Andrea Melo 2012 - PPGTPC

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Serviço Público Federal
Universidade Federal do Pará
Núcleo de teoria e Pesquisa do Comportamento
Programa de Pós Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento
Emergência da leitura de palavras em Braille e no Alfabeto Romano em Relevo em
cegos após ensino de Discriminações de Sílabas
Andréa Sales Melo
Belém - PA
2012
Serviço Público Federal
Universidade Federal do Pará
Núcleo de teoria e Pesquisa do Comportamento
Programa de Pós Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento
Emergência da leitura de palavras em Braille e no Alfabeto Romano em Relevo em
cegos após ensino de Discriminações de Sílabas
Andréa Sales Melo
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação
em
Teoria
e
Pesquisa
do
Comportamento, do Núcleo de Teoria e Pesquisa
do Comportamento da Universidade Federal do
Pará como parte dos requisitos para obtenção do
Título de Mestre, sob orientação da Profa. Dra.
Olivia Misae Kato.
Trabalho parcialmente financiado por CAPES.
Belém - PA
2012
Dedico aos meus Pais.
Sumário
Agradecimentos ..............................................................................................................V
Resumo ......................................................................................................................... VII
Abstract .......................................................................................................................VIII
Introdução ..................................................................................................................... 09
Método ........................................................................................................................... 17
Participantes ................................................................................................................. 17
Ambiente Experimental ............................................................................................... 18
Material e Equipamento. .............................................................................................. 19
Estímulos e Consequência............................................................................................ 20
Procedimento Geral ...................................................................................................... 22
Procedimento................................................................................................................ 24
Pré-teste ................................................................................................................................... 25
Fase 1. Ensino das discriminações condicionais entre as duas sílabas NO e BO ... 25
Fase 2. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas NO e NA ........... 26
Fase 3. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas NA e BO ............ 26
Fase 4. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas NO, BO e NA .... 26
Fase 5. Teste de Nomeação oral das sílabas de ensino NO, BO e NA .................... 26
Fase 6. Teste de Nomeação oral das sílabas de ensino NO, BO, NA e recombinada
BA ........................................................................................................................... 27
Fase 7. Teste de Discriminações Condicionais entre as sílabas NO, BO, NA e BA27
Fase 8. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas DO e TO ............ 27
Fase 9. Ensino das discriminações condicionais entre as três sílabas DO, TO e NE
................................................................................................................................. 28
Fase 10. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas DO, NO e BO .. 28
Fase 11. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas DO, NO, BO e TO
................................................................................................................................. 28
Fase 12. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas NA e NE .......... 28
Fase 13. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas NO, BO, NA, DO,
NE e TO................................................................................................................... 28
Fase 14. Teste de Nomeação oral das sílabas de ensino NO, BO, NA, DO, NE e TO
................................................................................................................................. 28
Fase 15. Teste de Nomeação oral das sílabas de ensino NO, BO, NA, DO, NE, TO
e recombinadas BA, BE, DA, DE,TA e TE. ........................................................... 29
Fase 16. Teste de Discriminações Condicionais entre as sílabas de ensino NO, BO,
NA, DO, TO e recombinadas NE,BA, BE, DA, DE, TA e TE. ................................ 30
ETAPA II ................................................................................................................................ 30
Fase 1. Teste de Leitura Textual das Palavras com sentido. ................................... 30
Fase 2. Teste/Ensino das Relações entre Palavras ditadas e Objetos Táteis (AB) .. 31
Fase 3. Teste das Relações entre Palavras Ditadas e Palavras Impressas (AC) ...... 31
Fase 4. Teste das Relações entre Objetos táteis e Palavras Impressas (BC) ........... 31
Fase 5. Teste das Relações entre Palavras Impressas e objetos táteis (CB) ............ 32
Fase 6. Teste de Leitura Textual das Palavras com sentido .................................... 32
Fase 7. Teste de Cópia e Ditado com Resposta Construída .................................... 32
Resultados ................................................................................................................... 33
Discussão ..................................................................................................................... 38
Referências .................................................................................................................. 42
Anexos ......................................................................................................................... 46
Agradecimentos
A Deus.
Aos meus Pais, que são minha vida, meu exemplo, meu tudo. Minha mãe Edina
que me ensinou e me encorajou a nunca desistir e sempre vencer os obstáculos com
paciência, força e fé; e meu pai João, além de carinhoso um exemplo de homem que luta
e vence os obstáculos com honestidade e humildade. Esses comportamentos mais que
adjetivos tornaram-se meu alicerce.
Ao meu irmão, João Luis Filho, hoje mais que um irmão, é um amigo que
trabalha ao lado de meu pai e me possibilita seguir este caminho.
À família Pantoja: Sra. Josélia, Dra. Nadya, Joca e Mário, Fabíola e Josivaldo e
em especial a Danielle Pantoja. Um exemplo de família e companheirismo, muitos são
os ensinamentos e diversos são os momentos em que me incentivam a prosseguir e me
fazem sorrir, criando momentos de descontração fundamentais para eu seguir em frente
com equilíbrio. Dani, obrigada, não só pela família do coração que me destes, mas
também pelo companheirismo, apoio, cumplicidade, força, e tudo mais que tens me
dedicado!
À Karine Hamad e Lúcia Guerreiro que me incentivaram na candidatura ao
Mestrado.
À Olivia Misae Kato, minha orientadora, pelos ensinamentos e pelo acolhimento
de forma ímpar, com transparência e humildade. A prática docente é um caminho que
quero seguir sempre pautado em muito do que aprendi caminhando ao lado dela.
Aos professores que contribuíram com minha formação desde o jardim de
infância, dentro e fora de sala de aula até os dias de hoje.
V
Aos colegas de Mestrado que caminharam juntos ainda que em caminhos
diferentes: Márcia Bentes, Fabio Aguillar, Nicole Lobato, Bruna Carvallo, Fabiane
Pereira, Diego Sá, Glauci e Juliana Marques.
Aos amigos da Instituição de Ensino José Alvarez de Azevedo em especial
Professor Lourival, Antonia e Elaine que acreditaram em nossa pesquisa e nos
acolheram contribuindo com os participantes.
Aos amigos do Centur: Sra. Ruth, Sr. Pedro, Sr. Lucas, Sra. Edilene, Sr.
Alexandre e Sr. Dailton que me acolheram gentilmente e abriram as portas dessa
instituição que é um grande exemplo de inclusão.
Aos amigos da Associação de e Para Cegos do Pará: Sr. Carlos e Sr. Sales, que
estavam sempre dispondo de tempo e incentivando a pesquisa.
Ao Sr. Adilson Alcantara que emprestou sua voz ao trabalho, Lila Moraes e Luiz
Pardal, que gentilmente cederam o estúdio com tecnologia de ponta para gravação dos
estímulos auditivos.
Aos meus participantes: Franklin e Aretha. Vocês me ensinaram muito mais do
que podem prever, são mais que incentivo, são grandes exemplos.
A Agência financiadora CAPES.
VI
Melo, S. M. (2012). Emergência da leitura de palavras em Braille e no Alfabeto
Romano em Relevo em cegos após ensino de Discriminações de Sílabas. Dissertação de
Mestrado. Belém: UFPA. 47 pp.
Resumo
O ensino inicial da leitura de palavras sem o ensino de discriminação de suas sílabas
pode estabelecer o controle parcial pelas sílabas, dificultando a generalização da leitura
por recombinação. O presente estudo investigou se o ensino de discriminações
condicionais das sílabas promove a emergência da nomeação das sílabas de ensino e
recombinadas, leitura textual e com compreensão das palavras formadas pelas sílabas de
ensino e recombinadas, além da emergência do desempenho em ditado e cópia.
Participaram da pesquisa dois cegos, um submetido à condição braile-relevo e outro à
condição relevo-braile. Na Etapa I, o ensino das discriminações das sílabas NO, BO,
NA, DO, NE e TO impressas em relevo ou em Braile foi seguido pelo teste de leitura
das sílabas de ensino e recombinadas . Na Etapa II, foi verificada a emergência da
leitura textual e com compreensão das palavras com sílabas de ensino e recombinadas,
além do desempenho em ditado e cópia. Os cegos mostraram emergência imediata da
nomeação das silabas de ensino e recombinadas, a leitura textual e com compreensão de
todas as palavras impressas nas duas condições, além do desempenho em cópia e ditado.
Ambos atingiram 100% de acertos na primeira exposição às fases de ensino da Etapa I
documentando uma aprendizagem sem erros. Conclui-se que o ensino inicial explícito
das discriminações de silabas promove a emergência imediata da leitura recombinativa
de silabas e leitura de palavras formadas pelas silabas de ensino e recombinadas.
Palavras-chave: leitura recombinativa, discriminações de sílabas, cegos, Braille,
alfabeto romano em relevo.
VII
Melo, S. M. (2012). Emergence of word reading in Braille and the Roman alphabet in
relief in blind after teaching discriminations of syllables. Master's Thesis. Belém:
UFPA. 47 pp.
Abstract
The initial teaching of reading words without teaching discrimination of their syllables
may provide partial control by syllables, making the generalization of reading by
recombination. The
present
study
investigated
whether
teaching
conditional
discriminations of syllables promotes the emergence of the appointment of teaching
syllables and recombined, textual reading and understanding of the syllables of words
formed by education and recombined, and the emergence of performance in dictation
and copying. The participants were two blind men, a condition subject to Braille-relief
and other relief to the condition-Braille. In Phase I, the teaching of discrimination of
syllables NO, BO, NO, DO, NE and TO printed or embossed Braille test was followed
by the reading of the syllables of teaching and recombined. In Phase II, there was the
emergence of textual reading and understanding the words with syllables education and
recombined, as well as performance in dictation and copying. The blind showed
immediate emergency appointment of teaching syllables and recombined, the textual
reading and understanding all the words printed in both conditions, and performance in
copying and dictation. Both achieved 100% correct on the first exposure to the
educational stages of Phase I documenting a learning without errors. It is concluded that
the initial teaching of explicit discrimination of syllables promotes the emergence of
immediate recombinative reading of syllables and words formed by reading syllables
education and recombined.
Keywords: recombinational reading discriminations of syllables, the blind, Braille,
raised Roman alphabet.
VIII
A habilidade da leitura é imprescindível não só para o desempenho acadêmico,
como também para o desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo. Estes devem
levar em consideração as transformações e inovações tecnológicas que modificam a
forma das pessoas de se relacionar e de atuar no mercado de trabalho sejam elas viso
normais ou portadoras de deficiência visual.
Deficiência visual refere-se à perda ou redução de resposta visual incorrigível.
Este comprometimento pode derivar de fatores hereditários e/ou congênitos que podem
não sofrer mudança mesmo após a realização de tratamentos clínicos, cirúrgicos ou uso
de óculos (Brasil, 2001).
Têm sido relatadas duas classificações para a deficiência visual: Baixa visão e
cegueira. A baixa visão se caracteriza pela diminuição das respostas visuais, mas ainda
presente algum nível de visão que permita a percepção de alguma luminosidade de
alguns elementos físicos. Por outro lado, a cegueira é a ausência total da resposta visual,
onde a única percepção que existe é de luminosidade sem projeção (Fundação Dorina
Nowill, 2006).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que em média 1% da
população mundial apresenta algum grau de deficiência visual e 90% dessas pessoas
estão distribuidas em países em desenvolvimento. No Brasil, estima-se que
aproximadamente 640.000 pessoas são cegas, e esse número representa 5% da
população (Nascimento, 2007).
Diante disto, para uma participação efetiva dessa população na sociedade atual,
os deficientes visuais precisam saber ler e escrever. Atualmente é utilizado pelos
portadores de deficiência visual um sistema chamado Braille, que possibilita a escrita e
a leitura a partir de estímulos táteis.
9
De acordo com Feio (2003), o Sistema Braille (ver Figura 1) é composto por 63
caracteres, alguns pertencentes ao sistema alfabético convencional, os quais são
formados pela combinação de um a seis pontos em relevo formando a célula braile,
demonstrada na Figura 2.
Figura 1. Letras do Alfabeto Romano em Braile demonstrada através da combinação
dos seis pontos. Os pontos maiores são os espaços marcados no papel em relevo para
leitura tátil.
Figura 2. Célula Braile e seus respectivos pontos, cada letra do alfabeto é representada
por diferentes combinações com marcação em relevo.
Para promover a inclusão social, o governo tem implantado algumas medidas,
entre elas o decreto 5296/04 denominado Lei da acessibilidade. Esta regulamenta a Lei
10.048/2000, regulando a prioridade de atendimento as pessoas com deficiência e a lei
10
10.098/2000 que estabelece critérios básicos para a promoção da acessibilidade (Leitão,
2009).
Na atualidade é muito comum depararmos com textos em relevo em ambientes
diversos, tais como cartões de visita, convites de aniversários e casamentos, capas de
revistas, plaquetas de identificação em consultórios médicos e algumas placas de
sinalização. Tais ocorrências objetivam em geral trazer para o indivíduo viso normal um
atrativo estético ao que está sendo exposto. No entanto, a aprendizagem da Leitura do
alfabeto romano em relevo e o desenvolvimento dessa habilidade em deficientes visuais
poderia deixar de ser tão somente um apelo de marketing para se tornar também um
fator de inclusão social diminuindo as distâncias entre estes e os viso normais. O
alfabeto romano em relevo / negro continuaria sendo acessado pelos viso normais
através da visão e pelos deficientes visuais de forma tátil
A Análise do Comportamento, como área científica fundamentada nos
pressupostos
do
Behaviorismo
Radical,
proposto
por
Skinner
entende
os
comportamentos de falar, ler ou escrever, a partir das relações que são estabelecidas
entre o organismo e o ambiente. Skinner considera que o organismo emite ações ou
respostas que geram conseqüências em seu ambiente e podem manter, aumentar ou
diminuir a probabilidade de ocorrência futuras dessas ações neste ambiente (Skinner,
1938/1969; Sidman, 1991; Catania, 1999).
Para Skinner (1957), existem operantes verbais essenciais no comportamento de
ler. Um deles trata-se do comportamento textual, que se refere às relações de controle
entre estímulos discriminativos (letras, figuras, códigos ou símbolos) e respostas
verbais. Neste caso, pode-se ler algo que não compreende, por exemplo, alguém lê um
texto em inglês, mas não tem compreensão do que lê. Já a leitura, proposta por Skinner
(1959), por sua vez, envolve compreensão.
11
Sidman e Tailby (1982) propõem o paradigma de equivalência de estímulos,
com base na noção matemática de equivalência, como modelo de estudo do
comportamento simbólico. Segundo este paradigma, as relações de equivalência podem
emergir após ensino de discriminações condicionais em arranjos especiais de
contingências de reforçamento. Para os autores, uma relação entre estímulos é de
equivalência se apresentar a propriedade de reflexividade, na qual A=A e B=B, de
simetria, na qual se A=B, então B=A, e de transitividade, na qual se A=B e B=C, então,
A=C. Estas relações constituem as propriedades das relações de equivalência (BC e CB)
que devem emergir sem ensino direto. Segundo esse paradigma as relações de
equivalência documentam a leitura com compreensão.
O paradigma de equivalência tem sido usado para investigar as variáveis que
afetam a aprendizagem da leitura por meio do procedimento de emparelhamento ao
modelo.
de Rose, J.C., de Souza,D.G., Rossito, A.L., & de Rose, T.M.S. (1989)
investigaram a leitura generalizada baseado no paradigma de equivalência de estímulos,
utilizando 51 palavras de ensino e teste, sendo a maioria das palavras de generalização
formada pela recombinação de sílabas. Algumas envolveram também recombinação de
letras.
O estudo de de Rose e cols (1989) e alguns estudos posteriores investigaram o
ensino de leitura por meio de um procedimento de emparelhamento ao modelo por
exclusão em crianças com fracasso escolar, pré-escolares e em estudantes com
diferentes histórias de leitura. Estes estudos relatam a generalização da leitura das
palavras de ensino por meio da recombinação de sílabas (de Rose, de Souza, & Hanna,
1996 e Melchiori, de Souza & de Rose, 1992, 2000).
12
Hubner, d´Oliveira e Matos (1993) submeteram quatro crianças da pré escola ao
ensino das relações AB (ditada-desenho) e AC (ditada-escrita) pelo procedimento de
emparelhamento com o modelo, teste das relações de equivalência BC (figura-escrita) e
CB (escrita e figura) que documentam a leitura com compreensão das palavras boca,
bola e bota e ainda da leitura das palavras de generalização lata, cabo e bala.
de Rose, J. C., de Souza, D.G., & Hanna, E.S. (1996) desenvolveram um estudo
com crianças com dificuldades acadêmicas em escola pública, o objetivo era investigar
se o ensino de cópia com resposta construída introduzido durante o ensino das relações
AC (palavras ditadas - palavras impressas) contribuiria para a promoção da leitura
generalizada. Os resultados mostraram que cópia com resposta construída e nomeação
de palavras contribuem para o aumento do controle por unidades mínimas e promoção
da leitura generalizada.
Cardoso, Kato, Assis e Alves (2001) também mostraram que o procedimento de
cópia e oralização promove a leitura generalizada recombinativa em crianças com
dificuldade de aprendizagem.
Dodd e Conn (2000) comparando o alfabeto romano e as formas das letras em
braille sugerem que a forma ortográfica influencia a habilidade de segmentação e a
consciência fonológica.
A consciência fonológica, definida como habilidade de discriminação e
abstração de som na palavra, a leitura textual (ou comportamento textual) e o
comportamento ecoico são fundamentais para o repertório da leitura (de Souza e cols.,
2009). No comportamento textual a resposta vocal esta sob controle de um estímulo não
auditivo (Skinner, 1957). Na leitura textual em braile e alfabeto romano em relevo, as
respostas verbais estão sob controle discriminativo ponto a ponto de estímulos táteis.
13
Barlow, Brown e Conelly (2002) investigaram o papel do conhecimento da letra
e da consciência fonológica em crianças cegas leitoras da simbologia Braille. Ao
contrário das crianças ditas normais, as crianças com cegueira congênita não são
expostas a estímulos visuais impressos e só aprendem as letras do alfabeto depois da
escolarização em Braille. Os autores mostraram que os procedimentos de ensino e a
leitura em Braille desenvolvem a consciência fonológica das crianças cegas apenas após
a exposição à forma impressa e, em particular, após o desenvolvimento de
discriminação de letras. Logo, o comportamento da criança cega ao discriminar letras
impressas, fica sob controle da relação entre letra e som.
Feio (2003) demonstrou em crianças cegas o efeito facilitador do espaçamento
entre as sílabas no ensino e emergência da leitura recombinativa da simbologia Braille,
fundamentadas nos pressupostos dos paradigmas de equivalência.
Bliss, Kujala e Hamalainen (2004) realizaram um estudo, no qual, testaram o
reconhecimento tátil de letras virtuais, em relevo (letras plásticas) e em Braille. O
objetivo foi comparar o desempenho dos participantes em uma tarefa de memória em
diferentes modalidades. Os participantes eram cegos e viso normais com vendas. Os
autores concluíram que na tarefa de memória com letras do alfabeto romano os cegos
apresentaram melhor desempenho e o treino é necessário para melhorar as habilidades
perceptuais.
Em outro estudo com crianças cegas de 6 a 8 anos, Nascimento (2007)
investigou a emergência das relações de equivalência de estímulos auditivos e táteis
(Braille e Alfabeto Romano em Relevo). Foram utilizadas as letras em relevo A, E e O
do alfabeto romano (letra de forma em caixa alta) confeccionada em plástico e com
linha de crochê. As letras em Braille eram confeccionadas com pinos de metal. Foram
ensinadas as relações entre a letra ditada (A), a plástica (B) em Braille (C) e em crochê
14
(D). Os resultados mostram que os participantes aprenderam todas as discriminações
condicionais entre estímulos auditivos e táteis com pouco ou nenhum erro.
Kato e Pérez-Gonzáles (2004) investigaram a emergência da leitura
recombinativa em língua espanhola, em seis crianças pré-escolares de duas escolas
públicas de Oviedo na Espanha. Foram ensinadas discriminações condicionais entre as
sílabas NO, BO, NA, DO e NE. Todas as crianças demonstraram a emergência da
leitura textual de todas as sílabas de ensino e das novas sílabas BA, BE, NA, e NE
formadas pela recombinação das letras das sílabas de ensino. Todas as crianças também
demonstraram a emergência imediata da leitura textual e com compreensão das palavras
com sentido (BEBE, BOBO, DADO e DEDO) e sem sentido (DADE, BEDA, BADA E
BEDE), formadas pelas sílabas de ensino e recombinadas.
Maués (2007) replicou o estudo de Kato e Pérez-Gonzales (2004), em língua
portuguesa, com cinco crianças pré-escolares de uma escola publica de Belém. Barros
(2007) replicou o estudo de Maués (2007) com o acréscimo das sílabas de ensino TO e
recombinadas TA e TE, utilizando outras cinco crianças pré-escolares. Esse aumento no
número de sílabas de ensino e recombinadas proporcionou um aumento no número de
palavras com sentido e inventadas. Todos esses estudos demonstraram a emergência da
nomeação das sílabas de ensino e recombinadas e também documentaram a emergência
imediata da leitura textual e com compreensão de todas as palavras inventadas e com
sentido.
Leitão (2009) e Feitosa (2009) realizaram pesquisas com participantes cegos,
investigando o ensino de leitura de palavras monossilábicas em inglês para promoção da
leitura de novas palavras com recombinação de onset e rime, impressas em Braille e
alfabeto romano em relevo. Os resultados também demonstraram a emergência imediata
da leitura textual e com compreensão, documentadas pelas relações de equivalência
15
entre palavras impressas e desenhos. Apontaram ainda a importância da forma das letras
na leitura recombinativa nestas pesquisas. Nos estudos de Loomis (1974,1981) sobre
reconhecimento de letras, investigou-se as variáveis que podem influenciar na
legibilidade como tamanho, contraste, resolução, tipo de impressão ou de letras do
alfabeto romano em caixa alta. Os resultados indicaram que o desempenho dos
participantes foi melhor entre letras bem diferentes entre si.
O presente estudo investigou as variáveis que afetam a aprendizagem da leitura
em braile e no alfabeto romano em relevo, replicando o trabalho de Barros (2007) com
participantes cegos. No presente estudo os desenhos foram substituídos por objetos
táteis e foi excluída a etapa com palavras inventadas.
16
MÉTODO
Participantes
Quatro crianças e quatro adultos cegos participaram da pré avaliação, sendo 03
crianças e 01 adulto selecionados para participar do estudo: Aretha, Franklin, Vitor e
Renan. Destes, dois participantes não concluíram a pesquisa, Vitor apresentava
dificuldade de concentração e Renan tinha disponibilidade de horário somente após o
almoço e sempre apresentava comportamento como bocejos que indicavam sono no
momento da pesquisa. O participante Vitor concluiu a Fase 1 da Etapa 1 e Renan
participou até a Fase 4 da Etapa 1, entretanto não prosseguiram o estudo. Um adulto
(Aretha) e uma criança (Franklin) concluíram sua participação na pesquisa.
Os participantes eram alunos na Unidade Especializada de Ensino “José Alvarez
de Azevedo” e não possuíam história de leitura em Braille e no Alfabeto Romano em
Relevo. Aretha perdeu a visão em fevereiro de 2011 e ingressou na escola José Alvarez
de Azevedo em Agosto/2011 onde iniciou os estudos com a aprendizagem da escrita em
Braille, entretanto com a reforma da escola ocorreram poucas aulas. Franklin nasceu
cego e estuda na Escola Alvarez de Azevedo a 3 anos. Em sua trajetória na escola
iniciou pela Intervenção pedagógica com estimulação sinestésica, tátil e auditiva
seguida pelo ensino da escrita e leitura no alfa Braille, no período da coleta ainda não
havia aprendido a leitura do Braille. Os responsáveis após serem informados sobre os
objetivos e procedimentos de ensino e teste da pesquisa assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) autorizando a participação das mesmas no
estudo (Ver anexo). Um adulto do sexo feminino cursando a 8ª série (Aretha) e uma
criança do sexo masculino cursando a 3ª (Franklin) série concluíram o estudo conforme
apresentado na tabela 1.
17
Tabela 1. Dados sobre os participantes Aretha e Franklin
Participantes Sexo
Idade
(anos)
Aretha
F
23
Franklin
M
11
Alfabeto
Atividade
Escolaridade Romano
Atual
em Tinta
Uso do
Braille
Ingressou
Ensino
Estudante
no
Conheceu
Fundamental
8ª Série Alvarez a
3 meses
Ingressou
Ensino
Não
Estudante
no
Fundamental conheceu 3ª Série Alvarez a
3 anos
Tempo
de
Cegueira
1 ano
Nasceu
Cego
Ambiente Experimental
As sessões experimentais foram realizadas em diferentes locais. As sessões de
coleta de dados da participante Aretha foram realizadas na Associação de e para cegos
do Estado do Pará (ASCEPA) em uma sala medindo aproximadamente 10m x 5m. A
sala era iluminada por lâmpadas fluorescentes e refrigerada por dois condicionadores de
ar, possuindo aproximadamente doze conjuntos de mesa, cadeiras e computadores. A
sessão era realizada em uma sala sendo apresentados o tabuleiro e estímulos sobre uma
das mesas. Com o recesso de Natal e Ano Novo algumas sessões foram aplicadas na
residência da pesquisadora em uma sala medindo 5mx3m, refrigerada, iluminadas com
lâmpadas fluorescentes. O participante Franklin iniciou a pesquisa na Unidade
Especializada de Ensino “José Alvarez de Azevedo”, em uma sala medindo
aproximadamente 8mx6m, refrigerada, iluminada com lâmpadas fluorescentes. Com o
recesso de Natal o local das sessões foi transferida para uma sala ampla na residência do
participante, medindo aproximadamente 5mx5m, iluminada por iluminação natural
proveniente da janela e arejada com ventilador.
18
Material e Equipamento.
Neste estudo foram utilizados estímulos táteis e auditivos, um Notebook HP
com o programa Power Point que apresentava os estímulos auditivos (sílabas e palavras
em português) e o fone de ouvido.
Os estímulos táteis foram: a) Objetos táteis: dado, teta, dedo, nabo, boto, bota,
bote e bata; b) 06 sílabas de ensino: NO, BO, NA, DO NE e TO; c) Seis sílabas
recombinadas: BA, BE, DA, DE, TA e TE e d) Oito palavras em português: dado, teta,
dedo, nabo, boto, bota, bote e bata. As sílabas de ensino, recombinadas e as palavras em
português foram impressas em braile e no alfabeto romano em relevo. Essas sílabas e
palavras eram apresentadas em cartolina coladas em manta de magneto adesivado
neutro 0,3 mm com dimensão de 5,5cm x 2,5 cm.
As letras e palavras em Braille foram impressas pela impressora Juliet pró-60,
programa de conversão Braille fácil, em impressão padrão (células com 6 mm de altura
e por 4 mm de largura), em papel 40 e formulário corrido branco de 11 polegadas, na
cor branca e sem espaçamento.
As letras e palavras do alfabeto romano em relevo foram impressas em papel
couchê 230 no formato da fonte Arial, tamanho 26. O processo gráfico consistiu
inicialmente em impressão realizada em máquina off set. As palavras do Alfabeto
Romano em Relevo foram impressas com espaçamento entre as letras.
Para a apresentação das letras e palavras foi utilizado uma base de metal,
revestida por EVA de 43 cm x 17cm, com um espaço no centro superior para a
apresentação do estímulo modelo e com quatro espaços, na parte inferior, para
apresentação dos estímulos de comparação.
19
Figura 3. Base de Metal para apresentação de Sílabas e palavras em Braille e Alfabeto
Romano em Relevo.
Estímulos e Conseqüência
Na Etapa I foram utilizadas como estímulos modelos e de comparação
respectivamente as sílabas ditadas e impressas em fonte Arial, tamanho 26, caixa baixa.
Foram utilizadas sílabas faladas e impressas de ensino e faladas e impressas
recombinadas. Estas foram sílabas constituídas pela recombinação das letras das sílabas
de ensino. Todas as sílabas de ensino e recombinadas eram simples formadas por uma
consoante e uma vogal. Na Etapa II, eram utilizadas as palavras com sentido cultural
com seus respectivos objetos. Essas palavras eram consideradas com sentido
culturalmente estabelecido pela comunidade verbal a que pertencem os participantes. As
palavras eram dissílabas e constituídas pelas sílabas de ensino e recombinadas da Etapa
I. Foram selecionadas duas palavras com duas sílabas de ensino (NABO e BOTO), duas
palavras com duas sílabas recombinadas (TETA e BATA), duas palavras iniciando com
uma sílaba de ensino e terminando com uma sílaba recombinada (BOTA e BOTE) e
duas palavras iniciando com uma sílaba recombinada e terminando com uma de ensino
(DADO e DEDO). Todas as sílabas recombinadas foram contempladas na seleção
dessas palavras. As palavras ditadas formavam o conjunto A, os objetos
correspondentes formavam o conjunto B e as palavras escritas formavam o conjunto C
20
(Ver figura 4). Na Etapa II, essas palavras eram escritas com letras do mesmo tamanho
e fonte das sílabas da Etapa I.
Etapa II
Palavras Ditadas
(A)
Objetos Táteis
(B)
Palavras impressas em Braille / Relevo
(C)
"DADO"
dado
"TETA"
teta
"DEDO"
dedo
"NABO"
nabo
"BOTO”
boto
"BOTA"
bota
"BOTE"
bote
"BATA"
bata
Figura 4. Palavras e objetos que eram utilizados na Etapa II.
As respostas corretas eram seguidas de expressões verbais como: “Legal!”,
“Muito bem!”, “Está correto!”, “Excelente!”. Quando a resposta era incorreta, a
experimentadora colocava a mão do participante na palavra ou objeto indicando a
escolha correta e dizendo: “Este é o correto, vamos tentar novamente!”.
21
Procedimento Geral
As sessões experimentais eram realizadas diariamente, entre 02 e 05 vezes por
semana conforme disponibilidade do participante com duração variada. Durante a
sessão, o participante era acomodado confortavelmente em uma cadeira ao lado do
experimentador diante da mesa sobre a qual era instalado o material a ser utilizado na
sessão. A experimentadora sentava-se em uma cadeira à esquerda do participante e o
observador sentava-se em uma cadeira à direita do participante. Em todas as sessões, a
experimentadora esteve ao lado do participante fornecendo as informações necessárias,
familiarizando o participante com o ambiente experimental e fornecendo informações
necessárias para cada fase de ensino e teste.
Os procedimentos eram apresentados aos participantes individualmente. A
experimentadora convidava o participante a tatear a base de metal a ser utilizada no
experimento para de familiarizá-lo com o instrumento, dizendo: “As cartelas com
sílabas / palavras serão colocadas nestes espaços”.
Nas tentativas de ensino ou de teste das Discriminações condicionais entre a
sílaba/palavra ditada e sílaba/palavra impressa a instrução era: “Você ouvirá uma
sílaba/palavra, e poderá ouvi-la no mínimo duas e no máximo cinco vezes. Quando você
quiser parar, coloque a mão sobre a mesa e não ouvirá mais a palavra. Na base, a sua
frente, estarão as cartelas com as sílabas/palavras impressas. Leia todas as
sílabas/palavras e indique aquela que corresponde à palavra ouvida”.
No teste de Discriminação condicional o experimentador não apresentava as
conseqüências diferencias para o acerto e erro, e era fornecida a seguinte instrução:
“Dessa vez você não saberá se acertou ou se errou, entretanto, nós contabilizaremos
seus erros e acertos”.
22
Nas tentativas de testes de nomeação oral e Tentativas de nomeação oral das
sílabas e leitura textual das palavras, cada sílaba /palavra era colocada na parte superior
da base e a instrução era: “Qual o nome desta sílaba/ palavra?”.
Nas tentativas de discriminação condicional o estímulo modelo auditivo era
repetido uma vez a cada três segundos até que o participante colocasse a mão sobre a
mesa, ou até cinco repetições no máximo. O intervalo entre as tentativas (IET) era em
média de 10 segundos. O IET era iniciado logo após a apresentação das conseqüência
programada.
Nas tentativas de teste de leitura textual ou de nomeação oral, cada palavra ou
objeto era apresentado ao participante para que fosse realizada a leitura. O participante
tinha em média até dez segundos para responder. Após o IET, a próxima tentativa era
apresentada. O registro das respostas era realizado simultaneamente e manualmente
pelo observador e pelo experimentador em formulários para as quais foi verificada a
concordância entre observadores. O índice de fidedignidade ou concordância foi
calculado dividindo-se o número de acordos pelo total de acordos e desacordos
multiplicados por cem.
Nas fases de ensino das discriminações condicionais, o critério de acertos era de
100% podendo ser repetida a mesma fase até duas vezes. Se esse critério de acertos não
fosse atingido, era realizada uma análise dos erros e programada a revisão do ensino das
discriminações condicionais nos quais estivessem ocorrendo os erros.
23
Procedimento
Para o presente estudo foram programadas as duas condições: de Braille e de
Relevo, sendo cada condição constituída por duas etapas. A Etapa I envolveu o pré-teste
e 16 fases de ensino e a etapa II envolveu sete fases (Ver tabela 2). Cada participante era
submetido a uma seqüência diferente das duas condições: Braille – Relevo (BR) ou
Relevo – Braille (RB).
Na Etapa Iforam estabelecidas as discriminações condicionais entre as sílabas de
ensino (NO, BO, NA, DO, NE e TO) ditadas e escritas e verificou-se a nomeação oral
das sílabas de ensino e de novas sílabas com recombinação de letras.
Na Etapa II
testou-se a emergência da leitura textual e com compreensão das palavras com sentido
formadas pelas sílabas de ensino e recombinadas além do desempenho em cópia e
ditado destas palavras. A leitura com compreensão era documentada pelas relações de
equivalência entre palavras ditadas (A), objetos táteis (B) e palavras impressas (C).
Tabela 2. Seqüência de fases de ensino e testes das Etapas I e II.
Etapas Fases
Especificação das Fases
Teste de nomeação oral das sílabas de ensino (NO, BO, NA, DO, NE e TO)
Pré Teste de nomeação oral das sílabas recombinadas (BA, BE, DA, DE, TA e
Teste TE)
Teste de DC das sílabas de ensino e recombinadas
I
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Ensino das DC das sílabas NO e BO
Ensino das DC das sílabas NO e NA
Ensino das DC das sílabas NA e BO
Ensino das DC das sílabas NO, BO e NA
Teste de Nomeação oral das sílabas NO, BO e NA
Teste de Nomeação oral das sílabas NO, BO, NA e BA
Teste das DC das sílabas NO, BO, NA e BA
Ensino das DC das sílabas DO e TO
Ensino das DC das sílabas DO, TO e NE
Ensino das DC das sílabas DO, NO e BO
Ensino das DC das sílabas DO, NO, BO e TO
24
II
12
13
14
15
16
Ensino das DC das sílabas NA e NE
Ensino das DC das sílabas NO, BO, NA, DO, NE e TO
Teste de nomeação oral das sílabas NO, BO, NA, DO, NE e TO
Teste de nomeação oral das sílabas de ensino e recombinadas
Teste de DC entre as sílabas de ensino e recombinadas.
1
2
3
4
5
6
7
Teste de Leitura Textual das palavras com sentido
Teste/Ensino das relações entre palavras ditadas e tátil (AB)
Teste das relações entre palavras ditadas e impressas (AC)
Testes das relações entre tátil e palavras impressas (BC)
Teste das relações entre palavras impressas e tátil (CB)
Teste de Leitura Textual das palavras com sentido
Teste de cópia e ditado com resposta construída
Pré-teste
Este era constituído por duas partes. Uma delas consistiu no teste de nomeação oral
das sílabas de ensino (NO, BO, NA, DO, NE e TO) e recombinadas (BA, BE, DA, DE,
TA e TE) em Braille e em Relevo. Cada sílaba era apresentada uma vez e era solicitado
ao participante a nomeação oral desta. Na segunda parte eram avaliadas as
discriminações condicionais das sílabas de ensino e recombinadas. Cada sílaba ditada
era apresentada como estímulo modelo, e quatro sílabas escritas eram apresentadas
como estímulos de comparação. O participante que nomeasse pelo menos uma sílaba
recombinada no pré-teste não participaria do experimento.
Fase 1. Ensino das discriminações condicionais entre as duas sílabas NO e BO
Nesta fase, era apresentada a sílaba ditada NO ou BO como estímulo modelo e as
sílabas impressas NO e BO eram apresentadas em posições randômicas como estímulos
de comparação. A escolha da sílaba impressa NO (ou BO) na presença da sílaba ditada
NO (ou BO) era considerada correta e a escolha da sílaba impressa BO (ou NO) era
registrada como incorreta. Foram programadas 10 tentativas, sendo as duas primeiras
25
com prompt verbal e as oito restantes sem prompt. Dessas oito, quatro foram
programadas com apresentação do modelo NO e quatro com o modelo BO.
Fase 2. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas NO e NA
Essa fase era igual à Fase 1, substituindo-se a sílaba BO por NA.
Fase 3. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas NA e BO
Essa Fase era igual à Fase 1, substituindo-se a sílaba NO por NA.
Fase 4. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas NO, BO e NA
Essa fase era semelhante à Fase 1, programando-se apenas o acréscimo da sílaba
NA como estímulo modelo e de comparação. Foram programadas 15 tentativas, sendo
as três primeiras com prompt verbal (uma para cada sílaba) e as 12 restantes sem
prompt. Destas, eram programadas quatro tentativas para cada sílaba modelo (NO, BO e
NA). Em cada tentativa, as três sílabas eram apresentadas como estímulos de
comparação.
Fase 5. Teste de Nomeação oral das sílabas de ensino NO, BO e NA
Nesse teste, as sílabas NO, BO e NA eram apresentadas uma de cada vez em uma
ordem randômica. Cada sílaba era apresentada três vezes. Se a nomeação correta das
três sílabas não ocorresse, era feita uma revisão do ensino das discriminações
condicionais das sílabas não nomeadas corretamente (Fase 1, 2 ou 3) seguida pela
revisão do ensino envolvendo as três sílabas (Fase 4). Ocorrendo a nomeação correta
das três sílabas, o participante passava para a próxima fase.
26
Fase 6. Teste de Nomeação oral das sílabas de ensino NO, BO, NA e recombinada
BA
Esse teste era semelhante ao da Fase 5, adicionando-se a sílaba recombinada BA.
A sílaba BA era apresentada em três tentativas e cada sílaba de ensino (NO, BO e NA)
era apresentada em duas tentativas. Se não ocorresse a nomeação das sílabas de ensino
eram reapresentadas as fases de ensino das discriminações condicionais das sílabas não
nomeadas corretamente. Se não ocorresse apenas a nomeação da sílaba recombinada
BA, o participante era submetido à Fase 7. No entanto, se o participante apresentasse a
nomeação correta de todas as sílabas, ele seria exposta diretamente à Fase 8.
Fase 7. Teste de Discriminações Condicionais entre as sílabas NO, BO, NA e BA
Para esse teste, eram programadas tentativas de emparelhamento com o modelo
envolvendo as sílabas de ensino NO, BO, NA e a sílaba recombinada BA. Em cada
tentativa, era apresentada uma dessas sílabas ditadas como modelo e as quatro sílabas
impressas em Braille ou Relevo, como estímulos de comparação. O teste era constituído
de 12 tentativas, das quais a sílaba ditada BA era apresentada como modelo nas seis
tentativas e cada uma das sílabas de ensino era apresentada como modelo em duas
tentativas. Após esse teste, o participante era exposto novamente ao teste de nomeação
da Fase 6. Se ainda assim a nomeação da sílaba BA não emergisse, eram programadas
conseqüências diferenciais para o mesmo bloco de teste dessa Fase 7.
Fase 8. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas DO e TO
Essa fase era idêntica à Fase 1, substituindo-se a sílaba NO por DO e a sílaba BO
por TO.
27
Fase 9. Ensino das discriminações condicionais entre as três sílabas DO, TO e NE
Essa fase era idêntica à Fase 4, substituindo-se a sílaba NO por DO, BO por TO e
NA por NE.
Fase 10. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas DO, NO e BO
Essa fase era idêntica à Fase 4, substituindo-se a sílaba NA por DO.
Fase 11. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas DO, NO, BO e TO
Essa fase era semelhante à Fase 7, substituindo-se a sílaba NA por DO e BA por
TO. Essa fase diferia da Fase 7 por ser uma fase de ensino com conseqüências
diferenciais para respostas corretas e incorretas.
Fase 12. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas NA e NE
Essa fase era igual à Fase 2, substituindo-se a sílaba NO por NE.
Fase 13. Ensino das discriminações condicionais entre as sílabas NO, BO, NA, DO,
NE e TO
Essa fase consistiu em uma revisão do ensino das discriminações condicionais
envolvendo todas as sílabas de ensino: NO, BO, NA, DO, NE, e TO. Em cada tentativa,
eram apresentadas uma sílaba ditada como modelo e quatro das cinco sílabas impressas
como estímulos de comparação, sendo uma correta e as demais incorretas. Cada sílaba
era apresentada três vezes como modelo, totalizando18 tentativas.
Fase 14. Teste de Nomeação oral das sílabas de ensino NO, BO, NA, DO, NE e TO
Nesse teste, as sílabas de ensino NO, BO, NA, DO, NE e TO eram apresentadas
uma de cada vez em uma ordem randômica. Cada sílaba era apresentada três vezes,
totalizando 18 tentativas. Se não ocorresse a nomeação correta, era realizada a revisão
28
do ensino das discriminações das sílabas não nomeadas corretamente (Fases 1, 2, 3, 4,
8, 9, 10, 11 ou 12). Em seguida, era feita uma revisão do ensino de linha de base
envolvendo as seis sílabas (Fase 13) e reaplicado esse teste de nomeação. Se ocorresse a
nomeação correta de todas as sílabas, era aplicado o teste de nomeação oral de todas as
sílabas de ensino e recombinadas (Fase 15).
Fase 15. Teste de Nomeação oral das sílabas de ensino NO, BO, NA, DO, NE, TO e
recombinadas BA, BE, DA, DE,TA e TE.
Esse teste era semelhante ao da Fase 14, adicionando-se as sílabas recombinadas
BA, BE, DA, DE, TA e TE. O teste consistira de dois blocos de 20 tentativas, cada um
com 12 tentativas, sendo três sílabas recombinadas e oito tentativas com quatro sílabas
de ensino. Em cada bloco, essas sílabas de ensino envolviam as letras das sílabas
recombinadas. Cada sílaba recombinada era apresentada em quatro tentativas e cada
sílaba de ensino em duas. Em um bloco eram apresentadas as sílabas recombinadas BA,
BE e DA com as sílabas de ensino NA, NE, DO e BO. No outro bloco eram
apresentadas as sílabas recombinadas DE, TA e TE com as sílabas de ensino NA, NE,
DO e TO. Se uma ou mais sílabas de ensino não fossem nomeadas corretamente era
feita uma revisão do ensino das discriminações condicionais envolvendo tais sílabas. Se
o mesmo acontecesse com as sílabas recombinadas, o participante era submetido ao
teste de discriminações condicionais envolvendo as sílabas de ensino e recombinadas
(Fase 16). Se todas as sílabas fossem nomeadas corretamente, o participante era
submetido diretamente à Fase 1 da Etapa II.
29
Fase 16. Teste de Discriminações Condicionais entre as sílabas de ensino NO, BO,
NA, DO, TO e recombinadas NE,BA, BE, DA, DE, TA e TE.
Para esse teste, eram programadas tentativas de emparelhamento com o modelo
envolvendo as sílabas de ensino (NO, BO, NA, DO, NE e TO) e as sílabas
recombinadas (BA, BE, DA, DE, TA e TE). Em cada tentativa, era apresentada uma
dessas sílabas ditadas como modelo e quatro sílabas impressas como estímulos de
comparação. A escolha da sílaba impressa que correspondia ao modelo ditado era
considerada correta e a escolha da sílaba impressa que não correspondia ao modelo
ditado era registrada como incorreta. O teste consistiu de dois blocos de 20 tentativas,
cada um com de 12 tentativas com três sílabas recombinadas e oito tentativas com
quatro sílabas de ensino. Cada sílaba recombinada era apresentada como modelo em
quatro tentativas e cada sílaba de ensino, em duas. Em um bloco de tentativas eram
apresentadas as sílabas recombinadas BA, BE e DA com as sílabas de ensino NA, NE,
DO e BO. No outro bloco eram apresentadas as sílabas recombinadas DE, TA e TE com
as sílabas de ensino NA, NE, DO e TO. Após esse teste de discriminação, era reaplicado
o teste de nomeação oral da Fase 15.
ETAPA II
Fase 1. Teste de Leitura Textual das Palavras com sentido.
Nessa fase era solicitada a leitura textual das palavras com sentido: DADO,
DEDO, TETA, NABO, BOTO, BOTA, BOTE e BATA. Essa fase era composta por 24
tentativas, sendo cada palavra apresentada três vezes, em ordem randômica.
30
Fase 2. Teste/Ensino das Relações entre Palavras ditadas e Objetos Táteis (AB)
Nessa fase eram apresentadas palavras ditadas (A) como estímulos modelos e
objetos táteis (B) correspondentes às palavras ditadas como estímulos de comparação.
Essa fase envolvia dois blocos de 16 tentativas cada. Em um bloco eram utilizadas
quatro palavras e seus respectivos objetos. Cada palavra ditada era apresentada quatro
vezes como modelo. Inicialmente, esse bloco era apresentado como teste, sem
conseqüências diferenciais, para verificar se as relações já estavam presentes no
repertório do participante. Se o participante não apresentasse 100% de acertos, era
implementado o ensino dessas relações, programando-se conseqüências diferenciais
para respostas corretas e incorretas em cada tentativa desse bloco. Se o participante não
atingisse o critério de 100% de acertos nesse bloco com conseqüências diferenciais, era
reapresentado esse bloco.
Fase 3. Teste das Relações entre Palavras Ditadas e Palavras Impressas (AC)
Essa fase era idêntica à fase anterior (Fase 2), diferindo apenas quanto aos
estímulos de comparação. Estes eram palavras impressas (C) em vez de objetos táteis.
Fase 4. Teste das Relações entre Objetos táteis e Palavras Impressas (BC)
Essa fase era semelhante à Fase 3, sendo que os objetos táteis eram estímulos
modelos e as palavras escritas eram os estímulos de comparação. O teste era composto
por 24 tentativas, sendo 4 das relações AB, 4 das relações AC e 16 das relações BC.
Nas tentativas das relações BC, cada figura era apresentada 4 vezes como modelo.
31
Fase 5. Teste das Relações entre Palavras Impressas e objetos táteis (CB)
Essa fase era idêntica à Fase 4, apenas invertendo os estímulos modelos e os de
comparação. As palavras impressas eram estímulos modelo e os objetos táteis eram os
estímulos de comparação nas tentativas de teste das relações CB.
Fase 6. Teste de Leitura Textual das Palavras com sentido
Esse teste era o mesmo da Fase 1 e era reaplicado caso o critério de acertos não
fosse atingido naquela fase.
Fase 7. Teste de Cópia e Ditado com Resposta Construída
Nessa fase era solicitado aos participantes a construção das palavras com sentido
na presença da palavra ditada (ditado) e impressa (cópia). Os participantes construiam
as palavras selecionando as sílabas que as compunham. Foram programados 2 blocos,
um de cópia e outro de ditado, contendo 16 tentativas cada. Em cada bloco, cada uma
das oito palavras era apresentada duas vezes, totalizando 16 tentativas. A seqüência de
palavras era a mesma nos dois blocos. Esse teste verificou a emergência da construção
da palavra escrita tanto diante da palavra ditada (ditado) quanto da palavra impressa
(cópia).
32
Resultados
Na Etapa 1 Franklin concluiu as fases de ensino e teste nas condições Braille e
Relevo em tempo similar com diferença de poucos minutos. Aretha teve tempo similar
ao de Franklin nas fases de ensino e teste na condição Braille, entretanto levou maior
tempo para concluir a condição em Relevo (Ver tabela 3).
Tabela 3. Tempo gasto em minuto por cada participante nas fases de ensino e teste da
Etapa 1 nas condições Braille e Relevo.
Participante
Braille
Relevo
Ensino
Teste
Total
Ensino
Teste
Total
Franklin
96´
32´
128´
105´
33´
138´
Aretha
104´
29´
133´
145´
96´
241´
Na Etapa 2 o tempo gasto em cada teste e o tempo total foram similares nas
condições Braille e Relevo para Franklin. No entanto, para a participante Aretha o
tempo gasto em cada teste e no total foi superior na condição relevo em comparação ao
Braille exceto o teste CB.
Tabela 4. Tempo gasto em minuto por cada participante em cada fase de teste da Etapa
2 nas condições Braille e Relevo.
Braille
Relevo
Participante AB AC
BC
CB C
D LT Total AB AC BC
CB
C
D LT Total
Franklin
19´ 29´
58´
45´ 33´ 32´ 62´ 278´ 10´ 27´ 36´
35´
31´ 36´ 46´ 221´
Aretha
12´ 38´
44´
43´ 16´ 16´ 45´ 214´ 17´ 51´ 40´
43´
48´ 25´ 70´ 294´
No Pré teste, mais especificamente no Teste de Nomeação Oral na condição
Braille a participante Aretha não fez a nomeação de nenhuma sílaba e o participante
33
Franklin fez com hesitação somente a nomeação da sílaba TE. Na condição Alfabeto
Romano em relevo Aretha nomeou isoladamente a letra “d” e a letra “o” sem fazer a
leitura das sílabas e o participante Franklin não nomeou nenhuma letra ou sílaba.
Importante ressaltar que no Teste de Discriminação Condicional os participantes não
reconheceram nenhuma sílaba.
A Figura 5 apresenta o desempenho dos participantes no teste de Nomeação Oral
do Pré teste.
Figura 5. Desempenho dos participantes Aretha e Franklin no Pré teste de Nomeação
Oral e no Pré teste de Discriminação Condicional.
Os participantes Aretha e Franklin necessitaram de apenas uma exposição aos
testes de Nomeação Oral das sílabas de Ensino e Recombinadas na Etapa I para atingir
o critério de 100% de acertos, conforme exposto na Tabela 5.
34
Tabela 5. Número de exposições aos testes de nomeação de sílabas de ensino e
recombinadas.
Fases
5
6
14
15
Sílabas
Ensino
no, bo e na
no, bo e na
no, bo, na, do, ne e to
no, bo, na, do, ne e to
Recombinadas
+BA
+ba, be, da, de, ta e te
Participantes
Aretha Franklin
1
1
1
1
1
1
1
1
A porcentagem de acertos dos participantes Aretha e Franklin nas fases de
ensino e teste da Etapa I é apresentado nas Figuras 6 e 7. É importante ressaltar que
ambos os participantes atingiram o critério de 100% de acertos na primeira exposição
nas Fases de 1 a 15.
Figura 6. Percentual de Acertos nas Fases da Etapa I da Participante Aretha.
35
Figura 7. Percentual de Acertos nas Fases da Etapa I da Participante Franklin
Na Etapa 2 os dois participantes demonstraram prontamente todos os
desempenhos emergentes, atingindo 100% de acerto na primeira exposição aos testes.
Figura 8. Porcentagem de acertos nos testes de Leitura textual, testes das relações AB,
AC, BC, CB, cópia e ditado.
36
Figura 9. Porcentagem de acertos nos testes de Leitura textual, testes das relações AB,
AC, BC, CB, cópia e ditado.
37
Discussão
Diversos estudos na Análise experimental do comportamento investigaram
variáveis que afetam a aprendizagem da leitura. Kato e Perez-Gonzales (2004) com seis
participantes viso normais na Espanha, Maués e Kato (2008) e Barros e Kato (2008)
cada um com cinco participantes no Brasil mostraram que o ensino de discriminações
condicionais entre sílabas gera a emergência da nomeação oral de sílabas de ensino e
recombinadas além da emergência imediata da leitura textual e com compreensão das
palavras formadas pelas sílabas de ensino e recombinadas. O presente estudo replicou
esses estudos com participantes cegos na leitura de sílabas e palavras em Braille e do
alfabeto romano em relevo.
Leitão (2009), Feitosa (2009) e Aguillar (2011) cada um com três participantes
adultos cegos fluentes em Braille após o ensino de Discriminação condicional de
palavras monosilábicas com recombinação onset rime em Braille e relevo em inglês
obtiveram resultados que indicaram a emergência imediata da leitura recombinativa em
braille e alfabeto romano em relevo em inglês na língua inglesa.
Os resultados da presente pesquisa confirmaram os estudos anteriores de Kato e
Perez Gonzalez (2004), Maués (2007) e Barros (2007), evidenciando ainda um menor
número de exposições as fases de ensino das discriminações condicionais das sílabas de
ensino para atingirem o critério de acertos e passar a fase seguinte. Nesses estudos foi
realizada a análise dos erros e a reprogramação do procedimento de ensino visando a
aprendizagem sem erros. No estudo de Barros (2007) o procedimento reprogramado já
havia promovido a aprendizagem sem erros na maioria das fases de ensino e com
poucos erros nas poucas fases restantes para todas as crianças. No presente estudo a
porcentagem de acertos foi de 100% na 1º exposição a todas as fases de ensino e de
testes verificada nos dois participantes.
38
Supõe-se que os critérios estabelecidos para realizar as sessões de ensino e testes
pode ter contribuído diretamente nos resultados de ambos participantes. As sessões
nunca eram realizadas quando o participante apresentasse indicadores comportamentais
(expressões faciais, posturas ou relatos verbais) de tristeza ou indisposição. Aretha, cega
a apenas um ano, iniciou a pesquisa na possibilidade de usar óculos para melhorar sua
visão, como o óculos não trouxe resultado, um intervalo foi dado em respeito a
participante, em sua volta, as sessões ocorreram na ASCEPA, onde a participante
conheceu outros cegos e a vivenciar um ambiente motivador que favoreceu sua nova
realidade e inclusão, até este momento a estudante ia apenas ao Alvarez e não estava
estudando no ensino regular. Ao concluir a pesquisa a aluna estava matriculada em uma
escola do ensino regular objetivando a conclusão do nível fundamental.
Importante ressaltar que na Fase 12 da Etapa 1, na condição alfabeto romano em
relevo, a leitura dos participantes era feita supostamente com muita atenção e com mais
cautela devido a semelhança entre as letras “a” e “e” o que gerava uma maior
dificuldade para a discriminação tátil. Os resultados de Loomis (1974) indicaram
melhor desempenho dos participantes quando se utilizava letras com diferença
significativas entre si. A mesma dificuldade de discriminação supostamente ocorreu
também na fase 9 da condição Braille com as letras “t” e “n” devido a semelhança dos
pontos. Apesar dessa possível dificuldade supõe-se que o espaçamento entre as letras
contribuiu para a ótima discriminação condicional nas duas condições confirmando o
estudo de Feio (2003). Supõe-se ainda que no Teste de Nomeação Oral a participante
tenha reconhecido a letra “d” e “o” por ter conhecido o alfabeto romano em tinta e por
saber assinar o seu próprio nome. O participante Franklin pode ter discriminado o “t” e
o “e” por estar aprendendo a escrever o Braille na Instituição em que estuda.
39
Os participantes apresentaram a emergência imediata da leitura textual de 06
sílabas de ensino, de seis novas sílabas recombinadas e oito novas palavras. O
participante Franklin acrescentou ainda em uma das sessões a possibilidade de leitura da
palavra “banana” e “dotô”. Este comportamento aponta a necessidade de estudos com
mais sílabas, palavras mais completas e sentenças complexas confirmando a facilidade
de criança e adultos cegos na aprendizagem do alfabeto romano em relevo e amplia a
pesquisa de Nascimento (2007) que investigou a aprendizagem das letras A, E e O.
Os resultados do presente estudo indicam que não existem diferenças
perceptíveis no tempo gasto pelo participante Franklin nas fases de ensino e teste nas
condições Braille e Relevo. Esses resultados confirmam os de Bliss et al. (2004) que
afirmavam que indivíduos cegos que possuem treinamento em sua acuidade tátil teriam
sua percepção tátil aumentada.
O maior tempo gasto pela participante Aretha nas fases de ensino e teste na
condição em relevo em comparação Braille pode ser atribuída à sequencia de condições
a que ela foi exposta. Aretha iniciou com a condição relevo o que pode ter contribuído
para o melhor desempenho na condição Braille. Nesta, a participante apresentou
desempenho similar ao de Franklin. Aretha além de ter alguns meses de cegueira
apresentava curto tempo de exposição ao ensino de discriminação tátil.
Os participantes desta pesquisa tiveram suas habilidades treinadas na Instituição
de Ensino Jose Alvarez de Azevedo o que provavelmente favoreceu seu efetivo
desempenho. Nesse sentido, a aprendizagem do Alfabeto Romano em relevo pode ser
uma ferramenta de inclusão para os cegos nos setores acadêmicos e profissionais dos
viso normais. O Braille é de uso exclusivo dos cegos e de um número muito pequeno de
profissionais e educadores viso normais. Nesse sentido favorece o professor e o aluno
40
cego nas instituições, na relação com os pais, professores e outros alunos do ensino
regular.
Acrescenta-se ainda a durabilidade do material utilizado, já que os estímulos em
Braille tinham que ser refeitos constantemente por serem amassados com a pressão do
dedo do aluno, enquanto que a substituição dos estímulos em relevo foi realizada apenas
uma vez na letra “d” e uma vez na letra “o” por conta da quebra de uma pontinha.
Inclusive neste momento, pode-se confirmar a efetividade da discriminação dos
estímulos táteis já que disseram não reconhecer a letra que estavam tocando. Millar
(1997) afirma que a discriminação das letras do Alfabeto Romano em Relevo pode ser
favorecida pelas suas características de linhas retas e curvas, traçado este diferente do
sistema de pontos em Braille. É importante investigar os diferentes parâmetros de
variáveis tais como tipo e tamanho da fonte, espaçamento entre letras visando a maior
eficiência e economia no ensino. A presente pesquisa demonstra um ensino econômico
e com emergência imediata de novos comportamentos de leitura textual e com
compreensão usando fonte Arial, tamanho 26.
Portanto a utilização do Alfabeto romano em relevo em tinta no ensino regular
pode promover a inclusão dos cegos favorecendo a interação com alunos viso normais e
com seus professores, ampliando sua acessibilidade. O participante Franklin inclusive
escreve no caderno com alfabeto romano em relevo (cola), em tinta, com letras e
números no ensino regular. Com o avanço da tecnologia sua impressão em gráficas e
impressoras comuns com impressão em relevo com tinta especial poderia facilitar a
leitura e a escrita por cegos.
41
Referências
Barros, S. N. (2007). Ensino de discriminação entre sílabas e a emergência da leitura de
novas sílabas com recombinação de letras em crianças pré-escolares. Dissertação
de Mestrado, UFPA.
Barlow – Brown, F. & Connelly, V. (2002). The role of letter knowledge and
phonological awareness in young Braille readers. Journal of research in reading,
25 (3), 259-270.
Bliss, I.; Kujala, T. & Hamalainen, H. (2004). Comparison of blind and sighted
participant´s performance in a letter recognition working memory task. Cognitive
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ANEXOS
46
Anexo 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
NÚCLEO DE TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
PROJETO: ENSINO DE DISCRIMINAÇÕES DE SÍLABAS E A EMERGÊNCIA DE LEITURA DE PALAVRAS EM
BRAILLE E DO ALFABETO ROMANO EM RELEVO EM CEGOS.
Ilustríssimos Senhores/ Senhoras,
Pesquisas sobre aprendizagem e o ensino da leitura têm sido desenvolvidas na Universidade
Federal do Pará, sob coordenação da professora Olivia Misae Kato. Essas pesquisas têm estudado como
as pessoas aprendem a ler o que dificulta e facilita a aprendizagem e as maneiras eficientes de ensinar.
Visa fornecer aos educadores métodos alternativos e eficazes de ensinar a ler.
O presente estudo propõe uma nova metodologia de ensino da leitura para deficientes visuais
e pode contribuir para o aperfeiçoamento de maneiras mais eficientes de ensinar a ler, em menor
tempo e gerando pouco ou nenhum erro. Além disso, os resultados da presente pesquisa podem auxiliar
os professores em sala de aula no ensino da língua portuguesa favorecendo a inclusão e permanência
do aluno cego na educação básica e superior.
A situação de ensino da presente pesquisa pode beneficiar o participante, favorecendo a
iniciação à leitura e enriquecendo seu vocabulário.
Inicialmente serão ensinadas as relações entre sílabas ditadas e escritas em Braille e do
alfabeto romano em relevo. Após esse ensino será verificada a leitura das sílabas de ensino e
recombinadas e a emergência da leitura textual e com compreensão de novas palavras, formadas pelas
sílabas de ensino e recombinadas. Cada sessão de ensino ou teste terá a duração de 20 a 45 minutos,
podendo ser realizada mais de uma sessão por dia, conforme sua disponibilidade de tempo do
participante. Durante a sessão, o participante será confortavelmente acomodado em uma cadeira em
frente a uma mesa, onde serão colocados o computador e uma base de metal. A sala de coleta de dados
será cuidadosamente preparada para as sessões. Em todas as sessões estarão presentes a pesquisadora
e uma observadora. O risco aos participantes nessa situação de ensino é mínimo.
Estamos, então, convidando seu (sua) filho (a) para participar da presente pesquisa. Nesse
sentido, solicitamos sua colaboração, assinando o presente termo de consentimento de participação.
Você tem todo o direito de não assinar e, em qualquer momento da pesquisa, você poderá interromper
sua participação sem qualquer problema ou complicação. Esclarecemos ainda, que os dados e
resultados da pesquisa serão confidenciais e sua identidade não será revelada na divulgação do trabalho
em reuniões científicas, publicações e nas aulas de disciplinas.
________________________________________________________________________
Pesquisador Responsável: (Aluna do Mestrado em Teoria e Pesquisa do Comportamento)
Nome: Andréa Sales Melo
End.: Av. Almirante Barroso 5610, Ed. JK, AP 303, Bairro: Souza, Cidade: Belém – PA. CEP: 66613-080
Fone: (0xx91) 8281-5533 (0xx91) 88013542
Registro CRP/10- 2277
Orientadora: Profa. Dra. Olívia Misae Kato
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Declaro que li as informações acima sobre a pesquisa e que me sinto perfeitamente esclarecido
sobre o conteúdo da mesma, assim como os seus riscos e benefícios. Declaro ainda que, por
minha livre vontade, consinto em participar na presente pesquisa.
__________________________
Belém, __ de ___________ de 2011.
47
Anexo 2 - Parecer do Comitê de Ética
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