UMA LEITURA HUMANÍSTICO-FILOSÓFICA DO MEMORIAL AO CARDEAL TONTI: a visão antropológica de José de Calasanz | 49 UMA LEITURA HUMANÍSTICOFILOSÓFICA DO MEMORIAL AO CARDEAL TONTI: a visão antropológica de José de Calasanz Fabrício Dias dos Passos Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitula-se UMA LEITURA HUMANÍSTICO-FILOSÓFICA DO MEMORIAL AO CARDEAL TONTI: a visão antropológica de José de Calasanz. Ele representa para o graduando mais que um estudo monográfico, meramente teórico, pois consiste em um projeto pessoal de investigação sobre a vida e a obra do padre José de Calasanz, fundador da Ordem Religiosa das Escolas Pias, da qual é membro. Ressalta-se, contudo, que a presença da figura do padre Calasanz perpassa a vida do discente, na medida em que concluiu tanto o Ensino Infantil quanto o Ensino Fundamental em escolas fundadas por sacerdotes Escolápios. Acresce, ainda, que o licenciando em Filosofia ingressou, posteriormente, na ordem religiosa fundada por Calasanz, passando a frequentar, nos primeiros anos de sua formação religiosa, aulas de uma disciplina denominada Estudos Calasâncios, ministradas entre os anos de 2009 e 2012, parte no Brasil, parte na Colômbia. No ano de 2014, o discente participou de um Congresso Internacional de Espiritualidade Calasância, organizado pelo Instituto Calasanz de Ciencias e de la Educación Nazaret (ICCE), que ocorreu na cidade de Bogotá, na Colômbia. Esse evento aumentou, significativamente, o interesse do estudante em aprofundar seus conhecimentos sobre a referida temática. Para realizar tal tarefa, tornou-se necessário proceder-se a uma pesquisa bibliográfica que embora centrada no Memorial ao Horizonte Teológico, Belo Horizonte, v.15, ed. especial, p.49-52, jul./dez. 2016. 50 | Fabrício Dias dos Passos Cardeal Miguel ÁngeloTonti1, abrangeu,ainda,obras em português e em espanhol, tais como: A Nueva Antologia Pedagógica Calasância, escrita por Vicente Zapata; Vida de São José de Calasanz, Padroeiro das Escolas Populares Cristãs, de Severino Guiner, obra traduzida, para o português, pelo padre Alberto Tellecheia; San José de Calasanz, Maestro y Educador, dissertação de mestrado do Escolápio Severino Guiner, apresentada à Universidade Pontifícia de Salamanca; San José de Calasanz, Obras Pedagógicas, de György Santha. Utilizouse, ainda, a monografia do Irmão Alexandre Cleber Ribeiro Batista intitulada: Padre Calasanz: um projeto emancipatório que supera o seu tempo. Tendo em vista que um dos objetivos da monografia aqui apresentada consiste em analisar, criticamente, a visão antropológica de José de Calasanz, tomou-se como referência nessa área a obra do padre Henrique C. de Lima Vaz, sobretudo seu livro intitulado Antropologia Filosófica. Finalmente, citou-se também a obra Antropologia Teológica, de Urbano Zilles. Esta monografia está estruturada em dois capítulos. No primeiro, será descrito, ainda que de forma superficial e provisória, o contexto histórico, social, religioso e cultural no qual foi escrito o Memorial ao Cardeal Tonti. A seguir, apresenta-se uma breve biografia do padre José de Calasanz, enfocando, sobretudo, o período em que viveu em Roma, no qual teve maior contato com os filósofos, cientistas e artistas renascentistas. No último tópico desse capítulo, busca-se explicitar como o Cardeal Tonti se insere na trajetória de vida das Escolas Pias. No segundo capítulo, intitulado A Antropologia Intrínseca ao Memorial ao Cardeal Miguel Angel Tonti, busca-se, inicialmente, explicitar o estudo do padre Vaz sobre a genealogia da Antropologia para, posteriormente, apresentar as três principais correntes antropológicas Antiga, Cristã e Renascentista, que tiveram influência na construção do pensamento calasâncio, no que se refere ao 1 O dito documento denominado Memorial ao Cardeal Miguel Ángelo Tonti, neste trabalho, também será denominado de Memorial ao Cardeal Tonti. Horizonte Teológico, Belo Horizonte, v.15, ed. especial, p.49-52, jul./dez. 2016. UMA LEITURA HUMANÍSTICO-FILOSÓFICA DO MEMORIAL AO CARDEAL TONTI: a visão antropológica de José de Calasanz | 51 Memorial. O termo antropologia nos ajuda a compreender esta inquietação sobre o que é o Ser Humano. Etimologicamente, o termo antropologia deriva da palavra grega ánthropos (homem) e logos (“explicação” ou “razão”), significando, pois, a ciência do homem e suas obras (ZILLES, 2011). Ressalta-se, no entanto, que pensar o homem engloba diferentes perspectivas e é a partir dessas compreensões que deve se buscar uma aproximação conceitual do que é a antropologia. Na tradição ocidental, os filósofos pré-socráticos, como Demócrito (520-440 a.C) e Posidônio (135-50 a.C), elaboraram uma visão do homem como microcosmo (pequeno mundo) em contrapartida ao macrocosmo (grande mundo). Na cosmovisão dos filósofos antigos, a antropologia desenvolveu-se a partir da reflexão socrática, platônica e aristotélica, dentro de uma perspectiva dualista do ser. Esse dualismo divide a realidade em dois campos diferentes, de um lado encontra-se a dimensão corpórea e, de outro, a dimensão espiritual (corpo e alma). A compreensão antropológica bíblica que perpassa tanto o Primeiro, quanto o Segundo Testamentos reflete a visão existencial elementar do homem. Por isso, os temas da carne, da alma, do espírito e do coração assumem, na perspectiva cristã, um sentido de profunda novidade apresentada no Primeiro Testamento. A antropologia renascentista, por sua vez, tem duas bases de pensamento profundamente arraigadas na sua construção: de um lado, a estrutura do homem grego antigo e, de outro, a estrutura do homem cristão, que se fundamentou na Idade Média. Percebe-se que, na renascença, a antropologia se centra na relação da dignidade humana, na universalidade do homem e no indivíduo. Calasanz, ao elaborar o Memorial ao Cardeal Tonti, propõe oferecer às crianças mais pobres uma educação integral, gratuita e cristã objetivando criar nelas uma consciência de valorização individual. Por isso, nas Considerações Finais, busca-se sintetizar uma das possíveis respostas à pergunta que embasa este trabalho: Qual a definição de Ser Humano que José de Calasanz adota ao escrever Horizonte Teológico, Belo Horizonte, v.15, ed. especial, p.49-52, jul./dez. 2016. 52 | Fabrício Dias dos Passos o Memorial ao Cardeal Tonti? Qual o caminho que ele percorre para chegar a ela? Tendo em vista a complexidade da questão proposta, não se pretende oferecer uma resposta conclusiva a essa pergunta. O que se busca é explicitar, de forma sistemática, os elementos teóricos empregados para uma leitura filosófica do Memorial ao Cardeal Tonti. Horizonte Teológico, Belo Horizonte, v.15, ed. especial, p.49-52, jul./dez. 2016.