REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA De COMPOSITORES #22 / novembro 2014 + Artistas pedem melhor remuneração para 'streamings' e vendas on-line + Nelson Motta, 70 anos de boas histórias + Funk BH, Suricato, Guidi Ferreira, Pinocchio, Adriano Cintra cantado O mundo de Adriana Calcanhotto Em turnê com 'Olhos de onda', ela prepara show de músicas de Lupicínio, faz peça infantil com orquestra sinfônica e dá um mergulho ainda mais fundo na poesia Sua voz é música para os nossos ouvidos THALLES ROBERTO REVISTA DA UNIÃO BRASILEIRA De COMPOSITORES #22 : novembro 2014 Editorial Ve a e a mu he de ve dade O B as pe deu Ve a B an no d a 14 de se emb o B as a e os b as e os ma s hon ados a cu u a e a be dade a n e gênc a e a am zade pe de am Ve a B an F ca am sem pa nem mãe A UBC e os au o es b as e os pe de am a pessoa que ab a sua casa sua mesa seus a e os pa a a e c dade ge a Os d e os au o a s mu o devem a e a A Ouv dor a da UBC é o cana entre você e a d retor a para o env o de rec amações e og os e sugestões Não de xe de d zer o que pensa sobre os nossos serv ços nós sempre queremos ouv r você Não se o que se á de nós sem Ve a Segu mos pensando ne a Que e a con nue um nando os nossos cam nhos CANTADO O MUNDO D ADR ANA A ANHO O www.ubc.org.br/ouvidoria NOTÍCIAS : UBC/5 NOTÍCIAS : UBC/7 6/UBC : NOTÍCIAS GUIDI VIEIRA: VOZ, GUITARRA E 'TEMPEROS' DUDU PARA TODA OBRA Produtor envolvido no reality para bandas “Breakout Brasil”, do Canal Sony, Dudu Marote acaba de lançar seu selo de música eletrônica, o Ganzá. Promete investir em novos músicos e fazer uma curadora da imensa produção escoada na internet. A primeira playlist do Ganzá está no Soundcloud (soundcloud. com/ganzarecords). “O selo foi desenvolvido para ser um catalisador daquilo que tem surgido de mais interessante na música eletrônica nacional. A ideia é trabalhar com um conceito bem aberto e lançar desde coisas que beiram o pop eletrônico até paradas bem cabeçudas, passando por future beats, techno, electro, house e o que de mais bacana e representativo estiver brotando por aí”, explicou Marote, que também assina a produção de diferentes bandas, como as mineiras Jota Quest, Pato Fu e Skank. Com financiamento coletivo, a ex-vocalista da banda de rock Pic-Nic, Guidi Vieira, lança seu primeiro CD, “Temperos”. E o nome não é gratuito. São nove faixas inéditas de compositores como Sandro Dornelles e Luís Pimentel ("Debute" e "Três Meninos") e Arildo de Souza ("Pronta Entrega"), além de uma regravação de “Tigresa”, de Caetano Veloso. Com desenvoltura, Guidi passeia por blues, baladas, xotes, sambas. A produção é de Daniel Medeiros, do Fino Coletivo. Com o Pic-Nic, que se desfez em 2007, a cantora, compositora e guitarrista havia gravado dois CDs demo. Ela também participou de CDs de artistas como Carlinhos Vergueiro, Amin Nunes e Doces Cariocas e ainda é backing vocal de Alvinho Lancellotti. Iniciado em 2012, “Temperos” contou com importantes instrumentistas, como o baterista Jurim Moreira e o acordeonista Chico Chagas. O material foi masterizado por Ricardo Garcia. SURICATO, BANDA QUE ESTOUROU EM 'REALITY' MUSICAL LANÇA DISCO E PREGA: 'FELICIDADE SÓ SERVE SE PUDER SER COMPARTILHADA' outro lado, vejo muitos artistas tomando a postura de colocar seu trabalho como uma “iguaria rara”, selecionando as pessoas que possivelmente o entenderão. É tudo o que Suricato não pretende fazer. Música não serve para ser entendida, mas sentida. Misturar os públicos é uma boa diretriz. Por que fãs de axé não podem gostar de ouvir blues? Por Bruno Calixto, do Rio Misturar as coisas sem critério nenhum é uma característica do brasileiro. Nesse sentido somos o povo mais estrogonofe com feijão do mundo, e isso é lindo. A lista de instrumentos tende a aumentar, mas podemos incluir o didjeridu (instrumento aborígene australiano), a tábua de lavar roupa e a mala-bumbo como os mais incomumente usados por bandas daqui. Você prega a desmitificação da música. O que isso quer dizer? Sou contra a monocultura. Somos o país da diversidade, e é um desperdício de civilidade artistas novos não terem espaço e ficarem em guetos. O novo pode ser rentável e atrativo. Por Dois anos depois de o primeiro disco chegar às prateleiras (em vinil, na França), os pernambucanos do Café Preto já se preparam para o próximo, um trabalho independente produzido por seus três integrantes: os músicos Cannibal e PI-R e o DJ e produtor Bruno Pedrosa. A ideia é explorar as virtualmente inesgotáveis sonoridades do dub e do ragga que vão beber na fonte do reggae roots jamaicano. “Além de lançar o disco em vinil, estamos preparando a gravação de mais um clipe do primeiro CD”, revela Cannibal, à frente dos vocais. Quatro compactos de vinil ajudaram a espalhar as oito faixas do primeiro trabalho, “Café Preto”, assinadas por Mau, Yellow P e Victor Rice. O projeto de estreia ficou marcado pelo lançamento do clipe da música “Dandara”, em agosto de 2013, que você pode conferir em cafepreto.mus.br. A Suricato é conhecida por utilizar instrumentos nada comuns. Qual é o resultado? O novo álbum é 100% autoral. De que tratam as composições? Assino quase todas as composições sozinho, exceto uma canção com Dudu Falcão e Moska e a minha primeira canção com o Gui Schwab (guitarrista da banda). Sobre as letras, diria que são quase autobiográficas, mas com leveza, sem transformar tudo numa sessão de análise. É um disco sobre amor. O produtor, compositor e instrumentista Adriano Cintra rodou o mundo, foi de mala e cuia para Londres, voltou para São Paulo, tornou a viajar e a voltar... Além do passaporte supercarimbado, trouxe ainda mais agudo seu espírito de provocação, inovação. Em carreira solo depois de um período breve no projeto Madrid, o cofundador do fenômeno Cansei de Ser Sexy – uma das bandas brasileiras de rock eletrônico mais prestigiadas no exterior – lança o primeiro álbum “Animal”, que, com a pegada internacional de sempre e canções em inglês, traz a inconfundível verve irreverente de Adriano na faixa “Duda”, parceira com a cantora paraense Gaby Amarantos, e na canção-título, composta por ele e pelo músico paulistano Marcelo Segreto, membro da intrigante Filarmônica de Pasárgada. Psicodelia sessentista, efeitos visuais oitentistas, sonoridades da próxima década: o passeio temporal que ele imprime torna “Animal” uma gostosa máquina do tempo que faz qualquer um viajar. E voltar. E tornar a viajar... Com o disco nas mãos, quais são os planos? Logo que eu saí do CSS, gravei dois discos com minha outra banda, a Madrid. Em dois anos fomos tocar duas vezes na Europa e fizemos muitos shows pelo Brasil. E daí a Marina (Vello, parceira dele no projeto) se mudou para Paris, o que colocou a banda de férias forçadas. Nunca paro de compor. Quando vi, tinha um disco inteiro em inglês. Tem Romulo Fróes novo na praça. Com distribuição do selo YB, “Barulho Feio” (disponível para download gratuito em romulofroes.com.br) sucede a “Um Labirinto em Cada Pé” (2011) e deleita, de novo, com o som sofisticado do músico paulistano, um dos grandes da sua geração. A faixa “Ó” é mais uma atraente parceria com o multiartista Nuno Ramos, frequente nas bolachas de Romulo. São 15 faixas produzidas por Marcelo Cabral e Guilherme Held. Entre os encontros musicais que se celebram na obra, chamam atenção as participações do saxofonista Thiago França, da cantora Juçara Marçal e dos músicos Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, com quem Fróes formou o Passo Torto, já com dois discos e muitos shows. Há um ano, "Calado", primeiro disco do compositor, ganhou uma edição em vinil, comemorativa de seus dez anos de lançamento, e "Passo Elétrico", segundo álbum do grupo, levou o Prêmio da Música Brasileira na categoria melhor álbum de rock-pop. Louros óbvios colhidos por uma carreira que faz barulho do jeito certo. “Dez anos atrás, eu tinha o desejo básico de todo artista, que era fazer sucesso, ser parte da MPB que todos comentam. Fomos entendendo que talvez não fôssemos capazes disso. Mas não parávamos de produzir. E os modelos se ajustaram. Hoje sou reconhecido, citado em trabalhos, consigo viver da minha música. Mas continuo anônimo do ponto de vista da indústria”, diz Romulo, que começa a gravar um disco com músicas de Nelson Cavaquinho, a ser lançado no primeiro semestre de 2015. Após 11 anos como vocalista nos grupos Funk ‘N Lata (entre 2000 e 2003) e Farofa Carioca (de 2004 até hoje), Mario Broder encara o desafio de lançar seu primeiro disco solo como cantor e compositor. “Balanço Diferente” mostra que valeu a espera. Aos 34 anos, o carioca da Zona Oeste que se iniciou na música ainda criança e interpretou Wilson Baptista no filme “Noel Rosa – O poeta da Vila” liquidifica suas experiências num disco que tem o samba como base, embora dialogue com o que ele chama de “inventividade do mundo pop”. Com exceção de uma composição do sambista baiano Batatinha, “Conselheiro”, o repertório é todo de Broder, alternando parcerias com Sandro Marcio, Valmir Ribeiro (companheiros no Farofa ), Elza Soares, Bernardo Vilhena e Antônio de Pádua. Elza canta e é homenageada no samba “Operária Brasileira”. Já “Lateral” é uma crônica futebolística de Jorge Ben Jor. Mistura boa. Estamos doidos para cair na estrada com o show dele, promovê-lo pelo Brasil todo. Temos muita confiança no que realizamos, é um disco com razão de ser, um disco em todas as faixas. Temos um Brasil inteiro para abraçar, nosso sonho é ver isso se tornar realidade e fazer com que nossas histórias e canções façam parte da memória afetiva das pessoas. Afinal, a felicidade só serve se puder ser compartilhada. Entre a saída do Cansei e o “Animal”, o que rolou? O NOVO DISCO (E OS ANTIGOS AMIGOS) DE ROMULO FRÓES A MISTURA BOA DE MARIO BRODER 04-05 Na hora do “vamos com quem?”, como escolheu as participações do seu disco? Meu amigo Marcus Preto, que acabou fazendo a direção artística do disco, pegou essas composições e mandou para um monte de gente, a maioria eu não conhecia pessoalmente. Guilherme Arantes, Kiko Dinucci, Odair José, John Ulhôa. Alguns eu conhecia, como a Alice Caymmi, o Martim Bernarde, o Marcelo Segreto e a Gaby Amarantos. Eles fizeram versões das letras em inglês em cima da minha melodia. E quem você convidou? Eu chamei o Péricles Martins, que tem um projeto chamado Boss In Drama, para reproduzir algumas faixas, chamei o Rogério Flausino para cantar uma outra, que acabou virando uma parceria minha, dele e do Péricles... Por isso tudo, estou muito contente com esse disco. Como está a recepção ao “Haicai do Brasil”? Por que você exclui o primeiro disco? O livro foi recebido com um encantamento enorme. Até pela potência mesmo que o haicai concentra em si, aquela hipercondensação de poesia. Na verdade, a reação é um reflexo do que é, de o haicai ser a forma poética mais praticada no mundo. As pessoas têm adorado o livro, e as perguntas que elas fazem são de uma pertinência... Você percebe que o haicai está na vida das pessoas, elas conhecem, não é um assunto tão distante. Você nota que umas têm ligação com Mário Quintana, outras, com Millôr, por ele ter estado na imprensa... Mas o que chama a atenção delas é quando percebem o arco da história do haicai, de onde ele vem, até essa coisa de não se saber de onde ele vem ou quem foi o primeiro a fazer, as diferentes correntes... Tudo mostra que tem uma história acontecendo, como um poeta influencia o outro. Mesmo eu, quando fui me deter, me dei conta dessa trajetória muito viva. Surpreende mesmo. E continuo tendo uma acolhida muito boa para a antologia (“Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira: Para Crianças de Qualquer Idade”), que está na segunda edição, agora completa, com poemas de Manuel Bandeira e Cecilia Meireles. Tenho sido muito chamada para falar dela. Aquilo foram circunstâncias, eu realmente não estava pensando em disco. Estava chegando de Porto Alegre, meu foco era estar no palco, fazendo performances... Fazia umas coisas para provocar vaias, eu estava nessa criancice (risos). E eu não tinha adentrado o mundo do estúdio, aquilo não passava pela minha cabeça. Mas, ao mesmo tempo, quando cheguei ao Rio, tinha convite de quatro gravadoras. Não era o momento de dizer “não quero isso”. Mas também não tinha o desejo verdadeiro, interno, de fazer um disco. Essa é a diferença do primeiro para o segundo, quando disse “agora vou sentar e fazer meu disco”. Apesar de muita gente gostar desse disco (o primeiro), para mim falta isso, a vontade de fazêlo. Ele tem provocações que eram feitas no palco com muita ironia, mas que não imprimiram no disco. E teve um corte também da banda, uma banda que já estava tocando aquele repertório comigo e que foi dispensada para que entrasse uma banda profissional. E “Pedro e o Lobo”? Como foi a experiência com o encontro de Osesp, Mehmari, canções da Partimpim? Fiz duas apresentações, 6 e 7 de setembro, na Sala São Paulo, e depois no POA Em Cena, em Porto Alegre. Foi uma liga maravilhosa, foi tudo muito mágico, quando juntou orquestra, arranjos, regente... Fizemos ensaios abertos em São Paulo antes da estreia, e a cada sessão foi melhorando. Nos primeiros ensaios eu ficava olhando a sala, depois olhando o olho das crianças... Perdi várias entradas (risos). Você viu outras versões de “Pedro e o Lobo”? Como foi seu olhar sobre a obra? Não cheguei a ver o que Regina Casé fez na Quinta (da Boa Vista, no Rio de Janeiro), mas ouvi tudo que pude. Quis manter o mais próximo do original. Uma das qualidades da peça, o que a torna uma obra-prima, é que Prokofiev escreve pouquíssimas frases para contar a história. Isso dá espaço para a imaginação das crianças. A história não é mirabolante. Tem o lobo, o herói, a voz da razão que é o vovô, tem o cara mau. Não sei russo, mas escolhi uma tradução que parece ser literalmente a do russo para o inglês e passei para o português. O objetivo de Prokofiev é contar a história, mas também apresentar a orquestra para as crianças. Isso é o mais importante. Você está compondo? Um pouquinho. Estava compondo mais antes de estar superdedicada a “Pedro e o Lobo”. Agora ainda não voltei totalmente porque estou começando a me dedicar a um concerto que farei no dia 4 de dezembro só sobre Lupicínio Rodrigues. Como será esse show? Montei uma banda para isso, terei a participação de Arthur Nestrovski. Estou agora na árdua tarefa de tirar canções do roteiro. Cortar as minhas é mais fácil (risos). É engraçado porque estou revendo minha relação com Lupicínio, a confirmação dessa coisa de que Lupicínio para mim sempre existiu. Tive muitos impactos, com vários compositores, de pensar “meu Deus, de onde saiu isso?”. Mas com Lupicínio nunca teve isso. Esses dias, lá em Porto Alegre, me falaram de alguém que disse que Lupicínio seria nosso Shakespeare, porque está tudo ali. Fiquei pensando, de certa forma é isso mesmo. E talvez a sensação de que ele sempre existiu para mim talvez não seja só por eu ter nascido ali. Talvez sempre tenha existido mesmo, nesse sentido shakespeareano. Estou pensando o show dessa forma. Mas é difícil. Porque fiz uma primeira lista obrigatória. E aí depois fiz uma lista de mais 40 que também são obrigatórias. Não tem grandes pinçadas a fazer. Então você está muito voltada para esse show, sem tempo para compor... Tem esse lance que o Gilberto Gil fala, que quando você abre uma canção, quando você sonha em fazer uma canção, você fica meio refém daquilo. Até que aquilo acabe você precisa estar à disposição. Fazendo tanta coisa, às vezes eu fecho essa porta para não me atrapalhar. Antes de “Pedro e o Lobo” eu estava conseguindo conciliar turnê, os eventos dos livros e compondo algumas coisas. Estava musicando uns poemas, brincando com o violão de sete cordas que comprei. Aliás meu gato o quebrou. Ele faz strike, joga boliche com meus violões, numa dessas quebrou a cravelha da sétima corda. Mas, como disse, andei musicando uns poemas, um do Waly, um da Alice Sant'anna chamado “Rabo de Baleia”. Gosto muito de compor, ainda mais assim, sem um projeto, sem estar pensando num disco. Gosto dessa coisa solta, acho o outro jeito, “estou compondo para o meu disco”, aterrorizante, paralisante. O que a move para compor? A vida. Você não sabe o que começa o processo. Você lê uma frase no jornal, bota o jornal de lado, pega o violão, toca meia música que existe, e dali sai uma coisa. Estava lembrando do jeito que foi feita a canção “Olhos de Onda”. Acordei, liguei o laptop, vi um vídeo daquela banda Tipo Uísque pedindo patrocínio, grana para fazer o projeto deles. Peguei o violão e escrevi “Olhos de Onda”, que não tem uma ligação direta com isso. A graça é não saber o caminho. Você gosta de falar de suas canções? Não tenho problema em falar delas, às vezes eu só não sei o que dizer. O mais importante, que é como uma canção nasce, não dá para saber. E também não importa saber. Muitas vezes as pessoas fazem comentários sobre canções minhas que eu nunca imaginaria. Mas, se está certo ou errado, não sei dizer. Uma vez, numa entrevista de lançamento do “Senhas”, a jornalista disse: “Por que você diz numa de suas canções: 'eu hospedo infratores e bandidos'... Eu respondi: “Não, eu canto 'banidos'”. E ela: “Não, 'bandidos'” (risos). Como é sua relação com as redes sociais, a internet? Enjoei da internet, estou mais desconectada do que conectada. Já andei mais em internet, hoje uso mais como ferramenta de pesquisa mesmo, das minhas maluquices, dos meus assuntos. Como essa coisa do haicai, que é muito viva. Li estudos literários na internet sobre o assunto, por exemplo. Mas hoje eu desconecto mesmo, fisicamente. Só entro na internet para olhar algo. Não fico o tempo todo on-line. Porque existem as duas possibilidades, estar ou não conectado, mas o mundo conectado vai levando a gente para uma única opção, que é estar o tempo todo on-line. Para mim talvez seja mais fácil me desligar porque vivi um tempo em que não se estava conectado. Isso parecia uma possibilidade maravilhosa que só meus netos viveriam. Então acho que estou totalmente no lucro de viver isso também. Mas, por exemplo, não uso mais relógio. Acho que ficar muito escravo do tempo é ruim. E na internet você fica escravo dos segundos, se aquilo não baixa na hora você começa a se frustar. Até tenho redes sociais no meu celular, mas não olho. Meu celular funciona como telefone. Estou gostando mais de viver num timing mais perto do tempo da natureza, fico mais relax. Acordo com a luz do dia... Quero dizer, não tenho muita escolha, porque a vida na estrada é o exército, você acorda às 5h da manhã, essas coisas. Mas a minha preferência é acordar com a luz do dia, fazer tudo cedo. Tudo que fazia antes vou fazendo mais e mais cedo, ficando mais e mais diurna. Gosto da luz do dia. Vou fazendo meus compromissos sem muita ordem, não sou metódica. De onde veio essa constatação de que estar off-line seria bom para você? Tenho tanto compromisso que, se eu começar a pensar dessa forma opressora, com esse tempo opressor, não vou curtir as coisas que eu tenho para fazer. Faço todas essas coisas ao mesmo tempo porque eu acredito nelas, eu aceito compromissos porque são coisas bacanas de fazer, que eu quero fazer dando tudo de mim. Acho que me manter desconectada, com um tempo mais artístico, mais elástico, me deixa mais feliz. Você tem um álbum favorito? Não. Acho que, excetuando o primeiro, que é um disco que não tive muita vontade de fazer, eu tive uns desejos para cada um dos álbuns, e a sensação que tenho é que dei tudo de mim neles. Entre acertos e erros, tenho a sensação de que fiz tudo que queria ter feito ali. Nunca penso “putz, devia ter dado mais de mim”. Entrevistei o Arnaldo Antunes dia desses, e ele me disse isso mesmo: “uma vez que as canções, os discos estão no mundo, não tenho o menor interesse no que será feito, as coisas são reeditadas, e não tenho a menor vontade de olhar para trás, corrigir nada”. Tenho essa sensação também. Logo que uma canção minha sai, aquilo para mim está no mundo, já não me pertence. Se estou no palco vendo um set list de canções, e tem uma do Chico, outra do Caetano, uma minha, aquilo é uma lista de canções. Não faz diferença ser minha. A Rev TRILHA DE FUNDO, EMOÇÃO NA LINHA DE FRENTE Para conhecer mais sobre a ouvidoria, acesse: www.ubc.org.br/ouvidoria. SOCIEDADE INGLESA VISITA SEDE DA UBC No ano em que celebra seus 100 anos, a sociedade inglesa de gestão coletiva de direitos autorais PRS for Music fez uma visita à sede da UBC no Rio de Janeiro em setembro. As duas sociedades mantêm contrato de reciprocidade desde 1946, quatro anos após a fundação da UBC. A música inglesa é executada em todo o mundo, e grande parte do que é arrecadado para os autores ingleses vem das sociedades estrangeiras que a representam, como a UBC no Brasil. A PRS for Music também é responsável pela arrecadação dos direitos de execução pública dos associados à UBC na Inglaterra. Durante a visita, as representantes da PRS for Music, Judith Luscombe e Sarah Bargiela, conheceram as novidades tecnológicas no processamento de distribuição da UBC e como é gerenciado o repertório de seus associados. Também foram discutidas as últimas mudanças ocorridas no cenário brasileiro e os acordos de pagamento firmados com a TV Globo e as operadoras de TV por Assinatura. ECAD DIMINUI TAXA, E UBC, MAIS AINDA A partir de agosto de 2014, o percentual cobrado pela gestão de direitos autorais de execução pública musical, cuja finalidade é custear as despesas das associações e do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), sofreu redução. Mesmo com a mudança, a UBC mantém sua política de maximizar o repasse dos rendimentos de direitos autorais aos seus associados. O Ecad passou a cobrar 15,61% pelos seus custos, e as associações 6,89% dos totais distribuídos para o seu repertório. A UBC reduziu o novo percentual para 5,89%. Com isso, seus associados passam a receber 78,5% do total arrecadado pela execução de suas obras e fonogramas. Leia o comunicado completo: http://goo.gl/gizHVh DISTRIBUIÇÃO DOS ACORDOS FIRMADOS COM A NET E CLARO TV Neste fim de ano, serão distribuídos os valores dos acordos firmados com as operadoras Claro TV e Net. Além disso, a Sky procurou o Ecad para regularizar o pagamento das mensalidades do ano de 2014. Bons motivos para os titulares de direitos autorais comemorarem, já que o segmento de TV por Assinatura, que atingiu o índice de 98% de inadimplência em 2011, hoje conta com mais de 80% do mercado em dia com seu pagamento de direitos autorais regularizados. Veja o quadro abaixo: SKY A Sky e o Ecad estão em fase de assinatura do contrato que regula a relação da operadora com o Escritório Central. Serão pagos R$ 38 milhões divididos em seis parcelas, referentes às mensalidades de janeiro a setembro de 2014. A partir da finalização do acordo, a Sky passa a pagar regularmente uma mensalidade calculada nas mesmas bases adotadas nos contratos com as outras operadoras de TV por assinatura. Vale lembrar que R$ 210 milhões foram distribuídos em dezembro de 2013 e maio passado, referentes ao acordo fechado pela execução de obras e fonogramas entre 2004 e 2013. GERALDO VIANNA REPRESENTA O BRASIL NA REUNIÃO DA ALCAM NA BOLÍVIA ARGENTINA BLOQUEIA THE PIRATE BAY, E ENTIDADE MUSICAL DO PAÍS É HACKEADA Com adesão cada vez maior entre os países sul-americanos, a Aliança Latino-Americana de Autores e Compositores (Alcam) recebeu, em sua última reunião, em agosto, autores interessados em discutir os caminhos e desafios do direito autoral. Entre os participantes, o compositor, violonista, arranjador e produtor mineiro Geraldo Vianna representou a UBC nas sessões realizadas em Cochabamba (Bolívia). No encontro, foram debatidas medidas governamentais e propostas de alteração das leis que tratam da gestão coletiva de direitos autorais nos países da região, que apresentam uma tendência excessivamente intervencionista. Criada para buscar melhores condições de trabalho e sobrevivência para os autores e compositores, a Alcam é composta por representantes das várias sociedades de autores latino-americanas. Vianna pregou a necessidade de buscar diferentes estratégias de divulgação da música latina, a fim de aumentar sua influência no mercado internacional. E afirmou ser preciso usar com inteligência a mesma internet que potencializou as violações dos direitos autorais. “É preciso atuar de forma obstinada e persistente, buscando um intercâmbio constante. Salientei a tendência e a importância de criarmos meios de comunicação e de utilização maciça das redes sociais e de grupos de discussão e organizações em cada país para, juntos, discutirmos e expormos os problemas relacionados ao cotidiano dos autores e compositores. Que seja criada uma verdadeira rede de informações entre os países integrantes da Aliança.” Também estiveram presentes representantes das sociedades de autores de Argentina, Costa Rica, Chile, Paraguai e Uruguai. A Argentina se tornou o primeiro país sul-americano a bloquear o popular portal P2P The Pirate Bay. A ordem judicial, aplicada aos 11 principais provedores de internet do país, seguiu-se a uma ação movida pelo principal organismo representante da indústria discográfica local, a Câmara Argentina de Produtores de Fonogramas e Videogramas (CAPIF). A decisão foi liminar e não teve contestação até o momento, de modo que deve durar até que o processo seja concluído. Na avaliação da CAPIF, o portal de compartilhamento de músicas sem licença é uma ameaça séria ao negócio musical. Logo depois da decisão, o site oficial da entidade foi hackeado, e sua página de abertura foi substituída pelo servidor do próprio The Pirate Bay, permitindo aos usuários argentinos continuar a compartilhar arquivos ilegalmente. Foram necessárias mais de dez horas até que a CAPIF recuperasse acesso ao seu próprio portal. As informações são do site aliadodigital.com. CLARO TV Será distribuído, em dezembro, o valor de R$ 85 milhões relativo ao acordo feito com a operadora pela execução de obras e fonogramas no período entre 2008 e 2013. A Claro TV também está em dia com suas mensalidades. OUTRAS A OI TV está em débito com o Ecad desde 2009 e questiona o valor a ser pago na Justiça. O mesmo caso da GVT, que está em débito desde 2011 e realiza depósitos judiciais. O Ecad cobra na justiça o pagamento de direitos autorais da Vivo TV (junção da TVA, em débito desde 1994, e Telefônica, desde 2007), que também realiza depósitos judiciais. Por Bruno Calixto, do Rio Na infância, o produtor e compositor carioca Pedro Guedes se sentava, vidrado, diante da TV para curtir seus programas favoritos. Mas do que ele se lembra com especial emoção, mesmo, é das trilhas sonoras de filmes como “Indiana Jones” e “Blade Runner”, do seriado “O Tempo e o Vento” e até do “Globo Repórter”. “Ficava morrendo de medo. As notas da abertura (do jornalístico da TV Globo) são muito tensas”, diz. Coincidência ou não, o arranjo hoje no ar no programa noturno das sextas-feiras tem solo de guitarra de Pedro. Por trás de uma bela ou eletrizante imagem na TV, o chamado background envolve o telespectador mais do que ele é capaz de imaginar. E essa mágica é fruto de um rico processo de produção, muitas vezes feito antes mesmo de a obra visual ganhar um roteiro. Outro craque no ramo é o também carioca Fernando Moura, compositor de trilhas independente que trabalha para várias emissoras de TV, abertas e por assinatura, diretamente ou por meio de produtoras de vídeo. “Cada uma delas tem uma especificidade, mas todas são unânimes na urgência das entregas”, ressalta o criador e pianista, que assina projetos para Globo, TV Brasil e TV Record. ESTUDO DA CISAC DESTACA POTENCIAL DA INDÚSTRIA CRIATIVA NOS BRICS NET A operadora já paga regularmente, desde janeiro de 2014, as mensalidades de direitos autorais de execução pública, e em novembro será distribuído o valor de R$ 125 milhões referente ao acordo firmado pela execução de obras e fonogramas entre 2004 e 2013. PROFISSIONAIS DESVENDAM GÊNERO ARTÍSTICO QUE REÚNE MÚSICA, VOZ, RUÍDOS E INÚMEROS EFEITOS SONOROS PARA DAR MAIS VIDA E EMOÇÃO A FILMES, NOVELAS, PROGRAMAS JORNALÍSTICOS, PEÇAS DE TEATRO E MUITAS OUTRAS ATRAÇÕES VENDAS DE ÁLBUNS ON-LINE CAEM, E 'STREAMINGS' DISPARAM NOS EUA As vendas de álbuns e canções digitais tiveram quedas de, respectivamente, 11,6% e 13% no primeiro semestre do ano nos Estados Unidos, segundo dados da consultoria Nielson SoundScan. Mas nada parece alarmar a indústria americana, que confia no streaming para revitalizar o mercado. Essa modalidade de consumo de música on-line subiu 42% no mesmo período, atingindo 70,3 milhões de reproduções. Ainda que alguns álbuns tenham desempenhos animadores – como a trilha do filme “Frozen”, da Disney, com 2,7 milhões de cópias vendidas, e bons resultados também para Beyoncé, Lorde e Coldplay, com números de 700 mil a 590 mil unidades descarregadas –, o panorama geral é de queda nas vendas na última década, fenômeno similar ao que ocorre com os CDs. De Paris, onde está em temporada de shows com o percussionista Ary Dias, ele conta que começou a compor trilhas sonoras originais para teatro no final dos anos 1970. A estreia foi numa montagem de “O despertar da primavera”, encenada por Miguel Fallabella, Daniel Dantas e Maria Padilha. A atriz, aliás, estudou com o compositor e o convidou a compor as músicas da trama. Um estudo da Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores (Cisac), divulgado em setembro, identificou “tremendo potencial” nos países do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para aumentar a contribuição da sua indústria criativa ao Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com o levantamento, a média de contribuição de músicas, filmes, espetáculos de teatro e outros gêneros para o total da riqueza gerada nessas nações é de apenas 1% a 6%, em média. De acordo com a Cisac, em 2011 o comércio internacional de bens culturais atingiu US$ 624 bilhões, algo como 7,5% de tudo o que foi exportado. Mas a fatia dos Brics nesse bolo não passou de US$ 12 bilhões, menos da metade do que os EUA geraram sozinhos, apesar de, combinadas, as economias das maiores nações em desenvolvimento serem apenas 12% menores que a do gigante norte-americano. “A economia criativa gera algo como 10% a 11% do PIB na Coreia do Sul ou nos EUA. Ainda que culturalmente ricos, os países dos Brics giram só uma fração disso”, afirmou Javed Akhtar, letrista, poeta e roteirista indiano e um dos vice-presidentes da Cisac. “Sempre gostei muito de compor, tive aulas de composição e arranjo com o Guilherme Vaz, um compositor incrível de música para cinema”, lembra. “A partir dos anos 80, comecei a fazer trilhas para curtas e filmes publicitários com diretores como Ricardo Miranda, Sargentelli Filho e Carlos Manga.” Daí em diante, foram mais de 15 longas, com direito a graduação em música para cinema, TV e multimídia na GrãBretanha. O ingresso na TV veio no fim dos anos 90, no Canal Futura. “Com o crescimento da TV a cabo, ampliei bastante minha área de atuação, trabalhando para canais como GNT e MultiShow. Em 2008, Fernando Moura faturou o prêmio Coral do Festival de Havana pela trilha do filme “Maré, Nossa História de Amor”, de Lucia Murat. Mês passado, o compositor CAPA : UBC/13 12/UBC : CAPA pondera Guedes, defensor do estudo de matérias tradicionais, instrumentos, teoria musical, técnicas de produção, softwares e, claro, gêneros musicais de todo o mundo. “É imprescindível gostar de estar no estúdio. Você acaba morando lá. Eu adoro!” Nader vai na mesma linha: “Procuro me capacitar estudando, explorando, observando e ouvindo. Mas, como vamos distinguir um músico profissional de um amador? Pela capacidade de tocar um instrumento, pelo dinheiro que ganha ou não, por uma carteirinha no bolso ou por um diploma? Tudo isso é muito complicado de avaliar”, cogita o gaúcho. TURNÊ, ESPETÁCULO INFANTIL, LIVRO, SARAUS, COMPOSIÇÕES, SHOW-HOMENAGEM, HAICAI, VIAGENS, VIDA ON E OFF-LINE: O MUNDO DE COISAS QUE MOVE O MUNDO DE ADRIANA CALCANHOTTO Envolvido em projetos da Casa de Cinema de Porto Alegre (de Jorge Furtado), como o filme “Homens de Bem”, Nader, como Fernando Moura, ingressou no ramo a convite. “Sempre gostei de trilhas e comecei fazendo para uma peça de teatro a convite de outro amigo músico envolvido na produção. Um convite foi, então, levando a outro...” teve trabalho apresentado no Festival do Rio: a trilha do longa “O Estopim”, de Rodrigo Mac Niven. Compositor de algumas séries da TV Globo, como “Doce de Mãe”, de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, o gaúcho Maurício Nader é outro que faz mágica para envolver o espectador por meio da música. Ele atua diretamente com os diretores e criadores do roteiro, e, segundo conta, vai construindo o conceito da trilha antes e ao longo das filmagens – e até mesmo durante a montagem dos programas. “As trilhas já vão prontas junto com tudo para a aprovação da emissora”, explica. Seguindo mais pelo viés do jornalismo, Pedro Guedes atua com trilhas para a Globo News e a TV Globo. “As demandas são muito variadas, e precisamos estar preparados para compor e produzir todo tipo de música. Essa pluralidade é o que mais me encanta. Ao mesmo tempo, é uma das partes difíceis do trabalho. Quando há um prazo maior, eu recebo o programa editado e componho a trilha sonora vendo as imagens. Porém, na maioria das vezes, não há tempo para isso, e a trilha é feita de acordo com um briefing ou um roteiro”, explica. Ele é autor de 40 temas utilizados na Copa do Mundo de 2014, entre eles a música do clipe de abertura do sorteio da Fifa, transmitido para o mundo todo. “O mar, a natureza e, depois, a própria cidade e suas luzes sempre foram fontes de inspiração.” Além do cinema, da televisão e do rádio, o conceito de trilha sonora tem se ampliado e vem sendo aplicado a videogames, aplicativos para celular e, claro, produções audiovisuais para a internet. Com a convergência tecnológica e o crescimento desse mercado, cada vez mais são necessários profissionais preparados, equipados e criativos. “O profissional de trilhas não pode se dar ao luxo de não estar inspirado. Todo dia é dia de compor. Com o tempo, essa pressão vira parte da rotina, mas é uma dificuldade”, Na era digital, campo de atuação ganha novas possibilidades, como videogames, aplicativos para celular e produções audiovisuais para a internet 08-09 Também parceiro de Jorge Furtado, Leo Henkin crê que o mercado para trilha sonoras engordou nos últimos anos, mas prega uma necessidade de maior profissionalização: “O mercado não aumenta apenas devido ao crescimento da produção do cinema brasileiro, mas também dadas as novas demandas para televisão e internet. Porém, esse crescimento não se traduz exatamente numa profissionalização do mercado, que carece de orientação, principalmente em relação a valores para produção, criação, músicos, arranjos e direção musical.” Atualmente, existem cursos de formação destinados a profissionais de música, áudio, DJs e afins que, além de apresentar as técnicas de sincronização da música e do som nas diversas possibilidades de produtos audiovisuais, exploram as formas do fazer e a análise do que já é feito na área das linguagens multimídia. Qualquer que seja a formação, porém, os profissionais da área dizem ser fundamental ter versatilidade, rapidez e feeling para construir uma narrativa integrada e paralela à visual. “Não adianta disputar com a obra ou com qualquer um dos seus elementos, como o diálogo, o som direto, os efeitos sonoros... É preciso entender a necessidade narrativa da obra e transformá-la em música para ajudar a história a percorrer o melhor caminho até o espectador. E bem rápido, que já estamos em cima do prazo (risos)”, brinca Moura. No Brasil, a equipe envolvida na produção de uma trilha para TV, de um modo geral, é composta pelo compositor contratado para fazer a música original, o produtor ou supervisor musical, o diretor do programa, o diretor de núcleo ou supervisor de programação e a direção da emissora. Diferentemente do que ocorre em muitos países, o compositor é, muitas vezes, o próprio produtor fonográfico, eliminando intermediários e tornando o processo criativo mais célere, em linha com as exigências do mercado. “Há uma vantagem no fato de o próprio compositor ser o produtor fonográfico, pois o compositor pode fazer tudo em seu próprio estúdio ou alugar um e trabalhar suas ideias num computador. A tecnologia facilitou muito as coisas nesse sentido, gravar não envolve mais o que seria o processo fonográfico, em que apenas um especialista na área poderia fazê-lo. Além disso, o produtor fonográfico, em alguns casos, é um cargo burocrático em que uma pessoa acaba obtendo boa parte dos rendimentos dos direitos de uma música sem ter participado do processo em momento algum”, considera Maurício Nader. “Em alguns trabalhos, faço tudo até por necessidade de adequação ao orçamento e ao prazo, em outros tenho a possibilidade de gravar com outros músicos, fazer arranjos para cordas, sopros...” A turnê vai de vento em popa. É uma delícia fazer esse show, tenho gostado mais e mais. A turnê vai até março do ano que vem, acaba em Lisboa, na sala Gulbenkian. Tem uma coisa interessante nesse show: ele se impôs para ser feito em teatros, tem uma dinâmica que faz com que não se dê em outro tipo de local. Perde muito, não imprime o que ele é, se não for assim. O rádio, o momento do acaso, o que está tocando na hora. Já fiz muitos shows de voz e violão, em lugares abertos, para 10 mil pessoas – e acontece. Mas esse show não funciona. Ele tem um habitat natural, o teatro. De todos os shows que fiz, com pensamentos, intervenções e conceitos teatrais, é o mais teatral. E se revelou assim para mim ao longo da turnê. Leo Henkin Entre as principais atividades, Márcio Ferreira inclui a análise da programação dos canais abertos e fechados, a criação de relatórios específicos para controle das execuções e o armazenamento de áudio dos fonogramas criados para programação das TVs. Adriana Calcanhotto gosta de acordar com a luz do dia e de fazer as coisas numa ordem que segue mais a intuição que um método determinado. Um desejo de estar próxima ao “tempo da natureza”, como ela define. Mas nada de paisagens serenas clichê. A natureza de Calcanhotto é a natureza mesmo, real – incessantemente produtiva, em ebulição sob a capa de harmonia. Sob a voz tranquila e a conversa leve, a cantora – que, avessa ao ritmo frenético da internet, escolhe estar mais off-line do que on-line – sustenta um vulcão. Atualmente, circula com a turnê “Olhos de Onda”, prepara um show em homenagem a Lupicínio Rodrigues, estreou sua versão de “Pedro e o Lobo”, de Prokofiev (um espetáculo que inclui a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, arranjos de André Mehmari e canções de Partimpim, persona da artista dona de uma obra para crianças)... E encontra tempo para compor. Além disso, cumpre uma agenda de eventos relativa a dois livros que idealizou e compilou: “Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira: Para Crianças de Qualquer Idade”; e “Haicai do Brasil”, que lançou na última Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Soma-se a tudo a ideia de aprender a tocar violão sete cordas. Natureza selvagem. Como vai a turnê de “Olhos de Onda”? E como o show e sua percepção sobre ele mudaram ao longo da estrada? “Esse crescimento não se traduz exatamente numa profissionalização do mercado, que carece de orientação, principalmente em relação a valores para produção, criação, músicos, arranjos e direção musical.” Essa parte do rádio - na qual vocês põem no áudio uma rádio do local, ao vivo, interferindo no show – deve gerar uma série de surpresas curiosas, não? UBC CRIA NÚCLEO DE TV Um nicho de mercado com características específicas exige uma equipe especializada e ágil. Por isso, a UBC criou um núcleo destinado à TV coordenado pelo gerente de atendimento Márcio Ferreira. Os profissionais envolvidos acompanham minuciosamente o que é executado a fim de fazer os repasses de pagamentos de modo justo e fidedigno aos associados que compõem para programas de televisão e cinema. "Além do acompanhamento detalhado, mantemos contato muito próximo com os titulares que atuam na área do audiovisual para que eles tenham seus rendimentos maximizados e recebam seus pagamentos em dia", afirma o gerente de operações, Fábio Geovane. Por Leonardo Lichote, do Rio 'A GRAÇA É NÃO SABER O Muitas vezes acontecem coisas tão incríveis, tão inesperadas, que nenhuma cabeça poderia inventar. É tão surpreendente que minha tendência é parar para ouvir aquilo, e eu não posso, tenho que focar em cantar e tocar. Em Lisboa, tocou Amália. No camarim a gente comentou que as pessoas devem ter achado que era uma gravação, uma referência óbvia que estávamos usando (risos). Sim, algo como lá vem a brasileira que só conhece Amália fazer um agrado... Isso! (risos) A UBC tem atualmente 17.524 titulares associados nas diversas categorias (autor, editor, intérprete, músico e produtor fonográfico), e qualquer um deles pode vir a ter uma obra usada em um trabalho audiovisual, por isso a necessidade de um monitoramento constante. Segundo Geovane, depois da criação do núcleo de TV em maio, o serviço melhorou, e a quantidade de titulares desse nicho específico também aumentou, uma vez que o bom serviço acabou atraindo mais associados. 10-11 12-13 REPORTAGEM : UBC/17 PLATAFORMAS SSSSSSSDIGITAIS contato direto com os artistas, apenas com as gravadoras e distribuidoras, bem como com as editoras e com as sociedades de gestão coletiva. No serviço, o valor dos royalties a serem pagos também é estabelecido de forma proporcional à quantidade de reproduções dos artistas. “Cerca de 70% de toda a receita do Spotify com taxas de publicidade e assinaturas são revertidos para os detentores de direitos: artistas, gravadoras, editoras e sociedades de direitos”, alega Diament. Me interessa sempre o que está acontecendo. Mas não estou atualizada, até pelo volume de trabalhos. Tenho gostado de ver uma movimentação no funk, tentativas do funk de chegar mais perto da poesia. Tem uma menina que ouvi há uns anos, lendo “O Fingidor” (“Autopsicografia”), do Fernando Pessoa, sobre um batidão. Esse rumo é interessante. Adorei o disco novo do Gil (“Gilbertos Samba”, sobre repertório de João Gilberto). Aí dizem: “Mas é imitando João Gilberto...”. É, sim, mas qual o problema? (risos) SERVIÇOS ON-LINE REPRESENTAM NOVOS CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO DE MÚSICA, MAS AINDA PRECISAM APERFEIÇOAR O MODELO DE NEGÓCIO E AS RELAÇÕES COM OS CRIADORES Diretora-executiva da União Brasileira de Compositores (UBC), Marisa Gandelman afirma que essa dinâmica traz uma série de desafios à arrecadação para artistas e compositores: “No caso dos serviços que ofertam a opção de streaming, por exemplo, a situação é mais complicada, já que você tem práticas que se misturam, o que exige uma complexa estrutura de arrecadação. Além disso, em razão do expressivo número de meios de difusão e oferta de música, há um processo de banalização do valor de troca da música, o que não é bom”. Por Thiago Jansen, do Rio Um evento ocorrido em setembro passado em Genebra, na Suíça, ilustra bem o que ela diz. Paralelamente à Assembleia Geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), agência da ONU encarregada de desenvolver políticas e leis de copyright, um grupo de artistas e especialistas expôs com clareza o mal-estar em torno das relações entre plataformas digitais e autores. Convocado pela Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores (Cisac), o Painel dos Criadores foi marcado por discursos contundentes como A revolução tecnológica das últimas décadas vem adicionando elementos inéditos às dinâmicas de consumo de canções e remuneração dos artistas por suas obras. Mas, se o bolo digital não para de crescer, a distribuição dos seus pedaços entre os criadores ainda carece de uma lógica mais justa. Internacionalmente, um clamor por um modelo de negócio que remunere melhor os autores ganha cada vez mais vozes No Brasil, desde o início da década de 2000 já operam, de modo mais ou menos regular, sites de compartilhamento de canções, mas a legalização só ganhou ímpeto uma década depois, com a chegada de serviços de streaming de áudio, como Rdio, e de lojas virtuais como a iTunes Store, da Apple, entre diversos outros que se seguiram a eles, como Deezer, Spotify e Google Play. Essas plataformas, a olhos leigos, parecem todas iguais, mas, na verdade, têm conceitos bem diferentes. Algumas são lojas on-line, que vendem canções e álbuns no formato eletrônico e permitem ao usuário fazer a descarga permanente dos fonogramas em seu dispositivo (um computador, um tocador de arquivos MP3, um tablet). Já os serviços de streaming possibilitam ao público, por meio do pagamento de assinaturas, ouvir as canções on-line e até mesmo armazená-las temporariamente, sem baixá-las definitivamente. E o terceiro disco de sua trilogia marinha, depois de “Maritmo” e “Maré”? Vai sair? Ele existe. Se eu vou fazer ou não, é outra história... Agora vou continuar com a turnê “Olhos de Onda”. E não vou deixar de me dedicar a “Pedro e o Lobo”. Em fevereiro vou fazer o espetáculo na Sala Gulbenkian, em Lisboa. E é possível que faça no Rio em outubro, talvez em dezembro. É um projeto de que estou gostando muito, devo fazer quando as orquestras me chamarem. Em três dias de outubro de 2015 faremos de novo na Sala São Paulo, provavelmente registrando. De composição, tem umas duas músicas nas quais estou trabalhando, umas duas ou três que mandei para a Gal (a cantora está escolhendo repertório de seu novo disco). Esses poemas musicados estão comigo, um do Waly, um da Alice e um do Omar (Salomão). Fiz também o sarau com a Dona Cleo (Cleonice Berardinelli) no Real Gabinete Português (no Rio), só lendo Mário de SáCarneiro. Já tinha musicado algumas coisas dele, Dona Cleo pediu para musicar outras... Foi maravilhoso. E ainda tem o show de Lupicínio, a turnê de “Olhos de Onda”, a turnê dos livros... É bastante. M O lado positivo dos serviços é destacado por alguns artistas. Músico independente há 20 anos, o rapper Dudu de Morro Agudo admite que essas plataformas vêm proporcionando a artistas como ele acesso a uma audiência global. “O interessante é que, com esses serviços, qualquer artista tem condições de distribuir o seu trabalho de forma remunerada para além do público local, no mundo inteiro. É algo que dá oportunidades a artistas independentes, e não só aos de grandes gravadoras”, elogia. DESAFIOS BEM PALPÁVEIS Mas você ouve seus discos? Não ouço mesmo. Para que ouvir, se posso ouvir coisas novas? O que chama sua atenção nas coisas novas? Mesmo que o mercado venha, em geral, conseguindo adaptar a operação dos novos serviços digitais no país à atual lei de direitos autorais, aprimoramentos na legislação poderiam beneficiar a estrutura de cobrança e distribuição de direitos. A solução definitiva para os impasses, porém, está nas relações de mercado, ou seja, entre os provedores de conteúdo digital e os criadores e demais titulares de direitos autorais de música. É o que afirma Marisa Gandelman, da UBC: “É importante ter em mente que a resposta para os conflitos não virá de uma mudança da lei, mas do próprio mercado. No entanto, é válido reconhecer que um aprimoramento na legislação poderia, sim, criar novas estruturas e mecanismos que facilitem a arrecadação dos direitos de uma forma mais barata e menos burocrática, a partir do reconhecimento do processamento conjunto de tipos de direitos diferentes.” Presidente da União Brasileira de Editores de Música (Ubem), Marcelo Falcão faz coro: “Precisamos de aprimoramento, não de revolução normativa. A fórmula ideal seria um refinamento do que já temos e que serviria para ratificar entendimentos e direitos.” Ainda que difiram, todas elas estão submetidas às mesmas regras de direito autoral, determinadas pela Lei 9.610/98, que estabelece os conceitos de reprodução/distribuição (fonomecânicos) e de execução pública. No entanto, se, antes da internet, as situações referentes a cada um desses direitos eram mais explícitas, no atual contexto esses conceitos muitas vezes se mesclam – descargas e simples reprodução podem ser feitas eventualmente pelos mesmos canais. A questão é importante porque tem impacto na estrutura necessária para a arrecadação desses direitos junto aos serviços: no caso das execuções públicas, ela é realizada pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad); já no direito de reprodução/distribuição, a cobrança é feita diretamente pelos titulares desse direito, individualmente, ou em conjunto. 14-15 índice Em outubro, a UBC inaugurou um novo canal de comunicação entre seus associados e a diretoria da associação, a Ouvidoria. Através de um formulário online, e-mail, telefone ou correio, será possível o envio de reclamações, elogios ou sugestões. O objetivo deste novo canal é ouvir as reivindicações para que as ações e as atividades da UBC reflitam os desejos e as necessidades dos associados e de outras pessoas que de alguma forma estejam relacionadas com o trabalho realizado pela associação. A Ouvidoria funciona como uma segunda instância, ou seja, para a hipótese de o solicitante não ter obtido êxito na resolução de sua reclamação apresentada ao departamento de atendimento na sede, ou à sua filial ou pelo Fale Conosco, que também continua sendo o canal para tirar dúvidas e solicitar informações. MERCADO : UBC/11 10/UBC : MERCADO NOVIDADES INTERNACIONAIS OUVIDORIA APROXIMA ASSOCIADO DA DIRETORIA DA UBC 06-07 CAPA : UBC/15 14/UBC : CAPA d Por Bruno Calixto, do Rio Com mais de 150 músicas gravadas por duplas sertanejas, Pinocchio já trabalhou com conhecidos nomes do gênero, como Daniel, Henrique & Ruan, César Menotti & Fabiano e Jorge & Mateus. Mas não se dá por satisfetio. Da cidade de Douradoquara, no interior mineiro, o músico trabalha na préprodução do novo DVD do cantor Gusttavo Lima (“Gusttavo Lima No Buteco”), assina a produção de novos trabalhos da dupla Hugo & Tiago e ilustra a ficha técnica da produção de novos artistas, como o cantor brasiliense Wagner Simão. Seja como compositor, produtor ou sanfoneiro, Pinocchio, na estrada desde os 13 anos, já inscreveu seu nome entre os bambas da música sertaneja. UM CAFÉ PRETO COM MOLHO DE REGGAE, POR FAVOR Foto: Byron Prujansky O sucesso no programa “SuperStar”, da TV Globo, foi só um dos sinais de uma trajetória ligada em grande parte ao apoio dos fãs. A Suricato lança o álbum “Sol-te”, recheado de canções autorais de folk-pop, entre elas “Talvez”, que a turma que os acompanha, na base da mobilização, conseguiu emplacar na parada de uma rádio carioca. “Nosso principal objetivo é desmitificar e popularizar uma música com elementos pouco comuns no Brasil, levá-la para o grande público e vê-la consumida pelas massas”, diz o vocalista Rodrigo Suricato. Também presente no disco, “Um Tanto”, faixa composta dois dias depois da apresentação do grupo nos duelos do reality, é como um agradecimento público aos seguidores. “É quase uma oração, fala de gratidão. Tem muita relação com o nosso caminho”, segue o líder da banda sediada no Rio, que oferece aos fãs streamings de músicas e vídeos no site suricatooficial. com.br. Ele bateu um papo com a Revista UBC sobre música e processo de criação. MAS NÃO DE INOVAR AS AVENTURAS DE PINOCCHIO NO MUNDO DO SERTANEJO MOVIDA A GRATIDÃO NOTÍCIAS : UBC/9 8/UBC : NOTÍCIAS FIQUE DE OLHO ELE CANSOU DE SER SEXY, Foto: Leo Aversa NOVIDADES NACIONAIS Foto: Maria Helena Zerba 4/UBC : NOTÍCIAS 16-17 04 08 09 10 12 18-19 20-21 Nov dades Nacionais f que de olho Nov dades NTERNac ona s MERCADO TRILHAS SONORAS capa ADRIANA CALCANHOTTO a UBC é uma pub a ão da Un ão B a e a de Compo o e uma o edade em fin u a bu ão do end men o de d e o au o a e o de en o men o u u a A en e de oo dena ão ed o a Ed o A e and o So e MTB 2629 Co abo a am ne a ed ão B uno Ca Fo o de apa Leo A e a T agem 6 500 e emp a e D bu ão g a u a DISTR BU ÇÃO PLATAFORMAS DIG TA S HOMENAGEM NELSON MOTTA AGENDA FUNK BH dúv da do assoc ado o que em omo ob e o a de e a e a D e o a Fe nando B an p e den e Abe S a A oy o Re Ge a do V anna Manoe Nen nho P n o Rona do Ba o e Sand a de Sá D e o a exe u va Ma Coo dena ão ed o a E a E en oh 16 18 21 22 22 a Gande man o é A anne P o e o g áfi o e d ag ama ão 6D o Gu he me S a pa Leona do L ho e e Th ago an en Notícias : UBC/5 4/UBC : Notícias noVIDADES nacionais Dudu para toda obra Produtor envolvido no reality para bandas “Breakout Brasil”, do Canal Sony, Dudu Marote acaba de lançar seu selo de música eletrônica, o Ganzá. Promete investir em novos músicos e fazer uma curadora da imensa produção escoada na internet. A primeira playlist do Ganzá está no Soundcloud (soundcloud. com/ganzarecords). “O selo foi desenvolvido para ser um catalisador daquilo que tem surgido de mais interessante na música eletrônica nacional. A ideia é trabalhar com um conceito bem aberto e lançar desde coisas que beiram o pop eletrônico até paradas bem cabeçudas, passando por future beats, techno, electro, house e o que de mais bacana e representativo estiver brotando por aí”, explicou Marote, que também assina a produção de diferentes bandas, como as mineiras Jota Quest, Pato Fu e Skank. Suricato, movida a gratidão Banda que estourou em 'reality' musical lança disco e prega: 'felicidade só serve se puder ser compartilhada' outro lado, vejo muitos artistas tomando a postura de colocar seu trabalho como uma “iguaria rara”, selecionando as pessoas que possivelmente o entenderão. É tudo o que Suricato não pretende fazer. Música não serve para ser entendida, mas sentida. Misturar os públicos é uma boa diretriz. Por que fãs de axé não podem gostar de ouvir blues? Por Bruno Calixto, do Rio Misturar as coisas sem critério nenhum é uma característica do brasileiro. Nesse sentido somos o povo mais estrogonofe com feijão do mundo, e isso é lindo. A lista de instrumentos tende a aumentar, mas podemos incluir o didjeridu (instrumento aborígene australiano), a tábua de lavar roupa e a mala-bumbo como os mais incomumente usados por bandas daqui. Você prega a desmitificação da música. O que isso quer dizer? Sou contra a monocultura. Somos o país da diversidade, e é um desperdício de civilidade artistas novos não terem espaço e ficarem em guetos. O novo pode ser rentável e atrativo. Por Dois anos depois de o primeiro disco chegar às prateleiras (em vinil, na França), os pernambucanos do Café Preto já se preparam para o próximo, um trabalho independente produzido por seus três integrantes: os músicos Cannibal e PI-R e o DJ e produtor Bruno Pedrosa. A ideia é explorar as virtualmente inesgotáveis sonoridades do dub e do ragga que vão beber na fonte do reggae roots jamaicano. “Além de lançar o disco em vinil, estamos preparando a gravação de mais um clipe do primeiro CD”, revela Cannibal, à frente dos vocais. Quatro compactos de vinil ajudaram a espalhar as oito faixas do primeiro trabalho, “Café Preto”, assinadas por Mau, Yellow P e Victor Rice. O projeto de estreia ficou marcado pelo lançamento do clipe da música “Dandara”, em agosto de 2013, que você pode conferir em cafepreto.mus.br. A Suricato é conhecida por utilizar instrumentos nada comuns. Qual é o resultado? O novo álbum é 100% autoral. De que tratam as composições? Assino quase todas as composições sozinho, exceto uma canção com Dudu Falcão e Moska e a minha primeira canção com o Gui Schwab (guitarrista da banda). Sobre as letras, diria que são quase autobiográficas, mas com leveza, sem transformar tudo numa sessão de análise. É um disco sobre amor. Com o disco nas mãos, quais são os planos? Estamos doidos para cair na estrada com o show dele, promovê-lo pelo Brasil todo. Temos muita confiança no que realizamos, é um disco com razão de ser, um disco em todas as faixas. Temos um Brasil inteiro para abraçar, nosso sonho é ver isso se tornar realidade e fazer com que nossas histórias e canções façam parte da memória afetiva das pessoas. Afinal, a felicidade só serve se puder ser compartilhada. Foto: Byron Prujansky O sucesso no programa “SuperStar”, da TV Globo, foi só um dos sinais de uma trajetória ligada em grande parte ao apoio dos fãs. A Suricato lança o álbum “Sol-te”, recheado de canções autorais de folk-pop, entre elas “Talvez”, que a turma que os acompanha, na base da mobilização, conseguiu emplacar na parada de uma rádio carioca. “Nosso principal objetivo é desmitificar e popularizar uma música com elementos pouco comuns no Brasil, levá-la para o grande público e vê-la consumida pelas massas”, diz o vocalista Rodrigo Suricato. Também presente no disco, “Um Tanto”, faixa composta dois dias depois da apresentação do grupo nos duelos do reality, é como um agradecimento público aos seguidores. “É quase uma oração, fala de gratidão. Tem muita relação com o nosso caminho”, segue o líder da banda sediada no Rio, que oferece aos fãs streamings de músicas e vídeos no site suricatooficial. com.br. Ele bateu um papo com a Revista UBC sobre música e processo de criação. Um Café Preto com molho de reggae, por favor A mistura boa de Mario Broder Após 11 anos como vocalista nos grupos Funk ‘N Lata (entre 2000 e 2003) e Farofa Carioca (de 2004 até hoje), Mario Broder encara o desafio de lançar seu primeiro disco solo como cantor e compositor. “Balanço Diferente” mostra que valeu a espera. Aos 34 anos, o carioca da Zona Oeste que se iniciou na música ainda criança e interpretou Wilson Baptista no filme “Noel Rosa – O poeta da Vila” liquidifica suas experiências num disco que tem o samba como base, embora dialogue com o que ele chama de “inventividade do mundo pop”. Com exceção de uma composição do sambista baiano Batatinha, “Conselheiro”, o repertório é todo de Broder, alternando parcerias com Sandro Marcio, Valmir Ribeiro (companheiros no Farofa ), Elza Soares, Bernardo Vilhena e Antônio de Pádua. Elza canta e é homenageada no samba “Operária Brasileira”. Já “Lateral” é uma crônica futebolística de Jorge Ben Jor. Mistura boa. notícias : UBC/7 6/UBC : notícias Guidi Vieira: voz, guitarra e 'Temperos' Ele cansou de ser sexy, mas não de inovar Com financiamento coletivo, a ex-vocalista da banda de rock Pic-Nic, Guidi Vieira, lança seu primeiro CD, “Temperos”. E o nome não é gratuito. São nove faixas inéditas de compositores como Sandro Dornelles e Luís Pimentel ("Debute" e "Três Meninos") e Arildo de Souza ("Pronta Entrega"), além de uma regravação de “Tigresa”, de Caetano Veloso. Com desenvoltura, Guidi passeia por blues, baladas, xotes, sambas. A produção é de Daniel Medeiros, do Fino Coletivo. Com o Pic-Nic, que se desfez em 2007, a cantora, compositora e guitarrista havia gravado dois CDs demo. Ela também participou de CDs de artistas como Carlinhos Vergueiro, Amin Nunes e Doces Cariocas e ainda é backing vocal de Alvinho Lancellotti. Iniciado em 2012, “Temperos” contou com importantes instrumentistas, como o baterista Jurim Moreira e o acordeonista Chico Chagas. O material foi masterizado por Ricardo Garcia. Por Bruno Calixto, do Rio O produtor, compositor e instrumentista Adriano Cintra rodou o mundo, foi de mala e cuia para Londres, voltou para São Paulo, tornou a viajar e a voltar... Além do passaporte supercarimbado, trouxe ainda mais agudo seu espírito de provocação, inovação. Em carreira solo depois de um período breve no projeto Madrid, o cofundador do fenômeno Cansei de Ser Sexy – uma das bandas brasileiras de rock eletrônico mais prestigiadas no exterior – lança o primeiro álbum “Animal”, que, com a pegada internacional de sempre e canções em inglês, traz a inconfundível verve irreverente de Adriano na faixa “Duda”, parceira com a cantora paraense Gaby Amarantos, e na canção-título, composta por ele e pelo músico paulistano Marcelo Segreto, membro da intrigante Filarmônica de Pasárgada. Psicodelia sessentista, efeitos visuais oitentistas, sonoridades da próxima década: o passeio temporal que ele imprime torna “Animal” uma gostosa máquina do tempo que faz qualquer um viajar. E voltar. E tornar a viajar... As aventuras de Pinocchio no mundo do sertanejo Com mais de 150 músicas gravadas por duplas sertanejas, Pinocchio já trabalhou com conhecidos nomes do gênero, como Daniel, Henrique & Ruan, César Menotti & Fabiano e Jorge & Mateus. Mas não se dá por satisfetio. Da cidade de Douradoquara, no interior mineiro, o músico trabalha na préprodução do novo DVD do cantor Gusttavo Lima (“Gusttavo Lima No Buteco”), assina a produção de novos trabalhos da dupla Hugo & Tiago e ilustra a ficha técnica da produção de novos artistas, como o cantor brasiliense Wagner Simão. Seja como compositor, produtor ou sanfoneiro, Pinocchio, na estrada desde os 13 anos, já inscreveu seu nome entre os bambas da música sertaneja. Entre a saída do Cansei e o “Animal”, o que rolou? Logo que eu saí do CSS, gravei dois discos com minha outra banda, a Madrid. Em dois anos fomos tocar duas vezes na Europa e fizemos muitos shows pelo Brasil. E daí a Marina (Vello, parceira dele no projeto) se mudou para Paris, o que colocou a banda de férias forçadas. Nunca paro de compor. Quando vi, tinha um disco inteiro em inglês. O novo disco (e os antigos amigos) de Romulo Fróes Na hora do “vamos com quem?”, como escolheu as participações do seu disco? Meu amigo Marcus Preto, que acabou fazendo a direção artística do disco, pegou essas composições e mandou para um monte de gente, a maioria eu não conhecia pessoalmente. Guilherme Arantes, Kiko Dinucci, Odair José, John Ulhôa. Alguns eu conhecia, como a Alice Caymmi, o Martim Bernarde, o Marcelo Segreto e a Gaby Amarantos. Eles fizeram versões das letras em inglês em cima da minha melodia. E quem você convidou? Eu chamei o Péricles Martins, que tem um projeto chamado Boss In Drama, para reproduzir algumas faixas, chamei o Rogério Flausino para cantar uma outra, que acabou virando uma parceria minha, dele e do Péricles... Por isso tudo, estou muito contente com esse disco. Foto: Maria Helena Zerba Tem Romulo Fróes novo na praça. Com distribuição do selo YB, “Barulho Feio” (disponível para download gratuito em romulofroes.com.br) sucede a “Um Labirinto em Cada Pé” (2011) e deleita, de novo, com o som sofisticado do músico paulistano, um dos grandes da sua geração. A faixa “Ó” é mais uma atraente parceria com o multiartista Nuno Ramos, frequente nas bolachas de Romulo. São 15 faixas produzidas por Marcelo Cabral e Guilherme Held. Entre os encontros musicais que se celebram na obra, chamam atenção as participações do saxofonista Thiago França, da cantora Juçara Marçal e dos músicos Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, com quem Fróes formou o Passo Torto, já com dois discos e muitos shows. Há um ano, "Calado", primeiro disco do compositor, ganhou uma edição em vinil, comemorativa de seus dez anos de lançamento, e "Passo Elétrico", segundo álbum do grupo, levou o Prêmio da Música Brasileira na categoria melhor álbum de rock-pop. Louros óbvios colhidos por uma carreira que faz barulho do jeito certo. “Dez anos atrás, eu tinha o desejo básico de todo artista, que era fazer sucesso, ser parte da MPB que todos comentam. Fomos entendendo que talvez não fôssemos capazes disso. Mas não parávamos de produzir. E os modelos se ajustaram. Hoje sou reconhecido, citado em trabalhos, consigo viver da minha música. Mas continuo anônimo do ponto de vista da indústria”, diz Romulo, que começa a gravar um disco com músicas de Nelson Cavaquinho, a ser lançado no primeiro semestre de 2015. Notícias : UBC/9 8/UBC : NOTÍCIAS fique de olho novidades Internacionais Ouvidoria aproxima associado da diretoria da UBC Em outubro, a UBC inaugurou um novo canal de comunicação entre seus associados e a diretoria da associação, a Ouvidoria. Através de um formulário online, e-mail, telefone ou correio, será possível o envio de reclamações, elogios ou sugestões. O objetivo deste novo canal é ouvir as reivindicações para que as ações e as atividades da UBC reflitam os desejos e as necessidades dos associados e de outras pessoas que de alguma forma estejam relacionadas com o trabalho realizado pela associação. A Ouvidoria funciona como uma segunda instância, ou seja, para a hipótese de o solicitante não ter obtido êxito na resolução de sua reclamação apresentada ao departamento de atendimento na sede, ou à sua filial ou pelo Fale Conosco, que também continua sendo o canal para tirar dúvidas e solicitar informações. Para conhecer mais sobre a ouvidoria, acesse: www.ubc.org.br/ouvidoria. Sociedade inglesa visita sede da UBC No ano em que celebra seus 100 anos, a sociedade inglesa de gestão coletiva de direitos autorais PRS for Music fez uma visita à sede da UBC no Rio de Janeiro em setembro. As duas sociedades mantêm contrato de reciprocidade desde 1946, quatro anos após a fundação da UBC. A música inglesa é executada em todo o mundo, e grande parte do que é arrecadado para os autores ingleses vem das sociedades estrangeiras que a representam, como a UBC no Brasil. A PRS for Music também é responsável pela arrecadação dos direitos de execução pública dos associados à UBC na Inglaterra. Durante a visita, as representantes da PRS for Music, Judith Luscombe e Sarah Bargiela, conheceram as novidades tecnológicas no processamento de distribuição da UBC e como é gerenciado o repertório de seus associados. Também foram discutidas as últimas mudanças ocorridas no cenário brasileiro e os acordos de pagamento firmados com a TV Globo e as operadoras de TV por Assinatura. Ecad diminui taxa, e UBC, mais ainda A partir de agosto de 2014, o percentual cobrado pela gestão de direitos autorais de execução pública musical, cuja finalidade é custear as despesas das associações e do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), sofreu redução. Mesmo com a mudança, a UBC mantém sua política de maximizar o repasse dos rendimentos de direitos autorais aos seus associados. O Ecad passou a cobrar 15,61% pelos seus custos, e as associações 6,89% dos totais distribuídos para o seu repertório. A UBC reduziu o novo percentual para 5,89%. Com isso, seus associados passam a receber 78,5% do total arrecadado pela execução de suas obras e fonogramas. Leia o comunicado completo: http://goo.gl/gizHVh Distribuição dos acordos firmados com Net e Claro TV Neste fim de ano, serão distribuídos os valores dos acordos firmados com as operadoras Claro TV e Net. Além disso, a Sky procurou o Ecad para regularizar o pagamento das mensalidades do ano de 2014. Bons motivos para os titulares de direitos autorais comemorarem, já que o segmento de TV por Assinatura, que atingiu o índice de 98% de inadimplência em 2011, hoje conta com mais de 80% do mercado em dia com seu pagamento de direitos autorais regularizados. Veja o quadro abaixo: Sky A Sky e o Ecad estão em fase de assinatura do contrato que regula a relação da operadora com o Escritório Central. Serão pagos R$ 38 milhões divididos em seis parcelas, referentes às mensalidades de janeiro a setembro de 2014. A partir da finalização do acordo, a Sky passa a pagar regularmente uma mensalidade calculada nas mesmas bases adotadas nos contratos com as outras operadoras de TV por assinatura. Vale lembrar que R$ 210 milhões foram distribuídos em dezembro de 2013 e maio passado, referentes ao acordo fechado pela execução de obras e fonogramas entre 2004 e 2013. Geraldo Vianna representa a UBC na reunião da Alcam na Bolívia Argentina bloqueia The Pirate Bay, e entidade musical do país é hackeada Com adesão cada vez maior entre os países sul-americanos, a Aliança Latino-Americana de Autores e Compositores (Alcam) recebeu, em sua última reunião, em agosto, autores interessados em discutir os caminhos e desafios do direito autoral. Entre os participantes, o compositor, violonista, arranjador e produtor mineiro Geraldo Vianna representou a UBC nas sessões realizadas em Cochabamba (Bolívia). No encontro, foram debatidas medidas governamentais e propostas de alteração das leis que tratam da gestão coletiva de direitos autorais nos países da região, que apresentam uma tendência excessivamente intervencionista. Criada para buscar melhores condições de trabalho e sobrevivência para os autores e compositores, a Alcam é composta por representantes das várias sociedades de autores latino-americanas. Vianna pregou a necessidade de buscar diferentes estratégias de divulgação da música latina, a fim de aumentar sua influência no mercado internacional. E afirmou ser preciso usar com inteligência a mesma internet que potencializou as violações dos direitos autorais. “É preciso atuar de forma obstinada e persistente, buscando um intercâmbio constante. Salientei a tendência e a importância de criarmos meios de comunicação e de utilização maciça das redes sociais e de grupos de discussão e organizações em cada país para, juntos, discutirmos e expormos os problemas relacionados ao cotidiano dos autores e compositores. Que seja criada uma verdadeira rede de informações entre os países integrantes da Aliança.” Também estiveram presentes representantes das sociedades de autores de Argentina, Costa Rica, Chile, Paraguai e Uruguai. A Argentina se tornou o primeiro país sul-americano a bloquear o popular portal P2P The Pirate Bay. A ordem judicial, aplicada aos 11 principais provedores de internet do país, seguiu-se a uma ação movida pelo principal organismo representante da indústria discográfica local, a Câmara Argentina de Produtores de Fonogramas e Videogramas (CAPIF). A decisão foi liminar e não teve contestação até o momento, de modo que deve durar até que o processo seja concluído. Na avaliação da CAPIF, o portal de compartilhamento de músicas sem licença é uma ameaça séria ao negócio musical. Logo depois da decisão, o site oficial da entidade foi hackeado, e sua página de abertura foi substituída pelo servidor do próprio The Pirate Bay, permitindo aos usuários argentinos continuar a compartilhar arquivos ilegalmente. Foram necessárias mais de dez horas até que a CAPIF recuperasse acesso ao seu próprio portal. As informações são do site aliadodigital.com. Estudo da Cisac destaca potencial da indústria criativa nos Brics Net A operadora já paga regularmente, desde janeiro de 2014, as mensalidades de direitos autorais de execução pública, e em novembro será distribuído o valor de R$ 125 milhões referente ao acordo firmado pela execução de obras e fonogramas entre 2004 e 2013. Claro TV Será distribuído, em dezembro, o valor de R$ 85 milhões relativo ao acordo feito com a operadora pela execução de obras e fonogramas no período entre 2008 e 2013. A Claro TV também está em dia com suas mensalidades. OUTRAS A OI TV está em débito com o Ecad desde 2009 e questiona o valor a ser pago na Justiça. O mesmo caso da GVT, que está em débito desde 2011 e realiza depósitos judiciais. O Ecad cobra na justiça o pagamento de direitos autorais da Vivo TV (junção da TVA, em débito desde 1994, e Telefônica, desde 2007), que também realiza depósitos judiciais. Vendas de álbuns on-line caem, e 'streamings' disparam nos EUA As vendas de álbuns e canções digitais tiveram quedas de, respectivamente, 11,6% e 13% no primeiro semestre do ano nos Estados Unidos, segundo dados da consultoria Nielson SoundScan. Mas nada parece alarmar a indústria americana, que confia no streaming para revitalizar o mercado. Essa modalidade de consumo de música on-line subiu 42% no mesmo período, atingindo 70,3 milhões de reproduções. Ainda que alguns álbuns tenham desempenhos animadores – como a trilha do filme “Frozen”, da Disney, com 2,7 milhões de cópias vendidas, e bons resultados também para Beyoncé, Lorde e Coldplay, com números de 700 mil a 590 mil unidades descarregadas –, o panorama geral é de queda nas vendas na última década, fenômeno similar ao que ocorre com os CDs. Um estudo da Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores (Cisac), divulgado em setembro, identificou “tremendo potencial” nos países do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para aumentar a contribuição da sua indústria criativa ao Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com o levantamento, a média de contribuição de músicas, filmes, espetáculos de teatro e outros gêneros para o total da riqueza gerada nessas nações é de apenas 1% a 6%, em média. De acordo com a Cisac, em 2011 o comércio internacional de bens culturais atingiu US$ 624 bilhões, algo como 7,5% de tudo o que foi exportado. Mas a fatia dos Brics nesse bolo não passou de US$ 12 bilhões, menos da metade do que os EUA geraram sozinhos, apesar de, combinadas, as economias das maiores nações em desenvolvimento serem apenas 12% menores que a do gigante norte-americano. “A economia criativa gera algo como 10% a 11% do PIB na Coreia do Sul ou nos EUA. Ainda que culturalmente ricos, os países dos Brics giram só uma fração disso”, afirmou Javed Akhtar, letrista, poeta e roteirista indiano e um dos vice-presidentes da Cisac. mercado : UBC/11 10/UBC : mercado Trilha de fundo, emoção na linha de frente Profissionais desvendam gênero artístico que reúne música, voz, ruídos e inúmeros efeitos sonoros para dar mais vida e emoção a filmes, novelas, programas jornalísticos, peças de teatro e muitas outras atrações Por Bruno Calixto, do Rio Na infância, o produtor e compositor carioca Pedro Guedes se sentava, vidrado, diante da TV para curtir seus programas favoritos. Mas do que ele se lembra com especial emoção, mesmo, é das trilhas sonoras de filmes como “Indiana Jones” e “Blade Runner”, do seriado “O Tempo e o Vento” e até do “Globo Repórter”. “Ficava morrendo de medo. As notas da abertura (do jornalístico da TV Globo) são muito tensas”, diz. Coincidência ou não, o arranjo hoje no ar no programa noturno das sextas-feiras tem solo de guitarra de Pedro. Por trás de uma bela ou eletrizante imagem na TV, o chamado background envolve o telespectador mais do que ele é capaz de imaginar. E essa mágica é fruto de um rico processo de produção, muitas vezes feito antes mesmo de a obra visual ganhar um roteiro. Outro craque no ramo é o também carioca Fernando Moura, compositor de trilhas independente que trabalha para várias emissoras de TV, abertas e por assinatura, diretamente ou por meio de produtoras de vídeo. “Cada uma delas tem uma especificidade, mas todas são unânimes na urgência das entregas”, ressalta o criador e pianista, que assina projetos para Globo, TV Brasil e TV Record. De Paris, onde está em temporada de shows com o percussionista Ary Dias, ele conta que começou a compor trilhas sonoras originais para teatro no final dos anos 1970. A estreia foi numa montagem de “O despertar da primavera”, encenada por Miguel Fallabella, Daniel Dantas e Maria Padilha. A atriz, aliás, estudou com o compositor e o convidou a compor as músicas da trama. “Sempre gostei muito de compor, tive aulas de composição e arranjo com o Guilherme Vaz, um compositor incrível de música para cinema”, lembra. “A partir dos anos 80, comecei a fazer trilhas para curtas e filmes publicitários com diretores como Ricardo Miranda, Sargentelli Filho e Carlos Manga.” Daí em diante, foram mais de 15 longas, com direito a graduação em música para cinema, TV e multimídia na GrãBretanha. O ingresso na TV veio no fim dos anos 90, no Canal Futura. “Com o crescimento da TV a cabo, ampliei bastante minha área de atuação, trabalhando para canais como GNT e MultiShow. Em 2008, Fernando Moura faturou o prêmio Coral do Festival de Havana pela trilha do filme “Maré, Nossa História de Amor”, de Lucia Murat. Mês passado, o compositor teve trabalho apresentado no Festival do Rio: a trilha do longa “O Estopim”, de Rodrigo Mac Niven. Compositor de algumas séries da TV Globo, como “Doce de Mãe”, de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, o gaúcho Maurício Nader é outro que faz mágica para envolver o espectador por meio da música. Ele atua diretamente com os diretores e criadores do roteiro, e, segundo conta, vai construindo o conceito da trilha antes e ao longo das filmagens – e até mesmo durante a montagem dos programas. “As trilhas já vão prontas junto com tudo para a aprovação da emissora”, explica. Seguindo mais pelo viés do jornalismo, Pedro Guedes atua com trilhas para a Globo News e a TV Globo. “As demandas são muito variadas, e precisamos estar preparados para compor e produzir todo tipo de música. Essa pluralidade é o que mais me encanta. Ao mesmo tempo, é uma das partes difíceis do trabalho. Quando há um prazo maior, eu recebo o programa editado e componho a trilha sonora vendo as imagens. Porém, na maioria das vezes, não há tempo para isso, e a trilha é feita de acordo com um briefing ou um roteiro”, explica. Ele é autor de 40 temas utilizados na Copa do Mundo de 2014, entre eles a música do clipe de abertura do sorteio da Fifa, transmitido para o mundo todo. “O mar, a natureza e, depois, a própria cidade e suas luzes sempre foram fontes de inspiração.” Além do cinema, da televisão e do rádio, o conceito de trilha sonora tem se ampliado e vem sendo aplicado a videogames, aplicativos para celular e, claro, produções audiovisuais para a internet. Com a convergência tecnológica e o crescimento desse mercado, cada vez mais são necessários profissionais preparados, equipados e criativos. “O profissional de trilhas não pode se dar ao luxo de não estar inspirado. Todo dia é dia de compor. Com o tempo, essa pressão vira parte da rotina, mas é uma dificuldade”, Na era digital, campo de atuação ganha novas possibilidades, como videogames, aplicativos para celular e produções audiovisuais para a internet pondera Guedes, defensor do estudo de matérias tradicionais, instrumentos, teoria musical, técnicas de produção, softwares e, claro, gêneros musicais de todo o mundo. “É imprescindível gostar de estar no estúdio. Você acaba morando lá. Eu adoro!” Nader vai na mesma linha: “Procuro me capacitar estudando, explorando, observando e ouvindo. Mas, como vamos distinguir um músico profissional de um amador? Pela capacidade de tocar um instrumento, pelo dinheiro que ganha ou não, por uma carteirinha no bolso ou por um diploma? Tudo isso é muito complicado de avaliar”, cogita o gaúcho. Envolvido em projetos da Casa de Cinema de Porto Alegre (de Jorge Furtado), como o filme “Homens de Bem”, Nader, como Fernando Moura, ingressou no ramo a convite. “Sempre gostei de trilhas e comecei fazendo para uma peça de teatro a convite de outro amigo músico envolvido na produção. Um convite foi, então, levando a outro...” Também parceiro de Jorge Furtado, Leo Henkin crê que o mercado para trilha sonoras engordou nos últimos anos, mas prega uma necessidade de maior profissionalização: “O mercado não aumenta apenas devido ao crescimento da produção do cinema brasileiro, mas também dadas as novas demandas para televisão e internet. Porém, esse crescimento não se traduz exatamente numa profissionalização do mercado, que carece de orientação, principalmente em relação a valores para produção, criação, músicos, arranjos e direção musical.” Atualmente, existem cursos de formação destinados a profissionais de música, áudio, DJs e afins que, além de apresentar as técnicas de sincronização da música e do som nas diversas possibilidades de produtos audiovisuais, exploram as formas do fazer e a análise do que já é feito na área das linguagens multimídia. Qualquer que seja a formação, porém, os profissionais da área dizem ser fundamental ter versatilidade, rapidez e feeling para construir uma narrativa integrada e paralela à visual. “Não adianta disputar com a obra ou com qualquer um dos seus elementos, como o diálogo, o som direto, os efeitos sonoros... É preciso entender a necessidade narrativa da obra e transformá-la em música para ajudar a história a percorrer o melhor caminho até o espectador. E bem rápido, que já estamos em cima do prazo (risos)”, brinca Moura. No Brasil, a equipe envolvida na produção de uma trilha para TV, de um modo geral, é composta pelo compositor contratado para fazer a música original, o produtor ou supervisor musical, o diretor do programa, o diretor de núcleo ou supervisor de programação e a direção da emissora. Diferentemente do que ocorre em muitos países, o compositor é, muitas vezes, o próprio produtor fonográfico, eliminando intermediários e tornando o processo criativo mais célere, em linha com as exigências do mercado. “Há uma vantagem no fato de o próprio compositor ser o produtor fonográfico, pois o compositor pode fazer tudo em seu próprio estúdio ou alugar um e trabalhar suas ideias num computador. A tecnologia facilitou muito as coisas nesse sentido, gravar não envolve mais o que seria o processo fonográfico, em que apenas um especialista na área poderia fazê-lo. Além disso, o produtor fonográfico, em alguns casos, é um cargo burocrático em que uma pessoa acaba obtendo boa parte dos rendimentos dos direitos de uma música sem ter participado do processo em momento algum”, considera Maurício Nader. “Em alguns trabalhos, faço tudo até por necessidade de adequação ao orçamento e ao prazo, em outros tenho a possibilidade de gravar com outros músicos, fazer arranjos para cordas, sopros...” “Esse crescimento não se traduz exatamente numa profissionalização do mercado, que carece de orientação, principalmente em relação a valores para produção, criação, músicos, arranjos e direção musical.” Leo Henkin UBC cria núcleo de TV Um nicho de mercado com características específicas exige uma equipe especializada e ágil. Por isso, a UBC criou um núcleo destinado à TV coordenado pelo gerente de atendimento Márcio Ferreira. Os profissionais envolvidos acompanham minuciosamente o que é executado a fim de fazer os repasses de pagamentos de modo justo e fidedigno aos associados que compõem para programas de televisão e cinema. "Além do acompanhamento detalhado, mantemos contato muito próximo com os titulares que atuam na área do audiovisual para que eles tenham seus rendimentos maximizados e recebam seus pagamentos em dia", afirma o gerente de operações, Fábio Geovane. Entre as principais atividades, Márcio Ferreira inclui a análise da programação dos canais abertos e fechados, a criação de relatórios específicos para controle das execuções e o armazenamento de áudio dos fonogramas criados para programação das TVs. A UBC tem atualmente 17.524 titulares associados nas diversas categorias (autor, editor, intérprete, músico e produtor fonográfico), e qualquer um deles pode vir a ter uma obra usada em um trabalho audiovisual, por isso a necessidade de um monitoramento constante. Segundo Geovane, depois da criação do núcleo de TV em maio, o serviço melhorou, e a quantidade de titulares desse nicho específico também aumentou, uma vez que o bom serviço acabou atraindo mais associados. capa : UBC/13 12/UBC : capa Foto: Leo Aversa Turnê, espetáculo infantil, livro, saraus, composições, show-homenagem, haicai, viagens, vida on e off-line: o mundo de coisas que move o mundo de Adriana Calcanhotto Por Leonardo Lichote, do Rio Adriana Calcanhotto gosta de acordar com a luz do dia e de fazer as coisas numa ordem que segue mais a intuição que um método determinado. Um desejo de estar próxima ao “tempo da natureza”, como ela define. Mas nada de paisagens serenas clichê. A natureza de Calcanhotto é a natureza mesmo, real – incessantemente produtiva, em ebulição sob a capa de harmonia. Sob a voz tranquila e a conversa leve, a cantora – que, avessa ao ritmo frenético da internet, escolhe estar mais off-line do que on-line – sustenta um vulcão. Atualmente, circula com a turnê “Olhos de Onda”, prepara um show em homenagem a Lupicínio Rodrigues, estreou sua versão de “Pedro e o Lobo”, de Prokofiev (um espetáculo que inclui a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, arranjos de André Mehmari e canções de Partimpim, persona da artista dona de uma obra para crianças)... E encontra tempo para compor. Além disso, cumpre uma agenda de eventos relativa a dois livros que idealizou e compilou: “Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira: Para Crianças de Qualquer Idade”; e “Haicai do Brasil”, que lançou na última Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Soma-se a tudo a ideia de aprender a tocar violão sete cordas. Natureza selvagem. Como vai a turnê de “Olhos de Onda”? E como o show e sua percepção sobre ele mudaram ao longo da estrada? A turnê vai de vento em popa. É uma delícia fazer esse show, tenho gostado mais e mais. A turnê vai até março do ano que vem, acaba em Lisboa, na sala Gulbenkian. Tem uma coisa interessante nesse show: ele se impôs para ser feito em teatros, tem uma dinâmica que faz com que não se dê em outro tipo de local. Perde muito, não imprime o que ele é, se não for assim. O rádio, o momento do acaso, o que está tocando na hora. Já fiz muitos shows de voz e violão, em lugares abertos, para 10 mil pessoas – e acontece. Mas esse show não funciona. Ele tem um habitat natural, o teatro. De todos os shows que fiz, com pensamentos, intervenções e conceitos teatrais, é o mais teatral. E se revelou assim para mim ao longo da turnê. Essa parte do rádio - na qual vocês põem no áudio uma rádio do local, ao vivo, interferindo no show – deve gerar uma série de surpresas curiosas, não? 'A graça é não saber o Muitas vezes acontecem coisas tão incríveis, tão inesperadas, que nenhuma cabeça poderia inventar. É tão surpreendente que minha tendência é parar para ouvir aquilo, e eu não posso, tenho que focar em cantar e tocar. Em Lisboa, tocou Amália. No camarim a gente comentou que as pessoas devem ter achado que era uma gravação, uma referência óbvia que estávamos usando (risos). Sim, algo como lá vem a brasileira que só conhece Amália fazer um agrado... Isso! (risos) capa : UBC/15 14/UBC : capa Como está a recepção ao “Haicai do Brasil”? Por que você exclui o primeiro disco? O livro foi recebido com um encantamento enorme. Até pela potência mesmo que o haicai concentra em si, aquela hipercondensação de poesia. Na verdade, a reação é um reflexo do que é, de o haicai ser a forma poética mais praticada no mundo. As pessoas têm adorado o livro, e as perguntas que elas fazem são de uma pertinência... Você percebe que o haicai está na vida das pessoas, elas conhecem, não é um assunto tão distante. Você nota que umas têm ligação com Mário Quintana, outras, com Millôr, por ele ter estado na imprensa... Mas o que chama a atenção delas é quando percebem o arco da história do haicai, de onde ele vem, até essa coisa de não se saber de onde ele vem ou quem foi o primeiro a fazer, as diferentes correntes... Tudo mostra que tem uma história acontecendo, como um poeta influencia o outro. Mesmo eu, quando fui me deter, me dei conta dessa trajetória muito viva. Surpreende mesmo. E continuo tendo uma acolhida muito boa para a antologia (“Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira: Para Crianças de Qualquer Idade”), que está na segunda edição, agora completa, com poemas de Manuel Bandeira e Cecilia Meireles. Tenho sido muito chamada para falar dela. Aquilo foram circunstâncias, eu realmente não estava pensando em disco. Estava chegando de Porto Alegre, meu foco era estar no palco, fazendo performances... Fazia umas coisas para provocar vaias, eu estava nessa criancice (risos). E eu não tinha adentrado o mundo do estúdio, aquilo não passava pela minha cabeça. Mas, ao mesmo tempo, quando cheguei ao Rio, tinha convite de quatro gravadoras. Não era o momento de dizer “não quero isso”. Mas também não tinha o desejo verdadeiro, interno, de fazer um disco. Essa é a diferença do primeiro para o segundo, quando disse “agora vou sentar e fazer meu disco”. Apesar de muita gente gostar desse disco (o primeiro), para mim falta isso, a vontade de fazêlo. Ele tem provocações que eram feitas no palco com muita ironia, mas que não imprimiram no disco. E teve um corte também da banda, uma banda que já estava tocando aquele repertório comigo e que foi dispensada para que entrasse uma banda profissional. E “Pedro e o Lobo”? Como foi a experiência com o encontro de Osesp, Mehmari, canções da Partimpim? Fiz duas apresentações, 6 e 7 de setembro, na Sala São Paulo, e depois no POA Em Cena, em Porto Alegre. Foi uma liga maravilhosa, foi tudo muito mágico, quando juntou orquestra, arranjos, regente... Fizemos ensaios abertos em São Paulo antes da estreia, e a cada sessão foi melhorando. Nos primeiros ensaios eu ficava olhando a sala, depois olhando o olho das crianças... Perdi várias entradas (risos). Você viu outras versões de “Pedro e o Lobo”? Como foi seu olhar sobre a obra? Não cheguei a ver o que Regina Casé fez na Quinta (da Boa Vista, no Rio de Janeiro), mas ouvi tudo que pude. Quis manter o mais próximo do original. Uma das qualidades da peça, o que a torna uma obra-prima, é que Prokofiev escreve pouquíssimas frases para contar a história. Isso dá espaço para a imaginação das crianças. A história não é mirabolante. Tem o lobo, o herói, a voz da razão que é o vovô, tem o cara mau. Não sei russo, mas escolhi uma tradução que parece ser literalmente a do russo para o inglês e passei para o português. O objetivo de Prokofiev é contar a história, mas também apresentar a orquestra para as crianças. Isso é o mais importante. Você está compondo? Um pouquinho. Estava compondo mais antes de estar superdedicada a “Pedro e o Lobo”. Agora ainda não voltei totalmente porque estou começando a me dedicar a um concerto que farei no dia 4 de dezembro só sobre Lupicínio Rodrigues. Como será esse show? Montei uma banda para isso, terei a participação de Arthur Nestrovski. Estou agora na árdua tarefa de tirar canções do roteiro. Cortar as minhas é mais fácil (risos). É engraçado porque estou revendo minha relação com Lupicínio, a confirmação dessa coisa de que Lupicínio para mim sempre existiu. Tive muitos impactos, com vários compositores, de pensar “meu Deus, de onde saiu isso?”. Mas com Lupicínio nunca teve isso. Esses dias, lá em Porto Alegre, me falaram de alguém que disse que Lupicínio seria nosso Shakespeare, porque está tudo ali. Fiquei pensando, de certa forma é isso mesmo. E talvez a sensação de que ele sempre existiu para mim talvez não seja só por eu ter nascido ali. Talvez sempre tenha existido mesmo, nesse sentido shakespeareano. Estou pensando o show dessa forma. Mas é difícil. Porque fiz uma primeira lista obrigatória. E aí depois fiz uma lista de mais 40 que também são obrigatórias. Não tem grandes pinçadas a fazer. Então você está muito voltada para esse show, sem tempo para compor... Tem esse lance que o Gilberto Gil fala, que quando você abre uma canção, quando você sonha em fazer uma canção, você fica meio refém daquilo. Até que aquilo acabe você precisa estar à disposição. Fazendo tanta coisa, às vezes eu fecho essa porta para não me atrapalhar. Antes de “Pedro e o Lobo” eu estava conseguindo conciliar turnê, os eventos dos livros e compondo algumas coisas. Estava musicando uns poemas, brincando com o violão de sete cordas que comprei. Aliás meu gato o quebrou. Ele faz strike, joga boliche com meus violões, numa dessas quebrou a cravelha da sétima corda. Mas, como disse, andei musicando uns poemas, um do Waly, um da Alice Sant'anna chamado “Rabo de Baleia”. Gosto muito de compor, ainda mais assim, sem um projeto, sem estar pensando num disco. Gosto dessa coisa solta, acho o outro jeito, “estou compondo para o meu disco”, aterrorizante, paralisante. O que a move para compor? A vida. Você não sabe o que começa o processo. Você lê uma frase no jornal, bota o jornal de lado, pega o violão, toca meia música que existe, e dali sai uma coisa. Estava lembrando do jeito que foi feita a canção “Olhos de Onda”. Acordei, liguei o laptop, vi um vídeo daquela banda Tipo Uísque pedindo patrocínio, grana para fazer o projeto deles. Peguei o violão e escrevi “Olhos de Onda”, que não tem uma ligação direta com isso. A graça é não saber o caminho. Você gosta de falar de suas canções? Não tenho problema em falar delas, às vezes eu só não sei o que dizer. O mais importante, que é como uma canção nasce, não dá para saber. E também não importa saber. Muitas vezes as pessoas fazem comentários sobre canções minhas que eu nunca imaginaria. Mas, se está certo ou errado, não sei dizer. Uma vez, numa entrevista de lançamento do “Senhas”, a jornalista disse: “Por que você diz numa de suas canções: 'eu hospedo infratores e bandidos'... Eu respondi: “Não, eu canto 'banidos'”. E ela: “Não, 'bandidos'” (risos). Como é sua relação com as redes sociais, a internet? Enjoei da internet, estou mais desconectada do que conectada. Já andei mais em internet, hoje uso mais como ferramenta de pesquisa mesmo, das minhas maluquices, dos meus assuntos. Como essa coisa do haicai, que é muito viva. Li estudos literários na internet sobre o assunto, por exemplo. Mas hoje eu desconecto mesmo, fisicamente. Só entro na internet para olhar algo. Não fico o tempo todo on-line. Porque existem as duas possibilidades, estar ou não conectado, mas o mundo conectado vai levando a gente para uma única opção, que é estar o tempo todo on-line. Para mim talvez seja mais fácil me desligar porque vivi um tempo em que não se estava conectado. Isso parecia uma possibilidade maravilhosa que só meus netos viveriam. Então acho que estou totalmente no lucro de viver isso também. Mas, por exemplo, não uso mais relógio. Acho que ficar muito escravo do tempo é ruim. E na internet você fica escravo dos segundos, se aquilo não baixa na hora você começa a se frustar. Até tenho redes sociais no meu celular, mas não olho. Meu celular funciona como telefone. Estou gostando mais de viver num timing mais perto do tempo da natureza, fico mais relax. Acordo com a luz do dia... Quero dizer, não tenho muita escolha, porque a vida na estrada é o exército, você acorda às 5h da manhã, essas coisas. Mas a minha preferência é acordar com a luz do dia, fazer tudo cedo. Tudo que fazia antes vou fazendo mais e mais cedo, ficando mais e mais diurna. Gosto da luz do dia. Vou fazendo meus compromissos sem muita ordem, não sou metódica. De onde veio essa constatação de que estar off-line seria bom para você? Tenho tanto compromisso que, se eu começar a pensar dessa forma opressora, com esse tempo opressor, não vou curtir as coisas que eu tenho para fazer. Faço todas essas coisas ao mesmo tempo porque eu acredito nelas, eu aceito compromissos porque são coisas bacanas de fazer, que eu quero fazer dando tudo de mim. Acho que me manter desconectada, com um tempo mais artístico, mais elástico, me deixa mais feliz. Você tem um álbum favorito? Não. Acho que, excetuando o primeiro, que é um disco que não tive muita vontade de fazer, eu tive uns desejos para cada um dos álbuns, e a sensação que tenho é que dei tudo de mim neles. Entre acertos e erros, tenho a sensação de que fiz tudo que queria ter feito ali. Nunca penso “putz, devia ter dado mais de mim”. Entrevistei o Arnaldo Antunes dia desses, e ele me disse isso mesmo: “uma vez que as canções, os discos estão no mundo, não tenho o menor interesse no que será feito, as coisas são reeditadas, e não tenho a menor vontade de olhar para trás, corrigir nada”. Tenho essa sensação também. Logo que uma canção minha sai, aquilo para mim está no mundo, já não me pertence. Se estou no palco vendo um set list de canções, e tem uma do Chico, outra do Caetano, uma minha, aquilo é uma lista de canções. Não faz diferença ser minha. Mas você ouve seus discos? Não ouço mesmo. Para que ouvir, se posso ouvir coisas novas? O que chama sua atenção nas coisas novas? Me interessa sempre o que está acontecendo. Mas não estou atualizada, até pelo volume de trabalhos. Tenho gostado de ver uma movimentação no funk, tentativas do funk de chegar mais perto da poesia. Tem uma menina que ouvi há uns anos, lendo “O Fingidor” (“Autopsicografia”), do Fernando Pessoa, sobre um batidão. Esse rumo é interessante. Adorei o disco novo do Gil (“Gilbertos Samba”, sobre repertório de João Gilberto). Aí dizem: “Mas é imitando João Gilberto...”. É, sim, mas qual o problema? (risos) E o terceiro disco de sua trilogia marinha, depois de “Maritmo” e “Maré”? Vai sair? Ele existe. Se eu vou fazer ou não, é outra história... Agora vou continuar com a turnê “Olhos de Onda”. E não vou deixar de me dedicar a “Pedro e o Lobo”. Em fevereiro vou fazer o espetáculo na Sala Gulbenkian, em Lisboa. E é possível que faça no Rio em outubro, talvez em dezembro. É um projeto de que estou gostando muito, devo fazer quando as orquestras me chamarem. Em três dias de outubro de 2015 faremos de novo na Sala São Paulo, provavelmente registrando. De composição, tem umas duas músicas nas quais estou trabalhando, umas duas ou três que mandei para a Gal (a cantora está escolhendo repertório de seu novo disco). Esses poemas musicados estão comigo, um do Waly, um da Alice e um do Omar (Salomão). Fiz também o sarau com a Dona Cleo (Cleonice Berardinelli) no Real Gabinete Português (no Rio), só lendo Mário de SáCarneiro. Já tinha musicado algumas coisas dele, Dona Cleo pediu para musicar outras... Foi maravilhoso. E ainda tem o show de Lupicínio, a turnê de “Olhos de Onda”, a turnê dos livros... É bastante. distribuição : UBC/17 16/UBC : distribuição Plataformas sssssssdigitais desafios bem palpáveis Serviços on-line representam novos canais de distribuição de música, mas ainda precisam aperfeiçoar o modelo de negócio e as relações com os criadores Diretora-executiva da União Brasileira de Compositores (UBC), Marisa Gandelman afirma que essa dinâmica traz uma série de desafios à arrecadação para artistas e compositores: “No caso dos serviços que ofertam a opção de streaming, por exemplo, a situação é mais complicada, já que você tem práticas que se misturam, o que exige uma complexa estrutura de arrecadação. Além disso, em razão do expressivo número de meios de difusão e oferta de música, há um processo de banalização do valor de troca da música, o que não é bom”. Por Thiago Jansen, do Rio Um evento ocorrido em setembro passado em Genebra, na Suíça, ilustra bem o que ela diz. Paralelamente à Assembleia Geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), agência da ONU encarregada de desenvolver políticas e leis de copyright, um grupo de artistas e especialistas expôs com clareza o mal-estar em torno das relações entre plataformas digitais e autores. Convocado pela Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores (Cisac), o Painel dos Criadores foi marcado por discursos contundentes como o do compositor canadense Eddie Schwartz, que comparou sua remuneração atual com a que obtinha em tempos pré-digitais. “Antes, as vendas de um milhão de discos de uma vez se traduziriam numa renda modesta de classe média e um disco de platina. Mas o extrato das minhas vendas digitais hoje mostra que, para cada milhão de streamings, eu recebo US$ 35. Meu status de classe média foi reduzido a uma pizza”, afirmou, antes de ser ovacionado. A revolução tecnológica das últimas décadas vem adicionando elementos inéditos às dinâmicas de consumo de canções e remuneração dos artistas por suas obras. Mas, se o bolo digital não para de crescer, a distribuição dos seus pedaços entre os criadores ainda carece de uma lógica mais justa. Internacionalmente, um clamor por um modelo de negócio que remunere melhor os autores ganha cada vez mais vozes No Brasil, desde o início da década de 2000 já operam, de modo mais ou menos regular, sites de compartilhamento de canções, mas a legalização só ganhou ímpeto uma década depois, com a chegada de serviços de streaming de áudio, como Rdio, e de lojas virtuais como a iTunes Store, da Apple, entre diversos outros que se seguiram a eles, como Deezer, Spotify e Google Play. Essas plataformas, a olhos leigos, parecem todas iguais, mas, na verdade, têm conceitos bem diferentes. Algumas são lojas on-line, que vendem canções e álbuns no formato eletrônico e permitem ao usuário fazer a descarga permanente dos fonogramas em seu dispositivo (um computador, um tocador de arquivos MP3, um tablet). Já os serviços de streaming possibilitam ao público, por meio do pagamento de assinaturas, ouvir as canções on-line e até mesmo armazená-las temporariamente, sem baixá-las definitivamente. Ainda que difiram, todas elas estão submetidas às mesmas regras de direito autoral, determinadas pela Lei 9.610/98, que estabelece os conceitos de reprodução/distribuição (fonomecânicos) e de execução pública. No entanto, se, antes da internet, as situações referentes a cada um desses direitos eram mais explícitas, no atual contexto esses conceitos muitas vezes se mesclam – descargas e simples reprodução podem ser feitas eventualmente pelos mesmos canais. A questão é importante porque tem impacto na estrutura necessária para a arrecadação desses direitos junto aos serviços: no caso das execuções públicas, ela é realizada pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad); já no direito de reprodução/distribuição, a cobrança é feita diretamente pelos titulares desse direito, individualmente, ou em conjunto. “Antes, as vendas de um milhão de discos de uma vez se traduziriam numa renda modesta de classe média e um disco de platina. Mas o extrato das minhas vendas digitais hoje mostra que, para cada milhão de 'streamings', eu recebo US$ 35. Meu status de classe média foi reduzido a uma pizza” Eddie Schwartz, compositor O presidente da Cisac, o músico francês Jean Michel Jarre, deixou claro que não se trata de uma guerra entre criadores e a indústria digital. Ele convidou legisladores a aprimorar regulamentações mundo afora de modo a garantir pagamentos justos e reafirmou a grande oportunidade que esta era proporciona aos artistas. “Deixem-me dizer em alto e bom som: nós somos pró-tecnologia. Apoiamos a tecnologia e não temos qualquer problema com ela. Mas precisamos de modelos de negócio sustentáveis, que façam sentido para ambas as partes. Esses serviços devem considerar o valor intrínseco das obras criativas e se basear em uma remuneração justa ao criadores. Estamos no centro da economia digital, e são nossas obras que geram receita para os serviços. Sendo assim, seria demais exigir que tenhamos uma justa participação nesse negócio?” Cálculos da rede britânica BBC estimaram, em 2013, em meio centavo de dólar o valor que renderá cada stream realizado num serviço como o Spotify. Isso quer dizer que, no melhor dos casos – ou seja, com uma gravadora independente por trás do artista em questão –, este ficará como algo como 50% do valor. No caso de uma major, o valor pode ser de exíguos 15%. Ou seja, a difícil quantidade de um milhão de reproduções (que poucos alcançam) daria a esse hipotético contratado de uma grande gravadora uns US$ 750 – um pouco mais do que o canadense Eddie Schwartz calculou no painel da Cisac, mas bem menos do que qualquer um consideraria uma arrecadação digna. Os serviços se defendem e afirmam que a remuneração é estabelecida “em contrato”. E é precisamente essa a questão: muitas vezes os artistas são a parte menos forte nesse cabo de guerra. Diante de uma disputa claramente mais candente, as plataformas digitais e as entidades de gestão coletiva vêm tentando realizar acordos para adaptar os conceitos convencionais às novas dinâmicas. Serviços como o YouTube e o Vevo, por exemplo, deveriam pagar tanto os direitos de reprodução como os de execução pública. No entanto, o consenso nem sempre é alcançado nessas negociações, gerando impasses que servem como justificativa para que não se paguem os direitos das músicas, das gravações e dos vídeos oferecidos. “O interessante é que, com esses serviços, qualquer artista tem condições de distribuir o seu trabalho de forma remunerada para além do público local, no mundo inteiro" Dudu de Morro Agudo, compositor Em lojas digitais como a iTunes Store, o pagamento dos direitos é feito ao produtor fonográfico, que repassa a parte do intérprete, ou ao agregador digital (especializado na distribuição de conteúdo para as lojas virtuais), aos editores das música ou aos órgãos que representam os direitos fonomecânicos, como é o caso da UBC, que, por sua vez, distribuem os devidos valores aos autores das músicas gravadas e vendidas. Já nas plataformas de streaming, convencionou-se a cobrança de um percentual referente à execução pública e outro aos direitos fonomecânicos e do autor. Ambas as cobranças são calculadas sobre a quantidade de execuções das obras nos serviços e sobre a renda oriunda de publicidade e assinaturas. “No Rdio, sobre a nossa receita líquida vinda das assinaturas existe um percentual destinado aos royalties negociado previamente com as gravadoras e editoras, que recebem os valores proporcionalmente ao número de execuções aplicado no total da receita do serviço. Consideramos uma execução quando a música toca mais de 45 segundos”, afirma Bruno Vieira, diretor do serviço no Brasil. Diretor geral do Spotify para a América Latina, Gustavo Diament explica que a sua plataforma também não tem contato direto com os artistas, apenas com as gravadoras e distribuidoras, bem como com as editoras e com as sociedades de gestão coletiva. No serviço, o valor dos royalties a serem pagos também é estabelecido de forma proporcional à quantidade de reproduções dos artistas. “Cerca de 70% de toda a receita do Spotify com taxas de publicidade e assinaturas são revertidos para os detentores de direitos: artistas, gravadoras, editoras e sociedades de direitos”, alega Diament. O lado positivo dos serviços é destacado por alguns artistas. Músico independente há 20 anos, o rapper Dudu de Morro Agudo admite que essas plataformas vêm proporcionando a artistas como ele acesso a uma audiência global. “O interessante é que, com esses serviços, qualquer artista tem condições de distribuir o seu trabalho de forma remunerada para além do público local, no mundo inteiro. É algo que dá oportunidades a artistas independentes, e não só aos de grandes gravadoras”, elogia. Mesmo que o mercado venha, em geral, conseguindo adaptar a operação dos novos serviços digitais no país à atual lei de direitos autorais, aprimoramentos na legislação poderiam beneficiar a estrutura de cobrança e distribuição de direitos. A solução definitiva para os impasses, porém, está nas relações de mercado, ou seja, entre os provedores de conteúdo digital e os criadores e demais titulares de direitos autorais de música. É o que afirma Marisa Gandelman, da UBC: “É importante ter em mente que a resposta para os conflitos não virá de uma mudança da lei, mas do próprio mercado. No entanto, é válido reconhecer que um aprimoramento na legislação poderia, sim, criar novas estruturas e mecanismos que facilitem a arrecadação dos direitos de uma forma mais barata e menos burocrática, a partir do reconhecimento do processamento conjunto de tipos de direitos diferentes.” Presidente da União Brasileira de Editores de Música (Ubem), Marcelo Falcão faz coro: “Precisamos de aprimoramento, não de revolução normativa. A fórmula ideal seria um refinamento do que já temos e que serviria para ratificar entendimentos e direitos.” UBC: dupla atuação para dar mais força aos autores Atenta à chegada maciça dos serviços de música on-line ao país e à necessidade permanente da distribuição dos rendimentos dos direitos dos compositores, a UBC se adapta. Parte do colegiado que integra o Ecad, a UBC trabalha há 72 anos com a arrecadação de direitos relativos à execução pública e, desde 2010, com aqueles relativos aos direitos fonomecânicos. Com essa atuação dupla, a associação tem conseguido se colocar em uma melhor posição para estabelecer acordos com os novos serviços digitais. Atualmente, a associação administra contratos com os principais serviços do mercado digital, como Rdio, Spotify, Deezer e iTunes. Além disso, desenvolveu a tecnologia necessária para analisar os dados dos relatórios de venda desses serviços, identificar seus repertórios e emitir as cobranças devidas de forma prática e ágil. Tendo contribuído para a elaboração da atual Lei de Direitos Autorais, outorgada em 19 de fevereiro de 1998, a UBC também acompanha de perto as iniciativas de revisão da legislação e participa das discussões sobre o tema com o objetivo de proteger os interesses dos seus associados. homenagem : UBC/19 18/UBC : Homenagem Foto: Daniel Pinheiro sem nostalgia, mas com muita história Compositor, escritor, produtor, crítico e jornalista faz 70 anos e dá de presente ao público um disco, um livro e um novo espetáculo Por Guilherme Scarpa, do Rio Nelson Motta fez 70 anos em outubro. E não quer nem saber do papo de saudades “daquele tempo”. “Tenho horror de nostalgia, talvez porque tenha vivido intensamente cada fase de minha vida. Não há nada que envelheça mais corpo e alma do que isso (apego ao passado)”, define o mestre, um craque nas onze que acumula funções de compositor, produtor musical, escritor, apresentador, jornalista... Múltiplo, inquieto, está às voltas com o lançamento de um novo livro (de crônicas antigas), de um espetáculo sobre Wilson Simonal e do álbum “Nelson 70”, no qual reúne sucessos que compôs ao lado dos amigos e parceiros Rita Lee, Lulu Santos, Marisa Monte e Djavan, nas últimas quatro décadas, e que o obrigam, aí, sim, a dar um passeio (rápido e sem nostalgia) pelo passado. “São 14 canções em novas gravações”, ele se apressa em explicar. Para cantar “Perigosa”, parceria sua com Rita Lee e Roberto de Carvalho e hit das Frenéticas, Nelsinho – como é chamado pelos amigos – convidou Ana Cañas; “Dancin' Days”, tema da novela homônima, ficará com Gaby Amarantos; quem vai cantar “De repente, Califórnia”, uma das muitas canções feitas com Lulu Santos, é Céu. Só gente boa e cheia de frescor. Dos parceiros todos com quem já trabalhou, Nelson nem tenta esconder sua predileção por Lulu. “Fazer música com ele era uma delícia. O cara sempre tinha algo novo para mostrar e parecia ter encontrado um formato perfeito para a sua forma de compor. O primeiro grande sucesso foi um bolero, com um tempero havaiano, produzido por Liminha e chamado 'Como Uma Onda'. Lulu e Scarlet (Moon de Chevalier, falecida companheira de vida do cantor e compositor carioca) adoraram, era puro pop. Mas, depois de pronta, achei que a letra poderia parecer meio metida a filosófica e pretensiosa e acrescentei o subtítulo 'Zen-surfismo', quase como uma piada com a própria letra. Como dizia Rita Lee, e sempre acreditei: 'Brinque de ser sério, leve a sério a brincadeira'”, conta. Associado à UBC, que representa suas dezenas de canções, Nelson se diz mais tranquilo com os rumos da arrecadação e da distribuição de direitos autorais. “Estamos avançando na direção de cada vez mais transparência da administração e de eficiência nesse sentido. Houve uma boa melhora, com a ampla discussão pública do papel, dos métodos e da atuação do Ecad”, descreve o multiartista, para quem o aprimoramento da atuação das entidades só tende a beneficiar o mercado e os criadores. No campo da literatura, onde tem militado com mais desenvoltura nos últimos anos, apesar de se dizer um aficionado por ficção, Nelson vai resgatar seu lado jornalístico no livro que está terminando de escrever. “São 30 crônicas escritas, agora costuradas por notas e outras histórias de colunas que publiquei na imprensa desde 1966. O resultado são 50 anos de intimidade com a música e a cultura brasileiras, narrados por um repórter cuja história se mistura com a de suas reportagens”, ele define. Nelson sabe o que diz. Nas últimas cinco décadas, o produtor e escritor esteve dentro e fora de muitas histórias emblemáticas da música, do teatro e da televisão. Ele se envolveu com Elis Regina, foi “brother” de Tim Maia, teve duas filhas (Esperança e Nina) com a atriz Marília Pêra e é o grande responsável pelo descobrimento de Marisa Monte, há 25 anos: “Era uma profecia fácil, bastava conhecer um pouco de música e ter alguma experiência, porque era evidente o talento da Marisa. Tinha certeza, desde o início, de que ela também seria muito forte internacionalmente”, conta Nelsinho, que ganhou um presente dela para o álbum “Nelson 70”. “Produzi seu primeiro disco, ela se tornou uma ótima compositora e uma grande estrela no Brasil e no exterior, e ficamos amigos para sempre. Agora, 25 anos depois, ela me ofereceu uma linda melodia, em parceria com César Mendes, que remete a clássicos da música brasileira dos anos 40 e de sempre, e fizemos juntos uma letra sobre a fugacidade dos mistérios, das certezas e do tempo”. “Fazer música com Lulu Santos era uma delícia. O cara sempre tinha algo novo para mostrar e parecia ter encontrado um formato perfeito para a sua forma de compor.” agenda : UBC/21 20/UBC : Homenagem No batidão da informação “Sinto falta do Tim Maia pelo seu humor, pela sua liberdade transgressora, sua inteligência politicamente incorreta, sua alegria musical...” Já quanto a Elis, que ele conhecia intimamente, é difícil arriscar o que estaria cantando hoje, se fosse viva. “Se ela não sabia dizer o que cantaria na semana seguinte de um show, quem sou eu para um atrevimento desses?”, divertese ele, que escreveu, com Patricia Andrade, o espetáculo “Elis, a Musical”, ajudou a garimpar a talentosa Laila Garin, intérprete da Pimentinha no teatro, e agora a cantou para cantar “Noturno Carioca”, música que fez com Erasmo Carlos. Elis Regina Encontro de artistas do funk com a diretoria da UBC em BH ajuda a esclarecer questões de arrecadação e distribuição relativas a um gênero que tem crescido sensivelmente em Minas De quem ele mais sente saudades é de Tim Maia, e esse sentimento se traduziu no grande sucesso “Vale Tudo, o Musical”, espetáculo também escrito por Nelson e responsável por revelar outro grande talento dos palcos e das telas nacionais, o ator e cantor Tiago Abravanel. “Sinto falta do Tim pelo seu humor, pela sua liberdade transgressora, sua inteligência politicamente incorreta, sua alegria musical... Hoje todo artista parece que trabalha para sustentar o seu trabalho social”, alfineta. Ainda assim, Nelson discorda de quem acha que a MPB esteja pobre. “Acho que há muito barulho, o que dificulta a descoberta de boas músicas. Mas sempre foi assim, só uma parcela mínima é aproveitável e se torna parte da vida das pessoas, da cultura do país”, o mestre analisa. De Belo Horizonte Lulu Santos Ele revela que tem tido preguiça dos grandes ídolos do momento. “Atualmente, a música popular de massa não me interessa. Acho que há muitos artistas novos bons, como Criolo, Emicida e João Cavalcanti, e muitos de outras gerações que continuam produzindo com alta qualidade, como Chico (Buarque) e Caetano (Veloso)”. Entre as muitas funções que desempenha, Nelson Motta, que estreia até o fim do ano um novo espetáculo, agora sobre a vida e a obra de Wilson Simonal, prefere mesmo seu lado literário hoje em dia. “De tudo que faço, aquilo de que mais gosto é escrever. Sozinho, em casa, tranquilo, com tempo para reescrever muitas vezes. De preferência, ficção”, diz o autor de nove livros que celebra sete décadas de uma existência com o que tem de melhor: sua obra profícua. MPB, rock, samba, sertanejo, eletrônica, funk... A diversidade da cena musical da capital mineira, não é novidade, é uma das mais ricas do país. Mas isso nem sempre se traduz num movimento artístico unido e forte. Essa é a opinião de MC Jefinho, um dos expoentes do funk em BH, 16 anos de carreira e sete de dedicação exclusiva ao estilo mais comumente ligado ao subúrbio do Rio, mas que também faz barulho e sucesso nas terras mineiras. Ele foi um dos participantes da turma funkeira no primeiro encontro de um segmento musical específico com a diretoria regional da UBC em Minas, evento ocorrido no último dia 23 de setembro que serviu como uma verdadeira oficina de direitos autorais para cerca de quinze representantes do estilo. Também estiveram presentes os compositores e diretores da UBC Sandra de Sá e Geraldo Vianna, o compositor e membro do Conselho Fiscal Manno Góes, além do gerente de operações da associação, Fábio Geovane. “Infelizmente, a música mineira é, muitas vezes, marcada por um certo 'cada um por si'. Por isso foi importante reunir uma galera aqui para conhecer e tirar dúvidas sobre aspectos técnicos da gestão coletiva. Eu já tinha um certo conhecimento na área, mas teve muita gente que ouviu falar dos seus direitos e deveres pela primeira vez”, disse Jefinho. Scarlet Moon Jovens artistas do funk tiveram a oportunidade de aprender sobre as regras de arrecadação e distribuição, como cadastrar um repertório, as diferenças entre obra e fonograma, bem como diversas outras questões fundamentais para o entendimento do sistema de gestão coletiva de direitos autorais. As particularidades do universo funkeiro foi o ponto principal do encontro. Por exemplo, a gerência local explicou como os bailes-funk são classificados na distribuição dos rendimentos. “Discutimos longamente sobre a natureza desses eventos aqui em Minas. Chegamos à conclusão de que a melhor classificação para eles é na rubrica casas de diversão. São festas que têm uma especificidade. De qualquer forma, vamos fazer um levantamento completo dos bailes que ocorrem aqui em BH para bater o martelo sobre o tipo de distribuição que terão”, contou Daniela Sousa, gerente regional da UBC em Tim Maia Gaby Amarantos Roberto Carlos e Caetano Veloso Minas. “Falamos também da periodicidade dos pagamentos, das diferenças entre direito autoral e direito conexo... Foi um roteiro básico e produtivo. Acho que eles começaram a entender o funcionamento da gestão coletiva agora.” A monetização em sites como o YouTube, por exemplo, muito usado pela turma do funk, foi motivo de longo papo durante o evento. “As mídias digitais são um grande meio de difusão do funk, trata-se de característica inerente à cena. Eles quiseram saber como aumentar os valores recebidos por esse meio”, lembrou Daniela. Foi esclarecido que o YouTube não realiza o pagamento de direitos autorais de execução pública desde o início de 2013. Um novo acordo para o pagamento desses direitos está em discussão com a empresa. Jefinho afirmou que, depois do que ouviu no encontro, passou a ficar mais atento à execução das suas músicas na rede. “Procuro atirar para vários lados, ficar ligado onde as coisas estão. Até há pouco tempo, eu tinha 22 milhões de visualizações de músicas minhas cantadas por outros artistas no YouTube, mas não ganhei nada. Agora estou ligado para cobrar soluções, ficar de olho. Já sei como fazer.” De acordo com Daniela, outros encontros vão se desenrolar ao longo de 2015 no escritório mineiro da UBC, a fim de resolver dúvidas específicas de artistas de diferentes estilos musicais. Os próximos deverão ser MPB e rock. “Já havíamos feito outros encontros, outros seminários antes, reunindo artistas da UBC, mas sempre de forma mais ampla. Iremos informar, debater e buscar uma maior aproximação da diretoria com toda a classe. O funk foi escolhido para abrir esse novo modelo porque nos últimos anos, junto com o sertanejo universitário, tem se destacado demais por aqui. Além disso, temos artistas importantes no gênero se projetando até para fora de Minas”, explicou a gerente da nossa associação em Belo Horizonte. “Só pelo conhecimento vamos conseguir nos profissionalizar ainda mais e fortalecer todo mundo”, pregou Jefinho. “Fui um dos primeiros da minha geração aqui em BH a me interessar por direitos autorais e me filiar à UBC. É valoroso demais você ter sua obra protegida. Sou um cara que gosta demais do trabalho da UBC”, concluiu. Como foram arrecadados e distribuídos os rendimentos de direitos autorais da Copa do Mundo? Foto: Eric Nepomuceno 22/UBC : serviço Guto Goffi, baterista do Barão Vermelho (Rio de Janeiro) Ariano Suassuna (1927-2014) REVISTA UBC: Em junho de 2014, o Brasil recebeu um dos maiores eventos esportivos do planeta, a Copa do Mundo de Futebol. Na ocasião, foram arrecadados R$ 7.468.366,68 de direitos de execução pública musical nos estádios, Fifa Fan Fests, Tour da Taça do Mundo e demais eventos relacionados ao mundial realizados no período da Copa. Veja abaixo detalhes da arrecadação: Fifa Fan Fests (RJ, SP, MG, PR, MT): R$ 1.105.245,00 Shows e sonorização ambiental dos eventos. As prefeituras que organizaram o evento nas cidades de Fortaleza, Porto Alegre, Manaus, Salvador, Recife, Brasília e Natal estão inadimplentes e já foram acionadas judicialmente para que realizem o pagamento de direitos autorais de execução pública musical. Estádios: R$ 3.650.000,00 Shows de abertura e encerramento do mundial e sonorização ambiental dos estádios nos dias de jogos. Tour da Taça: R$ 222.657,64 Sonorização ambiental do evento de exposição do Troféu da Copa do Mundo realizado em 27 capitais do país. No caso de Rio de Janeiro e São Paulo, os valores incluem os shows realizados nesses eventos. Demais eventos: R$ 2.490.464,04 Eventos relacionados à copa que não foram promovidos pelos organizadores oficiais da Copa do Mundo. Em setembro, foi realizada a distribuição de parte dos valores arrecadados. Foram distribuídos R$ 3.898.745,89 destinados a 4.795 titulares de música. As execuções de shows foram distribuídas de forma direta, e as execuções de sonorização ambiental desses eventos, de forma indireta. Do total arrecadado, 22,5% são cobrados pela gestão coletiva dos direitos autorais e destinados ao Ecad (15,61%) e às associações (6,89%, a UBC cobra 5,89%) para o custo de suas despesas. Os valores restantes destinados aos titulares que não foram pagos ainda aguardam as informações necessárias para que seja efetuado o pagamento. João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) Alexandre Pessoal (1975-2014) Para uma associação feita de gente, perder um só integrante é motivo de grande tristeza. Imagine ter que dizer adeus a tantos bambas. Na última edição de 2014, a UBC relembra alguns dos associados mais ilustres que se foram, na certeza de que a sua arte vai continuar a nos encantar para sempre. Ariano Suassuna João Ubaldo Ribeiro alexandre pessoal Nonato Buzar Virgínia Lane Paulo Idelfonso Neuza Teixeira Zé Menezes 10 mil fãs! A página da UBC no Facebook chegou a uma marca especial. Lá, nossos seguidores ficam por dentro das notícias sobre direitos autorais, conferem novidades dos artistas que fazem parte da nossa associação, tiram dúvidas e acompanham o calendário de pagamentos. Conecte-se conosco também! /UBCMusica