O mundO cantadO de adriana calcanhOttO

Propaganda
REVISTA DA
UNIÃO BRASILEIRA
De COMPOSITORES
#22 / novembro 2014
+ Artistas
pedem melhor
remuneração
para 'streamings'
e vendas on-line
+ Nelson Motta,
70 anos de boas
histórias
+ Funk BH, Suricato,
Guidi Ferreira,
Pinocchio,
Adriano Cintra
cantado
O mundo
de Adriana Calcanhotto
Em turnê com
'Olhos de onda',
ela prepara show de
músicas de Lupicínio,
faz peça infantil
com orquestra
sinfônica e dá
um mergulho
ainda mais
fundo na poesia
Sua voz é
música para
os nossos
ouvidos
THALLES
ROBERTO
REVISTA
DA UNIÃO
BRASILEIRA De
COMPOSITORES
#22 : novembro 2014
Editorial
Ve a e a mu he de ve dade O B as pe deu Ve a B an no d a 14 de se emb o
B as a e os b as e os ma s hon ados a cu u a e a be dade a n e gênc a
e a am zade pe de am Ve a B an F ca am sem pa nem mãe A UBC e os
au o es b as e os pe de am a pessoa que ab a sua casa sua mesa seus
a e os pa a a e c dade ge a Os d e os au o a s mu o devem a e a
A Ouv dor a da UBC é o cana entre você
e a d retor a para o env o de rec amações
e og os e sugestões Não de xe de d zer o que
pensa sobre os nossos serv ços nós sempre
queremos ouv r você
Não se o que se á de nós sem Ve a Segu mos pensando ne a
Que e a con nue um nando os nossos cam nhos
CANTADO
O MUNDO
D ADR ANA A
ANHO
O
www.ubc.org.br/ouvidoria
NOTÍCIAS : UBC/5
NOTÍCIAS : UBC/7
6/UBC : NOTÍCIAS
GUIDI VIEIRA:
VOZ, GUITARRA E 'TEMPEROS'
DUDU PARA TODA OBRA
Produtor envolvido no reality para bandas “Breakout Brasil”, do
Canal Sony, Dudu Marote acaba de lançar seu selo de música
eletrônica, o Ganzá. Promete investir em novos músicos e
fazer uma curadora da imensa produção escoada na internet.
A primeira playlist do Ganzá está no Soundcloud (soundcloud.
com/ganzarecords). “O selo foi desenvolvido para ser um
catalisador daquilo que tem surgido de mais interessante
na música eletrônica nacional. A ideia é trabalhar com um
conceito bem aberto e lançar desde coisas que beiram o
pop eletrônico até paradas bem cabeçudas, passando por
future beats, techno, electro, house e o que de mais bacana e
representativo estiver brotando por aí”, explicou Marote, que
também assina a produção de diferentes bandas, como as
mineiras Jota Quest, Pato Fu e Skank.
Com financiamento coletivo, a ex-vocalista da banda de rock
Pic-Nic, Guidi Vieira, lança seu primeiro CD, “Temperos”.
E o nome não é gratuito. São nove faixas inéditas de
compositores como Sandro Dornelles e Luís Pimentel
("Debute" e "Três Meninos") e Arildo de Souza ("Pronta
Entrega"), além de uma regravação de “Tigresa”, de Caetano
Veloso. Com desenvoltura, Guidi passeia por blues, baladas,
xotes, sambas. A produção é de Daniel Medeiros, do Fino
Coletivo. Com o Pic-Nic, que se desfez em 2007, a cantora,
compositora e guitarrista havia gravado dois CDs demo.
Ela também participou de CDs de artistas como Carlinhos
Vergueiro, Amin Nunes e Doces Cariocas e ainda é backing
vocal de Alvinho Lancellotti. Iniciado em 2012, “Temperos”
contou com importantes instrumentistas, como o baterista
Jurim Moreira e o acordeonista Chico Chagas. O material foi
masterizado por Ricardo Garcia.
SURICATO,
BANDA QUE ESTOUROU EM
'REALITY' MUSICAL LANÇA
DISCO E PREGA: 'FELICIDADE
SÓ SERVE SE PUDER SER
COMPARTILHADA'
outro lado, vejo muitos artistas tomando a postura de colocar
seu trabalho como uma “iguaria rara”, selecionando as pessoas
que possivelmente o entenderão. É tudo o que Suricato não
pretende fazer. Música não serve para ser entendida, mas
sentida. Misturar os públicos é uma boa diretriz. Por que fãs
de axé não podem gostar de ouvir blues?
Por Bruno Calixto, do Rio
Misturar as coisas sem critério nenhum é uma característica
do brasileiro. Nesse sentido somos o povo mais estrogonofe
com feijão do mundo, e isso é lindo. A lista de instrumentos
tende a aumentar, mas podemos incluir o didjeridu
(instrumento aborígene australiano), a tábua de lavar roupa
e a mala-bumbo como os mais incomumente usados por
bandas daqui.
Você prega a desmitificação da música. O que isso
quer dizer?
Sou contra a monocultura. Somos o país da diversidade, e é
um desperdício de civilidade artistas novos não terem espaço
e ficarem em guetos. O novo pode ser rentável e atrativo. Por
Dois anos depois de o primeiro disco chegar às prateleiras
(em vinil, na França), os pernambucanos do Café Preto já
se preparam para o próximo, um trabalho independente
produzido por seus três integrantes: os músicos Cannibal e
PI-R e o DJ e produtor Bruno Pedrosa. A ideia é explorar as
virtualmente inesgotáveis sonoridades do dub e do ragga
que vão beber na fonte do reggae roots jamaicano. “Além de
lançar o disco em vinil, estamos preparando a gravação de
mais um clipe do primeiro CD”, revela Cannibal, à frente dos
vocais. Quatro compactos de vinil ajudaram a espalhar as oito
faixas do primeiro trabalho, “Café Preto”, assinadas por Mau,
Yellow P e Victor Rice. O projeto de estreia ficou marcado pelo
lançamento do clipe da música “Dandara”, em agosto de 2013,
que você pode conferir em cafepreto.mus.br.
A Suricato é conhecida por utilizar instrumentos nada
comuns. Qual é o resultado?
O novo álbum é 100% autoral. De que tratam as
composições?
Assino quase todas as composições sozinho, exceto uma
canção com Dudu Falcão e Moska e a minha primeira
canção com o Gui Schwab (guitarrista da banda). Sobre as
letras, diria que são quase autobiográficas, mas com leveza,
sem transformar tudo numa sessão de análise. É um disco
sobre amor.
O produtor, compositor e instrumentista Adriano Cintra
rodou o mundo, foi de mala e cuia para Londres, voltou para
São Paulo, tornou a viajar e a voltar... Além do passaporte
supercarimbado, trouxe ainda mais agudo seu espírito
de provocação, inovação. Em carreira solo depois de um
período breve no projeto Madrid, o cofundador do fenômeno
Cansei de Ser Sexy – uma das bandas brasileiras de rock
eletrônico mais prestigiadas no exterior – lança o primeiro
álbum “Animal”, que, com a pegada internacional de sempre
e canções em inglês, traz a inconfundível verve irreverente
de Adriano na faixa “Duda”, parceira com a cantora paraense
Gaby Amarantos, e na canção-título, composta por ele e pelo
músico paulistano Marcelo Segreto, membro da intrigante
Filarmônica de Pasárgada. Psicodelia sessentista, efeitos
visuais oitentistas, sonoridades da próxima década: o passeio
temporal que ele imprime torna “Animal” uma gostosa
máquina do tempo que faz qualquer um viajar. E voltar. E
tornar a viajar...
Com o disco nas mãos, quais são os planos?
Logo que eu saí do CSS, gravei dois discos com minha outra
banda, a Madrid. Em dois anos fomos tocar duas vezes na
Europa e fizemos muitos shows pelo Brasil. E daí a Marina
(Vello, parceira dele no projeto) se mudou para Paris, o que
colocou a banda de férias forçadas. Nunca paro de compor.
Quando vi, tinha um disco inteiro em inglês.
Tem Romulo Fróes novo na praça. Com distribuição do selo
YB, “Barulho Feio” (disponível para download gratuito em
romulofroes.com.br) sucede a “Um Labirinto em Cada Pé”
(2011) e deleita, de novo, com o som sofisticado do músico
paulistano, um dos grandes da sua geração. A faixa “Ó” é
mais uma atraente parceria com o multiartista Nuno Ramos,
frequente nas bolachas de Romulo. São 15 faixas produzidas
por Marcelo Cabral e Guilherme Held. Entre os encontros
musicais que se celebram na obra, chamam atenção as
participações do saxofonista Thiago França, da cantora Juçara
Marçal e dos músicos Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, com
quem Fróes formou o Passo Torto, já com dois discos e muitos
shows. Há um ano, "Calado", primeiro disco do compositor,
ganhou uma edição em vinil, comemorativa de seus dez anos
de lançamento, e "Passo Elétrico", segundo álbum do grupo,
levou o Prêmio da Música Brasileira na categoria melhor álbum
de rock-pop. Louros óbvios colhidos por uma carreira que faz
barulho do jeito certo. “Dez anos atrás, eu tinha o desejo básico
de todo artista, que era fazer sucesso, ser parte da MPB que
todos comentam. Fomos entendendo que talvez não fôssemos
capazes disso. Mas não parávamos de produzir. E os modelos
se ajustaram. Hoje sou reconhecido, citado em trabalhos,
consigo viver da minha música. Mas continuo anônimo do
ponto de vista da indústria”, diz Romulo, que começa a gravar
um disco com músicas de Nelson Cavaquinho, a ser lançado
no primeiro semestre de 2015.
Após 11 anos como vocalista nos grupos Funk ‘N Lata (entre
2000 e 2003) e Farofa Carioca (de 2004 até hoje), Mario Broder
encara o desafio de lançar seu primeiro disco solo como cantor
e compositor. “Balanço Diferente” mostra que valeu a espera.
Aos 34 anos, o carioca da Zona Oeste que se iniciou na
música ainda criança e interpretou Wilson Baptista no filme
“Noel Rosa – O poeta da Vila” liquidifica suas experiências
num disco que tem o samba como base, embora dialogue
com o que ele chama de “inventividade do mundo pop”. Com
exceção de uma composição do sambista baiano Batatinha,
“Conselheiro”, o repertório é todo de Broder, alternando
parcerias com Sandro Marcio, Valmir Ribeiro (companheiros
no Farofa ), Elza Soares, Bernardo Vilhena e Antônio de Pádua.
Elza canta e é homenageada no samba “Operária Brasileira”.
Já “Lateral” é uma crônica futebolística de Jorge Ben Jor.
Mistura boa.
Estamos doidos para cair na estrada com o show dele,
promovê-lo pelo Brasil todo. Temos muita confiança no que
realizamos, é um disco com razão de ser, um disco em todas
as faixas. Temos um Brasil inteiro para abraçar, nosso sonho é
ver isso se tornar realidade e fazer com que nossas histórias e
canções façam parte da memória afetiva das pessoas. Afinal,
a felicidade só serve se puder ser compartilhada.
Entre a saída do Cansei e o “Animal”, o que rolou?
O NOVO DISCO (E OS ANTIGOS
AMIGOS) DE ROMULO FRÓES
A MISTURA BOA DE
MARIO BRODER
04-05
Na hora do “vamos com quem?”, como escolheu as
participações do seu disco?
Meu amigo Marcus Preto, que acabou fazendo a direção
artística do disco, pegou essas composições e mandou para
um monte de gente, a maioria eu não conhecia pessoalmente.
Guilherme Arantes, Kiko Dinucci, Odair José, John Ulhôa.
Alguns eu conhecia, como a Alice Caymmi, o Martim
Bernarde, o Marcelo Segreto e a Gaby Amarantos. Eles fizeram
versões das letras em inglês em cima da minha melodia.
E quem você convidou?
Eu chamei o Péricles Martins, que tem um projeto chamado
Boss In Drama, para reproduzir algumas faixas, chamei o
Rogério Flausino para cantar uma outra, que acabou virando
uma parceria minha, dele e do Péricles... Por isso tudo, estou
muito contente com esse disco.
Como está a recepção ao “Haicai do Brasil”?
Por que você exclui o primeiro disco?
O livro foi recebido com um encantamento enorme. Até
pela potência mesmo que o haicai concentra em si, aquela
hipercondensação de poesia. Na verdade, a reação é um
reflexo do que é, de o haicai ser a forma poética mais praticada
no mundo. As pessoas têm adorado o livro, e as perguntas que
elas fazem são de uma pertinência... Você percebe que o haicai
está na vida das pessoas, elas conhecem, não é um assunto
tão distante. Você nota que umas têm ligação com Mário
Quintana, outras, com Millôr, por ele ter estado na imprensa...
Mas o que chama a atenção delas é quando percebem o arco
da história do haicai, de onde ele vem, até essa coisa de não
se saber de onde ele vem ou quem foi o primeiro a fazer, as
diferentes correntes... Tudo mostra que tem uma história
acontecendo, como um poeta influencia o outro. Mesmo eu,
quando fui me deter, me dei conta dessa trajetória muito viva.
Surpreende mesmo. E continuo tendo uma acolhida muito boa
para a antologia (“Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira:
Para Crianças de Qualquer Idade”), que está na segunda
edição, agora completa, com poemas de Manuel Bandeira e
Cecilia Meireles. Tenho sido muito chamada para falar dela.
Aquilo foram circunstâncias, eu realmente não estava
pensando em disco. Estava chegando de Porto Alegre, meu
foco era estar no palco, fazendo performances... Fazia umas
coisas para provocar vaias, eu estava nessa criancice (risos).
E eu não tinha adentrado o mundo do estúdio, aquilo não
passava pela minha cabeça. Mas, ao mesmo tempo, quando
cheguei ao Rio, tinha convite de quatro gravadoras. Não
era o momento de dizer “não quero isso”. Mas também não
tinha o desejo verdadeiro, interno, de fazer um disco. Essa é
a diferença do primeiro para o segundo, quando disse “agora
vou sentar e fazer meu disco”. Apesar de muita gente gostar
desse disco (o primeiro), para mim falta isso, a vontade de fazêlo. Ele tem provocações que eram feitas no palco com muita
ironia, mas que não imprimiram no disco. E teve um corte
também da banda, uma banda que já estava tocando aquele
repertório comigo e que foi dispensada para que entrasse uma
banda profissional.
E “Pedro e o Lobo”? Como foi a experiência com o
encontro de Osesp, Mehmari, canções da Partimpim?
Fiz duas apresentações, 6 e 7 de setembro, na Sala São
Paulo, e depois no POA Em Cena, em Porto Alegre. Foi uma
liga maravilhosa, foi tudo muito mágico, quando juntou
orquestra, arranjos, regente... Fizemos ensaios abertos em São
Paulo antes da estreia, e a cada sessão foi melhorando. Nos
primeiros ensaios eu ficava olhando a sala, depois olhando o
olho das crianças... Perdi várias entradas (risos).
Você viu outras versões de “Pedro e o Lobo”? Como foi
seu olhar sobre a obra?
Não cheguei a ver o que Regina Casé fez na Quinta (da Boa
Vista, no Rio de Janeiro), mas ouvi tudo que pude. Quis
manter o mais próximo do original. Uma das qualidades da
peça, o que a torna uma obra-prima, é que Prokofiev escreve
pouquíssimas frases para contar a história. Isso dá espaço
para a imaginação das crianças. A história não é mirabolante.
Tem o lobo, o herói, a voz da razão que é o vovô, tem o cara
mau. Não sei russo, mas escolhi uma tradução que parece
ser literalmente a do russo para o inglês e passei para o
português. O objetivo de Prokofiev é contar a história, mas
também apresentar a orquestra para as crianças. Isso é o mais
importante.
Você está compondo?
Um pouquinho. Estava compondo mais antes de estar
superdedicada a “Pedro e o Lobo”. Agora ainda não voltei
totalmente porque estou começando a me dedicar a um
concerto que farei no dia 4 de dezembro só sobre Lupicínio
Rodrigues.
Como será esse show?
Montei uma banda para isso, terei a participação de Arthur
Nestrovski. Estou agora na árdua tarefa de tirar canções do
roteiro. Cortar as minhas é mais fácil (risos). É engraçado porque
estou revendo minha relação com Lupicínio, a confirmação
dessa coisa de que Lupicínio para mim sempre existiu. Tive
muitos impactos, com vários compositores, de pensar “meu
Deus, de onde saiu isso?”. Mas com Lupicínio nunca teve isso.
Esses dias, lá em Porto Alegre, me falaram de alguém que
disse que Lupicínio seria nosso Shakespeare, porque está tudo
ali. Fiquei pensando, de certa forma é isso mesmo. E talvez a
sensação de que ele sempre existiu para mim talvez não seja
só por eu ter nascido ali. Talvez sempre tenha existido mesmo,
nesse sentido shakespeareano. Estou pensando o show dessa
forma. Mas é difícil. Porque fiz uma primeira lista obrigatória. E
aí depois fiz uma lista de mais 40 que também são obrigatórias.
Não tem grandes pinçadas a fazer.
Então você está muito voltada para esse show, sem
tempo para compor...
Tem esse lance que o Gilberto Gil fala, que quando você abre
uma canção, quando você sonha em fazer uma canção, você
fica meio refém daquilo. Até que aquilo acabe você precisa
estar à disposição. Fazendo tanta coisa, às vezes eu fecho
essa porta para não me atrapalhar. Antes de “Pedro e o Lobo”
eu estava conseguindo conciliar turnê, os eventos dos livros
e compondo algumas coisas. Estava musicando uns poemas,
brincando com o violão de sete cordas que comprei. Aliás meu
gato o quebrou. Ele faz strike, joga boliche com meus violões,
numa dessas quebrou a cravelha da sétima corda. Mas, como
disse, andei musicando uns poemas, um do Waly, um da Alice
Sant'anna chamado “Rabo de Baleia”. Gosto muito de compor,
ainda mais assim, sem um projeto, sem estar pensando num
disco. Gosto dessa coisa solta, acho o outro jeito, “estou
compondo para o meu disco”, aterrorizante, paralisante.
O que a move para compor?
A vida. Você não sabe o que começa o processo. Você lê uma
frase no jornal, bota o jornal de lado, pega o violão, toca meia
música que existe, e dali sai uma coisa. Estava lembrando do
jeito que foi feita a canção “Olhos de Onda”. Acordei, liguei
o laptop, vi um vídeo daquela banda Tipo Uísque pedindo
patrocínio, grana para fazer o projeto deles. Peguei o violão e
escrevi “Olhos de Onda”, que não tem uma ligação direta com
isso. A graça é não saber o caminho.
Você gosta de falar de suas canções?
Não tenho problema em falar delas, às vezes eu só não sei o
que dizer. O mais importante, que é como uma canção nasce,
não dá para saber. E também não importa saber. Muitas vezes
as pessoas fazem comentários sobre canções minhas que eu
nunca imaginaria. Mas, se está certo ou errado, não sei dizer.
Uma vez, numa entrevista de lançamento do “Senhas”, a
jornalista disse: “Por que você diz numa de suas canções: 'eu
hospedo infratores e bandidos'... Eu respondi: “Não, eu canto
'banidos'”. E ela: “Não, 'bandidos'” (risos).
Como é sua relação com as redes sociais, a internet?
Enjoei da internet, estou mais desconectada do que
conectada. Já andei mais em internet, hoje uso mais como
ferramenta de pesquisa mesmo, das minhas maluquices, dos
meus assuntos. Como essa coisa do haicai, que é muito viva.
Li estudos literários na internet sobre o assunto, por exemplo.
Mas hoje eu desconecto mesmo, fisicamente. Só entro na
internet para olhar algo. Não fico o tempo todo on-line. Porque
existem as duas possibilidades, estar ou não conectado, mas
o mundo conectado vai levando a gente para uma única opção,
que é estar o tempo todo on-line. Para mim talvez seja mais
fácil me desligar porque vivi um tempo em que não se estava
conectado. Isso parecia uma possibilidade maravilhosa que
só meus netos viveriam. Então acho que estou totalmente no
lucro de viver isso também. Mas, por exemplo, não uso mais
relógio. Acho que ficar muito escravo do tempo é ruim. E na
internet você fica escravo dos segundos, se aquilo não baixa
na hora você começa a se frustar. Até tenho redes sociais
no meu celular, mas não olho. Meu celular funciona como
telefone. Estou gostando mais de viver num timing mais
perto do tempo da natureza, fico mais relax. Acordo com a
luz do dia... Quero dizer, não tenho muita escolha, porque a
vida na estrada é o exército, você acorda às 5h da manhã,
essas coisas. Mas a minha preferência é acordar com a luz do
dia, fazer tudo cedo. Tudo que fazia antes vou fazendo mais e
mais cedo, ficando mais e mais diurna. Gosto da luz do dia.
Vou fazendo meus compromissos sem muita ordem, não sou
metódica.
De onde veio essa constatação de que estar off-line
seria bom para você?
Tenho tanto compromisso que, se eu começar a pensar
dessa forma opressora, com esse tempo opressor, não vou
curtir as coisas que eu tenho para fazer. Faço todas essas
coisas ao mesmo tempo porque eu acredito nelas, eu aceito
compromissos porque são coisas bacanas de fazer, que
eu quero fazer dando tudo de mim. Acho que me manter
desconectada, com um tempo mais artístico, mais elástico,
me deixa mais feliz.
Você tem um álbum favorito?
Não. Acho que, excetuando o primeiro, que é um disco que
não tive muita vontade de fazer, eu tive uns desejos para cada
um dos álbuns, e a sensação que tenho é que dei tudo de mim
neles. Entre acertos e erros, tenho a sensação de que fiz tudo
que queria ter feito ali. Nunca penso “putz, devia ter dado mais
de mim”. Entrevistei o Arnaldo Antunes dia desses, e ele me
disse isso mesmo: “uma vez que as canções, os discos estão
no mundo, não tenho o menor interesse no que será feito, as
coisas são reeditadas, e não tenho a menor vontade de olhar
para trás, corrigir nada”. Tenho essa sensação também. Logo
que uma canção minha sai, aquilo para mim está no mundo,
já não me pertence. Se estou no palco vendo um set list de
canções, e tem uma do Chico, outra do Caetano, uma minha,
aquilo é uma lista de canções. Não faz diferença ser minha.
A Rev
TRILHA DE FUNDO,
EMOÇÃO NA LINHA DE FRENTE
Para conhecer mais sobre a ouvidoria, acesse:
www.ubc.org.br/ouvidoria.
SOCIEDADE INGLESA
VISITA SEDE DA UBC
No ano em que celebra seus 100 anos, a sociedade inglesa
de gestão coletiva de direitos autorais PRS for Music fez
uma visita à sede da UBC no Rio de Janeiro em setembro.
As duas sociedades mantêm contrato de reciprocidade
desde 1946, quatro anos após a fundação da UBC. A música
inglesa é executada em todo o mundo, e grande parte do que
é arrecadado para os autores ingleses vem das sociedades
estrangeiras que a representam, como a UBC no Brasil.
A PRS for Music também é responsável pela arrecadação
dos direitos de execução pública dos associados à UBC na
Inglaterra. Durante a visita, as representantes da PRS for
Music, Judith Luscombe e Sarah Bargiela, conheceram as
novidades tecnológicas no processamento de distribuição
da UBC e como é gerenciado o repertório de seus associados.
Também foram discutidas as últimas mudanças ocorridas no
cenário brasileiro e os acordos de pagamento firmados com a
TV Globo e as operadoras de TV por Assinatura.
ECAD DIMINUI TAXA,
E UBC, MAIS AINDA
A partir de agosto de 2014, o percentual cobrado pela gestão de
direitos autorais de execução pública musical, cuja finalidade
é custear as despesas das associações e do Escritório Central
de Arrecadação e Distribuição (Ecad), sofreu redução. Mesmo
com a mudança, a UBC mantém sua política de maximizar
o repasse dos rendimentos de direitos autorais aos seus
associados. O Ecad passou a cobrar 15,61% pelos seus custos,
e as associações 6,89% dos totais distribuídos para o seu
repertório. A UBC reduziu o novo percentual para 5,89%.
Com isso, seus associados passam a receber 78,5% do total
arrecadado pela execução de suas obras e fonogramas. Leia o
comunicado completo: http://goo.gl/gizHVh
DISTRIBUIÇÃO DOS ACORDOS
FIRMADOS COM A NET E
CLARO TV
Neste fim de ano, serão distribuídos os valores dos acordos
firmados com as operadoras Claro TV e Net. Além disso, a
Sky procurou o Ecad para regularizar o pagamento das
mensalidades do ano de 2014. Bons motivos para os titulares
de direitos autorais comemorarem, já que o segmento de TV
por Assinatura, que atingiu o índice de 98% de inadimplência
em 2011, hoje conta com mais de 80% do mercado em dia
com seu pagamento de direitos autorais regularizados. Veja
o quadro abaixo:
SKY
A Sky e o Ecad estão em fase de assinatura do contrato que
regula a relação da operadora com o Escritório Central. Serão
pagos R$ 38 milhões divididos em seis parcelas, referentes
às mensalidades de janeiro a setembro de 2014. A partir da
finalização do acordo, a Sky passa a pagar regularmente
uma mensalidade calculada nas mesmas bases adotadas nos
contratos com as outras operadoras de TV por assinatura. Vale
lembrar que R$ 210 milhões foram distribuídos em dezembro
de 2013 e maio passado, referentes ao acordo fechado pela
execução de obras e fonogramas entre 2004 e 2013.
GERALDO VIANNA REPRESENTA
O BRASIL NA REUNIÃO DA
ALCAM NA BOLÍVIA
ARGENTINA BLOQUEIA THE
PIRATE BAY, E ENTIDADE
MUSICAL DO PAÍS É HACKEADA
Com adesão cada vez maior entre os países sul-americanos,
a Aliança Latino-Americana de Autores e Compositores
(Alcam) recebeu, em sua última reunião, em agosto, autores
interessados em discutir os caminhos e desafios do direito
autoral. Entre os participantes, o compositor, violonista,
arranjador e produtor mineiro Geraldo Vianna representou
a UBC nas sessões realizadas em Cochabamba (Bolívia).
No encontro, foram debatidas medidas governamentais e
propostas de alteração das leis que tratam da gestão coletiva
de direitos autorais nos países da região, que apresentam uma
tendência excessivamente intervencionista. Criada para buscar
melhores condições de trabalho e sobrevivência para os autores
e compositores, a Alcam é composta por representantes das
várias sociedades de autores latino-americanas. Vianna pregou
a necessidade de buscar diferentes estratégias de divulgação
da música latina, a fim de aumentar sua influência no mercado
internacional. E afirmou ser preciso usar com inteligência a
mesma internet que potencializou as violações dos direitos
autorais. “É preciso atuar de forma obstinada e persistente,
buscando um intercâmbio constante. Salientei a tendência
e a importância de criarmos meios de comunicação e de
utilização maciça das redes sociais e de grupos de discussão
e organizações em cada país para, juntos, discutirmos e
expormos os problemas relacionados ao cotidiano dos autores
e compositores. Que seja criada uma verdadeira rede de
informações entre os países integrantes da Aliança.” Também
estiveram presentes representantes das sociedades de autores
de Argentina, Costa Rica, Chile, Paraguai e Uruguai.
A Argentina se tornou o primeiro país sul-americano a bloquear
o popular portal P2P The Pirate Bay. A ordem judicial, aplicada
aos 11 principais provedores de internet do país, seguiu-se a
uma ação movida pelo principal organismo representante da
indústria discográfica local, a Câmara Argentina de Produtores
de Fonogramas e Videogramas (CAPIF). A decisão foi liminar e
não teve contestação até o momento, de modo que deve durar
até que o processo seja concluído. Na avaliação da CAPIF, o
portal de compartilhamento de músicas sem licença é uma
ameaça séria ao negócio musical. Logo depois da decisão, o
site oficial da entidade foi hackeado, e sua página de abertura
foi substituída pelo servidor do próprio The Pirate Bay,
permitindo aos usuários argentinos continuar a compartilhar
arquivos ilegalmente. Foram necessárias mais de dez horas
até que a CAPIF recuperasse acesso ao seu próprio portal. As
informações são do site aliadodigital.com.
CLARO TV
Será distribuído, em dezembro, o valor de R$ 85 milhões
relativo ao acordo feito com a operadora pela execução de
obras e fonogramas no período entre 2008 e 2013. A Claro TV
também está em dia com suas mensalidades.
OUTRAS
A OI TV está em débito com o Ecad desde 2009 e questiona o
valor a ser pago na Justiça. O mesmo caso da GVT, que está
em débito desde 2011 e realiza depósitos judiciais. O Ecad
cobra na justiça o pagamento de direitos autorais da Vivo TV
(junção da TVA, em débito desde 1994, e Telefônica, desde
2007), que também realiza depósitos judiciais.
Por Bruno Calixto, do Rio
Na infância, o produtor e compositor carioca Pedro Guedes
se sentava, vidrado, diante da TV para curtir seus programas
favoritos. Mas do que ele se lembra com especial emoção,
mesmo, é das trilhas sonoras de filmes como “Indiana Jones”
e “Blade Runner”, do seriado “O Tempo e o Vento” e até do
“Globo Repórter”. “Ficava morrendo de medo. As notas da
abertura (do jornalístico da TV Globo) são muito tensas”, diz.
Coincidência ou não, o arranjo hoje no ar no programa noturno
das sextas-feiras tem solo de guitarra de Pedro.
Por trás de uma bela ou eletrizante imagem na TV, o chamado
background envolve o telespectador mais do que ele é capaz
de imaginar. E essa mágica é fruto de um rico processo de
produção, muitas vezes feito antes mesmo de a obra visual
ganhar um roteiro.
Outro craque no ramo é o também carioca Fernando Moura,
compositor de trilhas independente que trabalha para várias
emissoras de TV, abertas e por assinatura, diretamente ou
por meio de produtoras de vídeo. “Cada uma delas tem uma
especificidade, mas todas são unânimes na urgência das
entregas”, ressalta o criador e pianista, que assina projetos
para Globo, TV Brasil e TV Record.
ESTUDO DA CISAC DESTACA
POTENCIAL DA INDÚSTRIA
CRIATIVA NOS BRICS
NET
A operadora já paga regularmente, desde janeiro de 2014, as
mensalidades de direitos autorais de execução pública, e em
novembro será distribuído o valor de R$ 125 milhões referente
ao acordo firmado pela execução de obras e fonogramas entre
2004 e 2013.
PROFISSIONAIS DESVENDAM GÊNERO ARTÍSTICO QUE REÚNE
MÚSICA, VOZ, RUÍDOS E INÚMEROS EFEITOS SONOROS PARA
DAR MAIS VIDA E EMOÇÃO A FILMES, NOVELAS, PROGRAMAS
JORNALÍSTICOS, PEÇAS DE TEATRO E MUITAS OUTRAS ATRAÇÕES
VENDAS DE ÁLBUNS
ON-LINE CAEM, E 'STREAMINGS'
DISPARAM NOS EUA
As vendas de álbuns e canções digitais tiveram quedas de,
respectivamente, 11,6% e 13% no primeiro semestre do ano
nos Estados Unidos, segundo dados da consultoria Nielson
SoundScan. Mas nada parece alarmar a indústria americana,
que confia no streaming para revitalizar o mercado. Essa
modalidade de consumo de música on-line subiu 42% no
mesmo período, atingindo 70,3 milhões de reproduções.
Ainda que alguns álbuns tenham desempenhos animadores
– como a trilha do filme “Frozen”, da Disney, com 2,7 milhões
de cópias vendidas, e bons resultados também para Beyoncé,
Lorde e Coldplay, com números de 700 mil a 590 mil unidades
descarregadas –, o panorama geral é de queda nas vendas na
última década, fenômeno similar ao que ocorre com os CDs.
De Paris, onde está em temporada de shows com o
percussionista Ary Dias, ele conta que começou a compor
trilhas sonoras originais para teatro no final dos anos 1970.
A estreia foi numa montagem de “O despertar da primavera”,
encenada por Miguel Fallabella, Daniel Dantas e Maria
Padilha. A atriz, aliás, estudou com o compositor e o convidou
a compor as músicas da trama.
Um estudo da Confederação Internacional das Sociedades
de Autores e Compositores (Cisac), divulgado em setembro,
identificou “tremendo potencial” nos países do grupo dos Brics
(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para aumentar a
contribuição da sua indústria criativa ao Produto Interno Bruto
(PIB). De acordo com o levantamento, a média de contribuição
de músicas, filmes, espetáculos de teatro e outros gêneros
para o total da riqueza gerada nessas nações é de apenas 1%
a 6%, em média. De acordo com a Cisac, em 2011 o comércio
internacional de bens culturais atingiu US$ 624 bilhões, algo
como 7,5% de tudo o que foi exportado. Mas a fatia dos Brics
nesse bolo não passou de US$ 12 bilhões, menos da metade
do que os EUA geraram sozinhos, apesar de, combinadas, as
economias das maiores nações em desenvolvimento serem
apenas 12% menores que a do gigante norte-americano. “A
economia criativa gera algo como 10% a 11% do PIB na Coreia do
Sul ou nos EUA. Ainda que culturalmente ricos, os países dos
Brics giram só uma fração disso”, afirmou Javed Akhtar, letrista,
poeta e roteirista indiano e um dos vice-presidentes da Cisac.
“Sempre gostei muito de compor, tive aulas de composição
e arranjo com o Guilherme Vaz, um compositor incrível de
música para cinema”, lembra. “A partir dos anos 80, comecei
a fazer trilhas para curtas e filmes publicitários com diretores
como Ricardo Miranda, Sargentelli Filho e Carlos Manga.”
Daí em diante, foram mais de 15 longas, com direito a
graduação em música para cinema, TV e multimídia na GrãBretanha. O ingresso na TV veio no fim dos anos 90, no Canal
Futura. “Com o crescimento da TV a cabo, ampliei bastante
minha área de atuação, trabalhando para canais como GNT
e MultiShow. Em 2008, Fernando Moura faturou o prêmio
Coral do Festival de Havana pela trilha do filme “Maré, Nossa
História de Amor”, de Lucia Murat. Mês passado, o compositor
CAPA : UBC/13
12/UBC : CAPA
pondera Guedes, defensor do estudo de matérias tradicionais,
instrumentos, teoria musical, técnicas de produção, softwares
e, claro, gêneros musicais de todo o mundo. “É imprescindível
gostar de estar no estúdio. Você acaba morando lá. Eu adoro!”
Nader vai na mesma linha: “Procuro me capacitar estudando,
explorando, observando e ouvindo. Mas, como vamos
distinguir um músico profissional de um amador? Pela
capacidade de tocar um instrumento, pelo dinheiro que ganha
ou não, por uma carteirinha no bolso ou por um diploma? Tudo
isso é muito complicado de avaliar”, cogita o gaúcho.
TURNÊ, ESPETÁCULO INFANTIL,
LIVRO, SARAUS, COMPOSIÇÕES,
SHOW-HOMENAGEM, HAICAI,
VIAGENS, VIDA ON E OFF-LINE:
O MUNDO DE COISAS
QUE MOVE O MUNDO DE
ADRIANA CALCANHOTTO
Envolvido em projetos da Casa de Cinema de Porto Alegre
(de Jorge Furtado), como o filme “Homens de Bem”, Nader,
como Fernando Moura, ingressou no ramo a convite. “Sempre
gostei de trilhas e comecei fazendo para uma peça de teatro
a convite de outro amigo músico envolvido na produção. Um
convite foi, então, levando a outro...”
teve trabalho apresentado no Festival do Rio: a trilha do longa
“O Estopim”, de Rodrigo Mac Niven.
Compositor de algumas séries da TV Globo, como “Doce
de Mãe”, de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, o gaúcho
Maurício Nader é outro que faz mágica para envolver o
espectador por meio da música. Ele atua diretamente
com os diretores e criadores do roteiro, e, segundo conta,
vai construindo o conceito da trilha antes e ao longo das
filmagens – e até mesmo durante a montagem dos programas.
“As trilhas já vão prontas junto com tudo para a aprovação da
emissora”, explica.
Seguindo mais pelo viés do jornalismo, Pedro Guedes atua
com trilhas para a Globo News e a TV Globo. “As demandas são
muito variadas, e precisamos estar preparados para compor e
produzir todo tipo de música. Essa pluralidade é o que mais
me encanta. Ao mesmo tempo, é uma das partes difíceis do
trabalho. Quando há um prazo maior, eu recebo o programa
editado e componho a trilha sonora vendo as imagens. Porém,
na maioria das vezes, não há tempo para isso, e a trilha é feita
de acordo com um briefing ou um roteiro”, explica.
Ele é autor de 40 temas utilizados na Copa do Mundo de
2014, entre eles a música do clipe de abertura do sorteio da
Fifa, transmitido para o mundo todo. “O mar, a natureza e,
depois, a própria cidade e suas luzes sempre foram fontes de
inspiração.”
Além do cinema, da televisão e do rádio, o conceito de trilha
sonora tem se ampliado e vem sendo aplicado a videogames,
aplicativos para celular e, claro, produções audiovisuais para
a internet. Com a convergência tecnológica e o crescimento
desse mercado, cada vez mais são necessários profissionais
preparados, equipados e criativos.
“O profissional de trilhas não pode se dar ao luxo de não
estar inspirado. Todo dia é dia de compor. Com o tempo,
essa pressão vira parte da rotina, mas é uma dificuldade”,
Na era digital, campo de atuação
ganha novas possibilidades,
como videogames, aplicativos
para celular e produções
audiovisuais para a internet
08-09
Também parceiro de Jorge Furtado, Leo Henkin crê que o
mercado para trilha sonoras engordou nos últimos anos,
mas prega uma necessidade de maior profissionalização:
“O mercado não aumenta apenas devido ao crescimento da
produção do cinema brasileiro, mas também dadas as novas
demandas para televisão e internet. Porém, esse crescimento
não se traduz exatamente numa profissionalização do
mercado, que carece de orientação, principalmente em
relação a valores para produção, criação, músicos, arranjos e
direção musical.”
Atualmente, existem cursos de formação destinados a
profissionais de música, áudio, DJs e afins que, além de
apresentar as técnicas de sincronização da música e do
som nas diversas possibilidades de produtos audiovisuais,
exploram as formas do fazer e a análise do que já é feito na área
das linguagens multimídia. Qualquer que seja a formação,
porém, os profissionais da área dizem ser fundamental ter
versatilidade, rapidez e feeling para construir uma narrativa
integrada e paralela à visual.
“Não adianta disputar com a obra ou com qualquer um dos
seus elementos, como o diálogo, o som direto, os efeitos
sonoros... É preciso entender a necessidade narrativa da obra
e transformá-la em música para ajudar a história a percorrer
o melhor caminho até o espectador. E bem rápido, que já
estamos em cima do prazo (risos)”, brinca Moura.
No Brasil, a equipe envolvida na produção de uma trilha para
TV, de um modo geral, é composta pelo compositor contratado
para fazer a música original, o produtor ou supervisor musical,
o diretor do programa, o diretor de núcleo ou supervisor de
programação e a direção da emissora. Diferentemente do
que ocorre em muitos países, o compositor é, muitas vezes,
o próprio produtor fonográfico, eliminando intermediários e
tornando o processo criativo mais célere, em linha com as
exigências do mercado.
“Há uma vantagem no fato de o próprio compositor ser o
produtor fonográfico, pois o compositor pode fazer tudo em
seu próprio estúdio ou alugar um e trabalhar suas ideias num
computador. A tecnologia facilitou muito as coisas nesse
sentido, gravar não envolve mais o que seria o processo
fonográfico, em que apenas um especialista na área poderia
fazê-lo. Além disso, o produtor fonográfico, em alguns casos,
é um cargo burocrático em que uma pessoa acaba obtendo
boa parte dos rendimentos dos direitos de uma música sem
ter participado do processo em momento algum”, considera
Maurício Nader. “Em alguns trabalhos, faço tudo até por
necessidade de adequação ao orçamento e ao prazo, em
outros tenho a possibilidade de gravar com outros músicos,
fazer arranjos para cordas, sopros...”
A turnê vai de vento em popa. É uma delícia fazer esse show,
tenho gostado mais e mais. A turnê vai até março do ano que
vem, acaba em Lisboa, na sala Gulbenkian. Tem uma coisa
interessante nesse show: ele se impôs para ser feito em teatros,
tem uma dinâmica que faz com que não se dê em outro tipo de
local. Perde muito, não imprime o que ele é, se não for assim.
O rádio, o momento do acaso, o que está tocando na hora. Já
fiz muitos shows de voz e violão, em lugares abertos, para 10
mil pessoas – e acontece. Mas esse show não funciona. Ele
tem um habitat natural, o teatro. De todos os shows que fiz,
com pensamentos, intervenções e conceitos teatrais, é o mais
teatral. E se revelou assim para mim ao longo da turnê.
Leo Henkin
Entre as principais atividades, Márcio Ferreira inclui a
análise da programação dos canais abertos e fechados, a
criação de relatórios específicos para controle das execuções
e o armazenamento de áudio dos fonogramas criados para
programação das TVs.
Adriana Calcanhotto gosta de acordar com a luz do dia e de
fazer as coisas numa ordem que segue mais a intuição que um
método determinado. Um desejo de estar próxima ao “tempo
da natureza”, como ela define. Mas nada de paisagens serenas
clichê. A natureza de Calcanhotto é a natureza mesmo, real
– incessantemente produtiva, em ebulição sob a capa de
harmonia. Sob a voz tranquila e a conversa leve, a cantora –
que, avessa ao ritmo frenético da internet, escolhe estar mais
off-line do que on-line – sustenta um vulcão. Atualmente,
circula com a turnê “Olhos de Onda”, prepara um show em
homenagem a Lupicínio Rodrigues, estreou sua versão de
“Pedro e o Lobo”, de Prokofiev (um espetáculo que inclui
a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, arranjos de
André Mehmari e canções de Partimpim, persona da artista
dona de uma obra para crianças)... E encontra tempo para
compor. Além disso, cumpre uma agenda de eventos relativa
a dois livros que idealizou e compilou: “Antologia Ilustrada da
Poesia Brasileira: Para Crianças de Qualquer Idade”; e “Haicai
do Brasil”, que lançou na última Festa Literária Internacional
de Paraty (Flip). Soma-se a tudo a ideia de aprender a tocar
violão sete cordas. Natureza selvagem.
Como vai a turnê de “Olhos de Onda”? E como o show e
sua percepção sobre ele mudaram ao longo da estrada?
“Esse crescimento não se traduz
exatamente numa profissionalização
do mercado, que carece de
orientação, principalmente
em relação a valores para
produção, criação, músicos,
arranjos e direção musical.”
Essa parte do rádio - na qual vocês põem no áudio uma
rádio do local, ao vivo, interferindo no show – deve
gerar uma série de surpresas curiosas, não?
UBC CRIA NÚCLEO DE TV
Um nicho de mercado com características específicas
exige uma equipe especializada e ágil. Por isso, a UBC
criou um núcleo destinado à TV coordenado pelo gerente de
atendimento Márcio Ferreira. Os profissionais envolvidos
acompanham minuciosamente o que é executado a fim de
fazer os repasses de pagamentos de modo justo e fidedigno
aos associados que compõem para programas de televisão
e cinema. "Além do acompanhamento detalhado, mantemos
contato muito próximo com os titulares que atuam na área
do audiovisual para que eles tenham seus rendimentos
maximizados e recebam seus pagamentos em dia", afirma o
gerente de operações, Fábio Geovane.
Por Leonardo Lichote, do Rio
'A GRAÇA É NÃO SABER O
Muitas vezes acontecem coisas tão incríveis, tão inesperadas,
que nenhuma cabeça poderia inventar. É tão surpreendente
que minha tendência é parar para ouvir aquilo, e eu não
posso, tenho que focar em cantar e tocar. Em Lisboa, tocou
Amália. No camarim a gente comentou que as pessoas devem
ter achado que era uma gravação, uma referência óbvia que
estávamos usando (risos).
Sim, algo como lá vem a brasileira que só conhece
Amália fazer um agrado...
Isso! (risos)
A UBC tem atualmente 17.524 titulares associados nas
diversas categorias (autor, editor, intérprete, músico e
produtor fonográfico), e qualquer um deles pode vir a ter
uma obra usada em um trabalho audiovisual, por isso a
necessidade de um monitoramento constante. Segundo
Geovane, depois da criação do núcleo de TV em maio, o
serviço melhorou, e a quantidade de titulares desse nicho
específico também aumentou, uma vez que o bom serviço
acabou atraindo mais associados.
10-11
12-13
REPORTAGEM : UBC/17
PLATAFORMAS
SSSSSSSDIGITAIS
contato direto com os artistas, apenas com as gravadoras
e distribuidoras, bem como com as editoras e com as
sociedades de gestão coletiva. No serviço, o valor dos royalties
a serem pagos também é estabelecido de forma proporcional à
quantidade de reproduções dos artistas. “Cerca de 70% de toda
a receita do Spotify com taxas de publicidade e assinaturas são
revertidos para os detentores de direitos: artistas, gravadoras,
editoras e sociedades de direitos”, alega Diament.
Me interessa sempre o que está acontecendo. Mas não estou
atualizada, até pelo volume de trabalhos. Tenho gostado de
ver uma movimentação no funk, tentativas do funk de chegar
mais perto da poesia. Tem uma menina que ouvi há uns anos,
lendo “O Fingidor” (“Autopsicografia”), do Fernando Pessoa,
sobre um batidão. Esse rumo é interessante. Adorei o disco
novo do Gil (“Gilbertos Samba”, sobre repertório de João
Gilberto). Aí dizem: “Mas é imitando João Gilberto...”. É, sim,
mas qual o problema? (risos)
SERVIÇOS ON-LINE REPRESENTAM
NOVOS CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO
DE MÚSICA, MAS AINDA
PRECISAM APERFEIÇOAR O
MODELO DE NEGÓCIO E AS
RELAÇÕES COM OS CRIADORES
Diretora-executiva da União Brasileira de Compositores
(UBC), Marisa Gandelman afirma que essa dinâmica traz uma
série de desafios à arrecadação para artistas e compositores:
“No caso dos serviços que ofertam a opção de streaming,
por exemplo, a situação é mais complicada, já que você tem
práticas que se misturam, o que exige uma complexa estrutura
de arrecadação. Além disso, em razão do expressivo número
de meios de difusão e oferta de música, há um processo de
banalização do valor de troca da música, o que não é bom”.
Por Thiago Jansen, do Rio
Um evento ocorrido em setembro passado em Genebra, na
Suíça, ilustra bem o que ela diz. Paralelamente à Assembleia
Geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI), agência da ONU encarregada de desenvolver políticas
e leis de copyright, um grupo de artistas e especialistas
expôs com clareza o mal-estar em torno das relações entre
plataformas digitais e autores. Convocado pela Confederação
Internacional das Sociedades de Autores e Compositores
(Cisac), o Painel dos Criadores foi marcado por discursos
contundentes como
A revolução tecnológica das últimas décadas vem adicionando
elementos inéditos às dinâmicas de consumo de canções
e remuneração dos artistas por suas obras. Mas, se o bolo
digital não para de crescer, a distribuição dos seus pedaços
entre os criadores ainda carece de uma lógica mais justa.
Internacionalmente, um clamor por um modelo de negócio
que remunere melhor os autores ganha cada vez mais vozes
No Brasil, desde o início da década de 2000 já operam, de
modo mais ou menos regular, sites de compartilhamento de
canções, mas a legalização só ganhou ímpeto uma década
depois, com a chegada de serviços de streaming de áudio,
como Rdio, e de lojas virtuais como a iTunes Store, da Apple,
entre diversos outros que se seguiram a eles, como Deezer,
Spotify e Google Play. Essas plataformas, a olhos leigos,
parecem todas iguais, mas, na verdade, têm conceitos bem
diferentes. Algumas são lojas on-line, que vendem canções
e álbuns no formato eletrônico e permitem ao usuário fazer
a descarga permanente dos fonogramas em seu dispositivo
(um computador, um tocador de arquivos MP3, um tablet).
Já os serviços de streaming possibilitam ao público, por
meio do pagamento de assinaturas, ouvir as canções on-line
e até mesmo armazená-las temporariamente, sem baixá-las
definitivamente.
E o terceiro disco de sua trilogia marinha, depois de
“Maritmo” e “Maré”? Vai sair?
Ele existe. Se eu vou fazer ou não, é outra história... Agora
vou continuar com a turnê “Olhos de Onda”. E não vou deixar
de me dedicar a “Pedro e o Lobo”. Em fevereiro vou fazer o
espetáculo na Sala Gulbenkian, em Lisboa. E é possível que
faça no Rio em outubro, talvez em dezembro. É um projeto de
que estou gostando muito, devo fazer quando as orquestras me
chamarem. Em três dias de outubro de 2015 faremos de novo
na Sala São Paulo, provavelmente registrando. De composição,
tem umas duas músicas nas quais estou trabalhando, umas
duas ou três que mandei para a Gal (a cantora está escolhendo
repertório de seu novo disco). Esses poemas musicados estão
comigo, um do Waly, um da Alice e um do Omar (Salomão).
Fiz também o sarau com a Dona Cleo (Cleonice Berardinelli)
no Real Gabinete Português (no Rio), só lendo Mário de SáCarneiro. Já tinha musicado algumas coisas dele, Dona Cleo
pediu para musicar outras... Foi maravilhoso. E ainda tem o
show de Lupicínio, a turnê de “Olhos de Onda”, a turnê dos
livros... É bastante.
M
O lado positivo dos serviços é destacado por alguns artistas.
Músico independente há 20 anos, o rapper Dudu de Morro
Agudo admite que essas plataformas vêm proporcionando
a artistas como ele acesso a uma audiência global. “O
interessante é que, com esses serviços, qualquer artista tem
condições de distribuir o seu trabalho de forma remunerada
para além do público local, no mundo inteiro. É algo que dá
oportunidades a artistas independentes, e não só aos de
grandes gravadoras”, elogia.
DESAFIOS BEM PALPÁVEIS
Mas você ouve seus discos?
Não ouço mesmo. Para que ouvir, se posso ouvir coisas novas?
O que chama sua atenção nas coisas novas?
Mesmo que o mercado venha, em geral, conseguindo adaptar
a operação dos novos serviços digitais no país à atual lei de
direitos autorais, aprimoramentos na legislação poderiam
beneficiar a estrutura de cobrança e distribuição de direitos. A
solução definitiva para os impasses, porém, está nas relações
de mercado, ou seja, entre os provedores de conteúdo digital e
os criadores e demais titulares de direitos autorais de música.
É o que afirma Marisa Gandelman, da UBC: “É importante ter
em mente que a resposta para os conflitos não virá de uma
mudança da lei, mas do próprio mercado. No entanto, é válido
reconhecer que um aprimoramento na legislação poderia,
sim, criar novas estruturas e mecanismos que facilitem a
arrecadação dos direitos de uma forma mais barata e menos
burocrática, a partir do reconhecimento do processamento
conjunto de tipos de direitos diferentes.”
Presidente da União Brasileira de Editores de Música (Ubem),
Marcelo Falcão faz coro: “Precisamos de aprimoramento, não
de revolução normativa. A fórmula ideal seria um refinamento
do que já temos e que serviria para ratificar entendimentos
e direitos.”
Ainda que difiram, todas elas estão submetidas às mesmas
regras de direito autoral, determinadas pela Lei 9.610/98,
que estabelece os conceitos de reprodução/distribuição
(fonomecânicos) e de execução pública. No entanto, se, antes
da internet, as situações referentes a cada um desses direitos
eram mais explícitas, no atual contexto esses conceitos muitas
vezes se mesclam – descargas e simples reprodução podem
ser feitas eventualmente pelos mesmos canais. A questão
é importante porque tem impacto na estrutura necessária
para a arrecadação desses direitos junto aos serviços: no
caso das execuções públicas, ela é realizada pelo Escritório
Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad); já no direito de
reprodução/distribuição, a cobrança é feita diretamente pelos
titulares desse direito, individualmente, ou em conjunto.
14-15
índice
Em outubro, a UBC inaugurou um novo canal de comunicação
entre seus associados e a diretoria da associação, a Ouvidoria.
Através de um formulário online, e-mail, telefone ou correio,
será possível o envio de reclamações, elogios ou sugestões.
O objetivo deste novo canal é ouvir as reivindicações para
que as ações e as atividades da UBC reflitam os desejos e
as necessidades dos associados e de outras pessoas que de
alguma forma estejam relacionadas com o trabalho realizado
pela associação. A Ouvidoria funciona como uma segunda
instância, ou seja, para a hipótese de o solicitante não ter
obtido êxito na resolução de sua reclamação apresentada ao
departamento de atendimento na sede, ou à sua filial ou pelo
Fale Conosco, que também continua sendo o canal para tirar
dúvidas e solicitar informações.
MERCADO : UBC/11
10/UBC : MERCADO
NOVIDADES INTERNACIONAIS
OUVIDORIA APROXIMA
ASSOCIADO DA DIRETORIA
DA UBC
06-07
CAPA : UBC/15
14/UBC : CAPA
d
Por Bruno Calixto, do Rio
Com mais de 150 músicas gravadas por duplas sertanejas,
Pinocchio já trabalhou com conhecidos nomes do gênero,
como Daniel, Henrique & Ruan, César Menotti & Fabiano e
Jorge & Mateus. Mas não se dá por satisfetio. Da cidade de
Douradoquara, no interior mineiro, o músico trabalha na préprodução do novo DVD do cantor Gusttavo Lima (“Gusttavo
Lima No Buteco”), assina a produção de novos trabalhos da
dupla Hugo & Tiago e ilustra a ficha técnica da produção
de novos artistas, como o cantor brasiliense Wagner Simão.
Seja como compositor, produtor ou sanfoneiro, Pinocchio,
na estrada desde os 13 anos, já inscreveu seu nome entre os
bambas da música sertaneja.
UM CAFÉ PRETO COM MOLHO
DE REGGAE, POR FAVOR
Foto: Byron Prujansky
O sucesso no programa “SuperStar”, da TV Globo, foi só um
dos sinais de uma trajetória ligada em grande parte ao apoio
dos fãs. A Suricato lança o álbum “Sol-te”, recheado de canções
autorais de folk-pop, entre elas “Talvez”, que a turma que os
acompanha, na base da mobilização, conseguiu emplacar
na parada de uma rádio carioca. “Nosso principal objetivo
é desmitificar e popularizar uma música com elementos
pouco comuns no Brasil, levá-la para o grande público e vê-la
consumida pelas massas”, diz o vocalista Rodrigo Suricato.
Também presente no disco, “Um Tanto”, faixa composta dois
dias depois da apresentação do grupo nos duelos do reality,
é como um agradecimento público aos seguidores. “É quase
uma oração, fala de gratidão. Tem muita relação com o nosso
caminho”, segue o líder da banda sediada no Rio, que oferece
aos fãs streamings de músicas e vídeos no site suricatooficial.
com.br. Ele bateu um papo com a Revista UBC sobre música
e processo de criação.
MAS NÃO DE
INOVAR
AS AVENTURAS DE PINOCCHIO
NO MUNDO DO SERTANEJO
MOVIDA A GRATIDÃO
NOTÍCIAS : UBC/9
8/UBC : NOTÍCIAS
FIQUE DE OLHO
ELE CANSOU DE SER SEXY,
Foto: Leo Aversa
NOVIDADES NACIONAIS
Foto: Maria Helena Zerba
4/UBC : NOTÍCIAS
16-17
04
08
09
10
12
18-19
20-21
Nov dades Nacionais
f que de olho
Nov dades NTERNac ona s
MERCADO TRILHAS SONORAS
capa ADRIANA CALCANHOTTO
a UBC é uma pub a ão da Un ão B a e a de Compo o e uma o edade em fin u a
bu ão do end men o de d e o au o a e o de en o men o u u a
A
en e de oo dena ão ed o a
Ed o A e and o So e MTB 2629
Co abo a am ne a ed ão B uno Ca
Fo o de apa Leo A e a T agem 6 500 e emp a e
D
bu ão g a u a
DISTR BU ÇÃO PLATAFORMAS DIG TA S
HOMENAGEM NELSON MOTTA
AGENDA FUNK BH
dúv da do assoc ado
o que em omo ob e
o a de e a e a
D e o a Fe nando B an p e den e Abe S a A oy o Re
Ge a do V anna Manoe Nen nho P n o Rona do Ba o e Sand a de Sá D e o a exe u va Ma
Coo dena ão ed o a E a E en oh
16
18
21
22
22
a Gande man
o é A anne P o e o g áfi o e d ag ama ão 6D
o Gu he me S a pa Leona do L ho e e Th ago an en
Notícias : UBC/5
4/UBC : Notícias
noVIDADES nacionais
Dudu para toda obra
Produtor envolvido no reality para bandas “Breakout Brasil”, do
Canal Sony, Dudu Marote acaba de lançar seu selo de música
eletrônica, o Ganzá. Promete investir em novos músicos e
fazer uma curadora da imensa produção escoada na internet.
A primeira playlist do Ganzá está no Soundcloud (soundcloud.
com/ganzarecords). “O selo foi desenvolvido para ser um
catalisador daquilo que tem surgido de mais interessante
na música eletrônica nacional. A ideia é trabalhar com um
conceito bem aberto e lançar desde coisas que beiram o
pop eletrônico até paradas bem cabeçudas, passando por
future beats, techno, electro, house e o que de mais bacana e
representativo estiver brotando por aí”, explicou Marote, que
também assina a produção de diferentes bandas, como as
mineiras Jota Quest, Pato Fu e Skank.
Suricato,
movida a gratidão
Banda que estourou em
'reality' musical lança
disco e prega: 'felicidade
só serve se puder ser
compartilhada'
outro lado, vejo muitos artistas tomando a postura de colocar
seu trabalho como uma “iguaria rara”, selecionando as pessoas
que possivelmente o entenderão. É tudo o que Suricato não
pretende fazer. Música não serve para ser entendida, mas
sentida. Misturar os públicos é uma boa diretriz. Por que fãs
de axé não podem gostar de ouvir blues?
Por Bruno Calixto, do Rio
Misturar as coisas sem critério nenhum é uma característica
do brasileiro. Nesse sentido somos o povo mais estrogonofe
com feijão do mundo, e isso é lindo. A lista de instrumentos
tende a aumentar, mas podemos incluir o didjeridu
(instrumento aborígene australiano), a tábua de lavar roupa
e a mala-bumbo como os mais incomumente usados por
bandas daqui.
Você prega a desmitificação da música. O que isso
quer dizer?
Sou contra a monocultura. Somos o país da diversidade, e é
um desperdício de civilidade artistas novos não terem espaço
e ficarem em guetos. O novo pode ser rentável e atrativo. Por
Dois anos depois de o primeiro disco chegar às prateleiras
(em vinil, na França), os pernambucanos do Café Preto já
se preparam para o próximo, um trabalho independente
produzido por seus três integrantes: os músicos Cannibal e
PI-R e o DJ e produtor Bruno Pedrosa. A ideia é explorar as
virtualmente inesgotáveis sonoridades do dub e do ragga
que vão beber na fonte do reggae roots jamaicano. “Além de
lançar o disco em vinil, estamos preparando a gravação de
mais um clipe do primeiro CD”, revela Cannibal, à frente dos
vocais. Quatro compactos de vinil ajudaram a espalhar as oito
faixas do primeiro trabalho, “Café Preto”, assinadas por Mau,
Yellow P e Victor Rice. O projeto de estreia ficou marcado pelo
lançamento do clipe da música “Dandara”, em agosto de 2013,
que você pode conferir em cafepreto.mus.br.
A Suricato é conhecida por utilizar instrumentos nada
comuns. Qual é o resultado?
O novo álbum é 100% autoral. De que tratam as
composições?
Assino quase todas as composições sozinho, exceto uma
canção com Dudu Falcão e Moska e a minha primeira
canção com o Gui Schwab (guitarrista da banda). Sobre as
letras, diria que são quase autobiográficas, mas com leveza,
sem transformar tudo numa sessão de análise. É um disco
sobre amor.
Com o disco nas mãos, quais são os planos?
Estamos doidos para cair na estrada com o show dele,
promovê-lo pelo Brasil todo. Temos muita confiança no que
realizamos, é um disco com razão de ser, um disco em todas
as faixas. Temos um Brasil inteiro para abraçar, nosso sonho é
ver isso se tornar realidade e fazer com que nossas histórias e
canções façam parte da memória afetiva das pessoas. Afinal,
a felicidade só serve se puder ser compartilhada.
Foto: Byron Prujansky
O sucesso no programa “SuperStar”, da TV Globo, foi só um
dos sinais de uma trajetória ligada em grande parte ao apoio
dos fãs. A Suricato lança o álbum “Sol-te”, recheado de canções
autorais de folk-pop, entre elas “Talvez”, que a turma que os
acompanha, na base da mobilização, conseguiu emplacar
na parada de uma rádio carioca. “Nosso principal objetivo
é desmitificar e popularizar uma música com elementos
pouco comuns no Brasil, levá-la para o grande público e vê-la
consumida pelas massas”, diz o vocalista Rodrigo Suricato.
Também presente no disco, “Um Tanto”, faixa composta dois
dias depois da apresentação do grupo nos duelos do reality,
é como um agradecimento público aos seguidores. “É quase
uma oração, fala de gratidão. Tem muita relação com o nosso
caminho”, segue o líder da banda sediada no Rio, que oferece
aos fãs streamings de músicas e vídeos no site suricatooficial.
com.br. Ele bateu um papo com a Revista UBC sobre música
e processo de criação.
Um Café Preto com molho
de reggae, por favor
A mistura boa de
Mario Broder
Após 11 anos como vocalista nos grupos Funk ‘N Lata (entre
2000 e 2003) e Farofa Carioca (de 2004 até hoje), Mario Broder
encara o desafio de lançar seu primeiro disco solo como cantor
e compositor. “Balanço Diferente” mostra que valeu a espera.
Aos 34 anos, o carioca da Zona Oeste que se iniciou na
música ainda criança e interpretou Wilson Baptista no filme
“Noel Rosa – O poeta da Vila” liquidifica suas experiências
num disco que tem o samba como base, embora dialogue
com o que ele chama de “inventividade do mundo pop”. Com
exceção de uma composição do sambista baiano Batatinha,
“Conselheiro”, o repertório é todo de Broder, alternando
parcerias com Sandro Marcio, Valmir Ribeiro (companheiros
no Farofa ), Elza Soares, Bernardo Vilhena e Antônio de Pádua.
Elza canta e é homenageada no samba “Operária Brasileira”.
Já “Lateral” é uma crônica futebolística de Jorge Ben Jor.
Mistura boa.
notícias : UBC/7
6/UBC : notícias
Guidi Vieira:
voz, guitarra e 'Temperos'
Ele cansou de ser sexy,
mas não de
inovar
Com financiamento coletivo, a ex-vocalista da banda de rock
Pic-Nic, Guidi Vieira, lança seu primeiro CD, “Temperos”.
E o nome não é gratuito. São nove faixas inéditas de
compositores como Sandro Dornelles e Luís Pimentel
("Debute" e "Três Meninos") e Arildo de Souza ("Pronta
Entrega"), além de uma regravação de “Tigresa”, de Caetano
Veloso. Com desenvoltura, Guidi passeia por blues, baladas,
xotes, sambas. A produção é de Daniel Medeiros, do Fino
Coletivo. Com o Pic-Nic, que se desfez em 2007, a cantora,
compositora e guitarrista havia gravado dois CDs demo.
Ela também participou de CDs de artistas como Carlinhos
Vergueiro, Amin Nunes e Doces Cariocas e ainda é backing
vocal de Alvinho Lancellotti. Iniciado em 2012, “Temperos”
contou com importantes instrumentistas, como o baterista
Jurim Moreira e o acordeonista Chico Chagas. O material foi
masterizado por Ricardo Garcia.
Por Bruno Calixto, do Rio
O produtor, compositor e instrumentista Adriano Cintra
rodou o mundo, foi de mala e cuia para Londres, voltou para
São Paulo, tornou a viajar e a voltar... Além do passaporte
supercarimbado, trouxe ainda mais agudo seu espírito
de provocação, inovação. Em carreira solo depois de um
período breve no projeto Madrid, o cofundador do fenômeno
Cansei de Ser Sexy – uma das bandas brasileiras de rock
eletrônico mais prestigiadas no exterior – lança o primeiro
álbum “Animal”, que, com a pegada internacional de sempre
e canções em inglês, traz a inconfundível verve irreverente
de Adriano na faixa “Duda”, parceira com a cantora paraense
Gaby Amarantos, e na canção-título, composta por ele e pelo
músico paulistano Marcelo Segreto, membro da intrigante
Filarmônica de Pasárgada. Psicodelia sessentista, efeitos
visuais oitentistas, sonoridades da próxima década: o passeio
temporal que ele imprime torna “Animal” uma gostosa
máquina do tempo que faz qualquer um viajar. E voltar. E
tornar a viajar...
As aventuras de Pinocchio
no mundo do sertanejo
Com mais de 150 músicas gravadas por duplas sertanejas,
Pinocchio já trabalhou com conhecidos nomes do gênero,
como Daniel, Henrique & Ruan, César Menotti & Fabiano e
Jorge & Mateus. Mas não se dá por satisfetio. Da cidade de
Douradoquara, no interior mineiro, o músico trabalha na préprodução do novo DVD do cantor Gusttavo Lima (“Gusttavo
Lima No Buteco”), assina a produção de novos trabalhos da
dupla Hugo & Tiago e ilustra a ficha técnica da produção
de novos artistas, como o cantor brasiliense Wagner Simão.
Seja como compositor, produtor ou sanfoneiro, Pinocchio,
na estrada desde os 13 anos, já inscreveu seu nome entre os
bambas da música sertaneja.
Entre a saída do Cansei e o “Animal”, o que rolou?
Logo que eu saí do CSS, gravei dois discos com minha outra
banda, a Madrid. Em dois anos fomos tocar duas vezes na
Europa e fizemos muitos shows pelo Brasil. E daí a Marina
(Vello, parceira dele no projeto) se mudou para Paris, o que
colocou a banda de férias forçadas. Nunca paro de compor.
Quando vi, tinha um disco inteiro em inglês.
O novo disco (e os antigos
amigos) de Romulo Fróes
Na hora do “vamos com quem?”, como escolheu as
participações do seu disco?
Meu amigo Marcus Preto, que acabou fazendo a direção
artística do disco, pegou essas composições e mandou para
um monte de gente, a maioria eu não conhecia pessoalmente.
Guilherme Arantes, Kiko Dinucci, Odair José, John Ulhôa.
Alguns eu conhecia, como a Alice Caymmi, o Martim
Bernarde, o Marcelo Segreto e a Gaby Amarantos. Eles fizeram
versões das letras em inglês em cima da minha melodia.
E quem você convidou?
Eu chamei o Péricles Martins, que tem um projeto chamado
Boss In Drama, para reproduzir algumas faixas, chamei o
Rogério Flausino para cantar uma outra, que acabou virando
uma parceria minha, dele e do Péricles... Por isso tudo, estou
muito contente com esse disco.
Foto: Maria Helena Zerba
Tem Romulo Fróes novo na praça. Com distribuição do selo
YB, “Barulho Feio” (disponível para download gratuito em
romulofroes.com.br) sucede a “Um Labirinto em Cada Pé”
(2011) e deleita, de novo, com o som sofisticado do músico
paulistano, um dos grandes da sua geração. A faixa “Ó” é
mais uma atraente parceria com o multiartista Nuno Ramos,
frequente nas bolachas de Romulo. São 15 faixas produzidas
por Marcelo Cabral e Guilherme Held. Entre os encontros
musicais que se celebram na obra, chamam atenção as
participações do saxofonista Thiago França, da cantora Juçara
Marçal e dos músicos Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, com
quem Fróes formou o Passo Torto, já com dois discos e muitos
shows. Há um ano, "Calado", primeiro disco do compositor,
ganhou uma edição em vinil, comemorativa de seus dez anos
de lançamento, e "Passo Elétrico", segundo álbum do grupo,
levou o Prêmio da Música Brasileira na categoria melhor álbum
de rock-pop. Louros óbvios colhidos por uma carreira que faz
barulho do jeito certo. “Dez anos atrás, eu tinha o desejo básico
de todo artista, que era fazer sucesso, ser parte da MPB que
todos comentam. Fomos entendendo que talvez não fôssemos
capazes disso. Mas não parávamos de produzir. E os modelos
se ajustaram. Hoje sou reconhecido, citado em trabalhos,
consigo viver da minha música. Mas continuo anônimo do
ponto de vista da indústria”, diz Romulo, que começa a gravar
um disco com músicas de Nelson Cavaquinho, a ser lançado
no primeiro semestre de 2015.
Notícias : UBC/9
8/UBC : NOTÍCIAS
fique de olho
novidades Internacionais
Ouvidoria aproxima
associado da diretoria
da UBC
Em outubro, a UBC inaugurou um novo canal de comunicação
entre seus associados e a diretoria da associação, a Ouvidoria.
Através de um formulário online, e-mail, telefone ou correio,
será possível o envio de reclamações, elogios ou sugestões.
O objetivo deste novo canal é ouvir as reivindicações para
que as ações e as atividades da UBC reflitam os desejos e
as necessidades dos associados e de outras pessoas que de
alguma forma estejam relacionadas com o trabalho realizado
pela associação. A Ouvidoria funciona como uma segunda
instância, ou seja, para a hipótese de o solicitante não ter
obtido êxito na resolução de sua reclamação apresentada ao
departamento de atendimento na sede, ou à sua filial ou pelo
Fale Conosco, que também continua sendo o canal para tirar
dúvidas e solicitar informações.
Para conhecer mais sobre a ouvidoria, acesse:
www.ubc.org.br/ouvidoria.
Sociedade inglesa
visita sede da UBC
No ano em que celebra seus 100 anos, a sociedade inglesa
de gestão coletiva de direitos autorais PRS for Music fez
uma visita à sede da UBC no Rio de Janeiro em setembro.
As duas sociedades mantêm contrato de reciprocidade
desde 1946, quatro anos após a fundação da UBC. A música
inglesa é executada em todo o mundo, e grande parte do que
é arrecadado para os autores ingleses vem das sociedades
estrangeiras que a representam, como a UBC no Brasil.
A PRS for Music também é responsável pela arrecadação
dos direitos de execução pública dos associados à UBC na
Inglaterra. Durante a visita, as representantes da PRS for
Music, Judith Luscombe e Sarah Bargiela, conheceram as
novidades tecnológicas no processamento de distribuição
da UBC e como é gerenciado o repertório de seus associados.
Também foram discutidas as últimas mudanças ocorridas no
cenário brasileiro e os acordos de pagamento firmados com a
TV Globo e as operadoras de TV por Assinatura.
Ecad diminui taxa,
e UBC, mais ainda
A partir de agosto de 2014, o percentual cobrado pela gestão de
direitos autorais de execução pública musical, cuja finalidade
é custear as despesas das associações e do Escritório Central
de Arrecadação e Distribuição (Ecad), sofreu redução. Mesmo
com a mudança, a UBC mantém sua política de maximizar
o repasse dos rendimentos de direitos autorais aos seus
associados. O Ecad passou a cobrar 15,61% pelos seus custos,
e as associações 6,89% dos totais distribuídos para o seu
repertório. A UBC reduziu o novo percentual para 5,89%.
Com isso, seus associados passam a receber 78,5% do total
arrecadado pela execução de suas obras e fonogramas. Leia o
comunicado completo: http://goo.gl/gizHVh
Distribuição dos
acordos firmados
com Net e Claro TV
Neste fim de ano, serão distribuídos os valores dos acordos
firmados com as operadoras Claro TV e Net. Além disso, a
Sky procurou o Ecad para regularizar o pagamento das
mensalidades do ano de 2014. Bons motivos para os titulares
de direitos autorais comemorarem, já que o segmento de TV
por Assinatura, que atingiu o índice de 98% de inadimplência
em 2011, hoje conta com mais de 80% do mercado em dia
com seu pagamento de direitos autorais regularizados. Veja
o quadro abaixo:
Sky
A Sky e o Ecad estão em fase de assinatura do contrato que
regula a relação da operadora com o Escritório Central. Serão
pagos R$ 38 milhões divididos em seis parcelas, referentes
às mensalidades de janeiro a setembro de 2014. A partir da
finalização do acordo, a Sky passa a pagar regularmente
uma mensalidade calculada nas mesmas bases adotadas nos
contratos com as outras operadoras de TV por assinatura. Vale
lembrar que R$ 210 milhões foram distribuídos em dezembro
de 2013 e maio passado, referentes ao acordo fechado pela
execução de obras e fonogramas entre 2004 e 2013.
Geraldo Vianna representa
a UBC na reunião da
Alcam na Bolívia
Argentina bloqueia The
Pirate Bay, e entidade
musical do país é hackeada
Com adesão cada vez maior entre os países sul-americanos,
a Aliança Latino-Americana de Autores e Compositores
(Alcam) recebeu, em sua última reunião, em agosto, autores
interessados em discutir os caminhos e desafios do direito
autoral. Entre os participantes, o compositor, violonista,
arranjador e produtor mineiro Geraldo Vianna representou
a UBC nas sessões realizadas em Cochabamba (Bolívia).
No encontro, foram debatidas medidas governamentais e
propostas de alteração das leis que tratam da gestão coletiva
de direitos autorais nos países da região, que apresentam uma
tendência excessivamente intervencionista. Criada para buscar
melhores condições de trabalho e sobrevivência para os autores
e compositores, a Alcam é composta por representantes das
várias sociedades de autores latino-americanas. Vianna pregou
a necessidade de buscar diferentes estratégias de divulgação
da música latina, a fim de aumentar sua influência no mercado
internacional. E afirmou ser preciso usar com inteligência a
mesma internet que potencializou as violações dos direitos
autorais. “É preciso atuar de forma obstinada e persistente,
buscando um intercâmbio constante. Salientei a tendência
e a importância de criarmos meios de comunicação e de
utilização maciça das redes sociais e de grupos de discussão
e organizações em cada país para, juntos, discutirmos e
expormos os problemas relacionados ao cotidiano dos autores
e compositores. Que seja criada uma verdadeira rede de
informações entre os países integrantes da Aliança.” Também
estiveram presentes representantes das sociedades de autores
de Argentina, Costa Rica, Chile, Paraguai e Uruguai.
A Argentina se tornou o primeiro país sul-americano a bloquear
o popular portal P2P The Pirate Bay. A ordem judicial, aplicada
aos 11 principais provedores de internet do país, seguiu-se a
uma ação movida pelo principal organismo representante da
indústria discográfica local, a Câmara Argentina de Produtores
de Fonogramas e Videogramas (CAPIF). A decisão foi liminar e
não teve contestação até o momento, de modo que deve durar
até que o processo seja concluído. Na avaliação da CAPIF, o
portal de compartilhamento de músicas sem licença é uma
ameaça séria ao negócio musical. Logo depois da decisão, o
site oficial da entidade foi hackeado, e sua página de abertura
foi substituída pelo servidor do próprio The Pirate Bay,
permitindo aos usuários argentinos continuar a compartilhar
arquivos ilegalmente. Foram necessárias mais de dez horas
até que a CAPIF recuperasse acesso ao seu próprio portal. As
informações são do site aliadodigital.com.
Estudo da Cisac destaca
potencial da indústria
criativa nos Brics
Net
A operadora já paga regularmente, desde janeiro de 2014, as
mensalidades de direitos autorais de execução pública, e em
novembro será distribuído o valor de R$ 125 milhões referente
ao acordo firmado pela execução de obras e fonogramas entre
2004 e 2013.
Claro TV
Será distribuído, em dezembro, o valor de R$ 85 milhões
relativo ao acordo feito com a operadora pela execução de
obras e fonogramas no período entre 2008 e 2013. A Claro TV
também está em dia com suas mensalidades.
OUTRAS
A OI TV está em débito com o Ecad desde 2009 e questiona o
valor a ser pago na Justiça. O mesmo caso da GVT, que está
em débito desde 2011 e realiza depósitos judiciais. O Ecad
cobra na justiça o pagamento de direitos autorais da Vivo TV
(junção da TVA, em débito desde 1994, e Telefônica, desde
2007), que também realiza depósitos judiciais.
Vendas de álbuns
on-line caem, e 'streamings'
disparam nos EUA
As vendas de álbuns e canções digitais tiveram quedas de,
respectivamente, 11,6% e 13% no primeiro semestre do ano
nos Estados Unidos, segundo dados da consultoria Nielson
SoundScan. Mas nada parece alarmar a indústria americana,
que confia no streaming para revitalizar o mercado. Essa
modalidade de consumo de música on-line subiu 42% no
mesmo período, atingindo 70,3 milhões de reproduções.
Ainda que alguns álbuns tenham desempenhos animadores
– como a trilha do filme “Frozen”, da Disney, com 2,7 milhões
de cópias vendidas, e bons resultados também para Beyoncé,
Lorde e Coldplay, com números de 700 mil a 590 mil unidades
descarregadas –, o panorama geral é de queda nas vendas na
última década, fenômeno similar ao que ocorre com os CDs.
Um estudo da Confederação Internacional das Sociedades
de Autores e Compositores (Cisac), divulgado em setembro,
identificou “tremendo potencial” nos países do grupo dos Brics
(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para aumentar a
contribuição da sua indústria criativa ao Produto Interno Bruto
(PIB). De acordo com o levantamento, a média de contribuição
de músicas, filmes, espetáculos de teatro e outros gêneros
para o total da riqueza gerada nessas nações é de apenas 1%
a 6%, em média. De acordo com a Cisac, em 2011 o comércio
internacional de bens culturais atingiu US$ 624 bilhões, algo
como 7,5% de tudo o que foi exportado. Mas a fatia dos Brics
nesse bolo não passou de US$ 12 bilhões, menos da metade
do que os EUA geraram sozinhos, apesar de, combinadas, as
economias das maiores nações em desenvolvimento serem
apenas 12% menores que a do gigante norte-americano. “A
economia criativa gera algo como 10% a 11% do PIB na Coreia do
Sul ou nos EUA. Ainda que culturalmente ricos, os países dos
Brics giram só uma fração disso”, afirmou Javed Akhtar, letrista,
poeta e roteirista indiano e um dos vice-presidentes da Cisac.
mercado : UBC/11
10/UBC : mercado
Trilha de fundo,
emoção na linha de frente
Profissionais desvendam gênero artístico que reúne
música, voz, ruídos e inúmeros efeitos sonoros para
dar mais vida e emoção a filmes, novelas, programas
jornalísticos, peças de teatro e muitas outras atrações
Por Bruno Calixto, do Rio
Na infância, o produtor e compositor carioca Pedro Guedes
se sentava, vidrado, diante da TV para curtir seus programas
favoritos. Mas do que ele se lembra com especial emoção,
mesmo, é das trilhas sonoras de filmes como “Indiana Jones”
e “Blade Runner”, do seriado “O Tempo e o Vento” e até do
“Globo Repórter”. “Ficava morrendo de medo. As notas da
abertura (do jornalístico da TV Globo) são muito tensas”, diz.
Coincidência ou não, o arranjo hoje no ar no programa noturno
das sextas-feiras tem solo de guitarra de Pedro.
Por trás de uma bela ou eletrizante imagem na TV, o chamado
background envolve o telespectador mais do que ele é capaz
de imaginar. E essa mágica é fruto de um rico processo de
produção, muitas vezes feito antes mesmo de a obra visual
ganhar um roteiro.
Outro craque no ramo é o também carioca Fernando Moura,
compositor de trilhas independente que trabalha para várias
emissoras de TV, abertas e por assinatura, diretamente ou
por meio de produtoras de vídeo. “Cada uma delas tem uma
especificidade, mas todas são unânimes na urgência das
entregas”, ressalta o criador e pianista, que assina projetos
para Globo, TV Brasil e TV Record.
De Paris, onde está em temporada de shows com o
percussionista Ary Dias, ele conta que começou a compor
trilhas sonoras originais para teatro no final dos anos 1970.
A estreia foi numa montagem de “O despertar da primavera”,
encenada por Miguel Fallabella, Daniel Dantas e Maria
Padilha. A atriz, aliás, estudou com o compositor e o convidou
a compor as músicas da trama.
“Sempre gostei muito de compor, tive aulas de composição
e arranjo com o Guilherme Vaz, um compositor incrível de
música para cinema”, lembra. “A partir dos anos 80, comecei
a fazer trilhas para curtas e filmes publicitários com diretores
como Ricardo Miranda, Sargentelli Filho e Carlos Manga.”
Daí em diante, foram mais de 15 longas, com direito a
graduação em música para cinema, TV e multimídia na GrãBretanha. O ingresso na TV veio no fim dos anos 90, no Canal
Futura. “Com o crescimento da TV a cabo, ampliei bastante
minha área de atuação, trabalhando para canais como GNT
e MultiShow. Em 2008, Fernando Moura faturou o prêmio
Coral do Festival de Havana pela trilha do filme “Maré, Nossa
História de Amor”, de Lucia Murat. Mês passado, o compositor
teve trabalho apresentado no Festival do Rio: a trilha do longa
“O Estopim”, de Rodrigo Mac Niven.
Compositor de algumas séries da TV Globo, como “Doce
de Mãe”, de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, o gaúcho
Maurício Nader é outro que faz mágica para envolver o
espectador por meio da música. Ele atua diretamente
com os diretores e criadores do roteiro, e, segundo conta,
vai construindo o conceito da trilha antes e ao longo das
filmagens – e até mesmo durante a montagem dos programas.
“As trilhas já vão prontas junto com tudo para a aprovação da
emissora”, explica.
Seguindo mais pelo viés do jornalismo, Pedro Guedes atua
com trilhas para a Globo News e a TV Globo. “As demandas são
muito variadas, e precisamos estar preparados para compor e
produzir todo tipo de música. Essa pluralidade é o que mais
me encanta. Ao mesmo tempo, é uma das partes difíceis do
trabalho. Quando há um prazo maior, eu recebo o programa
editado e componho a trilha sonora vendo as imagens. Porém,
na maioria das vezes, não há tempo para isso, e a trilha é feita
de acordo com um briefing ou um roteiro”, explica.
Ele é autor de 40 temas utilizados na Copa do Mundo de
2014, entre eles a música do clipe de abertura do sorteio da
Fifa, transmitido para o mundo todo. “O mar, a natureza e,
depois, a própria cidade e suas luzes sempre foram fontes de
inspiração.”
Além do cinema, da televisão e do rádio, o conceito de trilha
sonora tem se ampliado e vem sendo aplicado a videogames,
aplicativos para celular e, claro, produções audiovisuais para
a internet. Com a convergência tecnológica e o crescimento
desse mercado, cada vez mais são necessários profissionais
preparados, equipados e criativos.
“O profissional de trilhas não pode se dar ao luxo de não
estar inspirado. Todo dia é dia de compor. Com o tempo,
essa pressão vira parte da rotina, mas é uma dificuldade”,
Na era digital, campo de atuação
ganha novas possibilidades,
como videogames, aplicativos
para celular e produções
audiovisuais para a internet
pondera Guedes, defensor do estudo de matérias tradicionais,
instrumentos, teoria musical, técnicas de produção, softwares
e, claro, gêneros musicais de todo o mundo. “É imprescindível
gostar de estar no estúdio. Você acaba morando lá. Eu adoro!”
Nader vai na mesma linha: “Procuro me capacitar estudando,
explorando, observando e ouvindo. Mas, como vamos
distinguir um músico profissional de um amador? Pela
capacidade de tocar um instrumento, pelo dinheiro que ganha
ou não, por uma carteirinha no bolso ou por um diploma? Tudo
isso é muito complicado de avaliar”, cogita o gaúcho.
Envolvido em projetos da Casa de Cinema de Porto Alegre
(de Jorge Furtado), como o filme “Homens de Bem”, Nader,
como Fernando Moura, ingressou no ramo a convite. “Sempre
gostei de trilhas e comecei fazendo para uma peça de teatro
a convite de outro amigo músico envolvido na produção. Um
convite foi, então, levando a outro...”
Também parceiro de Jorge Furtado, Leo Henkin crê que o
mercado para trilha sonoras engordou nos últimos anos,
mas prega uma necessidade de maior profissionalização:
“O mercado não aumenta apenas devido ao crescimento da
produção do cinema brasileiro, mas também dadas as novas
demandas para televisão e internet. Porém, esse crescimento
não se traduz exatamente numa profissionalização do
mercado, que carece de orientação, principalmente em
relação a valores para produção, criação, músicos, arranjos e
direção musical.”
Atualmente, existem cursos de formação destinados a
profissionais de música, áudio, DJs e afins que, além de
apresentar as técnicas de sincronização da música e do
som nas diversas possibilidades de produtos audiovisuais,
exploram as formas do fazer e a análise do que já é feito na área
das linguagens multimídia. Qualquer que seja a formação,
porém, os profissionais da área dizem ser fundamental ter
versatilidade, rapidez e feeling para construir uma narrativa
integrada e paralela à visual.
“Não adianta disputar com a obra ou com qualquer um dos
seus elementos, como o diálogo, o som direto, os efeitos
sonoros... É preciso entender a necessidade narrativa da obra
e transformá-la em música para ajudar a história a percorrer
o melhor caminho até o espectador. E bem rápido, que já
estamos em cima do prazo (risos)”, brinca Moura.
No Brasil, a equipe envolvida na produção de uma trilha para
TV, de um modo geral, é composta pelo compositor contratado
para fazer a música original, o produtor ou supervisor musical,
o diretor do programa, o diretor de núcleo ou supervisor de
programação e a direção da emissora. Diferentemente do
que ocorre em muitos países, o compositor é, muitas vezes,
o próprio produtor fonográfico, eliminando intermediários e
tornando o processo criativo mais célere, em linha com as
exigências do mercado.
“Há uma vantagem no fato de o próprio compositor ser o
produtor fonográfico, pois o compositor pode fazer tudo em
seu próprio estúdio ou alugar um e trabalhar suas ideias num
computador. A tecnologia facilitou muito as coisas nesse
sentido, gravar não envolve mais o que seria o processo
fonográfico, em que apenas um especialista na área poderia
fazê-lo. Além disso, o produtor fonográfico, em alguns casos,
é um cargo burocrático em que uma pessoa acaba obtendo
boa parte dos rendimentos dos direitos de uma música sem
ter participado do processo em momento algum”, considera
Maurício Nader. “Em alguns trabalhos, faço tudo até por
necessidade de adequação ao orçamento e ao prazo, em
outros tenho a possibilidade de gravar com outros músicos,
fazer arranjos para cordas, sopros...”
“Esse crescimento não se traduz
exatamente numa profissionalização
do mercado, que carece de
orientação, principalmente
em relação a valores para
produção, criação, músicos,
arranjos e direção musical.”
Leo Henkin
UBC cria núcleo de TV
Um nicho de mercado com características específicas
exige uma equipe especializada e ágil. Por isso, a UBC
criou um núcleo destinado à TV coordenado pelo gerente de
atendimento Márcio Ferreira. Os profissionais envolvidos
acompanham minuciosamente o que é executado a fim de
fazer os repasses de pagamentos de modo justo e fidedigno
aos associados que compõem para programas de televisão
e cinema. "Além do acompanhamento detalhado, mantemos
contato muito próximo com os titulares que atuam na área
do audiovisual para que eles tenham seus rendimentos
maximizados e recebam seus pagamentos em dia", afirma o
gerente de operações, Fábio Geovane.
Entre as principais atividades, Márcio Ferreira inclui a
análise da programação dos canais abertos e fechados, a
criação de relatórios específicos para controle das execuções
e o armazenamento de áudio dos fonogramas criados para
programação das TVs.
A UBC tem atualmente 17.524 titulares associados nas
diversas categorias (autor, editor, intérprete, músico e
produtor fonográfico), e qualquer um deles pode vir a ter
uma obra usada em um trabalho audiovisual, por isso a
necessidade de um monitoramento constante. Segundo
Geovane, depois da criação do núcleo de TV em maio, o
serviço melhorou, e a quantidade de titulares desse nicho
específico também aumentou, uma vez que o bom serviço
acabou atraindo mais associados.
capa : UBC/13
12/UBC : capa
Foto: Leo Aversa
Turnê, espetáculo infantil,
livro, saraus, composições,
show-homenagem, haicai,
viagens, vida on e off-line:
o mundo de coisas
que move o mundo de
Adriana Calcanhotto
Por Leonardo Lichote, do Rio
Adriana Calcanhotto gosta de acordar com a luz do dia e de
fazer as coisas numa ordem que segue mais a intuição que um
método determinado. Um desejo de estar próxima ao “tempo
da natureza”, como ela define. Mas nada de paisagens serenas
clichê. A natureza de Calcanhotto é a natureza mesmo, real
– incessantemente produtiva, em ebulição sob a capa de
harmonia. Sob a voz tranquila e a conversa leve, a cantora –
que, avessa ao ritmo frenético da internet, escolhe estar mais
off-line do que on-line – sustenta um vulcão. Atualmente,
circula com a turnê “Olhos de Onda”, prepara um show em
homenagem a Lupicínio Rodrigues, estreou sua versão de
“Pedro e o Lobo”, de Prokofiev (um espetáculo que inclui
a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, arranjos de
André Mehmari e canções de Partimpim, persona da artista
dona de uma obra para crianças)... E encontra tempo para
compor. Além disso, cumpre uma agenda de eventos relativa
a dois livros que idealizou e compilou: “Antologia Ilustrada da
Poesia Brasileira: Para Crianças de Qualquer Idade”; e “Haicai
do Brasil”, que lançou na última Festa Literária Internacional
de Paraty (Flip). Soma-se a tudo a ideia de aprender a tocar
violão sete cordas. Natureza selvagem.
Como vai a turnê de “Olhos de Onda”? E como o show e
sua percepção sobre ele mudaram ao longo da estrada?
A turnê vai de vento em popa. É uma delícia fazer esse show,
tenho gostado mais e mais. A turnê vai até março do ano que
vem, acaba em Lisboa, na sala Gulbenkian. Tem uma coisa
interessante nesse show: ele se impôs para ser feito em teatros,
tem uma dinâmica que faz com que não se dê em outro tipo de
local. Perde muito, não imprime o que ele é, se não for assim.
O rádio, o momento do acaso, o que está tocando na hora. Já
fiz muitos shows de voz e violão, em lugares abertos, para 10
mil pessoas – e acontece. Mas esse show não funciona. Ele
tem um habitat natural, o teatro. De todos os shows que fiz,
com pensamentos, intervenções e conceitos teatrais, é o mais
teatral. E se revelou assim para mim ao longo da turnê.
Essa parte do rádio - na qual vocês põem no áudio uma
rádio do local, ao vivo, interferindo no show – deve
gerar uma série de surpresas curiosas, não?
'A graça é não saber o
Muitas vezes acontecem coisas tão incríveis, tão inesperadas,
que nenhuma cabeça poderia inventar. É tão surpreendente
que minha tendência é parar para ouvir aquilo, e eu não
posso, tenho que focar em cantar e tocar. Em Lisboa, tocou
Amália. No camarim a gente comentou que as pessoas devem
ter achado que era uma gravação, uma referência óbvia que
estávamos usando (risos).
Sim, algo como lá vem a brasileira que só conhece
Amália fazer um agrado...
Isso! (risos)
capa : UBC/15
14/UBC : capa
Como está a recepção ao “Haicai do Brasil”?
Por que você exclui o primeiro disco?
O livro foi recebido com um encantamento enorme. Até
pela potência mesmo que o haicai concentra em si, aquela
hipercondensação de poesia. Na verdade, a reação é um
reflexo do que é, de o haicai ser a forma poética mais praticada
no mundo. As pessoas têm adorado o livro, e as perguntas que
elas fazem são de uma pertinência... Você percebe que o haicai
está na vida das pessoas, elas conhecem, não é um assunto
tão distante. Você nota que umas têm ligação com Mário
Quintana, outras, com Millôr, por ele ter estado na imprensa...
Mas o que chama a atenção delas é quando percebem o arco
da história do haicai, de onde ele vem, até essa coisa de não
se saber de onde ele vem ou quem foi o primeiro a fazer, as
diferentes correntes... Tudo mostra que tem uma história
acontecendo, como um poeta influencia o outro. Mesmo eu,
quando fui me deter, me dei conta dessa trajetória muito viva.
Surpreende mesmo. E continuo tendo uma acolhida muito boa
para a antologia (“Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira:
Para Crianças de Qualquer Idade”), que está na segunda
edição, agora completa, com poemas de Manuel Bandeira e
Cecilia Meireles. Tenho sido muito chamada para falar dela.
Aquilo foram circunstâncias, eu realmente não estava
pensando em disco. Estava chegando de Porto Alegre, meu
foco era estar no palco, fazendo performances... Fazia umas
coisas para provocar vaias, eu estava nessa criancice (risos).
E eu não tinha adentrado o mundo do estúdio, aquilo não
passava pela minha cabeça. Mas, ao mesmo tempo, quando
cheguei ao Rio, tinha convite de quatro gravadoras. Não
era o momento de dizer “não quero isso”. Mas também não
tinha o desejo verdadeiro, interno, de fazer um disco. Essa é
a diferença do primeiro para o segundo, quando disse “agora
vou sentar e fazer meu disco”. Apesar de muita gente gostar
desse disco (o primeiro), para mim falta isso, a vontade de fazêlo. Ele tem provocações que eram feitas no palco com muita
ironia, mas que não imprimiram no disco. E teve um corte
também da banda, uma banda que já estava tocando aquele
repertório comigo e que foi dispensada para que entrasse uma
banda profissional.
E “Pedro e o Lobo”? Como foi a experiência com o
encontro de Osesp, Mehmari, canções da Partimpim?
Fiz duas apresentações, 6 e 7 de setembro, na Sala São
Paulo, e depois no POA Em Cena, em Porto Alegre. Foi uma
liga maravilhosa, foi tudo muito mágico, quando juntou
orquestra, arranjos, regente... Fizemos ensaios abertos em São
Paulo antes da estreia, e a cada sessão foi melhorando. Nos
primeiros ensaios eu ficava olhando a sala, depois olhando o
olho das crianças... Perdi várias entradas (risos).
Você viu outras versões de “Pedro e o Lobo”? Como foi
seu olhar sobre a obra?
Não cheguei a ver o que Regina Casé fez na Quinta (da Boa
Vista, no Rio de Janeiro), mas ouvi tudo que pude. Quis
manter o mais próximo do original. Uma das qualidades da
peça, o que a torna uma obra-prima, é que Prokofiev escreve
pouquíssimas frases para contar a história. Isso dá espaço
para a imaginação das crianças. A história não é mirabolante.
Tem o lobo, o herói, a voz da razão que é o vovô, tem o cara
mau. Não sei russo, mas escolhi uma tradução que parece
ser literalmente a do russo para o inglês e passei para o
português. O objetivo de Prokofiev é contar a história, mas
também apresentar a orquestra para as crianças. Isso é o mais
importante.
Você está compondo?
Um pouquinho. Estava compondo mais antes de estar
superdedicada a “Pedro e o Lobo”. Agora ainda não voltei
totalmente porque estou começando a me dedicar a um
concerto que farei no dia 4 de dezembro só sobre Lupicínio
Rodrigues.
Como será esse show?
Montei uma banda para isso, terei a participação de Arthur
Nestrovski. Estou agora na árdua tarefa de tirar canções do
roteiro. Cortar as minhas é mais fácil (risos). É engraçado porque
estou revendo minha relação com Lupicínio, a confirmação
dessa coisa de que Lupicínio para mim sempre existiu. Tive
muitos impactos, com vários compositores, de pensar “meu
Deus, de onde saiu isso?”. Mas com Lupicínio nunca teve isso.
Esses dias, lá em Porto Alegre, me falaram de alguém que
disse que Lupicínio seria nosso Shakespeare, porque está tudo
ali. Fiquei pensando, de certa forma é isso mesmo. E talvez a
sensação de que ele sempre existiu para mim talvez não seja
só por eu ter nascido ali. Talvez sempre tenha existido mesmo,
nesse sentido shakespeareano. Estou pensando o show dessa
forma. Mas é difícil. Porque fiz uma primeira lista obrigatória. E
aí depois fiz uma lista de mais 40 que também são obrigatórias.
Não tem grandes pinçadas a fazer.
Então você está muito voltada para esse show, sem
tempo para compor...
Tem esse lance que o Gilberto Gil fala, que quando você abre
uma canção, quando você sonha em fazer uma canção, você
fica meio refém daquilo. Até que aquilo acabe você precisa
estar à disposição. Fazendo tanta coisa, às vezes eu fecho
essa porta para não me atrapalhar. Antes de “Pedro e o Lobo”
eu estava conseguindo conciliar turnê, os eventos dos livros
e compondo algumas coisas. Estava musicando uns poemas,
brincando com o violão de sete cordas que comprei. Aliás meu
gato o quebrou. Ele faz strike, joga boliche com meus violões,
numa dessas quebrou a cravelha da sétima corda. Mas, como
disse, andei musicando uns poemas, um do Waly, um da Alice
Sant'anna chamado “Rabo de Baleia”. Gosto muito de compor,
ainda mais assim, sem um projeto, sem estar pensando num
disco. Gosto dessa coisa solta, acho o outro jeito, “estou
compondo para o meu disco”, aterrorizante, paralisante.
O que a move para compor?
A vida. Você não sabe o que começa o processo. Você lê uma
frase no jornal, bota o jornal de lado, pega o violão, toca meia
música que existe, e dali sai uma coisa. Estava lembrando do
jeito que foi feita a canção “Olhos de Onda”. Acordei, liguei
o laptop, vi um vídeo daquela banda Tipo Uísque pedindo
patrocínio, grana para fazer o projeto deles. Peguei o violão e
escrevi “Olhos de Onda”, que não tem uma ligação direta com
isso. A graça é não saber o caminho.
Você gosta de falar de suas canções?
Não tenho problema em falar delas, às vezes eu só não sei o
que dizer. O mais importante, que é como uma canção nasce,
não dá para saber. E também não importa saber. Muitas vezes
as pessoas fazem comentários sobre canções minhas que eu
nunca imaginaria. Mas, se está certo ou errado, não sei dizer.
Uma vez, numa entrevista de lançamento do “Senhas”, a
jornalista disse: “Por que você diz numa de suas canções: 'eu
hospedo infratores e bandidos'... Eu respondi: “Não, eu canto
'banidos'”. E ela: “Não, 'bandidos'” (risos).
Como é sua relação com as redes sociais, a internet?
Enjoei da internet, estou mais desconectada do que
conectada. Já andei mais em internet, hoje uso mais como
ferramenta de pesquisa mesmo, das minhas maluquices, dos
meus assuntos. Como essa coisa do haicai, que é muito viva.
Li estudos literários na internet sobre o assunto, por exemplo.
Mas hoje eu desconecto mesmo, fisicamente. Só entro na
internet para olhar algo. Não fico o tempo todo on-line. Porque
existem as duas possibilidades, estar ou não conectado, mas
o mundo conectado vai levando a gente para uma única opção,
que é estar o tempo todo on-line. Para mim talvez seja mais
fácil me desligar porque vivi um tempo em que não se estava
conectado. Isso parecia uma possibilidade maravilhosa que
só meus netos viveriam. Então acho que estou totalmente no
lucro de viver isso também. Mas, por exemplo, não uso mais
relógio. Acho que ficar muito escravo do tempo é ruim. E na
internet você fica escravo dos segundos, se aquilo não baixa
na hora você começa a se frustar. Até tenho redes sociais
no meu celular, mas não olho. Meu celular funciona como
telefone. Estou gostando mais de viver num timing mais
perto do tempo da natureza, fico mais relax. Acordo com a
luz do dia... Quero dizer, não tenho muita escolha, porque a
vida na estrada é o exército, você acorda às 5h da manhã,
essas coisas. Mas a minha preferência é acordar com a luz do
dia, fazer tudo cedo. Tudo que fazia antes vou fazendo mais e
mais cedo, ficando mais e mais diurna. Gosto da luz do dia.
Vou fazendo meus compromissos sem muita ordem, não sou
metódica.
De onde veio essa constatação de que estar off-line
seria bom para você?
Tenho tanto compromisso que, se eu começar a pensar
dessa forma opressora, com esse tempo opressor, não vou
curtir as coisas que eu tenho para fazer. Faço todas essas
coisas ao mesmo tempo porque eu acredito nelas, eu aceito
compromissos porque são coisas bacanas de fazer, que
eu quero fazer dando tudo de mim. Acho que me manter
desconectada, com um tempo mais artístico, mais elástico,
me deixa mais feliz.
Você tem um álbum favorito?
Não. Acho que, excetuando o primeiro, que é um disco que
não tive muita vontade de fazer, eu tive uns desejos para cada
um dos álbuns, e a sensação que tenho é que dei tudo de mim
neles. Entre acertos e erros, tenho a sensação de que fiz tudo
que queria ter feito ali. Nunca penso “putz, devia ter dado mais
de mim”. Entrevistei o Arnaldo Antunes dia desses, e ele me
disse isso mesmo: “uma vez que as canções, os discos estão
no mundo, não tenho o menor interesse no que será feito, as
coisas são reeditadas, e não tenho a menor vontade de olhar
para trás, corrigir nada”. Tenho essa sensação também. Logo
que uma canção minha sai, aquilo para mim está no mundo,
já não me pertence. Se estou no palco vendo um set list de
canções, e tem uma do Chico, outra do Caetano, uma minha,
aquilo é uma lista de canções. Não faz diferença ser minha.
Mas você ouve seus discos?
Não ouço mesmo. Para que ouvir, se posso ouvir coisas novas?
O que chama sua atenção nas coisas novas?
Me interessa sempre o que está acontecendo. Mas não estou
atualizada, até pelo volume de trabalhos. Tenho gostado de
ver uma movimentação no funk, tentativas do funk de chegar
mais perto da poesia. Tem uma menina que ouvi há uns anos,
lendo “O Fingidor” (“Autopsicografia”), do Fernando Pessoa,
sobre um batidão. Esse rumo é interessante. Adorei o disco
novo do Gil (“Gilbertos Samba”, sobre repertório de João
Gilberto). Aí dizem: “Mas é imitando João Gilberto...”. É, sim,
mas qual o problema? (risos)
E o terceiro disco de sua trilogia marinha, depois de
“Maritmo” e “Maré”? Vai sair?
Ele existe. Se eu vou fazer ou não, é outra história... Agora
vou continuar com a turnê “Olhos de Onda”. E não vou deixar
de me dedicar a “Pedro e o Lobo”. Em fevereiro vou fazer o
espetáculo na Sala Gulbenkian, em Lisboa. E é possível que
faça no Rio em outubro, talvez em dezembro. É um projeto de
que estou gostando muito, devo fazer quando as orquestras me
chamarem. Em três dias de outubro de 2015 faremos de novo
na Sala São Paulo, provavelmente registrando. De composição,
tem umas duas músicas nas quais estou trabalhando, umas
duas ou três que mandei para a Gal (a cantora está escolhendo
repertório de seu novo disco). Esses poemas musicados estão
comigo, um do Waly, um da Alice e um do Omar (Salomão).
Fiz também o sarau com a Dona Cleo (Cleonice Berardinelli)
no Real Gabinete Português (no Rio), só lendo Mário de SáCarneiro. Já tinha musicado algumas coisas dele, Dona Cleo
pediu para musicar outras... Foi maravilhoso. E ainda tem o
show de Lupicínio, a turnê de “Olhos de Onda”, a turnê dos
livros... É bastante.
distribuição : UBC/17
16/UBC : distribuição
Plataformas
sssssssdigitais
desafios bem palpáveis
Serviços on-line representam
novos canais de distribuição
de música, mas ainda
precisam aperfeiçoar o
modelo de negócio e as
relações com os criadores
Diretora-executiva da União Brasileira de Compositores
(UBC), Marisa Gandelman afirma que essa dinâmica traz uma
série de desafios à arrecadação para artistas e compositores:
“No caso dos serviços que ofertam a opção de streaming,
por exemplo, a situação é mais complicada, já que você tem
práticas que se misturam, o que exige uma complexa estrutura
de arrecadação. Além disso, em razão do expressivo número
de meios de difusão e oferta de música, há um processo de
banalização do valor de troca da música, o que não é bom”.
Por Thiago Jansen, do Rio
Um evento ocorrido em setembro passado em Genebra, na
Suíça, ilustra bem o que ela diz. Paralelamente à Assembleia
Geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI), agência da ONU encarregada de desenvolver políticas
e leis de copyright, um grupo de artistas e especialistas
expôs com clareza o mal-estar em torno das relações entre
plataformas digitais e autores. Convocado pela Confederação
Internacional das Sociedades de Autores e Compositores
(Cisac), o Painel dos Criadores foi marcado por discursos
contundentes como o do compositor canadense Eddie
Schwartz, que comparou sua remuneração atual com a que
obtinha em tempos pré-digitais. “Antes, as vendas de um
milhão de discos de uma vez se traduziriam numa renda
modesta de classe média e um disco de platina. Mas o extrato
das minhas vendas digitais hoje mostra que, para cada milhão
de streamings, eu recebo US$ 35. Meu status de classe média
foi reduzido a uma pizza”, afirmou, antes de ser ovacionado.
A revolução tecnológica das últimas décadas vem adicionando
elementos inéditos às dinâmicas de consumo de canções
e remuneração dos artistas por suas obras. Mas, se o bolo
digital não para de crescer, a distribuição dos seus pedaços
entre os criadores ainda carece de uma lógica mais justa.
Internacionalmente, um clamor por um modelo de negócio
que remunere melhor os autores ganha cada vez mais vozes
No Brasil, desde o início da década de 2000 já operam, de
modo mais ou menos regular, sites de compartilhamento de
canções, mas a legalização só ganhou ímpeto uma década
depois, com a chegada de serviços de streaming de áudio,
como Rdio, e de lojas virtuais como a iTunes Store, da Apple,
entre diversos outros que se seguiram a eles, como Deezer,
Spotify e Google Play. Essas plataformas, a olhos leigos,
parecem todas iguais, mas, na verdade, têm conceitos bem
diferentes. Algumas são lojas on-line, que vendem canções
e álbuns no formato eletrônico e permitem ao usuário fazer
a descarga permanente dos fonogramas em seu dispositivo
(um computador, um tocador de arquivos MP3, um tablet).
Já os serviços de streaming possibilitam ao público, por
meio do pagamento de assinaturas, ouvir as canções on-line
e até mesmo armazená-las temporariamente, sem baixá-las
definitivamente.
Ainda que difiram, todas elas estão submetidas às mesmas
regras de direito autoral, determinadas pela Lei 9.610/98,
que estabelece os conceitos de reprodução/distribuição
(fonomecânicos) e de execução pública. No entanto, se, antes
da internet, as situações referentes a cada um desses direitos
eram mais explícitas, no atual contexto esses conceitos muitas
vezes se mesclam – descargas e simples reprodução podem
ser feitas eventualmente pelos mesmos canais. A questão
é importante porque tem impacto na estrutura necessária
para a arrecadação desses direitos junto aos serviços: no
caso das execuções públicas, ela é realizada pelo Escritório
Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad); já no direito de
reprodução/distribuição, a cobrança é feita diretamente pelos
titulares desse direito, individualmente, ou em conjunto.
“Antes, as vendas de um milhão de discos
de uma vez se traduziriam numa renda
modesta de classe média e um disco de
platina. Mas o extrato das minhas vendas
digitais hoje mostra que, para cada milhão de
'streamings', eu recebo US$ 35. Meu status
de classe média foi reduzido a uma pizza”
Eddie Schwartz, compositor
O presidente da Cisac, o músico francês Jean Michel
Jarre, deixou claro que não se trata de uma guerra entre
criadores e a indústria digital. Ele convidou legisladores a
aprimorar regulamentações mundo afora de modo a garantir
pagamentos justos e reafirmou a grande oportunidade que
esta era proporciona aos artistas. “Deixem-me dizer em alto
e bom som: nós somos pró-tecnologia. Apoiamos a tecnologia
e não temos qualquer problema com ela. Mas precisamos
de modelos de negócio sustentáveis, que façam sentido
para ambas as partes. Esses serviços devem considerar
o valor intrínseco das obras criativas e se basear em uma
remuneração justa ao criadores. Estamos no centro da
economia digital, e são nossas obras que geram receita para
os serviços. Sendo assim, seria demais exigir que tenhamos
uma justa participação nesse negócio?”
Cálculos da rede britânica BBC estimaram, em 2013, em meio
centavo de dólar o valor que renderá cada stream realizado
num serviço como o Spotify. Isso quer dizer que, no melhor
dos casos – ou seja, com uma gravadora independente por trás
do artista em questão –, este ficará como algo como 50% do
valor. No caso de uma major, o valor pode ser de exíguos 15%.
Ou seja, a difícil quantidade de um milhão de reproduções
(que poucos alcançam) daria a esse hipotético contratado
de uma grande gravadora uns US$ 750 – um pouco mais
do que o canadense Eddie Schwartz calculou no painel da
Cisac, mas bem menos do que qualquer um consideraria uma
arrecadação digna.
Os serviços se defendem e afirmam que a remuneração é
estabelecida “em contrato”. E é precisamente essa a questão:
muitas vezes os artistas são a parte menos forte nesse cabo
de guerra. Diante de uma disputa claramente mais candente,
as plataformas digitais e as entidades de gestão coletiva
vêm tentando realizar acordos para adaptar os conceitos
convencionais às novas dinâmicas. Serviços como o YouTube
e o Vevo, por exemplo, deveriam pagar tanto os direitos de
reprodução como os de execução pública. No entanto, o
consenso nem sempre é alcançado nessas negociações,
gerando impasses que servem como justificativa para que
não se paguem os direitos das músicas, das gravações e dos
vídeos oferecidos.
“O interessante é que, com esses serviços,
qualquer artista tem condições de distribuir o
seu trabalho de forma remunerada para além
do público local, no mundo inteiro"
Dudu de Morro Agudo, compositor
Em lojas digitais como a iTunes Store, o pagamento dos
direitos é feito ao produtor fonográfico, que repassa a parte
do intérprete, ou ao agregador digital (especializado na
distribuição de conteúdo para as lojas virtuais), aos editores
das música ou aos órgãos que representam os direitos
fonomecânicos, como é o caso da UBC, que, por sua vez,
distribuem os devidos valores aos autores das músicas
gravadas e vendidas. Já nas plataformas de streaming,
convencionou-se a cobrança de um percentual referente à
execução pública e outro aos direitos fonomecânicos e do
autor. Ambas as cobranças são calculadas sobre a quantidade
de execuções das obras nos serviços e sobre a renda oriunda
de publicidade e assinaturas.
“No Rdio, sobre a nossa receita líquida vinda das assinaturas
existe um percentual destinado aos royalties negociado
previamente com as gravadoras e editoras, que recebem os
valores proporcionalmente ao número de execuções aplicado
no total da receita do serviço. Consideramos uma execução
quando a música toca mais de 45 segundos”, afirma Bruno
Vieira, diretor do serviço no Brasil.
Diretor geral do Spotify para a América Latina, Gustavo
Diament explica que a sua plataforma também não tem
contato direto com os artistas, apenas com as gravadoras
e distribuidoras, bem como com as editoras e com as
sociedades de gestão coletiva. No serviço, o valor dos royalties
a serem pagos também é estabelecido de forma proporcional à
quantidade de reproduções dos artistas. “Cerca de 70% de toda
a receita do Spotify com taxas de publicidade e assinaturas são
revertidos para os detentores de direitos: artistas, gravadoras,
editoras e sociedades de direitos”, alega Diament.
O lado positivo dos serviços é destacado por alguns artistas.
Músico independente há 20 anos, o rapper Dudu de Morro
Agudo admite que essas plataformas vêm proporcionando
a artistas como ele acesso a uma audiência global. “O
interessante é que, com esses serviços, qualquer artista tem
condições de distribuir o seu trabalho de forma remunerada
para além do público local, no mundo inteiro. É algo que dá
oportunidades a artistas independentes, e não só aos de
grandes gravadoras”, elogia.
Mesmo que o mercado venha, em geral, conseguindo adaptar
a operação dos novos serviços digitais no país à atual lei de
direitos autorais, aprimoramentos na legislação poderiam
beneficiar a estrutura de cobrança e distribuição de direitos. A
solução definitiva para os impasses, porém, está nas relações
de mercado, ou seja, entre os provedores de conteúdo digital e
os criadores e demais titulares de direitos autorais de música.
É o que afirma Marisa Gandelman, da UBC: “É importante ter
em mente que a resposta para os conflitos não virá de uma
mudança da lei, mas do próprio mercado. No entanto, é válido
reconhecer que um aprimoramento na legislação poderia,
sim, criar novas estruturas e mecanismos que facilitem a
arrecadação dos direitos de uma forma mais barata e menos
burocrática, a partir do reconhecimento do processamento
conjunto de tipos de direitos diferentes.”
Presidente da União Brasileira de Editores de Música (Ubem),
Marcelo Falcão faz coro: “Precisamos de aprimoramento, não
de revolução normativa. A fórmula ideal seria um refinamento
do que já temos e que serviria para ratificar entendimentos
e direitos.”
UBC: dupla atuação para dar
mais força aos autores
Atenta à chegada maciça dos serviços de música on-line
ao país e à necessidade permanente da distribuição dos
rendimentos dos direitos dos compositores, a UBC se adapta.
Parte do colegiado que integra o Ecad, a UBC trabalha há
72 anos com a arrecadação de direitos relativos à execução
pública e, desde 2010, com aqueles relativos aos direitos
fonomecânicos. Com essa atuação dupla, a associação
tem conseguido se colocar em uma melhor posição para
estabelecer acordos com os novos serviços digitais.
Atualmente, a associação administra contratos com os
principais serviços do mercado digital, como Rdio, Spotify,
Deezer e iTunes. Além disso, desenvolveu a tecnologia
necessária para analisar os dados dos relatórios de venda
desses serviços, identificar seus repertórios e emitir as
cobranças devidas de forma prática e ágil.
Tendo contribuído para a elaboração da atual Lei de Direitos
Autorais, outorgada em 19 de fevereiro de 1998, a UBC também
acompanha de perto as iniciativas de revisão da legislação
e participa das discussões sobre o tema com o objetivo de
proteger os interesses dos seus associados.
homenagem : UBC/19
18/UBC : Homenagem
Foto: Daniel Pinheiro
sem nostalgia, mas com muita história
Compositor, escritor,
produtor, crítico e
jornalista faz 70 anos e
dá de presente ao público
um disco, um livro e um
novo espetáculo
Por Guilherme Scarpa, do Rio
Nelson Motta fez 70 anos em outubro. E não quer nem saber
do papo de saudades “daquele tempo”. “Tenho horror de
nostalgia, talvez porque tenha vivido intensamente cada fase
de minha vida. Não há nada que envelheça mais corpo e alma
do que isso (apego ao passado)”, define o mestre, um craque
nas onze que acumula funções de compositor, produtor
musical, escritor, apresentador, jornalista... Múltiplo, inquieto,
está às voltas com o lançamento de um novo livro (de crônicas
antigas), de um espetáculo sobre Wilson Simonal e do álbum
“Nelson 70”, no qual reúne sucessos que compôs ao lado dos
amigos e parceiros Rita Lee, Lulu Santos, Marisa Monte e
Djavan, nas últimas quatro décadas, e que o obrigam, aí, sim,
a dar um passeio (rápido e sem nostalgia) pelo passado.
“São 14 canções em novas gravações”, ele se apressa em
explicar. Para cantar “Perigosa”, parceria sua com Rita Lee e
Roberto de Carvalho e hit das Frenéticas, Nelsinho – como é
chamado pelos amigos – convidou Ana Cañas; “Dancin' Days”,
tema da novela homônima, ficará com Gaby Amarantos; quem
vai cantar “De repente, Califórnia”, uma das muitas canções
feitas com Lulu Santos, é Céu. Só gente boa e cheia de frescor.
Dos parceiros todos com quem já trabalhou, Nelson nem tenta
esconder sua predileção por Lulu. “Fazer música com ele era
uma delícia. O cara sempre tinha algo novo para mostrar e
parecia ter encontrado um formato perfeito para a sua forma
de compor. O primeiro grande sucesso foi um bolero, com
um tempero havaiano, produzido por Liminha e chamado
'Como Uma Onda'. Lulu e Scarlet (Moon de Chevalier,
falecida companheira de vida do cantor e compositor carioca)
adoraram, era puro pop. Mas, depois de pronta, achei que a
letra poderia parecer meio metida a filosófica e pretensiosa e
acrescentei o subtítulo 'Zen-surfismo', quase como uma piada
com a própria letra. Como dizia Rita Lee, e sempre acreditei:
'Brinque de ser sério, leve a sério a brincadeira'”, conta.
Associado à UBC, que representa suas dezenas de canções,
Nelson se diz mais tranquilo com os rumos da arrecadação e
da distribuição de direitos autorais. “Estamos avançando na
direção de cada vez mais transparência da administração e
de eficiência nesse sentido. Houve uma boa melhora, com a
ampla discussão pública do papel, dos métodos e da atuação
do Ecad”, descreve o multiartista, para quem o aprimoramento
da atuação das entidades só tende a beneficiar o mercado e os
criadores.
No campo da literatura, onde tem militado com mais
desenvoltura nos últimos anos, apesar de se dizer um
aficionado por ficção, Nelson vai resgatar seu lado jornalístico
no livro que está terminando de escrever. “São 30 crônicas
escritas, agora costuradas por notas e outras histórias de
colunas que publiquei na imprensa desde 1966. O resultado
são 50 anos de intimidade com a música e a cultura brasileiras,
narrados por um repórter cuja história se mistura com a de
suas reportagens”, ele define.
Nelson sabe o que diz. Nas últimas cinco décadas, o produtor e
escritor esteve dentro e fora de muitas histórias emblemáticas
da música, do teatro e da televisão. Ele se envolveu com Elis
Regina, foi “brother” de Tim Maia, teve duas filhas (Esperança
e Nina) com a atriz Marília Pêra e é o grande responsável
pelo descobrimento de Marisa Monte, há 25 anos: “Era uma
profecia fácil, bastava conhecer um pouco de música e ter
alguma experiência, porque era evidente o talento da Marisa.
Tinha certeza, desde o início, de que ela também seria muito
forte internacionalmente”, conta Nelsinho, que ganhou um
presente dela para o álbum “Nelson 70”.
“Produzi seu primeiro disco, ela se tornou uma ótima
compositora e uma grande estrela no Brasil e no exterior, e
ficamos amigos para sempre. Agora, 25 anos depois, ela me
ofereceu uma linda melodia, em parceria com César Mendes,
que remete a clássicos da música brasileira dos anos 40 e de
sempre, e fizemos juntos uma letra sobre a fugacidade dos
mistérios, das certezas e do tempo”.
“Fazer música com Lulu Santos era uma delícia. O cara sempre
tinha algo novo para mostrar e parecia ter encontrado um
formato perfeito para a sua forma de compor.”
agenda : UBC/21
20/UBC : Homenagem
No
batidão da
informação
“Sinto falta do Tim Maia pelo
seu humor, pela sua liberdade
transgressora, sua inteligência
politicamente incorreta,
sua alegria musical...”
Já quanto a Elis, que ele conhecia intimamente, é difícil
arriscar o que estaria cantando hoje, se fosse viva. “Se ela
não sabia dizer o que cantaria na semana seguinte de um
show, quem sou eu para um atrevimento desses?”, divertese ele, que escreveu, com Patricia Andrade, o espetáculo
“Elis, a Musical”, ajudou a garimpar a talentosa Laila Garin,
intérprete da Pimentinha no teatro, e agora a cantou para
cantar “Noturno Carioca”, música que fez com Erasmo Carlos.
Elis Regina
Encontro de artistas do funk com a diretoria
da UBC em BH ajuda a esclarecer questões de
arrecadação e distribuição relativas a um gênero
que tem crescido sensivelmente em Minas
De quem ele mais sente saudades é de Tim Maia, e esse
sentimento se traduziu no grande sucesso “Vale Tudo,
o Musical”, espetáculo também escrito por Nelson e
responsável por revelar outro grande talento dos palcos e das
telas nacionais, o ator e cantor Tiago Abravanel. “Sinto falta
do Tim pelo seu humor, pela sua liberdade transgressora, sua
inteligência politicamente incorreta, sua alegria musical...
Hoje todo artista parece que trabalha para sustentar o seu
trabalho social”, alfineta.
Ainda assim, Nelson discorda de quem acha que a MPB
esteja pobre. “Acho que há muito barulho, o que dificulta a
descoberta de boas músicas. Mas sempre foi assim, só uma
parcela mínima é aproveitável e se torna parte da vida das
pessoas, da cultura do país”, o mestre analisa.
De Belo Horizonte
Lulu Santos
Ele revela que tem tido preguiça dos grandes ídolos do
momento. “Atualmente, a música popular de massa não me
interessa. Acho que há muitos artistas novos bons, como
Criolo, Emicida e João Cavalcanti, e muitos de outras gerações
que continuam produzindo com alta qualidade, como Chico
(Buarque) e Caetano (Veloso)”.
Entre as muitas funções que desempenha, Nelson Motta,
que estreia até o fim do ano um novo espetáculo, agora sobre
a vida e a obra de Wilson Simonal, prefere mesmo seu lado
literário hoje em dia. “De tudo que faço, aquilo de que mais
gosto é escrever. Sozinho, em casa, tranquilo, com tempo para
reescrever muitas vezes. De preferência, ficção”, diz o autor de
nove livros que celebra sete décadas de uma existência com o
que tem de melhor: sua obra profícua.
MPB, rock, samba, sertanejo, eletrônica, funk... A diversidade
da cena musical da capital mineira, não é novidade, é uma
das mais ricas do país. Mas isso nem sempre se traduz num
movimento artístico unido e forte. Essa é a opinião de MC
Jefinho, um dos expoentes do funk em BH, 16 anos de carreira
e sete de dedicação exclusiva ao estilo mais comumente ligado
ao subúrbio do Rio, mas que também faz barulho e sucesso nas
terras mineiras. Ele foi um dos participantes da turma funkeira
no primeiro encontro de um segmento musical específico com a
diretoria regional da UBC em Minas, evento ocorrido no último
dia 23 de setembro que serviu como uma verdadeira oficina de
direitos autorais para cerca de quinze representantes do estilo.
Também estiveram presentes os compositores e diretores da
UBC Sandra de Sá e Geraldo Vianna, o compositor e membro
do Conselho Fiscal Manno Góes, além do gerente de operações
da associação, Fábio Geovane.
“Infelizmente, a música mineira é, muitas vezes, marcada
por um certo 'cada um por si'. Por isso foi importante
reunir uma galera aqui para conhecer e tirar dúvidas sobre
aspectos técnicos da gestão coletiva. Eu já tinha um certo
conhecimento na área, mas teve muita gente que ouviu falar
dos seus direitos e deveres pela primeira vez”, disse Jefinho.
Scarlet Moon
Jovens artistas do funk tiveram a oportunidade de aprender
sobre as regras de arrecadação e distribuição, como cadastrar
um repertório, as diferenças entre obra e fonograma,
bem como diversas outras questões fundamentais para
o entendimento do sistema de gestão coletiva de direitos
autorais. As particularidades do universo funkeiro foi o ponto
principal do encontro. Por exemplo, a gerência local explicou
como os bailes-funk são classificados na distribuição dos
rendimentos.
“Discutimos longamente sobre a natureza desses eventos
aqui em Minas. Chegamos à conclusão de que a melhor
classificação para eles é na rubrica casas de diversão. São
festas que têm uma especificidade. De qualquer forma, vamos
fazer um levantamento completo dos bailes que ocorrem aqui
em BH para bater o martelo sobre o tipo de distribuição que
terão”, contou Daniela Sousa, gerente regional da UBC em
Tim Maia
Gaby Amarantos
Roberto Carlos e Caetano Veloso
Minas. “Falamos também da periodicidade dos pagamentos,
das diferenças entre direito autoral e direito conexo... Foi
um roteiro básico e produtivo. Acho que eles começaram a
entender o funcionamento da gestão coletiva agora.”
A monetização em sites como o YouTube, por exemplo, muito
usado pela turma do funk, foi motivo de longo papo durante o
evento. “As mídias digitais são um grande meio de difusão do
funk, trata-se de característica inerente à cena. Eles quiseram
saber como aumentar os valores recebidos por esse meio”,
lembrou Daniela. Foi esclarecido que o YouTube não realiza
o pagamento de direitos autorais de execução pública desde
o início de 2013. Um novo acordo para o pagamento desses
direitos está em discussão com a empresa.
Jefinho afirmou que, depois do que ouviu no encontro,
passou a ficar mais atento à execução das suas músicas na
rede. “Procuro atirar para vários lados, ficar ligado onde as
coisas estão. Até há pouco tempo, eu tinha 22 milhões de
visualizações de músicas minhas cantadas por outros artistas
no YouTube, mas não ganhei nada. Agora estou ligado para
cobrar soluções, ficar de olho. Já sei como fazer.”
De acordo com Daniela, outros encontros vão se desenrolar ao
longo de 2015 no escritório mineiro da UBC, a fim de resolver
dúvidas específicas de artistas de diferentes estilos musicais.
Os próximos deverão ser MPB e rock. “Já havíamos feito outros
encontros, outros seminários antes, reunindo artistas da UBC,
mas sempre de forma mais ampla. Iremos informar, debater
e buscar uma maior aproximação da diretoria com toda a
classe. O funk foi escolhido para abrir esse novo modelo
porque nos últimos anos, junto com o sertanejo universitário,
tem se destacado demais por aqui. Além disso, temos artistas
importantes no gênero se projetando até para fora de Minas”,
explicou a gerente da nossa associação em Belo Horizonte.
“Só pelo conhecimento vamos conseguir nos profissionalizar
ainda mais e fortalecer todo mundo”, pregou Jefinho. “Fui um
dos primeiros da minha geração aqui em BH a me interessar
por direitos autorais e me filiar à UBC. É valoroso demais você
ter sua obra protegida. Sou um cara que gosta demais do
trabalho da UBC”, concluiu.
Como foram arrecadados e
distribuídos os rendimentos
de direitos autorais
da Copa do Mundo?
Foto: Eric Nepomuceno
22/UBC : serviço
Guto Goffi, baterista do Barão Vermelho (Rio de Janeiro)
Ariano Suassuna (1927-2014)
REVISTA UBC:
Em junho de 2014, o Brasil recebeu um dos maiores eventos
esportivos do planeta, a Copa do Mundo de Futebol. Na
ocasião, foram arrecadados R$ 7.468.366,68 de direitos de
execução pública musical nos estádios, Fifa Fan Fests, Tour
da Taça do Mundo e demais eventos relacionados ao mundial
realizados no período da Copa.
Veja abaixo detalhes da arrecadação:
Fifa Fan Fests (RJ, SP, MG, PR, MT): R$ 1.105.245,00
Shows e sonorização ambiental dos eventos. As prefeituras
que organizaram o evento nas cidades de Fortaleza, Porto
Alegre, Manaus, Salvador, Recife, Brasília e Natal estão
inadimplentes e já foram acionadas judicialmente para que
realizem o pagamento de direitos autorais de execução
pública musical.
Estádios: R$ 3.650.000,00
Shows de abertura e encerramento do mundial e sonorização
ambiental dos estádios nos dias de jogos.
Tour da Taça: R$ 222.657,64
Sonorização ambiental do evento de exposição do Troféu da
Copa do Mundo realizado em 27 capitais do país. No caso
de Rio de Janeiro e São Paulo, os valores incluem os shows
realizados nesses eventos.
Demais eventos: R$ 2.490.464,04
Eventos relacionados à copa que não foram promovidos pelos
organizadores oficiais da Copa do Mundo.
Em setembro, foi realizada a distribuição de parte dos
valores arrecadados. Foram distribuídos R$ 3.898.745,89
destinados a 4.795 titulares de música. As execuções de
shows foram distribuídas de forma direta, e as execuções
de sonorização ambiental desses eventos, de forma indireta.
Do total arrecadado, 22,5% são cobrados pela gestão coletiva
dos direitos autorais e destinados ao Ecad (15,61%) e às
associações (6,89%, a UBC cobra 5,89%) para o custo de suas
despesas. Os valores restantes destinados aos titulares que
não foram pagos ainda aguardam as informações necessárias
para que seja efetuado o pagamento.
João Ubaldo Ribeiro (1941-2014)
Alexandre Pessoal (1975-2014)
Para uma associação feita de gente, perder um só integrante
é motivo de grande tristeza. Imagine ter que dizer adeus a
tantos bambas. Na última edição de 2014, a UBC relembra
alguns dos associados mais ilustres que se foram, na certeza
de que a sua arte vai continuar a nos encantar para sempre.
Ariano Suassuna
João Ubaldo Ribeiro
alexandre pessoal
Nonato Buzar
Virgínia Lane
Paulo Idelfonso
Neuza Teixeira
Zé Menezes
10 mil
fãs!
A página da UBC no Facebook chegou a uma marca especial. Lá, nossos seguidores ficam por
dentro das notícias sobre direitos autorais, conferem novidades dos artistas que fazem parte da
nossa associação, tiram dúvidas e acompanham o calendário de pagamentos.
Conecte-se conosco também!
/UBCMusica
Download