ELIETH MARTINS DA SILVA ESTUDO DESCRITIVO/ANALÍTICO DOS EVENTOS DE MOVIMENTO NA LÍNGUA URU-EU-UAU-UAU, DIALETO AMONDAWA Segundo relatório parcial de pesquisa em andamento, apresentado ao CTC/UNIR, com vistas ao acompanhamento da pesquisa pela Coordenação de Pesquisa e Extensão/PROPEX, no que se refere ao PIBIC/UNIR/CNPq. Orientadora: Profa. Dra. Wany Sampaio UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR PORTO VELHO 2003/2004 2 FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO DIRETORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - DIPEX COORDENAÇÃO DE PESQUISA E EXTENSÃO SEGUNDO RELATORIO PARCIAL DE PESQUISA Título do Projeto ESTUDO DESCRITIVO/ANALÍTICO DOS EVENTOS DE MOVIMENTO NA LÍNGUA URU-EU-UAU-UAU, DIALETO AMONDAWA Palavras-chave Espaço Palavras locativas Eventos de movimento Línguas Indígenas do Brasil Lexicalização e gramaticalização Resumo geral e dos objetivos Com este estudo, intentamos investigar se a língua estudada tem como modelo de lexicalização e gramaticalização a evidência de modo do movimento na estrutura verbal (através de morfemas lexicais, derivacionais ou flexionais) conforme o modelo verb framed ou se é suportada pelo modelo satellite framed, de acordo com a classificação tipológica de Talmy. Intentamos ainda, compreender o que é que motiva estas diferenças tipológicas, tomando como línguas para apoio comparativo o inglês, o espanhol e o português, além de exemplos de outras línguas indígenas do grupo tupi-kawahib como o tenharim, o parintintin e o uru-eu-uau-uau. O estudo da referência espacial é importante não apenas do ponto de vista da lingüística pura (envolvendo a sintaxe, a semântica e fatores pragmáticos de rara complexidade), mas também porque pode trazer contribuições para melhor compreensão de uma das categorias fundamentais da cognição humana: o espaço. Vale salientar que pouquíssimos trabalhos deste tipo tem sido feitos com línguas indígenas, o que torna a pesquisa ainda mais relevante no sentido das contribuições que seus resultados poderão proporcionar não só para o campo da lingüística pura, mas também para a lingüística cognitiva no que toca ao conhecimento das línguas indígenas. Período previsto para execução total do Projeto De: agosto de 2003 A: agosto de 2.005 3 RECURSOS HUMANOS ENVOLVIDOS 1. Coordenador ou Responsável: Professora Wany Bernardete de Araujo Sampaio Doutora em Lingüística com área de concentração em Línguas Indígenas. Departamento de Letras – Línguas vernáculas Fundação Universidade Federal de Rondônia 2. Bolsistas: 1. Aurineide da Silva Barros Aluna do sétimo período do curso de Letras/Português Núcleo de Educação Departamento de Letras – Línguas Vernáculas Fundação Universidade Federal de Rondônia 2. Elieth Martins da Silva Aluna do sétimo período do curso de Letras/Português Núcleo de Educação Departamento de Letras – Línguas Vernáculas Fundação Universidade Federal de Rondônia 3. Pesquisadores Associados 1. Vera da Silva Mestre em Antropologia Social; Mestranda em Antropologia Criminal pela Universidade de Porthsmouth, Inglaterra. Egressa do curso de Letras/Português/UNIR 2. Chris Sinha Doutor em Psicologia da Linguagem Departamento de Psicologia Cognitiva Universidade de Porthsmouth - Inglaterra 4 PLANO DE TRABALHO ESPECÍFICO DO BOLSISTA a) RELAÇÃO DE ATIVIDADES: • • Aplicação de questionários lingüísticos; Seleção e análise de dados lingüísticos referentes a verbos de movimento. b) OBJETIVOS: • Estudar as noções de movimento no dialeto amondawa. c) METODOLOGIA DE TRABALHO: • • • • • Coleta de dados através de questionários lingüísticos; Gravação em áudio e vídeo; Transcrição fonética; Digitação de dados; Seleção e análise de dados para sistematização. d) RECURSOS NECESSÁRIOS • • • • • • • Caderno de campo; Canetas de cores variadas; Gravador; Pilhas; Câmara de vídeo; Fitas cassete; Passagens terrestres (ou combustível). 5 APRESENTAÇÃO Este relatório se destina a cumprir as exigências do PIBIC/ UNIR/CNPq, no que se refere aos resultados da pesquisa em andamento. Na primeira fase de nosso trabalho, devido a diversos entraves, especialmente de ordem financeira e por motivos de conflitos na área indígena uru-eu-uau-uau, não foi possível realizar as visitas a campo, conforme planejado no cronograma. Desenvolvemos, então, a análise do corpus coletado pela professora orientadora, Dra. Wany Sampaio, e pela pesquisadora associada Ms. Vera da Silva durante os meses de abril e maio de 2003. Os questionários foram elaborados pela Professora Wany Sampaio, em conjunto com os pesquisadores associados Ms. Vera da Silva e Dr. Chris Sinha, durante os meses de janeiro e fevereiro de 2003. O corpus se constituiu de três questionários elicitatórios, contendo cerca de 350 (trezentos e cinqüenta) sentenças, dentre as quais foram selecionadas aquelas que se referiam aos verbos IR/SAIR e ENTRAR, visto que tais verbos indicam a direção do movimento por si só; além disso, esse par de verbos serviu de parâmetro inicial para a análise posterior de outros pares de verbos de movimento. Na segunda fase da pesquisa, as visitas a campo foram reprogramadas e realizadas para no mês de abril de 2004. Com a checagem dos dados anteriormente coletados, bem como com a coleta e análise de novos dados, conseguimos construir uma perspectiva sintagmática e uma perspectiva paradigmática para a análise das estruturas sentenciais na língua em análise e, com isso, será mais fácil trabalhar a noção de tipologia que estamos seguindo. O presente relatório está dividido em duas partes: na primeira, apresentamos um breve relato das atividades desenvolvidas durante o período de agosto de 2003 a junho de 2004. Na segunda, apresentamos a análise preliminar dos dados referentes aos verbos IR/SAIR, ENTRAR, SUBIR e DESCER, verbos nocionais de movimento, ou seja, verbos que indicam a DIREÇÂO do movimento por si só. 6 PARTE I ATIVIDADES DESENVOLVIDAS Realizamos um estudo preliminar de verbos de movimento em amondawa, com o intuito de verificarmos se modelo de lexicalização e gramaticalização da evidência do modo do movimento na estrutura verbal se dá conforme o modelo “verb framed” ou se é suportada pelo modelo “satellite framed”, de acordo com o mapeamento de variação da conceitualização e expressão lingüística, segundo a classificação tipológica de Talmy (1983,1985, 1990). Estudamos estruturas sentenciais simples, envolvendo um conjunto de verbos amondawa cujos correspondentes, em português, funcionam como verbos que indicam a direção do movimento por si só (ir/sair, entrar,subir e descer ). No período de agosto 2003 a fevereiro de 2004 foram realizadas as seguintes atividades: a) Capacitação dos Bolsistas: • CARTILHA EXPERIMENTAL AMONDAWA: o estudo da cartilha de alfabetização na língua Amondawa nos permitiu um primeiro contato com o amplo vocabulário da língua uru-eu-uau-uau, dialeto amondawa. A elaboração e confecção da cartilha têm como responsável a Profa. Dra. Wany Bernadete de Araújo Sampaio, em parceria com o Núcleo de Educação Indígena de Rondônia (Secretaria de Estado da Educação). • TREINAMENTO AUDITIVO: realizado através de fitas cassete (tape). Iniciamos com a audição e transcrição de 500 (quinhentos) vocábulos, até chegarmos às frases, quando ouvimos e transcrevemos cerca de 200 sentenças simples e complexas. Analisamos estrutural e foneticamente cada vocábulo, estudando os morfemas lexicais, derivacionais ou flexionais. • ESTUDO DE TEXTOS TEÓRICOS: foi realizada a leitura de vários textos teóricos para embasar a análise: artigos sobre o inglês, português, além da gramática assurini - Tronco Tupi, para tentar compreender o que é que motiva as diferenças tipológicas. Na leitura desses textos científicos, tivemos como objeto de estudo a referencia espacial que, além de sua importância do ponto de vista da lingüística, 7 pode trazer contribuições para melhor compreensão de uma das categorias fundamentais da cognição humana: o espaço. b) Sessões de Estudo e Orientação Foram realizados dois encontros semanais, sendo um, em grupo (orientador |pesquisadores bolsistas) e outro entre pesquisadores bolsistas para aprofundamento dos assuntos orientados. c) Elaboração dos Questionários Lingüísticos e Protocolos Cognitivos Os primeiros questionários lingüísticos e protocolos cognitivos já haviam sido elaborados e aplicados pela professora Wany Sampaio e pelos pesquisadores associados, Ms. Vera da Silva e Dr. Christopher Glyn Sinhá, no primeiro semestre de 2003. d) Análise dos Dados Dentre os dados coletados, conforme o item (c) acima, trabalhamos, com nossa orientadora, após o treinamento, uma seleção de sentenças com os verbos ir/sair e entrar. e) Elaboração do Primeiro Relatório Parcial de Pesquisa Realizado em conjunto por toda a equipe de trabalho. No período de abril a junho de 2004, foram realizadas as seguintes atividades: a) Elaboração de Questionários Lingüísticos Foi feita elaboração de novos questionários lingüísticos para aplicação em campo. b) Pesquisa de Campo e Coleta de Dados No período de 21 a 24 de abril, estivemos na área indígena (aldeia amondawa), o que nos permitiu um maior envolvimento com os falantes da língua em estudo. Foram checados os dados anteriormente analisados e foi realizada a coleta de novos dados necessários para a continuidade de nossa pesquisa. c) Análise dos Dados Os dados foram analisados numa abordagem estruturalista, em que verificamos as ocorrências das construções verbais na cadeia sintagmática de sentenças independentes, buscando descrever o modelo paradigmático dessas construções na língua estudada. d) Sessões de Estudo e Orientação Foram realizados dois encontros semanais, sendo um, em grupo (orientador |pesquisadores bolsistas) e outro entre pesquisadores bolsistas para análise dos dados coletados. e) Elaboração do Segundo Relatório Parcial da Pesquisa Este relatório corresponde ao relatório final do primeiro ano de pesquisa. 8 DIFICULDADES ENCONTRADAS Na primeira fase do trabalho, foram muitas as dificuldades de compreensão do conteúdo teórico, tendo em vista que este está sendo nosso primeiro contato com uma língua indígena e com as teorias de variação tipológica de línguas que, até então, nos eram desconhecidas. Algumas de nossas atividades não puderam ser realizadas, por falta de recursos financeiros e até mesmo estruturais: a falta de verba para viajarmos à área indígena não nos permitiu um maior envolvimento com os falantes da língua uru-eu-uau-uau e a coleta de dados necessários para nossa pesquisa. A falta de um laboratório de fonética em funcionamento no Campus Unir não nos permitiu fazer as devidas análises, as quais facilitariam nossa compreensão no estudo da língua. Entretanto, na segunda fase, com uma maior compreensão teórica e com o apoio da Universidade Federal de Rondônia, que nos cedeu as passagens (terrestres) para visita a campo, conseguimos realizar todas as atividades previstas e atingir os objetivos de nosso plano de trabalho. 9 PARTE II ESTUDO DOS DADOS COLETADOS Apresentamos a análise preliminar referente aos verbos ENTRAR, SAIR, SUBIR e DESCER, verbos nocionais de movimento, ou seja, verbos que indicam a DIREÇÃO do movimento por si só. Para o tratamento dos dados adotamos uma abordagem estruturalista, verificando as ocorrências das construções verbais na cadeia sintagmática de sentenças independentes, buscando descrever o modelo paradigmático dessas construções na língua estudada. Para a análise da tipologia lingüística, adotamos os seguintes procedimentos: após realizado o processo descritivo das estruturas lingüísticas, os dados receberam tratamento de acordo com o mapeamento de variação da conceitualização e expressão lingüística de Talmy (1983;1985;1990). Buscamos, ainda, neste trabalho, suporte nas contribuições teóricometodológicas de Chris Sinha, no que se refere à abordagem da semântica espacial relacional e sua expressão lingüística, especialmente no trato de partículas locativas como as pre(pós)posições, numa mudança de perspectiva que nos permitirá uma re-análise da polissemia dessas partículas. Segundo Slobin (1992), parecem haver dois tipos básicos de modelos de lexicalização nas línguas, acerca dos verbos de movimento: 1) aquelas que possuem um conjunto de verbos que indicam o fato do movimento, mas a maneira como ocorre este movimento é evidenciada através de um “satélite” que indica a direção do movimento (ex: inglês: run out = correr para fora); 2) aquelas que possuem um conjunto de verbos que indicam a direção do movimento por si só, como é o caso de muitas línguas latinas, como o espanhol e o português (entrar, sair, subir, descer...). Em ambos os tipos, as informações sobre a maneira do movimento podem ser evidenciadas por uma expressão adicional: ex: entrar correndo; enter running. Observe-se, porém, que, nos casos das línguas estruturadas com satélite, como é o caso 10 do inglês, talvez a expressão adicional seja decorrente das estruturas narrativas. Com este estudo, então, intentamos verificar se a língua estudada tem como modelo de lexicalização e gramaticalização a evidência de modo do movimento na estrutura verbal (através de morfemas lexicais, derivacionais ou flexionais) conforme o modelo verb framed ou se é suportada pelo modelo satellite framed, de acordo com a classificação tipológica de Talmy. Para a análise dos verbos, delimitamos nosso estudo em dois aspectos considerando construções verbais simples ocorridas em sentenças independentes: 1) O verbo de movimento como verbo principal da sentença, sem especificação do local(origem/destino) do movimento; 2) O verbo de movimento como verbo principal da sentença, com especificação do local(origem/destino) do movimento; I. VERBO ENTRAR [ - XI ] : movimento para dentro: a) [ – XI ] como verbo principal da sentença, sem especificação do local/destino do movimento. (1) O cachorro entrou. o – xi jawara 3s-entrar cachorro Em amondawa, o verbo [– xi] (entrar) pode ser usado sem especificação do local destino do movimento, porém não é uma construção comum, sendo preferível, para os falantes, as construções com especificação da referência espacial. b)[ - XI ] como verbo principal da sentença, com especificação do local/destino do movimento. (2) O cachorro entrou no buraco o-xi jawara 3s-entrar cachorro ywykuara buraco pe em(POSP.) (3) O cachorro entrou na casa o-xi jawara 3s-entrar cachorro tapyia casa pe em(POSP.) (4) O cachorro entrou para dentro da casa o-xi jawara tapyia pe 3s-entrar cachorro casa em(POSP.) 11 (5) – A mulher entrou na casa o-xi kuñanguera hea 3s-entrar mulher ela tapyia casa pe em(POSP.) Dos exemplos acima, pode-se depreender que a direção do movimento está marcada na posposição pe (em/para dentro). Não há marcas morfológicas no verbo. A posposição pe está relacionada ao nome que marca o local/destino do movimento. II.VERBOS IR/SAIR [ - ho ] [ - hem ] : movimento para fora: Na língua amondawa, são usados dois verbos com esse sentido: [- ho] (ir/sair) e [- hem] (sair). a) [ - ho ] - como verbo principal da sentença, sem especificação do local/origem do movimento. O verbo [– ho] (ir/sair) geralmente é usado com o sentido de sair (movimento para fora) quando não se especifica, na sentença, o local/origem do movimento, ou seja, não há uma referência espacial definida: (6) O Cachorro saiu O- ho jawara 3s – ir cachorro (7) A mulher saiu O-ho kuñaguera 3s-ir mulher hea ela b) [ -hem ] - como verbo principal da sentença, com especificação do local/destino do movimento. O verbo [ – hem] (sair) é usado quando se especifica, na sentença, o local/origem do movimento, ou seja, há uma referência espacial definida: (8) O cachorro saiu da casa. i-hem jawara 3s – sair cachorro tapyia casa (9) O cachorro saiu de dentro da casa Tapyia ura Casa loc (dentro de) wi de(posp) wi de(posp) jawara cachorro i - hem 3s – sair (10) O cachorro saiu de dentro daquela casa Wiña Aquela(casa) ura wi loc(dentro de) de(posp) jawara cachorro i-hem 3s-sair hua loc (fora de) Nas construções (9) e (10), observe-se a utilização do locativo ura (dentro de), seguido da Posposição wi (de); na construção (10), foi, ainda, utilizado o locativo hua (fora de). 12 (11) O cachorro saiu para fora de casa O-hem jawara hua 3s-sair cachorro loc. (fora de) tapyia wi casa de (posp.) Na construção (11), temos o locativo hua (fora de) mais a posposição wi (de), que funciona como um relacional do nome tapyia (casa). Esses exemplos nos levam a supor que o verbo [–hem] (sair) pode ter a direção do movimento reforçado por um satélite: hua, conforme as construções (10) e (11); entretanto, o que realmente vai marcar essa direção é a posposição wi (de), que aparece em todos os exemplos com a carga semântica de movimento para fora em relação ao local/origem do movimento. III.VERBO SUBIR [ - jupin ] movimento para cima: a) [ - jupin ] - como verbo principal da sentença, sem especificação do local/destino do movimento O verbo [ - jupin] (subir) pode ser usado sem a especificação do local destino do movimento, porém não é uma construção usual; os falantes preferem construções com especificação da referência espacial. (12) O menino subiu Kurumin ga Menino ele o-jupin 3s-subir (13) O macaco subiu ka’ia o-jupin macaco 3s-subir b) [ - jupin ] - como verbo principal da sentença, com especificação do local/destino do movimento A direção do movimento é marcada na posposição re (em/para cima). Não há marcas morfológicas no verbo. A posposição re está relacionada ao nome que marca o local/destino do movimento. (14) O menino subiu no banco o-jupin ga aepykawa re 3s-subir ele banco em (posp) (15) O macaco subiu na árvore o-jupin ka’ia ywa 3s-subir macaco árvore re em(posp) 13 IV. VERBO DESCER [ - jym ] : movimento para baixo: a) [ - jym ] - como verbo principal da sentença, sem especificação do local/origem do movimento O verbo [ - jym ] (descer) pode ser usado sem especificação do local origem do movimento, porém não é uma construção usual; os falantes preferem construções com especificação da referência espacial. (16) O menino desceu kurumin ga menino ele o-jym 3s-descer (17) O macaco desceu ka’ia o-jym macaco 3s-descer b) Jym - como verbo principal da sentença, com especificação do local/origem do movimento A direção do movimento é marcada na posposição wi (de/para baixo). Não há marcas morfológicas no verbo. A posposição wi está relacionada ao nome que marca o local origem do movimento. (18) O menino desceu do banco kurumin ga o-jym menino ele 3s-descer aepykawa banco (19) O macaco desceu da árvore o-jym ga ywa 3s-descer ele árvore wi de(posp) wi de(posp) 14 CONCLUSÕES PRELIMINARES A análise preliminar deste primeiro conjunto de verbos permite-nos postular as seguintes hipóteses (preliminares): Quando utilizados os verbos de movimento que indicam a direção do movimento por si só, o amondawa funciona da seguinte maneira: a) são preferíveis as construções com especificação do local origem do movimento; b) nas construções em que o verbo de movimento é o verbo principal da sentença, a forma de gramaticalização e lexicalização da direção do movimento é suportada pelo modelo satellite framed, como nos exemplos abaixo: (A) O cachorro saiu da casa. i-hem jawara 3s – sair cachorro 3s- Verbo Sujeito Movimento Trajetor tapyia casa Referência Espacial wi POSP PART. 1 Direção (para fora) (B) O cachorro entrou na casa o-xi jawara 3s-entrar cachorro 3s- Verbo Sujeito Movimento Trajetor tapyia casa Referência Espacial pe POSP. PART. 1 Direção (para dentro) (C) O menino subiu no banco O-jupin ga 3s-subir ele 3s- Verbo Sujeito Movimento Trajetor aepykawa banco Referência Espacial re POSP PART. 1 Direção (para cima) (D) O menino desceu do banco kurumin ga o-jym menino ele 3s-descer Sujeito 3s-Verbo Trajetor Movimento aepykawa banco Referência Espacial wi POSP PART.1 Direção (para baixo) Os exemplos A, B, C e D, acima, demonstram uma forma de gramaticalização com PART 1, posposição, de uso obrigatório, e é ela quem traz a carga semântica da direção do movimento, conforme quadro a seguir: 15 Posposição – PART. 1 Direção do Movimento PE Para dentro RE Para cima WI Para fora / Para baixo c) Em construções redundantes, a direção do movimento é expressa com o uso de duas partículas: a PART. 2, locativa, é opcional; a PART 1, posposição, é de uso obrigatório e é ela quem traz a carga semântica da direção do movimento para fora. (E) – O cachorro saiu de dentro da casa. Tapyia ura wi Casa LOC. POSP. Referência Part. 2 Part.1 Espacial Localização Direção (dentro de) (para fora) jawara cachorro Sujeito Trajetor i - hem 3s – sair 3s - Verbo Movimento (F) O cachorro saiu para fora de casa O-hem jawara hua 3s-sair cachorro LOC 3s-Verbo Sujeito Part. 2 Movimento Trajetor Localização (fora de) tapyia casa Referência Espacial wi POSP Part. 1 Direção (para fora) Assim, temos sistematizados, por enquanto, os seguintes locativos: Locativo – PART. 1 URA Localização do Movimento Dentro de / debaixo de HUA Fora de Quanto à direção do movimento, portanto, a análise preliminar dos dados sugere que o amondawa prefere o modelo sattellite-framed, pois não encontramos alterações morfológica no verbo, mas o uso obrigatório de partículas relacionais posposicionadas ao nome que traz a referência espacial na sentença. 16 BIBLIOGRAFIA de APOIO KUTEVA, T. and SINHA, C. 1994. Spatial and Non-spatial Uses of Prepositions: Conceptual Integrity Across Semantic Domains. In M. Schwarz (ed.) Kognitive Semantik/Cognitive Semantics: Ergebnisse, Probleme, Perspectiven. Tübingen: Gunter Narr Verlag, pp. 215-237. SINHA, C., THORSENG, L.A., HAYASHI, M and PLUNKETT, K. 1994. Comparative Spatial Semantics And Language Acquisition: Evidence From Danish, English And Japanese. Journal of Semantics 11: 253-287. SINHA, C. and THORSENG, L.A. In press. A Coding System For Spatial Relational Reference. Cognitive Linguistics 6 2/3 SLOBIN, D.I. 1992. Two ways to travel: verbs of motion in English and Spanish. Paper presented at the Annual Conference of the Linguistics Society of Belgium, Antwerp, November. TALMY, L. 1983. How Language Structures Space. In Pick, Herbert L., Jr. and Linda P. Acredolo (eds.), Spatial Orientation: Theory, Research and Application. New York: Plenum Press, pp. 225-282. TALMY, L. 1985. Lexicalization Patterns: Semantic Structure In Lexical Forms. In Shopen, T. (ed.) Language Typology And Syntactic Description. Vol. 3, Grammatical Categories And The Lexicon. Cambridge, UK: Cambridge University Press, pp. 57-149. TALMY, L. 1990. Fictive motion and change in language and cognition. Plenary lecture to International Pragmatics Conference, Barcelona. TALMY, L. In press. Fictive Motion In Language and “Ception”. In Bloom, P., Peterson, M., Nadel, L. and Garrett, M. (eds.) Language And Space. Cambridge, MA: MIT Press. ZLATEV, J. 1992. A study of perceptually grounded polysemy in a spatial microdomain. TR-92-048, International Computer Science Institute, Berkeley. ZLATEV, J. 1995. “Holistic” spatial semantics: a cross-linguistic study. Paper presented at the 4th. International Cognitive Linguistics Conference, Albuquerque, NM, July.