O SIGNIFICADO DA CRUZ - 1 Coríntios 1:17-25; 2:1-5 Queridos, todos nós sabemos que a cruz, o instrumento de morte mais cruel utilizado pelo império romano passou a ser usado de forma banal pelos cristãos, como um simples amuleto contra o mal. Esta é uma realidade tão presente no nosso dia-a-dia que não estranhamos a cruz em repartições públicas, nas sepulturas, no pescoço das pessoas, mesmo sabendo que, em cada contexto, a cruz está longe do seu real significado. E nós? O que sabemos sobre a cruz? Como pudemos ver nos textos lidos, a cruz era a base da pregação de Paulo, mesmo sabendo que a palavra da cruz era loucura. Era e ainda é! Quem poderia ou pode conceber um Messias que foi morto numa cruz? Como pode um condenado à cruz ser o Salvador, o Filho de Deus, o Messias prometido? Pois esta foi a pregação de Paulo que converteu os Coríntios, como ele agora está lembrando a eles. De fato, a mensagem da cruz é um insulto à inteligência humana, porque é impossível para a mente natural conciliar a crueldade de uma crucificação, especialmente quando se considera que, em tese, o crucificado merece aquela pena, com a graça salvadora inerente àquele ato de extrema crueldade. Isso é um absurdo para a sabedoria humana. É por isso que Paulo diz que a palavra da cruz é loucura. O natural, como Paulo lembra aos coríntios, era que os judeus pedissem sinais, como foram vistos no tempo dos profetas. Isso sim era manifestação do poder de Deus, no entendimento dos judeus saudosos dos bons tempos em que Deus os conduzia pela mão, mesmo que eles fossem rebeldes. O natural, como Paulo lembra aos Coríntios, era que os gregos buscassem sabedoria, porque para os orgulhosos filósofos gregos, na sua sabedoria, era totalmente inconcebível que a crucificação de alguém pudesse conferir algum tipo de graça, muito menos a graça da salvação. Isto é irracional! Qualquer pessoa, com um mínimo de raciocínio, não pode aceitar a palavra da cruz, senão como loucura. Só que essa loucura é a única pregação capaz de salvar pecadores. Como o apóstolo ensina, palavra bonitas, linguagem persuasiva de sabedoria humana, estas coisas são incapazes de salvar alguém. Elas podem até agregar, favorecer à comunhão social, mas jamais favorecerá à comunhão espiritual, porque não passam de sabedoria humana. Por isso, Paulo rejeitou todo o seu conhecimento intelectual, toda a sua capacidade de fazer pregações bonitas, persuasivas, para pregar a loucura da cruz, porque é poder de Deus e sabedoria de Deus. Eu me esforço para fazer o mesmo. Irmãos queridos, eu tenho insistido com vocês sobre isso. Toda pregação bonita é falsa. Pregação bonita nunca mostra a nossa condição decaída; pregação bonita não tem alcance além dos nossos sentimentos; pregação bonita nada acrescenta ao nosso conhecimento de Deus e da sua glória; pregação bonita não nos faz crescer em santidade e no serviço ao próximo; pregação bonita é falsa porque, mesmo com base bíblica, é recheada com palavras persuasivas de sabedoria humana, e não do Espírito. O que a sabedoria do Espírito revelou foi a palavra da cruz. É isso que Paulo ensina neste capítulo 2 de 1 Coríntios, especialmente no v. 9, quando diz: “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”. Paulo não está falando do céu, como normalmente ouvimos em muitas pregações equivocadas. Ele está falando da revelação que nos foi dada pela sabedoria do Espírito Santo acerca da cruz e da salvação que ela encerra. É esta revelação que Deus tem preparado somente para aqueles que o amam. Para o mundo, esta palavra da cruz é escândalo, é loucura, mas para nós, é poder de Deus e sabedoria de Deus. Só o poder de Deus, só a sabedoria de Deus é capaz de nos fazer entender o paradoxo da cruz. Ao mesmo tempo em que ali foi cravada a maldição dos nossos pecados em Cristo Jesus, também foi promulgada a nossa libertação da escravidão do pecado. “Está consumado”! Jesus pagou a nossa dívida. Isto é redenção! Estávamos presos a uma dívida impagável, mas Jesus pagou a nossa dívida na cruz e nos resgatou de volta para Deus. Este é o significado maravilhoso da cruz: ao mesmo tempo em que ela evidencia a ira de Deus e garante a sua justiça, também evidencia o grande amor de Deus e garante a justificação do pecador em Cristo Jesus. É esta revelação que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, a que o apóstolo se refere em 1 Co 2:9. É por isso que Paulo pregava a mensagem da cruz, porque foi na cruz que Jesus pagou a nossa dívida; foi na cruz que ele efetuou a nossa redenção; na cruz ele foi a propiciação pelos nossos pecados; foi na cruz que Jesus fez a reconciliação não só de pecadores, mas de todo o cosmos com Deus; foi na cruz que o Senhor Jesus “despojou os principados e as potestades, e publicamente os expôs ao desprezo” (Cl 2:15). Irmãos queridos, a cruz não é apenas um amuleto contra o mal, como muitos a veem. A cruz foi o instrumento de tortura cruel utilizado por Deus para aplacar a sua ira contra o pecado, para aplicar a sua justiça, para extravasar o seu amor, derramar a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, e nos conceder a comunhão do Espírito Santo, única forma de nos reconciliar com Deus e com o próximo. Por isso, eu insisto em lhes ensinar que não há outra pregação capaz de salvar pecadores, assim como esta mesma pregação é suficiente para proporcionar a comunhão dos salvos. Somente quando entendemos o real significado da cruz, não nos dobramos ao nosso ego, abrindo brecha para pecados como orgulho, arrogância, intolerância, presunção, que nos afastam de Deus e do próximo. Quando lembramos o real significado da cruz, quando lembramos que o Senhor Jesus nela levou a maldição dos nossos pecados, não podemos mais aninhá-los em nossos corações. Na cruz nós fomos mortos para o pecado juntamente com Jesus, e na sua ressurreição nós vivemos para Deus, em Cristo Jesus (Rm 6:11). Quando entendemos o real significado da cruz, temos dificuldade de compreender crentes orgulhosos e suas organizações arrogantes, que se arvoram em criar regras, e exigir o seu cumprimento como fazia a igreja cristã judaizante dos tempos de Paulo. O próprio apóstolo Pedro criou uma regra para escolher o substituto de Judas Iscariotes, coisa que Jesus nunca mandou. Segundo a regra criada por Pedro, jamais Paulo seria escolhido para ser apóstolo. Foi com base nesse comportamento equivocado dos cristãos judaizantes da igreja de Jerusalém que Paulo escreveu aos Gálatas 6:14 – “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo”. Paulo nunca criou nenhuma regra para os gentios convertidos pela sua mensagem da cruz. Ele apenas ensinava, encorajava e cobrava um testemunho condizente com o entendimento da sua mensagem. Pelo ensino e o exemplo de Paulo, precisamos entender que na cruz de Cristo, o mundo está crucificado para nós e nós para o mundo. A cruz era o segredo de Paulo para vencer o mundo, e deve ser o nosso também. Somente quando entendemos o real significado da cruz e transformamos esse conhecimento em sabedoria, a sabedoria do Espírito Santo, então daremos um testemunho digno do Senhor Jesus. Precisamos compreender que a cruz, longe de ser um simples amuleto contra o mal, é um símbolo da morte em dois sentidos: primeiro, simboliza a morte como punição de pecados, obra consumada pelo Senhor Jesus; segundo, simboliza a morte como modo de vida em relação ao pecado, obra que deve ser realizada por nós, como testemunho de que entendemos a morte substitutiva, expiatória e redentora do Senhor Jesus. Morte que dá vida. Esta é a mensagem da cruz, a única mensagem capaz de salvar pecadores e de proporcionar verdadeira comunhão entre os salvos. Que Deus nos conceda graça para que não adulteremos a mensagem da cruz. Amém.