PROPAGAÇÃO DA BANANEIRA Eng. Agr. Edson Shigueaki Nomura 1,Eng. Agr. Eduardo Jun Fuzitani2 Engº Agrº, Pesquisador Científico I, Pólo Regional de Desenvolvimento Sustentável dos Agronegócios do Vale do Ribeira – DDD/Agência Paulista dos Agronegócios (APTA); 2Eng° Agrº e responsável técnico do laboratório BIOVALE – Pólo Regional de Desenvolvimento dos Agronegócios do Vale do Ribeira – DDD/Agência Paulista dos Agronegócios (APTA). Rodovia BR 116, km 460, 11900-000 , C P 122 - Registro/SP Fone: (13) 3856-1656 1 Introdução No Brasil, a banana é cultivada em todos os estados brasileiros, desde a faixa litorânea até os planaltos do interior, o que deixa o Brasil em segundo lugar na produção mundial, atrás apenas da Índia. No Brasil se destacam os Estados da Bahia, São Paulo, Ceará, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Norte como os mais importantes produtores. O aumento do consumo mundial, com a abertura de novos mercados e a maior exigência dos consumidores brasileiros, está indicando um novo rumo a ser tomado pela bananicultura nacional. Na busca de novas áreas de plantio e da renovação de áreas pouco produtivas, a introdução de mudas de bananeira com alta qualidade genética e fitossanitária é fundamental (TRINDADE et al, 2003). A micropropagação é uma técnica de cultura de tecidos muito importante para a multiplicação massal da bananeira, proporcionando uma taxa superior ao método convencional, e na obtenção de material livre de doenças e pragas (SOUZA et al., 1994). Contudo, ainda existem poucos dados sobre o comportamento agronômico de mudas oriundas deste sistema no campo. De acordo com o relato de TEIXEIRA (2000), as mudas micropropagadas destacam-se por serem mais produtivas no primeiro ciclo do que as convencionais. O maior peso dos cachos, associado à precocidade faz com que o rendimento de frutos/ha/ano seja quase sempre superior com o uso de mudas micropropagadas. Recomendações para as Mudas A utilização de mudas de boa qualidade é imprescindível para se ter um bananal produtivo, principalmente relacionado aos aspectos fitossanitários. Diante dessa realidade, o produtor deve observar alguns aspectos relevantes ao adquirir mudas para os novos plantios: a) Vírus – O plantio de mudas com sintomas de virose devem ser evitados. b) Nematóides – Deve-se evitar utilizar mudas de áreas que apresentam bananeiras parasitadas por nematóides, pois uma vez instalado a praga na plantação, dificilmente será possível exterminá-lo. 59 c) Broca das bananeiras - Os cuidados são os mesmos recomendados para os nematóides. d) Mal do panamá – Para cultivares suscetíveis a esta doença (Maçã e Prata), o mais recomendável é plantar mudas de laboratório. Nos demais cultivares, podem utilizar a propagação vegetativa, tomando-se o cuidado com as outras pragas. e) Moko – Evitar o plantio de mudas provenientes de regiões endêmicas do Moko. Para não ter problemas, recomenda-se o plantio de mudas de laboratório. f) Cultivares - Evitar a mistura de cultivares para ter uniformidade na plantação, facilitar a colheita e os tratamentos fitossanitários. g) Produtividade – Dar preferência para cultivares com alta capacidade genética de produção. h) Fatores morfológicos - relação entre comprimento e largura da folha; angulosidade da folha influi na densidade de plantio; curvatura dos frutos, preocupada com a facilidade de embalamento da fruta; quantidade e vigor da emissão rebentos, influindo no desbastes, etc. Tipo de mudas Mudas de laboratório ou micropropagadas A cultura de tecidos e meristemas em bananeiras foi iniciada em 1972, e continua objeto de estudos em laboratórios de pesquisas. A muda produzida por este sistema é conhecida como muda de laboratório, por biotecnologia, por cultivo “in vitro” ou mudas micropropagadas. Podem ocorrer plantas diferentes do cultivar padrão, também conhecido como variação somaclonal ou mutação, que podem aparecer com uma simples diferença na coloração das folhas, cachos aleijados ou até plantas que não produzem o cacho. A principal causa das mutações é o número de vezes que o material foi multiplicado. Recomenda-se não ultrapassar a 5, sendo melhor que seja somente 3. O produtor deve sempre adquirir as mudas de laboratórios credenciados e informar possível porcentagem de plantas mutantes. Para fins de pesquisas, as mutações podem ser determinantes na criação de novos cultivares com características interessantes. Neste sistema não será possível obter mudas livres de vírus, dessa forma, recomenda-se após a seleção do material, fazer um teste serológico para verificar sua sanidade. Para as demais pragas, tem-se absoluta certeza da sua eliminação. A produção de mudas “in vitro” somente pode ser feita em laboratório totalmente asséptico. O ambiente tem que ser o mais estéril possível, sendo necessário que o ar seja filtrado, as capelas com fluxo de ar laminar contínuo, a temperatura controlada, as salas de crescimento dos explantes com luz, temperatura e umidade controlada e uma mão de obra especializada. Resumidamente, a produção de uma muda em laboratório segue as seguintes etapas: 60 a) Retira-se de uma touceira do banco de matrizes, uma muda chifre ou chifrão, cujo peso deve ser de 2 a 3 kg; b) Em seguida retiram-se todas as bainhas mais externas até reduzir seu peso a 50 a 100 g. c) A muda é levada para o laboratório e retiram-se as bainhas na capela com fluxo laminar até se obter uma seção de aproximadamente 5cm de altura e de diâmetro. Este material recebe a primeira desinfecção com solução de hipoclorito de sódio durante 20 minutos, seguido de duas lavagens com água esterilizada durante 5 minutos cada um; d) Posteriormente se reduz o tamanho do material até uns 2 a 3cm, sendo chamado de ápice caulinar ou explante, composto de rizoma e de várias bainhas. Realiza-se a segunda desinfecção com hipoclorito de sódio e duas gotas de um surfactante por 100mLde solução desinfetante. Realizam-se mais duas lavagens de três minutos cada com água esterilizada e procede a redução de tamanho até obter um ápice de aproximadamente 5 mm de altura. e) O explante é submetido a um tratamento antioxidante mediante imersão, durante 10 minutos, em uma solução aquosa estéril de ácido ascórbico (100mL/Lt). Posteriormente, ele é introduzido para adaptação em um frasco de vidro em meio de cultura Murashigue e Skoog (MS) com BAP e 2,4D, previamente autoclavada. f) Os vidros com os explantes serão tampados com um filme transparente e adesivo de PVC e colocados em prateleiras no escuro durante 20 dias, e depois, mais 20 dias sobre iluminação artificial e temperatura controlada. Neste período, o explante adquire coloração verde e aumenta o diâmetro basal. Observam-se os frasco de vidros que apresentam contaminações e fazendo o seu descarte. g) Posteriormente o explante é transferido para o meio de multiplicação contendo o meio MS e BAP. Neste meio ocorrem brotações laterais (3 a 6), com número variável dependendo da variedade. A cada 30 dias faz-se a repicagem ou individualização dessas plântulas por até 5 vezes para evitar as mutações. h) As plântulas formadas são colocadas em meio enraizador, contendo somente o meio MS, para permitir a formação das raízes. i) As plântulas que apresentam a formação de raízes e emissão foliar estão aptas para serem transferidos para bandejas ou canaletas preenchidas com vermiculita. Elas são transferidas para a casa de vegetação, com umidade ao redor de 90% até atingirem cerca de 10 a 15cm e três a quatro folhas. Neste tamanho serão entregues ao produtor. O tempo total compreendido desde o cultivo inicial da gema apical até a obtenção de plantas apropriadas para o transplante varia de 240 a 300 dias. As plantas produzidas “in vitro” crescem em uma ambiente asséptico e quando o produtor retirar as mudas do laboratório deve colocá-las em ambiente protegido ou viveiro telado com até 50% de sombreamento. Faz o plantio em sacos plásticos com 1,0 a 1,5 litros cheios com substrato. Recomenda-se adubar após 30 dias do transplante com adubo nitrogenado. 61 Elas devem ser irrigadas duas a três vezes por semana, observando se não está havendo encharcamento do substrato no fundo do saco. Elas permanecerão nos sacos até que sejam emitidos 4 a 6 pares de folhas normais e com cerca de 40cm de altura. Neste período de aclimatação já é possível identificar as eventuais mutações que devem ser eliminadas. Recomenda-se aclimatar as mudas a céu aberto 10 dias antes do plantio para evitar queima das folhas pela incidência do sol. As mudas produzidas em laboratório são indicadas para plantio em definitivo para produção comercial ou como plantas matrizes de viveiros. A cultura de tecidos oferece grandes possibilidades de multiplicação maciça de um novo cultivar, obtenção de material de alta sanidade e estabelecimento de plantações uniformes com grande vigor, o que não seria possível pelo método da propagação vegetativa. Muda convencional ou por via vegetativa A muda convencional é formada por um rizoma ou parte dele, com um pedaço maior ou menor de pseudocaule. Desse rizoma, uma ou mais gemas (apical ou laterais) irão brotar e cada uma produzirá uma nova bananeira. As mudas de rizoma inteiro quando novas, apresentam suas folhas bem estreitas ou lanceoladas. Isto ocorre porque a planta “mãe” lança toxinas sobre seus filhotes para que não consigam desenvolver sua parte aérea. Apesar disso, o rizoma e o sistema radicular dos filhotes estarão ativamente trabalhando para a nutrição da planta “mãe”. As mudas de rizoma inteiro podem ser obtidas de bananais em produção, desde que comprove sua sanidade. O mais recomendado é retirar do viveiro de mudas, quando o produtor não possui capital para investir em mudas de laboratório. Não é recomendável a retirada desse tipo de muda em bananais que ainda não sofreram a primeira colheita, pois isto provocará tombamento das plantas “mães”, devido aos grandes danos no sistema radicular, deixando-a descalçada. Outro inconveniente é que nos bananais novos, os “filhotes” estão profundos, dificultando a sua extração. As mudas de rizoma inteiro podem ser arrancadas com o enxadão, ou com a chibanca, ou ainda abrindo-se uma vala ao lado da planta “mãe” e com uma vanga reforçada secciona-se o cordão umbilical de cada filhote. Uma vez arrancado o “filhote”, realiza-se a eliminação das raízes com um facão. Isto não causará problemas, pois as raízes danificadas das bananeiras não rebrotam mais depois de cortadas, porém novas raízes serão formadas. Posteriormente, com um facão bem afiado, faz-se um “escalpelamento” (descascamento) do seu rizoma, eliminando todas as partes escuras, tanto na região cortical externa, como no seu cilindro central, as quais podem conter nematóides e/ou broca das bananeiras. Caso o rizoma fique muito pequeno, deve-se descartá-lo. Após o escalpelamento, as folhas lanceoladas devem ser aparadas um pouco abaixo da roseta foliar, de modo a eliminá-la por completo. 62 Conforme o peso das mudas depois de escalpeladas e aparadas, elas recebem as seguintes denominações: chifrinho ou filhote até 1,0 kg; chifre de 1,0 a 2,0kg; chifrão de 2,0 a 3,0kg; muda alta ou replante de 3,0 a 5,0 kg; muda pau de lenha mais de 5,0 kg. Quanto maior o peso da muda de rizoma inteiro, mais rápido será o seu desenvolvimento. Os tipos: chifrão, muda alta ou replante e muda pau de lenha quase sempre dispensam a operação de replantio, pois apresentam poucas falhas. Para o tratamento das mudas de rizoma inteiro recomenda-se mergulhar o rizoma por 3 a 5 minutos em solução a 1% de hipoclorito de sódio. Devese mergulhar as mudas apenas nas primeiras duas horas de preparo da solução, devido às perdas por volatilização. Deve-se efetuar a substituição da solução quando o rizoma não apresentar-se amarelado depois de ter sido mergulhado. - Muda pedaço de rizoma Após aparar as raízes, efetuar o escalpelamento e o tratamento com hipoclorito de sódio, as mudas de rizoma inteiro podem sofrer divisão radial, obtendo-se pedaços com a forma de uma cunha. Deve-se tomar o cuidado para que a gema lateral da brotação mais visível fique no centro da parte externa da cunha. A muda tipo pedaço de rizoma deve ter peso aproximado de: • 0,8 kg quando obtidas de rizomas que ainda não tenham florescido; • 1,2 a 1,5 kg quando obtidas daqueles que já frutificaram. Esses pesos são válidos para mudas de cultivares do subgrupo Cavendish, devendo ser elevados em 30 a 40% para a do subgrupo Prata e Terra. Para esse tipo de muda, é recomendável que se faça a sua ceva. Ceva das mudas: A ceva da muda tipo pedaço de rizoma é a operação pela qual se criam condições para acelerar o crescimento das gemas laterais e haver o desenvolvimento inicial do seu sistema radicular. A ceva apresenta as seguintes vantagens sobre o plantio direto: a) Permite a seleção das melhores mudas; b) Devido ao melhor controle do ambiente e maior assistência prestadas, aumenta o número de mudas aproveitáveis; c) Uniformização dos lotes do bananal; d) Dispensa o replantio pelo menor número de falhas no campo; e) Permite a redução de uma ou duas capinas durante a formação do bananal, pois as mudas cevadas têm o desenvolvimento inicial mais rápido pois já estão emitindo raízes; 63 f) Possibilita o plantio na posição correta, pois se visualiza facilmente o crescimento da gema; Os canteiros de ceva devem ser feitos diretamente no chão e em áreas que não tenham sido plantadas com bananeiras anteriormente. Para evitar o encharcamento das mudas, indica-se escolher locais com pequena declividade. Os canteiros podem ter comprimento variável e a largura não deve ultrapassar 1,20m. Coloca-se as mudas pedaços de rizoma nos canteiros lado a lado. Posteriormente, as mudas serão cobertas com sacos plásticos ou palha para reduzir a desidratação e mantê-las mais aquecidas durante a noite. Sobre os plásticos deve-se colocar proteção para evitar a incidência de luz direta sobre as mudas. Deve-se realizar irrigação uma vez por semana, evitando o encharcamento. Depois de cerca de 2 dias da instalação do canteiro de ceva, as inspeções devem ser feitas semanalmente. As mudas que já estiverem com as gemas intumescidas e com 2 a 4cm de raízes, poderão ser plantadas em sacos plásticos ou diretamente no campo. As demais serão reagrupadas e continuarão no canteiro de ceva. Serão feitas outras três inspeções para retirada das mudas e após esse período, as que sobrarem serão eliminadas, pois são fracas e terão crescimento lento. É prática recomendável e economicamente viável plantar a muda pedaço de rizoma em sacos de plástico. Este método possibilita que se mantenha essa muda por quase 60 dias em condições de ambiente protegido (telado) para dar maior atenção à irrigação, protegê-las de pragas e reduzir despesas com o controle de plantas daninhas na área de campo. Encostar a parte interna central do rizoma em um dos lados do saco, colocando a gema lateral de brotação voltada para o centro do saco. Este cuidado é para orientar o plantador quanto ao sentido de caminhamento da futura “família” quando for realizar seu plantio no campo. A seguir, ela será completamente coberta com substrato. Nas três primeiras semanas de plantio, irrigar somente uma vez por semana, evitando o excesso de água e, conseqüentemente, o apodrecimento das mudas. Quando elas emitirem seus primeiros folíolos, deve-se irrigar de modo a manter o substrato apenas úmido. Quando a muda emitir seu primeiro par de folhas normais, deve-se aumentar o espaçamento entre elas, para facilitar o seu desenvolvimento e evitar o estiolamento. Inicia-se a aplicação de 5 g de sulfato de amônio por muda a cada 20 dias. As mudas deverão ser aclimatadas a céu aberto 10 dias antes do plantio, quando elas já estiverem com cerca de 4 a 6 folhas. É recomendável que elas não sejam irrigadas nas 48 horas que antecedem seu plantio no campo, para evitar que seu torrão de terra se parta e danifique as raízes durante seu transporte. Viveiro de Mudas 64 O produtor, assim como os viveiristas e os laboratórios de biotecnologia devem possuir lotes de bananeiras que será chamado de jardim de matrizes ou banco de matrizes, do qual se retirará o material a ser multiplicado. Podese retirar mudas desse jardim de matrizes para fazer o plantio definitivo. O jardim será formado com mudas meristemáticas ou “in vitro”. Deve ser plantado nas mesmas condições do plantio definitivo, porém as adubações, o controle fitossanitário, o controle das ervas daninhas e irrigação devem ser perfeitamente executados, não necessitando realizar o desbaste. Essas mudas somente serão utilizadas depois de produzir o primeiro cacho, para que haja condições de se avaliar o material e eliminar as eventuais mutações que possam aparecer ou aquelas que apresentem sintomas de vírus. A área do viveiro deverá ter relevo levemente inclinado para evitar eventuais problemas de encharcamento, além de dar preferência àqueles locais que nunca tiveram bananeiras plantadas anteriormente. Revisão Bibliográfica AGRIANUAL 2005. Anuário Estatísitco da Agricultura Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria e Comércio, 2004. SOUZA, A. da S.; CORDEIRO, Z.J.M.; TRINDADE, A.V. Produção de mudas. In: CORDEIRO, Z.J.M. Banana Produção: aspectos técnicos. Brasília:Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 2000. p. 39-46. MOREIRA, R.S. Banana – Teoria e Prática de Cultivo”. 2ª Edição, CD n.º 222, Fundação Cargill, 1999. TEIXEIRA, L.A.J. Bananeira (Musa spp). In: MELETTI, L.M.M. Propagação de frutíferas tropicais. Guaíba: Agropecuária, 2000. p. 105-124. TRINDADE, A.V; LINS, G.ML.; MAIA, I.C.S. Substratos e fungo micorrízico arbuscular em mudas micropropagadas de bananeira na fase de aclimatação. Revista Brasileira de Fruticultura. v. 25 n. 1 Jaboticabal, 2003. SOUZA, A. da S., ZAIDAM, H.A., SOUZA, F.V.D., SILVA, K.M. da, PAZ, O.P. da. Protocolo de micropropagação de bananeira através de ápices caulinares. Cruz das Almas-BA: Embrapa-CNPMF, 1994. 2p. (Banana em Foco, 3). 65