8 Alternativo O Estado do Maranhão - São Luís, 7 de março de 2012 - quarta-feira “Antes eu estava preocupado em ganhar dinheiro, agora multipliquei o potencial do meu talento” José Mayer, ator Hoje é dia de... Elis Artes plásticas O cantor Gabriel Melônio faz show dia 23, no Teatro Arthur Azevedo, em memória da cantora Elis Regina que morreu há 30 anos. A apresentação, às 21h, será marcada por grandes sucessos que marcaram a carreira da “Pimentinha”. Os ingressos estão à venda na bilheteria do teatro: platéia e frisa R$30,00, camarote e balcão R$20,00 e galeria, R$15,00. O artista plástico Rogério Martins ministrará a partir da próxima semana um curso de pintura em tela. Nas aulas, serão ensinadas técnicas de desenho, perspectiva, luz e sombra entre outras técnicas de pintura. As matrículas estão abertas e as aulas serão no Bianco Studio de Artes (São Francisco). Informações: 3083-3345. Lenda, Legenda Jomar Moraes N o verbete “lenda” de seu prestante “Dicionário do folclore brasileiro”, Luís da Câmara Cascudo, seguindo o que mais autorizadamente vem sendo ensinado, diz que as lendas possuem “características de fixação geográfica e pequena deformação”, ligando-se “a um local, como processo etiológico de informação, ou à vida de um herói, sendo parte e não todo biográfico ou temático.” É, por outras palavras, o mesmo que afirma Jean-Pierre Bayard: “A lenda é um conto no qual a ação maravilhosa se localiza com exatidão; os personagens são precisos e definidos. As ações se fundamentam em fatos históricos conhecidos e tudo parece se desenrolar de maneira positiva. Frequentemente a história é deformada pela imaginação popular.” Tomando ainda de Bayard a assertiva de que a lenda abole o mal, facilmente verificaremos as múltiplas funções por ela exercidas entre as comunidades onde surgem e persistem, revestidas de cor local e sempre abertas às naturais contribuições que operam o milagre de insuflar-lhes vida e permanência através de sucessivas gerações. Impõe-se, aqui, um esclarecimento acerca de como está sendo empregada, a expressão “vida e permanência”. Queremos, com ela, fazer lembrado certo grau de frequência reiterativa nas remembranças populares, não importando que a ação de que tratam as lendas seja, muitas vezes, coisa do passado. Ou melhor – em inúme- ros casos a ação é totalmente pretérita, visto que a lenda fixa um fato que se passou e não mais voltará a ocorrer, a exemplo da lenda da profecia da cigana, localizada no vale do Mearim. Enquanto a lenda vive e permanece inobstante diga respeito a um passado absolutamen- altura do exame dessa questão atinge-se uma zona muito propícia a dúvidas e indefinições. Mestre Câmara Cascudo, no já referido verbete de seu “Dicionário do folclore brasileiro”, parece lançar uma luz suficientemente aclaradora das dúvidas que o problema apresenta, ao As ações se fundamentam em fatos históricos conhecidos e tudo parece se desenrolar de maneira positiva te remoto, o mito possui sua vida e sua permanência sob o ponto de vista da atualidade da ação que exerce e representa. E aí estaria uma fundamental diferença entre lenda e mito, cuja distinção tem sido objeto de longas discussões teóricas. Mas hoje a questão parece mais ou menos superada diante do entendimento de que lenda e mito têm dois planos de vida e permanência distintos, consoante se tentou demonstrar. Outro dado a considerar consiste na circunstância de que geralmente o mito é individualizado, embora somente por esse ângulo seja difícil estabelecer a diferença entre lenda e mito. Diferença – é preciso que fique logo bem claro – que não constitui nossa preocupação maior. Afinal de contas, é preciso reconhecer que a certa afirmar que a lenda “É independente da psicologia coletiva ambiental, acompanhando, numa fórmula de adaptação, seus movimentos ascensionais, estáticos ou modificados. Muito confundido [sic] com o mito, dele se distancia pela função e confronto. O mito pode ser um sistema de lendas gravitando ao redor de um tema central, com área geográfica mais ampla e sem exigências de fixação no tempo e no espaço. A lenda da Mãe-d’Água, a lenda de Santo Antônio, a lenda do Barba Ruiva evidenciam, no seu próprio enunciado, as diferenciações do mito de Perseu, do mito de Licaon, do mito do Velocino de Ouro.” Curioso é observar o percurso, muitas vezes longo, que as lendas fazem, como ocorreu no Nordeste brasileiro, para onde foi transplanta- do todo um ciclo de lendas medievais que ali se enraizaram e se desenvolveram como se originariamente pertencessem a esse meio cultural. Para isso precisaram passar por todas as fases do processo de fixação geográfica incorporando elementos locais, adaptando aspectos originários, até atingir, sob o ponto de vista conteudístico, uma configuração capaz de possibilitarlhes vida e permaneceria no meio social, para que se transpuseram. É, com efeito, essa abolição do real, tão necessária, indispensável, mesmo a todos nós, que supre de sonhos e fantasias o viver humano, impossível e impensável sem que à face concreta das coisas corresponda uma contraface mítica e ficcional. Graça Aranha, nas belas páginas autobiográficas de “O meu próprio romance”, ao fazer a enternecida evocação de sua ama, a velha Militina, afirma que fora ela uma das educadoras mais essenciais de sua imaginação, pois todas as noites, antes de dormir, administrava-lhe boa dose de fantasia, representada pelos contos e lendas de seu vasto repertório. Outro mestre da memorialística nacional, José Lins do Rego, também deixaria, em “Meus verdes anos”, o registro de todo um mundo de reis, princesas, duendes encantados e almas penadas que fantasmeou sua infância, graças às histórias que ouvia dos trabalhadores do engenho e das negras que se empregavam nos misteres domésticos da casa-grande de seu avô. Experimentos artísticos para homenagear as mulheres Divulgação João de Deus realiza amanhã o show Mulheres de João, que mistura música, poesia e teatro C om a proposta de fazer uma releitura de clássicos da MPB, com pegada contemporânea do pop rock, do blues, do bolero, da bossa nova e do samba de raiz, e ainda com toques de experimentalismo, o artista João de Deus sobe ao palco no show Mulheres de João, amanhã, às 19h, no Teatro Alcione Nazaré (Praia Grande). O evento mescla música, poesia, teatro e artes visuais e é uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher, que marca também o aniversário do artista. Na ocasião, João de Deus estará acompanhado pelo cantor Totti Moreira e pela banda Espíritu’s. “A ideia é apresentar um espetáculo experimental, sobretudo do ponto de vista dos arranjos musicais, assinados pelo grupo todo, composto por jovens com idades entre 17 e 36 anos”, adianta João de Deus. No repertório, músicas dos anos 1930 e 1940, a exemplo de Camisa Listrada, gravada por Carmem Miranda. Dos anos 1960 foi pinçada Ternura, famosa na voz de por Wanderléa. De 1970 e 1990, há músicas gravadas por Maria Bethânia como Olhos nos Olhos e As canções que você fez pra mim. Da década atual, uma música de Ana Carolina, que terá participação de Glícia Lorianne, professora de violão na Escola de Música de São José de Ribamar. Além de músicas, o espetáculo guarda espaço para a poesia. Poemas de Adélia Prado e Cecília Meireles serão recitados, entre uma e outra música, pelo artista. “Também ressaltarei a importância dessas cantoras no cenário musical e social brasileiro, sua trajetória e em especial a sensibilidade artística e docente de cada uma”, diz João de Deus. Durante o evento, ele fará ainda uma homenagem a Iduina Mont’Alverne Chaves, que coordenou seu trabalho de pós-doutorado. “O show é mais um dos resultados de estudos sensíveis, na esteira de um paradigma emergente em ciência e educação, pelo reencantamento do mundo”, conceitua o professor. No decorrer do espetáculo ele dará sequencia às homenagens. “Vou falar sobre as mulheres que marcaram minha vida, como as professoras da UFMA com quem convivo há 20 anos; Dona Dulce – empregada doméstica a quem tenho muito apreço; minha mãe, Josefa, e minhas irmãs. Além de mulheres de São José de Ribamar, como a professora Maria Santana, a primeira líder comunitária, mulher e negra, que conheci em 1992, quando voltei de São Paulo para São José de Ribamar”. Trajetória – O artista e professor João de Deus, cuja tese de pós-doutorado versou sobre a poética do cantor e compositor Cazuza, concluída na Universidade Federal Fluminense (RJ), nasceu em 1957, exatamente um século depois da greve de trabalhadoras têxteis, em Nova York, na qual 129 operárias morreram depois de os patrões terem incendiado a fábrica ainda ocupada. A data é uma das possíveis origens para o dia Internacional da Mulher, segundo estudiosos da área. João de Deus explica que além de ser uma homenagem e uma festa de aniversário, o espetáculo é resultado de seus vários anos de pesquisa com a temática arte e imaginário na educação. Ele considera que da mesma forma que todo professor traz em si a alma do artista, o artista, por sua vez, é também um educador. Avesso a espetáculo com bandas, por julgar que o essencial está nas letras das músicas escolhidas e performances que realiza, dessa vez João de Deus será acompanhado pelo grupo Totti e Os Espíritu’s, formada, em sua maioria, por estudantes da UFMA. Montada com a intenção de proporcionar a difusão de um trabalho autoral, independente e diferente, o grupo Os Espiritu’s originou-se com a iniciativa do vocalista Totti Moreira, que convidou alguns amigos para elaborar arranjos musicais para suas composições. Além de Totti Moreira (compositor e violonista); a banda é formada por Ricardo Lê Brown (flautista); Erik Pires (contrabaixista); Isac Silva (baterista); e Neto Corrêa (percussionista); além da participação eventual de Fernando Japona João de Deus idealizou show que mistura expressões artísticas para homenagear as mulheres (guitarrista). A maioria dos integrantes faz parte do Grupo de Pesquisa sobre Arte, Cultura e Imaginário na Educação, da UFMA, no qual desenvolvem pesquisa sobre a música popular brasileira nos anos 1980 e seu impacto e influência na contemporaneidade. A concepção e o projeto do espetáculo foram idealizados por João de Deus, com a colaboração da banda e do músico Milton Alan. Este último assina a produção executiva do show. Serviço • Show Mulheres de João, de João de Deus com participação do grupo Totti e Os Espíritu’s • Quando Hoje, às 19h • Onde Teatro Alcione Nazaré (Praia Grande) • Ingressos R$ 15,00, à venda na Imprime Lan House e Mari Modas (ambos em São José de Ribamar), e xerox do Mestrado em Educação (UFMA) • Informações M.B. Produções: 8129-6006 e 9619-1734