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Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016
VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
POSSÍVEIS ABORDAGENS DE SAÚDE NOS ENREDOS DE FILMES COMERCIAIS
Karine Rudek1
Eliane Gonçalves dos Santos2
Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo buscar nos filmes comerciais um instrumento
potencializador do trabalho pedagógico, uma vez que essas mídias trazem em seu enredo
múltiplos saberes e conhecimentos, valores, crenças e distintos estilos de vida, além de
apresentarem uma linguagem acessível ao público. O trabalho teve como finalidade analisar
dois filmes comerciais ―Uma prova de amor‖ (EUA, 2009) e ―Epidemia‖ (EUA 1995). Por
meio de um estudo descritivo e exploratório analisamos as abordagens de saúde apresentadas
nas duas películas. Após longa imersão, identificamos as abordagens biomédica,
comportamental e socioecológica nos filmes, sendo que prevalecem cenas do modelo
biomédico. Por conseguinte, acreditamos que os filmes são instrumentos que podem
possibilitar um alargamento nas compreensões de educação em saúde na escola.
Palavras-chave: Educação em Saúde. Formação de professores. Cinema.
Introdução
A formação de professores requer reflexão e análise da prática de sala de aula,
buscando indícios para qualificá-la e transformá-la. Deste modo, escolhemos olhar para as
questões da Educação em saúde presentes em filmes, pois este recurso cinematográfico pode
servir de subsídio para o trabalho do professor. Conforme Monteiro e Bizzo (2015) a temática
saúde se faz presente no currículo escolar desde o final do século XIX, porém, ainda é muito
presente a abordagem biomédica no currículo escolar.
É necessário o alargamento da compreensão de saúde na escola, no intuito de
proporcionar maiores contribuições para a promoção da saúde individual e coletiva. Nesse
contexto, é importante retomar os conhecimentos dos alunos e ampliar os significados
trazidos do seu meio social, a fim de que o discente seja capaz de analisar/criticar e avaliar as
informações do cotidiano, tornando-se um indivíduo ativo e participante da ação para
promoção da saúde não apenas na prevenção de doenças.
Por conseguinte, em vista do grande valor que a sociedade tem atribuído às novas
tecnologias como ferramentas didáticas para o ensino, porque essas podem propiciar
discussões e tomada de consciência sobre diversos assuntos, que se tomam os filmes
comerciais como um caminho para possibilitar debates e reflexões sobre educação em saúde
1
Acadêmica do curso de Ciências Biológicas – Licenciatura/Universidade Federal da Fronteira Sul/Cerro
Largo/[email protected]
2
Professora do curso de Ciências Biológicas– Licenciatura/Universidade Federal da Fronteira Sul/ Cerro
Largo/[email protected]
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na escola, Mocellinargumenta que o cinema também ensina verdades importantes sobre a
condição humana e pode ser encarado como um convite a futuras discussões.
Desta forma, pensando as potencialidades dos filmes no ensino de Ciências e Biologia,
que esse trabalho visa encontrar indícios para discutir as questões de Educação em Saúde
presente nos enredos com o auxílio de dois filmes comerciais.
Iniciando a reflexão acerca do Ensino de Educação em Saúde
Ao longo dos anos a visão dominante de saúde no currículo escolar tem-se pautado no
modelo biomédico o qual compreende a saúde como a ausência da doença. Desta maneira,
tenta-se refletir acerca da educação em saúde, bem como, o quão importante é no ambiente
escolar abordar está temática nas atividades e relacioná-las como cotidiano dos alunos, a fim
de promover um melhor entendimento do tema.
Mohr (2002) e Venturi (2013), a partir de suas pesquisas em livros didáticos e
entrevistas com professores sinalizam que as concepções de educação em saúde que circulam
no âmbito escolar são as de atitude higienistas, tendo em vista os parâmetros comportamentais
dos indivíduos, as mudanças nos hábitos, assim como nas atitudes, mediante uma exposição
simplista do conteúdo.
No atual cenário educacional, há a prevalência do modelo biomédico sob o modelo
biopsicossocial. Assim, é importante compreendermos o que defini cada um desses conceitos
em saúde. O modelo biomédico,de acordo com Batista(2014, p. 23)é aquele ―inspirado na
visão mecanicista do ser humano, considera que saúde é mera ausência de doença e que, como
numa máquina, se uma das peças se ‖avaria‖, há que se centrar na sua reparação‖. Para Tesser
e Luz (2002, p. 366) estemodelo ― tem mais relação aos cuidados (prevenções de doenças)
com a saúde e a prática médica é alicerçado somente na cura da doença sem levar em
consideração a qualidade de vida do próprio sujeito‖.
Castiel (2004, p. 3) apresenta que há a abordagem comportamental, a qual visa―alterar
os padrões individuais de exposição aos riscos, por meio das mudanças comportamentais‖.
Este modelo destaca a promoção da saúde incidida nos atos, nos hábitos e na melhoria da
qualidade de vida do indivíduo relacionando–se agora com sua família.
A abordagem socioecológica – biopsicossocial- é entendida por Martins et. al. (2012,
p. 5) como o bem-estar, ou seja, visão integral do sujeito nas dimensões física, psicológica,
social e ambiental. Este modelo promove a saúde com ações coletivas não apenas as ações
individuais, mas na coletividade, ressaltando a qualidade de vida muito evidente, assim, como
as análises dos desejos e anseios do sujeito.
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O conhecimento desses modelos no processo formativo de professores é de suma
importância, pois podeampliar e possibilitar outra compreensão dos alunos sobre tal temática.
Julgamos que uma possibilidade de iniciar a apresentação ou discussão de temas sobre a
saúde possa ser por meio de filmes, uma vez que essas mídias trazem em seus enredos
múltiplos saberes e conhecimentos, valores, crenças e distintos estilos de vida, além de
apresentarem uma linguagem acessível ao público, assim, como, ricas imagens as quais
prendem à atenção dos sujeitosdurante a exibição fílmica.
O Cinema como potencializador de discussão e aprendizagem
Perante os desafios que os professores encontram no processo ensino-aprendizagem na
atualidade, busca-seconhecer e explorar mais em aulas as tecnologias, como por exemplo, o
cinema na prática docente. Tendo em vista que os alunos na sua grande maioria possuem
acesso diário a diferentes recursos tecnológicos como celular, televisão, internet, e maior
domínio destas mídias do que o professor em alguns casos. Desta forma, torna-seformidável a
aproximação deste universo tecnológico (filmes comerciais) para dentro da sala de aula, como
forma de contextualização e mediação no ensino.Sabendo que este tipo de metodologia
―provoca‖ o interesse dos alunos e ao mesmo tempo integra seu cotidiano ao da escola
(NAPOLITANO, 2005).
A utilização da ferramenta midiática em sala de aula muito depende da transformação
da prática docente. Estes avanços na formação docente proporcionarãonovas habilidades e
descoberta, deste modo, desenvolvendo a linguagem, o pensamento, a concentração e
prendendo a atenção dos alunos, tendo em vista o quão atrativo são as cenas. Com a admissão
deste instrumentonas aulas, o professor instiga e envolve os alunos, tornando estámais
produtiva, diversificada e mais reflexiva, Santos (2013, p.68) aponta que
O filme não é utilizado no contexto escolar como simples ilustração, mas sim, como
forma de promover uma análise crítica da narrativa e das representações fílmicas,
consideradas como elementos propulsores de pesquisas e debates temáticos. Assim,
o filme estabelece uma articulação com o currículo/conteúdo, habilidades e
conceitos que são categorias básicas da relação de ensino-aprendizagem escolar.
O trabalho como cinema na sala de aula proporciona uma gama de conhecimentos e
informações de determinados contextos e momentos históricos, portanto, pensar essa
ferramenta no ensino, não se limita apenas a assistir ao filme, mas instigar um olhar mais
crítico e reflexivo sobre o que está sendo visualizado. Assim, julga-se importante citar os
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filmes como um instrumento didático para debater a temática saúde, visto as inúmeras
possibilidades e contextos que a midiática proporciona aos seus espectadores.
É válido ratificar que através deste trabalho, temospor finalidade analisar dois filmes
(comerciais) que abordam em seu enredo representações de saúde. A inquietação pela análise
de filmes é motivada pela forma que essa tecnologia pode ser fonte positiva para divulgação
da promoção da saúde no contexto escolar, o qual ainda se encontra ancorada no modelo
biomédico.
Cabe destacar, como aponta Gutfreind (2008, p.3) ―o cinema e o seu vínculo com
outras mídias funciona como um produto de base da sociedade contemporânea, participando
do imaginário de uma determinada sociedade e da experiência dos indivíduos‖.Assim o filme
se torna um importante instrumento de conhecimento da realidade.
Caminho metodológico
Seguindo os elementos teóricos de Lüdke e André (2013), essa é uma pesquisa
qualitativa em educação com recorte para a Educação em Saúde, a partir deste fizemos um
estudo descritivo e exploratório para analisar os aspectos de saúde e de doença
apresentadosem dois filmes comerciais, bem como destacar em algumas cenas as três
possíveis abordagens distintas de saúde apontadas Martins et al.(2012), sendo elas:(1)
biomédica; (2) comportamental; e (3) socioecológica (biopsicossocial).
Para a concretização do trabalho foram utilizados como instrumento de análise os
filmes comercias, estes que se aproximamdo cotidiano, trazendo histórias de vida, assim
como relações de saúde. Os filmes selecionadosforam:
1)
Epidemia (EUA, 1995).
2)
Uma prova de amor (EUA, 2009).
Primeiramente fizemos a análise dos filmes como um todo, buscando identificar
possíveis abordagens de saúde, inseridas no enredo das duas midiáticas. Conforme as
contribuições de Penafria(2009), o objetivo da análise fílmica é explicar/esclarecer o
funcionamento de um determinado filme e propor-lhe uma interpretação.
Algumas reflexões
O cinema se caracteriza como uma ferramenta que facilita a comunicação entre
professor e aluno em sala de aula, pois este possibilita ao aluno assistir, escutar e conhecer
algo não vivenciado na realidade ou algo vivenciado concretamente, mas de forma protegida
através das lentes.
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Desta forma, o uso de filmes em sala de aula contribui de acordo com Napolitano
(2005), Santos eScheid (2014) para reflexão de vários temas como, por exemplo, questões de
saúde, visto que esta ferramenta contribuir na análise das imagens e na leitura crítica
relacionando os acontecimentos com mundo real. Moran (1995, p. 3) menciona:
O vídeo nos seduz, informa, entretém, projeta em outras realidades (no imaginário)
em outros tempos e espaços. O vídeo combina a comunicação sensorial-cinestésica,
com a audiovisual, a intuição com a lógica, a emoção com a razão. Combina, mas
começa pelo sensorial, pelo emocional e pelo intuitivo, para atingir posteriormente o
racional.
Nesta perspectiva, ao trabalhar em sala de aula está temática desafiadora para os
professores, pretende-se com o uso do cinema, auxiliar no alargamento do entendimento da
educação em saúde nas práticas pedagógicas. Assim, usando os filmes como um instrumento
potencializador do pensamento crítico a respeito de questões referente à Promoção da Saúde,
bem como, na qualidade de vida do sujeito.
Ao propor a análise dos filmes ―Epidemia‖ (1995) e ―Uma prova de amor‖ (2009),
buscamos identificar como essa ferramenta por meio da sua história, das imagens apresenta e
possibilita a reflexão da saúde em seu enredo. De acordo com Scliar3 há diferentes
entendimentos do conceito de saúde ao longo da história da humanidade, o qual foi sendo
modificado de acordo com o contexto histórico, cultural e social de cada época. Dessa forma
o trabalho com esses dois filmes buscará contextualizar esse conceito também dentro de um
determinado espaço e tempo.
Análises dos Filmes
O filme ―Epidemia‖ (EUA, 1995),do gênero suspense e ficção cientifica, foi lançado
em 1995, dirigido por Wolfgang Petersen, estrelado por Dustin Hoffman, Rene Russo,
Morgan Freeman e Kevin Spacey. O mesmo traz um resgate do acontecimento que marca o
ano de 1995,uma epidemia viral, semelhante ao Ebola, masno filme este é referido por
―Motaba‖, no Zaire.As pessoas infectadas com ovírussão acometidas por uma febre mortal
(do mesmo modo como o Ebola), este foi descoberto na selva africana em 1967 - assim como
o Ebola - através de um experimentofeito pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos
no desenvolvimento de armas biológicas.
3
Moacyr Jaime Scliar (Porto Alegre, 23 de março de 1937 — Porto Alegre,27 de fevereiro de 2011) foi
um escritor brasileiro. Formado em medicina, trabalhou como médico especialista em saúde pública e professor
universitário. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Moacyr_Scliar. Acesso em 04 de agosto de 2016.
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Para manter o segredo da existência dovírus enão gerar pânico na cidade, dois oficiais
do exército americano, foram destinados a destruírem o campo onde o vírus foi
encontrado.Alguns anos depois, em 1995, o vírus ressurgiu no Zaire. O vírus acaba por se
disseminar na cidade da Califórnia. Vale ressaltar que tanto o local do surgimento do vírus, o
Zaire, como a época desta ―descoberta‖, 1967 e depois, 1995, são as mesmas dos fatos reais e
do filme, sendo que a diferença está no nome do vírus sendo no filme Motaba, ao invés de
Ebola.Contudo, o filme relata um fato real ocorrido na época4.
O filme tem início com cenas da selva na África e um macaquinho este precursor de
toda epidemia. O mesmo apresenta a rápida contaminação de um povoado africano e do
acampamento militar americano localizado nessa área, por uma doença desconhecida que
avançava rapidamente matando as pessoas em pouquíssimo tempo. Tratava-se de uma nova
doença contagiosa. Como forma de controle e isolamento desta, o governo decide lançar uma
bomba sob o acampamento a fim de ―realizar uma limpeza total‖, na tentativa de eliminar o
vírus.
Tendo em vista que, alguns macacos que estavam contaminados sobrevivem,
ironicamente por conta do tráfico de animais, um macaco infectado com o vírus é
contrabandeado para uma cidade dos EUA, esse espalha o vírus pela cidade, as autoridades
ficam em alerta quando a população começa a apresentar os sintomas da doença, porém o
contágio se desencadeia rapidamente, assim o exército coloca a cidade sob quarentena. Na
trama o coronel-médico Sam Daniels (Dustin Hoffman), corre contra o tempo, pois ele terá de
encontrar o hospedeiro do vírus e produzir uma vacina.
Ao analisarmos o filme Epidemia, denotamos em seu enredo uma forte abordagem do
modelo biomédico, pois desde as primeiras cenas são apresentadas situações em que temos a
doença, o contágio e formas de prevenção.
Citamos como medida extrema desse
entendimento, a cena 02:35min-03:05minaonde o avião americano lança a bomba sob o
acampamento, apresentando uma atitude preventiva drástica de controle do vírus. Assim,
como no isolamentoe a quarenta da população apresentado na cena 47:00min-48:01min. Em
todo o filme tem-se a preocupação de entender a doença cena 21:36min-22:44min, isolar o
vírus cena 03:50 min-06:00 min, encontrar o tratamento e curar a população, conforme a
cena 01:23:00-01:26:00 retrata a captura do hospedeiro da doença, o macaquinho.
Um ponto que merece destaque e reflexão é o contexto histórico em que está midiática
foi lançada no mercado, a mesma data de 1995, momento que o mundo vivia o pesadelo de
4
http://thoth3126.com.br/ebola-pandemia-do-virus-foi-criada-na-africa/
http://evunix.uevora.pt/~sinogas/TRABALHOS/2000/virol00_Ebola.htm
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uma possível contaminação pelo vírus Ebola.Menéndez e Medina (2001, p.3) ―asseveram que
os filmes são um novo espaço, pois outorgam grande valor ao mundo simbólico. São, na
verdade, fontes de informação sobre a ocasião em que foram produzidos, refletindo a
realidade política e social daquele momento‖.
De acordo com autores Monteiro e Bizzo (2011) o modelo biomédico está presente no
entendimento da população. De acordo com os teóricos, já no final do século XIX em
materiais didáticos encontravam-se abordagens sanitaristas para o ensino, assim como nas
orientações dos documentos oficiais, esse modelo tem forte presença no contexto escolar.
Assim, ao propor uma discussão sobre o modelo de saúde, biomédica, este filme apresenta um
rico repertório e possibilidades para o professor alavancar um olhar mais crítico e atendo dos
alunos para questões biológicas como as doenças virais, vacinas, tráfico de animais silvestres,
não neutralidade da ciência, questões sociais e culturais, correlacionado os acontecimentos
para que os alunos compreendam a saúde como algo mais amplo e complexo, que envolve
fatores sociais, políticos, psicológicos e ambiental.
―Uma prova de amor‖ (EUA, 2009) foi o segundo filme analisado. No seu enredo, a
discussão central é sobre a leucemia e o tratamento de Kate, o desgaste da relação familiar dos
Fitzgerald. Como já mencionado, as midiáticas fílmicas retratam questões emergentes de um
dado momento e contexto histórico. Sob essa perspectiva, o referido filme trata de uma
temática que neste século XXI, cresce assustadoramente, os casos de neoplasias malignas
(câncer), bem como as discussões acerca das doações de órgãos.
Informaçõescontidasno SEER (Surveillance, EpidemiologyandResults) revelaram que
de 2005 a 2009 a incidência neoplasias malignas (câncer) em crianças de 0 a 14 anos e jovens
aumentou em torno de 0,5% por ano, esta tendência tem sido mantidadesde o ano de 1975.
Em contrapartida, tendo em vista,os avanços nas estruturas hospitalares e na capacitação e
qualificação médica constantemente evoluindo, a mortalidade de criança e adolescentes tem
diminuído em 50% nas últimas 3 décadas, de 4,9 em 1975 para 2,1 em 2009.(SOUZA, 2013).
O filme ―Uma Prova de Amor‖ (EUA) foi lançado em 2009, dirigido por Nick
Cassavetes e tem no elenco Cameron Diaz, Jason Patrick, Abigail Breslin, Sofia Vassilieva,
Evan Elligson e Alec Baldwin. O enredo conta a história de uma família cuja filha mais velha
tem uma doença muito grave, leucemia.Cansada de lutar contra a leucemia há anos, dos
infindáveis tratamentos e agora de um provável transplante de rim Katedecide morrer e pede
ajuda para sua irmã caçula, a qual foi projetada e concebida para salvá-la.
À pedido de sua irmã Kate, Anna vai aos tribunais e reivindicao direito sobre seu
corpo (emancipação médica), com isso o direito de não transplantar o rim para a irmã. Kate
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não aguentaria ver sua irmã sofrer mais uma vez todos os procedimentos médicos, como por
exemplo, a cirurgiapara o transplante para tentar prolongar sua vida. Mas, Sara não consegue
entender o porquê de Anna não querer salvar a irmã.
Sara, não percebe a vontade de Kate de acabar com o seu sofrimento e da sua família.
A mãeobstinada em manter a vida da filha, não enxerga que a mesma já havia desistido de
lutar, de sonhar, de viver desde que seu primeiro amor com o qual pode experimentar algumas
aventuras
amorosas,
morre
de
complicações
da
mesma
doença,
a
leucemia.
Logo, um ponto que merece destaque no desenrolar da história é o contexto familiar, o
quão a família foi vítima da doença, pois durante anos de tratamento sua mãe dedicou maior
parte do seu tempo para cuidá-la deixando de lado seu irmão do meio, o qual também
necessitava de sua atenção, pois era disléxico, o casamento e sua profissão de advogada.
Também Anna, a irmã caçula desde o nascimento foi submetida a intervenções cirúrgicas a
fim de manter a vida da irmã mais velha. A adolescente apresenta ao público suas angústias
ao perceber que as ações e energias dos membros de sua família giram em torno do cuidado
com ela, que seus irmãos não tinham carinho e atenção suficientes de seus pais, em
decorrência da sua doença.
Na trama, percebemos por meio de algumas cenas, alguns cuidados mais
humanizados, por parte da equipe médica tanto para com o paciente como da família, são
exemplos dessas situações o acompanhamento dos familiares por psicólogos e uma equipe de
assistentes, a orientação do médicode deixar a menina (Kate) em fase terminal fazer um
passeio com a família, a qual realiza seu último pedido, ir à praia. Destarte, a partir da análise
do filme trazemos para a discussão algumas cenas, estas que abordam as representações de
saúde que estão imersas no enredo, destacando o modelo biomédico, comportamental e
biopsicossocial.
Como resultado de cenas, podemos abordar relações do modelo biomédico este
assinalado por Cutolo, (2006 pág.16), ―caracterizado pela explicação unicausal da doença,
pelo biologicismo, fragmentação, mecanicismo, nosocentrismo, recuperação e reabilitação,
tecnicismo, especialização‖.Comparando o ser humano com uma máquina, levando em
consideração o fator de ter saúde aquele associado a ausência da doença. É a doença e sua
cura, o diagnóstico individual e o tratamento, o processo fisiopatológico que ganham espaço
(CUTOLO, 2006).
Destacamos nas cenas a seguir algumas representações deste modelo, retratando essas
características sendo elas: a09:25 min – 11:18min, logo pela manhã Sara (mãe) vaiao quarto
da pequena Kate que não queria levantar, percebe neste momento o surgimento de alguns
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sintomas da doença como a indisposição, logo identifica uma mancha nas costas de Kate,
sendo que não existia antes. A partir deste momento, vai a busca de um possível diagnóstico
para a menina, recorrendo a ajuda médica. Sãorealizados vários procedimentos médicos
comocoletas de sangue, da medula e alguns exames, os médicos constatam aos pais de Kate,
Sara e Brian, o diagnóstico da doença, leucemia, começando então uma grande luta pela vida.
Nesta cena é visível as abordagens do modelo biomédico, aonde se destaca os sintomas, o
diagnóstico da doença e prováveis tratamentos, bem como o tratamento―frio‖ do médico ao
informar o diagnóstico da menina aos pais.
Na cena 13:58min - 15:35min, diante do diagnóstico de leucemia da filha e da
situação desoladora em que se encontram, ficamos diante de um outro fato, a questão ética,
quando o médico da família sugere uma nova vida, uma gravidez projetada de acordo com as
necessidades de Kate, poderia ser a escolha para prolongar a vida da menina, mas, não a cura
conforme coloca o médico, sugerindo uma fertilização in vitro. Desta maneira, Anna é
concebida, e como ela em outro momento do filme afirma, para ser ―o seguro de vida da
irmã‖. Ela é a combinação genética perfeita para prover material genético à Kate no seu
tratamento.
Ao desenrolar do filme, é possível perceber uma transição do modelo biomédico para
o modelo comportamental, uma visão mais abrangente em relação à doença quando antes se
falava em modelo biomédico, sendo que, o foco não está apenas na preservação da saúde, mas
de analisar os comportamentos que contribuem para a qualidade de vida do indivíduo, os
hábitos de vida adotados, os hábitos alimentares, assim como, o ambiente familiar e social do
paciente também se caracterizam como modelo comportamental.
Na cena 23:30 min – 26:09min, Sara não aguenta mais ver a filha fechada no seu
quarto com vergonha, depressiva, com baixa autoestima, afirmando que as pessoas iriam
ridicularizá-la por estar careca e com uma aparência muito abatida. Para amenizar a situação
ela resolve cortar/raspar seu cabelo igual ao de Kate. Assim despertando em sua filha uma
maior confiança de sair de casa e enfrentar o mundo e sua doença, através deste gesto Kate
percebe que é independente da doença e consegue assumir uma postura mais feliz e sadia
frente todos os problemas que a cerca.
Kate encontra-se em seu quarto,cena 01:20:47 –01:21:16 quebrando as coisas,
ouvindo um som alto e bebendo, ao ser questionada por Anna ela diz que está fazendo uma
festa de despedida, dizendo: ―Adeus mãe, adeus droga de hospital, vou ver o Taylor! ‖,
tomando remédios para morrer. Segundo as contribuições deKovács (2002), raramente os
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pacientes são consultados, acerca dos seus desejos, sempre havendo uma preocupação com os
sintomas da doença e com a doença em si, deixando-se de lado o indivíduo.
Pode-se dizer que Kate foi tomada por raiva, por todo processo que vinha passando e
por perder o namorado, Taylor (Thomas Dekker), que também tinha leucemia. Segundo
Castiel (2004) ―a abordagem comportamental está interessada primeiramente em alterar os
padrões individuais de exposição ao risco, por meio das chamadas ―mudanças
comportamentais‖.
Na cena 01:22:50 –01:23:44Kate resolveu falar com sua irmã sobre sua vontade de
morrer, pois ela já se sentia pronta para enfrentar a morte e que não queria o transplante de
rim, ela faz suas considerações o quanto sofrimento sua doença está causando à família.
Principiando com sua irmã Anna que várias vezes submetidas a procedimentos clínicos,
correndo graves riscos de vida e ainda mais este de doar seu rim a ela, sendo que não teria
uma garantia de vida com este procedimento.
Também destaca que o casamento de seus pais estar em uma situação complicada, seu
irmão mais velho este que tinha problemas de dislexia, mas ninguém percebia. Nas três
passagens selecionadas, podemos perceber algumas mudanças de comportamento e atitudes
que colaboram para a melhoria da vida da personagem, bem como, de sua família, pois,
aspectos emocionais, cognitivos e comportamentais interferem de maneira direta na saúde.
Finalmente, o filme com todo seu rico enredo aborda em algumas cenas o modelo
biopsicossocial, este que se caracteriza por representar a promoção da saúde, sendo aquele
modelo que privilegia a visão integral do sujeito nas dimensões física, psicológica e social, se
contrapondo, portanto, ao modelo biomédico. (SILVA et al. 2011)
Os cuidados paliativos (assistência) apresentados na cena 40:30 min – 41:39min, fase
terminal de vida de Kate, os médicos, assistentes e toda sua equipe tentam contrapor as
vontades da mãe em levar a menina para casa, como uma alternativa para que ela pudesse
entregar-se ao seu fim, mostrando um olhar mais humanizado, dizendo não para os avanços
medicinais, aos quais exaustivamente foram testados. O médico e equipe tentam convencer a
mãe de enfrentar a morte de Kate em casa em contato com a família, com um ambiente onde
ela possa se sentir melhor nos últimos dias de vida que restam, assim como, proporcionando
para a família a oportunidade de viver esse luto saudável.
Outra cena 01:05:34 – 01:07:21 que é aceitável perceber uma abordagem
biopsicossocial é a parte em que o pai consegue entender através da equipe médica, que Kate
precisa de um ambiente mais humanizado e uma melhor qualidade de vida,aceitando assim
sua vontade de ir à praia. Na cena 01:09:22 – 01:13:31Kate se sente melhor consegue
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esquecer por algum tempo seus problemas e sentir-semelhor neste ambiente.Discutir saúde e
doença na escola perpassa por um entendimento mais amplo e profundo do que de fato seja
esse conceito, que muito mais do que isolar, identificar e tratar, é importante prevenir, ter uma
formação que contemple o sujeito em seu contexto e na sua integralidade. Portanto, vemos
que o cinema pode ser um aliado do professor para incitar essa e outras discussões sobre
saúde, mas é necessária, uma formação inicial, que contemple uma compreensão mais
alargada de saúde.
Considerações finais
A partir das análises dos filmes comerciais, ―Epidemia‖ (1995) e ―Uma prova de
amor‖ (2005), podemos pensar e refletir sobre os modelos de saúde. Lembrando que cada
filme contém suas especificidades, mas, ambas as películas retrataram situações reais de
determinadas épocas ao tratarem da doença viral ebola e da leucemia, temas relevância no
ensino de Biologia.
Embora a descrição das cenas simule muito pouco a imponência destes filmes
comerciais, foi possível retirar múltiplas informações para discussão de temas biológicos,
ambientais,políticos, culturais e sociais em sala de aula, pensando num entendimento mais
amplo da educação em saúde. Acreditamos ser necessário ampliar a discussão, apropriação e
significação da educação em saúde no espaço escolar, a fim de que todos os atores envolvidos
no processo de ensino e aprendizagem abordem, tratem e reflitam de uma maneira mais
abrangente as questões de saúde.
O trabalho desenvolvido com esses dois filmes possibilitou perceber que esses são
instrumentos poderosos no ensino, contudo é notável o número reduzido de publicações que
tratam conjuntamente do uso de filmes para discutir temas de educação em saúde e o trabalho
pedagógico do professor, os quais poderiam servir de subsídio para auxiliar tanto em
pesquisas como na prática docente. Pois, o trabalho com filmes possibilita ao professor
promover debates, discussões, atividades e aprendizagens sobre várias temáticas. Em nossa
imersão nessas midiáticas podemos identificar as três abordagens de saúde: biomédica,
comportamental e biopsicossocial, bem como perceber as relações dessas com os contextos
social e ambiental, a fim de possibilitar um alargamento nas compreensões de educação em
saúde na escola.
Porém, é importante frisarmos que o planejamento do trabalho com o cinema em sala
de aula requer muito do professor, visto que ele deva estar preparado, assistido ao filme
anteriormente, realizado suas análises e conclusões, para que os objetivos com o uso de filmes
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em sala de aula sejam atingidos, e os alunos percebam como o filme pode ser um instrumento
com potencial no ensino.
Referências
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EPIDEMIA. Direção de Wolfgang Petersen. EUA: Wolfgang Petersen, 1995. (02h 08min.).
UMA PROVA DE AMOR. Direção de Nick Cassavetes. EUA: Plauarte Pictures, 2009.
(01h:47min).
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