Entrevista: Fernanda Furia e a importância da tecnologia na

Entrevista: Fernanda Furia e a importância da tecnologia na educação
Fabiana Rodrigues de Oliveira
(Assessora de Comunicação do Colégio Novo Tempo)
Resumo:
A psicóloga Fernanda Furia participou como palestrante na Formação de
Professores do Colégio Novo Tempo. Especializada em "Competências
Socioemocionais", a psicóloga gentilmente aceitou o convite para participar desta
entrevista.
Palavras-chave: psicologia, competências socioemocionais, tecnologia e
educação.
Nos dias de hoje, apoiar a educação com tecnologia é importante, uma vez que
consiste na aplicação do estudo teórico, bem como na compreensão do contexto
tecnológico atual e avanços do setor. Ter uma visão completa de como a tecnologia
evolui e se desenvolve é fundamental para esta nova geração, que nasce conectada.
A tecnologia na educação permite que os jovens interajam e possam entender os
princípios por trás do que eles estão aprendendo. Sua correta aplicação na sala de aula é
uma parte essencial da educação moderna. No entanto, não podemos negar o fato de que
os livros, palestras e pesquisas não sejam mais primordiais, pelo contrário, pois esses
recursos ensinam e complementam os estudantes como um todo.
Basicamente, referimo-nos como “tecnologia educacional” as várias formas que
podem ser usadas para melhorar ou aumentar o processo de aprendizagem, tais como:
computadores, notebooks, tablets, lousa digital, entre outros. Inclusive, ela pode ser
dentro e fora da classe, também para aumentar a capacidade de aprendizagem dos
alunos na rotina diária de estudos.
Um dos aspectos mais importantes é que ela está em constante progresso. Tratase de algo tão vital que muitas escolas disponibilizam salas de aulas virtuais, graças à
internet, para oferecer novas oportunidades educacionais para os estudantes.
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E-mail: [email protected]
Estas salas de aula on-line são uma das principais formas em que a tecnologia na
educação muda a forma de como muitas pessoas veem a educação. Por exemplo, a
educação a distância surgiu como um divisor de águas, seja na formação acadêmica ou
nos cursos de pós-graduação e mestrado, oferecendo cursos de qualidade a um valor
mais atraente.
Neste modelo de aprendizado, os alunos podem utilizar a tecnologia educacional
para se comunicar com seus colegas, de forma on-line, usando fóruns para criar
registros e discussões sobre determinados assuntos ou matérias. Atualmente, os
professores conseguem digitar informações ou reproduzir vídeos em um computador,
utilizando marcadores especiais para desenhar e interagir por meio da lousa digital.
Porém, também é verdade que este ramo avança a cada dia, sendo que diferentes
ferramentas educacionais são criadas diariamente, tornando o aprendizado melhor e
mais rico. A seguir, você encontrará uma entrevista com Fernanda Furia, que é mestre
em psicologia de crianças e adolescentes, também responsável pelo site Playground da
Inovação e que é especialista em Gestão de Inovação. Confira!
Práticas Pedagógicas: Qual a importância da tecnologia na educação?
Fernanda Furia: Atualmente a tecnologia permeia o nosso cotidiano e será cada vez
mais parte das nossas vidas em um futuro muito próximo. Por isso, ela é fundamental na
educação por várias razões, entre elas:
–
Aproxima a vida escolar da vida fora da escola;
–
Permite que o ensino seja mais divertido e faça mais sentido através de games,
aplicativos, blogs, etc;
–
Pode ser um grande aliado dos professores para organizar aulas, criar uma maior
interação entre professores-alunos e pais-professores, gerar conteúdo de formas
variadas, oferecer diferentes opções de aprendizado para os alunos, etc;
–
Pode facilitar um aprendizado mais personalizado através de plataformas
adaptativas de ensino.
Estamos começando uma revolução na educação em termos globais. Por isso, temos
muitas dúvidas e inseguranças sobre as vantagens e desvantagens do uso da tecnologia
no cotidiano escolar. Nós, adultos, precisamos ter paciência, abertura, senso crítico e
disponibilidade para aprender e experimentar coisas novas. Somente desta forma
seremos capazes de definir quais tecnologias nos servirão de verdade.
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Práticas Pedagógicas: Por que a programação é importante na vida das crianças?
Fernanda: O ensino de programação de computador para crianças é fundamental hoje
em dia. Isto porque saber programar é poder “ler o mundo” na Era Digital. Entender
como funcionam os computadores transcende a área tecnológica e nos equipa a
compreender o mundo em que estamos vivendo. Programar é um dos passos para a
alfabetização digital e será cada vez mais uma habilidade para toda a vida, pois
desenvolve capacidades como resolução de problemas, raciocínio lógico, relação entre
causa e consequência, raciocínio matemático, linguística…
Por isso, este aprendizado não serve apenas para desenvolver futuros profissionais da
área tecnológica. As próximas gerações precisarão dominar esta linguagem para lidar
melhor com os desafios do dia a dia em todos os sentidos.
Especialistas em Educação e Tecnologia têm defendido cada vez mais que a
programação deve fazer parte do currículo escolar em massa desde a infância. Por
exemplo, a Inglaterra incluiu o ensino de programação para crianças de 5 a 16 anos nas
escolas públicas desde setembro de 2014.
O Scratch e o Programaê são sites bem bacanas voltados para o ensino de programação
para criança. O desafio atual é encontrar professores capacitados para este tipo de
ensino em larga escala.
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Práticas Pedagógicas: Como os professores devem usar a internet?
Fernanda: Em primeiro lugar é importante que os professores encarem a internet e as
novas tecnologias como aliadas e não como rivais que irão substituí-los. De certa forma,
quanto mais tecnologias são criadas, mais fundamental o professor se torna. Ele será um
orientador e mentor essencial para ajudar seus alunos a navegar neste mar de excesso de
informações, de maravilhas e de perigos.
Os professores podem usar a internet de diversas formas: para informar seus alunos,
para ajudá-los a criar conteúdo, para ensinar Cidadania Digital, para desenvolver e usar
novos métodos de avaliação, para interagir com alunos e pais, para agilizar a
comunicação com seus colegas de trabalho, etc...
Práticas Pedagógicas: Em sua opinião, quais são as vantagens e os perigos oferecidos
pelas redes sociais aos professores?
Fernanda: Antes de qualquer coisa é importante que os professores tenham um
objetivo específico em mente com relação ao uso das redes sociais na escola. Para qual
fim as redes sociais podem me servir durante as aulas? Para qual projeto ela pode ser
útil? Como os meus alunos podem se beneficiar desta ou daquela rede? Desta forma os
professores poderão pesquisar as redes existentes e escolher as que melhor atendem às
suas necessidades bem como às dos seus alunos.
As desvantagens destes meios têm a ver com os riscos de o aluno interagir com
estranhos que possam lhe fazer algum tipo de mal e com a superexposição deste aluno.
Daí a necessidade do ensino da Cidadania Digital para ajudar a criança a ser consciente
e a se proteger destes riscos. Um ponto de atenção é pesquisar sobre as seguranças das
redes sociais que serão utilizadas. O site Safernet Brasil pode ser de grande ajuda nestes
casos.
As vantagens com relação às redes sociais na escola estão ligadas à interação com
outras crianças de várias partes do Brasil e do mundo. Elas servem também para
estreitar a relação dos professores com os pais e com os alunos fora do horário escolar.
Além disso, as redes sociais na escola podem estimular a comunicação de talentos
apresentados pelos alunos.
Por exemplo, existem sites em que as crianças podem registrar as suas produções
acadêmicas e artísticas através de fotos e vídeo. Em seguida, elas compartilham com
outras pessoas que participam da rede, recebem “likes”e comentários sobre as suas
obras. Isso tende a estimular muitos as crianças. Na Inglaterra e nos EUA conhecemos o
Kiddify, DIY, Instructables e o Discoverables.
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Outra possibilidade é o uso de redes sociais que estimulam a construção de blogs feitos
pelos alunos para desenvolver a escrita, a triagem de informações, a síntese de conteúdo
e o compartilhamento com outras crianças. O Edublog e o Kidblog (em inglês) são sites
pensados para o contexto escolar e especialmente criados para crianças e adolescentes.
Práticas Pedagógicas: O que é cidadania digital?
Fernanda: Cidadania Digital é o uso responsável e apropriado da tecnologia. Ser capaz
de usar as redes sociais e as ferramentas tecnológicas de forma responsável, ética e
sábia, é uma competência cada vez mais fundamental para o século 21.
Tudo que colocamos na internet deixa uma pegada e um rastro que ficarão registrados
para sempre. É a “marca digital (“Digital Footprint”) de cada um. Isso é muito sério,
principalmente quando se trata de crianças e adolescentes que ainda não atingiram uma
maturidade emocional suficiente para entender as consequências da sua exposição na
rede em longo prazo.
A maioria dos pais se preocupa com a segurança dos filhos na internet e cria bloqueios
para que as crianças fiquem mais protegidas. O problema é que as novas gerações
sabem como burlar esses controles. Por isso, não adianta somente criar barreiras para
o uso da tecnologia, é necessário ensinar as novas gerações como viver e trabalhar nessa
nova era de maneira ética e segura.
Outro ponto importante é refletir sobre as “emoções digitais” que rodeiam a nossa vida
na internet. Muitas atitudes que temos online podem gerar arrependimento e, na maioria
das vezes, isso acontece porque não fomos capazes de parar, entender os nossos
sentimentos e agir de forma mais controlada e consciente.
A mais recente pesquisa da série “Digital Diaries” (Diários Digitais) feita pela empresa
de segurança AVG Technologies com adolescentes de 11 a 16 anos de vários países do
mundo revela que um terço destes jovens já se arrependeu de alguma atitude nas redes
sociais!
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Fonte: Playground da Inovação (http://www.playground-inovacao.com.br/infografico-cidadania-digital/)
Práticas Pedagógicas: Você acredita que os educadores devem apostar nos e-books?
Fernanda: Sim, os e-books são uma tendência em crescimento no mundo e no Brasil.
Desde que sejam de qualidade, tanto os e-books com conteúdos educacionais quanto
aqueles voltados para literatura de ficção e não-ficção podem ser muito bem-vindos.
Muitas vezes os alunos podem ter a opção de ler livros impressos ou digitais e
interativos. Isso é ótimo porque aumenta a chance do prazer pela leitura!
Mas é importante também dar espaço para a criança e o adolescente criarem e
imaginarem as suas próprias histórias. Projetos que incentivem a produção de conteúdo
e de ilustrações de livros são excelentes formas de desenvolver várias habilidades
importantes: leitura, escrita, capacidade de síntese, criatividade, diferentes formas de
linguagem, etc.
Práticas Pedagógicas: Cursos a distância, qual é sua opinião sobre essa modalidade?
Fernanda: A Educação a Distância (EaD) veio para ficar. Acho que ainda existe falta
de informação e certo preconceito com relação à qualidade dos cursos a distância, mas
com o tempo esta situação deve se reverter.
Atualmente universidades nacionais e internacionais de peso já oferecem vários cursos
com professores renomados. Udacity, Coursera e Edx são exemplos internacionais
importantes. Aqui no Brasil a USP, a Unesp e a Universidade de Brasília também
abriram cursos online diversos em parceria com o Veduca- portal com mais de 300
cursos online gratuitos.
Uma das grandes vantagens da EaD é a democratização da educação. Na maioria das
vezes, os cursos a distância são mais baratos ou até gratuitos e podem ser feitos de
qualquer lugar do mundo.
Isto tende a ser uma revolução na educação. Um ponto de atenção é avaliar qual o valor
que o mercado de trabalho está dando para os certificados emitidos pelos cursos online.
É importante que professores, pais e alunos estejam conscientes da expectativa que eles
têm ao fazer ou oferecer um curso a distância.
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Práticas Pedagógicas: Alguma consideração final?
Fernanda: Atualmente, o tema sobre a importância da tecnologia na educação e na
nossa vida é cada vez mais frequente. Por isso, acabamos supervalorizando as novas
gerações pelo simples fato delas manusearem facilmente várias tecnologias. Isto pode
ser perigoso porque enfrentaremos desafios sociais, ambientais e econômicos
gigantescos que exigirão delas capacidades internas que nem sempre são o foco do
ensino tradicional. Cidadãos que apresentarem “competências sociomeocionais” como
resolução de problemas, criatividade, tomada de decisões, consciência e autogestão das
emoções, pensamento crítico e flexibilidade formarão as bases sobre as quais as
sociedades se sustentarão.
E, para finalizar, é muito importante ressaltar que os nativos digitais continuam sendo
crianças e adolescentes. O que eles ainda mais precisam é de adultos que se interessem
por eles, que enxerguem suas capacidades e limites, que demonstrem amor, que sejam
capazes de dar limites e que exerçam sua autoridade sem serem autoritários.
Sobre Fernanda Furia
Fernanda Furia é psicóloga (PUC-RJ), Mestre em Psicologia de Crianças e
Adolescentes (University College London/ The Anna Freud Centre- Londres),
Especialista em Psicoterapia de Crianças e Adolescentes (Instituto Fernandes FigueiraFioCruz- RJ), Pós-Graduada em Atendimento a Crianças e Adolescentes vítimas de
Violência Doméstica (PUC-RJ). Também é autora do Blog Playground da Inovação
(http://www.playground-inovacao.com.br).
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E-mail: [email protected]