UNINGÁ - UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR INGÁ FACULDADE INGÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PERIODONTIA SIMONE SPONCHIADO A INTER-RELAÇÃO DA DOENÇA PERIODONTAL E DIABETES MELLITUS PASSO FUNDO 2007 2 SIMONE SPONCHIADO A INTER-RELAÇÃO DA DOENÇA PERIODONTAL E DIABETES MELLITUS Monografia apresentada à Unidade de Pósgraduação da Faculdade Ingá-UNINGÁ-Passo Fundo-RS como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Periodontia. Orientadora: Profª. Ms. Marisa Maria Dal Zot Flôres PASSO FUNDO 2007 3 SIMONE SPONCHIADO A INTER-RELAÇÃO DA DOENÇA PERIODONTAL E DIABETES MELLITUS Monografia apresentada à comissão julgadora da Unidade de Pós- graduação da Faculdade IngáUNINGÁ-Passo Fundo-RS como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Periodontia. Aprovada em ____/_____/________. BANCA EXAMINADORA: _________________________________________________________________ Profª. Ms. Marisa Maria Dal Zot Flôres _________________________________________________________________ Profª. Ms. Carlos A. Rech _________________________________________________________________ Profª. Ms. Paula Branco 4 RESUMO A doença periodontal é vista como um problema multifatorial, que é iniciada e mantida por bactérias, porém substancialmente modificada pela resposta do hospedeiro. Neste trabalho de revisão de literatura, a autora estabelece a relação entre diabetes mellitus e doença periodontal. Após minucioso estudo, concluiu-se que existe uma associação clara entre problemas periodontais e diabéticos, ocorrendo principalmente nos pacientes com diabetes não controlado. Estudos recentes mostram a doença periodontal como a sexta complicação do diabetes, o qual, por sua vez, pode influenciar a progressão e agressividade da doença periodontal. Nos pacientes com diabetes mellitus bem controlado, os resultados após o tratamento são iguais àqueles sem a doença; no entanto, os pacientes não controlados não respondem tão bem ao tratamento. Os estudos revisados relatam que, com a eliminação da infecção periodontal, há uma estabilização dos níveis de glicose sanguínea. Tendo em vista a comprovação que o diabetes mellitus é fator de risco para doença periodontal, sugere-se o preparo adequado dos cirurgiões dentistas clínicos para o atendimento desses pacientes especiais. Palavras-chave: Diabetes. Doença Periodontal. 5 ABSTRACT Periodontal disease is accepted as a multifactor problem initiated and supported by bacteria and modified by host response. In this literature review, the author establishes a relationship between diabetes mellitus and periodontal disease. After a detailed examination, it was concluded that there is a clearly association between periodontal and diabetic problems, mainly occurring in patients with non-controlled diabetes. Recent studies have shown periodontal disease as the sixth diabetes’ complication, which could modify periodontal disease progression and severity. After treatment, the results regard to patients with wellcontrolled diabetes mellitus are the same to that without diabetes; however, non-controlled patients do not respond to treatment so well. Revised studies reports that there is glucose blood levels stabilization when periodontal infection is removed. Considering the evidence that diabetes mellitus is a risk factor to periodontal disease, it has been suggested that clinical dentists must have knowledge to this special patient’s care. Key-words: Diabetes. Periodontal Disease. 6 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Glicação de proteínas em situação de hiperglicemia sustentada ...................14 Quadro 2 - Complicações microvasculares periodontais em pacientes diabéticos..........30 Quadro 3 - Processo inflamatório e infeccioso periodontal em pacientes diabéticos......33 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................8 2 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................10 2.1 MECANISMO DA INTER-RELAÇÃO DA DOENÇA PERIODONTAL E DIABETES ......................................................................................................................10 2.1.1 O diabetes mellitus................................................................................................10 2.1.2 Mecanismos pelos quais o diabetes pode contribuir para a doença Periodontal .....................................................................................................................16 2.1.2.1 Tipo de diabetes ...................................................................................................17 2.1.2.2 Duração do diabetes.............................................................................................18 2.1.2.3 Controle metabólico.............................................................................................19 2.1.2.4 Idade ....................................................................................................................22 2.1.2.5 Associação com HLA ..........................................................................................24 2.1.2.6 Resposta inflamatória ..........................................................................................26 2.1.2.7 Alterações vasculares...........................................................................................27 2.1.2.8 Alteração na síntese de colágeno .........................................................................30 2.1.2.9 Microbiota periodontal ........................................................................................31 2.1.2.10 Alterações no fluido crevicular .........................................................................34 2.2 DIABETES E DOENÇA PERIODONTAL ............................................................34 2.3 TRATAMENTO PERIODONTAL PARA DIABÉTICOS ......................................37 3 CONCLUSÃO .............................................................................................................45 REFERÊNCIAS.............................................................................................................47 8 1 INTRODUÇÃO Em documento médico egípcio, o papiro Ebers, datado de 1550 a.C., havia referência a uma doença que se caracterizava pela eliminação abundante de urina. Essa doença foi denominada diabetes pelo médico romano Arataeus, termo que significa “passar através”, em virtude da poliúria, um dos sintomas mais típicos da doença, assemelhar-se à drenagem de água através de um sifão. O sabor doce da urina, parecido com mel, complementou sua denominação como diabetes mellitus (DM) (BRUNETTI, 2004). Em 1850, o fisiologista francês Claude Bernard constatou o aumento da glicose sanguínea em portadores de diabete mellitus, este passou a ser o sinal característico da doença. O marco fundamental no esclarecimento da sua causa foi a observação de Von Mering e Minkowski, em 1889, de que a pancreactomia no cão provocava quadro clínico semelhante ao do diabetes mellitus humano (BRUNETTI, 2004). No início do século XX, reconhecia-se a função endócrina das ilhotas de Langerhans, verificando-se experimentalmente que a glicosúria dos diabéticos era resultante da destruição delas. Em 1921, esse aspecto foi confirmado por Banting e Best, da Universidade de Toronto, que comprovaram que a injeção de extrato das ilhotas pancreáticas contendo um hormônio denominado isletina (posteriormente insulina) reduzia a glicemia de cães pancreactomizados. Em 1922, a primeira injeção de insulina foi aplicada no homem com finalidade terapêutica. Sua descoberta, graças à Frederick Banting, foi o maior marco na história do DM e a maior conquista no tratamento da doença. O médico americano Elliot Joslin destacou-se por sua experiência com a insulino terapia a pacientes diabéticos (BRUNETTI, 2004). Dados epidemiológicos indicam que é crescente o número de indivíduos que sofrem de diabetes, condição metabólica que afeta 17 em cada 1000 pessoas entre os 25 e 44 anos, e 79 indivíduos a cada 1000, acima de 65 anos de idade, sendo que a incidência da mesma aumenta até 6% ao ano, conforme a população se torna mais idosa (SOUZA, 2003). Esse quadro mostra o DM como uma doença de elevada prevalência nas populações, com incidência crescente relacionada a debilitantes complicações crônicas, encurtamento de vida útil, aumento de mortalidade e altos custos individuais e sociais. Com essa análise, pode-se inferir que os cirurgiões dentistas passarão a intervir clinicamente em muitos pacientes diabéticos. A realidade aponta que 3 a 4% dos pacientes adultos e idosos, em quadros de periodontite, são diabéticos (MELGAÇO, 2002), tendo 9 características de alterações teciduais das mais diversas, resultando em perdas teciduais indesejadas (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). Atualmente, se considera multifatorial a etiologia das doenças periodontais (DP), porque, além das bactérias que desempenham importante papel no desencadear e desenvolver das periodontopatias, existem outros fatores interferentes na sua etiopatogenia. As alterações sistêmicas podem influir na evolução das DP, já que modificam o metabolismo celular do hospedeiro e, qualquer desequilíbrio fisiológico no indivíduo, sugere dificuldades no prognóstico e tratamento curativo-restaurador para as periodontopatias, comprometendo, principalmente, o processo de regeneração tecidual. O tratamento periodontal nos diabéticos, além de ser um importante componente na manutenção da saúde bucal, pode promover o estabelecimento e a manutenção do controle glicêmico e, possivelmente, inibir a progressão de complicações do diabetes. Considerando esse fato, se deduz a importância de aperfeiçoar-se o conhecimento sobre o interrelacionamento da doença periodontal e o diabetes, ressaltando-se que, por meio dele, se poderá determinar preparo adequado aos clínicos para orientar e prover melhor atendimento odontológico aos pacientes diabéticos, conscientes ou não de sua condição. Assim, com a realização deste estudo, objetiva-se evidenciar a inter-relação do diabetes com a doença periodontal de modo a se intervir positivamente em seu controle, pela manutenção da saúde bucal, colaborando com o bem estar do paciente diabético em todos os aspectos. Adotou-se, para tanto, o método da pesquisa bibliográfica. A coleta de dados se deu pelo levantamento de informações retiradas de livros, jornais, artigos de periódicos, relatórios técnicos e monografias, de bibliotecas; e através de bibliografia da Internet (Scielo, Bireme) usando catálogos e mecanismos de busca. Estes dados foram, posteriormente, compilados e fichados, permitindo as informações expressas a seguir. 10 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 MECANISMO DA INTER-RELAÇÃO DA DOENÇA PERIODONTAL E DIABETES A relação entre o diabetes e a DP vem sendo estudada há muito tempo, a partir de uma associação biológica na qual as pessoas diabéticas têm maior suscetibilidade para muitos tipos de infecção. Greghi et al. (2002) ressalta que a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a doença periodontal como a sexta complicação clássica do diabético e que Löe em 1998, reconheceu-a como a sexta complicação mais comum do diabetes. Diversos fatores, tanto locais quanto sistêmicos, presentes e relacionados ao diabetes podem influenciar a progressão e agressividade da doença periodontal (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). 2.1.1 O diabetes mellitus O DM é uma alteração patológica de origem endócrina que se caracteriza por uma insuficiência absoluta ou relativa de insulina. É caracterizada por hiperglicemia e glicosúria, refletindo uma distorção no equilíbrio entre a utilização da glicose pelos tecidos, liberação de glicose pelo fígado, produção e liberação de hormônios pancreáticos da hipófise anterior e da supra-renal. As alterações nos níveis da insulina (hormônio protéico) podem ser devidas à produção de antagonistas que impedem sua ação, à interferência de outros hormônios, à diminuição ou ausência de receptores para este hormônio ou mesmo à sua incapacidade de produção pelas células beta, das ilhotas de Langerhans, no pâncreas e cuja função é facilitar e permitir a interação e absorção da glicose através das membranas das células adiposas, hepáticas e musculares (MELGAÇO, 2002). As principais funções da insulina são: impedir que a taxa de açúcar no sangue, a glicemia, ultrapasse, após a alimentação, os valores de 160-180 mg/dl; armazenar glicose no fígado e nos músculos na forma de glicogênio; participar do crescimento ósseo, muscular e de vários órgãos; manter níveis normais de açúcar na corrente circulatória através de receptores na superfície celular, encaixando-se aos mesmos e permitindo a passagem da glicose para o 11 interior da célula; promover a utilização da glicose, a síntese das proteínas, a formação e armazenamento de lipídeos neutros e participar como catalisador da biossíntese de ácido hialurônico, que é uma glicoproteína sintetizada pelos fibroblastos e osteoblastos, previamente ao colágeno (MADEIRO; BANDEIRA; FIGUEIREDO, 2005). Os métodos utilizados como teste diagnóstico do DM são: A. Glicose sanguínea em jejum, o jejum é definido como ausência de ingestão calórica há pelo menos 8 horas. 1. <100 mg/dl = glicose normal em jejum. 2. Entre 110 mg/dl e 126 mg/dl = glicose em jejum alterada. 3. >126 mg/dl = diagnóstico provisório de DM que deve ser confirmado. B. Teste de tolerância à glicose ou curva glicêmica, não é recomendado para uso clínico rotineiro. É uma combinação de glicose sanguínea em jejum, mais uma carga oral de glicose (75 g de glicose anidra dissolvida em água). 1. <140 mg/dl = tolerância normal à glicose. 2. Entre 140 e 200 mg/dl = tolerância diminuida à glicose. 3. 200 mg/dl = diagnóstico provisório de DM que deve ser confirmado. C. Testes glicêmicos pós-prandial, realizado duas horas após o almoço, mede atividade insulínica durante o tempo de metabolização da glicose. 1. 200 mg/dl = diagnóstico provisório de DM que deve ser confirmado. D. Sintomas do DM + (sinais presentes de diabete) Glicose plasmática casual >200 mg/dl. A glicose plasmática casual é aquela dosada em qualquer hora do dia sem considerar o tempo desde a última refeição. Os testes-controle do DM são: A. Teste de monitorização diária feito pelo próprio paciente através de aparelhos portáteis. Permite o controle glicêmico a curto prazo, desta maneira o paciente pode ajustar a medicação, a dieta e a atividade física baseado no resultado do teste (CÔRTES et al.,2005). B. Teste de medição de proteínas séricas glicadas (especialmente a hemoglobina glicada). Avalia controle glicêmico a longo prazo, pois mede a quantidade de glicose ligada de forma irreversível à molécula de hemoglobina nas células vermelhas do sangue durante a vida útil destas (aproximadamente 90 dias). Há dois testes de hemoglobina glicada: 12 1. Teste de hemoglobina Al (Hb A1), o valor deve estar abaixo de 8%. 2. Teste de hemoglobina A1c (HbA1c), o valor da normalidade deve ser menor que 6.5 a 6% (MEALEY et al.,2000). De acordo com as diretrizes da Associação Americana de Diabetes (ADA) os valores são: 4 a 6% - normal <7% - bom controle do DM 7 a 8% - controle moderado do DM > 8% - deve melhorar o controle do DM (NEWMAN; TAKEY; CARRANZA, 2004). A atual classificação do diabetes foi elaborada pela ADA em 1997: Diabetes tipo 1, no qual ocorre a destruição das células beta, usualmente levando à deficiência completa da insulina. É subdividido em auto- imune e idiopático. Corresponde a 10% dos diabéticos e geralmente se manifesta antes dos 25 anos de idade e associado a um fator hereditário (MADEIRO; BANDEIRA; FIGUEIREDO, 2005), mas está fortemente relacionado a fatores ambientais como as infecções virais (CÔRTES et al., 2005). É sempre sintomático, manifestando-se por poliúria, polidipsia, polifagia e cetoacidose. Os níveis de proteínas plasmáticas são baixos ou ausentes e os de glucagon elevados (MADEIRO; BANDEIRA; FIGUEIREDO, 2005). Diabetes tipo 2, a parece, geralmente, após os 40 anos de idade, 90% dos diabéticos são do tipo 2. Este tipo de diabetes é causado por graus variados de resistência dos tecidos periféricos à insulina, sendo as principais causas a obesidade, envelhecimento e sedentarismo. Não depende de insulina exógena para seu controle ou prevenção da cetoacidose, porém requer seu uso para correção da hiperglicemia persistente que não responde à dieta apropriada ou a hipoglicemiantes orais (MADEIRO; BANDEIRA; FIGUEIREDO, 2005). Outros tipos específicos são: A. Defeitos genéticos da função da célula beta B. Defeitos genéticos da ação da insulina C. Doenças do pâncreas exócrino D. Endocrinopatias E. Indução por drogas ou produtos químicos F. Infecções 13 G. Formas incomuns de diabetes imuno- mediado (GROSS; SILVEIRO; CAMARGO, 2002). O DM gestacional normalmente se desenvolve no terceiro trimestre de gravidez (2 a 5%). O aumento da prevalência ocorre em mulheres acima do peso, com mais de 25 anos de idade e com história familiar de diabetes. A desordem está fortemente relacionada à resistência insulínica. A maioria retorna à normalidade após o parto. Entretanto 30 a 50% das mesmas desenvolverão DM tipo 2 dentro de 10 anos (CÔRTES et al., 2005). As complicações clássicas do DM surgem freqüentemente em pacientes com glicemia descontrolada. A retinopatia causa uma alteração na retina, devido a coágulos formados por hemorragias e pode evoluir de visão embaçada à cegueira. A nefropatia é outra complicação que consiste na diminuição da capacidade de filtragem dos rins, lançando os metabólitos sanguíneos novamente na circulação e pode ocorrer falência renal e proteinúria. A neuropatia sensitiva e autônoma pode ocorrer em quadros de choque hipoglicêmico ou com a hiperglicemia, com a formação de possíveis trombos no sistema nervoso. Doenças macrovasculares (aceleradas pela aterosclerose): periférica, cardiovascular (doença arterial coronariana), vascular cerebral (acidente vascular encefálico). As demais complicações são alterações no processo de cicatrização, as periodontopatias, as doenças microvasculares e amputações (ANTUNES et al., 2003). Podese constatar que a hiperglicemia crônica está associada a disfunções micro e macrovasculares ocorrendo proliferação endotelial, espessamento da membrana basal e das paredes dos grandes vasos, deposição aumentada de lipídeos e formação de ateromas. A hiperglicemia desencadeia eventos que levam a mudanças estruturais dos tecidos afetados. As propriedades físicas e químicas das membranas são, em parte, determinadas pelos ácidos graxos existentes na dupla camada dos fosfolipídios e a alteração do metabolismo lipídico pode afetar significativamente a função celular. Outro fator comum associado às complicações do diabetes se deve à glicosilação de proteínas, lipídios e ácidos nucléicos. Como exemplos de proteínas que apresentam alterações funcionais têm-se o colágeno, a hemoglobina, a albumina plasmática e lipoproteínas. As proteínas sofrem um processo não enzimático de glicosilação ou glicação e formam os produtos finais avançados, ácidos graxos esterificados (AGEs). A formação de AGEs inicia com a ligação da glicose aos grupos amino das proteínas que passam para uma forma instável de proteína glicada (schiff-base). Durante um rearranjo químico lento, as proteínas glicadas instáveis são convertidas em formas mais estáveis, porém ainda reversíveis (amadori product). Caso haja a normalização da glicemia, 14 essas proteínas não se acumulam nos tecidos. Se a hiperglicemia se mantém, as proteínas glicadas se tornam estáveis e formam AGEs. A formação de AGEs é irreversível e permanecem ligadas às proteínas durante todo tempo de vida destas. Os receptores de AGEs são conhecidos como RAGEs e foram identificados em superfícies de células. A hiperglicemia desencadeia maior expressão de RAGEs e sua interação com os AGE-RAGE resulta em alterações celulares, ocorrem alteração do fenótipo de monócitos/macrófagos e isso aumenta a produção de citocinas pró- inflamatórias e de fatores de crescimento, como: interleucina (IL-1); fatores de necrose tumoral (TNF); fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e fator de crescimento do tipo insulina (IGF). Estas citocinas e fatores de crescimento estão relacionadas com o processo inflamatório crônico e formação de lesões ateromatosas. O esquema abaixo representa a glicosilação de proteínas em situação de hiperglicemia sustentada: GLICOSE + PROTEÍNA | FORMA INSTÁVEL DE PROTEÍNA GLICADA (SCHIFF-BASE) | FORMA REVERSÍVEL DE PROTEÍNA GLICADA (AMADORI PRODUCT) ˘ PRODUTOS FINAIS AVANÇADOS DE GLICAÇÃO (AGEs) ˘ AGEs + RAGEs = ALTERAÇÕES MONÓCITOS /MACRÓFAGOS >PRODUÇÃO DE CITOCINAS PRÓ-INFLAMATÓRIAS >FATORES DE CRESCIMENTO ˘ PROCESSO INFLAMATÓRIO CRÔNICO FORMAÇÃO DE LESÕES ATEROMATOSAS Quadro 1 - Glicação de proteínas em situação de hiperglicemia sustentada Fonte: CÔRTES et al. ( 2005). 15 A associação epidemiológica entre a periodontite e diabetes pode se dar por duas vias patogênicas: a) relação causal direta: alterações metabólicas relacionadas à hiperglicemia e à hiperlipidemia no diabetes agem sobre a patogênese de complicações do diabetes e como modificadores da expressão da doença periodontal. Há alterações metabólicas que exacerbam a inflamação induzida por bactérias na periodontite; b) indivíduo portador de defeito patológico comum ou combinação genética eventual que, sob condições de estresse, pode torná- lo susceptível à periodontite, ao diabetes ou às duas doenças. A maior parte dos autores parece concordar com a teoria de causa direta. Certos organismos presentes no biofilme microbiano dental possuem atividades endotóxicas e imunológicas, especialmente endotoxinas na forma de lipopolissacarídeos (LPS). Nas doenças periodontais, os lipopolissacarídeos, emanados pelas bactérias, ativam monócitos, leucócitos e macrófagos que liberarão citocinas pró- inflamatórias, especialmente TNF-α, PGE², IL-1, IL-6. Nos diabéticos essas citocinas exercem ação sobre o fígado, estimulam a liberação de proteínas, desregulam o metabolismo lipídico e tem efeitos sobre as células beta do pâncreas e atuam como antagonistas da insulina. Os AGEs do diabetes potencializam estas citocinas e fica estabelecido um processo inflamatório crônico com efeito sinérgico deletério sobre vasos e tecidos. Ocorrem microangiopatia vascular, hipofunção dos granulócitos, redução da produção de colágeno, aumento da colagenase, ativação dos osteoclastos e concentração de glicose no fluído crevicular (CÔRTES et al., 2005). Terry (2005) relaciona as manifestações orais do DM como: § Xerostomia: a diminuição do fluxo salivar pode ou não levar à sensação de queimação na boca ou língua com alterações de paladar, deixa os tecidos mais suscetíveis a danos por traumas e infecções oportunistas como a candidíase, aumento do biofilme bacteriano e, conseqüentemente, aumento de lesões cariosas e periodontites. Pode estar associada ao aumento da parótida; § Aumento gengival pronunciado; § Presença ou recorrência de múltiplos abscessos periodontais; § Destruição rápida de osso alveolar; § Cicatrização inadequada; § Freqüência aumentada de líquen plano. Em relação aos dentes, estudos na Suécia demonstraram hipoplasia de esmalte em 28% dos decíduos de crianças entre 3 e 5 anos de idade, cujas mães eram diabéticas não 16 tratadas. Em mães diabéticas tratadas a hipoplasia decresceu para 9%, concluindo-se que os ameloblastos também são sensíveis a esta disfunção pancreática (TOMMASI, 1985). A doença periodontal é um processo de inflamação e infecção que promove a destruição dos tecidos de proteção e sustentação dos elementos dentários. O processo inicia-se com uma inflamação no periodonto de proteção (gengivite) que tende a evoluir para a destruição dos ossos e tecidos de suporte dentário (periodontite) (MELGAÇO, 2002). No entanto, a patogenia da periodontite associada ao diabetes é multifatorial. Vários estudos mencionam os seguintes mecanismos para explicar a maior suscetibilidade de indivíduos diabéticos à periodontite: microangiopatia, alterações no fluído crevicular, alterações no metabolismo do colágeno, alterações imunológicas, alterações na microbiota subgengival e hereditariedade. Assim como ocorre em qualquer paciente, a presença da placa bacteriana é fundamental para o desencadeamento da doença periodontal, enquanto o tipo, duração e controle do DM além da idade do paciente, relação com os antígenos leucocitários humanos (HLA), alterações vasculares e resposta inflamatória, podem estar relacionadas com a gravidade da doença periodontal (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). 2.1.2 Mecanismos pelos quais o diabetes pode contribuir para a doença periodontal São mecanismos pelos quais o diabetes pode contribuir para a doença periodontal: 1) O tipo de diabetes; 2) Duração do diabetes; 3) Controle metabólico; 4) Idade; 5) Associação com HLA; 6) Resposta inflamatória; 7) Alterações vasculares; 8) Alteração na síntese de colágeno; 9) Microbiota periodontal; 10) Alterações no fluido crevicular. Pela importância do conhecimento destes mecanismos para atingir-se ao objetivo deste estudo, será, a seguir, feita descrição individual de cada fator. 17 2.1.2.1 Tipo de diabetes Indivíduos diabéticos, tipo 1 e 2, parecem ter maior prevalência de DP, quando comparados com indivíduos não diabéticos. A gengivite é freqüente em ambos (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). No ambulatório do Centro de Diabetes da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Escola de Medicina, e no ambulatório da Faculdade de Odontologia da UNIP Universidade Paulista foi realizada uma análise comparativa da condição periodontal entre dois grupos de pacientes de ambos os sexos e com idade entre 18 e 40 anos. O grupo 1, constituído por 81 pacientes diabéticos, e o grupo 2 por 71 pacientes não diabéticos. Comparados segundo as variáveis de idade, tempo de diagnóstico de DM, tipo de DM e nível glicêmico de jejum. A razão homem/mulher e a média de idade dos dois grupos foram comparáveis e excluídos os pacientes com menos de 30% dos dentes na boca, para a utilização do índice de PSR (Periodontal Screening and Recording), que se baseia na presença de sangramento gengival à sondagem, presença de biofilme dental (placa bacteriana), nível de inserção clínica periodontal perdida e necessidade de tratamento periodontal. Os resultados mostraram que o grupo 1 apresentou piores condições periodontais do que o grupo 2. 16% dos pacientes diabéticos apresentaram saúde periodontal, enquanto que 44% do grupo 2 apresentaram a mesma condição. Gengivite ocorreu em proporções semelhantes ao grupo 1 (32%) e grupo 2 (35%). A periodontite leve manifestou-se em 26% dos pacientes do grupo 1 e em 13% dos pacientes do grupo 2. DP moderada e grave esteve presente em proporções significativamente maiores entre os pacientes do grupo 1 (26%) quando comparados ao grupo 2 (9%). Os autores concluíram que a DP esteve mais presente e nas formas mais graves no grupo de pacientes portadores de DM; que a presença do DM contribuiu para uma manifestação precoce da DP; que a DP manifestou-se mais precocemente em pacientes portadores de DM do que em pacientes não portadores e que os pacientes portadores de DM necessitam de maiores cuidados bucais e tratamento periodontal efetivo (WEHBA; SIMONE, 2002). Em outro estudo, coordenado por Janet Guthmiller, da University of Iowa City (2001), foi avaliado o estado periodontal de 13 mulheres grávidas diabéticas e 20 não diabéticas entre 20 e 39 semanas de gestação. Foi observado que as gestantes diabéticas tipo 1 apresentaram um índice significativamente maior de placa e de inflamação gengival do que as 18 não diabéticas. As margens gengivais também se encontravam em posições mais apicais. Notou-se que, assim como outras infecções bacterianas, periodontite em gestantes diabéticas pode afetar o controle de glicemia. Além disso, DP parece ser um fator de risco independente para nascimento de crianças de baixo peso. Os autores concluem que avaliações periodontais devam ser incluídas no cuidado pré- natal de mulheres grávidas diabéticas. Lopes, Alves e Pereira (2003) referem-se a estudos mostrando a condição periodontal em pacientes diabéticos insulino-dependentes, com idade entre 5 e 18 anos. O índice de placa e de inflamação gengival estavam significativamente mais elevados no grupo teste que no grupo controle (não diabéticos). E m outro estudo observou-se aumento significativo na profundidade de sondagem e perda óssea alveolar em diabéticos insulinodependentes, após o intervalo de 10 anos sem tratamento periodontal. Em num terceiro estudo, avaliando 362 pacientes por um período de mais de 2 anos, verificou associação positiva entre incidência da perda óssea alveolar e o diabetes tipo 2. 2.1.2.2 Duração do diabetes Quando de longa duração, o diabetes modifica o estado clínico do periodonto e aumenta a perda de inserção do ligamento periodontal. O acúmulo de AGEs, formados em quadros de hiperglicemia crônica, acumulados nos tecidos e plasma de diabéticos, parece afetar a migração e atividade fagocitária de células mono e polimorfonucleares, resultando em estabelecimento de maior quantidade de microbiota subgengival patogênica (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). Lopes, Alves e Pereira (2003) descrevem a relação entre a perda de inserção clínica e a duração do diabetes tipo 1, observando associação positiva entre a duração do diabetes e a perda de inserção clínica, mas não com a profundidade de sondagem, índice de placa e índice gengival. Outros estudos mostraram DP grave em pacientes com mais de 45 anos de idade, fumantes e cujo diabetes já havia se instalado há aproximadamente 8,4 anos. 19 2.1.2.3 Controle metabólico Indivíduos inadequadamente controlados apresentam maior perda de inserção e de osso alveolar do que indivíduos com diabetes bem controlado. Os diabéticos têm possibilidade 4 vezes maior de desenvolver DP progressiva quando comparados aos não diabéticos. O estado de saúde periodontal parece estar relacionado com o bom controle metabólico do diabetes, indicando melhor resistência do tecido conjuntivo periodontal e osso alveolar, reduzindo a incidência e severidade da DP. Além disso, pacientes com diabetes mal controlado têm níveis elevados de células plasmocitárias, decréscimo na densidade de fibras colágenas, células endoteliais edemaciadas e proliferadas, ou seja, alterações celulares indicativas de catabolismo aumentado em relação ao anabolismo (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). Acredita-se que a presença de níveis elevados ou alterados de hemoglobina glicada na circulação e nos tecidos (resultado da hiperglicemia), seja um fator contribuinte da degeneração microvascular e das mudanças arteriais, que são seqüelas comuns do diabetes. Um estudo longitudinal da Comunidade Indiana do Rio Gila (população com prevalência de 50% de diabetes tipo 2) testou a hipótese de que periodontite grave em indivíduos com essa doença aumenta a concentração de hemoglobinas glicadas. Os resultados mostraram que no início, a periodontite grave estava associada com o risco aumentado de mau controle glicêmico nos 2 anos seguintes, ou mais (GARCIA; HENSHAW; KRALL, 2001). Se a doença periodontal afeta o status diabético, deve-se esperar que o tratamento da doença periodontal reduza a gravidade do diabetes. Uma revisão sistemática de literatura recente feita por Grossi et al. (apud GARCIA; HENSHAW; KRALL, 2001) concluiu que o efeito sobre o status diabético era dependente da modalidade de tratamento. Garcia, Henshaw e Krall (2001) relatam que alguns estudos que investigaram o efeito do debridamento mecânico único não conseguiram demonstrar nenhuma ação no nível de glicose sanguínea de hemoglobina glicada, indiferente à gravidade da doença periodontal ou nível de controle do diabetes, enquanto outros estudos, que adicionaram antibióticos sistêmicos ao debridamento mecânico, demonstraram melhora no controle metabólico do diabetes. Resultados de estudos clínicos randomizados feitos na população Pima, indicaram que as pessoas tratadas com doxiciclina experimentaram redução das hemoglobinas glicadas. Esses resultados sugerem que o tratamento periodontal antimicrobiano pode reduzir o nível de hemoglobina glicada em 20 diabéticos e pode ter potencial de reduzir as seqüelas da mesma. No entanto, isso ainda deverá ser demonstrado conclusivamente, e existe uma área em atividade de investigação atual. Em relação à gengivite, nas primeiras referências de diabetes e DP, descreveu-se a gengiva de diabéticos com “proliferações ou pólipos pedunculados ou sésseis” sugerindo que a alteração gengival era significativa no diagnóstico do diabetes. Posteriormente, evidenciouse que a gengivite é mais severa em crianças diabéticas do que nas não diabéticas mesmo sem diferença nos índices de placa. As crianças diabéticas com falta de controle metabólico apresentam significantemente índices mais altos de inflamação gengival do que as não diabéticas (MEALEY et al., 2000). Estudos não controlados mostraram um efeito benéfico do tratamento periodontal sobre o controle metabólico do diabetes tipo 1 conduzindo à estudos cegos e controlados usando indicadores do estado metabólico em pacientes com diabetes tipo 1, sem outras complicações além da doença periodontal. Em um primeiro estudo, 41 indivíduos com diabetes tipo 1 + gengivite + periodontite de estabelecimento precoce foram randomicamente escolhidos para tratamento (higiene bucal e raspagem); o segundo grupo era o controle. O trabalho completou-se em 16 pacientes no grupo experimental e 15 pacientes no grupo controle. Após 2 meses, o reexame não mostrou diferença entre os grupos, no entanto, análises adicionais mostraram uma relação entre variação do controle metabólico e inflamação gengival. O segundo estudo envolveu 23 indivíduos com diabetes tipo 1 e periodontite avançada e um grupo controle, os quais foram distribuídos aleatoriamente para o tratamento (terapia inicial completa incluindo raspagem radicular). Os resultados evidenciaram que não houve resposta significativa ao tratamento periodontal, não se constatando qualquer melhora no controle metabólico. São resultados que suportam o conceito de que o efeito do controle metabólico pode ser predominante na relação entre diabetes tipo 1 e saúde periodontal (ALDRIDGE et al., 1995). Estudos bem controlados evidenciam o papel mais forte da doença periodontal como fator de risco na saúde sistêmica. Por exemplo, se a resolução da infecção periodontal mostrou-se capaz de levar a melhora do controle glicêmico do diabetes, isso dá crédito à hipótese de que a periodontite é um verdadeiro fator de risco e, sua causa, está ligada a importantes características de saúde geral. Está reconhecido que o diabetes aumenta o risco de infecção (inclusive infecção periodontal), mas também, que infecções não resolvidas no diabético (potencialmente a periodontal) coloca-os sob risco de mau controle glicêmico (GARCIA; HENSHAW; KRALL, 2001). 21 Em relação à periodontite, registra-se que a perda de inserção ocorre com maior freqüência e mais extensivamente em pacientes mal ou moderadamente controlados, do que naqueles bem controlados. Um estudo finlandês corroborou esses resultados: maior perda de inserção e perda óssea proximal em pacientes com diabetes tipo 1 mal controlados do que nos bem controlados. Também existem evidências que sugerem uma perda de inserção mais freqüente e avançada em pacientes com diabetes que dura muitos anos. A correlação com o diabetes de longa duração é similar com a ligação às complicações dessa doença, como nefropatia, retinopatia, neuropatia e doença vascular. Mais dentes perdidos e sextantes com bolsas profundas são encontrados em pacientes diabéticos do que em controles (usando-se o Índice Periodontal Comunitário de Necessidades de Tratamento). Em um estudo de Minessota, 41% dos diabéticos tinham um ou mais sítios com profundidade de sondagem 4 mm, comparados a 16% relatados na Pesquisa Nacional em Adultos dos Estados Unidos, entre 1985-86. A extensão (% de sítios por pessoa) de sítios com profundidade de sondagem 4 mm era de 5,2% para diabéticos e de 1,6% na pesquisa nacional. Em outro estudo, diabéticos bem controlados tinham 2,5% de sítios com profundidade 4 mm, comparados a 11,2% dos mal controlados, indicando piores condições periodontais nesses últimos pacientes (MEALEY et al.,2000). Souza (2006) avaliou o efeito do tratamento periodontal nos pacientes diabéticos. 63 pacientes paraenses, divididos em quatro grupos, de acordo com a presença de diabetes e periodontites, idade média variando entre 25 e 70 anos: Grupo 1 - 19 pacientes não diabéticos, sem DP; Grupo 2 - 14 pacientes diabéticos sem DP; Grupo 3 - 15 pacientes diabéticos com periodontite generalizada, tratados com raspagem, alisamento e polimento das superfícies radiculares; Grupo 4 - 15 pacientes diabéticos com periodontite generalizada, submetidos ao tratamento periodontal e antibioticoterapia (doxiciclina 100 mg/dia durante 15 dias, tendo início no primeiro dia do tratamento periodontal). Para avaliação dos resultados obtidos no tratamento, aguardaram-se 90 dias para comparar os resultados de hemoglobina glicada, os índices de profundidade de sondagem foram estabelecidos antes e após o tratamento realizado. Souza (2006) concluiu: os diabéticos apresentaram 43,3% de periodontite na forma leve; 36,7% de periodontite na forma moderada e 20% de periodontite na forma grave. A taxa de hemoglobina glicada e a profundidade de sondagem apresentaram valores médios menores após terapia periodontal não cirúrgica nos 22 grupos 3 e 4. Não foi comprovada melhora no controle metabólico dos diabéticos tipo 2, após terapia periodontal não cirúrgica ou em terapia periodontal associada ao antimicrobiano. Rech (2006), em seu estudo, avaliou o efeito do tratamento periodontal nos níveis de hemoglobina glicada de indivíduos diabéticos não insulino-dependentes e indivíduos não diabéticos, em amostra da cidade de Passo Fundo, RS. A amostra foi composta por um total de 65 pacientes, com idade superior a 18 anos, divididos em quatro grupos: Grupo I (controle) - 18 indivíduos não diabéticos sem doença periodontal; Grupo II – 19 indivíduos diabéticos tipo 2, não insulino-dependentes, sem doença periodontal; Grupo III – 20 indivíduos diabéticos tipo 2, não insulino-dependentes, com doença periodontal e submetidos a tratamento periodontal e; Grupo IV – 8 indivíduos diabéticos tipo 2, não insulinodependentes, com doença periodontal e submetidos a tratamento periodontal associado a antibioticoterapia. Todos os grupos foram submetidos à avaliação do estado médico, mediante o registro de altura, peso, medicamentos utilizados e a realização de dois exames de hemoglobina glicada, antes e três meses após o tratamento. As avaliações do estado periodontal incluíram mensuração do índice de placa, índice de sangramento, presença de supuração, coloração da gengiva, profundidade de sondagem e nível de inserção. Com base nos resultados, o autor concluiu que a hemoglobina glicada inicial e final apresentou diferença significativa para os grupos III e IV (p<0,0001), apresentando valores médios menores após o tratamento periodontal associado ou não a antibioticoterapia. 2.1.2.4 Idade A DP e o DM tratam-se de patologias constantes no processo de envelhecimento, mostrando uma alta incidência no idoso. A revolução nas diversas áreas da medicina influenciaram positivamente no sentido de um envelhecimento mais amplo da população. Em decorrência disso, se está vivendo mais. Entretanto, doenças crônicas presentes no envelhecimento ainda conferem uma alta morbidade e mortalidade ao idoso, sem falar na diminuição da qualidade de vida. A cavidade bucal do idoso passa a apresentar uma alta incidência de destruição dos tecidos duros dos dentes e dos tecidos de sustentação dos mesmos. Igualmente o organismo, como um todo, passa a desenvolver inúmeras doenças crônico degenerativas 23 sistêmicas, a exemplo do diabetes e doença de Alzheimer. Entretanto, tais patologias não têm como causa o processo de envelhecimento em si, mas se apresentam idade-relacionadas (BRONDANI; BRONDANI; BÓS, 2003). Com o aumento da idade, parece haver DP na população diabética, com mau controle metabólico. Com o passar dos anos, o efeito da idade pode passar a ser mais significativo do que o próprio diabetes. Indivíduos diabéticos mostraram maiores índices de DP, quando comparados com não os diabéticos da mesma faixa etária. A diferença não foi significativa em pacientes com mais de 55 anos de idade, embora os indivíduos diabéticos apresentem periodontite mais cedo que não diabéticos. Com relação aos indivíduos diabéticos do tipo 1, não há diferença na incidência de bolsas periodontais até 34 anos, quando comparados com não diabéticos. Acima dessa idade, pacientes diabéticos têm muito mais sextantes com bolsas profundas. Esse fato leva a supor que por volta dos 35 anos, se inicia uma rápida destruição do periodonto em diabéticos (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). A rápida perda de inserção e perda óssea alveolar em pacientes de meia idade ou mais velhos, associada a outras manifestações sistêmicas, pode representar um dos primeiros sinais da instalação do diabetes no adulto (MADEIRO; BANDEIRA; FIGUEIREDO, 2005). As mudanças que ocorrem no periodonto dos idosos é semelhante ao que ocorre no tecido conjuntivo de todo corpo, há alteração na quantidade de células, fibras e na substância que as circunda. Ocorre aumento na recessão gengival, perda de 0,17%/ano na altura da crista óssea alveolar, aumento na deposição cementária, principalmente na região apical, o que compensaria o desgaste fisiológico da superfície oclusal dos dentes, como um tipo de erupção contínua. Os indivíduos com mais de 70 anos podem apresentar uma perda óssea mais acentuada, sugerindo que fatores sistêmicos e problemas gerais de saúde influenciam na progressão da perda óssea. Matta (2000) refere-se ao estudo de Hunt que analisou 477 idosos (65 anos em média) e os mesmos apresentaram: 72%, bolsas 3-6 mm, 16%, bolsas > 6 mm, 10% livre de DP. Melgaço (2002) esclarece que crianças e jovens adultos com diabetes tipo 1 apresentam gengivite na idade de 11 a 13 anos e periodontite, na idade de 13 anos ou mais. As crianças diabéticas exibem um aumento na gravidade da inflamação gengival com a idade e com a puberdade e a prevalência de ocorrência de periodontite aumenta em 39% nos pacientes com 19 anos ou mais velhos. A periodontite, na maioria dos casos, é assintomática. López et al. (2003) examinaram as características salivares das crianças diabéticas, procurando variações nos componentes salivares, detectadas por análise química. Foram determinadas as características físicas e bioquímicas da saliva de um grupo de crianças 24 diabéticas comparadas a um grupo controle e sua relação com a saúde oral. Vinte crianças diabéticas (3-15 anos) e vinte e uma crianças do grupo controle (5-12 anos) foram incluídas nesse estudo. A quantidade total de proteínas, açúcares e cálcio foram determinadas por métodos colorimétricos e glicose, uréia, amilase e ácido fosfórico por métodos enzimáticos. Os resultados demonstraram que o pH ácido diminuiu o fluxo salivar e o excesso de espuma são normalmente encontrados na saliva de crianças diabéticas. O total de açúcares, glucose, uréia e proteínas foram maiores em pacientes diabéticos do que no grupo controle enquanto o cálcio diminuiu. As crianças diabéticas têm maiores valores de dentes permanentes ausentes, cariados, com mais superfícies dentárias restauradas e também apresentam maiores valores de dentes decíduos extraídos, restaurados e com maiores índices de superfícies dentárias restauradas, quando comparadas àquelas do grupo controle apesar do menor consumo de açúcar. Alguns componentes salivares e a diminuição do fluxo salivar podem estar envolvidos na caracterização da saúde oral das crianças diabéticas. Wehba e Simone (2002) evidenciaram que a influência da idade frente ao desenvolvimento da DP é significativa somente no grupo de pacientes sem DM, onde 92% dos pacientes com idade entre 18 e 29 anos apresentavam saúde periodontal e gengivite. O mesmo somente ocorreu em 47% dos pacientes na faixa etária entre 30 e 40 anos. Deste grupo com faixa etária mais elevada, 53% apresentaram periodontite em seus diferentes graus. Também observaram não haver significância estatística entre as variáveis idade e o diagnóstico periodontal, no grupo de pacientes portadores de DM. A explicação para este fato talvez se deva em função de pacientes portadores de DM já sofrerem desde uma idade jovem a ação deletéria do DM. 2.1.2.5 Associação com HLA Os padrões familiares de suscetibilidade e resistência aos agentes infecciosos sugerem uma característica hereditária para determinadas doenças, tais como DM, DP e artrite reumatóide. Estas doenças, além de apresentarem um padrão similar de resposta imune, mostram associações significativas com grupos alélicos específicos do Sistema de Antígenos Leucocitários Humanos (Human Leucocyte Antigen - HLA). Este sistema faz parte de um complexo maior denominado Complexo Principal de Histocompatibilidade (Major Histocompatibility Complex - MHC), que em humanos localiza-se no braço curto do 25 cromossomo 6. Os genes do MHC foram classificados em 3 grupos denominados de Classe I, II e III e os produtos gênicos dos grupos I e II formam o sistema HLA. As moléculas de Classe I (classicamente HLA-A, HLA-B e HLA-C) estão presentes em todas as células nucleadas, sendo sua distribuição adaptada à função de apresentar peptídeos antigênicos aos linfócitos T citotóxicos (CD8+). As moléculas de Classe II (classicamente HLA-DP, HLADQ e HLA-DR) apresentam uma distribuição celular mais restrita, estando presentes em todas as células apresentadoras de antígenos, membranas de linfócitos B, linfócitos T ativados, monócitos, macrófagos e em outras células após estimulação, como por exemplo, células endoteliais, epidérmicas e renais. Sua função é de apresentação de peptídeos antigênicos aos linfócitos T auxiliares, CD4+. Os genes de Classe III codificam uma série de proteínas solúveis presentes no soro, tais como proteínas do sistema complemento (C2, C4a, C4b), fator de necrose tumoral e proteínas de choque térmico. Um dos mecanismos que explica a associação HLA com doenças, explora a capacidade de ligação diferencial de peptídeos e sugere que a molécula HLA associada, preferencialmente, liga e apresenta às células T, peptídeos envolvidos na patogênese da doença em questão. Outra explicação relaciona-se ao “efeito colateral” da seleção negativa/positiva feita no timo pelas moléculas HLA sobre células T e seus receptores (TCRs). Se as células T selecionadas estiverem envolvidas na patogênese ou proteção da doença, isto pode levar à associação HLA com suscetibilidade ou proteção, respectivamente (TEREZAN; PLOTHOW; FISHER, 2004). Cada indivíduo herda múltiplos genes que codificam proteínas para HLA, desta forma indivíduos exibem diferenças na sua capacidade de resistir a doenças infecciosas, como por exemplo, a DP. Vários distúrbios imunológicos, como o diabetes tipo 1, ocorrem com freqüência significativamente maior entre pessoas que possuem alelos HLA específicos, do que em indivíduos que não exibem estes alelos. Todavia, a efetividade da resposta imunológica frente aos periodontopatógenos em pacientes diabéticos tipo 1, de acordo com os alelos HLA presentes, não tem relação com a baixa efetividade da resposta imunológica com o tipo de HLA presente (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). O diabetes tipo 2 apresenta forte suscetibilidade familiar poligênica, principalmente em gêmeos idênticos. Terezan, Plothow e Fisher (2004), em revisão de literatura, relatam alguns estudos que avaliaram a associação HLA classe I e II, concluindo que os resultados se mostram, no mínimo, discrepantes. Um dos estudos verificou uma prevalência maior de HLA-DR4 em dez pacientes com periodontite de progressão rápida (80%), quando comparados a 120 indivíduos saudáveis (38%), não encontrando diferença significativa em HLA classe I. Outro estudo encontrou maior prevalência de duas especificidades de classe I, HLA-A9 e B15 nos 26 pacientes com a forma generalizada de periodontite de progressão rápida, sem que houvesse diferença entre o grupo controle e as formas de periodontite juvenil localizada, não encontrando associação significante em qualquer HLA-DR. Os autores concluíram que o sistema HLA poderia influenciar, mas não determinar suscetibilidade ou resistência para periodontites, devendo existir outros fatores genéticos envolvidos nesta doença ou que possa haver influência na resposta de células T contra certas bactérias periodontopatogênicas, em reações hiperimunes, e assim aumentar a suscetibilidade à periodontite de início precoce. Embora algum grupo alélico esteja associado, a força da associação variou com grupos étnicos e áreas geográficas, sugerindo que existam fatores adicionais envolvidos na patogênese e proteção das doenças periodontais. 2.1.2.6 Resposta inflamatória A patogênese de algumas complicações do DM pode ser aumentada frente à presença de reações inflamatórias nos tecidos. O aumento do nível do infiltrado inflamatório crônico nos tecidos periodontais pode aumentar diretamente os níveis de mediadores inflamatórios que, por sua vez, podem agir com fatores modificadores no metabolismo da insulina, interferindo diretamente no controle da glicemia (ANTUNES et al., 2003). A função fagocitária pode mostrar-se alterada pelo fato de algumas enzimas serem insulino-dependentes. Nos diabéticos mal controlados há diminuição da resposta imune à infecção, pela presença de hiperglicemia e cetoacidose, que alteram a fagocitose dos macrófagos e a quimiotaxia dos polimorfonucleares. Os diabéticos controlados e sem problemas vasculares não apresentam problemas de infecções e reparações teciduais graves (MELGAÇO, 2002). Ocorre diminuição na quimiotaxia, aderência e fagocitose de neutrófilos, principalmente em diabéticos mal controlados, portadores de periodontite severa, quando comparados com diabéticos com periodontite moderada e não diabéticos com periodontite grave ou moderada. Além da diminuição da função neutrofílica, outras alterações da resposta inflamatória foram encontradas, como linfócitos T anormais com decréscimo da relação CD4/CD8 ao longo do tempo, aumento quantitativo de células de Langerhans, alteração no fenótipo, quimiotaxia e na taxa de fagocitose de macrófagos, aumento de IgG e IgA. Quando se analisam os níveis de mediadores pró- inflamatórios no fluído crevicular e secreção de monócitos observa-se que os pacientes diabéticos apresentam uma resposta 27 inflamatória exacerbada, se comparados aos não diabéticos, uma vez que reagem com um alto grau de inflamação, para uma carga bacteriana equivalente à encontrada em indivíduos não diabéticos (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). Em revisão de literatura, Lopes, Alves e Pereira (2003) relatam diversos estudos que analisaram a resposta humoral em pacientes diabéticos com periodontite demonstrando alterações significativas nessa resposta, o que pode ser o fator responsável pelo aumento na incidência de periodontite em diabéticos e na expressão da DP mais severa nesses pacientes. Alguns autores sugerem que o DM poderia predispor ao desenvolvimento de periodontite através do mecanismo auto- imune. A hiperglicemia glicosila, gradativamente, as proteínas do corpo, formando produtos finais de glicação (AGEs), que estimulam os fagócitos a liberar citocinas inflamatórias, tais como a IL-6 e TNF- , indiretamente, exacerbando a destruição tecidual inflamatória através do sistema de contra AGE. A observação de uma relação positiva entre a inflamação gengival e os níveis de IL-1 ß e IL-6 no fluido crevicular, indicam que o controle metabólico diminuído nos diabéticos tipo 2 resulta em aumento nos triglicerídeos séricos e numa influência negativa nos índices clínicos periodontais. Uma possível desregulação na sinalização normal de citocinas/fatores de crescimento em pacientes diabéticos tipo 2 fracamente controlados pode contribuir para a destruição periodontal. 2.1.2.7 Alterações vasculares O fator causal primário de desenvolvimento de alterações vasculares no diabético é a prolongada exposição à hiperglicemia. As alterações fisiopatológicas vasculares incluem depósitos de PAS (positivo de carboidratos contendo proteínas extravasadas do plasma) e aterosclerose. Devido a um metabolismo alterado das gorduras, ocorre um favorecimento no depósito de colesterol nas paredes dos vasos sangüíneos dos diabéticos (MELGAÇO, 2002). Nos pequenos vasos, a lesão estrutural é o espessamento da membrana basal em até 4 vezes (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). Os capilares gengivais apresentam rupturas da membrana e presença de colágeno dentro da membrana verdadeira (MELGAÇO, 2002). Edema do endotélio, lúmen vascular obliterado, pobre diferenciação entre as membranas elásticas interna e externa são alterações comumente relatadas (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). Todas as alterações citadas impedem a difusão do oxigênio, a 28 eliminação de metabólitos, a migração de leucócitos e a difusão de fatores imunes, contribuindo para o agravamento da periodontite no diabético (MELGAÇO, 2002). Monócitos, macrófagos e células endoteliais possuem receptores de alta afinidade para AGEs. A ligação de AGEs aos receptores do monócito e macrófago podem induzir uma hiper-resposta celular, resultando em aumento da secreção de interleucina (IL)-1ß, fator de crescimento semelhante à insulina (IGF) e fator de necrose tumoral (TNF)-α.; a ligação às células endoteliais resulta em mudanças pró-coagulação, levando à trombose focal e vasoconstrição. Monócitos de pacientes com diabetes produzem significantemente maiores quantias de TNF-α, IL 1-β e PGE2 in vitro do que os não diabéticos. Clinicamente, diabéticos com periodontite possuem altos níveis de IL 1β e PGE2 no fluido gengival comparados aos controles não diabéticos, mensurados para severidade de doença periodontal. Eventos mediados por AGE são de primordial importância na patogênese de complicações diabéticas como retinopatia, nefropatia, neuropatia e arteriosclerose. Eles também podem estar envolvidos com alterações teciduais dentro do periodonto, atingindo o diabético mal controlado e a suscetibilidade à produção elevada de AGEs a aumentar a destruição tecidual (MEALEY et al.,2000). O defeito na função dos PMNs, indução de resistência à insulina (ou o aumento desta em diabéticos) e alterações vasculares podem contribuir para o aumento da suscetibilidade à infecção. De modo importante, o controle dos níveis de glicose no soro parece reverter parcialmente esses fatores e devem ser monitorados cuidadosamente (MEALEY et al., 2000). Souza et al. (2002) investigaram as alterações vasculares no periodonto de pacientes diabéticos e não diabéticos. Em seu estudo, realizaram análises morfológica e histoquímica do componente vascular sanguíneo dos tecidos periodontais de 13 pacientes portadores de DM tipo 2 e 7 pacientes não portadores (controle), visando identificar os graus de vascularização e espessamento da membrana basal vascular, bem como o nível de obliteração dos vasos sanguíneos periodontais. Observaram que os tecidos periodontais dos diabéticos tipo 2, quando comparados aos dos não diabéticos, apresentaram maior grau de vascularização classificando-se como: intenso (46,15%), moderado (30,77%) e discreto (23,08%) nas gengivas clinicamente sadias. Esse resultado, possivelmente, está relacionado ao caráter hiperinflamatório do DM, representado por níveis mais altos de secreção local de citocinas pró- inflamatórias e fatores de crescimento que estimulam a angiogênese e secretam o fator de crescimento fibroblástico ácido e básico, na tentativa do organismo defender-se do agente agressor. Os tecidos gengivais de diabéticos tipo 2 apresentam maior número de 29 alterações vasculares, o que estaria relacionado a uma hiperglicemia avançada, maior grau de padrão intenso (53,85%) e moderado (38,46%) de espessamento PAS (Ácido Periódico de Schiff) positivo da parede dos vasos sanguíneos, além de ocasional obliteração (total ou parcial) da luz vascular, resultando em alterações pró-coagulatórias que levam à trombose local e à vasoconstrição. Nos não diabéticos, 71,43% exibiram discreta vascularização, 28,57% apresentaram vascularização moderada e não foi observada vascularização intensa em nenhuma amostra gengival desse grupo. No espessamento vascular, 85,71% apresentaram grau discreto e 14,29% grau moderado. Tonetti et al. (2007) estudaram 120 pacientes com DP severa, dos quais 59 pacientes receberam apenas cuidados periodontais básicos e 61 pacientes receberam tratamento periodontal intensivo. A função endotelial foi estabelecida através da mensuração do diâmetro braquial, durante dilatação fluxo- mediado e os índices de inflamação, coagulação e ativação endotelial foram avaliados antes do tratamento periodontal e após 1, 7, 30, 60 e 180 dias de efetuado o tratamento. Os resultados foram: 24 horas após o tratamento, a dilatação mediada pelo fluxo foi significativamente menor no grupo que recebeu tratamento intensivo do que no grupo controle. Entretanto, a dilatação mediada pelo fluxo foi maior e os níveis de selectina E no plasma foram mais baixos no grupo de tratamento intensivo do que no grupo controle 60 dias, e, também, 180 dias após o tratamento periodontal. O grau de melhora foi associado com a melhora das mensurações das bolsas periodontais. Não houve sérios efeitos adversos em nenhum dos dois grupos e nem ocorrência de eventos cardiovasculares. Os autores concluíram que o tratamento periodontal intensivo resulta numa disfunção endotelial e em uma inflamação sistêmica aguda. Entretanto, 6 meses após a terapia, os benefícios na saúde oral foram associados com uma melhora na função endotelial. Wehba, Simone e Vivolo (2006) esquematizaram as complicações microvasculares periodontais em pacientes diabéticos como demonstra o Quadro 2, abaixo: 30 COMPLICAÇÕES MICROVASCULARES ˘ ÁCUMULO DE AGEs ˘ DIMINUIÇÃO DOS LÚMENS DOS VASOS (FORMAÇÃO DE ENDOTELINA) ˘ ALTERAÇÕES VASCULARES DO PERIODONTO ˘ TROMBOS FOCAIS ˘ ESTASE DA MICROCIRCULAÇÃO BAIXA LIBERAÇÃO DE NUTRIENTES E O² PARA TECIDOS ˘ BAIXA CAPACIDADE DE REAÇÃO. Quadro 2 - Complicações microvasculares periodontais em pacientes diabéticos Fonte: Wehba, Simone e Vivolo (2006). 2.1.2.8 Alteração na síntese de colágeno As propriedades do colágeno modificam-se com a idade e com as alterações metabólicas do diabético e isso afeta a progressão da DP e cicatrização de feridas. Quando esses pacientes estão em condições hiperglicemiantes há diminuição na proliferação celular e redução da síntese de colágeno pelos fibroblastos. O diabetes compromete a produção da matriz óssea pelos osteoblastos, diminui a síntese de colágeno pelos fibroblastos gengivais e do ligamento periodontal, além de aumentar a atividade da colagenase gengival (MELGAÇO, 2002) em 4 a 6 vezes e em 12 vezes na pele, quando comparados com pacientes não diabéticos (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). O difícil controle da cicatrização tecidual no diabético decorre da presença de hiperglicemia, microangiopatias, acidez metabólica, fagocitose ineficaz pelos macrófagos, além do aumento da colagenase (MELGAÇO, 2002), que degrada a elastina e o colágeno teciduais e leva o periodonto á destruição (KAWAMURA; MAGALHÃES, 2002). 31 Síntese, maturação e homeostase do colágeno podem ser afetadas pelos níveis de glicose. Estudos de fibroblastos da pele mostraram que condições hiperglicemiantes reduzem a proliferação e crescimento celular, além de reduzir a síntese de colágeno e glicosaminoglicanas. Adicionalmente, fibroblastos gengivais de diabéticos sintetizam menos colágeno. Ratos diabéticos têm deficiência na produção de componentes da matriz óssea pelos osteoblastos e síntese reduzida de colágeno por fibroblastos do ligamento periodontal e da gengiva. A tetraciclina foi capaz de melhorar a supressão metabólica da atividade osteoblástica e dos fibroblastos do ligamento, em ratos diabéticos (MEALEY et al., 2000). Adicionalmente à diminuição da produção de colágeno associada ao diabetes, investigadores também encontraram aumento da atividade de colagenase nos tecidos gengivais de animais. Atividade colagenolítica no fluido gengival também está aumentada em diabéticos; esse fato parece ter origem principalmente neutrofílica. Ratos em condições de isolamento desenvolveram elevados níveis de colagenase quando diabete foi induzido com estreptozotocina. Esses resultados indicaram que o aumento da colagenase foi endógeno, derivado independentemente de fatores bacterianos. Interessantemente, o aumento nos níveis de colagenase no fluido é encontrado em pacientes com diabetes, e pode ser inibido in vitro pela tetraciclina (MEALEY et al., 2000). Os mecanismos responsáveis pela cicatrização em diabéticos são desconhecidos. É provável que efeitos cumulativos de alteração da atividade celular (que tem parte na suscetibilidade à infecção), também possam afetar a cicatrização. Diminuição da síntese de colágeno pelos fibroblastos e aumento da produção de colagenase em diabéticos também possuem papel importante na cicatrização. A glicação do colágeno existente nas margens da ferida resulta em solubilidade diminuída e defeito do remodelamento desta. Adicionalmente, o aumento da colagenase pode prontamente degradar o colágeno recém sintetizado (MEALEY et al., 2000). 2.1.2.9 Microbiota periodontal Embora a maioria dos estudos indique que a microbiota associada à periodontite nos diabéticos não é diferente da microbiota de indivíduos não diabéticos com periodontite, a literatura aponta maior freqüência de algumas espécies como A. actinomycetencomitans, Copnoocytophaga, P. intermedia, Campylobacter rectus e P. gingivalis. Alguns estudos têm 32 estabelecido uma relação entre A. actinomycetencomitans e algumas formas clínicas de doenças periodontais, especialmente a periodontite juvenil localizada (MADEIRO; BANDEIRA; FIGUEIREDO, 2005). Uma análise dos morfotipos bacterianos de sítios periodontalmente saudáveis e doentes verificou que bastonetes móveis e espiroquetas foram mais freqüentes em bolsas periodontais de diabéticos com pobre controle metabólico, quando comparados com diabéticos controlados, indicando a influência do controle metabólico da glicose sobre a microbiota periodontal (GREGHI, 2002). Nos diabéticos tipo 1, a progressão e severidade das infecções estão associados não só ao controle metabólico, mas também a fatores genéticos que aumentam a produção de mediadores da inflamação. Parecem ter uma microbiota mais virulenta, composta de Copnoocytophaga e A. actinomycetemcomitans. Nos diabéticos tipo 2, os efeitos no controle de metabolismo têm uma contribuição importante no aumento da suscetibilidade às infecções, incluindo a DP. A microflora parece ser semelhante a de pacientes normais portadores de DP (MATTA, 2000). Grossi (2000) destaca o papel da placa bacteriana dentária e a conexão entre doença periodontal, doença cardíaca e diabetes mellitus. Explica as características do biofilme bacteriano dental formado sobre a superfície dentária e suas conseqüências mais significativas, considerando-se como muito importante a contínua liberação dos componentes superficiais da célula bacteriana na cavidade oral e no sulco gengival. Dessa forma, os biofilmes subgengivais constituem uma significativa carga bacteriana recebida continuamente pelo hospedeiro. Esses biofilmes são reservatórios auto-renováveis de endotoxinas (lipopolissacarídeos) e outras toxinas bacterianas que podem ter acesso não só aos tecidos periodontais circundantes como também à circulação geral. O combate sistêmico crônico dos biofilmes subgengivais induz a uma sobre-regulação das moléculas de adesão das células endoteliais, secreção de interleucina-1 e fator de necrose tumoral alfa, tromboxano, aumento do depósito plaquetário, formação de células espumosas ricas em lipídios e depósitos de colesterol. Esquema do processo inflamatório e infeccioso periodontal em pacientes diabéticos por Wehba, Simone e Vivolo (2006) pode ser observado no Quadro 3, a seguir: 33 INVASÃO BACTERIANA ˘ ALTERAÇÕES VASCULARES PERIODONTAIS ˘ BACTÉRIAS E LPS ˘ TECIDO CONJUNTIVO E VASOS SANGÜÍNEOS ˘ Linfócitos B e T, CÉLULAS PLASMÁTICAS, MACRÓFAGOS ˘ LPS + MACRÓFAGOS = SÍNTESE DE IL-1ß, TNF-α, PGE-2, MMPs ˘ MEDIADORES DE REABSORÇÃO ÓSSEA + DEGRAÇÃO DE COLÁGENO Quadro 3 - Processo inflamatório e infeccioso periodontal em pacientes diabéticos Fonte: Wehba, Simone e Vivolo (2006). Lopes, Alves e Pereira (2003) em revisão de literatura destacam alguns estudos demonstrando que a microbiota patogênica de bastonetes móveis e espiroquetas foram mais freqüentes em bolsas periodontais de indivíduos diabéticos mal controlados, quando comparados aos indivíduos com bom controle, indicando a influência do controle metabólico da glicose sobre a microbiota periodontal. Por outro lado, ao analisarem a resposta microbiológica à terapia periodontal em pacientes diabéticos e não-diabéticos após instrumentação subgengival, verificaram que as espécies bacterianas foram reduzidas de forma equivalente nos dois grupos de pacientes. A prevalência significativa de alguns patógenos como P.gingivalis em pacientes diabéticos, também em bolsas periodontais profundas de pacientes não diabéticos, sugere que a composição da microflora periodontal em sítios com DP de pacientes com diabetes tipo 2 parece ser similar à encontrada em periodontite do adulto em pacientes saudáveis, assim como na microbiota subgengival entre crianças diabéticas tipo 1 e não diabéticas. 34 2.1.2.10 Alterações no fluido crevicular A formação de produtos finais do metabolismo da glicose (AGEs) possui um importante papel sobre a regulação da linhagem celular monócito/macrófago. A acumulação de AGEs no periodonto estimula o influxo de monócitos. Uma vez nos tecidos, há interação entre as AGEs e RAGEs na superfície celular dos monócitos. Essa interação AGE-RAGE induz a uma mudança no fenótipo do monócito auto-regulando a célula para aumentar, significantemente, a produção de citocinas inflamatórias. Daí provém a explicação para o aumento, no fluido crevicular, do TNF-α, PGE-2 e IL1-ß notado em pacientes diabéticos (LOPES; ALVES; PEREIRA, 2003). O nível de glicose sangüínea aumentado em diabéticos é refletido no FCG. A quimiotaxia dos fibroblastos do ligamento periodontal é diminuída no meio hiperglicêmico e afeta os eventos de cicatrização e a resposta local do hospedeiro (CÔRTES et al., 2005). O nível elevado de glicose induz a sobre-expressão de receptores de fibronectina, que promove uma deficiência na quimiotaxia dessas células. Com base nesses dados, este pode ser o mecanismo pelo qual a hiperglicemia compromete a cicatrização em pacientes diabéticos e, em parte, pode ser o motivo pelo qual os pacientes diabéticos estão predispostos à destruição periodontal severa (LOPES; ALVES; PEREIRA, 2003). 2.2 DIABETES E DOENÇA PERIODONTAL Tomita et al. (2002) estudou a relação entre as condições periodontais e diabetes mellitus na população nipo-brasileira do município de Bauru, São Paulo, na faixa etária de 30 a 92 anos de idade, de ambos os sexos, examinando 1.315 indivíduos. O índice periodontal comunitário (IPC) e o índice de perda de inserção periodontal (PIP) foram obtidos mediante sondagem em 10 dentes- índices, em uma amostra de 831 indivíduos. O diagnóstico do DM foi estabelecido através da glicemia em jejum e de duas horas após sobrecarga com 75 mg de glicose. Em relação às condições periodontais, foi encontrado: 25,5% de indivíduos sadios; 12,5% indivíduos com sangramento à sondagem; 49,4% com presença de cálculo; 10,4% com bolsas superficiais; 2,2% com bolsas profundas. 24,2% dos indivíduos apresentaram perda de inserção periodontal de 0-3 mm; 36,7% entre 4-5 mm; 23,7% entre 6-8 mm; 11,3% de 9- 35 11mm e 4,1% de 12 mm ou mais. A avaliação entre DM e condições periodontais não apresentou associação estatística, embora os diabéticos tenham maior percentual de bolsas profundas e perda de inserção maior que 6mm que os não diabéticos. Gusmão et al. (2002) realizaram um levantamento em 416 prontuários de pacientes de ambos os gêneros, com idade entre 16 e 74 anos, inscritos para tratamento na clínica de periodontia da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP/UPE), para verificar a ocorrência de alterações e doenças sistêmicas associadas à condição periodontal. Os resultados revelaram que dos 416 prontuários os pacientes apresentaram 100% de gengivite marginal crônica, independente da idade e gênero, devido à higiene bucal precária. O percentual de 8,17% para a hiperplasia gengival medicamentosa pelo uso de fenitoína nos pacientes jovens e pela nifedipina pelos pacientes com idade mais elevada, por problemas cardiovasculares; enquanto a recessão gengival foi registrada em 38,22%, tendo como causa vários fatores, como inserção anormal de freios e bridas, escovação traumática, dentes mal posicionados, pela doença periodontal e fisiológica em pacientes mais idosos. Em 23,32% dos prontuários avaliados, foi registrada a invasão do espaço biológico por procedimentos restauradores e protéticos e severidade da DP. Na faixa etária de 40 a 74 anos 79,31% e 85%, respectivamente para o gênero feminino e masculino tinham periodontite crônica de leve à grave. Quanto às condições sistêmicas, constatou-se um percentual de 77,16% da amostra analisada com registro de diversos tipos de doenças ou alterações, como anemia, alergia, angina pectoris, acidente vascular cerebral, bronquite, disfunções renal e neurológica, distúrbios hormonais, pressão alta e baixa. Dentre estas alterações a hipertensão arterial obteve o maior número de registro (67), seguido dos distúrbios hormonais (54), bronquite (40), diabetes (38), alergia (22), disfunção renal (21) e AVC (13). As informações obtidas nos prontuários analisados comprovaram que pacientes comprometidos periodontalmente encontram-se associados a um grande número de alterações sistêmicas, pois do total investigado, 77,16% apresentava algum tipo de alteração sistêmica associada às condições periodontais. Em revisão de literatura, Bastos et al. (2005) relatam que a obesidade afeta a imunidade do hospedeiro, devido à diminuição do fluxo sangüíneo. Tal fato foi comprovado em um estudo realizado por Perstein e Bissada em 1977 (apud BASTOS et al., 2005) com 44 ratos normais, que eram espontaneamente obesos, hipertensos ou obesos e hipertensos. Foi avaliada histopatologicamente a estrutura periodontal que mostrou hiperplasia e hipertrofia das paredes dos vasos sangüíneos periodontais, resultados indicando que a obesidade contribui para a severidade da DP. Plasminogênio 1 induz a aglutinação de sangue e exacerba 36 o risco de doenças vasculares isquêmicas e pode decrescer o fluxo sangüíneo no periodonto de obesos e promover o desenvolvimento da periodontite. Levanta-se, ainda, a hipótese de que a obesidade, na hiper- indução das citocinas, promove o processo crônico das estruturas periodontais e que a obesidade tem uma significativa associação com a DP em termos de índice de massa corpórea (IMC), circunferência abdominal e consumo máximo de oxigênio. A gordura localizada na região abdominal é um significante fator de risco para diabetes tipo 2, para a hipertensão e para vários tipos de câncer. Bastos et al., (2005) descrevem o trabalho de Al- Zahrani et al. (2003) que analisam a influência da obesidade sobre a incidência da DP, em estudo populacional com 13.665 jovens adultos norte-americanos submetidos ao exame periodontal. Foi observada a relação da obesidade com a idade, o IMC e a circunferência abdominal numa análise multivariável. Como variáveis: sexo, raça, nível de escolaridade, índice de pobreza, tabagismo, diabetes e o interstício entre o último exame odontológico e o estudo. Os resultados revelaram que tanto a obesidade geral quanto a obesidade visceral, possuem uma associação significativa com a ocorrência da DP em jovens adultos (18-34 anos). Porém, tal relação não se confirmou em obesos adultos (35-59 anos) e obesos adultos mais velhos (60-90 anos), apesar da conhecida suscetibilidade dessas faixas etárias à DP. A magreza, com peso corporal abaixo do padrão de normalidade (IMC<18,5) foi relacionada com a redução da suscetibilidade à periodontite (associação negativa). Os autores concluíram que a obesidade precoce dos indivíduos de 18 a 34 anos de idade pode ser considerada como um fator de risco em potencial para a DP. Esses dados estabelecem, de forma convincente que a obesidade é um fator predisponente para a DP, particularmente em adultos jovens. Chapper et al. (2005) relacionaram a obesidade e doença periodontal em gestantes diabéticas, avaliando o efeito da massa corporal prévia à gestação sobre o periodonto de pacientes com diabetes mellitus gestacional (DMG). 60 gestantes foram classificadas em 3 grupos segundo o IMC: normal, sobrepeso e obeso. Os parâmetros de avaliação periodontal foram: sangramento gengival (SG); sangramento à sondagem (SS) e perda de inserção clínica periodontal (PI) categorizada de acordo com os seguintes valores: 1) correspondente à ausência de PI; 2) PI entre 1 e 2 mm; 3) PI entre 3 e 5 mm; e 4) PI> 6 mm. As diferenças foram significativas entre o grupo normal e obeso com relação à presença de SG (52,76 ± 27,99% e 78,85 ± 27,44%, respectivamente) e PI (2,21 ± 0,41 mm e 2,61 ± 0,54 mm, respectivamente). Embora tenha sido observado aumento no percentual médio de SS à medida do incremento do IMC, não foram observadas diferenças significantes entre os grupos, e a variação foi de 55,65% a 75,31%. Pacientes com DMG e obesidade pré-gestacional 37 apresentaram significativamente mais gengivite e perda de inserção periodontal que aquelas com IMC pré-gestacional normal. O tratamento periodontal deve ser considerado na determinação de futuras recomendações de controle metabólico para esse grupo especial de pacientes. 2.3 TRATAMENTO PERIODONTAL PARA DIABÉTICOS O ataque da placa dental e a propagação sistêmica da infecção bucal representam um significativo fator complicador das condições sistêmicas, tais como doenças cardíacas e o DM. A fisiologia e metabolismo dos biofilmes microbianos são complexos, permitindo a sobrevivência da comunidade microbiana inteira. As bactérias que crescem nesses biofilmes complexos são resistentes à fagocitose e à morte pelo sistema imunológico do hospedeiro, assim como ao efeito das drogas antimicrobianas. Desse modo, os biofilmes bacterianos escapam das defesas naturais e dos mecanismos de eliminação, sendo preservados e capazes de sustentar um crescimento contínuo. A ulceração do epitélio do sulco ou da bolsa, como resultado da resposta do tecido local a enzimas e toxinas das bactérias no biofilme subgengival, se torna uma significativa porta de entrada de bactérias orais para a circulação geral. Com uma extensão lateral e apical do biofilme bacteriano ao longo da superfície radicular, o espaço subgengival torna-se um nicho de organismos gram- negativos com potencial para disseminar bactérias orais a locais distantes e para o interior da circulação sistêmica, permitindo que produzam lesões tanto locais quanto em vasos sangüíneos maiores (GROSSI, 2000). Os estudos longitudinais demonstraram que o DM aumenta o risco de DP grave independentemente da idade, da presença da placa bacteriana, e cálculos. Uma vez que a DP se estabeleça em um indivíduo diabético, a gravidade do diabetes e a probabilidade de complicações a ela relacionadas crescem significativamente em comparação com os diabéticos com DP branda ou sem ela. Portanto, a DP é um importante problema de saúde para os diabéticos, complicando e aumentando a gravidade da doença (GROSSI, 2000). A propagação sistêmica da infecção periodontal, ou o ataque da placa dental, enfatiza a necessidade de um tratamento específico da infecção por biofilme subgengival. O tratamento periodontal deve ser especificamente dirigido tanto ao hospedeiro quanto ao 38 patógeno microbiano. A idéia convencional de que “um tratamento serve para todos” deve ser substituída por uma terapia anti- infecciosa específica, individualmente definida e prescrita. O tratamento efetivo da infecção periodontal em diabéticos é essencial para um controle adequado do estado da doença. Estudos combinando antibióticos sistêmicos com uma terapia mecânica periodontal do tipo convencional, relataram uma melhora tanto nos resultados clínicos do estado periodontal quanto no controle metabólico do DM. Pacientes tratados com debridamento mecânico, demonstraram uma redução da necessidade de insulina e controle da glicose a longo prazo. (GROSSI, 2000). O tratamento dos pacientes pode dividir-se, deste modo, em três categorias principais: (1) pacientes que apresentam periodontite severa, doença cardíaca ou DM claramente instalados; (2) pacientes com periodontite severa e com um histórico familiar de doença cardíaca ou DM. Ter um familiar em primeiro grau com um histórico de uma dessas duas doenças crônicas é um determinante extremamente importante para também apresentá-la; (3) pacientes com DP severa e doença cardíaca ou DM não diagnosticados (GROSSI, 2000). É desejável que se estabeleça um protocolo de atendimento de pacientes diabéticos constando da seguinte seqüência e fatores observados: 1) Anamnese e exame clínico; 2) Exame periodontal: sondagem periodontal _profundidade clínica de sondagem (PCS), índice de placa (IP), índice de sangramento (IS), nível de inserção clínica (NIC)_ Fatores Retentivos de placa bacteriana, cáries, restaurações (contatos excessivos ou falta de contato), faltas dentárias, freios e bridas volumosos; 3) Orientação de higiene bucal (escova convencional, interdental, bitufo, fio dental, colutório); 4) Requisição de avaliação do estado de saúde sistêmica dos pacientes. 5) Condição geral sistêmica; 6) Comprometimentos _neurológicos, vasculares, retinianos, renais e cardiológicos; 7) Medicações utilizadas; 8) Requisição de exames radiográficos; 9) Análise dos exames laboratoriais _ glicemia em jejum, hemoglobina glicada, microalbuminúria, creatinina, hemograma e coagulograma; 39 10) Classificação dos pacientes quanto ao risco (alto, médio e baixo); 11) Avaliação do paciente diabético; 12) Tempo de manifestação do DM; 13) Tipo de terapia requerida. Posteriormente, procede-se à realização de profilaxia antibiótica, quando necessária (pacientes de alto e médio risco), para a execução do tratamento periodontal básico (raspagem, alisamento, polimento corono-radicular, splintagens, ajustes oclusais, pequenos movimentos ortodônticos e eliminação de fatores retentores de placa bacteriana). Terminada esta fase inicial realiza-se a reavaliação do paciente para que, após alcançada a saúde periodontal, se possa estabelecer os intervalos adequados de manutenção e controle do paciente diabético (WEHBA; SIMONE; VIVOLO, 2006). Em pacientes com diabetes mal ou moderadamente controlada sofrendo de infecção periodontal crônica, a eliminação efetiva da infecção subgengival exige ser abordada com um tratamento combinado. Foi demonstrado que as freqüências sônicas e ultra-sônicas destroem as paredes das células bacterianas e cápsulas de gram-positivos, gram- negativos e espiroquetas. Antimicrobianos tópicos incorporados aos líquidos de irrigação nos instrumentos ultra-sônicos reforçaram a lavagem física da infecção subgengival (GROSSI, 2000). Os antibióticos sistêmicos contribuem como um complemento no tratamento antimicrobiano da infecção oral com potencial para propagação sistêmica em pacientes de alto risco. A meta fundamental é que o tratamento baseado em evidências da infecção periodontal em diabéticos não somente reduza a carga da doença periodontal, mas também promova a retenção dental, a saúde oral e, o que é o mais importante, contribua para diminuir a grande morbidade associada a essa doença crônica (GROSSI, 2000). Cuidados especiais devem ser tomados na prescrição de medicamentos a pacientes portadores de DM, principalmente aqueles que já apresentam complicações sistêmicas decorrentes do diabetes. Não são indicados os anestésicos contendo adrenalina e noradrenalina, visto que as catecolaminas, por processo bioquímico, aumentam o nível glicêmico. O anestésico de eleição é a citocaína, pois seu vasoconstritor não causa a ciclização do A.T.P, aumento dos íons fosfato, levando a formação de glicose 6 _ fosfato e finalmente glicose (NEDER, 1984). Os anti- inflamatórios esteróides apresentam alto potencial de retenção hídrica, agravando ainda mais os quadros de hipertensão arterial e nefropatias, além de causarem imunodepressão quando administrados por tempo mais prolongado. Os anti- inflamatórios não 40 esteróides (AiNES) apresentam um potencial de retenção hídrica menor que os esteróides e são indicados a pacientes portadores de DM. Fazem parte desse grupo os salicilatos, os derivados pirazolônicos, os derivados do ácido antranílico, a benzidamina e a indometacina. A benzidamina reduz a permeabilidade capilar, inibe a COX, diminui o edema, interfere na velocidade migratória dos leucócitos e macrófagos, promovendo rápida normalização da microcirculação regional. Para adultos, a posologia é de 4 comprimidos de 50 mg/dia e para crianças é indicada 1 gota/kg, 4 vezes ao dia (TORTAMANO, 1984). A indometacina inibe a motilidade dos leucócitos polimorfonucleares, alcança níveis plasmáticos entre uma a duas horas após a administração. Não é indicada para pacientes com menos de 14 anos de idade, gestantes, portadores de doenças renais, pacientes que apresentam lesões ulcerativas do estômago e parte alta do intestino. A posologia indicada é de 25 mg, via oral, de 6/6 horas. Não ultrapassar a dosagem de 100 mg/dia (TORTAMANO, 1984). Os antimicrobianos apresentam uma posição de destaque no tratamento do paciente portador de DM, pois a doença leva a uma diminuição da resposta imunológica tornando, portanto, o paciente diabético mais suscetível às infecções. As intervenções odontológicas causam bacteremias transitórias e no paciente portador de DM que não consegue manter um controle eficaz da taxa glicêmica, esta bacteremia tem um significado importante. É indicado que se adote como conduta, uma antibioticoterapia profilática através da administração de 2 g de amoxicilina 1 hora antes das intervenções odontológicas mais invasivas, capazes de provocar a ruptura de vasos sangüíneos colocando, em contato direto, os microorganismos patogênicos com a corrente circulatória. A antibioticoterapia profilática somente é indicada em pacientes que não apresentam um processo infeccioso já instalado, caso contrário deve-se indicar a antibioticoterapia curativa que deve se estender por um período de aproximadamente 10 dias (WEHBA; SIMONE; VIVOLO, 2006). Wehba, Simone e Vivolo (2006) dão conta que o tratamento periodontal em pacientes diabéticos pode melhorar o controle glicêmico, principalmente em diabéticos tipo 2. Destacam que, como opção, pode-se associar amoxicilina com ácido clavulânico, medicação esta que se mostrou grande coadjuvante na terapia periodontal favorecendo a melhora de valores de hemoglobina glicada após sua utilização. A posologia indicada é de amoxicilina 500 mg + ácido clavulânico, um comprimido de 8/8 horas, durante 7 dias. Os ciprofloxacinos, administrados em concentração de 500 mg cada 12 horas, durante 5 dias. Outras excelentes opções terapêuticas são doxiciclinas (via oral e parenteral) por não conterem enzimas na sua composição, pois essas aumentam a permeabilidade das 41 membranas inflamadas e haverá aumento do tempo de sangria e de cura tecidual. Têm ação prolongada, seu potencial anti- infeccioso reduz o número de periodontopatógenos, inibe a glicação de proteínas extra-celulares e de forma similar pode ocorrer esse efeito na glicação das hemoglobinas. A posologia é de 100 a 200 mg/dia, para adultos e 2 a 4 mg/kg/dia, para crianças, durante 10 dias (TORTAMANO, 1984). As tetraciclinas, independentemente dos efeitos antimicrobianos, modulam a resposta do hospedeiro pela supressão do processo colagenítico e pelo aumento da síntese e secreção de proteínas, inibindo a destruição tecidual por enzimas (TORTAMANO, 1984). Em um estudo de revisão de literatura, Antolini et al. (2004) considera o corpo como um conjunto de órgãos integrados e interligados e que a disfunção de um deles ocasiona reflexos em outros. A abordagem sistêmica avaliando e considerando as distintas patologias como expressão da grande doença básica individual - o desequilíbrio da energia vital - norteia a prática da medicina homeopática. Os medicamentos homeopáticos parecem ser úteis no controle da glicemia, das demais alterações metabólicas e das complicações referentes à região bucal. Mas é importante ressaltar o valor da dietoterapia, dos exercícios físicos e do tratamento hormonal tradicional insulínico, além do tratamento local e da higiene pessoal no caso das lesões bucais em pacientes portadores de diabetes. Como um tratamento alternativo, apresenta-se os medicamentos homeopáticos, de acordo com os autores acima citados, considerados úteis para o tratamento do diabetes tipo 2 e para minimizar as complicações sistêmicas e bucais de ambos os tipos de DM. Sobressaemse os seguintes: 1) Echinacea ang.: é um medicamento de origem vegetal, indicado para enfermidades gerais e locais, linfangites e adenopatias. Em DM é utilizado principalmente para vasculopatias com tendência a úlceras e gangrenas. Em nível bucal é útil em odontalgias, glossites, xerostomia, gengivites com sangramento, ulcerações aftosas e halitose. Tem sido um dos principais medicamentos usados no tratamento do diabetes tipo 2. 2) Uranium nit.: embora não muito utilizado nas patologias bucais do DM, atua para o controle da glicemia principalmente nas agudizações por patologias de base, como stress emocional e infecções. 3) Arsenicum-album e Kreosotum: utilizados devido principalmente à ação organotrópica sobre a mucosa oral, são úteis inclusive para minimizar as lesões relacionadas à Candidíase oral. 42 4) Calcarea-c e Calcarea-p: são grandes equilibradores do metabolismo glicídico e lipídico do organismo. Além disto, atuam diretamente sobre os dentes, a língua e as gengivas, cobrindo diversos tipos de lesões. 5) Natrum sulphuricum: age bem sobre as seguintes lesões e sintomas bucais: xerostomia, cáries por deterioração, gengivites, abscessos gengivais, mobilidade e dores dentárias. É útil também como auxiliar para o controle da glicemia. 6) Sulphur- iodatum: é um importante medicamento para a sensibilidade e a mobilidade dos dentes. Também é indicado para o controle da glicemia quando não há necessidade de insulina parenteral, semelhante ao Natrum-s. 7) Mercurius-sol.: é um dos mais importantes medicamentos para as lesões bucais mais prevalentes no DM , agindo sobre aftas, ulcerações, degenerações e cáries ósseas, halitose e diversos tipos de infecções virais, fúngicas e bacterianas, freqüentes sobretudo em pacientes diabéticos descompensados. Para uso tópico coadjuvante são indicados, em baixas potências: Arnica para lesões traumáticas as quais freqüentemente complicam-se com infecções secundárias em diabéticos, Própolis, Chamomilla e Malva para hiperemia e inflamações e Hamamellis para sangramentos gengivais (ANTOLINI et al., 2004). Em muitos casos, a pessoa mais informada sobre o controle dos níveis de glicose é o paciente. O dentista deve conversar brevemente com os pacientes sobre a história recente de seu controle glicêmico. Também, a equipe da clínica deve determinar o local para qualquer paciente auto-administrar a medicação em emergências diabéticas, prescritas pelo médico. Pacientes podem querer trazer seu monitor de glicose em casos onde glicose intra-operacional for indicada. Os pacientes devem ser encorajados a comunicar qualquer mudança perceptível em sua condição à equipe do consultório. As consultas com o médico do paciente devem incluir um requerimento de cuidados no manejo do paciente em emergências diabéticas (MEALEY et al., 2000). A emergência mais propensa a ocorrer em consultório é a hipoglicemia (ou choque insulínico). O choque pode ser precipitado em diabéticos que usam insulina por exercício excessivo, estresse, overdose de insulina ou falha em manter uma dieta balanceada. Embora os sinais e sintomas da hipoglicemia não ocorram até que se atinjam níveis de glicose abaixo de 60 mg/dl ou menos, sintomas podem ocorrer sob altos níveis naqueles pacientes cuja concentração de glicose no sangue é marcadamente elevada (mau controle glicêmico), e cai rapidamente. A determinação do nível de glicose pré-tratamento através do glicômetro pode prevenir a hipoglicemia. Pacientes com glicose perto ou abaixo do nível normal (entre 43 70 e 80 mg/dl) podem ser beneficiados consumindo uma pequena quantia de carboidrato antes do tratamento. Os sinais e sintomas de hipoglicemia incluem inicialmente confusão mental, mudança súbita de humor, letargia seguida de taquicardia, náuseas, sudorese fria, fome, aumento de motilidade gástrica e comportamento bizarro crescente. Hipotensão, hipotermia e perda da consciência podem seguir-se se a condição não for tratada. Na maior parte dos casos severos, doenças repentinas podem se desenvolver, com possibilidade de morte. Os sinais progridem rapidamente e o tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível. O tratamento inicial consiste na administração de pelo menos 15 gramas de carboidrato via oral (como suco de laranja, bebidas leves ou doces). Se uma via intravenosa for necessária, dextrose (10 a 20 ml de D50) poderá ser administrada. O paciente usualmente responde dentro de 5 a 10 minutos. Nesse momento, o paciente deve ser monitorado ficar estável, e seu médico deve ser notificado. O sistema de alerta de emergência médica deve ser ativado se o paciente não responder, e este deve ser transportado para o hospital. O glucagon também pode ser administrado no tratamento de hipoglicemia severa, com a vantagem de que seu uso intravenoso, intramuscular ou subcutâneo é igualmente eficaz. O glucagon promove glicogenólise e gliconeogênese, mas o efeito pode ser transitório, uma vez que a resposta depende do glicogênio hepático. Assim, aos pacientes inconscientes, a glicose oral deve ser dada somente quando acordarem, para prevenir recorrência. O dentista deve estar atento para o fato de que o glucagon possui efeitos cardíacos inotrópicos (MEALEY et al., 2000). A crise de diabetes pode se desenvolver quando o nível de glicose sanguínea atinge 200 mg/dl por um período de tempo longo. A crise hiperglicêmica, a qual se desenvolve lentamente e geralmente requer longo período, é bem menos comum em consultório dentário do que a hipoglicemia. Em diabéticos tipo 1, cetose diabética pode ocorrer. Isso se apresenta com características similares àquelas encontradas em diabéticos não controlados. Nos últimos estágios (como em cetose), o indivíduo fica desorientado, com respiração rápida e profunda, e pele quente e seca. Hálito cetônico pode ficar evidente. Já o paciente com diabetes tipo 2 é resistente a cetoacidose, mas hiperglicemia prolongada causa acidose não cetônica com hiperosmolaridade. Nessa condição ocorre acidose na ausência de cetose no sangue. Tanto na cetoacidose como na acidose não cetônica hiperosmolar, hipotensão severa e perda da consciência podem se desenvolver se não for feito um tratamento; então o paciente consciente deve ser encaminhado ao hospital. O paciente inconsciente deve ser tratado com procedimentos básicos de suporte, incluindo manutenção das vias aéreas e administração de oxigênio a 100%, seguidos de fluidos intravenosos para prevenir colapso vascular. Aos pacientes afetados não deverá ser dada insulina antes da 44 obtenção de valores de eletrólitos e glicose no hospital. Geralmente a recuperação é mais lenta do que aquela vista em pacientes com choque (MEALEY et al., 2000). Pode não ser possível diferenciar hipoglicemia de hiperglicemia em um paciente desorientado ou inconsciente. Nesse caso, o tratamento deve ser iniciado como para hipoglicemia, uma vez que o paciente hipoglicêmico se deteriora mais rapidamente. Ainda, o tratamento para hipoglicemia ou choque com glicose não significa piora do estado hiperglicêmico, em caso de diagnóstico incorreto. Monitorar a condição do paciente usandose glicômetro pode diferenciar entre hipo e hiperglicemia, e pode ser útil em uma recorrência eventual de crise hipoglicêmica (MEALEY et al., 2000). O tratamento periodontal em diabéticos deve ser organizado de forma a evitar os picos de atividade da insulina e possível crise hipoglicêmica. Preferencialmente deve ser executado no período matutino, após o desjejum e administração dos medicamentos. Os procedimentos devem ser curtos, menos traumáticos possíveis, de forma que não interfiram na dieta do paciente. A ansiedade do paciente deve ser controlada para reduzir o estresse, com isso há um mínimo de liberação de epinefrina endógena, pois interfere diretamente na utilização da insulina pelo organismo (TERRY, 2005). Recomenda-se, para pacientes diabéticos, manter higiene bucal meticulosa, receber tratamento periodontal de suporte em intervalos curtos (2 a 3 meses), pois há tendência discreta, porém persistente, de destruição periodontal progressiva, apesar do controle eficaz do metabolismo do DM, serem monitorados para cáries dentárias, utilizarem flúor como preventivo, aderir ao controle metabólico do DM, evitar o fumo, bebidas alcoólicas e as que contenham cafeína. Nos casos de xerostomia, podem ser benéficos o uso de substitutos de saliva artificial (Salagen), freqüente ingestão de água e estimular o fluxo salivar com o uso de goma de mascar sem açúcar. Os produtos de higiene oral que contém Lauril sulfato de sódio devem ser evitados, pois são irritantes para as mucosas de pacientes com xerostomia. Está indicado o monitoramento de crescimento excessivo de fungos (Cândida albicans) e se necessário o uso profilático de fungicidas tais como Nistatina em pó (não contém sucrose) misturado em água para fazer bochechos e Itraconazol, também para bochechos (TERRY, 2005). 45 3 CONCLUSÃO Com base na revisão da literatura especializada pode-se inferir: 1. no exame e tratamento da saúde bucal de um paciente, muitos aspectos devem ser considerados. Da mesma forma que a saúde geral do paciente pode influir em sua saúde bucal, o contrário também é verdadeiro; 2. existe uma relação próxima diabetes e a saúde periodontal que necessita de mais estudo e investigação, embora venha sendo estudada há muito tempo. Ela pode acontecer por duas vias: causal direta ou susceptibilidade individual à uma ou às duas doenças; 3. a hipótese de que a periodontite é um verdadeiro fator de risco e, sua causa, está ligada à importantes características de saúde geral. Está reconhecido que o diabetes aumenta o risco de infecção (inclusive a infecção periodontal), mas também, que infecções não resolvidas no diabético (potencialmente a periodontal) coloca-os sob risco de difícil controle glicêmico; 4. a periodontite em gestantes diabéticas pode afetar o controle de glicemia e, além disso, parece ser um fator de risco independente para nascimento de crianças de baixo peso. 5. destaca-se a importância do tratamento periodontal, o qual reduz o número de microorganismos e seus produtos, assim como substâncias liberadas pelo hospedeiro em resposta à presença do biofilme dentário, diminuindo o risco de alterações sistêmicas; 6. o tratamento efetivo da infecção periodontal em diabéticos é essencial para um controle adequado do estado da doença, ou seja, pode estabilizar o controle metabólico, na maioria dos diabéticos. Grande parte dos diabéticos bem controlados respondem ao tratamento das doenças periodontais tão bem quanto os não diabéticos, n o entanto, alguns diabéticos mal controlados, podem apresentar melhora mínima; 7. a meta fundamental é que o tratamento da infecção periodontal em diabéticos não somente reduza a carga da doença periodontal, mas também promova a retenção dental, a saúde oral e, o que é o mais importante, contribua para diminuir a grande morbidade associada a essa doença crônica. O futuro da prática odontológica será dramaticamente alterado se pesquisas subseqüentes confirmarem que a doença periodontal é um verdadeiro fator de risco para doenças sistêmicas, e que, o início e progressão dessas condições médicas, podem ser reduzidos pelo tratamento periodontal. Obviamente, haverá posterior integração da medicina 46 geral e dental, a qual trará novas oportunidades no diagnóstico e colaboração entre as especialidades. Por exemplo, endocrinologistas deverão referir diabéticos mal controlados para tratamento periodontal, como um dos pontos de controle de seu diabetes. Todos os diabéticos devem ter uma avaliação odontológica rotineira e realizar tratamento preventivo. O dentista que entende o papel do diabetes na etiologia das doenças bucais, o potencial da infecção oral sobre o controle glicêmico, as abordagens médicas terapêuticas e a implicação do diabetes no cuidado odontológico oferecem ao paciente melhores chances de sucesso com o tratamento. Em virtude disso, sugere-se que os currículos dos cursos de graduação em Odontologia contemplem com maior atenção o problema dos diabéticos para que os alunos enfrentem, com conhecimento, o tratamento desses pacientes especiais. 47 REFERÊNCIAS ALDRIDGE, J.P. et al. Single-blind studies of the effects of improved periodontal health on metabolic control in type 1 diabetes mellitus. J Clin Periodontol, Denmark, v. 22, n.4, p.271275, apr./1995. 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