, MA, Estados Unidos), a partir das foram obtidos em estudo piloto que demonstrou que os quais foram obtidos valores de root mean square (RMS) voluntários seriam capazes de mantê-los no mínimo um de intervalos de tempo de 1 segundo de duração, a cada minuto na posição estabelecida para o teste. A exaustão 0.5 segundo. do voluntário foi definida como o abaixamento do tronco Para analisar a amplitude do sinal EMG, os três pri- pela impossibilidade de continuar mantendo a postura meiros valores de RMS foram normalizados em relação à padronizada para os esforços submáximos ou a variação CIVM de maior intensidade realizada no primeiro dia de da força de tração na célula de carga maior do que 1 kg. teste. Em seguida foi realizada a média desses valores, A atividade eletromiográfica (EMG) bilateral dos a qual representou a ativação de cada músculo avaliado músculos lombares foi registrada continuamente por necessária para a realização das contrações submáximas. meio de eletrodos de superfície bipolares passivos de Ag/ Esse procedimento minimizou possíveis interfe- AgCl (Medi Trace, Kendal, Chicopee, MA, Estados Unidos) rências da fadiga muscular no padrão de ativação ao posicionados sobre os níveis de L2-L3 (iliocostal) desloca- mesmo tempo em que permitiu a comparação entre os dos 6 cm lateralmente, e L4-L5 (multífido) deslocados 3 músculos estudados. cm lateralmente.(13,14) A distância entre os eletrodos foi de A normalidade dos dados foi testada por meio do 3 cm centro a centro (Figura 2). Previamente a colocação teste de Kolmogorov-Smirnov e a estatística paramétri- dos eletrodos foi realizada tricotomia, abrasão suave da ca foi utilizada. pele com lixa fina e limpeza da pele com álcool. A comparação da atividade EMG de cada músculo Para a captação da atividade EMG dos músculos ava- em resposta as contrações isométricas em diferentes in- liados foi utilizado um eletromiógrafo equipado com um tensidades foi avaliada utilizando a análise de variância módulo de aquisição de sinais biológicos de quatro canais (ANOVA) e teste post hoc Tukey. (Lynx, Lynx Tecnologia Eletrônica LTDA., São Paulo, SP, A atividade EMG obtida dos níveis L2-L3 e L4-L5 Brasil) nos quais foram conectados os cabos e eletrodos. durante as contrações isométricas em diferentes inten- Esse eletromiógrafo foi calibrado com um ganho de 1000 sidades foi comparada por meio do teste T de Student vezes, filtro passa-alta de 10 Hz, filtro passa-baixa de para amostras independentes. O mesmo teste foi utiliza- 500 Hz e filtro notch de 60 Hz. Também foi utilizada uma do para comparar a atividade EMG do lado direito e es- placa conversora analógico-digital (A/D) com faixa de en- querdo da coluna vertebral. trada de +5 a -5 volts e resolução de 10 bits (CAD 1026, Lynx Tecnologia Eletrônica LTDA., São Paulo, SP, Brasil), Em todos os testes estatísticos, a significância estatística foi alcançada com p<0.05. e um software específico calibrado com uma frequência RESULTADOS Intensidades de contração correspondentes a 5%, 10%, 15% e 20% da CIVM demonstraram serem responsáveis por uma ativação similar nos músculos iliocostal direito (IL-D) e esquerdo (IL-E), e multífido direito (MU-D) e esquerdo (MU-E) (Figura 3). Diferença significante esteve presente apenas no músculo IL-D na comparação entre 5% e 20% da CIVM (p=0,02) (Figura 2 IL-D), enquanto que nos músculos MU-D (p=0.21) (Figura 2 MU-D), IL-E (p=0.32) (Figura 2 IL-E) e MU-E (p=0.26) (Figura 2 MU-E) nenhuma diferença significante foi observada. A comparação entre os músculos IL-D e MU-D / IL-E e MU-E demonstrou que independente da intensidade da contração ambos os músculos apresentaram um atividade EMG similar, com exceção do músculo IL-D e MU-D (Figura 4) na carga de 5% da CIVM (p=0.02). Quando os músculos IL-D e IL-E / MU-D e MU-E Figura 2. Posicionamento dos eletrodos utilizados para o registro do sinal eletromiográfico de músculos lombares localizados em (A) L2-L3 - iliocostal e (B) L4-L5 – multífido. foram comparados nas diferentes intensidades de contração, diferença significantes não foram encontradas (Figura 5). Ter Man. 2013; 11(53):389-394 392 Atividade eletromiográfica de músculos lombares. correspondentes a 5%, 10%, 15% e 20% da CIVM nos músculos iliocostais, enquanto que nos músculos multífidos níveis de atividade EMG correspondentes a 32.59%(±12.07), 36.43%(±13.83), 37.87%(±14.17) e 43.37%(±17.36) da atividade EMG obtida a CIVM foram demonstrados para as mesmas cargas respectivamente. Estes valores apresentam-se próximos aos 26% obtidos em estudo prévio(18) nos músculos lombares e mais distantes dos 57% obtidos em outro estudo(19) durante exercícios de extensão do tronco. Essas diferenças demonstram uma limitação na comparação de resultados obtidos em estudos similares decorrentes de particularidades relacionadas com a postura utilizada para a Figura 3. Atividade eletromiográfica dos músculos IL-D, IL-E, MU-D e MU-E durante contrações isométricas realizadas a 5%, 10%, 15% e 20% da CIVM.*diferença significante em relação a 20%. realização dos exercícios em cada estudo. Embora esses estudos contemplem o decúbito ventral, uma enorme variação é encontrada na posição das mãos que podem estar próximas ou distantes do tronco em sentido cranial possibilitando alteração nos momentos de força e de resistência, da pelve que pode estar neutra, em extensão ou com diferentes graus de flexão e dos membros inferiores que estão normalmente em extensão, mas cuja rotação em especial dos quadris, já demonstrou influenciar o tempo de manutenção da extensão do tronco e a atividade EMG de músculos lombares.(20,21) Figura 4. Comparação entre a atividade EMG dos músculos IL-D e MU-D / IL-E e MU-E durante contrações isométricas realizadas a 5%, 10%, 15% e 20% da CIVM. *diferença significante em relação MU-D. O fator mais importante com relação ao treinamento de pacientes portadores de dor lombar crônica por meio de exercícios de contração isométrica parece ser a dosagem do mesmo (repetição e resistência)(22) Nessa direção, o presente estudo utilizou-se de percentuais de contração em relação àquela obtida durante o teste de CIVM o que resultou em uma atividade EMG similar em todos os músculos avaliados, exceto para o músculo IL-D no qual a atividade EMG da carga de 20% apresentou-se significantemente mais alta quando comparada à carga de 5%. Esses resultados sugerem que a geração de con- Figura 5. Comparação entre a atividade EMG dos músculos IL-D e IL-E / MU-D e MU-E durante contrações isométricas realizadas a 5%, 10%, 15% e 20% da CIVM. trações necessárias à manutenção de cargas correspondentes a 5%, 10%, 15% e 20% da CIVM não são suficientes para promover mudanças significantes no nível de ativação dos músculos iliocostal e multífido, o que corrobora com os resultados obtidos em estudos prévios nos quais a utilização apenas da massa do tronco como DISCUSSÃO Comumente, na utilização de exercícios de exten- resistência para o treinamento isométrico de músculos são isométrica do tronco para o treinamento dos mús- lombares não promoveu melhora na resistência isomé- culos eretores da espinha e reabilitação de disfunções trica desses músculos.(2,17) na coluna lombar, é utilizada apenas a massa do tron- Da mesma forma, níveis de atividade EMG de mús- co como resistência.(1,12,15-17) No presente estudo, o efei- culos localizados em diferentes níveis da coluna lombar to de intensidades de contração superiores à necessária assim como de músculos localizados do lado direito e para a sustentação apenas da massa do tronco foi ava- esquerdo demonstraram serem similares durante as di- liada e os resultados demonstraram pouco efeito destas ferentes intensidades de contração muscular, demons- contrações sobre possíveis modificações na intensidade trando a existência de uma característica histológica se- da ativação dos músculos iliocostal e multífido. melhante de músculos localizados nos níveis vertebrais Níveis de atividade EMG em média de avaliados no presente estudo.(23,24) 35.95%(±9.69) Outra possível explicação para esse comportamen- e 37.97%(±8.10) da atividade EMG obtida durante a to comum dos músculos investigados independente da CIVM foram obtidas respectivamente para contrações sobrecarga pode estar relacionado com um sinergis- 28.57%(±7.01), 31.49%(±8.68), Ter Man. 2013; 11(53):389-394 393 Fernando Sérgio Silva Barbosa, Mauro Gonçalves. mo existente entre músculos lombares e músculos do do, visto que a mesma permitiu um controle importan- quadril e coxa, impedindo que músculos lombares fos- te da extensão isométrica do tronco evitando movimen- sem isolados para cumprir a tarefa solicitada modifican- tos compensatórios e deste modo controlando a partici- do sua ativação com o incremento do carga. Estudos pação de outros músculos da coluna vertebral. prévios(16,20,25) comprovam a importante contribuição dos músculos extensores do quadril e até mesmo dos flexo- CONCLUSÃO res do joelho em exercícios de extensão do tronco, tanto Exercícios de extensão isométrica da coluna verte- de forma direta como de forma indireta por meio fás- bral em decúbito ventral quando realizados com esfor- cia tóraco-lombar que é responsável por fazer a ligação ços correspondente a 5%, 10%, 15% e 20% da CIVM entre esse músculos e a coluna vertebral. induzem a um mesmo nível de atividade eletromiográ- Ao mesmo tempo, a atividade EMG similar de mús- fica nos músculos iliocostal e multífido. Estudo adicio- culos contralaterais da coluna lombar deve ser consi- nais, utilizando outras porcentagens da CIVM e as mes- derada como um aspecto a ser destacado na utilização mas condições experimentais do presente estudo preci- da estação de teste desenvolvida para o presente estu- sam ser realizados. 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Ter Man. 2013; 11(53):389-394 395 Artigo Original Efeitos do método Pilates na autonomia funcional de idosas fisicamente ativas. Effects of method Pilates in functional autonomy of active elderly women. Laís Campos de Oliveira(1), Rodrigo Franco de Oliveira(2), Raphael Gonçalves de Oliveira(4), Ana Cláudia Ganzella(3), Deise Aparecida de Almeida Pires Oliveira(2). Estudo desenvolvido no Centro de Ciências da Saúde (CCS), da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Jacarezinho (PR), Brasil. Resumo Introdução: A prática de exercícios físicos tem se mostrado eficiente para a melhora da autonomia funcional de pessoas idosas. Uma modalidade pouco investigada é o Pilates realizado no solo. Objetivo: Verificar os efeitos do Pilates solo na autonomia funcional de idosas fisicamente ativas. Método: Participaram das intervenções 12 voluntárias do sexo feminino (média de 68,08±3,82 anos), que realizaram 18 sessões de Pilates solo, durante seis semanas. As avaliações constaram de cinco exercícios sugeridos pelo Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para a Maturidade (GDLAM): 1- caminhada de 10 metros (C10m); 2- levantar-se da posição sentada (LPS); 3- levantar-se da posição decúbito ventral (LPDV); 4- levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa (LCLC); 5- vestir e tirar uma camiseta (VTC), que permitem obter o índice de autonomia (IG). O nível de significância foi de p<0,05. Resultados: Todos os testes apresentaram resultados significativos, com excessão do C10m (p=0,08) e VTC (p=0,11). Conclusão: O método Pilates solo possibilitou a melhora da autonomia funcional de idosas fisicamente ativas. Palavras-chave: exercício fisico ; idoso ; atividades cotidianas. Abstract Introduction: The physical exercise has been shown effective for the improvement of the functional autonomy of elderly people. A bit mode is investigated Pilates done on land. Objective: To investigate the effects of Pilates soil functional autonomy in active elderly women. Method: A total of 12 interventions female volunteers (mean 68.08 ± 3.82 years) who underwent 18 sessions of Pilates soil for six weeks. The evaluations consisted of five exercises suggested by the Group of Latin American Development to Maturity (GDLAM): 1 - Walk 10 meters (C10M) 2 - getting up from a sitting position (LPS), 3 - stand up position prone (LPDV) 4 - rise from the chair and walk around the house (LCLC), 5 - and take a dress shirt (VTC), giving the autonomy index (GI). The level of significance was p <0.05. Results: All tests showed significant results, with the exception of C10M (p = 0.08) and VTC (p = 0,11). Conclusion: The Pilates method enabled the soil improves functional autonomy in active elderly women. keywords: Exercise; Aged; Activities of Daily Living. Recebido em: 26/06/2013; Aceito em: 05/09/2013 1. Discente do programa de Mestrado em Exercício Físico na Promoção da Saúde, Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), Londrina (PR), Brasil. 2. Docente Titular do Mestrado Associado UEL/UNOPAR em Ciências da Reabilitação, e Mestrado Profissional em Exercício Físico na Promoção de Saúde, Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), Londrina (PR), Brasil. *Universidade Estadual de Londrina, Londrina (PR), Brasil. 3. Discente do Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Jacarezinho (PR), Brasil. 4. Docente do Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Jacarezinho (PR), Brasil. Endereço para correspondência: Deise Aparecida de Almeida Pires Oliveira – Centro de Ciências Biológicas e da Saúde – Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), Rua Marselha, 591 - Bairro Piza. Londrina - PR, CEP: 86.041-140, tel.: (43)3371-7990 - email: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):395-400 396 Pilates na funcionalidade de idosas. Introdução a realização da pesquisa, assinando termo de consenti- Com o aumento da população idosa, cresce a pre- mento livre e esclarecido. O trabalho foi aprovado atra- ocupação relacionada a garantir um envelhecimento vés do parecer 49/10 da Universidade Estadual do Norte digno, de forma que a autonomia funcional destas pes- do Paraná. soas seja preservada.(1-3) A prática de exercícios físicos realizados de manei- Avaliação ra sistemática, tem se mostrado eficiente em preservar Foi aplicado o protocolo do Grupo de Desenvolvi- tais capacidades.(4-6) Exercícios que envolvem a melho- mento Latino-Americano para a Maturidade (GDLAM), ra da força e resistência muscular, flexibilidade e equi- que consiste em quatro testes para avaliar a autono- líbrio, são capazes de melhorem a autonomia funcional mia funcional de mulheres idosas.(13) Os testes consis- nos idosos, de forma a executarem independentemente tem em: 1- caminhada de 10 metros (C10m); 2- levan- suas atividades de vida diária.(7,8) tar-se da posição sentada (LPS); 3- levantar-se da po- Uma prática de exercício físico, que vem sendo in- sição decúbito ventral (LPDV); 4- levantar-se da cadei- vestigada em diversas populações, é o método Pilates. ra e locomover-se pela casa (LCLC). Um quinto teste su- Exercícios realizados com equipamentos, próprios para gerido em publicação posterior pelos autores também a prática deste método mostraram-se eficientes na me- foi realizado: 5- vestir e tirar uma camiseta (VTC).(14) O lhora da autonomia funcional de idosas. tempo de execução de cada teste é obtido em segun- (9-11) Programas de Pilates realizados no solo, conhecido como Mat Pilates, que não utilizam nenhum tipo de dos, de forma que as idosas deveriam almejar o menor tempo possível. acessório ou equipamento, podem possibilitar a práti- Para realização dos testes foi necessário um cro- ca em ambientes de grupo, ou na própria residência do nômetro (Samsung GT – S6802B), no qual o tempo de idoso. No entanto, existe carência de estudos que te- cada teste foi registrado em segundos, uma trena (Bras- nham investigado esta modalidade de exercício, na au- fort 5M), um colchonete (1,5m x 0,8m), uma cadeira tonomia funcional de pessoas idosas. Com isso, o obje- com 50 cm de altura, dois cones de sinalização e uma tivo do presente trabalho é verificar os efeitos do Pila- camiseta tamanho “G” (Hering®, Brasil). tes Solo, na autonomia funcional de idosas fisicamente ativas. No teste C10m, o propósito é avaliar a distância que a voluntária leva para percorrer 10m. Duas marcações são feitas no solo estabelecendo a distância a ser Métodos A amostra foi do tipo Conveniência, da qual par- percorrida em linha reta. A idosa procura percorrer a distância no menor tempo possível.(15) ticiparam 12 voluntárias do sexo feminino, com idades Para o teste LPS, o objetivo é verificar a capacidade entre 62 e 75 anos (média de 68,08±3,82) as mesmas funcional dos membros inferiores. A idosa sentada em faziam parte de Grupo que regularmente frequentavam uma cadeira com altura de 50cm realiza o movimento de Academias da Terceira Idade (ATIs), na cidade de Jaca- sentar e levantar. O movimento é feito sem o apoio das rezinho, interior do estado do Paraná, Brasil. mãos cinco vezes consecutivas.(16) Todas as idosas do município que frequentavam as O teste LPDV que avalia a habilidade da pessoa le- atividades das ATIs foram convidadas a participar do es- vantar-se do chão é realizado com a posição inicial em tudo. Os critérios de inclusão foram: a) frequentar as decúbito ventral. Ao sinal do avaliador a idosa procura atividades das ATIs há no mínimo seis meses, com fre- levantar-se o mais rápido possível.(17) quência mínima de 75% nas sessões, as quais eram re- A realização do teste LCLC, cujo objetivo é avaliar o alizadas três vezes na semana; b) idade superior a 60 equilíbrio e agilidade de idosos em atividades cotidianas, anos; c) possuir independência para a realização das foi realizado utilizando-se de uma cadeira fixa no solo e atividades da vida diária (AVDs) e atividades instrumen- dois cones. Os mesmos devem ser posicionados diago- tais da vida diária (AIVDs); d) possuir capacidade cogni- nalmente atrás da cadeira, um do lado direito e outro tiva para a realização dos exercícios (escore >21 no Mini à esquerda, ambos quatro metros atrás e três metros Exame do Estado Mental);(12) e) concordar em não rea- para o lado da cadeira. A voluntária senta-se com os pés lizar nenhum outro exercício além do Pilates durante a sem tocar o chão. Ao sinal levanta-se da cadeira e cir- duração da pesquisa. Os critérios de exclusão foram: a) cunda o cone do lado direito, voltando a sentar-se na ca- auto-relato de distúrbios no sistema músculo-esqueléti- deira e levantando ambos os pés. Imediatamente levan- co ou neural; b) presença de doenças degenerativas; c) ta-se novamente e faz o mesmo trajeto do lado esquer- labirintite severa e crônica; d) doenças do sistema car- do. De maneira ininterrupta realiza novamente o mesmo diovascular ou respiratório. percurso, ou seja, ao final do teste, cada cone é circun- Todos os procedimentos éticos foram respeitados, dado duas vezes.(18) de acordo com a resolução 196/96. As voluntárias foram O teste VTC tem por objetivo avaliar a agilidade e a instruídas sobre os objetivos e métodos adotados para coordenação dos membros superiores. A idosa posicio- Ter Man. 2013; 11(53):395-400 397 Laís C. Oliveira, Rodrigo F. Oliveira, Raphael G. Oliveira, Ana C. Ganzella, Deise A. A. P. Oliveira. na-se em pé com os braços ao longo do corpo e uma ca- culos flexores do joelho); 2- Alongar uma perna - Sin- miseta na mão dominante. Ao sinal do avaliador, a vo- gle Leg Stretch (flexores do tronco); 3- Círculos com as luntária veste a camiseta e imediatamente a retira, re- pernas - Leg Circles (adutores a abdutores do quadril); tornando a posição inicial.(14) 4- Chutar para o lado e para frente - Side Kick Front and Para todos os testes, o protocolo GDLAM sugere Back (flexores do quadril); 5- Chutar lateralmente para classificações.(13,14) A tabela 1 apresenta os escores, para cima e para baixo - Side Kicks Up and Down (Abdutores os níveis fraco, regular, bom e muito bom em cada teste. do quadril); 6- Ponte - Brigde (estabilização lombo-pél- Os quatro primeiros testes possibilitam o cálculo do ín- vica); 7- Puxar a perna para frente - Leg Pull Front (es- dice GDLAM de autonomia (IG), em que os escores de- tabilização lombo-pélvica); 8- Círculos com os braços na finem uma classificação geral para a autonomia funcio- parede - Wall Arm Circles (flexores do ombro). nal do idoso. Esta sequência de exercícios foi selecionada, tendo As avaliações foram realizadas por um profissio- como objetivo a melhora dos principais grupos muscu- nal experiente, que já possuía conhecimento a respeito lares envolvidos no protocolo GDLAM. Além disso, o não do protocolo GDLAM e desconhecia a atividade realiza- uso de equipamentos e acessórios, o número de exercí- da pelas voluntárias. cios, a complexidade dos mesmos e o tempo de duração das sessões foram propositalmente escolhidos. O intuito Protocolo de Intervenção foi possibilitar um protocolo, que possa ser adotado por As intervenções constaram de 18 sessões de Pilates na modalidade solo (Mat Pilates), realizadas num pe- idosos iniciantes no método Pilates, que queiram executar os exercícios na sua própria casa ou em grupos. ríodo de seis semanas. Nenhum aparelho ou acessório As intervenções foram realizadas por uma profis- foi utilizado. Cada intervenção teve duração aproxima- sional experiente, com certificação em Pilates. Tanto as da de 20 minutos. avaliações, quanto as intervenções ocorreram no pólo Uma reunião inicial foi realizada, para que as idosas recebessem orientações quanto aos exercícios que se- de ginástica “Professor Reinaldo Sarmento”, localizado na cidade de Jacarezinho, Paraná, Brasil. riam realizados (execução correta de cada movimento), como também, para que fossem explicados os princípios Análise Estatística do método Pilates (Respiração, Concentração, Centro, Fluidez, Controle e Precisão). A verificação da normalidade da distribuição dos dados foi realizada mediante o teste Shapiro-Wilk. Logo A sequência foi composta por oito exercícios de após o teste “t” de Student para amostras dependentes fácil execução, considerados de nível básico: 1- Chu- foi utilizado para a comparação entre os momentos pré tar com uma perna - Single Leg Kick (trabalha os mús- e pós-experimento. Todas as análises foram procedidas Tabela 1. Padrão de avaliação da autonomia funcional do protocolo GDLAM Testes/ Classificação Fraco C10m (segundos) LPS (segundos) LPDV (segundos) LCLC (segundos) VTC (segundos) IG (escores) >7,09 >11,19 >4,40 >43,00 >13,14 >28,54 Regular 7,09-6,34 11,19-9,55 4,40-3,30 43,00-38,69 13,14-11,62 28,54-25,25 Bom 6,33-5,71 9,54-7,89 3,29-2,63 38,68-34,78 11,61-10,14 25,24-22,18 <5,71 <7,89 <2,63 <34,78 <10,14 <22,18 Muito Bom Adaptado de Dantas, Vale e Pernambuco13; Vale et al.14 Legenda: C10m: caminhada de 10 metros; LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: índice GDLAM Tabela 2. Média, desvio padrão e valores de p das avaliações pré e pós-intervenção segundo protocolo GDLAM. Momento/ Testes C10m Pré-intervenção Pós-intervenção p 7,75±0,77 7,31±0,54 0,08 14,02±1,37 12,37±1,79 0,04* LPDV 4,22±0,78 3,47±0,75 0,01* LCLC 48,10±3,13 40,50±3,58 0,001** VTC 13,64±3,45 12,22±3,36 0,11 33,22±2,24 28,96±2,39 0,001** LPS IG p<0,05; p<0,001 Legenda: C10m: caminhada de 10 metros; LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: índice GDLAM. * ** Ter Man. 2013; 11(53):395-400 398 Pilates na funcionalidade de idosas. utilizando o programa SPSS versão 16.0, sendo o nível pode-se observar mudança de classificação, que ocorreu de significância adotado p<0,05. de “fraco” para “regular”. No primeiro teste, que avalia a capacidade funcional de membros inferiores, a me- Resultados Em todos os testes realizados ocorreram melhoras significativas, exceto para as variáveis C10m e VTC (ta- lhora ocorrida pode estar relacionada ao fato de metade dos exercícios realizados pelas voluntárias, objetivarem a melhora da funcionalidade deste segmento corporal. bela 2). Quanto ao padrão de classificação sugerido pelo Nos dois outros testes, que possuem como objetivo, protocolo GDLAM, nos testes C10m e LPS as voluntárias verificar a capacidade de levantar-se do chão (LPDV); e foram classificadas como “fraco” nos momentos pré e identificar o equilíbrio e agilidade em atividades cotidia- pós-avaliação. Para o teste LPDV a classificação foi “re- nas (LCLC), a capacidade funcional de membros inferio- gular” nos dois momentos. Houve mudança de classifi- res também se torna fundamental. Além disso, os exer- cação nos testes LCLC e VTC, em que as voluntárias pas- cícios que promovem a estabilização lombo-pélvica e o saram de “fraco” para “regular”. No índice GDLAM a clas- fortalecimento de flexores do tronco, também são fun- sificação foi “fraco” nas duas avaliações. damentais para o desenvolvimento das capacidades exigidas nestes testes, exercícios que fizeram parte da ro- Discussão tina estabelecida no presente estudo. Aoki et al.(21) ve- O método Pilates quando realizado na modalida- rificaram que existe uma forte correlação entre estabi- de solo e sem o auxílio de acessórios, pode ser uma al- lização lombo-pélvica e capacidades físicas como equilí- ternativa para aulas em grupo ou a realização dos exer- brio e agilidade. cícios em casa. Para idosos que nunca praticaram Pila- O método Pilates por priorizar, dentre outros fato- tes, ressalta-se a importância da elaboração de uma ro- res, o fortalecimento da musculatura flexora e extensora tina básica de exercícios, para que os mesmos possam do tronco, tem sido relacionado com a melhora do equi- se adaptar aos princípios do método.(10) Uma revisão sis- líbrio de idosos. O estudo de Kahle e Tevald(22) verificou temática averiguou que o método Pilates possibilita me- que idosos ao realizarem Pilates em casa por seis sema- lhoras importantes, em variáveis relacionadas à autono- nas, alcançaram melhora significativa do equilíbrio está- mia funcional de idosos, como o equilíbrio, a flexibilida- tico, que se correlacionou com a melhora significativa do de e a resistência muscular.(19) aumento da força muscular dos músculos que propor- A presente pesquisa procurou verificar se uma sequência básica, de oito exercícios de Pilates executados cionam a estabilização lombo-pélvica, variáveis importantes para a autonomia funcional. no solo, poderia influenciar na autonomia funcional de Para o IG, apesar de não ter ocorrido mudança de idosas fisicamente ativas. Constatou-se que a rotina de classificação, a qual permaneceu “fraco” nas avaliações exercícios não possibilitou melhora significativa no teste pré e pós-intervenção, pode-se observar uma melhora C10m, que exige velocidade de locomoção, como tam- significativa no escore. Este índice fornece uma classifi- bém no teste VTC, que exige agilidade e coordenação cação geral para a autonomia funcional de mulheres ido- dos membros superiores, apesar de para este último, sas. Deste modo, a melhora apresentada, fornece infor- ter ocorrido uma mudança na classificação, de “fraco” mações importantes quanto aos benefícios que o Pilates para “regular”. solo pode proporcionar para esta população. Uma possível justificativa para o resultado não sig- Idosas que praticam exercícios físicos sistematica- nificativo, no primeiro teste seria a rotina de exercí- mente tendem a ter IG significativamente melhor, que cios selecionados, em que os mesmos de maneira geral aquelas que realizam atividades de maneira informal.(23) foram trabalhados em decúbito dorsal ou ventral, não As idosas da presente pesquisa, apesar de relatarem que exigindo padrões de movimento condizentes com a ca- estavam há no mínimo seis meses frequentando sessões minhada. Para o segundo teste citado, o protocolo de de exercícios físicos orientados, conseguiram após seis exercícios selecionado apresentava apenas um exercício semanas de Pilates solo, melhora significativa (p<0,001) em que a exigência era realizar movimentos de agilida- no IG. Isto indica que esta forma de exercício, pode ser de e coordenação de membros superiores, o que pode uma alternativa viável para a melhora da autonomia fun- ter sido insipiente. cional de idosas, mesmo as fisicamente ativas. Protocolos de exercícios físicos envolvendo o méto- O estudo de Rodrigues et al.(11) verificou melhora do Pilates com equipamentos tem se mostrado eficien- significativa em todas as variáveis do protocolo GDLAM tes para as duas variáveis aqui mencionadas (C10m e após intervenção com 10 exercícios de Pilates em equi- Porém, nenhum estudo utilizando-se destes pamentos, duas vezes por semana, durante oito sema- testes, cuja intervenção tenha ocorrido com o Pilates nas. Outro estudo realizado pelos mesmos autores, com solo foi encontrado. protocolo semelhante, também averiguou melhora sig- VTC). (11,20) Para os testes LPS, LPDV e LCLC os valores apre- nificativa em todos os testes realizados.(10) Porém, em sentaram melhora significativa, mas apenas no último ambos os estudos, diferentemente da presente pes- Ter Man. 2013; 11(53):395-400 399 Laís C. Oliveira, Rodrigo F. Oliveira, Raphael G. Oliveira, Ana C. Ganzella, Deise A. A. P. Oliveira. quisa, as idosas eram sedentárias por no mínimo seis do, leve em consideração mais exercícios que envolvam meses no início das intervenções. mobilidade de membros inferiores e agilidade e coorde- Um protocolo de exercício físico moderado, reali- nação de membros superiores, uma vez que nos testes zado duas vezes na semana, com duração de 12 sema- C10m e VTC, não houve melhora significante dos dados, nas, encontrou resultados significativos em idosas sub- comparando-se pré e pós-intervenção. metidas aos testes sugeridos pelo GDLAM.(24) Outras for- Faz-se importante ainda, considerar um número mas de exercício físico, como é o caso da dança(6), ou a maior de voluntárias, para que o estudo possa ser ge- yoga(25), também se mostraram eficientes para a melho- neralizado. Por fim, outra limitação desta pesquisa, foi a ra da autonomia funcional de idosas. não adoção de um grupo controle. O Pilates na modalidade solo, também parece ser uma forma de exercício físico que pode ser realizado por Conclusão idosas, como demonstrou os dados do presente estudo. Após seis semanas de exercícios baseados no Mé- Todavia, sugerem-se para pesquisas posteriores, perío- todo Pilates solo houve melhora da autonomia funcional dos maiores de intervenção, e/ou que o protocolo adota- de idosas fisicamente ativas. Referências 1. Han L, Allore H, Murphy T, Gill T, Peduzzi P, Lin H. Dynamics of functional aging based on latent-class trajectories of activities of daily living. Ann Epidemiol. 2013;23(2):87-92. 2. Martinho KO, Dantas EHM, Longo GZ, Ribeiro AQ, Pereira ET, Franco FS, et al. Comparison of functional autonomy with associated sociodemographic factors, lifestyle, chronic diseases (CD) and neuropsychiatric factors in elderly patients with or without the metabolic syndrome (MS). Arch Gerontol Geriatr. 2013;57(2):151-5. 3. Hébert R, Raîche M, Dubois MF, Gueye NR, Tousignant M. 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João Filipe Albuquerque do Amaral(1), Milena Liberal da Mata(2), Fátima Natário Tedim de Sá Leite(3), Richard Biton(4). Faculdade Integrada do Recife (FIR), Recife (PE), Brasil. Resumo Introdução: A predominância funcional do punho em extensão perturba progressivamente o ritmo biomecânico da articulação, devido ao desalinhamento das duas fileiras do carpo. Tal lesão provoca uma compressão do nervo mediano, caracterizando a STC. Objetivo: avaliar a eficácia do realinhamento articular através da fisioterapia articular analítica (Concept Sohier) na melhora clínica dos pacientes com STC. Métodos: Trata-se de um relato de caso, com um indivíduo do sexo feminino, 46 anos, avaliada através da escala analógica visual (EVA), amplitude de movimento (ADM) pela goniometria e teste de força muscular. Utilizado o questionário Disabilities of the Arm Shoulder and Hand (DASH), para verificar a funcionalidade do membro superior acometido. Resultados: Observou-se uma diminuição do quadro álgico, melhora da ADM do punho e um aumento da força muscular dos extensores e flexores da mão. Com relação ao DASH, a pontuação diminuiu de 63,33 para 50, representando uma melhora na funcionalidade. Conclusão: O realinhamento articular do punho, através da fisioterapia articular analítica mostrou-se eficaz no tratamento dos sintomas clínicos e na funcionalidade da voluntária. Palavras-Chave: síndrome do túnel do carpo, instabilidade articular, biomecânica. Abstract Introdução: The predominance functional wrist in extension progressively disrupts the rhythm of the biomechanical articulation due to misalignment of the two carpal rows. Such a lesion causes a compression of the median nerve, featuring carpal syndrome. Objective: Evaluate the effectiveness of joint realignment through Physiotherapy Joint Analytic (Concept Sohier) in clinical improvement of patients with CTS. Methods: This is a case with an individual female, 46 years, assessed by Visual Analog Scale (VAS), range of motion (ROM) by goniometry and muscle strength testing. The questionnaire used Disabilities of the Arm Shoulder and Hand (DASH), to verify the functionality of the affected upper limb. Results: We observed a reduction of pain, improvement of ADM wrist and an increase in muscle strength of the extensor and flexor muscles of the hand. With respect to the DASH, the score declined from 63,33 to 50, representing an improvement in functionality. Conclusion: The realignment of the wrist joint by Physiotherapy Joint Analytic was effective in the treatment of clinical symptoms and functionality voluntary. Keywords: carpal tunnel syndrome, joint instability, biomechanics. Recebido em: 25/07/2013; Aceito em: 03/09/2013 1. Fisioterapeuta; Esp. Em Traumato Ortopedia pela da Faculdade Estácio do Recife, Recife (PE), Brasil; Osteoterapeuta certificado pelo Institut International Kinésithérapie Analytique – Concept R. Sohier, Lille, França. 2. Fisioterapeuta; Esp. Em Neurofuncional pela da Faculdade Estácio do Recife, Recife (PE), Brasil; Osteoterapeuta certificada pelo Institut International Kinésithérapie Analytique – Concept R. Sohier, Lille, França. 3. Professora Ms do curso de Fisioterapia da Faculdade Estácio do Recife, Recife (PE), Brasil; Osteoterapeuta certificada pelo Institut International Kinésithérapie Analytique – Concept R. Sohier, Lille, França. 4. Professor titular do Institut International Kinésithérapie Analytique – Concept R. Sohier, pelo Brasil. Endereço para correspondência: R. Jerônimo de Albuquerque, 188, aptº 103, Casa Forte - Recife. CEP: 52061-470. Cel.: (81) 9980-7830, e-mail: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):401-404 402 Realinhamento articular na STC: relato de caso. Introdução de apoio entre as superfícies, contribuindo para a esta- A região denominada túnel do carpo localiza-se no bilidade articular.(2, 9, 10) punho, sendo limitada dorsalmente por oito ossos, dis- Diante do exposto, o presente estudo tem como tribuídos em duas fileiras. A primeira é composta pelo objetivo avaliar a eficácia do realinhamento articular escafóide, semilunar, piramidal e pisiforme; a segunda através da fisioterapia articular analítica na melhora clí- constituída pelo trapézio, trapezóide, capitato e hama- nica dos pacientes com STC. to. Já na região palmar, o limite é estabelecido pelo retináculo dos flexores. Por esse espaço restrito passam Materiais e Método oito tendões dos músculos flexores dos dedos, sendo Trata-se de um relato de caso, realizado na Clíni- quatro superficiais e quatro profundos, o tendão flexor ca Escola de Fisioterapia da Faculdade Estácio do Recife longo do polegar, estruturas vasculares além do nervo entre outubro e novembro de 2011. O estudo foi aprova- mediano.(1, 2) do pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital da Res- A primeira fileira carpal apresenta-se convexa nos planos frontal e sagital e articula-se com a superfície ra- tauração, Recife/PE, tendo sido obtido o termo de consentimento livre e esclarecido da participante. dio-ulnar, constituindo a articulação do punho que rea- A paciente foi submetida a uma avaliação inicial liza os movimentos de abdução e adução, além de par- elaborada pelos pesquisadores com dados pessoais; ticipar da flexão e extensão juntamente com a segun- anamnese; exame físico (inspeção e palpação dos mem- da fileira carpal. Diante desta anatomia, durante o mo- bros superiores, escala visual analógica (EVA), gonio- vimento de extensão do punho o ritmo biomecânico do metria do punho para verificar a amplitude de movimen- carpo direciona a primeira fileira carpal para um desliza- to articular (ADM), força muscular dos flexores e exten- mento anterior, e a segunda fileira tende a deslizar pos- sores da mão). Em seguida, foi aplicado o questionário teriormente. Já na flexão este ritmo se inverte.(2) Disabilities of the Arm Shoulder and Hand (DASH). A predominância funcional do punho em extensão Essa ferramenta foi desenvolvida para avaliar, perturba progressivamente esse ritmo biomecânico, de- quantitativamente, os sintomas e a incapacidade físi- vido ao desalinhamento anterior da primeira fileira em ca dos membros superiores, de forma global, sendo, relação à superfície radio-ulnar e à segunda fileira car- este, um questionário validado para língua portuguesa. pal, causando uma alteração biomecânica que compro- O DASH é composto por trinta perguntas, distribuídas mete a artrocepção, além de ser percebida uma resis- em onze módulos, dos quais, dois representam a função tência mais densa no final do arco de movimento ao ser física, seis estão relacionados aos sintomas e três ava- avaliado passivamente. A esta resistência dá-se o nome liam as funções sociais. Além destes, existem dois mó- de barreira motriz.(2, 3) dulos facultativos com quatro itens cada, sendo um des- Essa condição biomecânica alterada que pode oca- tinado à atletas/músicos e o outro para funções labo- sionar uma situação patológica é denominada ritmo pa- rais. A pontuação é calculada mediante a aplicação de tomecanogênico. No caso da região carpal, provoca uma duas fórmulas pré-estabelecidas; uma para as trinta pri- compressão do nervo mediano, caracterizando a síndro- meiras perguntas e a outra utilizada nos módulos opcio- me do túnel do carpo (STC). Os principais sintomas re- nais. Quanto maior o score do DASH, mais comprometi- lacionados à STC são dor noturna com queimação, perda da está à função do membro superior avaliado.(11) progressiva de força na mão e parestesia na distribuição O protocolo de tratamento consistiu em analisar os sensitiva do nervo mediano. Como consequências, têm- movimentos sob a forma de testes seletivos, chamados -se limitações nas atividades de vida diária (AVD’S) e de testes de barreira motriz, que permitem avaliar qua- comprometimento na condição laboral.(4,5,6) litativamente e quantitativamente a condição biomecâ- Apesar de não haver consenso, comumente a STC nica de uma articulação nos três planos do espaço. A é encontrada em indivíduos do sexo feminino entre 30 partir daí, foram utilizadas técnicas manuais específicas e 50 anos, sendo tida como a mononeuropatia de maior susceptíveis de corrigir os estados patomecânicos res- incidência entre aquelas que acometem os membros su- ponsáveis pelas deteriorações articulares e, para verifi- periores.(1, 7) car a eficácia destas correções, novos testes de barreia Com o ritmo patomecânico instalado e consequen- motriz foram realizados. Contudo, a fisioterapia analíti- temente a compressão do nervo mediano, a fisiotera- ca não é manipulativa, pois, nunca ultrapassa as nor- pia articular analítica propõe no tratamento a normali- mas fisiológicas do corpo humano, uma vez que, a so- zação do ritmo biomecânico entre as superfícies articu- licitação das articulações é alcançada sempre de forma lares, através de testes seletivos de barreira motriz se- leve e suave.(9, 12) guido das manobras corretoras. (3,8,9) Esse realinhamento articular influencia de maneira favorável o equilíbrio bio- Relato de caso lógico dos tecidos articulares e peri-articulares, por per- A paciente FBC, 46 anos, natural de Recife, técnica mitir uma estimulação celular correta, com alternância de enfermagem, com diagnóstico médico de síndrome Ter Man. 2013; 11(53):401-404 403 João Filipe Albuquerque do Amaral, Milena Liberal da Mata, Fátima Natário Tedim de Sá Leite, Richard Biton. do túnel do carpo (STC) no punho esquerdo, não tendo e as contraturas de estabilização irão surgir até que a sido submetida a nenhum tratamento cirúrgico para concentricidade articular seja reestabelecida. Assim, a essa patologia e não referiu outras doenças osteoarticu- descentralização das superfícies articulares determina- lares. Atualmente, como queixa principal, refere dor no rá uma informação proprioceptiva incorreta provocando punho de grau 5 pela EVA (Figura 1) e relata ter come- algias e, consequentemente o comprometimento funcio- çado a sentir este sintoma há aproximadamente 7 anos. nal, elucidando a importância das técnicas de reposicio- Na avaliação inicial, de acordo com o DASH, a vo- namento para restaurar o equilíbrio biológico dos teci- luntária apresentou um score de 63,33 no membro su- dos lesionados, bem como, garantir a estabilidade arti- perior esquerdo além de ter sido observado uma ADM cular devolvendo seu ritmo biomecânico fundamental.(3) do punho reduzida em flexão, extensão, abdução e adu- Os resultados obtidos nesta pesquisa corroboram ção verificada através da goniometria (Tabela 1), além com o autor citado acima, considerando que, após a re- de uma diminuição discreta da força muscular dos flexo- centragem articular do carpo, a paciente referiu uma di- res e extensores (Tabela 2). minuição da dor, além de apresentar um aumento da Após o protocolo a paciente referiu ausência de dor, ADM ativa do punho e uma melhora na funcionalida- evoluindo de 5 para grau 0 na EVA (Figura 1). Também de do membro superior esquerdo. De acordo com So- houve ganho na ADM e na força muscular (Tabelas 1 e hier,(2) a recuperação do ritmo correto entre as fileiras 2 respectivamente). A pontuação do DASH diminui de do carpo, gera um ganho na mobilidade ativa do punho, 63,33 para 50, mostrando uma melhora na funcionali- enquanto que o equilíbrio da tensão capsulo-ligamentar dade do membro superior esquerdo. melhora a função proprioceptiva, reduzindo as contraturas dos músculos estabilizadores e as informações no- Discussão ciceptivas, promovendo uma redução do quadro álgico. Ao nos reportarmos a literatura, várias metodolo- Com relação à perda de força muscular, Karolcsak, gias são sugeridas para o tratamento da STC, entretan- et al.(4) alegam ser este um dos principais sintomas en- to, ainda não existe um consenso em relação ao melhor frentados pelos portadores da STC. Na presente pesqui- método de descompressão do nervo mediano e os tera- sa, a voluntária apresentou, em sua avaliação inicial, peutas enfrentam o desafio de estabelecer uma condu- uma discreta redução da força muscular dos extenso- ta eficiente, no que se refere à biomecânica do carpo.(13) res e flexores do punho, entretanto, na reavaliação, ob- Apesar da epidemiologia também não ser bem de- teve um aumento, chegando ao grau máximo. Sohier(2) finida, esta pesquisa, teve a participação de uma volun- explica que o ganho de força se dá pela restauração do tária com 46 anos, corroborando com a literatura quanto apoio correto das superfícies articulares traduzido pela à predominância do sexo feminino e a média de idade, informação artroceptiva, haja vista que, a efetiva condi- pois segundo Barbosa, et al.(7) trata-se de uma patologia comumente encontrada em mulheres, com faixa etária entre 30 e 50 anos. Concordando com tais relatos, Alves e Araújo(5), em seu estudo, tiveram a participação de 58 pacientes de ambos os sexos, sendo 12 homens e 46 mulheres, divididos aleatoriamente em dois grupos; o grupo 1 apresentou média de idade de 44,3 anos e o grupo 2 obteve média de 51,9 anos. No presente estudo propomos um protocolo de fisioterapia articular analítica, com o objetivo de corrigir o agente desencadeador da compressão nervosa. Dian- Figura 1. Escala Visual Analógica da Dor (EVA). Tabela 1. Análise da goniometria do punho esquerdo, antes e após o tratamento Movimento Antes (10-10-2011) Depois (11-11-2011) te do resultado satisfatório nos aspectos observados na Flexão 52° 64° voluntária, tal método de terapia manual pode ser efeti- Extensão 20° 58° vo no tratamento da STC. Abdução 24° 32° Adução 16° 18° Sohier(2) relata que ao ser restabelecida a “harmonia articular” no túnel do carpo haverá um equilíbrio na distribuição da pressão intra-articular e ressalta a im- Valores de normalidade: Flexão 90°, extensão 70°, desvio ulnar 45°; desvio radial 20° (14). portância de normalizar o ritmo biomecânico das fileiras do carpo, principalmente no movimento de flexão sendo este ritmo favorável à descompressão do nervo mediano, reduzindo o quadro álgico e aumentando a ADM do punho. Em outro estudo, Sohier alega que quando a artrocepção, barocepção e propriocepção são perturbadas, o sistema capsulo-ligamentar é posto em tensão Tabela 2. Grau de força muscular do punho esquerdo, antes e após o tratamento Antes (10-10-2011) Depois (11-11-2011) Flexão 4 5 Extensão 4 5 Movimento Ter Man. 2013; 11(53):401-404 404 Realinhamento articular na STC: relato de caso. ção muscular e à condição neurofisiológica das articula- cionalidade na voluntária com STC. A eficácia da propos- ções estão relacionadas. ta de tratamento tem suas limitações em se tratando de sujeitos com alterações na integridade anatômica e do Conclusão sistema neuromotor como aqueles submetidos a cirur- O presente estudo sugere que a fisioterapia arti- gias no punho ou com patologia neurológica associada. cular analítica através do reposicionamento das super- Sugere-se a realização de outros estudos com protoco- fícies articulares ao nível do punho tem efeito favorável lo semelhante e maior tamanho amostral para consoli- sobre a força, ADM e dor e consequentemente na fun- dação dos resultados. Referências 1. Turrini E, Rosenfeld A, Juliano Y, Fernandes ARC, Natour N. Diagnóstico por imagem do punho na Síndrome do túnel do carpo. Rev Bras Reumatol. 2005; 45(2): 81-3. 2. Sohier R. As arritmias dos ossos do carpo. Kinésithérapie Scientifique. 1995; 347. 3. Sohier R. Algumas regras fundamentais da biomecânica e da patomecânica. Kinésithérapie Scientifique. 1991; 298. 4. 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Resumo Introdução: O Traumatismo Cranioencefálico é definido como uma agressão ao cérebro causada por uma força física externa, que pode produzir um estado diminuído ou alterado de consciência, resultando em comprometimento das habilidades cognitivas ou do funcionamento físico. O objetivo do presente estudo foi descrever a evolução neurofuncional de um paciente pós TCE difuso grave. Apresentação do Caso: Paciente 22 anos com histórico de acidente automobilístico, foi admitido em Instituição Hospitalar com diagnóstico de Politrauma e Traumatismo Craniano Grave com Lesão Axonal Difusa, Escala de Coma de Glasgow 4. Paciente iniciou tratamento fisioterapêutico na Unidade de Terapia Intensiva e foi acompanhando até sua alta hospitalar. Em atendimento ambulatorial, com hipótese de diagnóstico fisioterapêutico de déficit de equilíbrio estático, dinâmico e alteração cognitiva. Resultados: Apresentou melhora quanto a Amplitude de movimento, força muscular, coordenação e atividade de vida diária verificada através da Escala de Medida de Independência Funcional. Conclusão: No presente estudo após dez meses de acompanhamento fisioterapêutico o paciente se encontra realizando a maioria das suas Atividades de Vida Diária com independência completa. Paciente se encontra consciente, e apresentou melhora na força muscular, amplitude de movimento e nos valores da Escala de Medida de Independência Funcional. Palavras-chave: Fisioterapia, Traumatismos Encefálicos, Reabilitação Abstract Introduction: Traumatic Brain Injury is defined as an injury in the brain caused by an external physical force that may produce a diminished or altered state of consciousness, resulting in impairment of cognitive abilities or physical functioning. The aim of this study was to describe the evolution of a patient post severe traumatic brain injury. Case Report: Patient 22 years old with a history of car accident, was admitted to hospital with a diagnosis of Polytrauma and Severe traumatic brain injury with Diffuse Axonal Injury, Glasgow Coma Scale 4. Patient started physical therapy in the intensive care unit and was watching until his discharge. In ambulatory care, diagnostic hypothesis for physical therapy was balance disorders static and dynamic and cognitive impairment. Results: Presented improvement in range of movement, muscle strength, coordination, and activity of daily living measured by scale of Functional Independence Measure. Conclusion: In this study after ten months of physiotherapy patient is doing almost all their Activities of Daily Living with complete independence. Patient is conscious and improved muscle strenght, range of movement and in Daily Life Activity verified by Scale of Functional Independence Measure. Keywords: Physical Therapy Specialty, Brain Injuries, Rehabilitation Recebido em: 28/07/2013; Aceito em: 05/09/2013 1. Graduanda do curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Bauru (FIB), Bauru (SP), Brasil. 2. Neuropsicóloga; Docente das Faculdades Anhanguera de Bauru, Bauru (SP), Brasil. 3. Fisioterapeuta; Docente do curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Bauru (FIB), Bauru (SP) e da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus Marília, Marília (SP), Brasil. Autor Correspondente: Roberta Munhoz Manzano - Rua Bartolomeu de Gusmão 2-102 Apt 24. Jardim América, CEP 17017-336, Bauru-SP. - Fone (14) 38795848 (14) 96283557 - E-mail: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):405-409 406 Evolução neurofuncional em TCE grave. Introdução to dos dedos, Sinal de Romberg, Prova de índex-índex, O traumatismo crânio-encefálico (TCE) é uma das Prova de índex-nariz, Prova de calcanhar joelho, Prova principais causas de morte e incapacidade em adultos de rechaço, Prova de oposição do polegar com os de- jovens, com consequências graves como a incapacidade mais dedos, Provas gráficas, Prova de diadococinesias. física e deficiências cognitivas, comportamentais, psico- Também foi avaliada a força muscular (FM) e a ampli- lógicas e sociais a longo prazo.(1) O TCE é definido como tude de movimento (ADM). O paciente não apresentava uma agressão ao cérebro causada por uma força física hipertonia muscular, apenas diminuição da força muscu- externa. Pode ser temporário ou permanente e provocar lar dos membros superiores, por isso foi utilizada a es- comprometimento funcional parcial ou total.(2,3) O trau- cala de FM. A ADM foi avaliada solicitando ao paciente ma encefálico se divide em leve (de 13 a 15), modera- para realizar o movimento e se ele conseguia realizar o do (de 9 a 12) e grave (de 3 a 8), de acordo com a esca- movimento ativa ou passivamente. la de coma de Glasgow (ECG).(4) A ECG tem sido usada Ao exame físico, observou-se que paciente chegou como um dos mais importantes preditores de desfecho a clínica deambulando com auxilio, pouco equilíbrio e in- no TCE.(5) As lesões difusas são aquelas que acometem coordenação na marcha e ptose palpebral com alteração o cérebro como um todo, decorrem de forças cinéticas da visão (diagnóstico médico). que levam a rotação do encéfalo dentro da caixa crania- As atividades de vida diária (AVD) foram avaliadas na. Podem ser encontradas disfunções por estiramento através da MIF. A MIF é um instrumento multidimensio- ou ruptura tanto de axônios como de estruturas vascu- nal que avalia o desempenho do indivíduo para a reali- lares em regiões distintas do encéfalo.(6) zação de um conjunto de 18 tarefas, dividindo-se em 2 A Medida de Independência Funcional (MIF) é um domínios: parte motora – referentes às subescalas de instrumento multidimensional onde o foco principal diz autocuidados, controle esfincteriano, transferências, lo- respeito à solicitação de cuidados de terceiros que o pa- comoção – e parte cognitiva – referentes às subesca- ciente exige nas atividades cotidianas.(7) las comunicação e cognição social. Cada item pode ser O objetivo do presente estudo foi descrever a evo- classificado em uma escala de graus de dependência de lução neurofuncional de um paciente pós TCE difuso 7 níveis, sendo a pontuação variável de 1 (dependên- grave. cia total) a 7 (independência completa) quanto maior a pontuação, maior a independência da pessoa, sendo que Apresentação do Caso a pontuação total varia de 18 a 126.(8,9,10) O presente estudo foi aprovado pela Plataforma Paciente foi submetido a 25 atendimentos na Clíni- Brasil número de protocolo 82891. Os familiares do pa- ca de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Bauru ciente assinaram o Termo de Consentimento Livre e Es- até a realização deste estudo de caso. Os objetivos tra- clarecido. çados para o respectivo caso foram prevenir contratu- Paciente L.H.M.G, 22 anos, com história de aciden- ras e deformidades, aumentar amplitude de movimento, te motociclístico em dezembro de 2010, foi admitido em aumentar força muscular, treinar trocas posturais, es- Instituição Hospitalar com diagnóstico de Politrauma e timular propriocepção e reação ou equilíbrio, trabalhar Traumatismo Craniano Grave com Lesão Axonal Difusa. dissociação de cíngulos, estimular coordenação motora Ao exame neurológico inicial: intubado, em ventilação fina e treinar marcha. mecânica (VM), Escala de Coma de Glasgow 4, pupilas anisocóricas e ausência de reflexo fotomotor. Nos atendimentos as condutas realizadas foram alongamento passivo manual e movimento ativo-resisti- Permaneceu 28 dias em Unidade de Terapia In- do dos músculos flexores, extensores, abdutores e adu- tensiva, 20 dias em VM, evoluindo com septicemia. Na tores de ombro e quadril, flexores e extensores de cú- enfermaria, inicialmente prostrado e não contactuan- bito e punho. Também foi realizado treino ativo assisti- te, evoluiu com melhora das funções motoras, e conse- do de troca postural de decúbito dorsal para sedestação quente início de reabilitação motora, com treino de mar- com ponto chave de ombro; exercício de equilíbrio com cha realizado por apoio bilateral. tapping alternado na cama elástica e equilíbrio dinâmico Após alta hospitalar, em 20 de abril de 2011, pa- ultrapassando obstáculos; exercício ativo de tríplice fle- ciente iniciou tratamento fisioterapêutico na clínica de xão com o membro inferior sobre um banco e treino de Fisioterapia das Faculdades Integradas de Bauru (FIB). marcha de quatro pontos com dissociação de cíngulos e Foi realizada a avaliação do paciente e este teve como apoio de calcâneo na barra paralela. hipótese de diagnóstico fisioterapêutico déficit de equilíbrio estático, dinâmico e alteração cognitiva, os tes- Resultados tes realizados de Coordenação e Manobras Deficitárias Os valores do grau de força muscular, Amplitude foram: Manobras dos braços estendidos, Manobra de de Movimento e das Atividades de Vida Diária avaliados Mingazzini, Manobra de Barré, Prova da queda do MI em pela MIF antes e depois da fisioterapia são mostrados adução, Prova da mão escavada, Prova do afastamen- respectivamente nas tabelas 1, 2 e 3. Ter Man. 2013; 11(53):405-409 407 Carla de Oliveira Carletti, Ariane Pereira Ramirez, Ana Paula Camargo, Roberta Munhoz Manzano. Tabela 1. Força muscular antes e depois a fisioterapia. D = direita; E = esquerda. Grupos Musculares Antes D Depois D Antes E Depois E Flexores de ombro 4 5 2 4 Extensores de ombro 5 5 2 4 Abdutores de ombro 4 5 2 4 Adutores de ombro 5 5 2 4 Flexores de cúbito 5 5 2 4 Extensores de cúbito 5 5 2 4 Flexores de punho 5 5 2 4 Extensores de punho 5 5 2 4 Flexores de quadril 4 5 4 4 Dorsiflexores 5 5 5 4 Tabela 2. Amplitude de movimento do membro superior esquerdo antes e depois da fisioterapia Ombro Ativa Antes Passiva Antes Ativa Depois Passiva Depois diminuído diminuído preservado preservado Cúbito diminuído preservado preservado preservado Punho diminuído diminuído preservado preservado MCF diminuído preservado preservado preservado IFP diminuído preservado preservado preservado Discussão A fisioterapia motora após traumatismo cranioencefálico grave melhorou a força muscular, a amplitude de movimento e a pontuação total da MIF. Aproximadamente 60% dos pacientes que sobrevivem a traumas cranianos têm sequelas significativas como déficit motor e cognitivo, trazendo grande impacto socioeconômico e emocional aos pacientes,(7) no presente estudo o paciente apresentou antes da realização da fisioterapia motora, alterações no exame funcional, força muscular e coordenação. Na medida em que há aumento dos graus da ECG, Tabela 3. Valores dos domínios e score total da MIF antes e depois da fisioterapia Antes Fisio Autocuidado Depois Fisio A. Alimentação 1 7 B. Higiene pessoal 1 6 C. Banho (lavar o corpo) 1 7 D. Vestir metade superior 1 7 E. Vestir metade inferior 1 7 F. Utilização do vaso sanitário 1 7 Controle de esfíncteres há diminuição dos percentuais de mortalidade. Estudo G. Controle da urina 1 1 constatou que elevados percentuais de pacientes com H. Controle das fezes 1 7 TCE grave receberam alta, o que corrobora com o pre- Mobilidade sente estudo, pois o paciente apresentou ECG (4) ob- Transferências tendo alta. Rudem at al (2013) também constatam que I. Leito, cadeira, cadeira de rodas 1 7 mesmo pacientes gravemente feridos após o trauma J. Vaso sanitário 1 7 múltiplo têm um bom prognóstico, quando são direcio- K. Banheira, chuveiro 1 7 nados a um programa de reabilitação.(11) Em outro estu- Locomoção do a gravidade clínico-neurológica inicial, medida atra- L. Marcha (M) / cadeira de rodas 1 6 vés da ECG, influenciou significativamente a evolução M. Escadas 1 6 dos pacientes, demonstrando, que a manifestação clíni- Comunicação ca inicial é um forte indicador da gravidade das lesões N. Compreensão (A-auditiva / Vvisual) 1 2 primárias e secundárias associadas ao TCE.(12) O. Expressão (V-verbal / N-nãoverbal) 1 4 Outro fator que pode ter contribuído para a boa Cognição Social evolução do caso é a idade (22 anos), indivíduos jo- P. Interação social 1 5 vens tem uma melhor evolução.(13) A agilidade em que Q. Resolução de problemas 1 2 ocorreu o primeiro atendimento também influencia na melhor evolução do quadro.(14) Quanto menor o período R. Memória Total 1 1 18 96 Ter Man. 2013; 11(53):405-409 408 Evolução neurofuncional em TCE grave. entre o trauma e o início da reabilitação, maior a pos- ficar a capacidade funcional dos pacientes, permitindo, sibilidade de retorno as suas atividades de vida diária. dessa maneira, melhor direcionar os programas de re- Em um programa de reabilitação, pacientes foram abilitação e um deles é a MIF, constada no presente es- divididos em três grupos quanto ao tempo de lesão e iní- tudo. Aplica-se à verificação da evolução do paciente cio da reabilitação, porém o grupo que iniciou precoce- na reabilitação iniciada, ainda na internação, sobretudo mente a reabilitação, até seis meses de lesão, teve me- para aqueles que sofreram trauma ocasionando severas lhores resultados na diminuição da incapacidade, inde- incapacidades abruptamente.(8) A MIF foi escolhida por fazer parte do Sistema Uni- pedência, competência continuando a melhora após a alta, o que corrobora com o caso apresentado.(12) forme de Dados para Reabilitação Médica (SUDRM) que Uma revisão sistemática analisou diferentes mode- é amplamente utilizada e aceita como medida de ava- los de reabilitação. A análise observou que a reabilita- liação funcional internacionalmente e por ser uma me- ção pode ser mais eficaz tendo início até um ano da dida que atende a critérios de confiabilidade, validade, lesão cerebral.(15) Os processos de recuperação e orga- precisão, praticidade e facilidade. Além disso, ela tem nização do SNC começam a ocorrer logo após o trau- como meta determinar quais os cuidados necessários a ma e, portanto, a intervenção terapêutica deve iniciar serem prestados para que o paciente realize suas AVD’s. precocemente, resgatando padrões de comportamento (22) mais próximos da normalidade.(16) A recuperação moto- ção e após a alta hospitalar no presente estudo foram ra é maior nas primeiras semanas da doença. Logo após fatores importantes para o aumento dos escores dos do- a lesão, o processo de plasticidade neural é iniciado, so- mínios da parte motora e cognitiva da MIF uma vez que bretudo entre o primeiro e o terceiro mês pós-lesional, o paciente sentiu-se mais capaz, disposto e seguro para considerando-se quadro crônico após seis meses.(17,18) a realização das atividades, ainda que com dificuldade A intervenção terapêutica comprova os efeitos da Assim a terapêutica instituída durante a hospitaliza- imposta pela situação clínica. reabilitação motora mediante as condutas utilizadas re- O tratamento ideal requer uma abordagem multi- velando que o treino de habilidade do membro superior, disciplinar, envolvendo médicos, fisioterapeutas, fono- treino funcional, em um programa específico, uma vez audiólogos e psicólogos, para reabilitar o paciente redu- por semana durante três semanas consecutivas, asso- zindo seu grau de incapacidade. ciada à reabilitação convencional, de fisioterapia e tera- A evolução neurofuncional do paciente pós TCE difu- pia ocupacional, para adultos com sequelas de TCE, re- so grave é influenciada por diversos fatores como idade, sulta em melhora do desempenho funcional, no tempo rapidez no primeiro atendimento após a lesão e tempo na realização de tarefas propostas no programa e nas decorrido entre o trauma e o início da reabilitação. atividades unilaterais e bilaterais.(19) A principal limitação do presente estudo é que se Falta de equilíbrio, espasticidade, contraturas e fra- trata de um relato de caso, o que dificulta transpor os queza muscular podem contribuir para a limitação da resultados aqui obtidos em outras amostras. O ganho de mobilidade após traumatismo cranioencefálico. Equilí- força e a melhora na amplitude de movimento em lesões brio, força e mobilidade melhoraram significativamente traumáticas graves ainda não é muito bem compreendi- após seis meses de reabilitação. Os distúrbios de equilí- do na literatura. Mais estudos com delimitação bem defi- brio foram os mais prevalentes.(20) nida dos exercícios realizados e com uma amostra maior Há necessidade de maiores esclarecimentos sobre a são necessários. ma­neira como o organismo se adapta às alterações nos parâmetros dos estímulos sensoriais, bem como sobre Conclusões as estra­ tégias de direcionamento de atenção a serem No presente estudo a evolução do paciente foi ex- manipulados em procedimentos fisioterapêuticos. Estas tremamente significativa. O mesmo deu entrada no demonstram perspectivas de estudos futuros, para me- pronto-socorro com ECG 4, e diagnóstico de TCE Di- lhor compreender o papel da seletividade da atenção na fuso Grave. Após dez meses de acompanhamento fi- adaptação do sistema neuro­motor de pessoas com lesão sioterapêutico paciente se encontra realizando a maio- neurológica.(17) ria de suas Atividades de Vida Diária com independên- O trauma frequentemente está associado à inca- cia completa e melhorou a amplitude de movimento e pacidade funcional, tornando-se uma importante ques- força muscular. Paciente se encontra consciente ECG tão social, econômica e de saúde.(21) Os profissionais de 15, todavia ainda necessita de acompanhamento neu- saúde podem utilizar instrumentos capazes de quanti- ropsicológico. Ter Man. 2013; 11(53):405-409 409 Carla de Oliveira Carletti, Ariane Pereira Ramirez, Ana Paula Camargo, Roberta Munhoz Manzano. Referências 1. Hohl A, Daltrozo JB, Pereira CG, Weber TR, Pinto HF, Gullo JS, et al. Avaliação tardia do eixo hipofisário-gonadal em pacientes adultos que sofreram traumatismo crânio-encefálico grave. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009;53(8):1012-1019. 2. 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Ter Man. 2013; 11(53):405-409 410 Relato de Caso A realidade virtual como ferramenta para melhorar o equilíbrio dinâmico e a velocidade da marcha na doença de Charcot Marie Tooth: Relato de Caso. Virtual reality as a tool to improve dynamic balance and gait velocity in Charcot Marie Tooth: Case Report. Renata Calhes Franco(1), Cibele Almeida Santos(2), Thalita Renata Santos de Oliveira(2), Bruna de Mendonça Bicudo(2), Raquel Sato(2), Natalia Duarte(3), Luanda Andre Collange Grecco(4). Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo (SP), Brasil. Resumo Introdução: A patologia Charcot Marie Tooth é uma neuropatia desmielinizante caracterizada por perda de fibras sensoriais, com consequente fraqueza muscular distal e distúrbios sensoriais associados, caracterizando-se clinicamente por alterações motoras. Objetivo: Descrever o efeito do treino com o game Nintendo® Wii sobre o equilíbrio dinâmico e a velocidade da marcha em um paciente com Charcot Marie Tooth. Método: Trata-se do caso de uma adolescente com 15 anos, submetida a vinte sessões de treino com realidade virtual. A avaliação antes e após o treino foi composta pelos seguintes instrumentos: Escala de Equilíbrio de Berg, Timed Up&Go, teste de Tinetti, teste da caminhada dos 10 metros e questionário de qualidade de vida - SF 36. Resultados: Observou-se melhora na velocidade da marcha, no equilíbrio e na qualidade de vida. Conclusão: Neste caso a intervenção melhorou o desempenho do paciente, e teve efeitos positivos sobre a velocidade da marcha, equilíbrio dinâmico e na qualidade de vida. Palavras-chave: Charcot Marie Tooth, equilíbrio, marcha, realidade virtual, Nintendo® Wii Abstract Introduction: Charcot Marie Tooth disease is demyelinating neuropathy characterized by loss of sensory fibers, with consequent distal muscle weakness and sensory disturbances associated, characterized by progressive loss of sensory fibers, characterized clinically by motor abnormalities. Objective: To describe the effect of training with the game on the Nintendo® Wii on dynamic balance and gait velocity in a patient with Charcot Marie Tooth. Method: This is the case of a teenager with Charcot Marie Tooth disease who underwent twenty training sessions with virtual reality. The assessment before and after training was composed of the following instruments: Berg Balance Scale, Timed Up&Go, Tinetti test, walk test of 10 meters and SF 36. Results: We observed an improvement in walking speed, balance and quality of life. Conclusion: In this case the intervention improved the patient’s performance, and had effects on gait velocity, dynamic balance and quality of life. Keywords: Charcot Marie Tooth, balance, gait, virtual reality, Nintendo ® Wii Recebido em: 06/07/2013; Aceito em: 09/09/2013 1. 2. 3. 4. Professora Mestre do Curso de Fisioterapia, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo (SP), Brasil. 2. Fisioterapeuta; Graduada pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo (SP), Brasil. Fisioterapeuta; Mestranda em Ciências da Reabilitação, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo (SP), Brasil. Fisioterapeuta; Doutoranda em Ciências da Reabilitação, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo (SP), Brasil. Autor correspondente: Renata Calhes Franco - e-mail: [email protected] - Rua Dr. Diogo de Faria 775 – Vila Mariana – CEP 04037-000 – São Paulo, SP – Brasill. - Fax. 3505-6079 Ter Man. 2013; 11(53):410-414 Renata C. Franco, Cibele A. Santos, Thalita R. S. de Oliveira, Bruna de M. Bicudo, Raquel M. Sato, Natalia de A. C. Duarte, et al. Introdução 411 Métodos A patologia Charcot Marie Tooth (CMT) é uma neu- O estudo foi realizado na Clínica Escola de Fisiote- ropatia desmielinizante caracterizada por perda de fi- rapia da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), após a bras sensoriais, com consequente fraqueza muscular aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética e distal e distúrbios sensoriais associados.(1) As deformi- Pesquisa (CoEP) sob folha de rosto de número 437434. dades nos tornozelos e nos pés são as manifestações O responsável concordou e assinou o Termo de Consen- mais frequentes. A perda motora e sensorial é respon- timento Livre e Esclarecido. sável por deformações das quais o pé cavo, o encurta- Participou do estudo um paciente do sexo femi- mento do tendão calcâneo, os dedos dos pés em garra, nino, com diagnóstico confirmado de CMT, 15 anos de o ângulo reduzido da dorsiflexão dos pés e a cifoescolio- idade, em tratamento fisioterapêutico na Clínica da UNI- se são as mais comuns. Progressivamente, o déficit na NOVE. Foi preenchida uma ficha de avaliação antes de marcha pode provocar a perda da capacidade de andar. iniciar a intervenção para conhecer melhor o quadro clí- A prescrição de órteses é necessária para compen- nico do paciente que apresentou marcha independente sar adequadamente o déficit muscular e manter a fun- com instabilidade postural, mobilidade diminuída na ar- ção motora sem comprometer as habilidades preserva- ticulação dos tornozelos, incapacidade de se manter em das.(4) apoio unipodal, déficit de equilíbrio, pés equinos mesmo (2, 3) A doença aparece normalmente na 1º ou 2º dé- após tenotomia do tríceps sural bilateral com dez anos cadas de vida, mas comumente surge entre os cinco e de vida, uso de órteses suropodálica fixa antiequino bi- dez anos de idade, onde inicia com distúrbios da mar- lateralmente, que não foram usadas durante os treinos cha ocasionados pela queda do pé e redução da proprio- para que não houvesse interferência quanto ao desem- cepção.(5) Alterações na marcha ocorrem como conse- penho e ajustes posturais. quência da progressão da doença, devido ás estratégias A paciente foi exposta a riscos mínimos, ficando compensatórias e ao déficit motor.(6) A presença da fra- sob supervisão do pesquisador que se manteve ao lado queza dos músculos respiratórios associada à imobilida- caso fosse necessário apoio ou interrupção da interven- de pode levar o indivíduo a um quadro de descondicio- ção por desequilíbrio, tontura ou algum tipo de mal estar namento e consequentemente a um importante quadro que pudesse provocar queda. de limitações físicas.(7) Para realização deste estudo foi utilizado o vídeo O tratamento fisioterapêutico desta doença procu- game Nitendo® Wii de fabricação japonesa que reproduz ra otimizar a função e a melhora na qualidade de vida, movimentos reais em ações virtuais. Para o treino foi uma vez que não existe um tratamento capaz de evi- utilizado o game WiiFit que contém uma plataforma, o tar a progressão da doença.(8-10) Para uma condução te- Wii Balance Board, com sensores que medem o peso e rapêutica mais adequada é importante que a avaliação o centro de gravidade do indivíduo que está jogando. O seja objetiva, sendo necessário uso de medidas padro- WiiFit contém 40 jogos, mas para o estudo foi utilizado nizadas e comprovadas, permitindo que os instrumen- o jogo Balance Bubble que consiste em fazer um per- tos auxiliem o terapeuta a observar se ocorreu mudan- curso sobre um rio em menor tempo possível, para isso ça com o tempo.(11) o jogador permanece dentro de uma bola de sabão e O ambiente virtual, através de jogos, promove a não pode deixá-la estourar encostando-a nas margens interação do paciente, por meio das reações de equilí- do rio, para fazê-lo é necessário movimentar-se lateral- brio, gerando no indivíduo a sensação de experimentar mente, para frente e para trás. uma realidade diferente. (12) Os benefícios da utilização A paciente foi previamente orientada e adaptada do Nintendo® Wii na fisioterapia, como ferramenta te- quanto ao treino com o Nitendo® Wii, sendo realiza- rapêutica, incluem as correções da postura e do equilí- das três sessões para adaptação. Foram aplicados dois brio, o aumento da capacidade de locomoção, da ampli- treinos semanais em sessões individuais com duração tude de movimento dos membros superiores e inferio- de 40 minutos cada, durante quinze semanas, totalizan- res, além da motivação do paciente.(13) do 20 sessões usando o jogo Balance Bubble. O avalia- Devido a CMT gerar maior acometimento em mem- dor foi cego, para não influenciar os resultados. Os tes- bros inferiores apresentando déficit importante no equi- tes abaixo foram realizados uma semana antes do pri- líbrio e consequentemente na marcha, algumas ativida- meiro treino e uma semana após o último treino da in- des funcionais são alteradas. Assim, neste estudo bus- tervenção terapêutica. cou-se otimizar o equilíbrio e a marcha por meio do Escala de Equilíbrio de Berg (EEB): a escala ava- treino com o Nitendo® Wii. Assim, o objetivo principal lia a capacidade do indivíduo manter-se em ortosta- do estudo foi relatar o caso de um paciente com CMT tismo com os pés juntos, olhos fechados e o giro de submetido ao treino com realidade virtual utilizando o 360°, alcançar um objeto a frente, olhar para trás por game Nitendo® Wii e o impacto desta intervenção sobre cima de cada ombro, permanecer em apoio unipodal, o equilíbrio funcional e velocidade da marcha. com um pé a frente do outro e com os pés alterna- Ter Man. 2013; 11(53):410-414 412 A realidade virtual como ferramenta para melhorar o equilíbrio dinâmico e a velocidade da marcha na doença de Charcot Marie Tooth: Relato de Caso. dos na escada. Apresenta uma pontuação total de 56 tipos de intervenção terapêutica. De acordo com Re- pontos. fshauge KM et al.,(14) o uso noturno de talas de posi- Timed Up&Go (TUG): o teste avalia o risco de cionamento por seis semanas não teve efeito sobre a queda por meio do tempo que o paciente demora a rea- queda do pé. Estudos de alongamento em outras popu- lizar o percurso, sendo: até 20 segundos baixo risco; 20 lações clínicas também não conseguiram encontrar efei- a 29 segundos médio risco; e acima de 30 segundos alto to de tratamento nos músculos isquiotibiais e na mobili- risco de quedas. dade do tornozelo.(15,16) Moseley et al.(17), não identifica- Teste de Tinetti: trata-se de uma avaliação funcio- ram efeito de tratamento para redução da contratura no nal compreendida por duas escalas, de equilíbrio e mar- tornozelo após alongamento passivo em membros infe- cha. Utilizado para quantificar o risco de quedas, tem riores. No entanto, os resultados são interessantes por- uma pontuação total de 28 pontos. Pontuação total infe- que eles mostram que uma técnica conservadora de uso rior a 19 pontos indica risco cinco vezes maior a quedas. clínico frequente não efetua mudança ou prejuízo para Teste da caminhada dos 10 metros: avalia a veloci- os pacientes com CMT.(14) Em estudo semelhante, Burns dade da marcha e para sua realização é necessário ter- J et al.(18), demonstram que o fortalecimento com au- reno plano. É repetido por três vezes, e o resultado final mento progressivo de resistência em dorsiflexores, re- é calculado pela média do tempo dos três testes, e este sultou em melhora da velocidade da marcha, cadência e será o valor final da velocidade da marcha. comprimento do passo, sugerindo que este tipo de trei- Medical Outcomes Study Short Form 36 (SF 36): no pode ser uma intervenção viável para ajudar na fra- questionário que avalia qualidade de vida e é compos- queza distal e melhorar a qualidade da marcha destes to por 11 questões, sendo que algumas são subdividi- pacientes.(18) das. A realização deste questionário demora em torno Há evidências de que pacientes com CMT respon- de 15 minutos. dem de forma positiva ao exercício resistido e são alta- Resultados programa de treino resistido de baixa a moderada inten- mente motivados.(19) Aitkens et al.(20), relataram que um Após o treino proposto com realidade virtual a ado- sidade melhora a força de pacientes com doença neuro- lescente apresentou uma melhora nas variáveis estu- muscular, inclusive CMT. Entretanto, as formas ideais de dadas. A análise de equilíbrio realizada através da EEB exercício para CMT não são conhecidos(20). Chetlin RD et apresentou uma melhora de 17,6% após a interven- al.(21), em seu estudo elaboraram um modelo de prescri- ção. Em relação ao TUG, a paciente apresentou dimi- ção de exercícios resistidos para extensores e flexores nuição do tempo do teste em 1,53 segundos, equivalen- de joelho, especificamente para portadores de CMT. Mas te a 13,6% de melhora nas habilidades básicas de mo- ainda não é sabido o quanto estes pacientes melhoram bilidade e independência em relação ao valor pré treino. e quais consequências adversas podem ocorrer devido à Já no Teste da caminhada dos 10 metros houve dimi- progressão destes exercícios resistidos. nuição de 0,83 segundos no tempo de execução, equi- Encontrar ferramentas que utilizem possibilidades valente a 8,69% quando comparado ao valor pré inter- de melhora no equilíbrio, manutenção da função muscu- venção. No Teste de Tinetti onde é possível avaliar se- lar e aderência terapêutica, tem sido um dos principais paradamente o equilíbrio e a marcha, a paciente apre- focos na busca de novas terapias. Tendo em vista esse sentou 40% de melhora no equilíbrio e 28,6% de melho- fator, a realidade virtual possibilita ao usuário a movi- ra na marcha, após treino com Nintendo® Wii. Obtendo mentação e interação em tempo real, em um ambiente um escore final total de 35,3% de melhora apresentada lúdico e tridimensional, podendo fazer uso de dispositi- por meio deste teste. vos multissensoriais para atuação ou feedback.(22) Pro- Em relação à qualidade de vida foi aplicado o ques- move a interação do paciente, por meio das reações de tionário SF-36, o qual demonstrou que o domínio vitali- equilíbrio proporcionadas pela sensação de experimen- dade foi o que apresentou considerável melhora. Houve tar uma realidade diferente. Servindo como um valioso aumento de 30% no pré treino para 45% pós treino, re- instrumento para a reabilitação fisioterapêutica, estabe- presentando aumento total de 50% quando comparado lecendo a interação entre paciente e o jogo, o que au- os valores inicial e final, o que sugere uma considerável menta o nível de motivação do paciente em relação ao melhora na qualidade de vida da paciente. tratamento.(12) Discussão em relação aos métodos convencionais por possibilitar a A realidade virtual oferece uma série de vantagens A CMT apesar de ter sua progressão lenta não deixa participação de deficientes: feedback imediato e medi- de apresentar distúrbios motores relevantes, gerando das objetivas dos movimentos, como, por exemplo, ve- uma dependência do paciente por um período prolonga- locidade dos membros, amplitude de movimento, taxas do de sua vida no processo terapêutico. de acerto e/ou erro, pontuações em jogos, entre outros, Estudos procuram verificar a eficácia de alguns Ter Man. 2013; 11(53):410-414 realização de atividades domiciliares não assistidas, a Renata C. Franco, Cibele A. Santos, Thalita R. S. de Oliveira, Bruna de M. Bicudo, Raquel M. Sato, Natalia de A. C. Duarte, et al. 413 fim de diminuir a dependência pelo apoio de outros; a Nitendo Wii Sports, resultou em melhora significativa interatividade proporciona diversão durante a prática de da percepção visual, da mobilidade funcional e do ajus- atividade física, esporte e reabilitação motora das capa- te postural do indivíduo(26). Dados estes, que também cidades funcionais, podendo ser utilizado com pessoas foram observados no nosso estudo. de diferentes gêneros, etnias e faixas etárias, sendo fa- A possibilidade de realização do tratamento de pa- cilmente empregado em contextos de intervenção esco- cientes de forma domiciliar também é outro fator que lar, hospitalar, ambulatorial, domiciliar e outros.(23) tem contribuído positivamente para a investigação cien- O uso de tecnologia nos jogos eletrônicos por meio tífica. Os resultados do estudo sugerem que o vídeo das atuais conexões sem fio com múltiplas opções para game Nintendo® Wii é um sistema simples sob o ponto detecção de movimentos permitiu às pessoas com defi- de vista da aplicabilidade e com relação custo x benefí- ciência adequada inserção social, aumento da auto es- cio favorável. O sistema Wii Fit permite a eficiência do tima, melhora dos seus níveis de resposta ao ambien- tratamento de disfunções motoras relacionadas ao equi- te, possibilitando o controle de estímulo e oferta de pos- líbrio, permitindo inclusive adaptações às limitações do sibilidades funcionais. As conquistas de engajamento paciente.(27) ambiental e exercício de autodeterminação são consi- A realidade virtual como ferramenta para a reabi- derados relevantes para a qualidade de vida do indiví- litação de pacientes com patologias neuromusculares, duo com deficiência física,(24) já que tem apresentado ainda não possui eficiência comprovada devido ao ca- um novo caminho terapêutico, ampliando a visão em re- ráter evolutivo da doença impactando diretamente na lação às terapias convencionais, atualmente aplicados manutenção postural e nos déficits da marcha. Porém, pela fisioterapia. Por se tratar de uma maneira criativa e o que pudemos observar no nosso paciente foi uma oti- lúdica tende a resultados satisfatórios ao propiciar ma- mização da postura estática e dinâmica do ortostatismo, nutenção de postura, busca do equilíbrio, manutenção bem como uma aderência significativa ao tratamento. de força e propriocepção a fim de manter e/ ou ganhar Desta forma, este estudo relata informações im- uma melhor pontuação para evoluir nos níveis apresen- portantes para os fisioterapeutas, que pretendem reali- tados pelo jogo. zar pesquisas científicas e estudos de caso utilizando a Em pacientes após AVE, estudos demonstram que a utilização da realidade virtual com jogos interativos realidade virtual como instrumento de reabilitação de diversas patologias. estimula movimentos específicos na recuperação motora. Por ser uma ferramenta com um sistema de fácil Considerações Finais aplicação, apresentar flexibilidade frente às limitações Com este relato de caso verificamos que o treino de cada paciente e ser um instrumento portátil permite com realidade virtual teve impacto positivo sobre a ve- sua aplicabilidade em diferentes ambientes.(25) Em nosso locidade da marcha e sobre o equilíbrio do paciente com estudo, observamos uma resposta mais eficaz no ajus- CMT, otimizando as habilidades funcionais, além de au- te postural e na recuperação motora referente á manu- mentar o nível de motivação do paciente em relação tenção do ortostatismo estático e dinâmico bem como ao tratamento. Entretanto são necessários mais estu- na manutenção de alguns segundos do apoio unipodal. dos com esta população possibilitando comparações dos Em outro estudo realizado com indivíduos com paralisia cerebral, a utilização do o Nitendo® Wii e do jogo efeitos terapêuticos com a realidade virtual como ferramenta na reabilitação. Referências Bibliográficas 1. Pareyson D, Marchesi C. Diagnosis, natural history, and management of Charcot-Marie-Tooth disease. Lancet Neurol 2009; 8(7): 654-667. 2. Silva DL, Neto FXP, Nunes CTA, Matos ABTMB, Matos LTMB, Pacheco A. Aspectos clínicos otorrinolaringológicos da Doença de Charcot-Marie-Tooth. Arquivo internacional de otorrinolaringologia 2007; Vol. 11(4). 3. Detmer SA, Vande Velde C, Cleveland DW, Chan DC. Hindlimb gait defects due to motor axonloss and reduced distal muscles in a transgenic mouse model of Charcot-Marie-Tooth type 2A. Hum Mol Genet 2008;17:367-75. 4. Guillebastre B, Calmels P, Rougier P. 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Virtual Rehabilitation International Conference 2009; p 213. Ter Man. 2013; 11(53):410-414 415 Revisão de Literatura O alongamento estático manual da musculatura envolvida na inspiração pode promover benefícios para os volumes inspiratórios? The static stretching guide muscle involved in benefits for inspiration can promote inspiratory bulk? Francisco Eudison da Silva Maia(1), Erick de Castro Medeiros(1), Roney Remo Praxedes Carvalho(1), Antonio Gabriel Kaio de Oliveira Pinto(1), Ellen Luzia Rebouças Moura(1), Saniely Aratany Lacerda da Silva(1), Giorgia Penereiro Pascoal(2) Universidade Potiguar (UNP), Mossoró (RN), Brasil. Resumo Introdução: As técnicas de alongamento são utilizadas em diversas áreas, inclusive na respiratória, podendo ser aplicada com diferentes métodos como o estático manual. Entretanto, a aplicação deste método na musculatura envolvida na inspiração até o momento não se tem como afirmar qual o efeito exato. Objetivo: O presente artigo tem como intuito revisar, não sistematicamente, os aspectos relacionados aos métodos de alongamento e tentado dirimir se esta técnica aplicada na musculatura envolvida na inspiração pode promover algum benefício para os volumes inspiratórios. Método: Para tanto relataremos os tipos de alongamentos, dando um enfoque ao método do alongamento estático, pontuaremos também quais são os músculos envolvidos na inspiração, tanto os considerados principais, como os acessórios e finalizaremos com uma avaliação critica dos assuntos relacionados ao tema proposto neste artigo. Este trabalho caracteriza-se como uma revisão de literatura, sendo consultadas as que foram publicadas no período de 2000 a 2012, onde não foram utilizados critérios quali-quantitativos para a escolha das mesmas e com a utilização para a pesquisa de descritores pré-determinados. Resultados: Observou-se que não há fonte cientifica suficiente que comprove que o alongamento estático da musculatura envolvida na inspiração pode promover benefícios respiratórios, apesar de ser algo bem praticado no meio fisioterapêutico. Conclusão: A literatura é unânime ao afirmar que este assunto precisa de mais pesquisas. Palavras – chave: alongamento, alongamento estático, respiração e músculos da inspiração. Abstract Introduction: The stretching techniques are used in various areas, including respiratory, and can be applied with different methods such as static manual. However, application of this method in the muscles involved in inspiration yet there is no way to say what the exact effect. Objective: The purpose of this article is to review, not systematically, aspects related to methods of stretching and tried to settle and if this technique applied in the muscles involved in inspiration can promote some benefit to inspiratory volumes. Method: Therefore we report the types of stretches, giving special emphasis to method do static stretching, we stress also what the muscles involved in inspiration both are considered major as accessories and we conclude with a critical evaluation of issues related to the theme proposed in this paper. This work is characterized as a literature review, being consulted those published in the period 2000 to 2012, where there were qualitative and quantitative criteria used to select the same and the use of descriptors for research pre-determined. Results: It was observed that there is sufficient scientific source that proves that static stretching of the muscles involved in inspiration can promote respiratory benefits, despite being in the middle of something well practiced physiotherapy. Conclusion: The literature is unanimous in stating that this subject needs more research. Words - key: stretching, static stretching, breathing and muscles of inspiration. Recebido em: 04/07/2013; Aceito em: 11/09/2013 1. Discentes do curso de Fisioterapia, Universidade Potiguar (UNP), Campus Mossoró, Mossoró (RN), Brasil. 2. Docente do curso de Fisioterapia, Universidade Potiguar (UNP), Campus Mossoró, Mossoró (RN), Brasil. Ter Man. 2013; 11(53):415-420 416 O alongamento estático manual da musculatura envolvida na inspiração pode promover benefícios? INTRODUÇÃO MÉTODO As técnicas de alongamentos manuais, como o O presente artigo caracteriza-se como uma revi- alongamento estático (AE), o alongamento balístico são de literatura, realizada com o intuito de abordar se (AB) e a facilitação neuroproprioceptiva (FNP) produ- o alongamento estático manual da musculatura envolvi- zem efeitos imediatos em uma única sessão em indiví- da na inspiração promove algum benefício para os volu- duos saudáveis, sendo capaz de melhorar a flexibilidade mes inspiratórios. muscular, impedia hipomobilidade e resgatar ou aumen- Foram utilizados como fontes de referência periódi- tar sua funcionalidade.(1,2,3) A técnica de alongamento se cos, livros de áreas afins ao tema abordado e artigos do utiliza de uma extensão do músculo além do seu compri- banco de dado do Scielo, através dos seguintes descrito- mento em repouso no sentido da disposição das fibras. res: alongamentos, alongamento estático manual, mus- Entre os métodos de alongamentos, o alongamento culatura da respiração, musculatura inspiratória, bene- estático é um dos mais eficazes, pois a literatura é con- fícios do alongamento e técnicas de alongamentos. A li- cisa ao afirma que apresenta o menor risco de lesão e teratura consultada foi publicada no período de 2000 a acredita-se ser o mais seguro,(4,5) sendo ainda um mé- 2012, não utilizamos critérios quantitativos, que assu- todo de fácil aplicação e amplamente utilizado em clí- mem uma realidade estática e são orientados aos resul- nicas. Nele deve-se realizar uma extensão do músculo tados, sendo replicáveis e generalizáveis, e qualitativos, no sentido da disposição das fibras, sendo preconizado que militam no campo da fenomenologia e compreensão o tempo de sustentação em média de 60 segundos.(6,2,7) exploratórias, descritivas e indutivas e que são orienta- Em relação aos músculos envolvidos na inspiração, dos ao processo e assumem uma realidade dinâmica e são formados por um grupo que interagem na fase ins- holística, devido a escassez de artigos.(10) piratória, que inclui o diafragma, os intercostais exter- Utilizamos para a elaboração deste trabalho 21 nos, os esternocleidomastóideos (ECM) e os escalenos referências.(1-21) A pesquisa foi realizada em Junho de (ESC), sendo o diafragma o principal deles. Estas es- 2013, culminando com a elaboração do presente artigo truturas tem a função de mobilizar o gradil costal pro- de revisão literária. Cabe salientar a escassez de traba- movendo a expansão dos pulmões. Sendo denominados lhos localizados na área de interesse. e divididos em músculos principais e secundários (ou acessórios do movimento inspiratório). DESENVOLVIMENTO (8) Com o passar do tempo as técnicas de alongamento começaram a ser utilizadas em diversas áreas, entre Os métodos de alongamentos e o alongamento elas a respiratória, porém, até o momento não se pode estático manual afirmar qual o efeito exato do alongamento neste ramo de atuação, sendo necessário mais estudos.(4,9) Os exercícios de alongamento aumentam a extensibilidade dos tecidos moles e restauram o comprimen- Tendo em mente levantar uma discussão sobre to muscular por afetar as propriedades contráteis da este tema, realizaremos um levantamento da literatu- fibra muscular e pelas alterações viscoelásticas promo- ra dada a este assunto, e devido a escassez na literatu- vidas na unidade músculo-tendão. O alongamento pro- ra, usamos como referências textos que tratem direta- duz efeitos imediatos em uma única sessão em indivídu- mente ou indiretamente do assunto proposto no título os saudáveis é capaz de melhorar a flexibilidade muscu- deste artigo, levando em consideração as colocações de lar e a mobilidade articular.(1) que O alongamento é uma manobra terapêutica utili- traz uma reflexão sobre o este tema, ao dizer que nosso zada para aumentar o comprimento de tecidos moles diversos autores, como por exemplo, a de Rosário (5) conhecimento em relação aos efeitos do alongamento, que estejam encurtados, impedindo sua hipomobilida- estão baseados puramente em estudos muito curtos e de, resgatando e aumentando sua flexibilidade e fun- sem resultados precisos e claros. cionalidade.(3) A técnica se utiliza de uma extensão do Nosso objetivo ao realizar está revisão de literatu- músculo além do seu comprimento em repouso. As es- ra e tentar levantar uma discussão sobre o alongamen- truturas do músculo, do tendão, do ligamento e da ar- to estático manual da musculatura envolvida na inspira- ticulação são flexíveis e podem ser condicionadas atra- ção se esta prática é eficaz em promover algum bene- vés de treino.(4) ficio para os volumes inspiratórios. Para tanto aponta- Para Moreira, Nascimento(1) e Dezincourt et al(2) remos os métodos de alongamentos, dando enfoque no existem três técnicas de exercícios de alongamento, método estático manual. Relataremos os músculos que sendo eles: o alongamentos estático (AE), o alonga- são considerados primários e os acessórios da inspira- mento balístico (AB) e a facilitação neuropropriocepti- ção, finalizando com uma análise crítica sobre o que a li- va (FNP). A FNP por sua vez pode ser subdividida em teratura atual coloca sobre os benéficos ou não do alon- métodos, como contrai-relaxa (CR), relaxamento-recí- gamento aplicado na musculatura que está envolvida na proco (RR) e o método combinado (MC). Dezincourt et inspiração. al(2) coloca que os métodos para alongar tecidos moles Ter Man. 2013; 11(53):415-420 Francisco E. S. Maia, Erick C. Medeiros, Roney R. P. Carvalho, Antonio G. K. O. Pinto, Ellen L. R. Moura, et al. 417 podem ser divididos em alongamento passivo, inibição sua atividade eles elevam as costelas, ampliando a lar- ativa e auto-alongamento. gura (diâmetro transversal) da cavidade torácica, os in- Pinheiro e Góes(6) coloca que o alongamento pode tercostais da parte intercondral interna também atuam variar quanto à técnica, tais como alongamento balís- elevando as costelas. Os músculos intercostais possuem tico, estático, FNP, entre outros, e quanto ao posicio- camadas finas de fibras que estão orientadas obliqua- namento do indivíduo (sentado, ortostase e decúbitos), mente em direção caudal-ventral, da costela superior sendo primordial que seja realizado de acordo com os para a borda da costela inferior. (8) princípios biomecânicos de alongamento, com o afasta- Em relação a musculatura acessória, também de- mento das inserções musculares no mesmo sentido da nominada musculatura secundária da respiração, sua fibra muscular. maior ação se dá quando a musculatura primaria esta Entre os métodos de alongamentos, o alongamen- sobrecarregada. Os músculos ECM e ESC são conside- to estático é um dos mais eficazes, além de constar na rados os principais músculos acessórios da inspiração. literatura como o mais seguro.(5) Neste método o mús- Anatomicamente o ECM se origina na parte superior do culo e tecidos conjuntivos são estirados e mantidos em manúbrio (porção esternal) e no terço medial da claví- posição estacionária em seu maior comprimento possí- cula (porção clavicular), inserindo-se no processo mas- vel em um período entre 15 a 60 segundos.(2) tóide. Os ESC (anterior, médio e posterior) originam-se De acordo Moreira e Nascimento(1) neste procedi- no processo transverso das cinco últimas vértebras cer- mento deve-se alongar o músculo de forma lenta e gra- vicais e inserindo-se na superfície superior da primei- dual, evitando a resposta neurológica do reflexo do esti- ra e segunda costela. A contração do ECM e ESC pro- ramento e estimulando a atividade dos órgãos tendino- move a elevação do esterno e das primeiras duas cos- so de Golgi. O arco de movimento deve ser mantido por telas respectivamente, auxiliando a expansão da caixa um tempo para que haja adaptação das fibras ao novo torácica.(8) comprimento e nessa posição uma leve tensão deve ser Do ponto de vista de Cunha et al (12) não há razão percebida, o alongamento progride, aumentando de in- para classificar os ESC como músculos acessórios, mas tensidade, a medida que o paciente se adapta a posição sim como músculo principal da inspiração, levando em para então adquirir um novo posicionamento.(2) consideração os estudos feitos por De Troyer. Os auto- O tempo de sustentação no alongamento estático res finalizam afirmando que os músculos acessórios da permite afrouxar o terminal primário do fuso muscular inspiração são; peitoral maior e menor, trapézio, serrá- e diminui a atividade dos receptores de alongamento til anterior e o ECM. Entretanto, as colocações de Cunha que é dado pela adaptação do fuso muscular.(11) Pinhei- et al (12) merecem questionamentos, pois citam uma pes- complementam colocando que o alongamen- quisa que não consta no local dedicado as referencias ro e Góes (6) to estático é de fácil aplicação, devendo ser realizado ri- usadas e não aponta quem e como os indivíduos che- gorosamente de acordo com os princípios biomecânicos garam a conclusão dos músculos acessórios da inspira- do alongamento. Em relação aos outros métodos de alongamento, o ção. Devido isto as colocações de Netter e Machado (8) se torna neste artigo mais bem conceituadas. estático apresenta o menor risco de lesão e acredita-se ser o mais seguro, além de ser o mais usado.(5) RESULTADOS E DISCUSSÕES Músculatura envolvida na inspiração plamente utilizado em clínicas.(13) Entretanto este méto- O alongamento estático é de fácil aplicação e amAs estruturas musculares envolvida na inspiração do deve ser realizado de acordo com os princípios bio- são formadas por um grupo que interagem na fase ins- mecânicos de alongamento, com o afastamento das in- piratória, que inclui o diafragma, os intercostais exter- serções musculares no mesmo sentido da fibra muscu- nos, os esternocleidomastóideos (ECM) e os escalenos lar. O tempo de sustentação do alongamento estático (ESC), sendo o diafragma o principal músculo da inspi- deve se de aproximadamente 60 segundos visando pro- ração. Do ponto de vista anatomofisiológico, estes mús- mover a modificação na unidade músculo-tendão e a culos elevam o gradil costal promovendo expansão dos alteração do número de sarcômeros em série. Tanto o pulmões.(8) alongamento estático passivo quanto o ativo são efica- Em uma breve revisão anatômica, podemos constatar que o principal músculo que atua na inspiração é zes no aumento da flexibilidade dos músculos onde está sendo aplicado.(6) o diafragma, pois em sua atividade as cúpulas descem No alongamento estático, músculos e tecidos con- aumentando o comprimento (diâmetro longitudinal) da juntivos são mantidos em posição estacionária no maior cavidade torácica e elevando as costelas inferiores, au- comprimento possível por um tempo determinado. Não mentando consideravelmente os volumes inspiratórios. é aplicada força por parte do paciente quando é realiza- Em relação aos intercostais externos, que também do de forma passiva, diminuindo desta forma a chance são considerados músculos principais da inspiração, em da ocorrência de microtraumas. Este tipo de técnica tem (8) Ter Man. 2013; 11(53):415-420 418 O alongamento estático manual da musculatura envolvida na inspiração pode promover benefícios? a duração pré-determinada e requer uma força externa sultados os autores focaram somente a importância de aplicada pelo terapeuta, o qual controla a direção, velo- outra técnica descrita em seu estudo. Os resultados vol- cidade, intensidade e ultrapassa o comprimento de re- tados para o ganho respiratório novamente não ficaram pouso.(2) As musculaturas devem ser alongadas de ma- evidentes. neira progressiva a fim de aumentar a flexibilidade.(7) Para Bonfim et al(14) e Tirlonil et al(15) o alongamen- Em uma revisão de literatura usando 138 artigos, se concluiu que é temeroso afirmar qual o efeito exato to estático manual caracteriza-se por movimentos lentos, do alongamento,(5) incluindo neste contexto, o alonga- até o ponto máximo de amplitude articular ou até o ponto mento estático manual da musculatura envolvida na ins- de desconforto do indivíduo, com o tempo de sustentação piração. em cerca de 10-30 segundos. Entretanto, em relação ao Godoy e Lanzillotta(20) sugere que mais estudos tempo de sustentação os autores são quase todos unâni- sejam realizados na área para haver uma segurança mes ao padronizar em torno de 60 segundos.(5) maior na aplicação do treino da musculatura respirató- Dentre os benefícios do alongamento estático po- ria. Silva et al(17) levanta uma questão de estrema rele- demos citar o alivio das dores musculares, melhora da vância neste contexto ao afirmar que existem inúme- flexibilidade, redução do gasto de energia globale o re- ros achados que demonstram que o alongamento agudo laxamento, podendo o alongamento ser realizado de pode inclusive reduzir o desempenho funcional. Será forma isolada ou de maneira global.(14-16) Estes benefí- que tal fato pode ser generalizado em relação a mus- cios são provenientes da redução da atividade dos fusos culatura envolvida na inspiração? Para Coutinho et al musculares e aumenta consideravelmente da atividade poucos estudos têm sido realizados para determinar as dos órgãos tendinoso de Golgi.(17) alterações morfológicas induzidas por estas técnicas em Originalmente as técnicas de alongamento eram (13) seres humanos ou em modelos animais. utilizadas em algumas poucas patologias, com o passar Mediante a tudo que foi colocado, só nos resta a do tempo, evidências demonstraram que o enfoque te- concluir que é surpreendente que nosso conhecimento rapêutico também era eficaz em um número bem maior esteja baseado puramente em estudos tão curtos e sem de doenças. resultados precisos e claros.(5) Com a finalização deste (6) Antes de qualquer coisa é necessário deixar bem manuscrito podemos até argumenta que desconhecemos claro que o assunto sobre o método de alongamento es- a existência de estudos que realizaram alongamentos da tático manual da musculatura envolvida na inspiração e musculatura envolvida na inspiração ou que tenha utiliza- os seus benefícios para os volumes inspiratórios é um do testes específicos para monitorar a ativação muscular tema de estrema escassez. Na realidade, em todos os após este tipo de intervenção. Entretanto, este procedi- 21 artigos (1-21) utilizados para realizar esta revisão de li- mento é bem praticado no meio fisioterapêutico.(5) teratura os autores são unânimes em fazer está assertiva. Rosário, Marques e Maluf(5) em uma revisão seme- CONSIDERAÇÕES FINAIS lhante, diz que a dificuldade em obter conclusões exatas No decorrer da elaboração desta revisão literária, sobre muitos aspectos do alongamento se deve a falta foi possível abordar os métodos de alongamentos e o de padronização nos trabalhos, e conclui afirmando que alongamento estático manual, a musculatura envolvida a falta de variáveis seguras para um tipo de tratamento na inspiração e principalmente tentar desmistificar ou tão usado é alarmante. Mas, com o intuito de tratamos aprovar uma conduta que constantemente somos orien- deste assunto, iremos usamos como referências literá- tados a realizar na graduação. rias que tratem diretamente ou indiretamente do assunto proposto no título deste artigo. Mediante ao que foi desenvolvido neste trabalho podemos concluir que esta práxis não é a mais eficaz Neste contexto Cunha et al(18) até evidenciou em para a prática clínica em fisioterapia respiratória devido seus estudos mudanças dos perímetros torácicos após o a obscuridade e a falta de respaldos científicos. Entre- alongamento de alguns músculos respiratórios, mas faz tanto, cabe ressaltar que o nosso intuito não é finalizar questão de finalizar colocando que novos estudos sobre este assunto e sim levantar questionamentos sobre algo o assunto devem ser realizados, aplicando outras me- que praticamente não tem base cientifica e ao mesmo todologias, visando propiciar um maior aprofundamen- tempo é bem praticado no meio fisioterapêutico. to científico em relação a utilização dos alongamentos Com isto podemos concluir que, levando em conside- em indivíduos que apresentam distúrbios da mecânica ração os artigos que foram revisados, o alongamento es- respiratória. tático manual da musculatura envolvida na inspiração pro- Lozano et al (19) relata que durante suas interven- ções propôs que fossem duz somente efeito placebo,(21) até que se prove ao contrá- realizados alongamentos da rio, pois até este momento conforme a literatura tem efei- musculatura acessória da respiração de uma forma glo- tos indefinidos. Por fim, a fisioterapia pode evoluir muito bal, colocando toda a cadeia muscular que se queria mais nesta área, sendo que, para isso acontecer, devem- alongar em estiramento. Entretanto, no registro dos re- -se realizar mais pesquisas sobre este assunto. Ter Man. 2013; 11(53):415-420 Francisco E. S. Maia, Erick C. Medeiros, Roney R. P. Carvalho, Antonio G. K. O. Pinto, Ellen L. R. Moura, et al. 419 REFERÊNCIAS 1. Moreira PVS, Nascimento RG. O efeito do alongamento para a saúde e o desempenho: novas perspectivas. A Revista Terapia Manual - Posturologia, ano 2012, volume 10, nº 50, pag: 557-566. Disponível em: <revistatm.com. br/index.php/revista/article/download/57/22>. Acessado em 15 de Junho de 2013. 2. Dezincourt FF, Vieira LCR, Barbosa FLGS, Neto LSR, Lima PB, Sousa DS, et al. Alongamento, flexibilidade e métodos de avaliação. EFDeportes.com, Revista Digital, ano 2012, volume 16, nº 165, pag: 01. 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Tatiana Emy Koike(1), Vanessa Tiemi Haro(1), Thaliny Kanevieskir(1), Dalva Minonroze Albuquerque Ferreira(2), Maria Rita Masselli(2), Celia Aparecida Stellutti Pachioni(2). Resumo Introdução: Sabe-se que o número de pessoas com desvios posturais é cada vez maior. Desta maneira, o diagnóstico precoce possibilita uma uma intervenção conservadora capaz de reduzir a evolução e fixação das curvaturas que podem levar à necessidade de cirurgia. O tratamento conservador como a prática de exercícios físicos tem demonstrado efeitos benéficos para esta população, ocasionando melhora da dor, flexibilidade e alinhamento da coluna. Objetivo: Realizar uma revisão bibliografia e reunir informações a respeito dos benefícios proporcionados pelo exercício na escoliose idiopática. Método: Foi utilizada a base de dados bibliográficos e portais de revistas eletrônicas: MEDLINE, LILACS, PEDro e Periódicos da CAPES delimitados a pesquisa ao período de 2000 à 2012. A definição das palavras-chave foi feita pelo Descritores em Ciências e Saúde (DeCS): escoliose (scoliosis), reabilitação (rehabilitation), terapia por exercício (exercise therapy) e modalidades de fisioterapia (physical therapy modalities), seguida dos cruzamentos das palavras em português e inglês. Foram selecionados os trabalhos relacionados à escoliose e tratamento conservador por meio de exercício físico ativo. Resultados: Foram obtidos 10 trabalhos relacionados aos critérios citados acima. Os resultados demonstraram que o tratamento da escoliose idiopática através da prática de cinesioterapia específica foi benéfico. Estas melhoras são quantificadas por meio de diferentes mensurações, tais como: Ângulo de Cobb, flexibilidade e dor. Conclusão: Apesar dos métodos estudados demonstrarem resultados benéficos ainda é necessário realizar estudos com uma população maior e períodos variados de intervenção com exercícios para a escoliose idiopática. Palavras-chave: Escoliose idiopática, Exercício físico, Revisão bibliográfica Abstract Introduction: It is known that the number of people with postural deviations is increasing, Thus, early diagnosis allows for conservative intervention can reduce the development and fixing of bends that can lead to the need for surgery. Conservative treatment such as physical exercise has shown beneficial effects in this population, causing pain improvement, flexibility and spinal alignment. Objective: To review literature and gather information about the benefits provided by exercise in idiopathic scoliosis. Method: We used a bibliographic database of electronic journals and portals: MEDLINE, LILACS, PEDro and the CAPES Journal delimited research the period 2000 to 2012. The definition of the keywords was taken by Descriptors in Health Sciences (MeSH): scoliosis (scoliosis), rehabilitation (rehabilitation), exercise therapy (exercise therapy) and physical therapy modalities (physical therapy modalities), then the intersections of words in Portuguese and English. We selected the work related to scoliosis and conservative treatment of physical assets. Results: We obtained 10 papers related to the above criteria. The results demonstrated that treatment of idiopathic scoliosis through the practice of specific cinesiotherapy was beneficial. These improvements are quantified by means of different measurements, such as Cobb angle, flexibility and pain. Conclusion: Although the methods studied show beneficial results further research is needed with a larger population and varying periods of exercise intervention for idiopathic scoliosis. Keywords: Scoliosis, Exercise therapy, Review Literature as Topic Recebido em: 05/07/2013; Aceito em: 13/09/2013 1. Aluna da Pós Graduação Lato Sensu do curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCT/Unesp), Campus Presidente Prudente, Presidente Prudente (SP), Brasil. 2. Docente do programa de Pós Graduação Lato Sensu do curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCT/Unesp), Campus Presidente Prudente, Presidente Prudente (SP), Brasil. Contato: Tatiana Emy Koike - Departamento de Fisioterapia - FCT/UNESP - Rua Roberto Simonsen, 305; CEP 19060-900 - Presidente Prudente/ SP - Tel: (18) 3229-5388 - Ramal: 5542 - Email: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):421-427 422 Cinesioterapia na escoliose idiopática. INTRODUÇÃO laboração do paciente para sua execução, sendo neces- Os desvios posturais são comuns devido à ação de sária a realização da maneira correta e frequente de agentes estressores e externos do cotidiano. No entan- acordo com a proposta de tratamento. Os benefícios são to, para manter a postura adequada e músculos flexíveis obtidos de forma lenta, gradual e podem ser observados é importante realizar diariamente uma série de exercí- pela melhora do alinhamento da coluna e flexibilidade, cios, sobretudo alongamentos, que são indicados prin- e redução da algia. cipalmente às pessoas que executam tarefas de muita Segundo Achour(18), os exercícios que enfatizam os precisão ou que permanecem por um longo tempo sen- alongamentos atuam nos encurtamentos musculotendí- tado em seu trabalho ou atividade.(1) neos diminuindo o risco de alguns tipos de lesão muscu- Segundo Perdriolle(2), os aspectos de uma altera- lo-articular pelo relaxamento muscular, melhora circula- ção postural são diversos, entre eles a escoliose, é defi- tória e coordenação. Nos esportes, reduzem a resistên- nida como uma rotação das vértebras da coluna verte- cia tensiva muscular antagonista e aproveita mais eco- bral que rompem o equilíbrio raquidiano e produz o mo- nomicamente a força dos músculos agonistas, liberam a vimento escoliótico. Estas rotações fazem com que ocor- rigidez e possibilitam melhorar a simetria muscular, di- ra uma deformação lateral, ocasionando um dorso con- minuindo a incidência de problemas posturais e adapta- vexo projetado posteriormente criando uma cifose pa- ção muscular que alteram o centro de gravidade. radoxal na medida em que houver piora da curvatura. Dessa forma, esta revisão bibliográfica pretende As patologias relacionadas às disfunções da coluna buscar e verificar o benefício dos diferentes métodos vertebral vêm aumentando significantemente e acome- de cinesioterapia no tratamento na escoliose idiopática, tem as regiões torácica e lombar principalmente no pe- servindo como suporte para novas pesquisas relaciona- ríodo da infância e adolescência. Desta maneira, o diag- das ao tema, otimizando o tempo e o tratamento para nóstico precoce da escoliose pode reduzir a evolução e melhora postural. fixação das curvaturas, enaltecendo a importância do tratamento no período em que as epífises de crescimento ósseo ainda não se fecharam. (3) MATERIAIS E MÉTODOS Foi realizada a delimitação do tema-problema man- Seu caráter evolutivo pode ser acompanhado por tendo a relação com a área da Fisioterapia, sua impor- meio da mensuração da curva escoliótica utilizando o tância científica, procurando atender interesses dos pro- método de Cobb, considerado pela Sociedade de Pes- fissionais e pacientes, e servindo para outros estudos da quisa em Escoliose como a melhor forma de avaliação comunidade científica. Desta maneira, foi feita a pesqui- para determinar sua gravidade.(4,5,6) Para Torell et al.(7), a sa de estudos relacionados à escoliose e seu tratamento grande maioria das escolioses idiopáticas na adolescên- mais especificamente a cinesioterapia (exercício). cia é assintomática antes de atingir altas angulações, Os levantamentos bibliográficos deste assunto normalmente acima de 40º. Desta maneira o diagnósti- foram feitos pelo reconhecimento da terminologia utili- co precoce de escoliose torna-se importante e aumen- zada na área e a definição das palavras-chave pelo Vo- ta em três vezes o número de pacientes tratados con- cabulário Controlado DeCS-Descritores em Ciências da servadoramente diminuindo a necessidade de interven- Saúde, elaborado pela BIREME- Centro Latino-America- ção cirúrgica. no e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde: es- Diversos métodos conservadores foram e ainda são coliose (scoliosis), reabilitação (rehabilitation), terapia elaborados a partir de exercícios físicos instituídos em por exercício (exercise therapy) e modalidades de fisio- resposta às necessidades de tratamento para pessoas terapia (physical therapy modalities). com desvios posturais na coluna. Várias técnicas e re- Foram utilizadas fontes da base de dados bibliográ- cursos foram utilizados como a reeducação postural glo- ficos e portais de revista eletrônica: MEDLINE, LILACS, bal, exercícios físicos com bola suíça, manipulações os- PEDro e Periódicos da CAPES, delimitados a pesquisa ao teopáticas, método Klapp, isostretching, pilates, entre período de 2000 à 2012. outros.(8-15) As buscas foram realizadas pelos cruzamentos das De maneira geral, as técnicas de correção postural palavras em português e inglês. Em seguida os traba- são realizadas envolvendo exercícios de fortalecimen- lhos foram selecionados conforme critérios de inclusão, to e alongamento. Além disso, os exercícios associados ou seja, relacionados à escoliose e tratamento conser- ao trabalho respiratório ocasionam ganho da mobilida- vador por meio de exercício físico ativo; sendo excluídos de articular de toda a coluna vertebral e tórax proporcio- os trabalhos relacionados ao uso de órteses, comprome- nando diversos benefícios como a melhora da coordena- timento neurológico e cardiopulmonar. ção motora e equilíbrio, fortalecimento de musculaturas enfraquecidas, aumento da amplitude de movimento e diminuição de espasmos musculares.(16,17) O tratamento envolvendo cinesioterapia requer co- Ter Man. 2013; 11(53):421-427 RESULTADOS Foram selecionados 10 trabalhos conforme critérios citados acima e todos os estudos demonstraram be- Tatiana E. Koike, Vanessa T. Haro, Thaliny Kanevieskir, Dalva M. A. Ferreira, Maria R. Masselli, Celia A. S. Pachioni. 423 nefícios obtidos com a prática da cinesioterapia espe- cimento e alongamento muscular. Deste modo, a técni- cífica no tratamento da escoliose idiopática. Estas me- ca melhora a mobilização articular, tonifica a muscula- lhoras foram quantificadas por meio de diferentes men- tura, desenvolve a percepção da consciência postural e surações, tais como: Ângulo de Cobb(11,13-15), flexibilida- a capacidade respiratória, resultando em equilíbrio cor- de(9,10,13) e dor(9,12) (Tabela 1). póreo.(19) DISCUSSÃO achados desta revisão bibliográfica e demonstraram o O isostretching foi a técnica mais estudada entre os aumento da flexibilidade e redução das assimetrias posIsostretching -turais, porém o Ângulo de Cobb mostrou-se inalterado Segundo Redondo(8), o Isostretching é uma técni- nos estudos de Sá e Lima.(20) ca de ginástica postural baseada, nos conceitos das ca- Sá e Lima(20) realizaram um estudo de caso com um deias musculares que oferece suficientemente contra- voluntário portador de escoliose idiopática grau leve. ções e tensões musculares para limitar os movimentos Após dez sessões de isostretching e totalizando um mês compensatórios, ocorrendo simultaneamente o fortale- de tratamento, foi possível comprovar o aumento da fle- Tabela I: Trabalhos que utilizaram cinesioterapia para tratamento da escoliose idiopática. Autor (ano) População Exercício Resultados Sá e Lima, 2003 Estudo de caso, 13 anos Isostretching e reeducação respiratória 1mês; 10 sessões; 2 x semana; 50 min. ↑ ADM do MID (60°para 75°) e MIE (45° para 80°), ↓ EVA de 7 para 2, Ângulo de Cobb inalterado. 1 mês não foi suficiente para diminuir os graus das curvas escolióticas. Bonorino; Borin e Silva, 2007 Estudo de caso, sedentária, 19 anos; Ângulo de Cobb = 13º Isostretching e Bola Suíça: 2 meses / 3 x semana/ 1 hora. ↓ dor, sendo EVA de 7 para 2 ↑ flexibilidade de 53,5 para 66,5cm ↓ medida dedo-chão de 18 para 16cm Ângulo de Cobb inalterado em 13º Borghi; Antonini e Facci, 2008 9 voluntários ≤ 18anos. Sem tratamento prévio ou e uso de colete/órtese. Isotretching: 3 meses / 24 sessões / 2 x semana / 50 min. Redução do Ângulo de Cobb em 55,5% dos participantes, Redução da hiperlordose em 6,44%. Negrini et.al., 2008 74 voluntários. Sem tratamento prévio; Ângulo de Cobb ≥15º e com indicação de brace. Fisioterapia X Specific exercises- SEAS: 12 meses; 2ou 3 x semana; 48 min. Grupo SEAS: Ãngulo de Cobb melhorou em média 23,5% individualmente, mostrandose mais efetiva do que a fisioterapia convencional Araújo et. al., 2010 31 mulheres, entre 18 e 25 anos; Ângulos de Cobb do Grupo Pilates = 7º ± 3 Grupo Controle (sem intervenção) = 8º ± 3 Pilates: 3 meses; 24 sessões; 2 x semana; 1hora. Redução da dor no Grupo Pilates: p=0,0002 (5,3 ± 1,5 para 1,8 ± 1,7).. Iunes et. al., 2010 16 voluntários (3 homens e 13 mulheres). 15 ± 2,61 anos, 48 ± 12,36 kg, 1,58 ± 0,09 m Método Klapp: 20 sessões; 2 x semana; 70 min. Melhora da assimetria do tronco avaliada pela biofotogrametria: - Triângulo de Tales p=0,02 - Acrômioclavicular p=0,00 - Esternoclavicular p= 0,01 - Lordose lombar p=0,00 - Protrusão de cabeça p=0,01 Cardoso, 2011 Estudo de caso, sexo feminino, 12 anos; Ângulo de Cobb = 42º Isostretching, alongamentos e Terapia manual: 30 sessões; 3 x semama; 50 min. Diminuição do Ângulo de Cobb (42º para 36º). Toledo et. al., 2011 10 voluntários (11 homens e 9 mulheres) Ângulo de Cobb do Grupo controle= 14,70º±3,77 Grupo RPG= 15,10º±2,51 RPG: 3 meses; 2 x semana; 1 hora. Grupo controle - ângulo de Cobb: p=0,009 (15,10º±2,51 para 9,80º±2,90) Grupo RPG – ângulo de Cobb: p=0,789 (14,70º±3,77 para 16,10º±3,75) RPG: 20 sessões; 2x semana; 45 min. Pilates: 20 sessões; 2x semana; 40 min. GR (RPG): Ângulo de Cobb (p=0,0001): 15,50º±2,61 para 12º±2,39 GP (Pilates): Ângulo de Cobb (p=0,0001): 16,12º ±2,35 para 14,250º ±2,60 Segura et. al., 2011 16 mulheres, entre 10 e 16 anos. Ãngulo de Cobb entre 10º e 20º Ter Man. 2013; 11(53):421-427 424 Cinesioterapia na escoliose idiopática. xibilidade e amplitude de movimento dos membros infe- luna vertebral mantenha-se na posição neutra, minimi- riores e coluna vertebral, melhora do alinhamento pos- zando o recrutamento muscular desnecessário e preve- tural, redução do quadro álgico. Apesar dos valores do nindo a fadiga precoce. Por serem realizados em uma ângulo de Cobb que eram de 12º em região toracolom- velocidade lenta e constante, trabalhando as articula- bar à esquerda e 6º em região torácica à direita perma- ções em uma amplitude máxima de flexibilidade, esti- necerem inalterados, houve efeitos benéficos na flexibi- mulando a precisão, propriocepção e concentração du- lidade e liberação das retrações das cadeias musculares rante a execução, visa melhorar a flexibilidade geral do resultando na diminuição da rotação vertebral. Chega- corpo, força muscular, postura e coordenação da respi- ram à conclusão de que a musculatura encurtada e re- ração com o movimento, sendo, portanto, esses fatores traída, antes do tratamento, tracionava as vértebras em essenciais no processo de reabilitação postural.(17) direção ao lado côncavo da curva toracolombar. Deste Araújo 2010 et al.(12) realizaram um estudo contro- modo, a aplicação da técnica Isostretching durante 1 lado no qual dividiram de maneira aleatória 31 univer- mês não foi suficiente para diminuir os graus de ambas sitárias em grupo controle e experimental. Todas com as curvas escolióticas, porém com a diminuição da rota- diagnóstico de escoliose não estrutural e referindo dor ção vertebral a técnica se mostrou eficiente. Retardando crônica na coluna vertebral (torácica e/ou lombar) há desta maneira a estruturação e instalação e o processo 36 ± 16 semanas, idade entre 18 e 25 anos e ângulo de evolução da escoliose.(20) de Cobb 7 ± 3 graus. Observaram que após intervenção O estudo de caso realizado por Bonorino, Borin e de 24 sessões de Pilates houve redução significativa em Silva(9) corrobora com os resultados encontrados acima, 66% na intensidade de dor, atribuindo esta melhora em visto que demonstraram resultados benéficos com o função dos efeitos do programa de exercícios mecano- método isostretching associado a exercícios com a bola terapêuticos propostos pelo método Pilates, que agiram suíça durante dois meses. Apesar de não haver diminui- sobre o controle postural e estimularam o trabalho dos ção significativa da curva escoliótica, houve diminuição músculos estabilizadores da coluna. das retrações musculares e diminuição das queixas de Em outro trabalho, Araújo 2012 et al.(13) utiliza- dor. Os autores atribuíram estas melhoras pela relação ram a mesma população do estudo descrito acima, que entre o adequado comprimento, relaxamento e diminui- foram divididos em grupo controle e grupo experimen- ção das tensões do tecido musculoesquelético de forma tal. Os indivíduos foram submetidos ao mesmo protoco- global, que provocaram diminuição ou ausência de des- lo da pesquisa feita em 2010;(12) sendo em um período conforto corporal antes referido. de três meses, duas vezes na semana com duração de O ângulo de Cobb inalterado pode ser devido ao sessenta minutos cada sessão. Demonstraram que além tempo insuficiente de tratamento; como observado pelos de redução da dor, houve diminuição do ângulo de Cobb autores Borghi, Antonini e Facci(10) em um estudo com e aumento da flexibilidade nos voluntários que partici- nove voluntários sem tratamento prévio e/ou uso de co- param da intervenção com o método Pilates. Segundo lete, que realizaram isostretching duas vezes por semana os autores efeitos positivos foram atribuídos à natureza durante três meses. Os resultados apresentados foram dos movimentos, que obedecem aos princípios básicos significantes e benéficos na flexibilidade, na expansibili- enfatizados pelo método realizados a fim de obter cons- dade torácica e, principalmente, na redução da angulação ciência corporal, estabilização da coluna vertebral lom- da lordose lombar e da escoliose (Tabela 1). bar e da pelve. Pilates Reeducação Postural Global (RPG) Descrito por Silva e Mannrich(21), inicialmente o Mé- A Reeducação Postural Global tem como objetivo todo Pilates foi desenvolvido para melhorar a força mus- avaliar e tratar o indivíduo globalmente corrigindo pro- cular; porém, com sua popularidade, obteve novos obje- blemas músculo-articulares, sendo indicada para tratar tivos incluindo controle e consciência postural, e ganho pacientes com diversos desvios na coluna vertebral. As de flexibilidade. O método pode ser utilizado no trata- posturas de alongamento muscular baseadas na norma- mento de correção postural, aumento de força pós-ope- lização da morfologia, dessa forma atuam sobre a estru- ratório e de massa óssea. A técnica pode ser adaptada tura do músculo estriado, sobre as tensões neuromus- às disfunções de cada indivíduo, pois possui poucas con- culares, produzindo um trabalho essencialmente mais traindicações. ativo, mais global e mais qualitativo.(23) Por estes princí- Este método consiste na realização de exercícios fí- pios o RPG tem sido uma técnica muito utilizada nos tra- sicos, que utiliza a gravidade e recursos mecanotera- tamentos para correção dos desvios posturais, principal- pêuticos como as molas, que atuam como resistência mente na adolescência. durante a execução do movimento, como também no Toledo 2011 et al.(15) avaliaram os efeitos do mé- Os exercícios caracteri- todo da Reeducação Postural Global no ângulo de Cobb zam-se por movimentos projetados de forma que a co- (Grupo Controle com 15,10º±2,51 e Grupo RPG com auxílio do próprio movimento. (22) Ter Man. 2013; 11(53):421-427 425 Tatiana E. Koike, Vanessa T. Haro, Thaliny Kanevieskir, Dalva M. A. Ferreira, Maria R. Masselli, Celia A. S. Pachioni. 14,10º±3,77) de vinte escolares com diagnóstico de bral mova-se através de contrações musculares ativas, escoliose. Os participantes foram divididos randomi- na direção desejada para estabelecer a manutenção da camente em dois grupos homogêneos: que realizou o posição corrigida para melhorar a sua função de estabi- RPG (GRPG) durante doze semanas com duração de 25 lização.(28) a 30 minutos cada sessão, de acordo com o tempo que Para observar se diferentes métodos (SEAS - Scien- permaneceu nas diferentes posturas do RPG; e o grupo tific Exercises Approach to Scoliosis e Fisioterapia Con- controle (GC), sem intervenção. Os resultados obtidos vencional) teriam efeitos benéficos a ponto de reduzir demonstram que o GRPG apre­sentou diminuição signifi- a prescrição do uso de colete nos participantes, Negri- cativa no ân­gulo de Cobb (p = 0,009), enquanto que o ni 2008 et al.(11) realizaram um trabalho com duração GC registrou aumento (p = 0,789). de doze meses. A amostra foi de 74 voluntárias com Os autores atribuem este resultado benéfico ao indicação médica para uso de colete, idade média de RPG, pois este atua do centro para a extremidade do 12,7±2,2 anos, ângulo de Cobb > 15º e ângulo de ro- corpo, ou seja, da coluna para os membros, utilizando o tação do tronco (ATR) > 7º. Os sujeitos foram separa- alongamento muscular ativo que envolve, em conjunto, dos aleatoriamente em grupo SEAS, que praticou duas os músculos estáticos antigravitários, os rotadores in­ vezes na semana, sessões com duração de 40 minutos ternos e os inspiratórios,(24) restabelecendo o equilíbrio cada e o grupo UP, consistindo em protocolos com dife- muscular e consciência corporal. rentes exercícios realizados em grupo, entre 45 e 90 minutos de 2 a 3 vezes na semana. Outros métodos cinesioterapêuticos Os resultados demonstraram que no Grupo SEAS Para tratamento da escoliose idiopática, foram en- apenas 6% dos voluntários permaneceram com a pres- contrados dois estudos, um envolvendo o Método Klapp crição de uso do colete, 23,5% dos voluntários obtive- e outro Scientific Exercises Approach to Scoliosis (SEAS). ram diminuição do ângulo de Cobb e 9,1% diminuição O método Klapp é uma técnica antiga que é utili- do ângulo de rotação do tronco (ATR). Já nos partici- zada na prática clínica e, no entanto, pouco pesquisa- pantes do Grupo UP, 25% dos voluntários continuaram da. Ela consiste em alongamento e fortalecimento da com prescrição de colete, 11,1% diminuíram o ângulo musculatura do tronco por meio de posições em quatro de Cobb e 2,8% do ângulo de rotação do tronco (ATR). apoios, semelhantes aos qua­drúpedes. Esse método foi Todos os estudos encontrados nesta revisão biblio- criado por Rudolph Klapp em 1940. Ele estudou e obser- gráfica corroboram com os conhecidos benefícios propor- vou que os quadrúpedes não apresentavam escoliose, cionados pela cinesioterapia no tratamento da escoliose enquanto os humanos, pela ação da gravidade na posi- idiopática, tais como melhora da flexibilidade e consciên- ção bípede desenvolviam essa patologia.(25) cia corporal, diminuição da dor, e em alguns estudos tam- No estudo que utilizaram a biofotogrametria como instrumento de avaliação e método Klapp como trata- bém apresentaram a redução do ângulo de Cobb. O Isostretching, discutido em quatro estu- mento da escoliose idiopática, observou que houve me- dos(9,10,20,30) dos dez encontrados nesta revisão propor- lhora das assimetrias dos ombros dadas pelos ângulos cionou, por meio de posturas, a tonificação e alonga- acromioclavicular (p=0,00), esternoclavicular (p=0,01) mento de músculos, a melhora da consciência corporal e Triângulo de Tales esquerdo (p=0,02); aumento da e mobilização das vértebras; consequentemente atuou flexibilidade observada pelo ângulo tíbiotársico e coxofe- diminuindo o quadro álgico e melhorando a flexibilida- moral; além da diminuição da lordose lombar. O fato do de do indivíduo. Apesar de pouco utilizado para estudos, método utilizar posturas assi­métricas de membros su- o método Klapp e RPG corroboraram com os resultados periores e inferiores, enfatizando o alongamento do lado observados com Isostretching. côncavo da escoliose, pode favorecer a melhora das assimetrias.(25) Os melhores resultados foram observados utilizando os métodos Pilates e SEAS sendo estes promissores A autocorreção baseada em exercícios que visam na redução do ângulo de Cobb, além do ganho de flexi- à estabilização da coluna e fortalecimento dos múscu- bilidade e diminuição da algia. Possivelmente os apare- los antigravitacionais tônicos é conhecida como SEAS lhos e acessórios utilizados pelo Pilates melhoram o de- - Scientific Exercises Approach to Scoliosis.(26;27) Estes sempenho do indivíduo nos exercícios, pois direcionam exercícios são realizados ativamente pelo paciente que os movimentos melhorando o posicionamento e exigin- exigem contração da musculatura profunda da coluna do a contração muscular do início ao final do exercício, nos três planos do espaço (coronal; sagital e transver- o que beneficia a respiração, alongamento, tonificação e sal), sem a ajuda de agentes externos em que o in- consciência corporal. divíduo necessita manter o controle preciso dos movi- Por outro lado o método SEAS demonstrou resulta- mentos. Desta forma, dificulta as reações musculares dos benéficos baseando-se na autocorreção que é defi- que poderiam impulsionar a coluna para um alinhamen- nida como a capacidade de reduzir a deformidade da co- to passivo. O objetivo é fazer com que a coluna verte- luna vertebral através de realinhamento postural ativo Ter Man. 2013; 11(53):421-427 426 Cinesioterapia na escoliose idiopática. do paciente por meio da prática de exercícios físicos es- população maior e períodos variados de intervenção po- pecíficos. derão proporcionar uma visão mais clara e animadora Apesar dos resultados promissores apresentados em todos os estudos revisados, vale ressaltar que uma para os fisioterapeutas e pacientes sobre os tratamentos cinesioterapêuticos na escoliose idiopática. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Carneiro JAO, Souza LM, Munaro HLR. Predominância de desvios posturais em estudantes de educação física da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Rev Saúde. 2005; 1(2): 118-123. 2. Perdriolle R. A escoliose: um estudo tridimensional. São Paulo, SP: Summus, 2006. 3. Souchard P. Fundamentos da reeducação postural global – princípios e originalidade. São Paulo, SP: Editora Realizações. 2003. 4. 5. 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Análise clínica e radiográfica pré e pós-tratamento conservador na escoliose idiopática do adolescente: estudo de caso. Con Scientiae Saúde, 2011;10(1):166-174. Ter Man. 2013; 11(53):421-427 428 Revisão de Literatura Utilização da Imagética Motora no processo de reabilitação e no aperfeiçoamento do movimento – Revisão Sistemática. Utilization of Motor Imagery in the process of rehabilitation and perfecting of the movement Systematic Review. Glauber da Silva Taveira(¹). Bio Cursos Pós Graduações, Manaus (AM), Brasil. Resumo Introdução: A Imagética Motora (IM) é uma técnica neurocognitiva onde o indivíduo imagina a realização de uma ação motora sem que o corpo expresse tal ato, de acordo com a literatura a Imagética Motora é classificada em Imagética Motora visual e Imagética Motora cinestésica, a aplicação dos princípios da IM como técnica de reabilitação teve inicio no final da década de 80 e início dos anos 90. Objetivo: O estudo buscou identificar os principais benefícios alcançados através da utilização da IM na reabilitação fisioterapêutica e no aperfeiçoamento do movimento, identificar áreas da fisioterapia que se utilizam desta técnica e identificar como esta sendo realizada a utilização da mesma. Método: A pesquisa foi caracterizada como revisão sistemática da literatura, foram revisados artigos consultados nas bases de dados de sites científicos como, Scielo, Bireme, sites de universidades e revistas especializadas entre os anos de 2003 a 2013. Resultados: Através do estudo foi observado a aplicação da técnica de IM em diversas áreas da reabilitação e do aperfeiçoamento do movimento, observou-se que a IM está sendo empregada juntamente com outras técnicas, a associação da IM a outras técnicas favoreceu positivamente os resultados. Dos 12 artigos pesquisados apenas um não apresentou resultados significantes em seu resultado final (p=0,27 e p=0,28). Percebeu-se a contribuição da IM na diminuição de um quadro álgico em fibromialgia, melhora no equilíbrio, aprendizado e reaprendizado motor e melhora na qualidade do movimento. Palavras-chave: Imagética motora, Treino mental, Treinamento mental, Prática mental e Simulação mental. Abstract Introduction: The Motor Imagery (IM) is a technique where the individual neurocognitive imagine performing a motor action without which the body expresses such an act, according to the literature is classified into IM Motor Imagery visual and kinesthetic motor imagery, the application of the principles of IM as a rehabilitation technique began in the late 80 to early 90. Objective: The study sought to identify the main benefits achieved through the use of IM in physiotherapeutic rehabilitation and perfecting of the movement, identifying areas of therapy who use this technique to identify and this being done using the same. Method: The research was characterized as systematic literature review, were reviewed articles consulted in databases and scientific sites, Scielo, Bireme, university sites and magazines between the years 2003-2013. Results: Through the study it was observed the application of technique of IM in various areas of the rehabilitation and perfecting of movement, it is noted that IM is being employed together with other techniques the combination of other techniques favored IM positively the results. Of the 12 articles surveyed only one did not show significant results in their final outcome (p = 0, 27 and p = 0, 28). Noted the contribution of IM in a decrease of a algic state in fibromyalgia, also improved his balance, learning and relearning motor and improves in the quality of movement. Keywords: Motor Imagery, Mental Training, Mental Training, Mental Practice and Mental Simulation. Recebido em: 02/07/2013; Aceito em: 10/09/2013 1. Pós graduando do curso de Fisioterapia Neurofuncional da Bio Cursos Pós Graduações, Manaus (AM), Brasil. Endereço para correspondência: Rua José Belém, nº 04 - CEP: 69050-087. Chapada - Manaus/AM - Brasil. E-mail: [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):428-435 429 Glauber da Silva Taveira. INTRODUÇÃO no desempenho esportivo e na aquisição de habilida- A Imagética do Movimento é um termo geral que des cirúrgicas.(14) descreve o processo de imaginar o movimento de um Durante a reabilitação, nos casos em que a con- objeto ou de uma pessoa. Quando o próprio corpo está dição neurológica não permite que os pacientes produ- envolvido, os investigadores preferem usar o termo zam movimentos, a IM ajuda manter o programa motor Imagética Motora (IM).(12,19) ativo, facilitando a execução futura dos movimentos.(12) A aplicação dos princípios da IM como técnica de O estudo buscou identificar os principais benefí- reabilitação teve início no final da década de 80 e início cios alcançados através da utilização da IM na reabilita- dos anos 90 e tem sido estabelecido para indivíduos pós ção fisioterapêutica e no aperfeiçoamento do movimen- acidente vas­ cular encefálico (AVE), com lesão medu- to, identificar áreas da fisioterapia que se utilizam desta lar e doença de Parkinson,(4) contudo, a IM motora não técnica e identificar como está sendo realizada a utiliza- está restrita apenas a reabilitação neurológica mas tam- ção da mesma. bém está sendo utilizada em outras áreas da fisioterapia como meio de reabilitar ou aperfeiçoar o movimento. MÉTODO A IM é uma técnica neurocognitiva onde o indivi- O presente estudo caracterizou-se por revisão sis- duo imagina a realização de uma ação motora sem que temática da literatura, teve por objetivo agrupar, ava- o corpo expresse tal ato.(2, 4, 10,14) liar de modo crítico e conduzir uma síntese de evidên- A IM tem origem basicamente visual e cinestésica, cias científicas. sendo a modalidade visual correspondente à simulação Desta forma foram revisados artigos consultados mental de uma determinada tarefa motora como se es- nas bases de dados de sites científicos como, Scielo, Bi- tivesse observando um “vídeo mental”, enquanto que, reme, sites de universidades e revistas especializadas na IM cinestésica, o sujeito deve “sentir” como se o seu entre os anos de 2003 e 2013, a pesquisa buscou os ar- corpo estivesse em movimento, procurando obter sen- tigos publicados no idioma português. Para busca dos sações relacionadas às contrações musculares e da po- artigos foram utilizados os seguintes unitermos: Imagé- sição dos diversos segmentos corporais no espaço. tica motora, Treino mental, Treinamento mental, Prática (18) Para classificação da técnica, utiliza-se o Revised mental e Simulação mental. Movement Imagery Questionnaire, que é uma forma Foram incluídos no estudo artigos que se tratavam subjetiva de mensurar e validar a nitidez da IM. Trata- de ensaios clínicos randomizados e controlados, estudos -se de um questionário composto por oito itens, sendo de caso, estudos de caso controle e relatos de caso, pois quatro de carater visual e quatro de carater cinestésico, estes possuiam maior número de evidências a respeito tendo a possibilidade de atingir, no máximo, vinte oito do tema abordado. pontos, e, no mínimo, quinze pontos.(3) O período estabelecido para a busca dos estudos foi Através de técnicas de mapeamento cerebral, estu- de janeiro de 2013 a feverei­ro de 2013. Foram encontra- dos permitiram uma localização das estruturas anatômi- dos 30 artigos, destes foram selecionados 20 que aten- cas cerebrais envolvidas na realização dos movimentos diam os critérios de inclusão, dentre os 20 artigos se- imaginados e executados, e sugeriram que a área moto- lecionados, 12 faziam referências a reabilitação motora ra suplementar, o cerebelo, córtex pré-motor, córtex cin- ou aperfeiçoamento do movimento e 8 relatavam outros gulado, córtex parietal superior e inferior e córtex motor experimentos relacionados a IM. primário e sensorial estão envolvidos na imaginação e execução dos movimentos.(12) RESULTADOS A visualização da ação ativa os neurônios motores De acordo com os achados foi possível observar a conhecidos como neurônios espelhos, que são responsá- aplicação da técnica de IM em diversas áreas da reabi- veis pela observação e pela imitação do que foi observa- litação e do aperfeiçoamento do movimento, observou- do, estimulando áreas pré-motoras.(8) -se que a IM está sendo empregada juntamente com ou- Os neurônios espelho são extremamente impor- tras técnicas e que também possuem participação dian- tantes, estes são neurônios visuomotores bimodais te dos bons resultados obtidos. Durante a análise dos que são ativados durante a observação da ação, a es- artigos foi observado que: 2 artigos retaram interven- timulação mental (imaginação) e sua execução.(9) O ções no campo da reabilitação uroginecológica que co- paciente quando visualiza seu membro plégico se mo- laboraram para o aprendizado de exercícios de fortale- vendo gerava inputs visuais de ato motor, o input vi- cimento do assoalho pélvico, 3 na área da reabilitação sual é mais rápido que o input somatosensorial dando Neurofuncional contribuindo para o aprendizado e rea- a impressão ao paciente de movimentação.(8) Há evi- prendizado motor, 1 no campo da reabilitação Geriátrica dências de que o treinamento mental induz ao apren- com o treino de equilíbrio, 1 artigo relatou intervenção dizado de habilidades motoras. Este efeito já foi de- no campo da reabilitação Reumatológica com tratamen- monstrado na reabilitação de pacientes neurológicos, to para minimização do quadro álgico de Fibromialgia, 4 Ter Man. 2013; 11(53):428-435 430 Imagética Motora na reabilitação e no aperfeiçoamento do movimento. artigos relataram intervenções no campo do aprendiza- perá-lo completamente e possui uma recuperação lenta do motor e aperfeiçoamento do movimento direciona- e imprevisível,(15) no entanto se o cérebro for estimula- do ao Esporte, 1 mostrou o efeito da simulação mental do pode ocorrer uma nova reorganização cerebral. Os sobre o controle postural e 8 relataram outros experi- neurônios espelho estão ativos durante a observação mentos relacionados IM. Durante a análise dos achados da ação, a estimulação mental (imaginação) e sua exe- notou-se que apenas 08 artigos apresentaram análises cução.(9) O ambiente possui seu nível de importância e estatísticas e 4 realizaram apenas análises qualitativas, pode influenciar na neuroplasticidade, exercendo influ- a tabela 1 mostra os estudos que apresentaram análises ências significativas durante a realização das atividades. estatísticas e a tabela 2 mostra os estudos que apresen- (16) taram apenas análises qualitativas, bem como o método utilizado e os resultados obtidos. Em estudo realizado, a prática mental continuou a propiciar estímulos externos, motivando o paciente a recrutar todos os sentidos do corpo, contribuindo para a DISCUSSÃO formação de um feedback intrínseco, por meio de co- A técnica de IM quando bem aplicada pode cola- mandos externos de autopercepção corporal e de preci- borar para obtenção de resultados positivos, através da são na sensação do movimento.(19) A imaginação do mo- estimulação cognitiva, obtêm-se resultados que, soma- vimento produziu micro contrações e conseqüentemen- dos com prática física, maximizam determinadas res- te uma melhora da coordenação neuromuscular, produ- postas motoras.(1) Estudos relacionados às modalidades zindo um efeito fisiológico significativo, pois uma maior de IM têm indicado que algumas tarefas envolvem a in- irrigação de sangue é constatada na musculatura envol- formação de imagem e percepção, requerendo uma al- vida na ação.(2) Em estudos realizados foram detectados ternância na modalidade de IM ou a utilização de ambas. resultados estatisticamente significantes na melhora do Inúmeras pesquisas, nas quais foram usadas inter- tônus dos indivíduos participantes da pesquisa. Contu- pretações de imagem, como de ressonância magnética do a capacidade de imaginar difere de indivíduo para in- funcional, verificaram que, durante a IM, as áreas su- divíduo.(16) A lei de Fitts ressalta que movimentos com prassegmentares do sistema nervoso central, relaciona- o nível de complexidade maior levam mais tempo para das à preparação tática e à execução do movimento são serem executados fisicamente do que movimentos mais praticamente as mesmas.(10) fáceis, tal situação aplica-se também aos movimentos (18) Durante a simulação mental de um movimento imaginados.(12) pode se “sentir” (IM cinestésica) ou se “ver” (IM visu- A IM é a representação do resultado consciente al) realizando o ato motor.(14,18) As técnicas de neuroi- para a intenção e preparação do movimento.(10) Busca- magem permitiram verificar que o circuito neural em- -se hoje pesquisar com maior consistência uma nova pregado no processo de simulação mental do movimen- visão de aprendizagem motora e novas técnicas que to é semelhante ao utilizado durante sua execução.(2) A possam ser aplicadas e que consigam contribuir de ma- presença de produção da atividade elétrica na muscu- neira positiva na evolução do tratamento.(1) latura envolvida em um movimento, como resultado da imaginação da ação pelo praticante, sugeriu que, duran- CONSIDERAÇÕES FINAIS te o treino mental, foram ativados os trajetos neuromo- A partir da realização do estudo, foi possível con- tores adequados envolvidos na ação. A ativação dos tra- cluir que a IM quando combinada a outras técnicas, jetos neuromotores favoreceu a aprendizagem de habi- mostrou-se ser uma técnica bastante útil e eficaz, apre- lidades, ajudando a estabelecer e a reforçar os padrões sentando resultados significativos durante a reabilitação de coordenação adequados.(11) e aperfeiçoamento do movimento, principalmente na as- A utilização da IM pode provocar alterações em al- sociação da IM e cinesioterapia. Sendo assim, recomen- guns dos sinais vitais devido à similaridade funcional da-se que novos estudos sejam realizados com o ob- entre movimentos executados e imaginados, estudos jetivo de mostrar os benefícios alcançados através da revelaram um aumento nas respostas autonômicas dos técnica e métodos de aplicações nas intervenções fisio- sujeitos (principalmente freqüência cardíaca e respirató- terapêuticas, contribuindo desta forma para o aumento ria) que se utilizaram da IM.(12) da aplicabilidade da técnica e elaboração de protocolos Quando um cérebro é lesionado não se pode recu- Ter Man. 2013; 11(53):428-435 apropriados para cada estágio dos tratamentos. 431 Glauber da Silva Taveira. Tabela 1. Estudos incluídos na Revisão Sistemática – Estudos que apresentaram em seus resultados análises estatíticas. Autor Carraro et al. (5) Souza e Silva (17) Lima et al.(13) Aplicação da técnica Minimização da dor em quadros de fibromialgia através da Estimulação cerebral por sintetização fótica e auditiva associada à imagética e massoterapia. Treinamento mental e equilíbrio corporal em gerontes. Exercícios e práticas imagéticas no tratamento de mulheres climatéricas com incontinência urinária. Amostra n = 5 (EC+M , grupo experimental) n = 5 (MT, grupo experimental) n = 5 (grupo controle) n = 34 (grupo experimental) n = 34 (grupo controle) n = 43 (G1, cinesioterapia) n = 43 (G2, cinesioterapia + imagética) Intervenção Resultados As intervenções foram realizadas em 10 dias consecutivos, seguindo a mesma sequência. a) A estimulação cerebral associada à imagética teve duração de 25 min, cada sessão. Buscou-se com a imagética, facilitar aos praticantes um melhor foco de união entre mente e corpo. b) No momento em que realizava a estimulação cerebral, a participante ficava sentada em uma poltrona anatômica confortável. c) As sessões de massoterapia tiveram duração de 30 minutos. Análise estatística: MT: p<0.05 EC+M: p<0.05 O resultado mostrou-se favorável ao grupo EC+M. Comparação dos dados (médias) relacionados à dor sentida antes e pós-intervenção, conforme as seguintes avaliações: Escala Analógica de Dor: 1)EC+M: Antes - 6,8 / Depois - 2,4. 2)MT: Antes - 6,6 / Depois - 2,4. 3)GC: Antes - 7,0 / Depois - 7,4. The Fibromyalgia Impact Questionnarie: 1)EC+M: Antes - 69,3 / Depois - 3,6. 2)MT: Antes - 61,4 / Depois - 42. 3)GC: Antes - 67,3 / Depois - 75,1. The General Health Questionnaire: 1)EC+M: Antes - 22,2 / Depois - 55,8. 2)MT: Antes - 26,8 / Depois - 41,4. 3)GC: Antes - 24,4 / Depois - 22,4. O grupo experimental foi submetido inicialmente à escala de Equilíbrio e de Mobilidade de Tinetti, aos movimentos do método Feldenkrais, prática do Treinamento mental dos movimentos e, no reteste, a Escala de Tinetti. O grupo controle foi avaliado no teste e no reteste pela escala de Tinetti. As conclusões foram obtidas dentro de um nível estatístico de p<0,05. Ganhos mais significativos Grupo de 60 a 69 anos: -Equilíbrio em pé, com o grupo experimental. - Houve picos avançados na manobra girar o pescoço. Grupo de 70 a 79 anos: - Equilíbrio em pé para o grupo experimental, bem como estagnação do grupo controle. - Equilíbrio em uma perna só, verificou-se um avanço expressivo do grupo experimental, assim como uma queda expressiva nos resultados na faixa etária de 70 a 79anos, para o grupo controle. - Levantar da cadeira, quatro idosas que precisavam de apoio para levantar deixaram de utilizar o apoio. Observou-se ainda o aumento de idosas que saiu do subgrupo anormal, para outras divisões no grupo experimental e a permanência do grupo controle nos níveis inferiores. Grupo de 80 a 90 anos: O grupo não obteve ganhos expressivos tanto no grupo experimental como no grupo controle. - Levantar da cadeira e Equilíbrio em pé revelou a evolução de um dos participantes para um patamar acima. Os grupos praticaram exercícios voltados à melhora de tensão dos músculos do assoalho pélvico, durante 6 meses, 3 sessões semanais de 45 minutos cada. A imagética motora se deu através de níveis: a) Nivel 1 - visualização da imagem corporal no espelho, e visualização do assoalho pélvico em contração em DVD. A paciente visualiza a imagem do seu corpo e imagina a contração do assoalho pélvico. b) Nivel 2 - visualização da região perineal no espelho, mentalização do movimento (sem haver a contração), associado ao comando verbal da fisioterapeuta. c)Nivel 3 - visualização da região perineal no espelho, manutenção da mentalização para a realização da contração dos músculos perineais, seguido de relaxamento, com olhos fechados. d)Nivel 4 - visualização da região perineal no espelho, mentalização das contrações com orientações para a continuidade domiciliar dos exercícios como também a mentalização e visualização no espelho. Análise estatística: G1: p<0,0443 G2: p<0,0001 Grupo G1 (somente cinesioterapia) a) Nenhuma das mulheres do grupo G1 (somente cinesioterapia) conseguiu atingir os níveis 4 e 5 da escala de Oxford do padrão de contração muscular Intravaginal. Grupo G2 (cinesioterapia + imagética) a) Quase a metade das mulheres, antes portadoras de incontinência urinária, galgou para um nível quase continente (nível 4), enquanto que todas as outras migraram para o de continência normal (nível 5). b) Mais da metade das mulheres, inicialmente incontinentes, passou a exercer continência sobre o sistema urinário, como altamente relevante, este ganha mais representatividade ao se observar que um montante, maior de 60% delas, iniciou o Programa de interveniência conjugada, em níveis marcantes de incontinência (Níveis 0 e 1), segundo a escala de Oxford. Ter Man. 2013; 11(53):428-435 432 Torriani et. al. (20) Almeida et. al. (1) Castro e Santos (6) Imagética Motora na reabilitação e no aperfeiçoamento do movimento. Imagética motora na qualidade de vida em mulheres com Incontinência Urinária. Imagética motora associada à música na prática do arremesso de lance livre no basquetebol. Treinamento mental na aprendizagem do elemento reversão Simples por crianças iniciantes na ginástica artística de solo. Ter Man. 2013; 11(53):428-435 n=6 Os dados foram coletados antes e depois do tratamento através do questionário Quality of life of women with urinary incontinence: further development of the incontinence quality of life instrument (I-QOL). As mulheres foram submetidas ao tratamento com imagética motora, onde o foco principal foi o ensino e a realização de exercícios perineais, que depois de mentalizados, eram efetuados através da prática mental. n = 6 (13 a 15 anos) n = 6 (18 a 31 anos) Realização de 10 treinos com duração de 15 min. de IM para cada sessão de treino. a) Os grupos realizavam o treino mental e escutavam as músicas preferidas ao mesmo tempo. b) Visualizavam e executavam mentalmente os gestos motores do arremesso de lance livre, procurando corrigir detalhes para um melhor aproveitamento. c) Com os olhos fechados e com fone nos ouvidos, procuravam integrar todos os orgãos sensoriais estimulando-os a transformar o momento no mais real possível. n = 17 (GE grupo experimental) n = 17 (GC - grupo controle) A intervenção se deu em 16 sessões. Para GE foi aplicado treinamento mental + convencional e para o GC foi aplicado apenas treinamento convencional. Para treino de IM foi utilizado os seguintes procedimentos. 1º Passo: Escolha do movimento. 2º Passo: Foi escrito de forma detalhada e concreta o transcurso de todo o movimento. 3º Passo: Nos 3 dias seguintes, durante 10 min. por dia, foi lida e analisada a descrição do movimento para as crianças várias vezes, durante a leitura eram feitas as tentativas de imaginação do movimento. 4º Passo: Quando a IM foi reproduzida, buscou-se os pontos centrais do movimento. Os ginastas foram incentivados a mudar, no pensamento, de um ponto - chave a outro, de forma que a imaginação da técnica tivesse o tempo semelhante ao da execução motora. 5º Passo: Os pontos - chaves foram identificados com palavras curtas. Essa perspectiva foi exercitada não mais do que 10 min. por vez, até que ela obteve uma duração interna semelhante à execução motora. 6º Passo: Repetição das sessões anteriores. 7º Passo: imaginação da atividade antes da realização na prática. 7º Passo: Treinamento de forma mental das fases de pré e pós preparação, nas pausas ou nas interrupções curtas de um treino ou outro. A análise dos dados quanto à pontuação total do questionário, mostrou um aumento estatisticamente significativo (p<0,007), havendo uma média inicial de 48 pontos (±21,20) e final de 69,67 (±16,11). Os resultados alcançados não foram significativos, mostrando que, para estes indivíduos, este tipo de estimulação realizada com música, aliada a imagética, não se mostrou estatisticamente eficiente, grupo de 13 a 15 anos com índice de p=0,27 e o grupo de 18 a 31 anos com p=0,28, apesar de ter uma tendência de melhora. Grupo de 13 a 15 anos - Média de acertos: Antes – 5,5 / Depois – 6,8. Grupo de 18 a 31anos - Média de acertos: Antes – 8,7 / Depois – 10,3. Os resultados comprovaram a real eficiência do treinamento mental no contexto do experimento, uma vez que o GE obteve qualidade técnica média na execução da reversão no solo estatisticamente superior (teste t de Student com nível de significância de 5%) quando comparada à média dos resultados do GC no pós-teste . Comparando os ganhos e constatou-se que houve diferença estatisticamente significativa, sendo que o t calculado foi de 2,57 e o t tabelado é 2,09. Grupo experimental Evoluiu: 81,8%. Permaneceu Igual: 18,2%. Regrediu: zero. Grupo controle Evoluiu: 45,6%. Permaneceu Igual: 27,2%. Regrediu: 27,2%. 433 Glauber da Silva Taveira. Cabral et al. (4) Silva et al.(16) Facilitação do planejamento e da aprendizagem por meio da prática mental na Paralisia Cerebral. Imagética motora associada a cinesioterapia no membro superior de pacientes hemiparéticos. n = 3 (GEgrupo experimental) n = 3 (GCgrupo controle) n = 5 (EC+M , grupo experimental) n = 5 (MT, grupo experimental) n = 5 (grupo controle) O GE realizou 8 sessões individuais de IM, com duração de 10 minutos por duas semanas consecutivas. A atividade dos testes consistia em subir uma escada de 6 degraus com corrimão. a)Durante a IM, cada participante era instruído a imaginar-se subindo uma escada de 5 degraus com corrimão. b) No início das sessões o participante assistia a um filme demonstrativo da habilidade com duração de 1 minuto. c) O participante relatava o início e o fim de cada movimento imaginário. O GC assistiu ao mesmo filme nos mesmos dias do grupo experimental, porém não realizou nenhum tipo de prática entre o pré-teste e pós-teste. Dois dias após o pós-teste, ambos os grupos foram submetidos ao teste de retenção, utilizando a mesma tarefa, para verificar o efeito de aprendizagem. A intervenção ocorreu em 10 sessões consecutivas, de segunda a sexta feira, com uma hora de duração cada sessão. O procedimento seguiu as seguintes etapas: 1ª Etapa: O paciente foi filmado realizando cada atividade de vida diária no 1º e no 10º dia; 2ª Etapa: Exibição de um vídeo onde era demonstrada 10 vezes a forma correta de se realizar cada atividade. 3ª Etapa: Com os olhos vendados realizou uma série de 10 repetições imaginando os movimentos corretos para cada atividade sem executá-las de fato, associado com o comando verbal (imagética cinestésica). 4ª Etapa: Executou três séries de 10 repetições de cada atividade. a) Resultados qualitativos. Foi verificada melhora qualitativa do movimento e postura no grupo experimental. No grupo controle, nenhum dos participantes apresentou diferenças no padrão motor. b) Tempo de execução do movimento. Grupo experimental: 1) Pré - teste = 23s / Pós - teste = 14s. 2) Pré - teste = 11s / Pós - teste = 8s. 3) Pré - teste = 219s / Pós - teste = 26s. Grupo controle: 4) Pré - teste = 17s / Pós - teste = 24s. 5) Pré - teste = 12s / Pós - teste = 12s. 6) Pré - teste = 6s / Pós - teste = 7s. c) Não houve diferença significante entre os grupos no pós-teste e teste de retenção (p=051). Porém, a comparação entre o pré-teste e pós-teste do grupo experimental apresentou uma tendência a diminuir o tempo (p< 0,09). Esses valores podem ser devidos à grande variabilidade dos valores apresentados e à amostra pequena. Médias das variáveis inicial e final das intervenções e instrumentos utilizados para avaliação da função motora: Teste de Habilidade Motora do Membro Superior (THMMS): THMMS (habilidade): Inicial - 33,5 / Final - 43,9. THMMS (Qualidade): Inicial - 31,4 / Final - 43,5. Escala de avaliação de Fugl Meyer – somente a função motora do membro superior (EFM): EFM: Inicial - 94,7 / Final - 106,2. Inventário de Atividade Motora (MAL): MAL: Inicial - 64,2 / Final - 117,2. Análise estatística: THMMS (habilidade) – p<0,005; THMMS (Qualidade) – p<0,005; EFM – p<0,005; MAL – p<0,005. Estimulação cerebral, imagética e massoterapia (EC+M), Imagética e massoterapia (MT) e Grupo controle (GC). Convém ressaltar que no The General Health Questionnaire a aproximação de zero (0) é para ser considerado o pior estado. * Com Auxilio de Bengala, ** Sem Auxilio de Bengala. Ter Man. 2013; 11(53):428-435 434 Imagética Motora na reabilitação e no aperfeiçoamento do movimento. Tabela 2. Estudos incluídos na Revisão Sistemática – Estudos que apresentaram apenas análises qualitativas. Autor Aplicação da técnica Amostra Intervenção Resultados Com os pés unidos e os olhos fechados, eram solicitados a realizar as seguintes tarefas: a) manter a postura ereta normal durante 20 segundos; b) contar mentalmente de 1 a 15; c) imaginarse ficando na ponta dos pés 15 vezes; d) executar o mesmo movimento por 15 vezes. Comforme o relato verbal foram distinguidos dois grupos: visuais e somato-motores (cinestésicos). O grupo somato-motor apresentou índices positivos e significativamente diferentes do grupo visual para a área elíptica de deslocamento e amplitude de deslocamento no eixo ântero-posterior (y). Esses dados indicam um menor bloqueio da saída motora durante o imaginar de um movimento que envolve ajustes posturais no primeiro grupo. a) 8 semanas de treinamento físico; b) Realização de imagética por 10 minutos em 2 sessões por semana. O estudo evidenciou melhoras no grupo experimental em relação ao grupo controle. O movimento imaginado e exercitado mentalmente produziu micro contrações e conseqüentemente uma melhora da coordenação neuromuscular. a)A imagética foi estimulada de modo externo(visual) em uma das sessões da semana e interno(cinestésico) na outra. b) Durante a estimulação externa, 10 minutos foram reservados para estimulação de imagens mentais voltadas a estratégias motoras de finalização e 5 minutos para possíveis reações de terceiros, como goleiro, zagueiro, torcida e companheiros. c) Durante a estimulação interna, 8 minutos foram destinados a estratégias motoras de finalização e 7 minutos, para a visualização e imagética do momento do jogo em que o atleta estivesse em posição de finalização. a) Após a intervenção, observou-se melhora na biomecânica do chute, nas finalizações e a autoconfiança durante os jogos. b) O número de gols marcados pelo atleta ao longo da competição foi de oito no total. O primeiro gol marcado após o início da intervenção ocorreu no nono jogo do campeonato. Portanto, antes do uso da técnica, o atleta teve zero (0) gols em sete jogos. c) Nos onze jogos subsequentes, fez oito gols (média de 0,7 gols / partida), totalizando uma média de 0,4 gols por jogo ao longo de todo o campeonato. d) O aproveitamento de cobranças de penalidades nos treinamentos melhorou sensivelmente ao longo das intervenções, apresentando um salto entre a terceira e a quarta semanas, a partir do início do uso da técnica de imagética. O bom rendimento do atleta permaneceu ao longo dos treinos até o final do campeonato. Contudo, estas diferenças não puderam ser comprovadas estatisticamente. A intervenção se deu em 6 semanas três vezes na semana, totalizando 18 sessões. a) O sujeito-controle realizou apenas o protocolo de exercícios de cinesioterapia e treino de marcha, sem o treino de imagem mental, totalizando um tempo de 40 min. em cada sessão. b) O sujeito-estudo realizou a IM seguido dos exercícios cinesioterapêuticos e treino de marcha, com tempo total da sessão de 80 minutos. c) Durante a IM o paciente foi orientado pelo terapeuta a executar mentalmente os exercícios a serem realizados, com o mesmo número de séries, repetições e tempo de intervalo entre os exercícios, série o mesmo procedimento sucedia o treino de marcha. o grupo experimental apresentou maior percentual de melhora. Em relação ao equilíbrio, avaliado pela Escala de Equilíbrio de Berg e pelo Time up and Go, observou-se ganhos em ambos grupos, sendo que o grupo de estudo obteve melhores pontuações. Escala de Equilibrio de Berg pré e pós (escore máximo 56 pontos) tratamento. Grupo experimental 1 - Pré - teste = 46 Pós - teste = 49 2 - Pré - teste = 55 Pós - teste = 51 Grupo controle: 1 - Pré - teste = 53 Pós - teste = 55 2 - Pré - teste = 52 Pós - teste = 56 Time Up and Go Grupo experimental 1 - *Pré - teste = 28,5s *Pós - teste = 18,9s **Pré - teste = 26,6s **Pós - teste = 29,5s 2 - Pré - teste = 9,86s Pós - teste = 6,4s Grupo controle: 1 - *Pré - teste = 17,6s *Pós - teste = 15,5s **Pré - teste = 15,7s **Pós - teste = 14,7s 2 - Pré - teste = 12,12s Pós - teste = 11,7s Rodrigues et al. (14) Controle postural. n = 49 Júnior e Pontes (11) Imagética na melhora do equilíbrio em crianças praticantes de ginástica olímpica. n = 18 (grupo experimental) Filgueiras et al.(7) Ataíde et al.(2) O uso da imagética mental como técnica para melhora do aproveitamento no futebol de campo. Treinamento Mental e Análise Instrumental da Marcha Hemiparética pósAVE n = 18 (grupo controle) n=1 n = 2 (grupo experimental) n = 2 (grupo controle) AVE – Acidente Vascular Encefálico, * Com Auxilio de Bengala, ** Sem Auxilio de Bengala. Ter Man. 2013; 11(53):428-435 435 Glauber da Silva Taveira. REFERÊNCIAS 1. Almeida WSA, Calomeni MR, Neto NTA, Castro KVB, Silva F. Efeitos da imagética associado à música na melhora do arremesso de lance livre no basquetebol: comparativo entre dois grupos etários. Fitness & Performance, Rio de Janeiro, Nov/Dez 2008 7(6):380-385. 2. Ataíde DS, Silva AC, Fernandes PG, Barbosa AM, Gervásio FM. Treinamento Mental e Análise Instrumental da Marcha Hemiparética pós-AVE: estudo caso-controle. Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade estadual de Goiás 10 a 12 de novembro de 2010. 3. Azevedo PA, Jakubovic BKM, Correa JB, Mourao JG, Silva ALS, Silva VF. 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Anais do II forum de integração em fisioterapia. UNIFRA – Centro Universitário Franciscano, 2011. Ter Man. 2013; 11(53):428-435 436 Revisão de Literatura Contr ibu iç ã o da r i g i d e z d o s i s t e ma musculoesquelético nas lesões esportivas. Contribution of the stiffness of musculoskeletal system in sport injuries. Thiago Ribeiro Teles Santos(1), Luciana De Michelis Mendonça(1), Carlos Vinícius Barros(2), Sérgio Teixeira Fonseca(3), Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela(3). Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Resumo Introdução: A rigidez dos componentes do sistema musculoesquelético é uma propriedade essencial para execução de atividades que exigem velocidade e potência, uma vez que a capacidade de deformação dos tecidos desse sistema está relacionada ao armazenamento e retorno de energia. Nessa perspectiva, a alteração da rigidez tecidual pode predispor o atleta a lesões. Objetivo: Revisar a literatura a fim de verificar como a rigidez dos componentes do sistema musculoesquelético se relaciona com as lesões em atletas saltadores e corredores. Método: Foram realizadas buscas de artigos científicos nos idiomas Inglês, Português e Espanhol nas bases de dados Google Acadêmico, MEDLINE, LILACS e SciELO entre setembro e dezembro de 2012. Para serem selecionados, os estudos deveriam (1) apresentar delineamento observacional, (2) investigar a rigidez global ou de alguma articulação ou tecido do membro inferior em atletas durante as atividades de salto e corrida e (3) investigar como a rigidez se relacionava com a presença ou o surgimento de alguma lesão. Não houve restrição quanto a data de publicação. Foram excluídos os estudos em que a operacionalização da variável rigidez não se referiu como propriedade mecânica representada pela variação do torque de resistência dos tecidos oferecida ao movimento. Resultados: Do total de 31.888 estudos encontrados, foram selecionados sete, sendo que dois apresentavam desenho do tipo coorte e cinco do tipo transversal. A maioria dos estudos identificou alterações nos níveis de rigidez em atletas com lesões, utilizando os seguintes parâmetros: rigidez global de membro inferior, articular e muscular. Além disso, alterações nos níveis de rigidez foram indicadas como fatores preditivos para o surgimento de lesão. Conclusão: Valores altos ou baixos dos níveis de rigidez podem estar relacionados com o surgimento de lesões em atletas. Assim, essa propriedade deve ser considerada na avaliação e em programas de prevenção e tratamento de lesões esportivas. Palavras-chave: Rigidez, esporte, lesão, biomecânica Abstract Introduction: The stiffness of the musculoskeletal system components is essential for performing activities that require speed and power, since the deformation ability of the musculoskeletal tissues is related to energy storage and release. Thus, changes in the stiffness of these tissues may predispose the athletes to injuries. Objective: To review the literature in order to verify how the stiffness of the musculoskeletal system components would be related to injuries in jumpers and runners. Methods: Electronic searches in English, Portuguese, and Spanish were performed in Google Scholar, MEDLINE, LILACS, and SciELO databases. The searches were performed between September and December 2012. To be selected, the studies should (1) have observational design, (2) investigate the global stiffness or any lower limb joint or tissue stiffness in athletes during running and jumping, and (3) investigate how the stiffness was related to the presence or development of injuries. There were no restrictions on publication date. Studies in which the operationalization of the stiffness was not based upon the concept of mechanical property represented by the variation of torque resistance offered to the movement, were excluded. Results: There were found 31,888 studies and seven were selected, two cohorts and five cross-sectional studies. The majority of the studies identified changes in the stiffness levels in athletes with injuries, using the following parameters: Lower limb global stiffness, as well as, joint and muscular stiffness. Moreover, changes in the stiffness levels were identified as predictive factors for the development injuries. Conclusion: Both high and low stiffness values could be related to development of injuries in athletes. Thus, this property should be considered during assessments and preventive and intervention programs of sports injuries. Keywords: Stiffness, sport, injury, biomechanics Recebido em: 04/07/2013; Aceito em: 06/09/2013 1. Doutorando do Programa em Ciências da Reabilitação, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil 2. Mestrando do Programa em Ciências da Reabilitação, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil 3. Professor titular do Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil Autor Correspondente: Prof Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela e Prof Sérgio Teixeira da Fonseca - Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais - Avenida Antônio Carlos 6627, Pampulha - 31270-901 Belo Horizonte, MG, Brasil - Telefone: (31) 3409-7405 Fax: (31) 3409-4783 E-mail: [email protected]/[email protected] Ter Man. 2013; 11(53):436-443 437 Thiago R. T. Santos, Luciana M. Mendonça, Carlos V. Barros, Sérgio T. Fonseca, Luci F. T. Salmela. INTRODUÇÃO tivo deste artigo foi realizar uma revisão crítica da lite- Lesões de membros inferiores são as mais preva- ratura, a fim de verificar como a rigidez dos componen- lentes no esporte e geram maior tempo de afastamento tes do sistema musculoesquelético se relaciona com as dos atletas quando comparadas a lesões em outros seg- lesões em atletas saltadores e corredores. mentos corporais.(1-3) O salto e a corrida são componentes fundamentais em diversas modalidades esportivas. MÉTODO O armazenamento e liberação de energia pelos compo- Foi realizada uma revisão crítica da literatura a par- nentes do sistema musculoesquelético são considerados tir de buscas de artigos científicos nos idiomas Inglês, importantes mecanismos para realização dessas tare- Português e Espanhol nas bases de dados Google Aca- fas.(4-7) Frequentemente, o mecanismo de lesão no es- dêmico, MEDLINE/PubMed, LILACS e SciELO. A busca porte está relacionado ao gesto característico da moda- foi realizada por três pesquisadores independentes no lidade esportiva.(1,3,8) Por exemplo, no voleibol e basque- período compreendido entre setembro e dezembro de tebol, 63% das lesões musculoesqueléticas ocorrem du- 2012, utilizando-se os seguintes termos: stiffness, in- rante a impulsão ou aterrissagem do salto vertical.(1) A jury, jump, running e sports, e seus correlatos em Por- incapacidade de absorver energia produzida no contato tuguês e Espanhol. com o solo foi identificada como um fator que contribui Para serem selecionados, os estudos deveriam (1) como mecanismo de lesões dos membros inferiores nes- apresentar delineamento observacional, (2) investigar sas modalidades esportivas.(5) Dessa forma, a análise de a rigidez global ou de alguma articulação ou tecido do gestos comuns do esporte, como a corrida e o salto, que membro inferior em atletas durante as atividades de considere a capacidade do sistema musculoesquelético salto e corrida e (3) investigar como a rigidez se relacio- em armazenar e dissipar energia, pode contribuir para nava com a presença ou o surgimento de alguma lesão. um melhor entendimento de lesões esportivas. Não houve restrição quanto à data de publicação. Foram O salto e a corrida dependem essencialmente da excluídos os estudos em que a operacionalização da va- energia elástica para sua eficiência e desempenho.(6,9,10) riável rigidez não estava de acordo com o conceito pro- Nesses gestos esportivos, o sistema musculoesqueléti- posto por Latash e Zatsiorsky(4): propriedade mecânica Caso não representada pela variação do torque de resistência dos co lida com forças de grande magnitude. (1,3,11) haja um mecanismo eficiente para a utilização de ener- tecidos oferecida ao movimento. gia elástica, a demanda sobre o sistema musculoesque- A seleção dos artigos ocorreu de acordo com os se- lético pode ser maior.(3,11) A rigidez dos tecidos moles é guintes procedimentos: Inicialmente, três pesquisado- essencial para a utilização desse mecanismo energéti- res selecionaram, independentemente, os estudos com co, em que a capacidade de deformação desses tecidos base na leitura dos títulos da lista de artigos resultan- está relacionada ao armazenamento e retorno de ener- te da pesquisa em cada base de dados. Após isso, cada gia elástica.(4) Rigidez é uma propriedade mecânica re- pesquisador verificou os artigos previamente seleciona- presentada pela variação do torque de resistência dos dos por meio de seus resumos e aqueles selecionados tecidos (como músculos, ligamentos, cápsula e fáscias) foram lidos na íntegra por todos os pesquisadores. A se- oferecida ao movimento.(4) Essa propriedade é influen- leção final dos artigos foi feita por meio de consenso ciada pela contração muscular e pela resistência passi- entre os pesquisadores. Além disso, em cada artigo se- A literatura indica que a eficiência no lecionado, também foi realizada busca manual nas re- armazenamento de energia, ou seja, a estratégia para ferências bibliográficas por todos os pesquisadores de diminuir o gasto energético durante a tarefa, ocorre em forma independente. Qualquer inclusão de novo arti- grande parte nos tendões.(4) Os músculos podem parti- go com base nessa estratégia também foi realizada por cipar passivamente desse processo, entretanto, se a ri- meio de consenso entre os pesquisadores. va dos tecidos. (4) gidez passiva estiver abaixo do nível tecidual necessá- Para cada artigo selecionado, foram extraídos os rio ao desempenho da tarefa, ação muscular compensa- seguintes dados para caracterização: delineamento, ca- tória é necessária.(4,12) Assim, os componentes ativos e racterísticas da amostra e variáveis selecionadas para passivos do sistema musculoesquelético interagem para esta revisão. A classificação de delineamento de estudos apresentar uma rigidez tecidual adequada, de acordo observacionais seguiu a apresentada no Strengthening com a demanda imposta a esse sistema, a fim de forne- the Reporting of Observational Studies in Epidemiology cer a melhor estratégia para o armazenamento e libera- (STROBE).(13) Além disso, foram extraídos os dados des- ção de energia. critivos e inferenciais relacionados à relação da rigidez A alteração nos níveis de rigidez dos componentes com a presença ou o surgimento de alguma lesão. do sistema musculoesquelético pode interferir na sua eficiência para o mecanismo de absorção e liberação de RESULTADOS energia durante os gestos esportivos. Esse quadro pode A estratégia de combinação de termos variou de estar relacionado às lesões esportivas. Portanto, o obje- acordo com as características de cada base de dados. Ter Man. 2013; 11(53):436-443 438 Rigidez e lesões esportivas. Nessa perspectiva, devido à baixa especificidade da base senvolveu lesão (5,5 ± 1,3%), p=0,05. Além disso, ao do Google Acadêmico utilizou-se a seguinte combinação considerar o mecanismo de lesão, o jogadores que de- (stiffness AND injury) AND (running OR jump OR sports) senvolveram lesão durante o sprint (corrida em veloci- que resultou em 30.600 artigos. Devido à alta especifi- dade máxima em curta distância)/corrida e os que de- cidade da base MEDLINE, realizou-se mais de uma combinação de termos. Inicialmente, utilizou-se a combinação ((stiffness AND injury) AND running) AND jump que resultou em cinco artigos. Após isso, realizou-se a combinação (stiffness AND injury) AND running, que resultou em 61 estudos, a combinação (stiffness AND injury) AND jump, que resultou em 20 estudos, assim como a combinação (stiffness) AND injury) AND sport, que resultou em 308 artigos. Tanto na base LILACS quanto na SciELO pesquisou-se utilizando somente o termo rigidez muscular devido ao número restrito de periódicos nessas bases. A busca retornou com 151 artigos na base LILACS e 43 na SciELO. Os passos para seleção dos estudos para esta revisão estão apresentados na Figura 1 e as características dos estudos selecionados, na Tabela 1. Os artigos selecionados foram extraídos das bases Google Acadêmico (n=1) e MEDLINE (n=6), sendo que nenhum artigo foi selecionado nas bases LILACS e SciELO. Rigidez global de membro inferior Dois estudos coorte(14,15) e um transversal(16) investigaram a rigidez global de membro inferior. No estudo coorte de Pruyn et al.(14), não foram identificadas diferenças (p=0,72) entre os valores de rigidez para o grupo de jogadores de futebol americano que desenvolveram lesão (219,3 ± 16,1 N.m-1.Kg-1) e o grupo de atletas que não desenvolveram lesão (217,4 ± 14,9 N.m-1.Kg-1). Contudo, os autores observaram que o grupo que desenvolveu lesão apresentou maior tendência de assimetria entre os membros inferiores nos valores de rigidez (7,5 ± 3%), quando comparado ao grupo que não de- Figura 1. Fluxograma indicando os passos para seleção dos artigos Tabela 1. Características dos estudos selecionados. (Continua) Artigo Pruyn et al.(14) Delineamento Amostra Coorte 39 jogadores de futebol americano do sexo masculino: Grupo 1: 28 jogadores desenvolveram lesões; idade:24,2 (4,2) anos; massa corporal: 88,4 (9,1) Kg; altura: 1,88 Rigidez global do membro infe(0,07) m rior mensurada durante três saltos Grupo 2: 11 jogadores não desenvolveram lesões; unipodais a 2,2 Hz idade:23,5 (4,6) anos; massa corporal: 84,4 (5,2) Kg; altura: 1,85 (0,08) m Watsford et al.(15) Coorte Maquirriain (16) Transversal Variáveis 136 jogadores de futebol americano do sexo masculino: Grupo 1: 14 jogadores tiveram estiramento de isquiossurais; idade 27 (3,4) anos; massa corporal 87,1 (8,4) Kg; altura: 1,87 (0,08) m Grupo 2: 122 jogadores que não tiveram lesão; idade: 22,6 (3,5) anos; massa corporal: 86,4 (8,5) Kg; altura: 1,87 (0,08) m Rigidez de isquiossurais mensurada com o voluntário em prono Rigidez global do membro inferior mensurada durante três saltos unipodais a 2,2 Hz 51 atletas (40 homens e 11 mulheres) de diferentes modalidades esportivas (corrida, tênis, atletismo, rugby, golfe, futebol, squash, handball, ginástica e skate); idade: 39,82 (11,8) anos; massa corporal: 77,46 (13,51) Kg; altura: 1,73 (0,08) m Rigidez global de membro inferior em duas condições: 1) três saltos unipodais máximos e 2) três séries de saltos unipodais no mesmo local durante 10 segundos Legenda: As variáveis idade, massa corporal e altura estão apresentadas em média e desvio padrão. Grupo 1, Grupo 2 e Grupo 3 indicam os grupos apresentados no estudo. Ter Man. 2013; 11(53):436-443 439 Thiago R. T. Santos, Luciana M. Mendonça, Carlos V. Barros, Sérgio T. Fonseca, Luci F. T. Salmela. Tabela 2. Características dos estudos selecionados (Continuação) Artigo Delineamento Amostra Variáveis Lin, Chen e Lin(17) Transversal Grupo 1: 15 atletas (7 homens e 8 mulheres) com instabilidade crônica do tornozelo; idade: 21,6 (2,4) anos; massa corporal: 62,6 (7,9) Kg; altura: 1,67 (0,07) m Grupo 2: 15 atletas (6 homens e 9 mulheres) sem instabilidade crônica do tornozelo pareados com o grupo anterior de acordo com a idade; idade: 21,5 (2,6) anos; massa corporal: 59,2 (9,6) Kg; altura: 1,65 (0,07) m Rigidez do tornozelo no plano sagital durante a corrida (no solo em velocidade autosselecionada) e salto (correr o mais rápido possível, parar com os dois pés e saltar, aterrissando com os dois pés). A rigidez foi mensurada entre o intervalo do contato no solo e a dorsiflexão máxima do tornozelo na fase de contato da corrida e de aterrissagem do salto. Hamill, Moses e Transversal Seay(18) Grupo 1: 11 corredores com dor lombar a no mínimo 4 meses; idade: 35,71 (10,9) anos; massa corporal: 73,94 (13,42) Kg; altura: 1,70 (0,11) m Grupo 2: 11 corredores com história a no mínimo 6 meses de dor lombar com duração menor que 2 semanas; idade: 32,56 (9,42) anos; massa corporal: 71,43 (9,75) Kg; altura: 1,71 (0,10) m Grupo 3: 11 corredores sem história de dor lombar; idade: 29,90 (8,45) anos; massa corporal: 63,94 (10,06) Kg; altura: 1,69 (0,10) m Rigidez do tornozelo, joelho e quadril no plano sagital durante a corrida em esteira na velocidade de 3,8 m.s-1 (fase: contato inicial ao apoio médio) Milner, Hamill e Davis(3) Transversal Grupo 1: 23 corredoras com história de fratura por estrese na tíbia; idade: 25 (8) anos, massa corporal: 56,3 (5,9) Kg; altura: 1,64 (0,06) m Rigidez do joelho no contato inicial durante Grupo 2: 23 corredoras sem história de lesão óscorrida no solo em velocidade de 3,7 m.s-1 sea em membros inferiores pareadas com o grupo (podiam variar até 5% desse valor) anterior pela idade e distância média de treino de corrida; idade: 24 (9) anos; massa corporal: 59,9 (4,6) kg; altura: 1,65 (0,05) m Transversal Grupo 1: 20 corredoras com história de fratura por estresse na tíbia; idade: 26 (9) anos Grupo 2: 20 corredoras sem história de lesão óssea em membros inferiores pareadas com o grupo anterior pela idade e distância média de treino de corrida; idade: 25 (9) anos Milner et al.(19) Rigidez do joelho no plano sagital determinada do contato inicial ao pico de flexão do joelho. Rigidez do tornozelo no plano sagital determinada do pico de flexão plantar ao pico de dorsiflexão do tornozelo. Essas variáveis foram determinadas durante corrida no solo em velocidade de 3,7 m.s-1 (podiam variar até 5% desse valor) Legenda: As variáveis idade, massa corporal e altura estão apresentadas em média e desvio padrão. Grupo 1, Grupo 2 e Grupo 3 indicam os grupos apresentados no estudo. senvolveram lesão girando/flexionando apresentaram grupo que não desenvolveu essa lesão, p=0,02 (dados maiores valores de assimetria (8,7 ± 3,1% e 10,6 ± descritivos foram apresentados graficamente). 1,4%, respectivamente), quando comparados ao grupo Maquirriain(16), em um estudo transversal, identi- de atletas que não desenvolveram lesão (5,5 ± 1,3%), ficou que atletas de diferentes modalidades apresenta- p<0,01. ram um menor valor de rigidez no membro inferior com Em um estudo coorte, Watsfordet al.(15) observaram tendinopatia de Aquiles (14,07 ± 3,74 kN/m) compa- que os jogadores de futebol americano que desenvolve- rado ao membro inferior sem essa lesão (15,61 ± 4,01 ram lesão de isquiossurais apresentaram maiores valo- kN/m), p = 0,047. Além disso, esse estudo não iden- res de rigidez global de membro inferior (232,6 ± 19,8 tificou diferenças nos valores de assimetria de rigidez N.m-1.Kg-1) quando comparados aos que não desenvol- entre os membros inferiores, quando os seguintes fato- veram essa lesão (221,2 ± 18,6 N.m-1.Kg-1), p=0,03. res foram considerados: a) sexo: homens (0,92 ± 0,09) Contudo, diferenças e mulheres (0,88 ± 0,09), p=0,20; b) nível de ativida- (p=0,95) no valor de assimetria de rigidez (diferença de: atletas recreacionais (0,91 ± 0,10) e atletas de elite entre membros inferiores) entre o grupo de atletas que (0,89 ± 0,09), p=0,44; c) região da tendinopatia: vo- desenvolveram a lesão de isquiossurais (7,3 ± 6,1%) luntários com tendinopatia acometendo a porção média e o grupo daqueles que não desenvolveram essa lesão do tendão (0,90 ± 0,10) e aqueles com tendinopatia na (7,4 ± 5,7%). Watsford et al.(15) compararam ainda os porção insercional calcanear (0,93 ± 0,66), p=0,97. os autores não identificaram valores de rigidez entre os membros inferiores do grupo de atletas que desenvolveram lesão e não identificaram Rigidez articular diferença, p=0,58 (dados descritivos foram apresen- Três estudos transversais investigaram a rigidez da tados graficamente). Além disso, esses autores obser- articulação do tornozelo.(17-19) Lin, Chen e Lin(17) identi- varam que a média de rigidez do membro inferior, em ficaram que durante a corrida, o grupo com instabili- que ocorreu a lesão de isquiossurais, foi maior que a do dade crônica de tornozelo apresentou menor rigidez de Ter Man. 2013; 11(53):436-443 440 Rigidez e lesões esportivas. tornozelo (0,109 ± 0,039 N.m/deg) que o grupo sem moderada no grupo com história de fratura por estresse essa instabilidade (0,150 ± 0,068 N.m/deg), p=0,048. (r=0,41) e uma correlação baixa para o grupo sem his- Esses autores não identificaram, durante o salto, dife- tória dessa fratura (r=0,16). Além disso, Milner et al.(19) renças (p=0,86) entre o grupo com instabilidade crô- identificaram maior rigidez do joelho no grupo com his- nica de tornozelo (0,017 ± 0,011 N.m/deg) e o grupo tória de fratura por estresse tibial (4,88 ± 0,88 x 10-2) sem essa instabilidade (0,018 ± 0,011 N.m/deg). Ha- quando comparado ao grupo sem história dessa fratura mill, Moses e Seay(18) não identificaram efeito principal (4,46 ± 0,68 x 10-2), p = 0,05. de grupo (p=0,98), membro inferior (direito versus es- Hamill, Moses e Seay(18) foram os únicos a avalia- querdo) (p=0,90) e de interação grupo por membro in- rem a rigidez do quadril. Em um estudo transversal, ferior nos valores de rigidez de tornozelo (p=0,93). Os esses autores não identificaram efeito principal de grupo valores descritivos da variável de rigidez de tornozelo (p = 0,90) e membro inferior (direito versus esquerdo) foram: Grupo 1 (Corredores com dor lombar a no mí- (p=0,71). Os valores descritivos da variável de rigidez nimo 4 meses) – tornozelo direito: 9,28 ± 3,09 N.m/ de quadril foram: Grupo 1 (Corredores com dor lombar a deg, tornozelo esquerdo: 9,16 ± 2,95 N.m/deg; Grupo no mínimo 4 meses) – quadril direito: 4,66 ± 2,07 N.m/ 2 (Corredores com história de dor lombar a no mínimo deg, quadril esquerdo: 4,53 ± 2,09 N.m/deg; Grupo 2 6 meses) - tornozelo direito: 9,47 ± 2,55 N.m/deg, tor- (Corredores com história de dor lombar a no mínimo nozelo esquerdo: 9,40 ± 2,48 N.m/deg; Grupo 3 (Cor- 6 meses) - quadril direito: 4,48 ± 2,20 N.m/deg, qua- redores sem história de dor lombar) - tornozelo direi- dril esquerdo: 4,55 ± 2,24 N.m/deg; Grupo 3 (Corredo- to: 9,44 ± 3,31 N.m/deg, tornozelo esquerdo: 9,32 ± res sem história de dor lombar) - quadril direito: 4,81 ± 3,11 N.m/deg. Além disso, esses autores não identifi- 2,09 N.m/deg, quadril esquerdo: 4,68 ± 1,78 N.m/deg. caram diferenças entre os grupos para o índice de as- Além disso, esses autores não identificaram diferenças simetria de rigidez de tornozelo entre os grupos, cujos (p=0,45) entre os grupos para o índice de assimetria de valores foram 3,31% no Grupo 1, 3,60% no Grupo 2 e rigidez do quadril, cujos valores foram 5,86% no Grupo 3,24% no Grupo 3 (p = 0,37). Por outro lado, Milner et 1, 5,46% no Grupo 2 e 6,91% no Grupo 3. al. (19) identificaram menor rigidez do tornozelo no grupo com história de fratura por estresse tibial (4,31 ± 0,59 x 10-2) quando comparado ao grupo sem história dessa fratura (4,59 ± 0,61 x 10 ), p<0,05. -2 Rigidez muscular Watsford et al.(15) investigaram em um estudo coorte a rigidez de isquiossurais. Nesse estudo, os jogado- Três estudos transversais investigaram a rigidez do res de futebol americano que desenvolveram lesão de joelho.(3,18,19) Hamill, Moses e Seay(18) identificaram efei- isquiossurais apresentaram maiores valores de rigidez to principal de grupo nos valores de rigidez (p<0,01). desse grupo muscular (429,5 ± 92,3 N.m/rad) quan- A análise post-hoc identificou diferenças significati- do comparados aos que não desenvolveram essa lesão vas entre grupos em todas as comparações par-a-par (385,9 ± 71,2 N.m/rad), p=0,04. Contudo, os autores (p=0,04). A ordem decrescente dos valores de acordo não identificaram diferenças (p = 0,46) no valor de as- com o grupo foi: Grupo 1 (Corredores com dor lombar a simetria de rigidez de isquiossurais (diferença entre os no mínimo 4 meses) – joelho direito: 11,43 ± 2,22 N.m/ membros inferiores) entre o grupo que desenvolveu a deg, joelho esquerdo: 11,42 ± 2,32 N.m/deg; Grupo lesão (13 ± 11%) comparado ao que não desenvolveu 2 (Corredores com história de dor lombar a no míni- (15,9 ± 14,4%). Nesse estudo, os autores compara- mo 6 meses) - joelho direito: 8,46 ± 1,19 N.m/deg, jo- ram ainda os valores de rigidez de isquiossurais entre elho esquerdo: 8,40 ± 1,06 N.m/deg; Grupo 3 (Corre- os membros inferiores do grupo que desenvolveu lesão dores sem história de dor lombar) - joelho direito: 7,27 e não identificaram diferenças, p = 0,09 (dados des- ± 1,14 N.m/deg, joelho esquerdo: 7,43 ± 1,06 N.m/ critivos foram apresentados graficamente). Além disso, deg. Além disso, esses autores não identificaram efei- esses autores observaram que o valor de rigidez de is- to principal de membro inferior (direito versus esquer- quiossurais do membro inferior em que ocorreu a lesão do), p=0,80. Os autores também não identificaram dife- não foi diferente do valor médio de rigidez do grupo que renças (p=0,30) entre os grupos para o índice de assi- não desenvolveu essa lesão, p=0,20 (dados descritivos metria de rigidez de joelho, cujos valores foram 6,77% foram apresentados graficamente). Entretanto, o valor no Grupo 1, 6,83% no Grupo 2 e 6,42% no Grupo 3. de rigidez de isquiossurais do membro inferior não aco- Milner, Hamill e Davis(3) identificaram que o grupo com metido do grupo que desenvolveu a lesão de isquios- história de fratura de estresse tibial possuía maior rigi- surais apresentou valores superiores ao valor médio do dez de joelho (0,044 ± 0,021) que o grupo sem histó- grupo que não desenvolveu lesão (p = 0,01). ria dessa fratura (0,030 ± 0,015), p=0,02. Além disso, esses autores verificaram a associação do impacto tibial DISCUSSÃO (máxima aceleração positiva durante a fase de apoio) Esta revisão da literatura indicou que a rigidez dos com a rigidez de joelho e identificaram uma correlação componentes do sistema musculoesquelético possui re- Ter Man. 2013; 11(53):436-443 441 Thiago R. T. Santos, Luciana M. Mendonça, Carlos V. Barros, Sérgio T. Fonseca, Luci F. T. Salmela. lação com as lesões em atletas que realizam atividades possibilidade de reaproveitá-la no gesto esportivo con- de maior intensidade, como corridas e saltos. Entre os secutivo.(7,20) Um baixo reaproveitamento energético de- sete artigos que entraram nos critérios de seleção desta mandaria ao sistema musculoesquelético a geração de revisão, observou-se que a rigidez foi operacionalizada mais energia para realizar o gesto esportivo. Além do como rigidez global de membro inferior, rigidez articu- aumento do custo metabólico, isso poderia aumentar lar (tornozelo, joelho e quadril) e rigidez muscular. Além a demanda em músculos chave para produção de tor- disso, a maioria dos estudos utilizou para a análise dos que. Maquirriain(16) identificou uma menor rigidez global dados a magnitude da rigidez e assimetria de rigidez de membro inferior em atletas que apresentavam ten- entre membros inferiores. Destaca-se ainda que três es- dinopatia de Aquiles. O tríceps sural é um dos principais tudos investigaram a rigidez em corredores, dois em jo- músculos responsáveis pela produção de força para im- gadores de futebol americano e dois em atletas de dife- pulsionar o membro durante a marcha e corrida(7,23) e rentes modalidades. por isso, poderia ficar sobrecarregado e mais propen- A rigidez global de membro inferior representa a re- so ao desenvolvimento de tendinopatias. Contudo, res- sistência a mudança de posição do membro inferior após salta-se que estudos transversais, como o de Maquir- a aplicação de forças.(20) Nessa perspectiva, a rigidez glo- riain(16), podem apenas identificar uma característica de bal de membro inferior representa o comportamento das rigidez global de membro inferior que é resultado de um estruturas ativas e passivas de todo o membro inferior padrão de movimento adaptativo a lesão. durante a realização do gesto esportivo.(4,6,20) Essa va- A assimetria de rigidez global de membro inferior riável pode representar a estratégia cinemática utiliza- sugere que os membros inferiores estão lidando diferen- da para realizar o movimento em determinado contexto. temente com as cargas impostas pelo gesto esportivo. Por exemplo, um atleta pode apresentar uma baixa ca- Esse quadro pode refletir diferenças no trofismo mus- pacidade para gerar torque de extensores do joelho em cular e/ou no alinhamento anatômico dos segmentos uma superfície pouco rígida, como areia, e assim, saltar corporais, características que apresentam potencial de com menor flexão de joelho. Essa menor variação angu- impor sobrecarga em estruturas do sistema musculoes- lar do joelho, irá refletir em uma menor variação do com- quelético.(20) A assimetria poderia sobrecarregar mais um primento do membro inferior e dessa forma, em aumen- membro inferior do que o contralateral dependendo da to da rigidez global de membro inferior. Nesse exemplo, tarefa que o atleta está realizando. Três estudos investi- percebe-se que a rigidez global pode não refletir a rigi- garam essa variável e apresentaram resultados contra- dez específica de um tecido do sistema musculoesquelé- ditórios.(14-16) Pruyn et al(14) identificaram que a maior as- tico e sim, a estratégia cinemática adotada pelo atleta. simetria nessa variável foi preditora de lesão musculo- Tanto valores excessivos quanto reduzidos, assim como esquelética, enquanto que Watsford et al(15) não identifi- a presença de assimetrias entre membros inferiores na caram essa predição para lesões de isquiossurais e Ma- rigidez global de membro inferior podem estar relacio- quirriain(16) não identificou diferença nessa variável entre nados com diferentes lesões do sistema musculoesque- atletas com e sem tendinopatia de Aquiles. Possivelmen- lético.(14-16) Um aumento na rigidez global de membro in- te, a assimetria não tem a mesma contribuição no de- ferior também pode decorrer da estratégia de cocontra- senvolvimento de lesões em componentes específicos do ção muscular para melhor alinhamento de membro infe- sistema musculoesquelético (e.g. lesão de isquiossurais rior ou para reduzir a demanda de torque excêntrico de e tendinopatia de Aquiles) quando comparado a lesões grupos musculares, como o quadríceps e gastrocnêmio. gerais desse sistema, ou seja, sem especificar o compo- Nessa perspectiva, articulações e músculos mais pro- nente lesionado. Contudo, futuros estudos são necessá- ximais lidariam com uma maior carga.(20) Entre os estu- rios para o melhor entendimento da contribuição dessa dos selecionados nesta revisão, Wastford et al.(15) identi- variável no surgimento de lesões esportivas. (21) ficaram que a maior rigidez global de membro inferior foi A rigidez articular é resultante da rigidez dos com- preditora de lesão de isquiossurais em jogadores de fute- ponentes passivos e ativos periarticulares.(4) Ao consi- bol americano. Esse grupo muscular está exposto a uma derar a rigidez de cada articulação no membro inferior, alta demanda, na medida em que age excentricamente a maioria dos estudos selecionados nesta revisão inves- em diversos gestos esportivos para controlar a extensão tigaram as articulações do joelho e do tornozelo.(3,17-19) do joelho e a flexão do quadril.(22) Em atletas que apre- Resultados de estudos indicaram que essas articulações sentam baixa dissipação de carga, a força que chega às são as que mais contribuem pela geração e absorção articulações do joelho e quadril apresentaria uma alta de energia no membro inferior durante diversas tarefas. magnitude, o que aumentaria a demanda excêntrica dos (6,24) isquiossurais. lesionados apresentavam uma alteração na rigidez des- Uma redução na rigidez global de membro inferior Os estudos selecionados identificaram que atletas sas articulações.(3,17-19) indica um sistema musculoesquelético mais complacen- Lin, Chen e Lin(17) identificaram uma menor rigidez te, ou seja, que dissipa muita energia e possui menor do tornozelo durante a corrida de atletas com instabili- Ter Man. 2013; 11(53):436-443 442 Rigidez e lesões esportivas. dade crônica dessa articulação. Esse achado corrobora externa, provavelmente, estariam expostos à fadiga o fato que o menor trofismo muscular, a menor capaci- muscular mais precocemente durante suas atividades dade de produção de torque e a maior lassidão articular esportivas.(12,20,24) Assim, a fadiga muscular pode ter sido reduzem a rigidez articular e são fatores característicos o fator que contribuiu para que os atletas com maior ri- da instabilidade crônica do tornozelo.(4,25) A característi- gidez de isquiossurais apresentassem maior chance de ca da rigidez do tornozelo e joelho no surgimento da fra- lesionar esse grupo muscular.(26) O estudo de Wastford tura por estresse tibial foi investigada por dois estudos. et al(15) ainda indicou que a maior rigidez de isquiossu- Os corredores que apresentavam história de fratura rais era característica do atleta e não somente do mem- por estresse tibial possuíam menor rigidez do tornoze- bro inferior lesionado, uma vez que não houveram dife- lo(19) e maior rigidez do joelho.(3,19) Esses achados podem renças no valor de assimetria de rigidez de isquiossurais sugerir que a maior complacência do tornozelo demande entre os grupos de atletas (atletas que desenvolveram e uma maior ativação muscular para gerar torque duran- que não desenvolveram lesão) e de rigidez entre mem- te o gesto esportivo, o que proporcionaria maior estres- bros inferiores no grupo com lesão. Destaca-se que a in- se tibial nos pontos de inserção muscular. Além disso, vestigação da rigidez muscular por somente um estudo a maior rigidez do joelho pode indicar que a tíbia fique selecionado limita a discussão da relação dessa proprie- em posições mais verticalizadas, devido a menor ampli- dade com as lesões esportivas. (3,19) tude de movimento do joelho.(3) Essa alteração poderia A maneira como o sistema musculoesquelético lida expor a tíbia a maiores forças axiais, predispondo ao es- com as forças relacionadas ao gesto esportivo parece tresse tibial.(3) ser determinante para o surgimento de lesões.(20) As A rigidez do tornozelo, joelho e quadril foram in- características da rigidez dos componentes do sistema vestigadas por Hamill, Moses e Seay(18) em corredores. musculoesquelético do atleta podem refletir como esse Esses autores identificaram uma relação da dor lombar sistema lida com a alta demanda do salto e da corri- somente com a rigidez de joelho, em que corredores da. Ressalta-se que a rigidez global de membro infe- com dor lombar apresentavam maior rigidez dessa ar- rior pode refletir um padrão de movimento adotado pelo ticulação que corredores com história de dor lombar e atleta para realização da tarefa. Esta revisão indicou que esses apresentavam maior rigidez que corredores sem tanto um nível aumentado quanto reduzido de rigidez história de dor lombar. Esses achados podem indicar que pode estar relacionado à lesão esportiva. Além disso, o a baixa dissipação de carga nessa articulação faz com nível de alteração de rigidez pode ser ainda característi- que uma maior carga chegue ao segmento lombar, o co à determinada lesão esportiva. que aumentaria a sobrecarga nesse segmento e estaria Nessa perspectiva, avaliações preventivas, como relacionado ao quadro álgico. Contudo, o delineamen- as realizadas durante a pré-temporada de equipes, to transversal desse estudo não permitiu diferenciar se assim como avaliações quando o atleta já está lesiona- os achados seriam adaptação ao quadro clínico ou se os do devem considerar a relação da rigidez dos compo- achados seriam fatores que poderiam contribuir para o nentes do sistema musculoesquelético com a lesão es- surgimento da dor lombar. portiva. A investigação dessa propriedade pode ser re- A investigação da rigidez muscular pode contribuir alizada via testes clínicos que não necessitam de gran- para um melhor entendimento da lesão desse tecido. de aparato laboratorial.(27,28) Destaca-se ainda que esta Somente um estudo selecionado investigou essa rela- revisão, ao sumarizar a literatura existente, apresentou ção.(15) Watsford et al(15) identificaram que a maior ri- os valores médios dos grupos de atleta investigados em gidez de isquiossurais foi um fator preditivo na lesão cada estudo. Esses valores juntamente com outros es- desse grupo muscular. Nesse estudo, o teste realizado a tudos que descrevem a rigidez em atletas(29,30) podem fim de obter a rigidez demandava que o atleta susten- contribuir com a comparação e assim, a interpretação tasse uma contração isométrica frente a uma carga im- dos achados em uma avaliação clínica. Dessa forma, posta em seu pé. A relação encontrada pode sugerir que os dados apresentados nesta revisão podem auxiliar os maiores valores de rigidez indicavam maior contração profissionais no desenvolvimento de um raciocínio clíni- muscular. Nessa perspectiva, atletas que demandassem co apropriado para o planejamento de ações preventi- de maior contração de isquiossurais frente a uma força vas e de reabilitação. REFERÊNCIAS 1. Salci Y, Kentel BB, Heycan C, Akin S, Korkusuz F. Comparison of landing maneuvers between male and female college volleyball players. Clin Biomech (Bristol , Avon ) 2004 Jul;19(6):622-8. 2. 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Ter Man. 2013; 11(53):436-443 444 Revisão de Literatura Avaliação e tratamento da fisioterapia respiratória no pós-operatório de cirurgias plásticas. Evaluation and treatment of postoperative physical therapy plastic surgery. Ingrid Jullyane Pinto Soares(¹), Rodrigo Marcel Valentim da Silva (2) , Melyssa Lima de Medeiros(3), Esteban Pacheco Fortuny(4), Patrícia Froes Meyer (5). Universidade Potiguar (UnP), Natal (RN), Brasil. Resumo Introdução: O Brasil está entre os países que mais realiza cirurgias plásticas. Durante o pós-operatório, independentemente do tipo de cirurgia, são frequentes as alterações respiratórias com possível consequência na função pulmonar. A fisioterapia respiratória pode intervir na prevenção ou tratamento destas disfunções, porém não existe um consenso quanto a indicação e seus benefícios no pós-operatório das cirurgias plásticas estéticas. Objetivo: Identificar condutas fisioterapêuticas para alterações respiratórias no pós-operatório de cirurgia plástica estética. Método: Trata-se de uma revisão sistemática, utilizando diversas bases de dados (PubMed, PubMed Central, Lilacs e Bireme, Science Direct). Dos 409 artigos encontrados apenas 5 mostraram-se relevantes e dentre estes últimos apenas dois convergiram referenciando as complicações em cirurgia plástica estética focando a atenção no pós-operatório e evidenciando as alterações dos volumes pulmonares em indivíduos submetidos a cirurgias plásticas. Resultados: Não há consenso sobre a atuação da fisioterapia no pós operatório de cirurgias abdominais. Conclusão: A realização de ensaios clínicos controlados e randomizados e de estudos de metanálise são necessários para que se possa estabelecer e sistematizar, a atuação da fisioterapia no pós-operatório de cirurgia plástica estética. Palavras Chaves: Cirurgia Plástica, Complicações Pós-Operatórias, Modalidades de Fisioterapia,Exercícios Respiratórios. Abstract Introduction: Brazil is one of the countries in which plastic surgery is a frequent practice. During the postoperative period, regardless of the type of surgery, there are frequent changes in breathing resulting in bad effects to lung function. Respiratory therapy may intervene in the prevention or treatment of these disorders, but there is no consensus regarding the indication and benefits of postoperative cosmetic plastic surgeries. Objective: Identify physical therapy procedures for respiratory complications in the postoperative aesthetic plastic surgery. Method: This is a systematic review, using various databases (PubMed, PubMed Central, Lilacs and Bireme, Science Direct). Of the 409 articles identified, only 5 were relevant and of these only two last converged referencing complications in plastic surgery focusing attention postoperatively and showing the changes in lung volume in patients undergoing plastic surgery. Results: There is no consensus on the role of physiotherapy in postoperative abdominal surgery. Conclusion: The clinical trials and randomized controlled studies and meta-analyzes are needed so that we can establish and systematize the role of physiotherapy in postoperative plastic surgery. Keywords: Plastic Surgery, Postoperative Complications, Physical Therapy Modalities, Breathing Exercises. Recebido em: 06/07/2013; Aceito em: 09/09/2013 1. Bacharel em Fisioterapia, Universidade Potiguar (UnP), Natal (RN), Brasil; Acadêmica da Pós-Graduação em Fisioterapia Dermato-Funcional da Universidade Potiguar (UnP), Natal (RN), Brasil. 2. Mestre em Fisioterapia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal (RN), Brasil; Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade Maurício de Nassau, Natal (RN), Brasil. 3. Mestranda em Biotecnologia pela Universidade Potiguar (UnP); Especialista em Fisioterapia Respiratória pela Universidade Potiguar (UnP); Docente do Curso de Fisioterapia, Universidade Potiguar (UnP), Natal (RN), Brasil. 4. Coordenador Acadêmico Diplomado em Kinesiologia Dermato-Funcional e Medicina Estética, Universidade Finis de Terra (UFT); Docente Adjunto da Escola de Kinesiologia, Universidade Finis de Terra (UFT), Santiago, Chile. 5. Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Docente do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia Dermato-Funcional da Universidade Potiguar (UnP), Natal (RN), Brasil. Autor para Correspondência: Rodrigo Marcel Valentim da Silva. Rua Nossa Senhora de Fátima, 312 b, Alecrim, Natal/RN. E-mail: [email protected]. Telefone: (84) 9164-5644 Ter Man. 2013; 11(53):444-450 445 Ingrid J. P. Soares, Rodrigo M. V. Silva, Melyssa L. Medeiros, Esteban P. Fortuny, Patrícia F. Meyer. Introdução O ato cirúrgico pode determinar alterações pulmo- A cirurgia plástica está entre os procedimentos ci- nares como: redução dos volumes e capacidades pul- rúrgicos mais procurados pelos indivíduos, pois a mesma monares; o desenvolvimento de atelectasias; choque hi- está associada à melhora da autoestima e ainda corrige povolêmico; tromboembolismo; edema pulmonar; sín- imperfeições, fazendo com que o individuo se “encaixe” drome da embolia gordurosa; insuficiência respiratória no padrão dito normalidade ou de beleza, para determi- grave, parcial ou global (isto é, que podem ou não afe- nada cultura. Dentre as cirurgias plásticas mais procura- tar o transporte de oxigênio) e muitos outros fatores das, estão a lipoaspiração e abdominoplastia.(1) associados que causam hipoxemia e hipóxia tissular, e, Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plásti- secundariamente, intervindo negativamente na repara- ca, o Brasil só perde para os Estados Unidos no ranking ção tecidual, justificando à necessidade de propor uma de cirurgias plásticas estéticas. Fazendo uma análise re- conduta de fisioterapia para minimizar ou tratar essas trospectiva, foi observado que no Brasil, a cada três anos, disfunções.(8,9,10,11) são realizadas mais de 1.000.000 cirurgias estéticas. (2,3) As complicações pulmonares aumentam a morbi- A abdominoplastia ou dermolipectomia abdominal, dade hospitalar, prolongam a internação e os custos de indicada para correção funcional e estética da parede cuidados de saúde; a maioria é derivada de disfunção abdominal, consiste na remoção de adiposidade loca- da musculatura respiratória e alterações relacionadas na lizada no abdome inferior e da flacidez do tecido cutâ- mecânica da parede torácica, pelo temor a dor e a reali- neo da região peri-umbilical.(4)A associação da abdomi- zação da expansão pulmonar. (12) noplastia com lipoaspiração a partir das técnicas de Sal- A fisioterapia, no período do pós-operatório, tem danha et al. e Avelar et al., trata-se de uma prática fre- como objetivo a prevenção e o tratamento das complica- quente entre os cirurgiões plásticos e quem pode ser ções pulmonares instaladas, utilizando manobras fisiote- feita com baixa incidência de complicações, desde que rapêuticas e dispositivos respiratórios não invasivos, com sejam analisadas as condições clínicas do paciente.(5,6) o objetivo de melhorar a mecânica respiratória, promo- Apesar do avanço dos avanços das técnicas cirúr- ver a reexpansão pulmonar e a higiene das vias aéreas. Entretanto, a duração e frequência dos procedi- gicas nos procedimentos estéticos, estudos evidencia- (13,14,15) ram complicações transoperatórias e, também, no pe- mentos da fisioterapia respiratória para pacientes cirúr- ríodo de pós-operatório (PO), podendo ser tanto locais gicos são variadas, dependendo das necessidades indivi- quanto sistêmicas. O aumento da pressão intra-abdomi- duais, preferência terapêutica e prática institucional.(2,14) nal decorrente da plicatura da aponeurose nas cirurgias Dessa forma, diante da possibilidade complicações, de abdominoplastia é um dos fatores associados ao au- destaca-se a importância da atuação do profissional fi- mento das disfunções pulmonares no pós-operatório. (7,8) sioterapeuta, principalmente nos primeiros dias, quando A função pulmonar pode sofrer alterações fisiopa- estas alterações são mais frequentes. Infelizmente, há tológicas no período pós-operatório imediato da cirur- uma falta de padronização de protocolos fisioterapêuti- gia abdominal e envolve a redução dos volumes e capa- cos nas cirurgias plásticas, principalmente nas que são cidades pulmonares, podendo chegar até cerca de 50% realizadas na região abdominal, justamente as que mais dos valores pré-operatórios, principalmente, nas primei- comprometem a dinâmica respiratória do paciente. Por- ras 24 e 48h do ato operatório. Sabe-se hoje que a pa- tanto, o objetivo deste estudo foi investigar a atuação resia diafragmática é o principal determinante desta al- da fisioterapia respiratória no pós-operatório de cirurgia teração, porém outros fatores podem se associar à gê- plástica estética. nese da diminuição dos valores pulmonares, como a administração de drogas anestésicas e a própria anestesia, Metodologia a manipulação das vísceras, a incisão da parede abdo- Este estudo caracteriza-se como uma revisão de li- minal, a imobilização no leito, os relaxantes musculares, teratura que baseou-se em artigos eletrônicos de aces- a distensão e a dor abdominal, o uso de analgésicos e o so total livre, obtidos através do sítio da National Cen- próprio medo de danificar a cirurgia faz com que dimi- ter for Biotechnology Information e restritos as bases nua a realização da expansão pulmonar e/ou expirações de dados PubMed, PubMed Central, Scielo, Lilacs e Bire- forçadas e manobras de alto fluxo. me. Um total de 409 artigos foram encontrados quando (4,5,6) As alterações nos volumes pulmonares podem de- utilizadas as palavras complicação, cirurgia e plástica e terminar o aparecimento de sinais clínicos, principal- 150 quando procurados através das palavras: fisiotera- mente, na ocorrência de alterações importantes como a pia, respiratória e cirurgia. diminuição da capacidade vital (CV), do volume expira- Os critérios de inclusão foram os artigos do tipo tório forçado (VEF), volume voluntário máximo (VVM), experimental entre os anos de 2005 à 2013 a partir capacidade vital forçada (CVF) e do pico de fluxo expi- dos descritores: “complicações”, “cirurgias”, “plásticas”, ratório, com retorno à normalidade próximo do 30º dia “complicação”, “cirurgia” e “plástica” pós-operatório.(7) línguas portuguesa, espanhola e inglesa. Em seguida os limitando-se as Ter Man. 2013; 11(53):444-450 446 Avaliação e tratamento da fisioterapia respiratória no pós-operatório de cirurgias plásticas. descritores: “physiotherapy”, “chest” e “surgery” restri- análise estatística e as conclusões do estudo. tos as línguas portuguesa, espanhola e inglesa. A tabela 04 apresenta os diferentes exercícios fisio- Os critérios de exclusão foram: resumos e/ou dis- terapeuticos propostos em cada estudo. sertações de teses acadêmicas e artigos com condutas somente para pré-operatório. Discussão Após o levantamento, dos 409 artigos encontrados Após o levantamento dos dados, percebeu-se que apenas 5 artigos mostraram-se relevantes, no qual po- as complicações pulmonares são a principal causa de de-se considerar a escassez literária acerca do tema. morbidade e mortalidade após a cirurgia abdominal; destacando-se a insuficiência respiratória, o edema pul- Resultados monar e a pneumonia. As disfunções são decorrentes Dos 409 artigos encontrados apenas 5 mostraram- das alterações da mobilidade diafragmática, da rela- -se relevantes e dentre estes últimos apenas dois con- ção ventilação e perfusão e da eficácia da tosse; além vergiram referenciando as complicações em cirurgia da depressão do sistema nervoso central pelo uso de plástica estética focando a atenção no pós-operatório e opióides, que reduzem a força dos músculos respira- evidenciando as alterações dos volumes pulmonares em tórios e por consequência, os volumes e capacidades indivíduos submetidos a cirurgias plásticas. pulmonares, comprometendo a eficácia da mecânica A tabela 01 apresenta as características metodoló- respiratória.(2,13,15) gicas dos estudos encontrados, tais como tipo de estu- O estudo de Helene-Junior, Saad-Junior e Stirbulov do, população e amostra, procedimentos e métodos de (2006) analisou, prospectivamente, 33 mulheres que avaliação. procuraram o Ambulatório de Cirurgia Plástica do Hos- A tabela 02 está relacionada aos diferentes tipos de pital Central da Santa Casa de São Paulo, com diagnós- cirurgias realizadas, as complicações respiratórias de- tico de dermocalásia abdominal e diástase dos múscu- senvolvidas e ao tratamento proposto em cada estudo. los retos abdominais, que foram submetidas à abdomi- A tabela 03 apresenta os diferentes resultados vi- noplastia. Como instrumento de avaliação foi utilizado a sualizados com o estudo, bem como seus métodos de Espirometria, realizada no pré-operatório, no 4º, 15º e Tabela 01. Aspectos metodológicos dos estudos encontrados. Tipo de estudo População e Amostra Procedimentos Métodos de Avaliação Prospectivo controlado. 33 mulheres. Abdominoplastia clássica. Provas espirométricas (VFE1/ CVF, FEF25-75%/CVF, CVF, VEF1, FEF25-75% e PFE). Grams et al. (2012) Revisão sistemática e metanálise. 6 artigos incluídos na reviso sistemática. Abdominoplastia Pressão inspiratória máxima (PImáx), pressão expiratória máxima (PEmáx), espirometria e mobilidade diafragmática Forti et al. (2009) Estudo experimental randomizado. 44 mulheres obesas mórbidas, não tabagista e livre de doenças crônicas pulmonares. Gastroplastia por laparoscopia. Manovacuometria Forgiarini Junior et al. (2009) Ensaio clínico randomizado 36 pacientes. Abdominoplastia CVF, PFE, VEF1 e índice de Tiffeneau (VEF1/CVF), espirometria Autor Junior; Junior; Stibulov (2006). Tabela 02. Tipo de cirurgias, complicações respiratórias desenvolvidas e Intervenção proposta. Autor Tipo de cirurgia Complicação respiratória Junior; Junior; Stibulov (2006). Abdominoplastia clássica. Diminuição da função respiratório Não realizou nenhum tipo de no 4º dia tratamento Grams et al. (2012) Abdominoplastia Diminuição da força respiratória Forti et al. (2009) Gastroplastia por laparoscopia. Diminuição de força e de volumes Eletroestilmulação diafragmática pulmonares Forgiarini Junior et al. (2009) Abdominoplastia Atelectasias, diminuição de força e diminuição do fluxo e volume Treino da mecânica respiratória pulmonar Ter Man. 2013; 11(53):444-450 Tratamento Exercícios respiratórios 447 Ingrid J. P. Soares, Rodrigo M. V. Silva, Melyssa L. Medeiros, Esteban P. Fortuny, Patrícia F. Meyer. Tabela 03. Resultados, forma de análise estatística e conclusões dos estudos. Autor Resultados encontrados Análise estatística Junior; Junior; Stibulov (2006). (CVF, VEF1, FEF25-75% e PFE) se apresentaram significativamente diminuídos no 4º PO em relação aos valores pré-operatórios. As relações VEF1/CVF e FEF25-75%/CVF se mantiveram lineares ao longo do estudo. Os valores de CVF e PFE se mostraram normalizados à avaliação realizada no 30º. Já os valores de VEF1 ainda se revelaram significativamente inferiores aos valores préoperatórios na última avaliação. Forgiarini Junior et al. (2009) Pode-se evidenciar uma diminuição significativa na força muscular respiratória (PEmáx) em ambos os grupos avaliados Após o procedimento cirúrgico. A PImáx no pósoperatório teve uma redução importante nos dois grupos; porém, no grupo que não realizou fisioterapia na SRPA, a redução da força muscular foi maior, mas sem diferença significativa. Conclusão Ocorreu diminuição da função respiratória no 4º dia de pós-operatório com normalização até o 30º dia de pós-operatório. Nos dados espirométricos, houve diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05) entre os grupos estudados, com uma queda significativa na CVF e no VEF. Proporcionou a manutenção da função pulmonar e da força muscular expiratória. Tabela 04. Exercícios fisioterapêuticos propostos. Autor Técinca/recurso Objetivo para o PO de cirurgia plástica Resultado Obtido ou esperado Forgiarini Junior et al. (2009) Propriocepção diafragmática, os padrões ventilatórios insuflantes, as técnicas de expiração forçada, o retardo expiratório e a tosse assistida. A deambulação (iniciada no terceiro dia de pós-operatório). Melhorar volumes inspiratórios; evitar/diminuir secreções; evitar atelectasias e tromboembolismo pulmonar. Proporcionou a manutenção da função pulmonar e da força muscular expiratória. Grams et al. (2012) Exercícios respiratórios Melhora na força muscular respiratória A falta de estudos de boa qualidade comprometeu uma conclusão mais categórica sobre o assunto. Forti et al. (2009) Eletroestimulação diafragmática Manutenção do fluxo e volume pulmonar Contribuíram para a manutenção do fluxo e volume pulmonar tão bem quanto à força da musculatura inspiratória. 30º dia de pós-operatório (PO). Os parâmetros avalia- metria de incentivo dos apresentaram-se significativamente diminuídos no dade do paciente antes do procedimento cirúrgico pode- , e caso tenha testado a sensibili- 4º dia de PO em relação aos valores pré-operatórios. -se associar os exercícios a eletroestimulação transcutâ- Entretanto, a Capacidade Vital Forçada e o Pico de Fluxo nea do diafragma. (13) (13) Expiratório alcançaram a normalidade na avaliação re- A fisioterapia respiratória tem sido indicada no pós- alizada no 30º; permanecendo abaixo do previsto ape- -operatório de cirurgias abdominais com o objetivo de nas o VEF1, que ainda encontravam-se significativa- minimizar o risco de complicações e acelerar a recupe- mente reduzidos quando comparados aos valores pré- ração, entre as técnicas utilizadas destacam-se os exer- -operatórios. cícios que visam aperfeiçoar o esforço inspiratório, como Ao final do levantamento de dados sobre as inter- a espirometria de incentivo, aumentando a eficácia da venções fisioterapêuticas nos pós-operatórios, apesar ventilação e as trocas gasosas. Em um estudo piloto, , não randomizado, avaliando 263 pacientes que utiliza- as condutas que tornam-se cabíveis a um PO imediato ram o espirômetro de incentivo, como parte de um pro- de cirurgia plástica para prevenir as disfunções pulmo- grama de fisioterapia pós-operatória, observou-se di- nares são: exercícios de reexpansão pulmonar isolados minuição da ocorrência de complicações pulmonares para pacientes de baixo risco de PO como: padrões res- (p=0,01).(15) de não haver consenso sobre superioridade destas (14) piratórios inspiratórios (inspiração lenta e profunda, ins- Um estudo de revisão que incluiu 11 estudos com piração fracionada, inspiração máxima). (10,13,14) Para os um total de 1754 participantes, que avaliou o efeito da pacientes de alto risco podem ser associados a inspiro- espirometria de incentivo quando comparada a nenhum Ter Man. 2013; 11(53):444-450 448 Avaliação e tratamento da fisioterapia respiratória no pós-operatório de cirurgias plásticas. tipo de intervenção ou a realização de outras técnicas de 2 a 3 semanas antes da cirurgia (grupo de tratamento, fisioterapia, incluindo a tosse e respiração profunda, em n=16) ou aguardar a operação sem se envolver em prá- todas as causas de complicações pulmonares pós-ope- tica (grupo controle, n=16). Após a cirurgia um protoco- ratórias e mortalidade em pacientes adultos internados lo de fisioterapia foi estabelecido para todos os grupos, para realização de cirurgia abdominal superior. Os auto- até o sétimo dia pós-operatório. Avaliaram a força mus- res apontam que não existem evidências para apoiar o cular inspiratória e expiratória; a resistência muscular uso de espirometria de incentivo na prevenção de com- respiratória, a espirometria e capacidade funcional pela plicações pulmonares no pós-operatório após de cirurgia medida da distância percorrida no teste de caminhada abdominal superior; e evidenciam a necessidade de re- de seis minutos. No período pré-operatório, os pacien- alização de ensaios clínicos controlados. tes do grupo de intervenção apresentaram valores su- (16) Krishna et al. (2013), avaliaram os efeitos do exer- periores nas medidas da força inspiratória e da resis- cício de respiração diafragmática na função pulmonar e tência da musculatura respiratória do que os controles da excursão do diafragma em 25 pacientes submetidos (p <0 0,05). No sétimo dia de pós-operatório, além de à cirurgia laparoscópica, sendo doze homens e oito mu- força inspiratória e resistência dos músculos respirató- lheres. Os pacientes realizaram exercícios de respiração rios, o grupo de intervenção apresentaram melhores re- diafragmática, terapia de higiene brônquica e exercícios sultados (p<0,05) do que os controles na independência de mobilidade. Todos foram submetidos a avaliações de funcional pontuação medida (118 contra 95) e distância teste de função pulmonar com medida da capacidade percorrida no teste de caminhada de 6 minutos (368,5 vital forçada (CVF), volume expiratório forçado no pri- m contra 223 m). As complicações pulmonares pós-ope- meiro segundo (FEV1), relação VEF1/CVF, pico de fluxo ratórias ocorreram em 11 pacientes do grupo controle e expiratório (PFE) e a atividade diafragmática foi avalia- cinco no grupo de intervenção (P=0,03). Concluem afir- da por ultrassonografia antes e no primeiro e segundo mando que a fisioterapia pré-operatória melhora da fun- dia de pós-operatório. Concluem que, na amostra anali- ção pulmonar e desempenho físico nos períodos pré e sada, a fisioterapia respiratória contribui para a recupe- pós-operatório em pacientes submetidos a cirurgia do ração precoce da função pulmonar e da excursão do dia- abdome superior fragma entre os pacientes que haviam sido submetidos a cirurgia laparoscópica.(17) . (19) Mackay et al. (2005) avaliaram se a realização de exercícios respiratórios e técnicas de higiene brônquica, Haines, Skinner e Berney (2013), analisaram a inci- em um programa de fisioterapia direcionada padroniza- dência de complicações pulmonares pós-operatórias, os do de mobilização precoce, melhora os resultados clíni- fatores de risco para o desenvolvimento de complicações cos em pacientes submetidos à cirurgia abdominal aber- pulmonares e as barreiras encontradas à mobilização fora ta. Foram analisados cinquenta e seis pacientes subme- do leito pela fisioterapia, em um estudo de coorte obser- tidos a cirurgia abdominal aberta, com alto risco de de- vacional com setenta e dois pacientes submetidos a ci- senvolver complicações pulmonares pós-operatórias; e rurgia abdominal de alto risco. Os resultados da incidên- concluem que, neste cenário clínico, a adição de exer- cia de complicações pulmonares no pós-operatório foi de cícios de respiração profunda e tosse a um programa 39% e o tempo de permanência no leito para iniciar a de fisioterapia direcionada de mobilização precoce não mobilização para mobilizar estava associado a incidên- reduz significativamente a incidência de complicações cia de complicações pulmonares pós-operatórias; e em pulmonares clinicamente significativas em cirurgia ab- 52% dos pacientes foram apontados fatores de barrei- dominal aberta de de alto risco(20). ra, que impediam a mobilização fora do leito no primei- De acordo com Dias et al. (2010), a atenção da ro dia pós-operatório e a hipotensão foi apontada como fisioterapia no pós-operatório imediato foi benéfica principal relatado pelos fisioterapeutas. Este estudo de- para a melhora dos volumes inspiratórios, já Forti et al. monstrou uma associação entre a mobilização pós-ope- (2009) teve resultados significativos com a melhora da ratória tardia e a evolução com complicações pulmonares força muscular respiratória e concordou com Dias et al. pós-operatórias; entretanto, sugerem que ensaios clíni- (2010) em relação aos volumes inspiratórios. cos randomizados são necessários para testar o papel da Grams et al. (2012) afirmou que a falta de estudos mobilização precoce na prevenção de complicações pul- de boa qualidade comprometeu uma conclusão mais ca- monares pós-operatórias em pacientes submetidos a ci- tegórica sobre o assunto, não influenciando no estudo rurgia abdominal superior de alto risco.(18) presente. Soares et al. (2013) investigaram os efeitos da fi- De acordo com o estudo de Hanekon et al. (2012), sioterapia pré-operatória na função pulmonar e desem- que teve como objetivo desenvolver um algoritmo de penho físico antes e depois da cirurgia abdominal supe- conduta para o manejo pós-operatório de pacientes sub- rior, em trinta e dois pacientes submetidos à cirurgia ab- metidos a cirurgias abdominais; devido à má qualidade dominal. Os pacientes foram randomizados para rece- das pesquisas primárias e a possibilidade de erros na es- ber a fisioterapia, com exercícios respiratórios e globais, truturação da pesquisa, permanece a incerteza sobre o Ter Man. 2013; 11(53):444-450 449 Ingrid J. P. Soares, Rodrigo M. V. Silva, Melyssa L. Medeiros, Esteban P. Fortuny, Patrícia F. Meyer. valor da fisioterapia de rotina na prevenção de complica- em todos os pacientes. A respiração por via nasal, de ções pulmonares após cirurgia abdominal.(21) forma fisiológica, permite uma correta filtração e umi- Por outro lado, considerando o oxigênio um substra- dificação do ar inspirado realizado pelos cílios da mu- to fundamental na correção de reparação tissular pós-ci- cosa nasofarígea; muitos pacientes em pós-operatório rúrgico, parece claro que nenhuma das investigações in- desenvolvem respiração bucal, diminuindo tanto a pro- dicam parâmetros de oxigenoterapia dos pacientes, apoio teção como a umidificação do ar inspirado, fatores que externo por máscara ou cateter nasal, utilizado em pa- podem predispor a contágio de enfermidades respira- cientes ou especificando o momento em que o apoio ex- tórias provocadas por inspiração de patógenos. A re- terno foi suspenso. Enquanto, muitas investigações utili- alização de tosse também poderia ser um fator posi- zam provas de função pulmonar como elementos de ava- tivo já que permite ativar os mecanismos fisiológicos liação, nem sempre é possível realizar estes procedimen- de resposta. tos em todos os pacientes. Sugere-se incorporar na clínica o uso frequente de parâmetros clínicos que permi- Conclusão tam um seguimento mais constante sobre a avaliação da Apesar de não haver um estudo direcionado a in- troca gasosa, utilizando Índice de Oxigenação (PAFI = tervenção da fisioterapia respiratória no pós-operató- Pa02/Fi02), cálculo simples que pode determinar o esta- rio de cirurgia plástica e nem um consenso na literatu- do do paciente e que pode ser realizado com os dados da ra sobre quais técnicas são eficazes para prevenir e tra- gasometria arterial, constituída a partir de um exame de tar as complicações respiratórias, sabe-se que os volu- rotina de um paciente pós-operado. O uso deste cálcu- mes e capacidades pulmonares estão alterados nos pri- lo permite conhecer a sua evolução e tomar medidas de meiros dias do pós-cirúrgico e que a intervenção da fi- forma preventiva antes que possíveis alterações pulmo- sioterapia respiratória pode minimizar a morbi-mortali- nares surjam, diminuindo assim as complicações. dade neste período. Os incentivos a posições sentadas (sobre a borda Acredita-se que a realização de ensaios clínicos da cama) constitui um fator importante na restituição da controlados e randomizados e de estudos de metanáli- função pulmonar, pois permite que zonas não ventiladas se seja necessária para que se possa estabelecer e sis- comecem a recrutar, porém, deve considerar em cirur- tematizar, a atuação da fisioterapia no pós-operatório de gias abdominais recentes o uso obrigatório de cintas ab- cirurgia plástica estética. dominais como método de proteção. A realização de exercícios respiratórios constituem Agradecimentos uma entrada no processo de reabilitação, porém, é im- Agradecimento especial aos alunos e professores portante promover a indução sobre mecanismos de da Especialização em Fisioterapia Dermato-Funcional da proteção das vias respiratórias e respiração fisiológica Universidade Potiguar (UnP), Natal (RN), Brasil. Referências 1. Santos NP, Barnabé AS, Fornari JV, Ferraz RRN. Avaliação do nível de dor em pacientes submetidos a cirurgias plásticas estéticas ou reparadoras. Rev Bras Cir Plást. 2012;27(2):190-4 2. Sociedade brasileira de cirurgia plástica 2011. [Online]. 3. Ferreira FR. Cirurgias estéticas, discurso médico e saúde. Ciênc Saúde Coletiva. 2011;16(5):2373-82 4. Graf R, Araujo LR, Rippel R, Neto LG, Pace DT, Cruz GA. Lipoabdominoplasty: liposuction with reduced undermining and traditional abdominal skin flap resection. Aesthetic Plast Surg. 2006;30(1):1-8. 5. Grazer FM, Klingbeil JR. 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Ter Man. 2013; 11(53):444-450 450 Avaliação e tratamento da fisioterapia respiratória no pós-operatório de cirurgias plásticas. 11. Netscher DT, Izaddoost S, Sandvall B. Complications, Pitfalls, and Outcomes After Chest Wall Reconstruction. Seminars in plastic surgery 2011, 25(1): 86-97. 12. Helene Junior A, Saad Junior R, Stirbulov R. Avaliação da função respiratória em indivíduos submetidos à abdominoplastia. Rev. Col. Bras. Cir. [online]. 2006, 33(1): 45-50. 13. Nicolino AMD, Luciano GMDA. Physiotherapy in the perioperative period a Best Practice & Research Clinical Anaesthesiology 24 (2010) 283–289 14. Hall JC, Tarala RA, Tapper J, Hall JL. Prevention of respiratory complications after abdominal surgery: a randomised clinical trial. BJM 1996;312:148-53. 15. Westwood K, Griffin M, Roberts K, Williams M, Yoong K, Digger T. Incentive spirometry decreases respiratory complications following major abdominal surgery 2007 Surgeon 5; 6: 339-42 16. 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Psychometric properties of questionnaires related to endometriosis Tatiane Regina Sousa(1), Raquel Eleine Wolpe(1), Ariana Machado Toriy(1), Fabiana Flores Sperandio(2). Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis (SC), Brasil. Resumo Introdução: A endometriose é a afecção ginecológica crônica mais comum, sendo frequentemente associada com dor pélvica e infertilidade. Com base em estimativas de prevalência de sintomas, constatou-se que ela afeta provavelmente 10% da população feminina mundial e de 30% a 50% das mulheres em idade fértil. Objetivos: Descrever quais são os instrumentos validados para a avaliação da endometriose bem como suas propriedades psicométricas e quantificar quais destes estão traduzidos/ adaptados para a língua portuguesa. Métodos: Foram realizadas buscas sistematizadas nas bases de dados eletrônicas PUBMED, BIREME e SCOPUS, por meio do cruzamento do termo endometriosiscom chronicpain, dyspareunia, dysmenorrhea e infertility. Os estudos foram analisados quanto à sua respectiva qualidade metodológica de acordo com as diretrizes para avaliação de dados psicométricos e o processo de adaptação transcultural para o Brasil. Resultados: De um total de 1083 estudos apenas 73 foram considerados elegíveis, sendo que eles adaptaram e/ou testaram oito instrumentos diferentes (EHP-30, EHP 5, ECQ, EFI, ETSQ, EPBD, B&B e VPE). Dois dos oito questionários não cumpriram adequadamente as recomendações dos critérios de validação psicométrica de Terwee (VPE e B&B). Apenas o questionário EHP-30 testou por completo todas as propriedades de medida, sendo igualmente o único validado na língua portuguesa (Brasil), apesar de obter escore negativo na etapa de retrotradução. Conclusão: A maioria dos questionários não teve suas propriedades de medida testadas corretamente. Seis deles foram elaborados após o ano 2000, o que oferece fortes indícios da reduzida utilização na prática clínica, indicando ainda que suas elaborações foram reflexo da falta de instrumentos para avaliar os aspectos da endometriose. Palavras-chave: Endometriose. Questionário. Validação. Abstract Introduction: Endometriosis is a chronic gynecological disease more common and is often associated with pelvic pain and infertility. Based on estimates of the prevalence of symptoms, it was found that it affects probably 10% of the female population worldwide and 30% to 50% of women of childbearing age. Objective: Describe what tools are validated for the evaluation of endometriosis and its properties psicométricase quantify which of these are translated / adapted into Portuguese. Method: We performed systematic searches in electronic databases PUBMED, SCOPUS and BIREME, by crossing the term endometriosis with chronicpain, dyspareunia, dysmenorrhea and infertility. The studies were analyzed regarding its methodological quality according to the guidelines for evaluation of psychometric data and the adaptation process for Brazil. Results: A total of 1083 only 73 studies were eligible, and they adapted and / or tested eight different instruments (EHP-30, EHP 5, ECQ, EFI, ETSQ, EPBD, B & B and VPE). Two of the eight questionnaires were not adequately comply with the recommendations of the criteria for psychometric validation of Terwee (VPE and B & B). Only the quiz EHP-30 completely tested all measurement properties and is also the only validated in Portuguese (Brazil), in spite of getting negative score in step back translation. Conclusion: Most questionnaires had tested its measurement properties correctly. Six of them were produced after 2000, which provides strong evidence of limited use in clinical practice, further indicating that their elaborations were a reflection of the lack of tools to assess aspects of endometriosis. Keywords: Endometriosis. Questionnaire. Validation. Recebido em: 03/07/2013; Aceito em: 12/09/2013 1. Mestranda em Fisioterapia, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis (SC), Brasil. 2. Docente do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis (SC), Brasil. Autor Correspondente: Raquel Eleine Wolpe - Email: [email protected] - Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (CEFID) - Laboratório de Saúde da Mulher. - Rua Paschoal Simone, 358 – Coqueiros CEP: 88080-350 - Florianópolis (SC), Brasil. Ter Man. 2013; 11(53):451-460 452 Propriedades psicométricas de questionários relacionados à endometriose. INTRODUÇÃO eles também são muito utilizados na pesquisa científi- A endometriose é a afecção ginecológica crônica mais comum, sendo frequentemente associada com dor pélvi- ca ajudando a desvendar os mistérios que ainda cercam esta afecção.(10,11) Com base em estimativas de prevalên- Apesar de a endometriose ser um distúrbio gineco- cia de sintomas, constatou-se que ela afeta provavelmen- lógico muito comum, e os estudos utilizarem uma varie- te 10% da população feminina mundial e de 30% a 50% dade de questionários para avaliarem os sintomas como das mulheres em idade fértil.(2-4) O que representa cerca dor pélvica, dismenorreia, dispareunia e infertilidade, a de 176 milhões de mulheres afetadas em todo o mundo.(5) maioria deles é genérico e não avalia de fato as intercor- O impacto da endometriose sobre o comprometi- rências específicas da endometriose. Alguns destes es- mento da saúde, a baixa produtividade do trabalho e a tudos não são validados em português, e a literatura re- queda das atividades de vida diária já foram descritos comenda que seja feita a tradução, a adaptação cultural, por estudos qualitativos prévios deixando evidente seu além da realização de testes que avaliem as proprieda- alto custo atualmente estimados em bilhões de dólares. des de medida desses instrumentos, tais como a análise Tais estudos têm mostrado que os sintomas da en- da consistência interna, da reprodutibilidade, da valida- dometriose impactam negativamente no bem-estar so- de e da responsividade.(11,12) Como não existe nenhum cial destas mulheres, afetando as relações, diminuindo a documento que sintetize esses questionários, o objetivo auto-estima e levando a uma sensação de falta de con- foi verificar quais são os instrumentos para a avaliação trole da própria vida.(3,8,9) da endometriose e quantos deles estão validados para ca e infertilidade. (1) (6,7) Neste contexto, os instrumentos de avaliação em língua portuguesa (Brasil). forma de questionários e escalas têm sido amplamente utilizados para coletar informações de desfechos na prá- MATERIAL E MÉTODO tica clínica, como a intensidade da dor, os níveis de qualidade de vida do paciente, a satisfação com o tratamen- Etapas de Pesquisa to e a incapacidade de realizar atividades diárias.(1,8,9) Foram realizadas pesquisas no período de abril a Além da utilização dos questionários na prática clínica, junho de 2013 nas seguintes bases de dados eletrôni- Figura 1. Fluxograma com os critérios de busca eletrônica em três bases de dados. Ter Man. 2013; 11(53):451-460 453 Tatiane Regina Sousa, Raquel Eleine Wolpe, Ariana Machado Toriy, Fabiana Flores Sperandio. cas: PubMed, Bireme e Scopus. Utilizou-se do cruza- pletos submetidos à avaliação através do levantamento mento de palavras-chave, definidas previamente pelos dos questionários utilizados (Figura 1) e destes pesqui- termos MeSH (Medical SubjectHeadings): questionnai- sou-se os artigos originais de desenvolvimento e valida- re and endometriosis; questionnaire and endometrio- ção no idioma de origem e em outros idiomas. sis and chronic pain; questionnaire and endometriosis and dyspareunia; questionnaire and endometriosis and Qualidade metodológica dos estudos dysmenorrhea; e questionnaire and endometriosis and Os instrumentos foram avaliados quanto as pro- infertility. Os artigos foram, igualmente, selecionados priedades métricas, segundo os critérios estabelecidos através de filtros do próprio sistema de busca. Como cri- por Terwee et al(16), e apresentados na Tabela 1. Os cri- térios de inclusão, foram selecionados artigos realizados térios foram classificados como positivo (a proprieda- em humanos, no período de 2009 a 2013, nos idiomas de foi comprovada), negativo (a propriedade não obte- inglês e português (Brasil). Como critério de exclusão foi ve comprovação), inconclusivo (dados insuficientes para utilizado a não disponibilidade do artigo na íntegra.(12-21) a propriedade ser avaliada) e ausente (não há informa- A seleção ocorreu por dois avaliadores independen- ções). Este critério avaliativo foi utilizado visto a sua tes que analisaram o título e o corpo do resumo seguin- aplicação em estudos prévios.(12-21) do os critérios – estudos realizados em mulheres, que Os instrumentos validados em português foram utilizavam questionários específicos para endometriose. classificados quanto ao método de tradução e adap- Foram excluídos os artigos que avaliavam homens ou tação cultural de acordo com as Diretrizes de Adapta- crianças e artigos indisponíveis, que não foram conse- ção Transcultural de Questionários.(22) As etapas, descri- guidos mediante contato com os autores. Na sequência, tas na Tabela 2, foram classificadas como positiva (+), todos os artigos selecionados tiveram seus textos com- quando o procedimento realizado estava de acordo com Tabela 1. Conceitos dos critérios avaliativos da qualidade de questionários, segundo Terwee et al(16) Critério Conceito Resultados Validade de conteúdo O quanto os conceitos de interesse são amplamente representados pelos itens do questionário. + envolve uma avaliação sistemática, mas subjetiva, para medir o que deve ser medido; ? Metodologia duvidosa; - Não envolve avaliação sistemática; 0 Não há informações. Consistência interna Medida da extensão em que os itens de um questionário de uma escala são correlacionados (homogêneo), medindo assim o mesmo conceito. + Alfa de Cronbach entre 0,70 e 0,95; ? Não há análise fatorial; - Alfa de Cronbach < 0,70 ou > 0,90; 0 Não há informação sobre a consistência interna. Validade de critérios Grau em que uma pontuação no instrumento em particular relaciona-se a um padrão-ouro. + é considerado o padrão ouro de medida. ? Metodologia duvidosa; - DP > 50% 0 Não há informações disponíveis. Validade de constructo Medida em que a pontuação de um instrumento relaciona-se com outras medidas de uma maneira que seja consistente com as hipóteses teoricamente derivadas sobre os conceitos que estão sendo medidos. + 75% dos resultados estão de acordo com as hipóteses; ? Delineamento ou método questionável (ex. hipóteses não foram formuladas); - Menos de 75% das hipóteses confirmadas; 0 Não há informações sobre a validade do construto. Reprodutibilidade Grau em que medições repetidas em indivíduos estáveis fornecem respostas semelhantes. + MMI < MMD ou MMI fora do LOC ou argumentos convincentes de que a concordância é aceitável; ? Delineamento ou método duvidoso ou MMI não definido; - MMI ≥ MMD ou MMI igual ou dentro do LOC, apesar de o desenho e método estarem adequados; 0 Não há informações sobre a concordância. Responsividade Capacidade de um questionário para detectar alterações clinicamente importantes ao longo do tempo, mesmo que essas alterações sejam pequenas. + > 0,96 OU área abaixo da curva ≥ 0,70; ? tamanho amostral < 50 participantes; - razão da responsividade ≤ 0,96 OU área abaixo da curva < 0,70; 0 Não há informações sobre a responsividade. Efeitos de “chão” e “teto” Quando mais de 15% dos entrevistados atingem a pontuação mínima ou máxima possível, respectivamente. + ≤15% dos entrevistados alcançaram o máximo ou mínimo escore possível; ? tamanho da amostra < 50; - >15% dos entrevistados alcançaram o máximo ou mínimo escore possível; 0 Não há informação sobre a efeitos de teto e piso. Interpretabilidade Grau em que se pode atribuir significado qualitativo para contagens quantitativas. + CCI ou Kappa ≥ 0,70; ? Delineamento ou método duvidoso; - CCI ou Kappa < 0,70; 0 Não há informações sobre a confiabilidade. + = classificação positiva; ? = delineamento ou método duvidoso; - = classificação negativa; 0 = não há informação disponível. MMI = Mudança minimamente importante; MMD = Menor mudança detectável; LOC = Limites de concordância; CCI = Coeficiente de Correlação Intraclasse; DP = Desvio-padrão. Ter Man. 2013; 11(53):451-460 454 Propriedades psicométricas de questionários relacionados à endometriose. o critério de qualidade adotado; inconclusivo (?), quan- Endometriosis Health Profile - EHP-30 (JONES et do o método era realizado de forma questionável; ne- al., 2001) gativa (-), quando o procedimento era realizado corre- O EHP-30 é um instrumento de auto-relato dese- tamente, porém com número insuficiente de tradutores nhado por Jones et al em 2001, para avaliação de qua- e/ou retrotradutores; ou ausente (0), quando não havia lidade de vida relacionada à saúde, os seus itens foram informações suficientes para qualificar a etapa. desenvolvidos a partir de entrevistas com mulheres por- A extração de dados e as avaliações foram realiza- tadoras de endometriose.(23-26) Consiste de um questio- das por dois avaliadores e, em seguida, conferidas por nário central, composto de 30 itens que avaliam cinco um revisor independente. Não houve nenhuma diver- dimensões: dor, controle e impotência, bem-estar emo- gência de opiniões entre os avaliadores e o revisor inde- cional, apoio social e auto-imagem, e de um questioná- pendente, que se reuniram e discutiram os dados ava- rio modular com 23 itens que estão distribuídos em seis liados. escalas: relações sexuais, trabalho, profissão, infertilidade, relacionamento com filhos e tratamento. Cada escala é transformada em um escore de 0 a 100, onde o RESULTADOS A busca eletrônica resultou em um total de 4068 menor escore significa melhor qualidade de vida.(27) referências. Destas, após a aplicação de filtros como critérios de inclusão, obteve-se o número de 1428 artigos. Endometriosis Treatment Satisfaction Question- Posteriormente, foram excluídos artigos que não esta- naire – ETSQ (DEAL et al, 2010) vam disponíveis na íntegra, resultando em 1083 artigos O Endometriosis Treatment Satisfaction Question- para análise dos questionários usados em endometrio- naire é utilizado para medir a satisfação dos pacientes se. Desses, apenas 73 artigos utilizavam questionários com o tratamento da endometriose, sendo muito utili- específicos para endometriose, obtendo-se um total de zado nos ensaios clínicos que testam a eficácia de novas 8 questionários diferentes (tabela 3). terapêuticas e a adesão a um tratamento, em função Tabela 2. Diretrizes para os procedimentos de adaptação transcultural de questionários segundo Beaton et al.(22) Etapa Descrição Tradução Realizada por dois ou mais tradutores independentes de língua nativa igual à língua-alvo da tradução. Síntese das traduções Produção de uma versão consensual através da síntese das versões dos tradutores. Retrotradução Tradução da versão consensual para a língua original por dois ou mais tradutores que não tenham conhecimento do questionário. Análise do comitê Elaboração da versão pré-final por um comitê de especialistas através da análise de todas as versões. Pré-teste Aplicação da versão pré-final em uma amostra da população-alvo. Fonte: Bestonet et al. Tabela 3. Síntese dos questionários de endometriose obtidos pela busca e os respectivos idiomas que foram validados. Questionário 1- Endometriosis Health Profile-30 (EHP30) (JONES et al 2001). 2- Short Form Endometriosis Health Profile Questionnaire (EHP-5) (JONES et al 2004). 3- ENDOCARE questionnaire (ECQ) (DANCET et al, 2012) Idiomas de validação Objetivo Inglês Britânico (23, 25, 49), Inglês Americano (50), Persa (46), Holandês (51, 52), Chinês (53), Português (54). Avaliar a qualidade de vida em relação à saúde de mulheres com endometriose (16). Inglês Britânico (24), Persa (55), Francês (56). Avaliar a qualidade de vida em relação à saúde de mulheres com endometriose (23). Inglês Britânico (36) e Italiano (41). Testar como os cuidados de saúde são percebidos pelos pacientes (26) 4- Endometriosis Treatment Satisfaction Questionnaire (ETSQ) (DEAL et al, 2010). Inglês Americano (31). Avaliar a satisfação das mulheres em relação ao tratamento recebido para endometriose (28). 5- Endometriosis Pain and Bleedind Diary (EPBD) (DEAL et al, 2010) Inglês Americano (35). Avaliar a evolução da dor durante o curso da endometriose (29). 6- Visual Pain mapping in Endometriosis (VPE) (RENNER et al, 2010). Alemão (32) Indicar os fenótipos de dor em pacientes com endometriose (30). 7- Biberoglu and Behman scale (BeB) (BIBEROGLU; BERHMAN, 1981) Inglês Americano (57) 8- Endometriosis Fertility Index (EFI) (ADAMSON; PASTA, 2010). Inglês Americano (5) Fonte: Dados primários (2013). Ter Man. 2013; 11(53):451-460 Avaliar a severidade dos sintomas da endometriose (31). Prever a chance de gravidez após o tratamento cirúrgico da endometriose (5). 455 Tatiane Regina Sousa, Raquel Eleine Wolpe, Ariana Machado Toriy, Fabiana Flores Sperandio. dos efeitos colaterais no uso de medicamentos.(28,29) coerente e somar as pontuações correspondentes a cada Desse modo ele é útil não só a equipe médica, mas tam- questão, avaliando tanto os fatores históricos quanto os bém as indústrias farmacêuticas.(30) O questionário ana- fatores cirúrgicos. Ela prevê a chance de gravidez após o lisa 8 diferentes domínios (dor intermitente, dor crôni- tratamento cirúrgico da endometriose e proporciona tran- ca, dor antes ou durante a menstruação, dor durante ou quilidade para aqueles pacientes com bom prognóstico, após a relação sexual, dor pélvica, sangramento, tole- além de evitar o desperdício de tempo e de tratamen- rância ao tratamento e satisfação com o tratamento) e to para aqueles com prognóstico pobre.(5) O instrumen- cada um recebe uma pontuação que vai de 0 a 6, onde to permite que seja assinalada a região atingida pela en- 0 significa extremamente insatisfeito e 6 extremamen- dometriose: ovários, trompas, fimbrias ou ambos, e qual te satisfeito.(31) o lado atingido: direito ou esquerdo. Cada região receberá uma pontuação de acordo com seu estado em: normal Visual Pain in Endometriosis – VPE (RENNER et al, (4 pontos), disfunção leve (3 pontos), moderada (2 pon- 2012) tos), grave (1 ponto) ou estrutura não funcional (0 pon- O mapa de endometriose foi criado para ser uma tos), conforme o que for observado no ato cirúrgico.(5) Os ferramenta útil na descrição dos detalhes dos fenótipos fatores históricos correspondem à idade da paciente: < de dor em pacientes com endometriose, ele segue um 35 anos (2 pontos), de 35 a 39 anos (1ponto), > que 39 modelo cartográfico baseado no modelo Java que já é anos (0 pontos); e ao tempo de infertilidade, quando este utilizado em pacientes com câncer de mama submetidas for menor ou igual a 3 anos (2 pontos), quando for maior à cirurgia.(32) O mapa visual da endometriose pode ser que 3 anos (score 0 pontos). Por fim as pontuações são preenchido pelo médico ou cirurgião após a realização somadas obtendo-se um score, que indica melhor prog- da laparoscopia exploratória para indicar o local das le- nóstico em maiores valores.(5) sões ou pode ser preenchido pela mulher a fim de indicar o local da dor. Este instrumento apresenta uma ilustração ENDOCARE – ECQ (DANCET et al, 2012) da pelve feminina em ângulo oblíquo dividido em 15 qua- O Endocare é uma escala desenvolvida de acor- drantes de modo que a mulher possa indica o quadran- do com o índice de qualidade do consumidor (CQI) para te que sente dor mesmo sem ter conhecimento da anato- testar como os cuidados de saúde são percebidos pelos mia da região.(33) O visual pain in endometriosis tem sido pacientes. O ECQ contém 8 itens demográficos e 15 muito útil na constatação de que a extensão da lesão não questões médicas. A segunda parte contém 38 afirma- tem relação absoluta com a intensidade da dor.(34) ções sobre cuidados específicos e aspectos que abrangem as 10 dimensões da endometriose centrada no cui- Daily electronic Endometriosis Pain and Bleeding dado ao paciente, ele gera escores médios de importân- Diary – EPBD (DEAL et al, 2010) cia (MIS, 0-10, quanto maior, mais importantes para os O EPBD é um questionário usado em meio eletrôni- pacientes) e percentuais de desempenho positivo (PPP: co que deve ser auto-respondido. É composto por oito 0-100) ou negativo (PNP; 0-100), os percentuais positi- domínios: dor intermitente acentuada; episódios de dor vos significam que as mulheres concordam com o cuida- intermitente; duração da dor intermitente; dor contínua do vigente e os percentuais negativos significam que as média; dor continua acentuada; duração da dor conti- mulheres discordam dos cuidados oferecidos pelos sis- nua e interferência da dor. Cada um destes domínios temas de saúde.(36) é analisado mediante um conjunto de questões, onde nove delas requerem que o respondente escolha “sim” Biberoglu and Berhman Scale - B e B (BIBEROGLU; ou “não” como a resposta selecionada, cinco questões BERHMAN, 1981) usam uma escala de 0-10 para descrever tanto a inten- A escala de Biberoglu and Berhman mensura a se- sidade da dor (0 = nenhuma dor e 10 = pior dor ima- veridade de três sintomas típicos da endometriose, dis- ginável) quanto o nível de interferência na vida cotidia- menorréia, dispareunia e dor pélvica, e dois sinais, sen- na causada pela dor da endometriose (0 =não interfe- sibilidade pélvica e endurecimento. Cada item é classifi- riu em tudo a 10 =interferiu completamente) e outras cado em uma escala de 0 a 3, sendo que quanto maior a três questões requerem que o respondente insira infor- pontuação mais graves são os sintomas.(37) Além disso, mações sobre a frequência ou a duração dos episódios ela avalia o avanço da doença por meio da análise do de dor. Assim este instrumento é composto por 14 ques- comprometimento do tecido pélvico em extensão e pro- tões objetivas e 3 questões subjetivas.(35) fundidade.(25) Endometriosis fertility index – EFI (ADAMSON; Endometriosis Health Profile- Short form - EHP-5 PASTA, 2010) (JONES et al, 2004) A EFI é uma ferramenta clínica simples, robusta e O EHP-5 foi construído para ser um questionário validade, pois consiste apenas em assinalar a opção mais curto que avalia o perfil de saúde da mulher com endo- Ter Man. 2013; 11(53):451-460 456 Propriedades psicométricas de questionários relacionados à endometriose. metriose. A razão para o desenvolvimento de uma me- tar o conhecimento da natureza com maior precisão do dida mais curta era a de obter vantagens em relação que a utilização da linguagem comum para descrever a ao tempo de pesquisa. Na prática clínica, a mensuração observação dos fenômenos naturais.(40) do estado de saúde é frequentemente limitada por ser Assim os instrumentos são avaliados quanto a di- um instrumento de difícil interpretação das informações, mensionalidade, que diz respeito à homogeneidade da além de ser muito longo para o respondente.(24) estrutura interna, e o construto, que relaciona-se com Na tabela 4 encontram-se os resultados dos cri- o objetivo do questionário e sua capacidade em medir a térios de avaliação das propriedades psicométricas dos variável proposta. Pasquali (2009) ressalta que ao anali- instrumentos incluídos. A análise da adaptação transcul- sar o conteúdo de um instrumento deve se observar sua tural segundo as Diretrizes do Processo de Adaptação clareza, simplicidade, precisão e objetividade.(40) O do- Transcultural(17) foi realizada com o questionário EHP-30, cumento deve ser claro e simples, facilitando a aplica- pois foi o único instrumento que passou pelo proces- ção e compreensão pelo respondente; deve ser objetivo so de tradução no contexto brasileiro. Tal avaliação re- e amplo, a fim de cobrir todo o assunto e relacionar as sultou em escores positivos nos processos de tradução, questões para evitar informações não fidedignas; e pre- síntese, análise por comitê de especialista e pré-teste. ciso para evitar dúvidas durante o preenchimento.(39,40) No entanto, este instrumento foi retrotraduzido por ape- Neste contexto, surgiram inúmeras escalas e questionários responsáveis por avaliar a qualidade de vida de nas um tradutor. tais indivíduos, por determinar o impacto social e laboral da doença, além de estabelecer um prognóstico que DISCUSSÃO Os questionários e escalas se mostram como exce- indique piora ou melhora do quadro clínico.(41,42) As do- lentes recursos na quantificação de sintomas subjetivos, enças crônicas são hoje um dos maiores incapacitantes permitindo aos profissionais conhecer e comparar qua- laborais, o que gera déficits nas contas não só do cida- dros clínicos semelhantes, a fim de estabelecer caracte- dão, quanto da empresa e até do Estado, que em gran- rísticas comuns que permitam analisar a eficácia do tra- de parte é responsável por custear os gastos com o pro- tamento atestado. (10,38) Com isso, este estudo se propôs verificar os instrumentos disponíveis em três bases de dados e validados que avaliem a endometriose. cesso reabilitador e curativo.(24,43) Ao analisar as propriedades psicométricas dos questionários avaliados nesta pesquisa, conforme O crescimento tecnológico facilitou a comunicação Terwee (2006), observou-se que os critérios de consis- mundial, permitindo que o conhecimento viajasse pelo tência interna, validade de conteúdo e validade de cons- mundo, porém as características de um local nem sem- truto, que se referem mais especificamente a criação pre são semelhantes, o que remete a necessidade de dos itens do questionário foram avaliados em pratica- criação de instrumentos válidos, fidedignos, padroniza- mente todos os instrumentos, no entanto as medições dos e normatizados que tenham a capacidade de avaliar que dizem respeito a facilidade de resposta e a impor- as variáveis independente da cultura local.(39) tância de tais itens, medidos pelos critérios reproduti- Para isso os instrumentos devem ser analisados bilidade, responsividade, interpretabilidade e efeitos de conforme os dados psicométricos. Etimologicamente, chão e teto foram bastante negligenciados durante o psicometria representa a teoria e a técnica de medida processo de validação.(17) dos processos mentais, ela se fundamenta na teoria da A presente revisão encontrou oito questionários va- medida em ciências em geral, o que permite represen- lidados que mensuram a dor (intensidade e localização) Tabela 4. Resultado dos critérios de avaliação das propriedades dos questionários relacionados à endometriose. Instrumento Validade de conteúdo Consistência interna Validade de critérios Validade de constructo Reprodutibilidade Concordância Confiabilidade Responsividade Efeitos de chão ou teto Interpretabilidade ENDOCARE + + + ? + + + 0 + EHP-30 + + ? + + + + + + EHP-5 + + + + 0 + + - 0 EFI + - 0 + + ? ? + + EPBD + + ? + - - + ? 0 “PAIN MAP” ? ? ? ? 0 ? + ? ? B e B scale 0 0 0 0 0 0 0 0 0 ETSQ + + ? + + + - 0 + Classificação: (+) escore positivo; (-) escore negativo; (?) escore inconclusivo; (0) ausente. Ter Man. 2013; 11(53):451-460 457 Tatiane Regina Sousa, Raquel Eleine Wolpe, Ariana Machado Toriy, Fabiana Flores Sperandio. (EHP-30, EHP-5, VPE, EPBD e BeB) a qualidade de vida de de vida, uma vez que muitos relatos de depressão (EHP-30 e EHP-5, EPBD, ETSQ), a função sexual (EHP- entre estas mulheres estão associados a infertilidade e 30, EHP-5, ECQ e BeB), a severidade dos sintomas (BeB, não a dor.(9) Com isso, Adamson e Pasta desenvolveram, EFI e EPBD) e a “satisfação” com o tratamento que está em 2010, o Endometriosis Fertility Index, que indica a sendo oferecido (ETSQ). No entanto, apesar da endome- possibilidade das mulheres com endometriose engravi- triose ter sido descoberta na década de 1920, seis dos darem. Este índice baseia-se em dados clínicos e diag- oito questionários foram elaborados no século XXI. Com nosticados via laparoscopia, sem, no entanto, estabele- isso, muitos são validados apenas na língua de origem, cer relação entre infertilidade e dor.(24,43) dificultando a utilização no meio científico.(42,44,45) Em 2012, Renner e colaboradores elaboraram o Vi- O Biberoglu and Berhman, desenvolvido em 1981, sual Pain Mapping in Endometriosis, com o intuito de re- foi construído pela necessidade dos autores em avaliar lacionar a localização da dor com a sua intensidade e a eficácia de um medicamento para o tratamento da en- com o restante dos sintomas. Todavia, por ser um ques- dometriose, responsável por avaliar a severidade dos tionário extremamente novo os dados estão em fase de sintomas pertinentes a esta doença pré e pós-tratamen- análise.(48) Até o momento, constatou-se que os estudos to (5, 35). Todavia, apesar de o mesmo ser referência que avaliam especificamente a dor na endometriose tem em muitos dos estudos(25,30,49,51) que discutem a endome- usado predominantemente o questionário genérico de triose ele não apresenta um processo de validação cla- McGill. Este é um instrumento com alta validade e pre- ramente estruturado, obtendo escore ausente em todos cisão. Enquanto o estudo de desenvolvimento do Visual os critérios de mensuração das propriedades psicomé- Pain Mapping in Endometriosis não fornece informações tricas. Da mesma forma não foi avaliado quanto ao pro- suficiente quanto aos processos de validação obtendo cesso de adaptação transcultural, pois apenas é valida- escore inconclusivo na análise psicométrica.(48) do no inglês americano, idioma original.(35) Tem-se observado que a avaliação da endometrio- O Endometriosis Health Profile-30 (EHP-30), pos- se com questionários por meio de relatos livres foi uti- sui maior aceitação e tem boa validade para mensurar a lizado no Pain Bleeding Diary e no Endometriosis Treat- qualidade de vida. Foi formulado com o intuito de ava- ment Satisfaction Questionnaire (ETSQ). Estes mensu- liar as dimensões de aspecto físico e emocional que mais ram qualidade de vida das mulheres em tratamento clí- interferem no cotidiano da mulher com endometriose e, nico e o conhecimento das mesmas sobre a evolução da até o momento, foi transcrito e validado em seis idio- doença.(35) Deal et al atesta ser esta uma nova tendên- mas (inglês, frânces, chinês, sueco, persa e português). cia mundial utilizada sobretudo pelas industrias farma- No entanto, durante esta pesquisa às bases de dados foi cêuticas a fim de diminuir os efeitos colaterais dos me- encontrado 73 artigos que utilizaram este questionário. dicamentos e tornar a vida o mais próxima possível de Por outro lado a qualidade de vida é avaliada predomi- fase pré-diagnóstica. nantemente pelo SF-36, por estar presente em 249 ar- Por fim, Dancetet al, desenvolveu o ENDOCARE a tigos.(24,25,46) Por ser uma doença que acomete diferen- fim de verificar a percepção das mulheres com endo- tes regiões nem sempre os sintomas são similares, en- metriose em diferentes etnias. O resultado do instru- quanto uns se baseiam em alterações sexuais e fertilida- mento observou, sobretudo, que o cuidado do serviço de outros referem alterações no sistema urinário ou di- de saúde europeu com tais pacientes não utiliza procedi- gestivo, o que faz com que os domínios que se mostram mentos padrões no tratamento da endometriose, o que diminuídos ou aumentados nos questionários de quali- demonstra a escassez em estudos que discutam as for- dade de vida sejam diferentes e nem sempre se relacio- mas mais eficientes de tratamento tanto clinica quanto nem entre si.(44,45) econômico.(35) Caso semelhante é observado na mensuração da Hoje se têm como padrão ouro no diagnóstico e dor, que é frequentemente avaliada, em grande parte tratamento da endometriose a laparoscopia, que apre- dos estudos, pela escala visual analógica. Tal fato pode senta alto custo e envolve uma demanda maior de re- ser justificado, uma vez que a EVA é uma escala de cursos em comparação com os tratamentos clínicos.(1,31) linguagem acessível e de simples interpretação à popu- Ao analisar a validação de idiomas de cada um dos lação em geral, mostrando bons indícios de correlação instrumentos nos deparamos com discrepância, que in- com a realidade. Adicionalmente, as escalas que avaliam dica que o EHP-30 foi adaptado e validado em seis idio- a dor na endometriose são muito recentes, e na maio- mas, inclusive o português (Brasil), ao passo em que ria das vezes, buscam relacionar a dor com o estadia- cinco dos instrumentos estão validados apenas na lín- mento das lesões, o que, até agora, não tem mostrado gua de origem, e os outros não contém mais do que dois correlação positiva.(47) idiomas de validação conforme indica a tabela 3. Este A dor na endometriose não está associada com a dado corrobora com o fato de que dos 73 artigos consi- gravidade ou com a extensão da lesão, porém a falta derados elegíveis 49 traziam como instrumento de me- dela não é um fator limitante para a queda da qualida- diada o EHP-30. Ter Man. 2013; 11(53):451-460 458 Propriedades psicométricas de questionários relacionados à endometriose. O objetivo da criação destes instrumentos foi ma- foram elaborados após o ano 2000, o que denota ser um joritariamente a preocupação com a qualidade de vida e indicativo para a falta de validações psicométricas e con- a evolução da dor, porém dados como a satisfação com o sequentemente o uso destes na prática clinica. Sendo tratamento e a possibilidade de gravidez também foram assim, sugere-se que os questionários revisados nesta analisados. Os questionários variam entre 6 (EFI) e 56 pesquisa passem por adequado processo de avaliação questões (ECQ) e as opções de resposta seguem predo- das suas propriedades de medidas, possibilitando assim, minantemente o padrão SIM ou NÃO, o que facilita o en- a utilização destes em novos estudos sobre endometrio- tendimento por parte do respondente.(12) se. Ressalta-se, ainda, a necessidade de adaptações transculturais para a língua portuguesa (Brasil) visto CONCLUSÃO A maioria dos questionários não tiveram suas propriedades de medida testadas corretamente. Sete deles que apenas um instrumento- o EHP-30- seguiu todas as etapas, o que dificulta a realização de pesquisas clínicas no cenário nacional. REFERÊNCIAS 1. Kennedy S, Bergqvist A, Chapron C, D’Hooghe T, Dunselman G, Greb R, et al. ESHRE guideline for the diagnosis and treatment of endometriosis. Hum Reprod. 2005;20(10):2698-704. Epub 2005/06/28. 2. Eskenazi B, Warner ML. Epidemiology of endometriosis. 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Nesse contexto, a ventilação não invasiva tem sido utilizada, muitas vezes de forma imprecisa. Objetivo: Verificar a melhor estratégia para o ajuste dos parâmetros ventilatórios não-invasivos por meio da modalidade Bi-nível, quer seja determinar valores numéricos fixos ou modulá-los conforme monitoração do volume corrente. Método: Pesquisa descritiva do tipo revisão de literatura, buscando verificar as formas de utilização do bi-nível no EAPC. Resultados: Foram selecionados 154 resumos, sendo elegíveis 15, dos quais cinco realizavam os ajustes pressóricos para garantir volume corrente de seis a oito ml/Kg, levando ainda em consideração padrão respiratório, conforto do paciente, expansibilidade torácica e acomodação à interface utilizada. Conclusão: Nossos dados sugerem que a melhor forma de ajustar os parâmetros ventilatório seja através da monitoração do volume corrente desejado, procurando ajustá-lo para relação de seis a oito ml/kg. Palavras-chave: edema agudo de pulmão cardiogênico, ventilação não-invasiva, Bi-nível, ventilação com pressão positiva intermitente. Abstract Introduction: The acute pulmonary edema of cardiogenic origin is an emergency clinic whose main feature was the accumulation of fluid in the interstitial and alveolar spaces of the lungs, causing changes in gas exchange being recommended the association of non-invasive ventilation with drug treatment to reverse the clinical. Objective: determine the best strategy for the adjustment of ventilatory parameters through non-invasive method of bi-level, numerical values to determine whether fixed or modulate them as monitoring of tidal volume. Method: a descriptive survey of research-based literature with a focus on literature review, looking for ways to verify the use of bi-level in the EAPC. Results: 154 abstracts were initially selected 15 being eligible for fulfilling the inclusion criteria. Of these articles, five pressure adjustments performed to ensure a rate of 6 to 8 ml / kg body-weight, even taking into account other parameters such as breathing pattern, patient comfort, chest expansion and accommodation to the interface used. In addition, 11 studies reported that fans were used, which denotes the relation between the therapist and the machine. Conclusion: Perhaps the best way to adjust the ventilatory parameters is by monitoring the desired tidal volume, trying to adjust it to the list of 6 to 8ml/kg seeking to verify other indications such as respiratory rate, cardiac rate, respiratory pattern and blood gas parameters, however, new clinical trials are needed to consolidate the results. Key-Words: acute pulmonary cardiogenic edema, noninvasive ventilation, Bilevel, Intermittent positive pressure ventilation. Recebido em: 04/07/2013; Aceito em: 10/09/2013 1. Residente em Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Onofre Lopes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal (RN), Brasil. 2. Professor Assistente do Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal (RN), Brasil. 3. Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal (RN), Brasil. Endereço para correspondência: Patrícia Angélica de Miranda Silva Nogueira - Rua Ataulfo Alves, nº 1904, Apto.1101 – Candelária – Natal – RN - CEP: 59064-570 Email: [email protected] / [email protected] Ter Man. 2013; 11(53):461-468 462 Ventilação não-invasiva e edema agudo de pulmão. INTRODUÇÃO foi realizada retrospectivamente até o ano de 1997, pe- Para o tratamento farmacológico do Edema Agudo ríodo de surgimento da VNI com dois níveis de pressão. de Pulmão Cardiogênico (EAPC) é utilizado diversos me- As palavras-chave para a busca foram previamen- dicamentos, tais como diuréticos e vasodilatadores,(2) te determinadas através dos descritores utilizados nas os quais podem estar associados a oxigenoterapia.(1,3) revisões sistemáticas publicadas recentemente e que Dessa forma, novas metodologias sugerem associar abordavam o tema proposto. Após essa análise pré- ao tratamento farmacológico à ventilação não-invasiva via, foi realizada uma pesquisa na base de descritores (VNI), ajudando assim na reversão do quadro clínico. do Mesh e Decs a fim de determinar quais seriam cru- A eficácia do uso da VNI associado ao tratamen- zados e correlacionados segundo o descritor boleriano to medicamentoso convencional na resolução do EAPC AND para restringir os dados e manter a relação com os Dessa forma, dentre as principais objetivos da pesquisa. Assim, conforme os critérios do já está comprovado. (4) modalidades ventilatórias da VNI, o Bi-nível é uma das Mesh e Decs, determinou-se os seguintes descritores: mais utilizadas e caracteriza-se pela presença de pres- edema agudo de pulmão cardiogênico (acute pulmonary são positiva na inspiração ou Inspiratory Positive Airway cardiogenic edema), ventilação não-invasiva (noninva- Pressure (IPAP) e na expiração, conhecido também por sive ventilation), Bi-nível (Bilevel), ventilação com pres- pressão positiva no final da expiração ou Expiratory Po- são positiva intermitente (Intermittent positive pressu- sitive Airway Pressure (EPAP).(5) Esta modalidade reduz re ventilation), sendo utilizado artigos escritos em por- os índices de mortalidade, bem como o risco de intuba- tuguês, inglês e espanhol. ção nos pacientes com EAPC,(6) além de reduzir o trabalho respiratório mais rapidamente, quando comparado a Seleção dos estudos outros métodos de suporte ventilatório.(2,7) Os artigos pré-selecionados estavam de acordo No entanto, ainda há divergências acerca dos parâ- com os seguintes critérios de inclusão: (i) estudos con- metros a serem utilizados no tratamento do EAPC, bem trolados e/ou randomizados; (ii) estudos relacionados como a melhor forma de ajustá-los. Diversos estudos ao uso de bi-nível como uma das terapias propostas no sugerem a utilização de valores fixos de pressões,(2,8) EAPC; e (iii) publicados e disponíveis no formato on-line outros ajustam esses valores conforme a monitorização até agosto/2011. Além disso, os estudos foram analisa- do volume corrente realizado(9,10,11,12,13) e ainda há aque- dos criticamente e submetidos à Escala PEDro com a fi- les que ajustam conforme dados subjetivos como con- nalidade de verificar a qualidade metodológica dos arti- forto e adaptação à interface, padrão respiratório e sa- gos selecionados. turação periférica de oxigênio(7,14,15). A Escala PEDro foi desenvolvida pelo Centre for Evi- Nesse contexto, o objetivo do presente estudo é dence-Based Physiotherapy, um banco de dados de fi- verificar a melhor estratégia para o ajuste dos parâme- sioterapia, para avaliar e quantificar a qualidade de es- tros ventilatórios ao se utilizar a VNI por meio da mo- tudos controlados e randomizados16, adotando para isso dalidade Bi-nível, quer seja determinar valores numéri- os critérios metodológicos estabelecidos na lista de Del- cos fixos ou modulá-los conforme monitoração do volu- phi que também avalia a qualidade metodológica de es- me corrente, o qual é costumeiramente realizado de seis tudos controlados.(16) Assim, a escala PEDro adota os 9 itens da lista Del- a oito mililitros por quilograma (ml/kg) de peso corporal. e adicionou mais dois critérios, totalizando 11, a Assim, os terapeutas respiratórios, em especial o fisio- phi terapeuta e a equipe multiprofissional em saúde teriam saber: 1) especificação dos critérios de inclusão (item mais segurança na aplicação terapêutica conferindo su- não pontuado); 2) alocação aleatória; 3) sigilo na aloca- cesso ao tratamento. ção; 4) similaridade dos grupos na fase inicial ou basal; (16) 5) mascaramento dos sujeitos; 6) mascaramento do teMATERIAIS E MÉTODOS rapeuta; 7) mascaramento do avaliador; 8) medida de A pesquisa realizada foi do tipo descritiva baseada pelo menos um desfecho primário em 85% dos sujeitos em pesquisa bibliográfica com foco em revisão sistemá- alocados; 9) análise da intenção de tratar; 10) compara- tica da literatura, buscando verificar as formas de utili- ção entre grupos de pelo menos um desfecho primário; zação do bi-nível no EAPC. O processo de revisão da li- e 11) relato de medidas de variabilidade e estimativa teratura segue descrito. dos parâmetros de pelo menos uma variável primária.(17) Estratégias de busca: escore total, estabelecido a partir do julgamento con- Essa escala foi aplicada porque a confiabilidade do A pesquisa de artigos foi realizada através da Biblio- sensual, é aceitável e demonstra adequada segurança teca Virtual em Saúde (BVS) pelo site www.bireme.br, para o uso em revisões sistemáticas ou estudos rando- cujas fontes são as bases de dados eletrônicas LILACS, mizados e controlados em Fisioterapia.(18) MEDLINE, Biblioteca Cochrane, SciELO, bem como nas Dessa forma, foram considerados artigos de mode- bases de dados SCOPUS e PUBMED. A consulta de artigos rada à alta qualidade metodológica aqueles que apre- Ter Man. 2013; 11(53):461-468 463 Francisco A. V. L. Júnior, Lívia M. M. Ferreira, Ivan D. B. Nogueira, Patrícia A. M. S. Nogueira. sentaram pelo menos 50% dos critérios da escala PEDro, Descrição geral dos estudos incluídos ou seja, nota maior ou igual a cinco.(16) Foram selecionados apenas artigos que contemplavam estudos randomizados que poderiam comparar as di- RESULTADOS versas modalidades de suporte ventilatório no tratamen- Cruzando os descritores nas bases de dados, foram to do edema agudo de pulmão, a saber: oxigenoterapia e localizados 154 artigos, sendo 38 na base Pubmed, 22 ventilação não-invasiva, seja na modalidade com pressão na Scopus e 94 na BVS. Segundo a análise dos resumos contínua ou sob dois níveis de pressão. No entanto, foi co- e objetivos da pesquisa, foram selecionados 15 artigos letado para análise somente os dados referentes ao su- em sua totalidade que satisfaziam os critérios de inclu- porte ventilatório com dois níveis pressóricos (Tabela 02). são e, segundo a apreciação da qualidade metodológica da escala PEDro, receberam pontuação maior que cinco Variáveis analisadas (Tabela 01). Os demais foram excluídos por serem os artigos de Pressões utilizadas revisão ou artigos em duplicata referenciados em mais Todos os artigos analisados descreviam as pressões de uma base de dados ou que não satisfizeram os de- inspiratórias e expiratórias utilizadas, sendo que ape- mais critérios. nas oito artigos mencionaram os valores médios utilizados no tratamento dos sujeitos submetidos à ventilação 1) Especificação dos critérios de inclusão (item não não-invasiva com bi-nível. pontuado); Nesse contexto, as pressões médias de IPAP varia- 2) Alocação aleatória; vam de 12 a 17cmH2O e EPAP de 5 a 11cmH2O. Convém 3) Sigilo na alocação; ressaltar que dois estudos trabalhavam o ajuste pressó- 4) Similaridade dos grupos na fase inicial; rico seguindo números fixos,(2,8) sendo IPAP=15cmH2O 5) Mascaramento dos sujeitos; e EPAP=5cmH2O, sem qualquer alteração nos valores 6) Mascaramento do terapeuta; ajustados, cinco revelaram que alteravam os valores de 7) Mascaramento do avaliador; IPAP observando conforto do paciente, acomodação e 8) Medida de pelo menos um desfecho primário em adaptação da interface, assim como análise da frequência respiratória e expansibilidade; e cinco estudos deci- 85% dos sujeitos alocados; 9) Análise da intenção de tratar; diram ajustar os valores baseando-se na análise do vo- 10) Comparação entre grupos de pelo menos um lume corrente, adequando-o para a relação de 6 a 8ml/ Kg de peso corporal. desfecho primário Os demais estudos(6,19) ajustaram seus valores 11) Relato de medidas de variabilidade e estimativa pressóricos para determinar um volume corrente pré- dos parâmetros de pelo menos uma variável primária. Tabela 1. Análise metodológica dos artigos incluídos na revisão. Critérios da qualidade metodológica Autor (ano) Escore total 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Mehta et al (1997)10 Sim + + + + - + + + + + 9 Masip et al (2000) Sim + + + + - - + + + + 8 Levitt (2001)24 Sim + + + + - - + + + + 8 8 Park et al (2001) Sim - - + + - - + + + + 6 Cross et al (2003)22 Sim + + + + - - + + + + 8 Sim + + + + - - + + + + 8 Bellone et al (2004) Sim + + + + - - + + + + 8 Crane et al (2004)23 Sim + + + + - - + + + + 8 Park et al (2004) Sim + + + + - - + + + + 8 Bellone et al (2005)11 Sim + + + + - - + + + + 8 Ferrari et al (2007) 16 Nava et al (2003) 25 21 17 Sim + + + + - - + + + + 8 Moritz et al (2007)13 Sim - + + + - - + + + + 7 Gray et al (2008) Sim + - + + - - + + + + 7 Ferrari et al (2009)14 Sim + + + + - - + + + + 8 Nouira et al (2011)15 Sim + + + + - - + + + + 8 12 9 + = presente; - = ausente Ter Man. 2013; 11(53):461-468 Metodologia usada Oxigênio x CPAP x Binível Oxigênio x CPAP x Binível Oxigênio x CPAP x Binível Bi-nível x CPAP Bi-nível x CPAP Bi-nível x CPAP Oxigênio x CPAP x Binível Estudo (Ano) Park et al (2001) Crane et al (2004) Ter Man. 2013; 11(53):461-468 Park et al (2004) Bellone et al (2005) Moritz et al (2007) Ferrari et al (2007) Gray et al (2008) Grupo Controle + Randomizado Randomizado Randomizado Randomizado Grupo controle + Randomizado Grupo controle + Randomizado Randomizado Desenho do Estudo 356 25 50 18 27 20 7 Amostra Binivel (n) 77±10 anos 43% homens 57% mulheres 74,2±9,7 anos 13 homens 12 mulheres 77,7±9,7 anos 29 homens 21 mulheres 76,8±6,6 anos 6 homens 12 mulheres 66 ± 14 anos 11 homens 16 mulheres 75,1 ±10,5 anos 38,3% homens 61,7% mulheres 69 ±7 anos 2 homens 5 mulheres Característica da amostra (idade, homem/ mulher) Tabela 02. Características dos estudos incluídos na revisão sistemática. 3h contínuas iniciais, sendo parado em caso de melhora clínica 205±68’ Não descreve LTV 1000 Pulmonetics Systems IPAP ajustado para manter Vt/ EPAP=5 IPAP=12±3,2 EPAP=4,9±0,9 IPAP ajustado para manter Vt/ EPAP=5 aumentando para 12 para manter SpO2>96% IPAP=15±3,1 EPAP=7±1,2 Não descreve VELA Viasys, CA 15/5 Ajustado IPAP para manter próximo de Vt=400ml 8/4 IPAP=14±5 EPAP=7±3 BIPAP Vision System® Respironics® Avaliação em 30 e 60 minutos para retirada do suporte Tempo mínimo de 2h contínuas, sendo avaliado após 1h. 2±1,3h Sim. Ajustado IPAP segundo relação de 6 a 8ml/Kg Não. Foi observado a melhora clínica Aumentando IPAP a cada 4 cmH2O até 20cmH2O e aumentando EPAP até 10cmH2O. Enfermeiros e responsáveis locais do fabricante dos ventiladores Sim. Ajustado IPAP segundo relação de 6 a 8ml/Kg Não descreve Não descreve Não descreve Não descreve Tempo médio de utilização de 3h Máscara facial Não definido. Observada melhora clínica. Tempo médio de 124’±62 Não descreve. Analisa o conforto do paciente e freqüência respiratória. Aumenta o IPAP e EPAP a cada 2cmH2O Médicos e Enfermeiros responsáveis pelo departamento de emergência VPAP II Resmed Abingdon, UK Sim. Ajustado IPAP segundo relação de 6 a 8ml/Kg Máscara facial 2h de uso continuo Não descreve Não descreve BIPAP ST/D® Respironics® Máscara full face Máscara facial Máscara full face Máscara full face Máscara Nasal Não definido precisamente. Observada melhora clínica. Tempo médio de 155’±38 Não descreve. Aumenta o IPAP em 2cmH2O se desconforto a cada 5 min e EPAP de 2cmH2O juntamente com o IPAP Interface utilizada Frequência/ Tempo de uso da VNI Volume corrente (monitorado?) Parâmetros de ajuste Supervisão (Fisio/Med/ Enfer) Aparelho 15/10 IPAP=17±2 EPAP=11±2 15/5 8/3 Pressões utilizadas (IPAP/EPAP) 8 7 Terapia coadjuvante a terapia medicamentosa. Melhora a dispneia, anormalidades metabólicas e a oxigenação dos tecidos. Reduz a necessidade de IOT. 7 Sem correlação entre IAM e bi-nível. Houve melhoras significativas no índice de oxigenação, f e FC, pH e SpO2 após 1h de terapia. Não apresentou correlação entre IAM e bi-nível. Melhoras gasométricas, pH, f e FC foram observadas após 1h de terapia. 8 8 É coadjuvante no tratamento medicamentoso. Melhora no EAP com IRpA hipercapnica. Não há correlação com IAM. Observado melhoras gasométricas, diminuição da FC, f e melhora índice de oxigenação com redução da necessidade de IOT. Auxilia no EAP com IRpA hipercapnica. Melhora significativa do pH, PaCO2, f e FC 1h após iniciar a terapia. 8 6 É coadjuvante ao tratamento medicamentoso no EAP. Observado melhora clínica, gasométrica e reduz a necessidade de IOT. Não correlaciona bi-nível com IAM. Rápida melhora da f e melhora da oxigenação em até 2 horas de terapia. Não houve correlação entre a utilização do bi-nível e IAM. Escore PEDro Resultados atingidos 464 Ventilação não-invasiva e edema agudo de pulmão. Bi-nível x Oxigenio Bi-nível x CPAP Levitt (2001) Cross et al (2003) Randomizado Randomizado 24 65 35 21 Grupo controle + Randomizado Randomizado 19 14 97 40 Grupo controle + Randomizado Grupo controle + Randomizado Randomizado Randomizado 77,3 ± 7,3 anos 10 homens 14 mulheres Não descreve 75 ± 10 anos 67.4 ± 15 anos 47,6 % homens 52,4% mulheres 75,3 ± 11 anos 8 homens 11 mulheres 76 ±7anos 6 homens 8 mulheres 69±11anos 46% homens 54% mulheres 76,55±9,48 anos 15/5 10/5cmH2O IPAP=14,5±21,1 EPAP= 6,1 ±3,2 IPAP=10cmH2O EPAP=5cmH2O IPAP=8cmH2O EPAP=3cmH2O Avaliados a cada 30 e 60 min. 133 minutos de utilização Não descreve. Aumentada o IPAP a cada 5cmH2O, chegando até 25cmH2O com EPAP fixo Não descreve Terapeuta respiratório e enfermeiros Não descreve Não descreve PV 102; Breas Medical, Molnlycke, Sweden VELA Viasys, CA Pessoas treinadas Máscara Full face Máscara facial Avaliados em 30min até 3h. Tempo médio de 11,4 ±3,6h Duração de 2h, podendo ser interrompido por melhora. Tempo aplicação 98 ± 39 min Não descreve Não descreve. Ajustado IPAP para manter próximo de Vt>400ml Máscara nasal Promoveu uma melhora significativa na f, FC, dispneia, PaCO2 e pH em 30 minutos de terapia. Não há evidências que bi-nível aumenta o índice de IAM. Máscara facial ou nasal dependendo da adaptação Avaliados em 30, 60 e 120 min Não descreve. O IPAP poderia ser ajustado a cada 2cmH2O, sempre mantendo um suporte de 5cmH2O Não descreve Tem grande efeito no EAP com IRpA hipercapnica. Melhora rápida da f e hipoxemia. Máscara facial Protocolo de 4h iniciais. Avaliados em 2h, 3h, 4h e 10h. Tempo médio de 250±90 min Médicos e enfermeiros treinados Sim. Porém não trabalha relação de 6 a 8 ml/kg Puritan Bennett 7200, CA, USA IPAP ajustado para manter Vt 400ml/ EPAP=5 IPAP=15,2±2,4 EPAP= 5 Não descreve 8 8 Não aumenta o risco de IAM. Produz significas melhoras na FC, f, pH e PaCO2 após 1h de terapia e ainda reduz a necessidade de IOT. Bi-nível não se correlaciona com IAM. Melhora da PaCO2, pH, FC e f em até 1h após terapia. Diminui a necessidade de IOT. 8 Melhora clínica rápida e diminuição da necessidade de IOT. 8 8 9 Avaliados em 30min, 1h, 3h e 6h Terapeuta Respiratório BIPAP ST/D® Respironics® IPAP=15cmH2O EPAP=5cmH2O Interrompeu o estudo pelo numero de IAM. Porém observou melhora na IRpA hipercapnica e no EAP reduz: FC, f, e dispneia se comparados com outras modalidades de VNI, sendo mais tolerado e reduzindo a necessidade de IOT. Máscara nasal podendo ser trocada por facial (não tolerância e não adaptação) Avaliado a cada 2, 4 e 6h de uso terapêutico, usando por 6h contínuas. 8 Sim. Ajustado IPAP segundo relação de 6 a 8ml/Kg Máscara facial Não descreve Melhora rápida da IRpA hipercapnica. Apresentou melhor tempo de resolução do EAP quando comparado com outras técnicas de VNI. Houve melhora no índice de oxigenação, FC e f. Raphael Silver, Hamilton Medical AG, Switzerland IPAP ajustado para manter Vt/ EPAP=5 IPAP=13.5±3.6 EPAP= 5.1 ± 1.2 Máscara facial 8 Avaliado após 1h e 4h seguidas, quando finalizada o tratamento, até estabilização do quadro Houve significativa melhora da PaCO2 após 1h de terapia. Diminui a necessidade de IOT. Não descreve Sim. Ajustado IPAP segundo relação de 6 a 8ml/Kg Legenda: f - Frequência respiratória; FC – Frequência cardíaca; VNI – Ventilação Não-Invasiva; pH – Potencial hidrogeniônico; IOT – Intubação Orotraqueal; PaCO2 – Pressão parcial de gás carbônico arterial; IAM – Infarto Agudo do Miocárdio; Vt – Volume corrente; IPAP- Pressão Positiva Inspiratória; EPAP - Pressão positiva expiratória; SpO2 – Saturação periférica de oxigênio. Bi-nível x CPAP Bi-nível x Oxigenio Masip et al (2000) Bellone et al (2004) Bi-nível x CPAP Mehta et al (1997) Bi-nível x Oxigenio CPAP x Binível Nouira et al (2011) Nava et al (2003) CPAP x Binível Ferrari et al (2009) LTV 1000, Pulmonetics System, Minneapolis, MN; Puritan Bennett 740 Tyco, Healthcare, Gosport, UK; Siemens 300, Siemens AG, Munich, Germany IPAP=10cmH2O acima do EPAP e aumentado 2cmH2O para manter Vt EPAP=5 aumentando 2 a 3cmH2O para manter SpO2>96% IPAP=14,75±3,11 EPAP=6,75±1,44 Francisco A. V. L. Júnior, Lívia M. M. Ferreira, Ivan D. B. Nogueira, Patrícia A. M. S. Nogueira. 465 Ter Man. 2013; 11(53):461-468 466 Ventilação não-invasiva e edema agudo de pulmão. -determinado próximo de 400ml, porém sem correla- arterial sistêmica).(25) No entanto, o controle pressóri- cionar com a relação matemática volume-peso corporal. co baseado no volume corrente ajuda o paciente diminuindo a frequência respiratória e aumentando a venti- Descrição do ventilador utilizado e monitoração do volume corrente lação alveolar.(10) Convém ressaltar que os estudos, em sua maio- A maioria dos estudos (n=11) descreveu, além da ria, não utilizavam ventiladores que proporcionassem a técnica de ventilação utilizada, o aparelho disponibiliza- monitoração do volume corrente realizado pelo pacien- do para o tratamento. Tal fato merece destaque porque te, o que configura uma limitação atrelada ao aumen- alguns aparelhos não conferem ao terapeuta a possibi- to no custo da terapia. Ainda assim, os estudos(13,19) que lidade de estimar e monitorizar o volume corrente rea- controlavam o volume corrente revelaram uma melho- lizado pelo paciente, fato observado em nove estudos ra significativa do paciente no que tange a adaptação à que não monitorizaram o volume corrente (tabela 02). interface utilizada, configurando um fator de sucesso a ser considerado na terapia, apresentando melhora rápi- Interface utilizada da nas primeiras horas de aplicação da VNI. Segundo a análise dos artigos, a maioria dos estu- Outro fator que merece destaque é o profissional dos (n=7) optaram por iniciar a terapia com máscara fa- que aplica a terapia e a escolha da interface. Grande cial, seguidos por “full face” (n=4) e nasal (n=2). Em al- parte do sucesso terapêutico da VNI com bi-nível está guns estudos (n=2), estava descrito que a máscara po- no conhecimento daquele sobre a terapia e o manuseio deria ser substituída por outra caso não houvesse adap- com o aparelho de tal forma que proporcione o melhor tação do dispositivo. ajuste e adaptação à interface.(26) Além disso, o desconforto pode ser por sensações não reveladas pelo venti- Terapeuta responsável Apenas seis estudos(6,7,8,19,20,21) revelaram que desti- lador, necessitando a análise do terapeuta, indicando a necessidade de ajustes ventilatórios.(26) naram terapeutas específicos para a aplicação da tera- As máscaras nasais acabam sendo, em alguns pia, variando entre médicos, enfermeiros ou terapeutas casos, mais toleradas uma vez que, teoricamente, pro- treinados para esse fim. Os demais estudos não revela- vocam menos sensação de claustrofobia, permite a eli- ram o profissional(22,23) que aplicou a técnica, sem rela- minação de secreção, diminuem o espaço morto e ainda tar qualquer destaque referente a importância deste du- permite o paciente falar.(4) Porém apenas três(8,14,25) es- rante o tratamento. tudos utilizam a máscara nasal como primeira escolha, demonstrando a necessidade de parâmetros mais acu- Sucesso da terapia ventilatória não-invasiva Já está consolidado na literatura o sucesso da VNI rados para se verificar a melhor interface a ser utilizada, principalmente em situações de urgência clínica. no edema agudo de pulmão, associado ao tratamento Um dos fatores de falha na VNI corresponde à má medicamentoso(7,14,15), sendo classificado com “Grau de adaptação e rejeição do paciente por desconforto, o Recomendação B” no tratamento do EAP.(24) que pode ser minimizado pela experiência do profissional que aplica a técnica. Esse fato deve ser considerado DISCUSSÃO para os próximos estudos, uma vez que a análise dos ar- As práticas terapêuticas baseadas em evidên- tigos revelou apenas seis estudos preocupados em des- cias tem se tornado uma rotina nos serviços de saúde, crever o terapeuta responsável, sem, no entanto, fazer sempre buscando vincular o conhecimento científico às qualquer relação entre o terapeuta que aplica a técnica ações desenvolvidas no dia-a-dia hospitalar. e o sucesso e aceitação da terapia. Nosso estudo analisou a prática de aplicação da VNI no EAP com dois níveis de pressão, buscando deter- CONCLUSÃO minar qual a melhor forma de controlar os níveis pressó- Nossos resultados sugerem que monitorizar o vo- ricos, quer seja através de números fixos ou com ajuste lume corrente para controle dos parâmetros ventilató- baseado na monitoração do volume corrente adequan- rios mantendo uma relação de 6 a 8ml/kg de peso cor- do-o para a relação de 6 a 8 ml/Kg. poral trás benefícios rápidos e significativos na reversão Os achados revelam que não há um consenso sobre do EAP na primeira hora de aplicação, fato não observa- tal fato e que um dos parâmetros importantes diz res- do nos estudos que utilizavam valores pressóricos fixos. peito à observação clínica do paciente, quer seja confor- Além disso, indicativos que fujam dessa relação vo- to, padrão ventilatório e frequência respiratória, assim lume-peso corporal pode ser um fator preditor de falha como adaptação à interface utilizada, além dos marca- terapêutica, devendo ser considerada a necessidade de dores hemodinâmicos (frequência cardíaca e pressão ventilação invasiva ou ajuste medicamentoso. Ter Man. 2013; 11(53):461-468 467 Francisco A. V. L. Júnior, Lívia M. M. Ferreira, Ivan D. B. Nogueira, Patrícia A. M. S. Nogueira. REFERÊNCIAS 1. Bellone A, Barbieri A, Bursi F, Vettorello M. Management of Acute Pulmonary Edema in the Emergency Department. Current Heart Failure Reports. 2006; 3: 129–135. 2. Collins SP, Mielniczuk LM, Whittingham HA, Boseley ME, Schramm DR, Storrow AB. The use of noninvasive ventilation in emergency department patients with acute cardiogenic pulmonary edema: a systematic review. Ann Emerg Med. 2006; 48(3): 260-269. 3. Park M, Lorenzi-Filho G. Noninvasive Mechanical Ventilation in the Treatment of Acute Cardiogenic Pulmonary 4. Agarwal R, Aggarwal AN, Gupta D, Jindal SK. Non-invasive ventilation in acute cardiogenic pulmonary oedema. Edema. Clinics. 2006; 61(3): 247-252. Postgrad Med J. 2005; 81:637–643. 5. Masip J. Ventilación no invasiva en el edema agudo de pulmón. Hipertensión. 2008; 25(1):16-22. 6. 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Ter Man. 2013; 11(53):461-468 INSTRUÇÕES AOS AUTORES Revista Terapia Manual - Posturologia ISSN 1677-5937 / ISSNe 22365435 é um periódico Open Access especializado que utiliza o sistema peer review (revisão externa cega por pares). É publicado trimestralmente, divulgando contribuições científicas originais nacionais e internacionais sobre temas relevantes para a área da terapia manual, fisioterapia, posturologia, ciências da saúde e reabilitação. As publicações podem ser artigos originais, revisões, atualizações, comunicações breves, relatos de caso e cartas ao editor. APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS Esta revista segue as normas propostas pelo International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), disponível em www.icmje.org e cuja tradução encontra-se disponível integralmente em Ter Man 2009;7(33):323-344. Os artigos poderão ser submetidos em português, inglês, espanhol, italiano ou francês. Os manuscritos deverão ser encaminhados via eletrônica, no formato Microsoft Word®, obrigatoriamente através do e-mail editorial@ revistaterapiamanual.com.br ou do site http://www.revistatm.com.br Com o intuito de facilitar o processo de revisão, o texto deverá ser digitado na fonte Verdana, tamanho 10, espaço duplo em todas as partes do manuscrito, alinhamento justificado, mantendo as margens esquerda e superior de 3cm; direita e inferior de 2cm e numeração no canto superior direito desde a primeira página. O manuscrito deve ser estruturado na seguinte ordem, cada item em uma página: 1. Página de título: Deve conter as seguintes informações, consecutivamente, em uma mesma página: 1.a. Título do artigo em português, máximo de 120 caracteres com espaço, sua versão em inglês (em itálico) e uma versão abreviada com até 40 caracteres (running head) a ser descrito na legenda das páginas impressas do manuscrito. Somente a primeira letra da sentença deve estar com letra maiúscula, com exceção de siglas ou nomes próprios. 1.b. Nome do departamento e/ou instituição a qual o trabalho deve ser atribuído. 1.c. Nome completo e por extenso dos autores, consecutivamente e separados por vírgulas, com números arábicos sobrescritos e entre parênteses. 1.d. Legenda para os autores, contendo apenas a titulação máxima e as instituições as quais cada autor é afiliado – por extenso, seguido da sigla, cidade, estado e país (exemplo: 1 discente e bolsista de iniciação científica do CNPq, Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo (SP), Brasil); MSc ou PhD, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil. 1.e. Endereço completo do autor correspondente, contendo nome, endereço, números de fax, telefone e endereço eletrônico, a ser publicado caso o manuscrito seja aceito. 1.f. Declaração de conflito de interesses e/ou fontes de suporte. (modelo disponível em: www.revistatm.com.br). É de responsabilidade do autor correspondente manter contato com todos os outros autores para atualizá-los sobre o processo de submissão e para intercambiar possíveis solicitações como, por exemplo, envio e recebimento de docu- mentos, entre outros. 2. Resumo: Deve apresentar o contexto do trabalho, contendo uma breve introdução, os objetivos, os procedimentos básicos, principais resultados e conclusão, sendo estruturado da seguinte forma: Introdução / Objetivo / Método / Resultados / Conclusão, num mesmo parágrafo contendo entre 250 e 300 palavras. As palavras-chave em português devem ser baseadas no DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), publicados pela BIREME e disponíveis em http://decs.bvs.br. Abstract: Deve ser estruturado com o mesmo conteúdo da versão em português: Introduction / Objective / Methods / Results / Conclusion. As palavras-chave em inglês (keywords) devem ser baseadas no MeSH (Medical Subject Headings) do Index Medicus, disponível em http://www. nlm.nih.gov/mesh/mbrowser.html. 3. Manuscrito: Os artigos originais deverão conter as seguintes sessões: Introdução, Materiais e Métodos, Resultados, Discussão e Conclusões. Introdução: Conter somente a natureza do problema e a sua significância clínica, hipóteses se houver e finalizar com os objetivos da pesquisa. Método: Deve conter somente as informações sobre o protocolo utilizado, seleção e descrição dos participantes, informações técnicas e estatísticas. Toda pesquisa relacionada a seres humanos deve mencionar o número do protocolo de aprovação por um Comitê de Ética em Pesquisa, segundo as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo Seres Humanos, constantes da Resolução do Conselho Nacional de Saúde 196/96 e Declaração de Helsinky de 1975, revisada em 2000. Para os experimentos realizados com animais, mencionar o número do protocolo de aceite, considerando as diretrizes internacionais Pain, publicadas em: PAIN, 16:109-110, 1983 e a Lei nº 11.794, de 08/10/2008, da Constituição Federal Brasileira, que estabelece procedimentos para o uso científico de animais e cria o Conselho Nacional de Controle e Experimentação Animal (CONCEA) e as Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs). Resultados: Devem ser apresentados numa sequência lógica, com números referentes às tabelas/figuras em ordem de citação no texto, entre parênteses e em números arábicos. Limitar o número de tabelas e/ou figuras a 5 (cinco). Discussão: Deve enfatizar os aspectos mais novos e importantes do estudo, comparando-o a estudos prévios e explorando novas hipóteses para pesquisas futuras. Ao longo do texto, evitar a menção a nomes de autores, dando sempre preferência às citações numéricas. Conclusão: Apresentar de forma sucinta apenas as conclusões baseadas nos achados da pesquisa. Referências: É preconizada a citação de 20 a 30 referências, sendo somente artigos originais atualizados, evitando utilizar teses e monografias, trabalhos não publicados ou comunicação pessoal como referência. No texto, devem estar sobrescritas, entre parênteses e em números arábicos, aparecendo depois da pontuação. Nas referências, devem ser numeradas consecutivamente conforme são mencionadas no texto. Os títulos dos perió- dicos devem estar abreviados de acordo com o redigido no documento do ICMJE (citado acima). Exemplo de citação: “(...) o que explicaria a maior incidência de DPOC entre os homens.(19,23,30)” “(...) pelos efeitos da gravidade.(2-4)” Exemplo de formatação: Liposcki DB, Neto FR. Prevalência de artrose, quedas e a relação com o equilíbrio dos idosos. Ter Man. 2008;6(26):235-8. Agradecimentos: Colocar apenas as contribuições consideráveis, colaboradores, agências de fomento e serviços técnicos. É responsabilidade do(s) autor(es) possuir(em) a autorização das instituições ou pessoas para citação nos agradecimentos. Anexos: As tabelas e figuras devem estar no mesmo documento, mas separadas da redação, cada uma em uma página, seguindo as respectivas chamadas no texto, contendo um breve título escrito com fonte menor (8), em espaço duplo – no caso das tabelas, o título deve aparecer acima da tabela, no caso das figuras, o título deve aparecer abaixo. Gráficos e ilustrações devem ser chamados de figuras. Em relação às tabelas, não utilizar linhas horizontais e verticais internas; em relação às ilustrações, devem estar em formato JPEG, com alta qualidade e, se houver pessoas, estas não devem ser identificadas. Além disso, todas as abreviaturas e siglas empregadas nas figuras e tabelas devem ser definidas por extenso em nota abaixo das mesmas. Todas as figuras, tabelas e gráficos devem ser enviados em preto e branco. A não observância das instruções editoriais implicará na devolução do manuscrito pelo Editorial da revista para que os autores façam as correções pertinentes antes de submetê-lo aos revisores. A revista reserva o direito de efetuar adaptações gramaticais e de estilo. Os manuscritos encaminhados à revista Terapia Manual Posturologia que atenderem às normas para publicação de artigos serão enviados a dois revisores científicos de reconhecida competência na temática abordada, os quais julgarão de forma cega o valor científico da contribuição. O anonimato ocorre durante todo o processo de julgamento (peer review). Os artigos que não apresentarem mérito científico, que tenham erros significativos de metodologia e que não coadunem com a política editorial da revista serão rejeitados diretamente pelo conselho editorial, não cabendo recurso. 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