1 A REDE DIOCESANA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: GÊNESE E ESTRUTURA RELIGIOSA CATÓLICA TERRA, Ana Carolina Lobo Terra Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ Graduada em Geografia * Bolsista PIBIC/CNPq Rua Manoel Resende, 102 – Padre - Miguel – Rio de Janeiro/RJ CEP: 21875-060 [email protected] Resumo O geógrafo quando estabelece como objeto central de sua análise a religião, encara-a sob a dimensão espacial. E para realizar sua pesquisa reconstrói teoricamente o papel do sagrado na recriação do espaço, reconhecendo o sagrado não como simples aspecto da paisagem, mas como elemento de produção do espaço. O Estudo da Territorialidade Católica no Estado do Espírito Santo, cerne desta análise geográfica, se configura pela interpretação espacial da gênese e gestão religiosa das dioceses capixabas, reconhecidas como territórios religiosos pela CNBB – Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil –; além de prizar o levantamento e compreensão da rede religiosa que marca a paisagem deste recorte. Uma vez que a Igreja católica visa, com suas estratégias, atender a demanda da fé e manter seu controle acerca de pessoas e coisas torna-se possível, através da leitura da religião, retratar o processo de ocupação e as transformações sócio-espaciais ocorridas no espaço geográfico capixaba. Palavras-chaves: Território Religioso; Territorialidade Religiosa; Espírito Santo; Igreja Católica 2 Abstract When the geographer puts the religion as his main object of analysis, he face it under a spatial dimension. And, to make his research, he teorically reconstructs the sacred type in the space rebuilding, knowing the sacred not only as a simple landscape aspect, but as an element of space production. The Study of the Territoriality Catholic in the State of Espirito Santo, has its main focus in this geographic analysis, configured by the space interpretation of genesis and religious management of the recognized “capixabas” dioceses as religious territories for the CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Brazilian Bishops National Conference) -; besides prioritizing the survey and understanding of the religious net that marks the sight of this clipping. A time that the Catholic Church search for, with its strategies, to take care of the demand of the faith and to keep its control concerning people and things then, becomes possible, through the reading of the religion, to describe accurately the occured process of occupation and social and spatial transformations in the “capixaba” geographic space. Key words: Religious Territory, Religious Territoriality, Espírito Santo, Catholical Church, 3 A religião, que pode ser observada deste o surgimento dos primeiros grupos sociais humanos, objetiva re-ligar o homem (cotidiano, profano) com o divino (sagrado). Através da religião, o homem busca um auxilio sobrenatural para atender suas necessidades cotidianas. Tal prerrogativa justifica a interligação da religião com a economia e a política do lugar. Uma vez que a geografia busca a análise e a compreensão do espaço, será de grande valor o estudo da religião, pois a religião possui características próprias e ocorre, como fenômeno cultural, espacialmente. A geografia da religião almeja buscar a percepção da religião no espaço e anseia por revelar as interações do homem religioso neste mesmo espaço. A geografia da religião apresentou-se com diferentes metodologias e apreciações ao longo da historia da ciência geográfica. A partir das correntes de pensamento presentes na geografia, poderemos entender as diferenças de percepção e de importância dadas para o estudo do fenômeno religioso pelos geógrafos. Os recortes de análise aqui apresentados serão, respectivamente: a escola positivista, a escola crítica e, por fim, a escola humanística. Durante a geografia positivista, o homem era visto somente como um elemento da paisagem na qual ele estava inserido. Os estudos se omitiam de compreender as relações sociais e se caracterizavam pelas análises acerca da relação homem / natureza. Outros fatores presentes nesta corrente positivista que limitavam os estudos em religião derivam da aplicabilidade imediata presente nesta corrente e de sua racionalidade para a explicação dos fenômenos. Uma vez que a religião, na leitura dos geógrafos desta época, não era vista como ciência, não se apresentava interessante ao planejamento e as explicações transcendentais dos fenômenos eram desvalorizadas, a religião não possuía interesse de discussão. Na geografia crítica, teremos a ciência geográfica voltada à análise dos problemas econômicosociais. A religião, tal qual fenômeno cultural, foi tratada com abandono por esta corrente geográfica, o que legitima o entrave dos estudos pertinentes ao espaço da religião nesta época. Como ultimo elo, teremos no aporte da geografia humanística a necessidade de desvelar as sensações vivenciadas pelo homem e pelo grupo social ao qual ele pertence. O homem e seus sentimentos tornam-se o objeto primaz de análise da geografia e os estudos religiosos voltam ao centro da análise e remetem-se ao seguinte questionamento: “Qual a relação entre o homem e seus deuses e como esta pode ser percebida no espaço?”. A partir desta corrente geográfica, datada da década de 1970, a religião se une à geografia e começamos a ter maiores produções dentro desta temática. Vale salientar que a geografia da religião atual, tal qual a sua gênese geografia cultural, baseia-se na percepção humanística. Pontuando o estudo da religião dentro de sua origem, perceberemos que, durante a Geografia Cultural Tradicional (1990 - 1950) a religião é pontuada como um mero estudo quantitativo e, 4 somente com a Nova Geografia Cultural, na década de 80, onde a espacialidade do fenômeno cultural se dá pelo grupo social que o pratica e o espaço é lido como apropriado, vivido, valorizado de forma subjetiva e marcado simbolicamente de forma material ou não, teremos a leitura da religião através das marcas (símbolos) que a mesma apresenta na paisagem. Com os estudos vinculados à Nova Geografia Cultural, Rosendahl (1996) propõe quatro eixos temáticos para o estudo das relações entre Geografia e Religião. São eles: (a) fé, espaço e tempo: difusão e área de abrangência (b) centros de convergência e irradiação, (c) religião, território e territorialidade – aporte metodológico desta pesquisa – e, por fim, (d) espaço e lugar sagrado: vivência, percepção e simbolismo. Cabe evidenciar que na retrospectiva de pesquisa desta geógrafa encontraremos dois marcos de atuação: o primeiro, datado de 1994 a 2000, apresenta trabalhos com a perspectiva do encontro das quatro proposições temáticas apresentadas anteriormente; a partir de 2000, vislumbraremos trabalhos que buscam por novas formas de análise do fenômeno religioso no espaço. Dentre estas, se encontra o estudo das dimensões econômicas, políticas e do lugar oriundas da relação sagrado e profano. Remetendo-nos as proposições apresentadas em 1996, teremos como primeiro tema à relação entre o fenômeno da fé, o espaço e o tempo, tendo assim, a interpretação das adaptações ou integrações de religiões a ambientes estranhos ao longo de dado intervalo histórico. A difusão da fé poderá ser analisada em outras abordagens. Uma vez que dado grupo religioso migra para um novo espaço, poderemos observar a existência das práticas de conquista de território da religião que se desloca com ele. Se observarmos algumas pesquisas apresentadas anteriormente dentro da vertente geografia da religião, será possível evidenciar práticas religiosas para o controle de novos grupos e, conseqüentemente, novos territórios. Visando a geografia com seus fixos e fluxos, observaremos a existência de Centros de Convergência e Irradiação, um possível segundo tema de análise. Nestes santuários, a demonstração de fé ganha à impressão e marca o espaço. Peregrinos de diferentes partes se deslocam para dado fixo (lugar sagrado) dentro de uma periodicidade regular. Nesta relação teremos o envolvimento de espaço, tempo – os lugares sagrados – e fluxos – a peregrinação. As peregrinações são comuns à maioria das religiões e inserem as mesmas dentro de diferentes contextos culturais. No catolicismo, teremos como maiores exemplos de centros de convergência de peregrinos as cidades de Roma, Lourdes e Jerusalém. No Brasil poderemos citar como exemplo de centro de convergência religiosa Nossa Senhora de Nazaré, situada no Estado do Pará. Vale salientar que nas práticas religiosas católicas a peregrinação, diferente das demais religiões, é denominada de romaria. 5 O objetivo dessa pesquisa contempla no eixo temático “Religião, Território e Territorialidade”. Baseando-se na apropriação religiosa de dados segmentos do espaço, poderemos conceber uma análise a partir da base conceitual, visando ressaltar o equilíbrio entre diferentes religiões ou a busca por conquista de um mesmo espaço por cada uma delas. Com estas estratégias de controle de pessoas e coisas, a religião se afirma como instituição e atende a demanda do sagrado. Serão relacionadas às formas de apropriação afetiva e efetiva de desses territórios e as práticas desenvolvidas por dado grupo religioso para a proteção e controle dos mesmos. Tendo em vista a territorialidade católica, teremos a constituição de uma organização articulada com um sistema territorial hierárquico e burocrático. Nos estudos de Sack (1986), a Igreja reconhece dois tipos de territórios: o primeiro se remeterá aos lugares sagrados e edifícios da Igreja. O segundo inclui sua própria estrutura administrativa. Na Igreja Católica Apostólica Romana teremos a divisão de domínio em hierarquias de paróquias – controle local – e dioceses – controle regional. Recai nesta análise e utilizaremos como objeto as dioceses católicas dentro do Estado do Espírito Santo que se configuram como rede e acabam por marcar a paisagem. E, como último elo de análise do papel religioso na geografia, observaremos a existência do espaço e do lugar sagrado. Como apresentado por Rosendahl (1996) “A palavra sagrado significa separação, e definição, sugere sentido de ordem, totalidade e força”. O espaço sagrado será um local imbuído de significação, seja por meio de símbolos, seja por meio de condutas. Caberá ao homem religioso a responsabilidade de diferi-los dos demais, adotando práticas diferentes das apresentadas rotineiramente ao inserir-se nele. A secularidade do lugar atrai para determinado grupo religioso pode ser reconhecida pela manifestação do poder sagrado que ele possui. Cabe ainda evidenciar que cada lugar sagrado terá um conjunto de símbolos e ritos próprios da religião e este será aceito por um grupo religioso específico. Os lugares sagrados refletem a crença do grupo religioso podendo ser numa igreja, numa sinagoga, numa mesquita, num terreiro, num templo budista ou outras religiões. A geografia da religião almeja buscar a percepção da religião no espaço e anseia por revelar as interações do homem religioso neste mesmo espaço. Sua leitura derivará da presença de marcas (símbolos) na construção da paisagem, podendo estas marcas ser percebidas tantos pelos homens religiosos – praticantes e legitimadores desta religião – quanto pelos homens que não a praticam. A partir da apresentação dos estudos pertencentes à geografia da religião e a sua importância no saber geográfico para a compreensão do espaço socialmente construído, apresentaremos, a seguir, o questionamento deste artigo. 6 GÊNESE E ESTRUTURA DA REDE DIOCESANA IMPLANTADA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO A problemática desta explanação geográfica remeter-se-á em apreender como ocorreu a atuação da Igreja Católica na ocupação do espaço geográfico capixaba. Sendo, o objetivo central desta pesquisa, a interpretação da gênese e da estrutura da rede diocesana no Estado do Espírito Santo no ano de 2000. Nesta análise, procura-se dar inteligibilidade às práticas territoriais de implantação e desmembramento de dioceses no controle de seus territórios. Dessa forma, acredita-se que seja possível relacionar as relações sócio-espaciais que ocorreram na região, tais como a criação de fronteiras de povoamento, urbanização em determinadas áreas e densificação demográfica. Pretende-se, portanto, resgatar processo de ocupação do referido território brasileiro e as configurações territoriais que surgiram, procurando relacioná-las com processos sócio-espaciais que ocorreram a fim de entender as estratégias adotadas por esta Instituição Religiosa que priorizam pelo controle de pessoas e coisas e pela supressão de dada demanda de fé. A compreensão da difusão da rede religiosa no Estado apresenta a estratégia territorial da Igreja Católica com uma dinâmica espaço–temporal ao longo do tempo histórico brasileiro. O geógrafo Santos (2002) clarifica esta questão ao afirmar que a organização do espaço geográfico é fruto de uma acumulação desigual de tempo. Torna-se possível perceber neste estudo que os tempos não são iguais para as diferentes dioceses presentes no referido recorte geográfico. Neste contexto, uma vez que a religião se firma pela política e economia presentes em cada espaço, a difusão da fé católica é apresentada mediante a elaboração de tempos de difusão, os quais permitem desvendar a lógica de distribuição espacial das dioceses no Estado do Espírito Santo. A Igreja Católica Apostólica Romana caracteriza-se por ser uma organização complexa que desenvolveu exemplos notáveis do uso da territorialidade em diferentes espaços durante o longo tempo de sua história, até os dias de hoje. Esta territorialidade é reconhecida pelo seu domínio em hierarquias territoriais estruturadas em paróquias, dioceses e arquidioceses. Cada um desses territórios possui um poder central chefiado por um profissional religioso especializado (BOURDIEU, 1987): os sacerdotes têm jurisdição sobre as paróquias, os bispos sobre suas dioceses, os arcebispos sobre as arquidioceses e o Papa, em Roma, exerce o poder central desse poder religioso. Segundo o geógrafo Sack (1986:93), 7 “a igreja possui duas naturezas. A primeira constitui um sistema abstrato de fé e de doutrina, originando a Igreja invisível; a segunda refere-se às instituições sociais da Igreja. Compreende seus membros, funcionários, regulamentos e suas estruturas físicas, definindo a Igreja visível. Edifícios da Igreja, propriedades, lugares sagrados, paróquias e dioceses são lugares separados por limites, dentro dos quais a autoridade e o acesso são controlados, constituindose em territórios”. Os territórios religiosos serão defendidos e respeitados por todos, tendo em sua delimitação práticas individuais e/ou coletivas que o legitimam. Para a análise, serão relacionadas às formas de apropriação afetiva e efetiva de desses territórios e as práticas desenvolvidas pela instituição religiosa para a proteção e controle dos mesmos. A Igreja Católica Apostólica Romana apresenta três níveis hierárquicos, a saber: o primeiro é o Vaticano, funciona como sede oficial da Igreja, sendo responsável pela gestão de decisões administrativas da mesma. O segundo e o terceiro são, respectivamente, as dioceses e as paróquias. A diocese, responsável pelo controle regional, poderá ser compreendida como “território religioso verdadeiramente presente e atuante no processo de regulação e religiosidade católica” (ROSENDAHL, 2005 pp.205). Nesta perspectiva, caberá ao bispo diocesano nomear os párocos ou os administradores paroquiais, cuja missão é evangelizar e governar os católicos circunscritos dentro dos limites dos territórios das paróquias relacionadas. A CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – fragmenta o território brasileiro em Conselhos Episcopais Regionais – CONSER –. Tal medida administrativa torna possível um controle dos fiéis e dos territórios da Igreja. Para o descortinamento das ações territoriais da Igreja, na abordagem geográfica, podemos assimilar as práticas de redes religiosas locais – responsáveis por integrar as paróquias, entre si, e com as dioceses – e, numa escala mais abrangente, teremos as redes religiosas regionais – que interligarão as dioceses de cada CONSER com dioceses de outras regiões e com a Santa Sé. As paróquias, unidade territorial do território diocesano ou arquidiocesano da religião, “é sempre evocada como território principal da vida das comunidades locais” (ROSENDAHL, 2005 pp.204). A paróquia deverá ser retratada como “o território onde se dá o controle do cotidiano, porque ela está na escala de convivência humana – lugar de aproximação entre o local, o regional e o universal” (ROSENDAHL, 2005 pp.204). Desde o século IV, a Igreja Católica introduziu o costume de dividir o território das dioceses em paróquias, mas foi somente a partir do Concílio Ecumênico de Trento (1545 a 1564) que 8 tal costume recebeu respaldo da Santa Sé. Toda paróquia criada é autônoma e a responsabilidade por erigir, suprimir e modificar limites da paróquia são de competência exclusivas do Bispo da Diocese. A Igreja Católica Apostólica Romana se apresenta marcada no território brasileiro desde a colonização do mesmo, sendo a religião oficial do país e tendo seu poder atrelado diretamente ao Estado até a Proclamação da República, em 1889. Neste primeiro recorte temporal, observaremos grandes territórios religiosos controlados por dioceses principais e a existência de muitas prelazias. O Estado do Espírito Santo apresenta-se em seu primeiro marco de controle da instituição católica atrelado a prelazia de São Sebastião do Rio de Janeiro, que foi erigida em 19/07/1575 e tem sua gênese no desmembramento da Diocese de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, localizada em Salvador e denominada diocese primaz do Brasil. Encontraremos no Estado do Espírito Santo à presença de ordens religiosas, especialmente, de jesuítas e franciscanos. Essas ordens foram responsáveis não só pela ação de evangelizar; na ação social criaram escolas e conventos e, na ação econômica, são responsáveis por algumas fazendas que hoje são encontradas no estado. Dadas as transformações sofridas pelo território brasileiro e a autonomia já apresentada pela prelazia de São Sebastião do Rio de Janeiro desde sua implantação, este território passou a ser reconhecido como Diocese de São Sebastião, em 22/11/1676, sendo responsável por assistir, de forma mais efetiva a população religiosa nele instalada. A capitania do Espírito Santo continuava a manter-se no domínio deste território religioso. A implantação de territórios diocesanos manteve-se estagnada no Brasil durante muitos anos, o que dificultava atender a demanda dos fiéis. A partir de diferentes fatores ocorridos ao longo de nossa história foi palatável a mudança desta divisão territorial religiosa. Com a Proclamação da Republica (1889), a separação da Igreja Católica do Estado, a extinção do Regime de Padroado, a filosofia liberal e anticlerical da elite republicana brasileira – aportada no idealismo maçônico –, somadas ao aumento populacional que ocorria no território brasileiro nesta época e a existência de cidades-centrais voltadas a determinadas atividades econômicas, tornou-se interessante a Igreja católica a implantação de novos territórios. Em 1892, teremos o desmembramento da diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro e a criação da Diocese de Niterói, que se tornou responsável pelo já Estado do Espírito Santo. Tal controle religioso ocorreu por pouco tempo, uma vez que a Igreja adotou como estratégia que “cada Estado da República recém-proclamada tinha que ter de imediato, pelo menos uma Diocese que pudesse conduzir os trabalhos pastorais e resolver os negócios eclesiásticos 9 locais, uma vez que cada Estado do País tinha uma realidade diferente” (CARNIELLI: 2005). Logo, teremos em 15/11/1895, o erigir do Bispado do Espírito Santo com a implantação da Diocese do Espírito Santo na cidade portuária de Vitória, capital do referido estado. Em 16 de fevereiro de 1958, é elevada a Arquidiocese e Sede Metropolitana, passando a denominar-se Arquidiocese de Vitória. Tal diocese localiza-se na capital estadual no sudoeste do Espírito Santo. A cidade de Vitória – de origem portuária e responsável por receber mercadoria e escoar toda a produção do Estado e de parte da produção dos Estados de Minhas Gerias e Bahia – apresenta-se na lógica da hierarquia urbana do Estado como centro regional. Para entender a lógica territorial adotada pela Igreja Católica no referido estado brasileiro, a partir da implantação de sua primeira diocese em 1895, teremos no descortinamento da geografia e da história deste espaço a compreensão desta implantação. O Estado do Espírito Santo tem sua configuração socioeconômica fortemente atrelada à presença de imigrantes europeus. Seja na religião – de origem católica pelos grupos –, na cultura geral ou na economia, a imigração alemã, suíça, austríaca e, em maior número, italiana, oriundas de estratégias para o povoamento do referido espaço pelo governo brasileiro, e acabaram por configurara este recorte geográfico. O Estado do Espírito Santo poderá ser lido economicamente por quatro eixos centrais ao longo de diferentes tempos. Primeiramente, teremos pequenas produções agrícolas e a utilização da cidade de Vitória para escoamento de produção através do porto. Com a chegada do grupo imigrante, no século XIX, teremos a produção de café, no sul do Estado, e o início da exploração da madeira, ao norte do Estado. Nas décadas de 1980 e 1990, inicia-se a exploração do mármore no sul do Estado, e esta acaba por marcar a paisagem das cidades desta localização. A partir da criação da ponte sobre o Rio Doce e a descoberta do minério neste espaço, teremos o desenvolvimento do centro-oeste do estado. A população residente no Estado seguiu a lógica das atividades econômicas, tendo iniciado seu povoamento na capital, passando ao norte e ao sul a partir da prática do café e da extração de madeira e acabando por utilizar o centro-oeste com a descoberta da mineração. Tal qual a distribuição populacional, a implantação de territórios diocesanos seguirá a lógica de implantação fundada na hierarquia dos lugares centrais, (CORRÊA, 1997; MELLO, 1999; e RIBEIRO, 2000) uma vez que as dioceses do Estado – Vitória, Cachoeiro do Itapemirim, São Mateus e Colatina, respectivamente – foram fundadas em locais que exerciam centralidade em relação aos demais ao longo do tempo de análise. É interessante vislumbrar que tal implantação ocorreu a partir de um foco inicial ocorrendo, na logística de controle da Igreja, um espraiamento das dioceses. 10 Com o aumento populacional no referido estado, a Igreja Católica decidiu desmembrar a Diocese de Vitória e implantar, no ano de 1958, mais duas dioceses no Estado: a Diocese de Cachoeiro do Itapemirim, localizada ao sul no sub-centro regional Cachoeiro de Itapemirim responsável pela indústria de mármore, e a Diocese de São Mateus, localizada ao norte do Estado no centro local São Mateus produtor de madeira. Por fim, na lógica de implantação da rede diocesana em nosso recorte de análise, temos no ano de 1990, mais um desmembramento da diocese de Vitória que originará a Diocese de Colatina, localizada no centro-norte do Estado no centro local Colatina, que teve seu crescimento a partir da utilização da área para extração de minério. A implantação ocorrida no espaço capixaba poderá ser vislumbrada no mapa “Espírito Santo: Dioceses em 2000 – origem e difusão a partir de Vitória” (anexo). Apresentando a lógica de implantação de territórios religiosos adotadas pela Igreja Católica no Estado do Espírito Santo podemos perceber que tais desmembramentos ocorreram em diferentes tempos, que as cidades escolhidas são pólos de concentração econômica e que tais desmembramentos buscam a maior assistência e controle da população religiosa dentro do tempo de recorte da pesquisa. Vale salientar que a partir de pesquisa empírica realizada foi possível constatar que dado o aumento de outras religiões no limite da diocese de Cachoeiro do Itapemirim e aumento da população ao longo do referido Estado, já existem projetos da Igreja católica para implantação de dioceses nas cidades de Venda Nova do Imigrante – região serrana da cidade de Cachoeiro de Itapemirim –, Guarapari – cidade balneária que serve como pólo turístico do Estado no litoral – e, por fim, Linhares – cidade localizada ao norte do Estado –. Pode-se vislumbrar que a Instituição da Igreja Católica Apostólica Romana, no Brasil, apresenta um processo longo de evangelização que se legitima pelas práticas da instituição e da devoção do homem religioso no lugar que as pratica. 11 ANEXOS 12 REFERÊNCIAS BOURDIEU, P. Gênese e estrutura no campo religioso. In: A economia das trocas simbólicas. 2ª ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1987. CARNIELLI, Pe. A. A. História da Igreja no Estado do Espírito Santo 1553-2000. 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