Mapa Geomorfológico preliminar do Complexo

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MARI ANGELA MACHADO
Mapa Geomorfológico preliminar do
Complexo Lagunar Sul Catarinense e análise
paleoambiental da Lagoa do Imaruí apoiada
em furos de sondagem
FLORIANÓPOLIS, SC
2008
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO CCE/FAED
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
MARI ANGELA MACHADO
Mapa Geomorfológico preliminar do
Complexo Lagunar Sul Catarinense e análise
paleoambiental da Lagoa do Imaruí apoiada
em furos de sondagem
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado no curso de Geografia
como requisito para obtenção do
título de Bacharel em Geografia.
Orientadora: Profª Drª LÚCIA AYALA
FLORIANÓPOLIS, SC
2008
"Diante da vastidão do tempo e da
imensidão do espaço é uma
alegria para mim compartilhar
uma época e um planeta com
você."
Carl Sagan
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer aos meus pais, Magali e Bráulio, que sempre
me apoiaram, me incentivaram e orientaram meus passos em todas as
etapas da minha vida.
À minha avó Darcília, pelo seu jeito ímpar, por quem tenho
enorme carinho.
Aos Amigos, que longe ou perto sempre se mantiveram presentes.
À Lúcia, que como professora me acompanhou desde o primeiro
semestre do curso, sempre passando seu conhecimento de forma lúdica.
Agradeço pela orientação na iniciação científica e neste trabalho.
Ao Ricardo e Graciana, também presentes desde o primeiro
semestre do curso, meus ídolos como pessoas e como geógrafos.
Ao Ricardo, novamente, pela grande contribuição neste trabalho e
por ter aceitado fazer parte da banca.
À Graciana, pela ajuda desde o projeto deste trabalho até sua
etapa final, agradeço pela esforço e ajuda para que tudo desse certo.
À Professora Maria Paula, por passar seus conhecimentos em sala
de aula, na iniciação científica, pela ajuda neste trabalho e por aceitar ser
banca examinadora.
Ao Professor Pimenta, Professora Mariane e Professor Chico pela
ajuda em diversos momentos da confecção deste trabalho.
A todos os professores do curso, aos quais eu devo meu
aprendizado nesses quatro anos. Em especial ao Professor Fábio, a quem
eu não poderia deixar de agradecer o apoio em diversos momentos e
expressar o meu carinho.
Agradeço ao Professor Eduardo Soriano-Sierra, pelo auxílio e
empréstimo de materiais.
Aos colegas dos outros cursos, pelos momentos de troca e
amizade.
Agradeço
aos
colegas
de
pesquisa
Heron
e
Helô,
meus
companheiros de questionamentos e resoluções, agradeço a ajuda em
tantos momentos, em especial na execução deste trabalho. A Helô, pelo
empréstimo de material e pela co-orientação e ao Heron, pela grande
ajuda na confecção dos desenhos da secção geológica.
Aos colegas da geografia, da minha turma e das outras fases, que
participaram dessa etapa da minha vida acadêmica, dos trabalhos, dos
campos e dos momentos de descontração.
Aos colegas do Laboratório de Geoprocessamento Getúlio, João,
Guilherme e Ronan pela boa vontade e disposição em elucidar minhas
dúvidas durante a confecção do Mapa.
À Ana, Elisa e Júlia, que mais que colegas de curso tornaram-se
grandes amigas.
Ao Gilvan, pelo apoio e incentivo, e por estar sempre presente nos
momentos em que mais precisei.
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo realizar o mapeamento geomorfológico
do complexo lagunar Santo Antônio dos Anjos da Laguna, entre as áreas
municipais de Laguna e Imbituba, e desvendar a evolução dos ambientes
costeiros, em parte da Lagoa do Imaruí, entre Laguna e Imaruí. Estes
ambientes encontram-se na planície costeira, construída e transformada
durante as drásticas variações paleoclimáticas ocorridas no período que
compreende o Pleistoceno Superior e o Holoceno. Para a execução deste
trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica considerando os trabalhos
já executados relacionados ao tema e à área de estudo, com a finalidade
de obter dados sobre os fenômenos ali ocorridos. Para diagnosticar os
ambientes atuais de superfície foi realizada a interpretação das fotografias
aéreas da área de estudo em escala 1:60.000, e confeccionado um mapa
do Complexo Lagunar em escala 1:100.000. A última etapa foi a análise
dos boletins dos furos de sondagem realizados durante os estudos para a
duplicação do trecho sul da BR-101, onde pudemos encontrar informações
sobre os sedimentos, suas características físicas e seu conteúdo
fossilífero. Dessa forma obteve-se uma secção de subsuperfície e
determinou-se os ambientes pretéritos dessa porção do complexo lagunar.
4. Palavras-chave: Lagoa do Imaruí, Complexo Lagunar Sul
Catarinense, Evolução Paleoambiental, Variação do Nível do Mar,
Glaciações Pleistocênicas.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Mapas: Mapa Geomorfológico do Complexo Lagunar Sul
Catarinense
47
Figura 1: Coluna Geológica Simplificada
11
Figura 2: Concheiro em Laguna, SC (próximo à localidade de
14
Perrixil)
Figura 3: Modelo Evolutivo da Curva de Variação do Nível do Mar (
15
alterada de Martin & Suguio, 1986)
Figura 4: Localização da área de estudo.
17
Figura 5: Comunidade pesqueira: Porto da Vila
18
Figura 6: Mapa geológico de Santa Catarina
20
Figura 7: Planície do Rio Tubarão
24
Figura 8: Vegetação de influência flúvio-lacustre
28
Figura 9: Morro Grande
sentido Norte-Sul
30
Vista depois da Ponta de Cabeçudas,
Figura 10: Granito Serra do Tabuleiro
31
Figura 11 Delta do Rio Tubarão, na cidade de Laguna, SC.
32
Figura 12: Planície lagunar da Lagoa do Imaruí
33
Figura 13: Direção das feições deposicionais do terraço lagunar e
do terraço marinho/eólico, localizado próximo à foz do Rio Tubarão,
Município de Laguna, SC.
34
Figura 14: Antigas cristas praiais, na localidade entre Laguna e
36
Pedra do Frade.
Figura 15: Campo de Dunas de Imbituba
37
Figura 16: Seção Geológica esquemática da área da Lagoa de Imaruí,
Laguna, SC.
438
Figura 16: Localização dos pontos de sondagem
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO.
1
1.1
CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA..........................
3
1.2
OBJETIVOS ........................................................
5
1.3
JUSTIFICATIVA ...................................................
6
1.4
METODOLOGIA....................................................
8
2
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E VARIAÇÕES DO NÍVEL
DO MAR DURANTE O HOLOCENO..............................
10
3
CARACTERIZAÇÃO da AREA DE ESTUDO .................
16
3.1
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA.................................
16
3.2
GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA.............................
18
3.3
CLIMA................................................................
24
3.4
COBERTURA VEGETAL..........................................
27
4
4.1
CARACTERIZAÇÃO DOS AMBIENTES QUE COMPÕEM
O ENTORNO DO COMPLEXO LAGUNAR SANTO 29
ANTONIO DOS ANJOS DA LAGUNA.........................
SERRAS DO LESTE CATARINENSE..........................
29
4.2
UNIDADE COLUVIAL............................................
31
4.3
DEPÓSITOS FLUVIO-DELTALAGUNARES..................
32
4.4
PLANÍCIE LACUSTRE ...........................................
33
4.5
TERRAÇO LAGUNAR PLEISTOCÊNICO .....................
34
4.6
TERRAÇO MARINHO PLEISTOCÊNICO.....................
35
4.7
DEPÓSITO ARENOSO PLEISTOCÊNICO....................
35
4.8
DEPÓSITO MARINHO HOLOCÊNICO........................
35
4.9
CAMPOS DE DUNAS MÓVEIS.................................
36
4.10
DEPÓSITO MARINHO/EÓLICO SUB ATUAL...............
37
4.11
DEPÓSITO MARINHO ATUAL (atual linha de costa).....
37
5.
ANÁLISE PALEOAMBIENTAL......................................
38
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................
41
7.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................
44
1 INTRODUÇÃO
A Lagoa de Imaruí localiza-se no litoral Sul do Estado de Santa
Catarina, entre as áreas municipais de Imaruí e Laguna. A Lagoa faz parte
do Complexo Lagunar Santo Antônio dos Anjos, Imaruí e Mirim, o maior
do Estado de Santa Catarina, localizado nas áreas municipais de Imbituba,
Imaruí e Laguna. Está situado na planície costeira, construída a partir das
flutuações
do
nível
relativo
do
mar
resultantes
das
modificações
paleoclimáticas ocorridas no final do período Quaternário.
Este trabalho apresenta o resultado de duas abordagens de estudo
da área em questão: a classificação dos ambientes que compõem o
Complexo
Lagunar
Sul
Catarinense,
através
de
um
mapeamento
geomorfológico, e a análise paleoambiental de uma seção dentro dessa
macro-área de estudo, na Lagoa de Imaruí.
O relevo é o cenário das inter-relações entre geologia e clima de
uma região. É forma resultante- e também condicionante- dos processos
que atuam em uma dada região. A caracterização do ambientes costeiros,
ou
seja,
o
conhecimento
geomorfológica
e
dos
fatores
paleoambiental
da
que
área,
controlam
permite
a
evolução
identificar
as
potencialidades e peculiaridades da região em questão. Essas informações
são de grande importância para a gestão do uso e da ocupação do solo
Com o estudo da evolução paleoambiental da Lagoa de Imaruí
pretende-se responder às questões sobre a evolução ambiental da área e
seu entorno, decorrentes dos eventos de transgressão e regressão
marinhos, que ocorreram durante o Pleistoceno Superior e o Holoceno, no
período Quaternário, como já citado.
Assim,
através
da
verificação
da
evolução
dos
ambientes
quaternários na área, ou seja, a evolução do nível do mar e a conseqüente
sedimentação local, este estudo visa fornecer informações que auxiliem o
planejamento da ocupação humana na área, levando em conta as
características
geológicas,
geomorfológicas
e
as
fragilidades
deste
ecossistema costeiro. Este estudo vem ao encontro do principal objeto de
estudo da Ciência Geográfica a relação entre sociedade e natureza.
No desenvolvimento do trabalho seguiu-se a metodologia clássica
de
pesquisa
geológica,
qual
seja,
primeiramente,
foi
realizado
o
levantamento bibliográfico pertinente ao tema e ao local de estudo com o
intuito
de
levantar
e
analisar
todos
os
trabalhos
anteriormente
desenvolvidos na área, e os seus respectivos resultados. A segunda etapa
do trabalho consistiu na interpretação das fotografias aéreas para
identificar e delimitar as diferentes feições geomorfológicas na superfície
da
área
de
estudo,
mapeando
e
classificando
os
ambientes
ali
encontrados. Para estudar os diferentes ambientes pretéritos que se
estabeleceram na área da Lagoa de Imaruí, e para a confecção da seção
geológica desses paleoambientes, foram utilizados os boletins descritivos
dos testemunhos de sondagem obtidos durante os estudos para a
duplicação do trecho Sul da BR-101 que acompanha o litoral de Santa
Catarina, com orientação aproximada Norte
Sul: a análise dos boletins
pretende extrair informações sobre os sedimentos de subsuperfície, tais
como coloração, granulometria e conteúdo fossilífero que apóiam a
interpretação paleoambiental
1.1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
Assim como tantos outros elementos da Planície Costeira, o
Complexo Lagunar Santo Antônio dos Anjos, Imaruí e Mirim é fruto da
dinâmica costeira no decorrer de importantes variações do nível do mar
durante
o
Quaternário,
associadas
às
drásticas
modificações
paleoclimáticas ocorridas durante este período.
Os
ambientes
litorâneos
são
caracterizados
como
ambientes
geológica e geomorfologicamente inconsolidados. Segundo Suguio (2003),
são regiões que se mantêm sob condições de equilíbrio dinâmico e não de
equilíbrio estático. Configuram áreas muito suscetíveis a mudanças,
podendo ser afetadas em diversas escalas temporais e espaciais, sofrendo
importantes transformações, que podem ou não ser reversíveis.
A ocupação humana na zona costeira, caracteristicamente suscetível
a fenômenos naturais, faz com que esses eventos se intensifiquem ou
sejam considerados catastróficos:
A presença do Homem constitui a razão da existência dos perigos
naturais (natural hazards) e dos riscos, já que os fenômenos
naturais constituem eventos normais e freqüentemente até
previsíveis. Porém, a maior dificuldade no enfrentamento destas
questões relaciona-se à ocupação indevida, de regiões com
potenciais
perigos naturais , muitas vezes por razões
essencialmente políticas e /ou sócio-econômicas. (SUGUIO, 2003,
p. 30)
Dessa forma, a ocupação antrópica em áreas litorâneas deve ocorrer
mediante bom planejamento, que possa determinar e levar em conta os
impactos ambientais para a região e os riscos para as populações ali
fixadas.
O Complexo Lagunar Imaruí, Mirim e Santo Antonio é um típico
conjunto ambiental costeiro, que necessita de planejamento para uma
ocupação racional.
1.2 OBJETIVOS
a) Objetivo Geral
- Caracterizar as feições geomorfomológicas da lagoa e seu entorno,
decorrentes, em grande parte, dos eventos de transgressão e regressão
marinhos, durante o Pleistoceno superior, período Quaternário.
b) Objetivos Específicos
Determinar a sedimentação quaternária da área, através do
mapeamento geomorfológico;
Verificar a evolução dos ambientes quaternários na Lagoa de
Imaruí;
Produzir um mapa geomorfológico que, além da informação
científica que aportará, fornecerá informações que auxiliarão a gestão
costeira na definição de uma melhor forma de ocupação do solo levando
em conta as características geológicas, geomorfológicas e as fragilidades
deste ecossistema costeiro;
Fazer um estudo da geologia de subsuperfície e produzir um
levantamento preliminar dos paleoambientes estabelecidos nessa área
durante o Quaternário superior.
1.3 JUSTIFICATIVA
O estudo e caracterização dos fatores geológicos e geomorfológicos
que comandam a dinâmica das zonas costeiras é um importante
instrumento para a gestão dessas áreas de transição entre o oceano e o
continente, já que permite identificar os pontos mais suscetíveis aos
impactos e aos estressores decorrentes do adensamento populacional e da
exploração não planejada dos recursos naturais.
os fatos geomorfológicos constituem uma das bases para o
conhecimento de espaços ambientais, com fins aos estudos
de organização das paisagens costeiras. Estão, em escala
menor, baseados em formações geológicas, topografia,
formas de relevo e bacias fluviais, cuja drenagem atua com a
ação do escoamento fluvial, pluvial e subterrâneo. Unido aos
processos de intemperismo e pedogênese, o escoamento
trabalha as linhas litotectônicas, fazendo o relevo modificar
suas formas. (CRUZ, 1998)
Também devemos lembrar que as zonas costeiras representam
áreas
de
grande
importância
econômica,
congregando
atividades
pesqueiras, turísticas, portuárias, entre outras.
O estudo das variações do nível do mar mostra-se de alta
relevância, visto que dois terços da população do planeta vive no litoral
(SUGUIO, 2003). Do ponto de vista da geografia humana e econômica,
temos que questionar o que ocorreria com a possibilidade da transferência
da linha de costa para um nível abaixo ou acima do atual.
O desaparecimento possível de cidades costeiras constitui um
assunto de preocupação suficientemente importante para justificar
os esforços desenvolvidos para estudar esta eventualidade,
mesmo que a probabilidade de tal cataclisma venha a ocorrer seja
muito remota. (MARTIN, 1986, p. 72)
O afogamento de rios, ou a transferência de seus deltas para níveis
mais baixos, ou o afogamento de lagoas e lagunas, ou seu enxugamento,
alteram
consideravelmente
a
dinâmica
regional
e
a
paisagem
e,
conseqüentemente, terão impacto nas atividades antrópicas ali realizadas.
Do ponto de vista científico e prático, a reconstrução das antigas
linhas de costa pode ser de grande ajuda na pesquisa para ocupação e
gestão da zona costeira. Além disso, o estudo de antigas situações pode
talvez nos permitir fazer algumas previsões sobre a evolução da situação
atual (MARTIN, 1986).
Neste
estudo,
portanto,
será
apresentado
o
mapeamento
geomorfológico do Complexo Lagunar Sul Catarinense e a análise
paleoambiental da Lagoa do Imaruí, com o intuito de gerar subsídios para
serem utilizados na preservação e no planejamento do uso do solo da área
específica de estudo, e/ou de quaisquer outros ambientes costeiros de
desenvolvimento semelhante.
1.4 METODOLOGIA
Primeiramente foi realizada pesquisa bibliográfica pertinente ao
tema e ao local de estudo com o intuito de coletar dados sobre fenômenos
ocorridos
num
passado
geológico,
procurando
elementos
para
a
compreensão do presente. Outros documentos de apoio, como o mapa
geológico do sudeste catarinense (CARUSO, 1995), fotografias aéreas e
registros fotográficos também foram utilizados com este fim.
A segunda etapa do trabalho consistiu na interpretação das
fotografias aéreas para caracterizar a sedimentação quaternária e sua
relação com o embasamento cristalino na superfície da área de estudo e
seu entorno, classificando os ambientes ali encontrados mediante a
confecção de mapa geomorfológico, escala 1:100.000, utilizando Sistemas
de Informações Geográficas (ARCGIS).
A área de interpretação fotogramétrica foi ampliada, incluindo todo
o sistema lagunar, para respeitar a continuidade física das unidades
geomorfológicas da Lagoa do Imaruí ao longo de seu entorno.
A
interpretação
das
fotografias
aéreas
foi
feita
utilizando
estereoscópios de mesa da marca Carl Zeiss. Foram utilizadas as
fotografias aéreas da cobertura do Estado realizada em 1964, em escala
1: 60 000, gentilmente cedidas pelo DNPM/SC. A razão para a utilização
das fotografias aéreas de 1964 é a pouca antropização da área em estudo
nessa época, além de que a escala desse levantamento, 1:60.000, é
adequada e suficiente para a realização das análises.
Para algumas
faixas, por ausência de fotografias, foram utilizada imagens do programa
Google Earth.
O mapeamento geomorfológico foi realizado partindo da elaboração
da base de dados, que consistiu na construção de um mosaico, utilizando
as
fotografias
e
as
imagens.
O
mapa
preliminar,
produto
da
fotointerpretação, foi escaneado, e depois sobreposto às imagens do
Google,
no
programa
georreferenciado,
escolhidos
em
ArcView
usando
média
georeferenciamento,
uma
5
9
base
pontos
tomando
da
ESRI.
O
mosaico
cartográfica
de
como
cada
foto
referência
final
1:60.000.
para
estradas
Foram
fazer
e
foi
o
feições
geológicas conspícuas da área de estudo.
Para estudar os ambientes pretéritos e para a confecção da secção
paleoambiental da Lagoa de Imaruí foram utilizados os boletins dos furos
de sondagem realizados durante os estudos de duplicação do trecho Sul
da BR-101, onde podemos encontrar informações sobre os sedimentos
como coloração e granulometria, relações estratigráficas e conteúdo
fossilífero.
Através da análise destes boletins, foi possível determinar a
sedimentação quaternária da região e a evolução dos ambientes que ali se
desenvolveram e, conseqüentemente, reconstruir a evolução histórica do
nível do mar local, usando como recorte de trabalho a parte da Lagoa
onde os estudos para a duplicação foram concebidos.
Este trabalho de Conclusão de Curso originou-se a partir do projeto
de pesquisa desenvolvido pelo Laboratório de Geologia e Mineralogia da
UDESC, denominado Evolução Paleoambiental da Costa Sul Catarinense .
Tendo definido o tema do TCC, as observações de campo e a pesquisa
bibliográfica já foram iniciadas nessa época.
A última etapa do trabalho foi a confecção de uma secção geológica
paleoambiental da Lagoa de Imaruí, utilizando programas de desenho
gráfico.
2 MUDANÇAS CLIMÁTICAS E VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR
DURANTE O QUATERNÁRIO
A origem das variações paleoclimáticas é complexa e resulta da
interação de diversos fenômenos astronômicos, geofísicos e geológicos.
Sendo assim, não existe uma única causa para uma mudança climática,
mas sim a interação de duas ou mais causas (MARTIN, 1986).
De acordo com Ayoade (1991) os mecanismos suscetíveis de
provocar
variações
paleoclimáticas
estão
associados
a
diversos
fenômenos, entre os quais podemos destacar a três categorias:
- causas terrestres;
- causas atronômicas;
- causas extraterrestres.
Na categoria das causas terrestres as mudanças climáticas são
associadas às variações nas condições terrestres, como migração polar e
deriva continental, mudanças na topografia da terra, variações na
composição
atmosférica,
mudanças
na
distribuição
das
superfícies
continentais hídricas e variações na cobertura de neve e gelo
Na categoria das causas astronômicas as mudanças climáticas
baseiam-se nas mudanças da geometria da terra, como alteração da
excentricidade da órbita, mudanças na precessão dos equinócios e
mudanças na obliqüidade do plano da eclíptica.
Por fim, a categoria das causas extraterrestres relaciona as
mudanças climáticas à atividade solar, como as variações da quantidade
de energia solar que chega à terra e as variações
na absorção da
radiação solar exterior à atmosfera terrestre (AYOADE, 1991).
Os dados acerca do clima mundial cós mais tornam-se mais
confiáveis à medida que consideramos períodos geológicos mais recentes.
Desta forma, sabe-se mais a respeito das variações climáticas durante o
Pleistoceno (Figura 1) que durante o período Terciário (AYOADE, 1991).
O Quaternário foi um período de grandes oscilações climáticas, com
intervalos de glaciação, onde as temperaturas eram muito baixas, e
intervalos de interglaciação, com temperaturas mais amenas (SALGADOLABOURIAU, 1994).
Era
Período
Quaternário
Cenozóica
Terciário
Época
Holoceno
Pleistoceno
Plioceno
Mioceno
Oligoceno
Eoceno
Paleoceno
Duração em m.a.
Milhões de
anos atrás
Últimos 11 mil anos
1,8
1,8
6
7
19
26
12
38
16
54
11
65
Mesozóica
Cretáceo
Jurássico
Triássico
71
54
35
136
190
225
Paleozóica
Permiano
Carbonífero
Devoniano
Siluriano
Ordoviciano
Cambriano
55
65
50
35
70
70
280
345
395
430
500
570
4030
4600
Pré-Cambriano
Figura 1: Coluna Geológica Simplificada
Nos estádios glaciais, há expansão das geleiras, ocorre retenção de
grandes volumes de água sobre os continentes, e verifica-se a descensão
do nível relativo do mar. Este fenômeno recebe o nome de regressão
marinha. De maneira oposta, nos estádios interglaciais há retração das
geleiras, e conseqüente ascensão do nível relativo do mar, a chamada
transgressão marinha (SUGUIO, 2003).
As
variações
do
nível
relativo
do
mar
ocorridas
durante
o
Quaternário, no Holoceno Superior, são responsáveis pela construção e
constante transformação das planícies costeiras.
O avanço e recuo da linha de costa, através da ação das ondas,
marés, correntes marinhas e ventos, associados aos efeitos das
mudanças do nível do mar, em contato com uma diversidade de
conjuntos morfológicos e ecodinâmicos existentes em ambientes
continentais, mistos e marinhos, produziram como resultado
extensas planícies costeiras ao longo do litoral brasileiro.
MEIRELES, 2002, p.79).
Portanto, além dos fatores como energia das ondas, amplitudes de
marés e cargas fluviais (SUGUIO, 1999), as variações de nível relativo do
mar também desempenham papel considerável na sedimentação costeira.
A integração dos processos morfogenéticos - fluxos de sedimentos e ação
dos ventos, ondas, marés e correntes marinhas
e os processos
transgressivos e regressivos é o que caracteriza a planície costeira
quaternária.
A dinâmica costeira se comporta de formas distintas durante os
eventos de subida e descida do nível relativo do mar. Nos períodos
interglaciais, onde ocorre aumento do nível marinho, os sistemas ilhasbarreira/lagunas são dominantes, a linha de costa adentra o continente,
assim como os rios, que têm seus deltas afogados e constroem deltas
intralagunares ou intra-estuarinos. Durante os eventos de descida do nível
do mar o processo de construção e manutenção dos sistemas ilhasbarreira/lagunas (Figura 3) é desfavorecido. Os rios avançam sobre a área
que até aquele momento constituía a plataforma continental, e seus deltas
deslocam-se proporcionalmente em direção a borda da plataforma e ao
oceano. As áreas que hoje constituem lagunas e baías faziam parte, nesse
momento,
do
continente interior,
(SUGUIO, 1999).
isto é,
encontravam-se emersas
Estes
processos
transgressivos
e
regressivos,
então,
são
responsáveis, em grande parte, pela origem e desenvolvimento de uma
série de geoelementos: terraços marinhos, sistemas estuarinos, lagoas e
lagunas costeiras, gerações de dunas, paleoplataformas de abrasão,
paleomangues, rochas de praia, antigos corais e linha de praia atual
(MEIRELES, 1999).
Essas formações testemunham as oscilações do nível marinho e as
influências paleoclimáticas durante o Quaternário, e classificam-se como
evidências que podem ser de natureza geológica, biológica ou préhistórica.
Os exemplos de indicadores geológicos são as rochas praiais e os
terraços marinhos (de construção ou de abrasão). Os indicadores
biológicos, por sua vez, são representados por restos biogênicos de
animais ou vegetais marinhos e restos de vegetais típicos de manguezais
encontrados atualmente em posição não compatível com seus hábitos de
vida. Os principais indicadores pré-históricos, no Brasil, são os sambaquis,
quando localizados distantes (emersos ou submersos) das posições atuais
de linha de costa (SUGUIO et al, 1985).
Em grande parte do litoral catarinense podemos encontrar diversas
ocorrências de depósitos de conchas calcárias (sambaquis). O Complexo
Lagunar Sul Catarinense impressiona pela quantidade e dimensões desses
concheiros (Figura 2) que, além de representar valor pré-histórico
(GIANNINI, 2002), são amplamente utilizados como mineral destinado ao
uso nos setores das indústrias agrícolas, de celulose, cerâmica e para a
produção de ração para animais (CARUSO, 1995).
Figura 2: Concheiro em Laguna, SC (próximo à localidade de Perrixil)
O
fato
de
algumas
evidências
não
serem
encontradas
generalizadamente ao longo do litoral possivelmente está relacionado com
a erosão provocada durante a última transgressão (MEIRELLES, 1999).
De acordo com esses indicadores de níveis marinhos pretéritos,
citados anteriormente, Martin & Suguio (1986, apud CARUSO, 1993)
construíram um modelo evolutivo (Figura 3) para a Planície Costeira
Catarinense. Embora as reconstruções de antigas oscilações do nível do
mar não tenham sido satisfatórias, obtiveram-se dados capazes de
fornecer um modelo dos últimos sete mil anos, que mostra as curvas de
flutuação do nível relativo do mar no período considerado. Utilizando
essas informações e combinando-as com o modelo de Villwock et al
(1986), Caruso (1995) sugere sete estágios evolutivos para a costa Sul
Catarinense. Deste modelo, registramos resumidamente os estágios em
que encontramos testemunhos na área de estudo:
O Estádio IV corresponde à Trans-Regressão do Pleistoceno III .
Seus depósitos constituem Terraços arenosos que podem atingir a altura
de 10 metros.
O Estádio V representa o máximo da Transgressão holocênica. Neste
momento a subida no nível marinho afogou o Sistema Lagunar antigo, das
lagoas Mirim, Imaruí, Santo Antônio e Garopaba do Sul. Afogou os baixos
curso fluviais e erodiu antigos terraços marinhos. É nesse estágio que se
formam as ilhas barreiras que mais tarde isolaram novos sistemas
lagunares.
O sexto (VI) estágio construiu o delta intra-lagunar do Rio Tubarão,
na lagoa de Santo Antônio, formada na transgressão anterior.
Por fim, o Estádio VII representa o início do abaixamento do nível do
mar após o máximo transgressivo de 5.150 anos A.P. Este evento resultou
na construção de terraços marinhos, na progradação da linha de costa,
deixando como registro as planícies de cordões litorâneos.Deste ponto em
diante o nível mar entrou em fase predominantemente regressiva,
apresentando somente pequenos episódios transgressivos. Deste ponto
em diante, deu-se início à secagem das lagunas.
Figura 3: Modelo Evolutivo da Curva de Variação do Nível do Mar para a região
Sul (alterada de Martin & Suguio, 1986, apud Caruso, 1993)
3 CARACTERIZAÇÃO da ÁREA DE ESTUDO
3.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA:
O Complexo Lagunar Sul Catarinense está localizado ao Sul do estado de
Santa Catarina, entre as áreas municipais de Imbituba e Laguna. Constitui
um corpo lagunar compartimentado em três setores, onde podemos
distinguir a Lagoa do Mirim, Lagoa de Imaruí e Lagoa de Santo Antônio.
A Lagoa de Imaruí, possuindo uma área de 86,42 km², é a maior do
complexo.Lagunar Sul Catarinense. Localiza-se parte no município de
Laguna e parte no município de Imaruí.
É margeada a oeste pelos contrafortes da Serra do Tabuleiro, a leste pelos
cordões
litorâneos
arenosos,
e
ao
norte
e
ao
sul
faz
contato,
respectivamente, com a Lagoa do Mirim e com a Lagoa de Santo Antônio
Figura 4: Localização da área de estudo
Fonte : Imagem de satélite retirada do GoogleEarth; escala aproximada
1: 113 000.
Ao longo da Lagoa se distribui grande número de comunidades
pesqueiras (Figura 5), como Cabeçudas, Ponta da Laranjeira, Bentos, Sítio
Novo, Pescaria Brava, Porto da Vila, Siqueira, Perrixil, Samambaia, Ponta
Grossa. Como atividade econômica na Lagoa, os moradores exercem a
pesca artesanal, a carcinicultura e o turismo.
Figura 5: Comunidade pesqueira: Porto da Vila
Foto: Wagner Figueiredo
3.2 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA REGIONAL
Representando 4,35% da superfície do Estado (ROSA & HERRMANN,
apud
SANTA
CATARINA,
1986),
o
litoral
catarinense
apresenta
a
característica contrastante entre amplas planícies costeiras, constituídas
de cobertura sedimentar quaternária, interrompidas pela presença de
rochas do embasamento cristalinos próximo a linha de costa, na forma de
promontórios, pontais, penínsulas e ilhas (CARUSO, 1993 e VILLWOCK,
1994 ).
Sua
largura
é
condicionada
pela
presença
do
embasamento
cristalino e constituída por depósitos sedimentares emersos da Planície
Costeira,
depósitos
litorâneos
praiais
e
sedimentos
submersos
da
plataforma continental adjacente, relacionados às variações do nível do
mar ocorridas no período quaternário (VILLWOCK, 1994).
Figura 6: Mapa geológico de Santa Catarina
Fonte: SANTA CATARINA, 1986
Os domínios estruturais são a instância que organiza a causa dos
fatos geomorfológicos derivados de aspectos amplos da geologia, como os
elementos
geotectônicos,
os
grandes
arranjos
estruturais
e,
eventualmente a predominância de uma litologia conspícua. Regiões
geomorfológicas são uma compartimentação reconhecida regionalmente e
essencialmente ligadas a fatores climáticos atuais ou passados e/ou a
fatores litológicos. E, por fim, as unidades geomorfológicas são o arranjo
de formas de relevo fisionomicamente semelhantes em seus tipos
modelados (SANTA CATARINA, 1986).
Segundo Caruso Jr (1995), podemos encontrar dois domínios
morfoestruturais
Embasamentos
na
em
área
Estilos
de
estudo.
O
Complexos,
é
primeiro,
o
representado
domínio
dos
pela região
geomorfológica das Serras do Leste Catarinense, com sua unidade
geomorfológica
denominada
Serras
do
Tabuleiro/Itajaí.
O
segundo
domínio morfoestrutural dos Depósitos Sedimentares abrange a região
geomorfológica das Planícies Costeiras, onde se destacam a unidade
geomorfológica
das
Planícies
Aluvionares-deltáicas
e
a
unidade
geomorfológica das Planícies Litorâneas.
A
unidade
geomorfológica
Serras
do
Tabuleiro/Itajaí
é
caracterizada por um relevo de encostas íngremes e vales profundos, com
intensa dissecação. As áreas com maiores elevações ocorrem na Serra do
Tabuleiro, com até mais de 1200 metros em alguns pontos e, ao se
aproximar da linha de costa, assume altitudes gradativamente menores,
atingindo menos de 100 metros junto ao litoral. Na parte leste, esta
unidade é encontrada na forma de pontais onde se apóiam os sedimentos
recentes. Conforma ainda, na região litorânea, praias, penínsulas e ilhas.
Na parte leste os relevos desta unidade estão dispostos em
meio às planícies litorâneas. Esses relevos antigamente
constituíam ilhas que posteriormente foram ligadas ao
continente pelos sedimentos marinhos. (CARUSO JR, 1995)
As
unidades
geológicas
que
compõem
a
Serras
do
Leste
Catarinense fazem parte do chamado Escudo Catarinense, e estão
parcialmente recobertas, a oeste, por rochas vulcânicas e sedimentares da
Bacia do Paraná. As rochas sedimentares preenchem vales entalhados nos
corpos graníticos, e as rochas vulcânicas da região costeira se apresentam
na forma de diques de diabásio ao longo de falhas e fraturas.
Geomorfologicamente, segundo Caruso Jr (1995, p.11) as Serras
constituem-se de:
Terrenos Cristalinos, cujas escarpas chegam até o mar sob a
forma de promontórios, na qual costões rochosos se alternam
com reentrâncias, quase sempre controlados pela tectônica
onde, associadas ou não à desembocadura dos principais
cursos fluviais, ocorrem pequenas planícies costeiras
construídas por sedimentos acumulados em sistemas
deposicionais continentais, transicionais e marinhos. Estas
terras baixas constituem a porção mais proximal, emersa, da
plataforma de Florianópolis que se estende em direção ao
oceano.
A unidade geomorfológica das Planícies Fluviais, ou Planícies
Aluvionares-deltáicas são as áreas planas situadas junto aos cursos d água
e sazonalmente e/ ou periodicamente inundadas. Constitui-se de um
sistema acumulativo de origem marinha e flúvio-marinha, composta de
manguezais, aluviões e terraços arenosos (SANTA CATARINA, 1986).
A unidade geomorfológica Planícies Litorâneas corresponde a uma
estreita faixa localizada a oeste do Oceano Atlântico constituída de praias
arenosas e sistemas de dunas construídos por processos marinhos e
eólicos. É uma unidade bastante diversificada, composta por baías,
pontais, penínsulas, enseadas, lagoas e lagunas, entre as quais se
desenvolvem baixadas litorâneas descontínuas e planícies arenosas que
abrigam inúmeras praias.
No primeiro segmento do litoral esses depósitos encontram-se
recortados por pontas, enseadas, baías, enquanto que no segundo
segmento mostram-se mais contínuas, inicialmente estreitas, alargandose progressivamente para o sul até a divisa com o Rio Grande do Sul.
(BORTOLUZZI, 1997). Nessa região surgem diversas formações lacustres,
onde as áreas municipais de Garopaba e Imbituba representam o início da
zona fisiográfica das lagunas do Sul do Brasil (Martin et al, 1988b, apud
GIANNINI 2002) e o marco da mudança nas características da costa é
representado pelo Cabo de Santa Marta:
As planícies largas e contínuas a sul do cabo dão lugar rumo norte
a paisagem dominada por baías, pequenas lagunas, ilhas e praias
recortadas pelo embasamento proterozóico. Paralelamente, a
plataforma continental interna torna-se mais estreita e íngreme.
Nesse contexto o Cabo de Santa Marta tem sido adotado como
fronteira geográfica natural entre o litoral Sul e o litoral Sudeste do
país. (GIANNINI 2002, p. 214)
Outra
singularidade
desta
região,
do
ponto
de
vista
geomorfológico, é a desembocadura do Rio Tubarão (Figura 7), com o
maior exemplo de delta lagunar ativo da costa brasileira (GIANNINI, 2002,
p. 214):
O delta encaixa-se como uma das peças de um complexo mosaico
de processos eólicos, lagunares e marinhos interdependentes. Esta
situação confere aos depósitos quaternários da área uma
diversidade faciológica maior que a da costa paranaense e sulpaulista, e comparável a do Rio Grande do Sul, da qual se difere,
porém, pelo contexto de costa mais recortada pelo embasamento
proterozóico. Uma conseqüência deste último aspecto é o maior
desenvolvimento de dunas e paleodunas eólicas sobre elevações do
embasamento.
O Rio Tubarão é um dos principais sistemas fluviais que drenam a
planície costeira catarinense. A bacia lagunar recebe a carga clástica
trazida pelos rios que, além de assorear antigos vales criados em período
de regressão marinha, fazem com que o sistema deltaico progrida para o
interior da Lagoa de Santo Antônio (CARUSO, 1995).
Figura 7: Planície e desembocadura do Rio Tubarão, Laguna, SC
Fonte: Google Earth
3.3 CLIMA
O clima de uma determinada região é formado pela dinâmica dos
sistemas atmosféricos com seus respectivos tipos de tempo e pela
influência de fatores como a latitude, a altitude, o relevo, o solo, a
cobertura vegetal, a continentalidade e a maritimidade (MONTEIRO,
2001).
O clima da região em estudo é influenciado por dois fatores
principais: sua posição latitudinal, localizada fora dos trópicos, recebendo,
por isso, menos quantidade de radiação solar (SANTA CATARINA, 1986);
e o relevo, onde os sistemas atmosféricos aliados às diferenças de
altitudes da planície litorânea, das serras cristalinas e do planalto resultam
em variações climáticas ao longo do estado (MONTEIRO, 2001).
De acordo com Monteiro (2001), o relevo também contribui para a
precipitação distinta existente nas diversas áreas do Estado de Santa
Catarina. Nas localidades mais próximas às encostas das montanhas (do
lado do barlavento), onde a elevação do ar quente e úmido favorece a
formação de nuvens cumuliformes, as precipitações são mais abundantes.
Sendo assim, é possível encontrar na zona costeira, em cidades como
Laguna e Araranguá, índices de pluviosidade com porcentagem inferior a
50% em relação às localidades próximas à escarpa da serra.
Das classificações climáticas mais utilizadas, a mais indicada é a de
Strahler, onde o tipo climático da região Sul se enquadra no Grupo II:
Clima das Latitudes Medias
Tipo Subtropical Úmido .
Os climas correspondentes a este grupo se encontram em uma
área de intensa interação entre massas de ar de diferentes propriedades,
as polares e as tropicais. Esta classificação também é utilizada pela equipe
do projeto RADAMBRASIL e GAPLAN/SC (SANTA CATARINA, 1986), ao
analisar o clima do Estado:
O Brasil Meridional está associado ao Grupo dos Climas
Controlados por Massas de Ar Tropicais e Polares, filiando-se ao
Tipo dos Climas Úmidos das Porções Orientais e Subtropicais dos
Continentes Dominadas por Massas Tropicais Marítimas.
A vantagem desse sistema é que ele é genético, isto é, a origem
das massas de ar é levada em consideração, condição básica para
conhecer o clima de uma região:
Para a compreensão da dinâmica atmosférica a nível local faz-se
necessária a observação dos anticiclones polares, centros de ação
das massas polares, e do Anticiclone Semi-fixo do Atlântico Sul,
centro de ação da Massa Tropical Atlântica. (MONTEIRO, 1995, p.
123)
Os sistemas atmosféricos que atuam na região Sul, segundo equipe
do projeto RADAMBRASIL e GAPLAN/SC (SANTA CATARINA, 1986), são
controlados pela ação das massas de ar intertropicais (quentes) e polares
(frias), sendo estas últimas responsáveis pelo caráter mesotérmico do
clima.
As condições de chuvas e temperaturas têm relação imediata com
as atuações da Massa Tropical Atlântica e da Massa Polar Atlântica. A
Massa Tropical Atlântica é originada no anticiclone semifixo do Atlântico,
que atua ao longo de todo o ano na região Sul. Nos dias de verão, as
condições de tempo sob o domínio desta massa de ar são de dias com
pouca nebulosidade, ventos fracos, umidade relativa do ar máxima
durante o período matutino, diminuindo relativamente durante a tarde. A
amplitude térmica varia entre 22°C e 30°C. Freqüentemente forma
nebulosidade e chuva rápida, os chamados aguaceiros (Monteiro, 1995).
Outra massa de ar que atua na região sul é a Massa Tropical
Continental, caracterizada por possuir baixa umidade, altas temperaturas
(superiores entre 22°C e 33°C), ventos de pouca intensidade e por
dificultar a formação de nuvens.
A terceira massa de ar que atua principalmente no verão é a Massa
Equatorial Continental (mEc), caracterizada pela alta porcentagem de
umidade do ar e a intensa formação de nuvens, trazendo chuvas fortes e
trovoadas. É a responsável pelos elevados níveis de pluviosidade
registrados nessa estação, no litoral catarinense (Monteiro, 1995).
Além dessas massas, que fazem parte da circulação normal,
existem sistemas de baixa pressão, que atuam, sobretudo, no verão. São
zonas de convergência de ventos úmidos, que trazem chuvas. A região Sul
sofre influência da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). As
ZCAS correspondem às linhas de instabilidade tropicais (IT), formam uma
longa e larga faixa de nebulosidade, orientada de NW/SE, que se estende
desde o sul da Amazônia até o centro do Atlântico Sul. São comuns no
verão, trazendo chuvas no fim da tarde, as chamadas chuvas de verão
(MONTEIRO, 1995).
3.4 COBERTURA VEGETAL
Segundo Klein (1978), nas áreas de sedimentação marinha e
terrestre, como a planície quaternária, encontramos uma floresta bem
característica, adaptada às condições edáficas destas planícies úmidas: a
Floresta Tropical das planícies quaternárias.
Nesses locais de água doce, como lagoas, lagoinhas, beira de rios
da zona litorânea aparecem espécies vegetais de influência flúvio-lacustre,
adaptadas às condições de excesso de água. (REITZ, 1961, p. 47).
No entorno da Lagoa de Imaruí, podemos encontrar os dois tipos
de mata representantes da Floresta tropical das planícies quaternárias do
Sul.
Na planície da lagoa, ou seja, na área que se mantém sazonal ou
permanentemente
encharcada,
encontramos
um
tipo
de
vegetação
característica de solos úmidos. A maior quantidade dessa vegetação,
(NEMAR, 1993), pode ser encontrada nas proximidades e áreas de
influência dos rios (Figura 8) que deságuam no complexo lagunar em
decorrência do aporte de água doce, e também do grande volume de
sedimentos trazidos através dos cursos d água.
Como exemplos desses indivíduos podemos citar o ipê amarelo
(Tabebuia umbellata), a figueira de folha miúda (Ficus orgamensis), o
araçazeiro (Marlierea parviflora) e os guaramirins (Myrcia dichrophyla e
Myrcia glabra), considerados as espécies que caracterizam esta mata.
LAGOA DE IMARUÍ
Figura 8: Vegetação de influência flúvio-lacustre. Rio das Garças, Imaruí, SC.
Nas áreas mais secas, chamadas planícies de solos enxutos,
encontramos uma floresta que se torna mais densa e mais exuberante
que a encontrada nas planícies úmidas. Dentre as árvores que se
destacam estão o baguaçu (Talauma ovata) e a peroba vermelha
(Aspidodperma olivaceum)( REITZ, 1961).
Em direção às encostas essa mata se torna mais densa, devido às
condições edáficas e climáticas.
4 CARACTERIZAÇÃO DOS AMBIENTES QUE COMPÕEM O ENTORNO
DO COMPLEXO LAGUNAR SANTO ANTÔNIO DOS ANJOS DA LAGUNA
O Complexo Lagunar está situado na Planície Costeira de Santa
Catarina, que é composta de depósitos eólicos (de diversas gerações),
depósitos
turfáceos,
depósitos
deltáicos
intralagunares,
depósitos
lagunares e cordões litorâneos de diversas idades (CARUSO, 1993). A
seguir, a descrição das feições analisadas no mapeamento geomorfológico
do entorno do corpo lagunar:
4.1 SERRAS DO LESTE CATARINENSE (Ambiente de elevações cristalinas)
Dispostas em meio à planície litorânea, constituíam, no passado,
ilhas que hoje estão ligadas ao continente através dos processos de
sedimentação marinha (SANTA CATARINA, 1986).
Esta unidade é intensamente dissecada pelo sistema de drenagem, que
por
sua
vez,
é
controlado
estruturalmente
pelas
fraturas
do
embasamento. Dessa forma, o relevo se apresenta caracterizado por
encostas íngremes e vales profundos.
Na área de estudo esta unidade geomorfológica está estruturada sobre
duas unidades geológicas distintas:
a) Granitóide Pedras Grandes: encontrados na área de estudo
nas pontas, nos costões, aflorando em meio aos depósitos quaternários e
terciários e entre as lagoas de Santo Antônio e Imaruí (Figura 9). Segundo
Caruso (1995), são rochas graníticas de coloração rósea constituídas por
minerais como o quartzo, plagiolásio, feldspato potássico e a biotita.
Figura 9: Morro Grande, constituído pelo Granitóide Pedras Grandes
depois da Ponta de Cabeçudas, sentido Norte-Sul
Fonte: Foto Mari Angela Machado
Vista
b) Granito Serra do Tabuleiro: situado a oeste das lagoas, esta
feição
geológica
apresenta
rochas
mesoscopicamente
homogêneas,
equigranulares grossas a médias. Os principais minerais são feldspato
alcalino, quartzo e plagioclásio
Figura 10: Granito Serra do Tabuleiro. Na área molhada identifica-se melhor a
boa cristalização dos feldspatos.
Fonte: Foto Maria Paula Casagrande Marimon
4.2 UNIDADE COLUVIAL
Consistem em depósitos de base de encosta gerados pelo
transporte de materiais, através de processos gravitacionais e aluviais.
Apresentam-se na forma de rampas e devem sua geomorfologia aos
vários pontos de afluxo de sedimentos que favorecem a coalescência dos
leques, e também ao efeito de retrabalhamento e erosão posteriores.
Estes ambientes colúvio-aluvionares fazem parte do Sistema
Deposicional Continental. Trata-se de depósitos inconsolidados e mal
classificados, sendo constituídos por cascalhos, seixos, areias e argilas
(CARUSO, 1995). Esse material é normalmente de origem continental, às
vezes com contribuição fluvial, compostos por areias de granulometria
grosseira, com seixos esparsos e matriz síltico-argilosa. Em muitos locais,
esses depósitos de encostas aparecem interdigitados com terraços
marinhos pleistocênicos (CARUSO, 1993).
4.3 DEPÓSITOS FLUVIO-DELTALAGUNARES
Relacionados aos rios que deságuam nos corpos lagunares atuais,
são encontrados próximo aos canais de drenagem, como nos cursos do rio
Aratingaúba (Imaruí, SC), Tubarão e em suas desembocaduras.
Composto por areias síltico-argilosas, silte e argilas com restos orgânicos
vegetais (CARUSO, 1993), este depósito é formado por fácies fluviais,
deltáicas e lagunares interdigitadas, no tempo, entre si.
Na área de estudo o depósito mais expressivo é o do delta intra-lagunar
do Rio Tubarão (Figura 11), que desemboca na Lagoa de Santo Antônio,
no Município de Laguna, aportando seus sedimentos fluviais ao ambiente
lagunar.
Figura 11: Delta do Rio Tubarão, na cidade de Laguna, SC
O Rio Tubarão foi retificado em 1978, na figura 11 podemos observar os
meandros abandonados na planície de inundação.
4.4 PLANÍCIE LACUSTRE
A Planície Lacustre é a zona de influência do corpo lagunar que,
com o decorrer do tempo tende ao ressecamento, em função da regressão
do nível marinho e da deposição de sedimentos. Freqüentemente
encontra-se interdigitada com sedimentos de origem marinha e fluvial.
Caracteriza-se pela exposição e inundação dos sedimentos do substrato
lacustre, pelo rebaixamento ou aumento do nível do corpo lagunar
(SUGUIO, 1998). A figura 12 mostra a planície da Lagoa do Imaruí. Entre
as localidades de Pescaria Brava e Laranjeiras, em Laguna.
Figura 12: Planície Lagunar da lagoa do Imaruí
Fonte: Foto Maria Paula Casagrande Marimon
4.5 TERRAÇO LAGUNAR PLEISTOCÊNICO
Esta feição foi esculpida durante os estágios de regressão e
transgressão marinha. Caruso (1995) classifica essa unidade como fácies
eólica/praial marinha, no entanto, nas fotografias aéreas de 1964,
utilizadas para a confecção do mapa presente neste trabalho, é possível
observar a distinção do padrão de deposição (Figura 13) entre a feição
considerada no presente trabalho como sendo Terraço Lagunar e as que
consideramos
depósito
marinho/eólico
(provavelmente
de
idade
Pleistocênica).
Figura 13: Direção das feições deposicionais do terraço lagunar e do terraço
marinho/eólico, localizado próximo à foz do Rio Tubarão, Município de
Laguna, SC.
4.6 TERRAÇO MARINHO PLEISTOCÊNICO
Proveniente de um momento de nível do mar mais alto, as feições
mapeadas são depósitos que se encontram em cotas acima da planície
marinha atual. Segundo Caruso (1995) esta feição está relacionada com o
Sistema III e constituem corpos arenosos de proveniência eólica e praial.
Ainda segundo Caruso (1995), as características desses depósitos lhe
atribuem idade aproximada de 120.000 anos, estando relacionados ao
evento interglacial desse Sistema.
Na área de estudo, segundo boletins de furo de sondagem, os
terraços pleistocênicos estão, aproximadamente, em cotas 6 metros acima
do nível do mar.
Os depósitos estão em um estágio onde é possível observar grande
processo de retrabalhamento pelo vento tendo, sendo, em alguns pontos,
recobertos por expressivo campo de dunas fósseis.
4.7 DEPÓSITO ARENOSO PLEISTOCÊNICO
Este depósito, encontrado nas proximidades da localidade de
Perrixil, está relacionado ao final da regressão holocênica, evento
regressivo
subseqüente
ao
máximo
da
transgressão
holocênica
(5.150 anos A.P.) Este evento é responsável pelo sistema ilha/barreira IV,
segundo Caruso (1995). Na área de estudo esta feição tem suas bordas
laterais envolta em depósitos mais finos, provenientes da atual dinâmica
lagunar.
4.8 DEPÓSITO MARINHO HOLOCÊNICO
Provenientes de um momento de nível do mar mais alto, as feições
mapeadas são depósitos que se encontram em cotas acima da planície
marinha atual. Na região entre a Pedra do Frade e a sede municipal de
Laguna é bem clara a percepção das antigas linhas de costa (Figura 14),
representadas pelo alinhamento dessas antigas cristas.
Figura 14: Antigas cristas praiais, na localidade entre Laguna e Pedra do
Frade.
4.9 CAMPOS DE DUNAS MÓVEIS
Os depósitos eólicos mapeados na área encontram-se sob a forma
de dunas móveis parcialmente recobrindo outras dunas fósseis e/ou
depósitos marinhos Holocênicos. São compostos de areias quartzosas
finas a médias, bem arredondadas e selecionadas e de coloração
esbranquiçada. A fonte sedimentar para esses imensos ambientes eólicos
é a plataforma continental interna.
Essas formações podem alcançar, segundo Guerra (1950), de 20 a
30 metros de altura, como no caso das dunas móveis próximas a
Imbituba.
Além da região Sul do Estado, podemos encontrar exemplos destes
depósitos na Ilha de Santa Catarina, como os campos de dunas da Praia
da Joaquina (CARUSO, 1995).
Figura 15: Campo de Dunas de Imbituba
Fonte: Foto de Rodrigo Alex Oderden
4.10 DEPÓSITO MARINHO/EÓLICO SUB ATUAL
Mais antigos que os campos de dunas atuais e que o depósito
praial
atual,
estes
depósitos
foram
retrabalhados
e
encontram-se
parcialmente fixados por vegetação característica de restinga.
4.11 DEPÓSITO MARINHO ATUAL (ATUAL LINHA DE COSTA)
Esta feição é dominada pela hidrodinâmica marinha. É limitada a
leste pela linha de arrebentação e a oeste pelos sedimentos eólicos,
sobrepostos a depósito marinho recente. São depósitos inconsolidados,
compostos por areias quartzosas finas, claras e bem selecionadas.
5 ANÁLISE PALEOAMBIENTAL
A secção da BR-101, sentido norte-sul, considerada neste trabalho,
inicia-se no primeiro ponto do Lote 25 (km 300), junto ao Município de
Imbituba, e termina próximo à localidade de Praia do Sol (km 305,08), na
entrada da Rua Fernando Antônio dos Santos. Esta secção, constituída de
6 furos de sondagem, locados conforme se pode observar na figura 13,
corta, no sentido norte-sul, os cordões arenosos que margeiam, a oeste, a
Lagoa de Imaruí.
Foram analisados seis furos de sondagem profundos, sendo que
foram realizados dois furos em cada estaca, um a leste de BR 101 e outro
a oeste. No entanto, por ser difícil representá-los no espaço, decidiu-se
trabalhar apenas com um furo de cada estaca, totalizando três.
Figura 16: Localização dos pontos de sondagem
Fonte: Google Earth
Foram identificados, através da análise dos sedimentos de cada
perfil, cinco paleoambientes distintos ao longo da secção geológica:
Paleoambiente Marinho com energia, Marinho Raso, Praial, Lagunar e
Lagunar Parálico.
No primeiro perfil da secção (S2), os sedimentos de característica
praial dominam da profundidade de 25,45 m (onde a sondagem alcança o
embasamento) até a profundidade de 11,60 m. Desta altura até 10,90 m
cede lugar a sedimentos que indicam um ambiente com menor dinâmica,
possibilitando a deposição de finos, determinado aqui como ambiente
Lagunar Parálico. Desta medida até 8,90 m ocorre uma mudança na
dinâmica do ambiente, uma provável transgressão marinha, e sedimentos
mais grosseiros passam a indicar um ambiente não mais lagunar, mas
marinho com certa energia. Este ambiente se mostra contínuo até o
próximo perfil, localizado a aproximadamente 2 km de distância, no Km
303,17.
Nesse
perfil,
denominado
SP1,
a
sedimentação
marinha
correspondente a esse ambiente é mais espessa, com uma deposição de 4
m e 20 centímetros, da profundidade de 10,70 m até 6,50 m. Desta altura
até a superfície passa a apresentar sedimentação característica de
ambiente praial. Esta deposição, interrompida pelo ambiente Marinho com
energia,
continua
da
profundidade
10,70
m
até
12
m,
onde
aparentemente encontra o embasamento (ponto onde a sondagem foi
interrompida).
Voltando ao perfil S2, da profundidade de 8,90 m até a superfície
os sedimentos indicam um ambiente de menor energia que o anterior,
configurando um ambiente marinho raso.
O terceiro perfil encontra o embasamento na profundidade de
22 m. Deste ponto, em direção à superfície, até 12 m apresenta
característica de ambiente marinho com certa energia, já que contém
fragmentos de conchas. De 12 a 11 m demonstra que, neste momento o
nível relativo do mar baixou, e neste ponto desenvolveu-se um corpo
lagunar de baixa dinâmica, denominado lagunar parálico. Segue-se uma
possível subida do nível do mar, já que o ambiente passa a ter
característica de fácies praial de 11 a 5 m de profundidade. Deste ponto
até a superfície os sedimentos descritos indicam a presença pretérita de
uma laguna, demonstrando uma descida do nível marinho à época.
Em toda a secção é nítida a percepção da evolução, através das
oscilações do nível marinho, dos ambientes característicos da planície
costeira, quer sejam marinhos, praiais ou lagunares. Analisando-se os três
furos, a partir do S2 (que é o que apresenta o maior número de
ambientes) é possível verificar quatro momentos distintos da evolução
ambiental da área em estudo. Começando com ambiente praial, evoluindo
para ambiente lagunar parálico, ambiente marinho com energia e
ambiente marinho raso. Em dois momentos, pelo menos, é possível inferir
um nível marinho mais alto que o atual, nas profundidades 10,90 m e
8,90 m, momento em que a área onde atualmente corresponde a um
terraço marinho pleistocênico, esteve submersa, dando lugar a deposição
de sedimentos em ambientes marinhos.
Essas informações demonstram a intensa dinâmica ambiental das
planícies costeiras.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Lagoa do Imaruí, localizada entre as áreas municipais de Imaruí
e Imbituba, em Santa Catarina, faz parte do Complexo Lagunar Sul
Catarinense, o maior do Estado. O segmentado corpo lagunar e seu
entorno estão situados na Planície Costeira catarinense, que é resultado e
testemunho das variações do nível do mar ocorridas no Período
Quaternário, no decorrer de importantes variações climáticas mundiais.
Do ponto de vista da geologia e da geomorfologia, a planície
quaternária é constituída por ambientes recentes, inconsolidados e em
constante transformação, caracterizando-se, dessa forma, em áreas
suscetíveis a intensas mudanças. Sendo assim, o planejamento de uso das
zonas costeiras não pode deixar de considerar os fenômenos que deram
origem e que mantém a dinâmica desses ambientes.
O estudo da geomorfologia se mostra de grande importância no
que diz respeito ao diagnóstico dos ambientes para a elaboração do
planejamento e gestão da Zona Costeira. É através desta ciência de
caráter dinâmico que podemos caracterizar os ambientes de uma região e
identificar suas potencialidades, peculiaridades e fragilidades.
Tendo a planície costeira como delimitação da área de estudo, o
mapeamento geomorfológico dividiu a área em fácies geomorfológicas:
- a unidade Serras do Leste Catarinense é representada na área de
estudo pelos morros do entorno do complexo lagunar, estruturados sobre
o Granitóide Pedras Grandes e o Granito Serra do Tabuleiro;
Excluído: .
- as feições mapeadas na Unidade Coluvial se apresentam na forma
de rampas, localizadas na base das encostas dos morros;
- os Depósitos fluvio-deltalagunares estão dispostos próximo ao
curso dos rios e em suas desembocaduras. São formados por fácies
fluviais, deltáicas e lagunares interdigitadas, no tempo, entre si.
- as áreas mapeadas como planície lacustre são regiões que ainda
sofrem influência da dinâmica do nível de água da lagoa. Podem ser
identificadas como área paleolagunar, já que a tendência dos corpos
lagunares é o ressecamento;
- o Terraço Pleistocênico Lagunar faz parte do antigo complexo
lagunar que foi afogado durante o máximo da Transgressão Holocênica;
- o Terraço Marinho Pleistocênico está representado por um cordão
arenoso interno, localizado em cotas acima da atual planície marinha. É
testemunho de um nível marinho mais alto que o atual;
- o Depósito arenoso Pleistocênico é um cordão arenoso construído
pela dinâmica marinha, eólica e lacustre (em um momento de maior
dinâmica);
- as feições mapeadas como Depósitos marinhos de diferentes
idades são depósitos trabalhados e retrabalhados pela dinâmica marinha e
pelos ventos. Alguns já se encontram parcialmente recobertos por
vegetação;
- campos de dunas móveis são feições relacionadas à dinâmica
eólica costeira que deposita e remobiliza esses sedimentos, que têm por
fonte sedimentar principal a plataforma continental contígua.
Complementar a este mapeamento, a análise paleoambiental da
Lagoa do Imaruí, nos mostra a evolução de diversos ambientes na área de
estudo, em função da subida e descida do nível marinho.
A secção geológica foi construída a partir de um número pequeno
de furos de sondagem, no entanto comprovou a vulnerabilidade dos
ecossistemas
costeiros,
mostrando
a
rapidez
da
evolução
dos
paleoambientes da área de estudo.
Tanto o mapeamento geomorfológico do Complexo Lagunar Sul
Catarinense quanto à análise dos paleoambientes da área da Lagoa do
Imaruí foram executados com o intuito de fornecer ferramentas para
auxiliar na preservação e no planejamento do uso do solo da área
específica de estudo, e, como já dito anteriormente, de quaisquer outros
ambientes costeiros de desenvolvimento semelhante.
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