FILOSOFIA NO PERÍODO MODERNO “ O desenvolvimento posterior da ciência ocidental teve de aguardar o Renascimento; a partir daí, os homens começaram a se livrar da influência de Aristóteles e da Igreja, passando a apresentar um novo interesse em torno da natureza. No fim do século XV, o estudo da natureza foi abordado e, desta vez, a partir de um espírito verdadeiramente científico, no qual os experimentos eram levados a cabo para testar idéias especulativas. À medida em que este desenvolvimento foi acompanhado por um crescente interesse pela matemática, acabou por gerar a formulação de teorias científicas adequadas, tomando por base o experimento; essas teorias eram expressas em linguagem matemática. Assim, Galileu foi o primeiro a combinar o conhecimento empírico com a matemática, o que lhe confere o título de pai da ciência moderna. O nascimento da ciência moderna foi precedido e acompanhado por um desenvolvimento do pensamento filosófico que deu origem a formulação extrema do dualismo espírito/matéria. Essa formulação veio à tona no século XVII, através da filosofia de René Descartes. Para este filósofo, a visão da natureza deriva de uma divisão fundamental em dois reinos separados e independentes: o da mente ( res cogitans )e o da matéria ( res extensa ). A divisão “cartesiana” permitiu aos cientistas tratar a matéria como algo morto e inteiramente apartado de si mesmo, vendo o mundo material com uma vasta quantidade de objetos reunidos numa máquina de grandes proporções. (...) A famosa frase cartesiana cogito ergo sun ( penso logo existo) tem levado o homem ocidental a igualar sua identidade apenas à sua mente, em vez de igualá-la a todo o seu organismo. Em conseqüência da divisão cartesiana, indivíduos, na sua maioria, têm consciência de si mesmos como egos isolados existindo “dentro” de seus corpos. A mente foi separada do corpo, recebendo a inútil tarefa de controlá-lo, causando assim um conflito aparente entre a vontade consciente e os instinto involuntários. Essa fragmentação interna espelha nossa visão de mundo “exterior”, que é encarada como sendo constituído de uma imensa quantidade de objetos e fatos isolados. O ambiente natural é tratado como se consistisse em partes separadas a serem exploradas por diversos grupos de interesses. Essa visão fragmentada é ainda mais complicada quando se chega à sociedade, dividida em diferentes nações, raças, grupos políticos e religiosos. A crença de que todos esses fragmentos - em nós mesmos, em nosso ambiente e em nossa sociedade - são efetivamente isolados pode ser encarada como a razão essencial para a atual série de crises sociais, ecológicas e culturais. Essa crença tem nos alienado da natureza e dos demais seres humanos, gerando uma distribuição absurdamente injusta de recursos naturais e dando origem à desordem econômica e política, a uma onda crescente de violência ( espontânea e institucionalizada ) e a um meio ambiente feio e poluído, no qual a vida não raro se torna física e mentalmente insalubre.”( CAPRA, 1975 ) A FILOSOFIA NA RENASCENÇA ( SÉC. XIV AO SÉC. XVI ) É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras de grandes autores e artistas gregos e romanos. São três as grandes linhas de pensamento que predominavam na Renascença: 1 - Aquela proveniente de Platão, do neoplatonismo e da descoberta dos livros de Hermetismo; nela se destacava a idéia da Natureza como um grande ser vivo; o homem faz parte da natureza como um microcosmo (com espelho do Universo inteiro) e pode agir sobre ela através da magia natural, da alquimia e da astrologia, pois o mundo é constituído por vínculos e ligações secretas (a simpatia) entre as coisas; o homem pode, também, conhecer esses vínculos e criar outros, como um deus. 2 - Aquela originária dos pensadores florentinos, que valorizava a vida ativa, isto é, a política, e defendia os ideais republicanos das cidades italianas contra o Império Romano-Germânico, isto é, contra o poderio dos papas e dos imperadores. Na defesa do ideal republicano, os escritores resgataram autores políticos da antigüidade, historiadores e juristas, e propuseram a “imitação dos antigos” ou o renascimento da liberdade política, anterior ao surgimento do império eclesiástico. 3 - Aquela que propunha o ideal do homem como artífice de seu próprio destino, tanto através do conhecimentos ( astrologia, magia, alquimia ), quanto através da política ( o ideal republicano ), das técnicas ( medicina, arquitetura, engenharia, navegação ) e das artes ( pintura, escultura, literatura, teatro ). Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio Ficino, Giordano Bruno, Campanella, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tómas Morus. Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa. MODERNA ( SÉC. XVII A MEADOS DO SÉC. XVIII ) Esse período, conhecido como o Grande Racionalismo Clássico, é marcado por três grandes mudanças intelectuais: 1 - Aquela conhecida como “surgimento do sujeito do conhecimento, isto é, a Filosofia em lugar de começar seu trabalho conhecendo a Natureza e Deus, para depois referirse ao homem, começa indagando qual é a capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos. Em outras palavras, a Filosofia começa pela reflexão, isto é, pela volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer sua capacidade de conhecer. O ponto de partida é o sujeito do conhecimento como consciência de reflexiva, isto é, como consciência que conhece sua capacidade de conhecer. O sujeito do conhecimento é um intelecto no interior de uma alma, cuja natureza e substância de seu corpo e dos demais corpos exteriores. Por isso, a segunda pergunta da Filosofia, depois de respondida a pergunta sobre a capacidade de conhecer, é: Como o espírito ou o intelecto pode conhecer o que é diferente dele? Como pode conhecer os corpos da Natureza? 2 - A resposta à pergunta acima constitui a segunda grande mudança intelectual dos modernos, e essa mudança diz respeito ao objeto do conhecimento. Para os modernos, as coisas exteriores (a natureza, a vida social e política) podem ser conhecidas desde que sejam consideradas representações, ou seja, idéias e conceitos formulados pelo sujeito do conhecimento. Isso, significa, por um lado, que tudo o que pode ser conhecido deve poder ser transformado num conceito ou numa idéia clara e distinta, demonstrável e necessária, formulada pelo intelecto; e, por outro lado, que a natureza e a sociedade ou política podem ser inteiramente conhecidas pelo sujeito, porque elas são inteligíveis em si mesmas, isto é, são racionais em si mesmas e propensas à serem representadas pelas idéias do sujeito do conhecimento. 3 - Essa concepção da realidade como intrinsecamente racional e que pode ser plenamente captada pelas idéias e conceitos preparou a terceira grande mudança intelectual moderna. A realidade, a partir de Galileu, é concebida como um sistema racional de mecanismos físicos, cuja estrutura profunda e invisível é matemática. O “livro do mundo”, diz Galileu, está escrito em caracteres matemáticos. A realidade, concebida como sistema racional de mecanismos físicomatemáticos, deu origem à ciência clássica, isto é, à mecânica, por meio do qual são descritos, explicados e interpretados todos os fatos da realidade: astronomia, física, química, psicologia, política, artes são disciplinas cujo conhecimento é do tipo mecânico, ou seja, de relações necessárias de causa e efeito entre um agente e um paciente. Referência bibliográfica: CAPRA, Fritjof. O tao da física, trad. José Fernandes Dias, São Paulo: Cultrix, 1995.