ELABORANDO O CONCEITO DE TERRITÓRIO COM PROFESSOR DO ENSINO FUNDAMENTAL Francisco Vitorino de Andrade Júnior Francisco Cláudio Soares Júnior RESUMO O artigo apresenta uma pesquisa realizada com um professor de uma escola do Ensino Fundamental do município de Ceará Mirim/RN, que objetivou analisar a conceituação de território na Geografia de um professor do Ensino Fundamental, tendo como referencial teórico-metodológico os estudos realizados em Guetemanova (1989), Vigotski (2000/2000b/2001) e Ferreira (1995a/1995b/2000a/2000b/2009), esta última como principal referencia para a aplicabilidade de conhecimentos acerca da temática em foco. A entrevista semi-estruturada e sessão de estudo reflexivo possibilitou apreender que o conceito de território do professor encontrava-se na categoria de caracterização, conforme apresentado por Ferreira (2007), e após a intervenção ocorreram avanços chegando elaboração do significado do referido conceito, iniciando o processo de desprendimento da conceituação apenas com base nas experiências imediatas, norteadas pela perspectiva da Geografia Tradicional (positivista), Humanista e Cultural (fenomenológica). Palavras-chave: Elaborando, Conceito, Território, Geografia. ÉLABORATION DU CONCEPT DE TERRITOIRE AVEC LE PROFESSEUR DE L’ÉCOLE PRIMAIRE RÉSUMÉ L’article présente une recherche faite avec un professeur d’une école primaire de la commune de Ceará Mirim/RN, elle cherche à analyser la formation du concept de territoire dans la Géographie, ses références théorico-méthodologiques sont les études faits par Guetemanova (1989), Vigotski (2000/2000b/2001) et Ferreira (1995a/1995b/2000a/2000b/2009), ce dernier étant la principale référence pour l’application des connaissances sur le thème en cause. L’entrevue semi-structutré et la séance d’étude réfléxif ont permis d’établir que la conception de territoire du professeur était dans la catégorie de la caractérisation, comme nous montre Ferreira (2007). Après l’intervention il y a eut des progrès concernant l’élaboration de la signification du concept de territoire, mettant en route le processus de détachement de la conceptualisation fondé seulement sur les éxpériences immédiates, guidées par la perspective de la Géographie traditionelle (positiviste), humaniste et culturelle (fenomenologique). Mots-clés: Élaboration; Concept; Territoire; Géographie. 2 ELABORANDO O CONCEITO DE TERRITÓRIO COM PROFESSOR DO ENSINO FUNDAMENTAL Este artigo apresenta um processo de intervenção na elaboração conceitual na área da Geografia. O meu interesse em sistematizar um acerca da formação de conceito, manifestou-se diante de pesquisas realizadas na Pós-graduação (mestrado e doutoramento) em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como, também, na minha atuação como pesquisador colaborador do projeto de pesquisa Geografia escolar, currículo e memória: estudos sobre a formação de professores, vinculado a base de pesquisa Currículo, Saberes e Práticas Educacionais do Departamento de Educação da referida universidade. As pesquisas já desenvolvidas em uma escola pública, junto ao Programam de Pós-graduação em Educação da UFRN, suscita reflexões sobre o processo de formação de conceito com professores dos anos iniciais do ensino fundamental. Na pesquisa realizada no mestrado (2003 a 2005) constatamos que as formas de apropriação de conceitos, ainda, são estabelecidas no espaço escolar por meio das leituras dos livros didáticos que conduzem os professores as apropriações mecânicas desses conhecimentos, essenciais às suas práticas de ensino, em particular, na área da Geografia. Essa constatação permitiu que propuséssemos estabelecer, com os professores no espaço escolar, um processo de intervenção pedagógica no sentido de possibilitar situações socais e deliberadas de aprendizagem conceitual em Geografia, mais especificamente, do conceito de território que permitissem estabelecer um processo de superação de práticas mecanicistas na produção do saber científico. Contextualizando a investigação O trabalho de pesquisa em desenvolvimento (doutoramento) constitui-se em uma proposta de intervenção no processo de elaboração conceitual de território na Geografia com uma professora do 5º ano do ensino fundamental no intuito de possibilita análises acerca da contribuição desse processo para práticas de ensino, em particular, na Geografia. Segundo Guetemanova (1989 p. 31) “o conceito é uma das formas de pensamento abstrato”, dessa maneira ele representa, por meio do pensamento, a 3 materialização de fenômenos, cuja materialidade efetiva-se na realidade objetiva que se concretiza nas relações e propriedades substanciais. Assim, as relações e as propriedades de um conceito constituem-se em indícios que distingue um conceito do outro. Contudo, em virtude das relações estabelecidas entre os conceitos, por meio de suas propriedades, eles podem ser semelhantes, mas representar a materialização de fenômenos diferentes. Entretanto, é a unidade entre as propriedades substanciais que permitem a distinção de um fenômeno á outro, pois essa unidade é que efetivamente constituirá o conceito com todas as suas propriedades necessárias e suficientes, traço distintivo que o diferencia dos outros conceitos. No entanto, um conceito apresenta atributos que além de constituir necessariamente o objeto, também, é indício não distintivo do mesmo objeto, situação que não possibilita a distinção de um conceito á outro, mas é necessário à sua materialização, como de outro conceito. Assim, os conceitos se constituem nas relações do processo de generalização entre os atributos substanciais (necessários) ao seu processo de materialização, mas à esse processo torna-se necessário a distinção, por meio do procedimento comparativo, dos indícios substanciais dos insubstanciais que emergem de forma abundante nos conceitos. Desta forma, faz-se necessário o processo de análise e síntese objetivando a compreensão do fenômeno nas suas relações considerando o primeiro processo como o desmenbramento mental do todo em partes, ou seja, do conceito com todos os indícios substanciais e insubstanciais e, o segundo, processo como a composição mental das relações dos atributos substanciais do conceito em estudo, constituindo o todo. No entanto, esse procedimento de decomposição e composição mental dos indícios insubstanciais e substanciais são precedentes de um processo prático de análises e sínteses. Isso implica em afirma a importância do procedimento lógico que possibilita a reconstrução teórica do processo histórico de um conceito, constituindo a unidade entre esses dois aspectos do processo de elaboração conceptual. A esse respeito, Ferreira (2007, p.57) afirma que: Essa unidade ocorre em virtude do desvelamento do fenômeno requerer a reconstituição do processo histórico de seu desenvolvimento e este só ser viável a medida que a essência do próprio fenômeno torna-se cognoscível. Desse modo, o histórico constitui objeto do pensamento e a apreensão deste em sua objetividade, complexidade e contradições, o conteúdo. 4 Desta forma, o lógico é o processo pelo qual o sujeito, por meio do pensamento, realiza a reconstrução histórica do fenômeno. Contudo, esse processo de conscientização do fenômeno, ou seja, a compreensão das relações que materializam o objeto na sua essência, numa reconstrução histórica da própria teoria do fenômeno com seus atributos essenciais e distintivos, traz necessariamente implicações de modos lógicos essenciais, tais como: a análise, a síntese, a abstração, a generalização, como outros procedimentos, a enumeração, a comparação, a identificação, a definição e a classificação (FERREIRA, 2007). Contudo, no aspecto da lógica o conceito apresenta três (3) características, conforme apresentada na tabela a seguir: 1ª Conteúdo: compreende o conjunto de atributos (propriedades, indícios) substancias de um fenômeno ou classe de fenômenos nele abstraídos e que o diferem de todos os demais fenômenos; 2ª Volume: é a classe de fenômenos generalizada no conceito; 3ª Nexos e Relações: representam a apreensão destes conforme a sua existência objetiva entre os fenômenos. Portanto, as relações estabelecidas entre os aspectos histórico, lógico e psicológico do processo de laboração conceptual se estabelecem no sentido em que, para conhecer um fenômeno na sua essência, faz-se necessário que o sujeito reconstrua, por meio do pensamento, sua história utilizando-se de processos psicológicos, já citados anteriormente, fazendo com que ele abstraia e generalize, num processo lógico de análise e síntese, os atributos substanciais do fenômeno. Vigotski (2000b) destaca que é nesse processo de abstração e generalização, na formação e desenvolvimento de conceitos, a linguagem ganha uma função simbólica, em que as estratégias de pensamento do sujeito para a abstração dos indícios distintivos do fenômeno são realizadas por meio de um pensamento lógico-verbal, atribuindo a palavra um significado abstrato estável. Desta forma, o sujeito não abstrai as propriedades substanciais apenas com base nas suas experiências imediatas e, conseqüentemente, aos objetos concretos da realidade, mas as análises dos atributos distintivos e substanciais do conceito são estabelecidas nas abstrações que são realizadas de maneira que permita se desprender das experiências sensório-perceptual. Isso permite a ele ampliar sua capacidade de análise e síntese, possibilitando generalizações sobre os fenômenos conseqüentemente, entrando em um processo de conscientização da realidade. e, 5 Nesse processo a linguagem exerce um papel fundamental de instrumento mediador, permitindo operações com signos em que o sujeito separa a palavra do objeto que ela representa, exigindo dele ultrapassar os limites da percepção sensorial do mundo circundante, para manipular os objetos mentalmente sem que eles estejam presentes, tornando possível a realização de ações mentais complexas na reconstrução dos conhecimentos e na reelaboração conceptual. Assim, a palavra passa a ser o meio pelo qual todas as funções mentais elementares são orientadas para focalizar a atividade na atenção e abstração de determinados traços por meio de um processo de síntese passando a operar com signos. Vigotski (2000b) em suas pesquisas destaca os conceitos espontâneos e científicos como formas categorizadas de estabelecer análises acerca do processo de formação e desenvolvimento conceptual do sujeito. Considerando que os conceitos espontâneos caracterizam-se por constituir-se na vida cotidiana, por meio das experiências imediatas do sujeito, situação em que possibilita ao indivíduo as abstrações e generalizações de indícios substanciais e insubstanciais, norteado pelo pensamento empírico-perceptível. Situação que provoca uma ausência de consciência acerca dos indícios substâncias e distintivas do conceito, isso porque a sua atenção está voltada para o objeto (materialidade) que o conceito representa (Vigotski, 2000b). No entanto, os conceitos científicos caracteriza-se por possibilitar um sistemas de relações que implica em processos de análises e sínteses por meio de abstrações e generalizações, como já referenciado anteriormente, que são operações mentais que se constituem o processo consciente de internalização dos indícios distintivos e substanciais do conceito cientifico. Desta forma, na ausência de consciêcia dos atributos essenciais que Vigotski (2000b) configura a diferença principal entre os conceitos espontâneos e os conceitos científicos. Portanto, durante as reflexões/discussões realizadas anteriormente, acerca do processo de elaboração coneitual, norteadas pelos estudos realizados em Guetemanova (1989), Ferreira (1995a/1995b/2000a/2000b/2009), Vigotski (2000/2000b/2001), consideramos que os processos de analises, sínteses, generalizações e abstrações são procedimentos lógicos essenciais ao processo de elaboração conceptual. Isso por que são esses processos que possibilitarão a internalização, pelos sujeitos, das propriedades distintivas e essenciais do conceito em estudo, assim como dos seus nexos e relações. Assim, objetivamos com esse trabalho analisar a conceituação de território na Geografia de um professor do Ensino Fundamental com a finalidade de desenvolver 6 análises acerca dos conhecimentos prévios e, após intervenção, de conhecimentos conceituais elaborados. Procedimento metodológico. O processo de intervenção foi realizado com um professor, que neste trabalho será identificado por professor Alberto, que atua no 5º ano do Ensino fundamental em uma escola pública municipal na zona rural da cidade de Ceará Mirim/RN. Ele tem treze (13) anos e cinco (05) meses de experiência como docente, é graduado em Pedagogia pela UFRN/PRÓBÁSICA, tem pós-graduação em Matemática/Física cursado em uma universidade particular, participou de cursos de formação continuada, tais como: Pró-letramento, Programa de Formação de Alfabetizadores (PROFA), PCN em ação – esses realizados numa parceria entre Secretaria Municipal de Educação e Ministério da Educação (MEC) – e do curso de inclusão oferecido pela Secretaria Municipal de Educação. Analisar o processo de elaboração conceptual de sujeitos, sejam crianças, sejam adultos, faz-se necessário estabelecer categorias que possibilitem a compreensão do processo em toda sua complexidade. A esse respeito, Ferreira (2007, p62) destaca que: [...] a análise requer categorias que englobem o processo em sua totalidade, indicando características dos diferentes estágios da formação de conceitos [...]. Como os conceitos são designados frequentemente, através da expressão verbal, torna-se possível observar seu processo de elaboração, suas conexões e configurações, como, também, a variabilidade de relações que eles estabelecem entre si, sem sacrificar suas singularidades e especificidades próprias, nem os isolar. Isso só poderá se efetivar mediado pela linguagem, pois a conceituação, mesmo nas formas mais elementares, só poderá se expressar por intermédio dessa mediação. Os referenciais teórico-metodológicos, que norteiam a pesquisa, direcionam o processo de construção e análises dos dados no percurso da construção do objeto em estudo. Assim, com a finalidade de abarcar a complexidade do fenômeno da elaboração conceitual de território na Geografia estabelecemos uma sistemática na construção de categorias para o processo de construção dos dados. A apreensão da conceitualização, já internalizada, de um sujeito só pode ser efetivada por meio da linguagem, seja oral, seja escrita. Assim, os conhecimentos prévios, como os construídos após a intervenção com o professor, acerca do conceito de território na Geografia, serão analisados com base nas categorias apresentadas a seguir (FERREIRA, 2007): 7 Descrição: é quando o sujeito enumera os atributos descrevendo-os com base nas propriedades externas do fenômeno, incluindo os indícios destintivos e não destintivos, como os substanciais e não substanciais abstraídos e generalizados por meio das experiências imediatas. O conteúdo predomina sobre o volume; Caracterização: quando o sujeito abstrai alguns indícios distintivos e substanciais do fenômeno, mas ainda estão presente o processo de numeração de atributos não distintivos, isso em virtude dessas abstrações, ainda, depreender-se de elementos perceptíveis, com grau de generalidade amplo em virtude do volume não predominar sobre as particularidade, ou seja, sobre o conteúdo do fenômeno; Definição: procedimento lógico que expressa o conteúdo do fenômeno ou seu significado. O sujeito abstrai os indícios substanciais e distintivos, porém ainda permeiam relações com alguns indícios não distintivos do fenômeno. Situação que implica em uma ambigüidade do volume entre o conceito definido e conceito definidor; Conceituação: é o grau mais elevado de conceituação de um fenômeno, onde o sujeito abstrai todos os indícios substanciais e distintivos do fenômeno com seus nexos e relações necessárias a compreensão da sua essência, contemplando as singularidade, particularidades e a universalidade do conceito, ou seja, o conteúdo e volume. Com a finalidade de construir dados sobre os conhecimentos prévios do professor acerca de conhecimentos sobre a conceitualização de território na Geografia realizamos uma entrevista semi-estruturada, gravada em MP3, de forma individual com o professor em um local previamente definido, que não foi a escola em virtude da localização. Assim, decidimos que a entrevista se desenvolveria na residência do professor em horário e dia previamente definido. Esse procedimento de pesquisa, em particular, da entrevista semi-estruturada, permite que os sujeitos o possam conduzir de forma mais aprofundada destacando aspectos relevantes acerca do objeto de investigação. Considerando que não emprega técnica que utiliza-se de questões fechadas, como empregado em procedimentos de pesquisa que utiliza-se de entrevistas estruturas ou questionários, ou seja, a entrevista semi-estruturada [...] procura saber que, como e porque algo ocorre, em lugar de determinar a freqüência de certas ocorrências, nas quais o pesquisador acredita ( RICHARDSON, 1999 p. 208). Ibiapina (2008) destaca que a entrevista deve ser considerada como fator importante, tanto para o pesquisador como para o entrevistado, isso em virtude dessa técnica possibilitar a conversação e escuta entre ambos, como amenizar as influências 8 institucionais, a expressão de idéias antagônicas, ou posições divergentes. Este procedimento de construção dos dados, acerca dos conhecimentos prévios, do foi realizado em dia e sala previamente escolhido com o professor, no intuito de evitar interrupções que por ventura viessem a contribuir com ações de desatenção e, com isso, prejudicar o processo de construção dos dados de forma mais confiável possível. Diante disso, foi realizada com o professor uma entrevista com questões semiestruturadas que se tratava, inicialmente, acerca de informações profissionais, já apresentadas anteriormente, posteriormente solicitei que o prof. Alberto respondesse algumas questões a respeito do conceito em foco: - Pesquisador: “Prof. Alberto pra você o que é território?”. - Professor Aberto: “Toda parte habitada, transformada e administrada pelo homem e a ação da natureza”. - Pesquisador: “Prof.Alberto, por favor, exemplifique?”. - Prof. Alberto: “País governado por uma pessoa que através de sua administração mudaria o território”. Para a aprendizagem das propriedades necessárias e suficientes do conceito de território, como já afirmado anteriormente, foi realizado uma sessão de estudo reflexivo. O processo de reflexão crítica implica em construir um contexto que permita aos sujeitos inseridos nesse processo situações volitivas que buscam uma reconstrução de sua identidade enquanto profissional e ser cognoscitivo, com a finalidade de permitir que esses profissionais colaborem com a sua profissionalização e do outro. Nesse sentido, a sessão de estudo reflexivo é um procedimento que possibilita o processo de socialização e elaboração de conhecimentos com o intuito de efetivar a reelaboração dos saberes prévios do professor. Assim, esse procedimento permite o compartilhar de concepções, análises e significados, entre outros fatores que se materializam as compreensões dos sujeitos acerca de fenômenos que se materializam na realidade objetiva, nesse caso em particular o território. Na Sessão de Estudo Reflexivo se fez necessário estabelecer com o professor leitura de um texto acerca do conceito de território no intuito de que ele apreendesse as propriedades distintivas para a conceitualização científica de território. Desta forma, a sessão de estudo reflexivo foi o momento em que os sujeitos, envolvidos neste trabalho, tiveram a oportunidade de reelaborar conhecimentos acerca do conceito em estudo. As práticas dialógicas, estabelecidas na Sessão de Estudo Reflexivo, possibilitam a elaboração de conhecimentos que não tenham como base apenas os aspectos empírico- 9 perceptível.É esse procedimento que permiti o processo de apreensão, pelos sujeitos, por meio de procedimentos lógicos dos atributos singulares e distintivos do conceito em estudo, descritos a seguir (FERREIRA, no prelo): Território é o lócus de relações sociais engendradas por uma gestão de poder materializada numa delimitação física em um dado espaço/tempo; Procedimentos lógicos: - Distinguir os atributos necessários e essenciais que expressam as relações de singularidade (gestão de poder), particularidade (delimitação física) e generalidade (espaço/tempo e relações sociais); - Elaborar o enunciado do conceito em estudo com base nos seus atributos essenciais e distintivos. Ferreira (no prelo), também, destaca que o processo de ensino-aprendizagem conceitual se estabelece por meio de dois estágios: exploração e sistematização. O primeiro estágio, de exploração, diz respeito a situações de aprendizagens que possibilitem aos sujeitos a efetivação de reações afetivas positivas, da ampliação do repertório sensório-perceptível acerca do fenômeno em estudo, como dos processos e procedimentos utilizados no processo de ensino-aprendizagem da elaboração conceitual. O segundo estágio, de sistematização, possibilita aos sujeitos o desenvolvimento das capacidades psicofísicas, cognitivas e sócio-afetivas, além de fazer com que ele se desprenda das bases sensório-perceptíveis a generalização do conceito, como apreensão dos nexos e relações permitindo assim a utilização dos conceitos apreendidos na resolução de problemas. Desta forma, considerando que o trabalho foi desenvolvido com adulto, os procedimentos metodológicos propostos, neste trabalho de intervenção na elaboração conceitual para possibilitar a aprendizagem da conceituação em estágio de sistematização foi a Sessão de Estudo Reflexivo acerca do conceito de território na Geografia. Reelaborando o conceito de território. Os extraits a seguir, já apresentados anteriormente, evidenciam que o professor caracteriza o fenômeno território preso aos atributos que explicitam suas características concretas, tais como: toda parte habitada, transformada e administrada pelo homem[...]. Essas dimensões estão relacionadas aos elementos do campo perceptível (habitada, transformada e administrada) do referido conceito. Para isso, o prof. Alberto tomou como parâmetro de atribuição da sua caracterização, suas experiências concretas 10 que os fizeram isolar propriedade do conceito propriamente dito, mas não as distinguiram das suas experiências imediatas. A esse respeito, Ferreira (2007) destaca que a caracterização é quando o sujeito abstrai alguns indícios distintivos e substanciais do fenômeno, mas ainda está presente o processo de numeração de atributos não distintivos, isso em virtude dessas abstrações, ainda, depreender-se de elementos perceptíveis, com grau de generalidade amplo em virtude do volume não predominar sobre as particularidade, ou seja, sobre o conteúdo do fenômeno. Isso fica mais evidente no extrait seguinte: - Pesquisador: “Prof.Alberto, por favor, exemplifique?”. - Prof. Alberto: “País governado por uma pessoa que através de sua administração mudaria o território”. Esse extrait expressa que o prof. Alberto relaciona o território a um lugar de moradia dos homens (toda parte habitada) que expressa influencia da Geografia Humanista e Cultural, norteadas pelos princípios filosóficos da Fenomenologia que compreende o fenômeno em estudo como um espaço em que o homem habita, escamoteando as relações de poderes, além de, também, compreender como uma espacialidade moldada pelo poder do Estado-Nação, permeando idéias que evidenciam a influência da Geografia Tradicional, norteada pelos princípios filosóficos do positivismo que se utiliza de uma linguagem empírica, condicionando a conceitualização de território a demarcação física, controlada pelo poder do EstadoNação e representada cartograficamente pelos mapas que é evidenciado, pelo prof. Alberto, nas propriedades não-distintivos, tais como: país governado por uma pessoa, administração. Face essas constatações iniciamos o processo de de (re)conceitualização mediada pela Sessão de Estudo Reflexivo A Sessão de Estudo Reflexivo foi realizada com o prof. Alberto após ele ter efetivado, no dia anterior, a leitura de um texto (ANDRADE, 2005 p.88/93) norteador que trata de discussões sobre território como fenômeno que se materializa na realidade objetiva. Enfatizando as relações que expressam as propriedades substanciais e dinstintivas (gestão de poder, delimitação física e espaço/tempo) do conceito em foco. Após a realização da sessão de estudo reflexivo, com tempo estimado de 1h e 30 minutos, foi questionado ao professor: - Pesquisador Alberto: “Pra você o que é um território?”. 11 - Prof. Alberto: “É um processo de poder delimitado por um determinado grupo social para demarcar um território ocupado num momento propício dos seus interesses”. O extait evidencia que o significado de território do prof. Alberto já abstrai propriedades distintivas (poder, delimitado), mas ainda expressa caracterizando outras propriedades substanciais e distintivas de território, tais como: É um processo de poder (relações de poder), delimitado, demarcar um território (delimitação física), momento propício dos seus interesses (espaço/tempo). Assim, o prof. Alberto efetua seu enunciado com base em propriedades substanciais e distintintivas do fenômeno, mas expressa essas propriedades caracterizando-as, sem destacar os atributos que indiquem as relações inerentes a conceitução, isto é, a relação que estabelece a unidade entre o geral o particular e o singular. A conceituação é o estágio mais elevado de significação de um fenômeno, onde o sujeito abstrai todos os indícios substanciais e distintivos, seus nexos e relações necessárias a compreensão da sua essência, contemplando as singularidade, particularidade e a universalidade do conceito, ou seja, o conteúdo e volume (FERREIRA, 2007). Porém, o prof.Alberto apesar de expressa alguns aspectos abstratos e generalizantes do conceito, desprendendo-se das relações que se estabelecem por meio do sensório-perceptível, efetivamente seu enunciado não está significando o que é território e sim como ocorre o processo de territorialização. Ressalto, ainda, que o processo de intervenção realizado com esse profissional permitiu avanços qualitativos que possibilitou estabelecer o início do processo de superação da sua elaboração conceitual à luz das perspectivas positivista na Geografia Tradicional, conforme apresentada nas análises dos conhecimentos prévios. Face ao exposto, destacamos a importância de estabelecer com os profissionais da educação, responsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem de conceitos nas diversas áreas de conhecimentos, um processo de intervenção, por meio de práticas críticas reflexivas, na reelaboração desses saberes e práticas para sistematizar um processo de formação e desenvolvimento integral desses profissionais no espaço escolar de forma que possibilitem mediações pedagógicas capazes de conduzir os alunos a elaboração de seus conhecimentos e consequentemente ao desenvolvimento de suas capacidades psíquicas, em particular, o pensamento teórico. 12 Referências ANDRADE JÚNIOR, Francisco Vitorino. A (re)significação conceptual nas práticas colaborativas com professores do Ensino Fundamental. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005. 177 p. FERREIRA, Maria Salonilde e SOARES Jr., Francisco Cláudio. Formação de conceitos e interação em sala de aula. 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(Série pesquisa). RICHARDSON. Roberto Jarry. Pesquisa social, métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1998.