Resenha Crítica CARA MILINE Soares é arquiteta e doutora em Design pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo (FAU-USP). É autora do ensaio já publicado: Móveis Brasileiros Contemporâneos: aspecto do design experimental na obra dos irmãos Campana, 1920-2000. O livro Do Desenho Industrial ao Design no Brasil é um subproduto da Dissertação de Mestrado da própria autora Milene Cara, que se transformou em uma obra. A autora consegue trazer ao leitor uma maior percepção sobre a trajetória e mudança do termo designe no Brasil e consegue articular tais informações com a jornada política e econômica do país nos anos 50, 60 e 70. A atenção da autora em relação aos poucos estudos realizados sobre o design no Brasil é evidente, pois explica que existe uma bibliografia escassa e que o estudo sobre o designer no Brasil é recente. A história do design foi adotada recentemente e não tem autonomia nem bibliografia suficiente. O debate sobre o desenho industrial no Brasil ganha maior importância a partir dos anos 50, vinculados à ideia de projeto moderno. O design no contexto de pósmodernismo passa a ter outros significados ainda pouco definidos que não se relaciona apenas com projetos materiais, mas, conjuntos de experiências humanas construídas por objetos produzidos. Os anos de 1950-56 foi um período marcado por altíssimas taxas de crescimento, onde se consolida a estrutura de indústria brasileira através da politica macroeconômica. Com o crescimento surge uma nova demanda pelo desenho industrial. Segundo Bonfim, a expressão designer surgiu na Inglaterra século XVII, com tradução do termo Italiano desegno. Para Cardoso, designer atua na junção dos dois aspectos abstrato e concreto, atribuindo forma material a conceitos intelectuais. Em 1961, em um congresso em Viena um novo conceito de design é criado. A função do designer industrial e da forma dos objetos e serviços passa a contribuir para a eficiência e satisfação da vida humana. O desenho industrial deveria adequar-se aos contextos particulares em que a atividade se desenvolve. 1 A atual tarefa do designer é descobrir e estabelecer relações estruturais, organizacionais, funcionais e econômicas comprometidas com o aumento da sustentabilidade. O design é uma atividade que desenvolve um amplo campo de profissões das quais produtos, serviços e arquitetura fazem parte. O desenvolvimento do design não apresenta uma estrutura linear ou cíclica, é predominantemente relativa. Com a ampliação da economia, novos conceitos intelectuais passaram a determinar a criação de formas materiais. O contexto de Segunda Guerra Mundial favoreceu a expansão do desenho industrial. Os Estados Unidos alcançaram crescimento expressivo no parque industrial. Influenciados pela economia Norte Americana, o Brasil e Argentina também aumentaram devido ao grande volume de exportações agrícolas. No Brasil, a política nacionalista de Getúlio concorreu de forma significativa para a formação do parque industrial. Em 1941, foi aberta a Companhia Siderúrgica Nacional, em 1942, a Companhia Vale do Rio Verde, em 1952 o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e em 1983 a Petrobrás. Com o acirramento da Guerra Fria em 1950, o modelo de consumo ilimitado supera fronteiras em escala global. Em 1951, Vargas assume a presidência no Brasil e defende um sistema econômico autônomo, independente do sistema capitalista. Getúlio promoveu várias medidas para desenvolver o sistema econômico. Em 1956, Juscelino assume a presidência do país, conhecido pela sua estabilidade política e crescimento econômico. É importante ressaltar que o Brasil, nesse período, passava de um processo de transição na economia; do agrário para o industrial e que houve um fenômeno de migração das cidades pequenas de todo pais para os grandes centros urbanos, como a cidade de São Paulo. Dirigiu-se a formação de uma classe que teria acesso aos produtos que passam aos produtos produzidos pelo nosso país, classe média inserida no processo de industrialização. No contexto mundial, a década de 50 foi muito importante, o pós-guerra foi marcado pela popularização do mundo, e o fim da Guerra Fria marcou o fim da hegemonia Europeia. 2 Em países como o Brasil, a descoberta do desenho industrial veio com o cunho do modernismo. Alguns autores abordavam o desenho industrial como um debate de arquitetura moderna. A partir dos anos 60, é possível identificar uma crise da noção de desenho industrial, no debate sobre a discussão de modernidade. No Pós-guerra, as relações entre arte, artesanato e indústria são assuntos de destaque no debate cultural de países em processo de transição e econômica predominantemente agrária para a industrialização acelerada. Bauhaus contribuiu para o modernismo do design e sua filosofia que era mais voltada para o aspecto humanista. Já a Escola de Maldonado enfatizava racionalização para soluções do desenho industrial. No contexto mundial, a Itália foi o país que mais soube aproveitar das atividades artesanais para desenvolvimento de sua produção industrial. Para Dafles, o desenho industrial na contemporaneidade tem o papel de arte popular e manifesta o Neoconcreto. Segundo Dafles, a arte concreta tende a manter sua linguagem dentro de uma ambiguidade nacionalista perigosa. O Governo de Juscelino termina em 1961, com a posse de Jânio Quadros, que renuncia no mesmo ano, quem assume é João Goulart. Com Jango no poder, houve aumento do crescimento urbano e a industrialização. João Goulart organizou a reforma agrária, direito ao voto, intervenção estatal e economia de regulamentação de remessas de lucro ao exterior. No cenário internacional, o contexto de Guerra Fria, sobretudo a vitória da Revolução Cubana, significou a possibilidade de uma guerra revolucionária. Garantiu de alguma forma, bons resultados para economia de vários países por causa do aumento da prática de exportação. As rupturas e criações no final da década de 60 foram muitas, em todo contexto mundial. Houve várias criações no meio tecnológico, meios de comunicação: a imagem do Globo terrestre, a chegada do homem à lua, as ideologias de Che, líder revolucionário, Guerra do Vietnã e movimento Black Power nos Estados Unidos. 3 Em 1970, o Presidente Costa Silva foi substituído pelo Presidente Emílio Médici. O Governo Médici ficou conhecido como um dos maiores progressistas da ditadura militar. Segundo Boris Fausto, o Brasil contou com a entrada de investimento de capital estrangeiro e, em contrapartida, o salário estava abaixo da inflação. Na década de 70, o desenho industrial no Brasil passa a ser conceituado e definido como design. O design é encarado como uma prioridade tecnológica para o país, e a bibliografia sobre o assunto aumenta de forma expressiva. O livro de Milene Caro,“Do Desenho industrial ao Design no Brasil” é uma obra de suma relevância para o profissional e pesquisador do design e pesquisadores de áreas afins. Por meio de opiniões bibliográficas diferentes, a autora consegue articular e elaborar uma melhor definição para o processo de construção do termo design. A obra narra o processo e a trajetória de definição do design, desenho industrial e arquitetura no Brasil, nos anos 50, 60 e 70, conhecido como período moderno e suas modificações no decorrer desse período. Através de uma abordagem política em âmbito nacional, em que a autora fala de cada presidente que passou pelo Brasil, das diferentes maneiras de execução de mandato e intervenção estatal na economia do país, nos leva ao entendimento de que a função do design e suas diferentes formas de definição são dependentes, estão diretamente ligadas com o processo de evolução política do país e sua demanda econômica. Embora exista todo cuidado com as formas de pesquisa, com o relato do cenário político e econômico do Brasil, há uma carência de imagens ilustrativas, já que o assunto da obra aborda mudanças e elaborações acerca do designer. Referências Bibliográficas CARA MILINE Soares, Do Desenho Industrial ao Design no Brasil,uma bibliografia crítica para disciplina. Editora Edgard Blucher, Coleção Pensando o Design. FAUSTO BÓRIS, Getúlio Vargas - O Poder e o Sorriso Col. Perfis Brasileiros.. Editora: Companhia das Letras. Categoria: Literatura Nacional. 4 Kelle Cândida Antunes é graduada e licenciada em História pela Universidade Estácio de Sá e Mestranda no curso de Direito na Universidade em Bioética, pela Escola Superior de Justiça (ESJUS). 5