Desinfecção química: o que posso usar?

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2º Workshop
Processamento de Artigos em
Serviços de Saúde
DESINFECÇÃO DE ARTIGOS EM
SERVIÇOS DE SAÚDE
Desinfecção química: o que posso usar?
Vania Regina Goveia
[email protected]
EE/ENB/UFMG
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
• “... No início dos anos 60 desinfectoras automatizadas para
comadres, desinfecção com água quente e mais tarde por vapor,
lavadoras desinfectoras automatizadas para instrumentais,
apareceram e foram rapidamente e amplamente aceitos. Há
muitos anos são utilizados não só pelas centrais de materiais e
centros cirúrgicos, mas também em unidades hospitalares, casas
de repouso, clínicas e consultórios dentários. Eles nos ajudaram a
reduzir consideravelmente o uso de desinfetantes químicos”.
Nyström B. Forty years of control of healthcare-associated infections in Scandinavia.
GMS Krankenhaushygiene Interdisziplinär 2007, Vol. 2(1), ISSN 1863-5245
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Falhas em processos de desinfecção
constituem-se em risco à segurança
do paciente
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Desinfecção por agentes químicos
• Desinfecção de alto nível é definida como a eliminação
de micro-organismos em materiais, com redução de 6log10 de cepas padronizadas de Mycobacterium spp
(FDA)
(Rutala & Weber, 2008)
– (Spaulding, 1968)
– Enxague com água
• Água potável?
• Água filtrada?
• Água esterilizada?
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Risco associado ao processo de
desinfecção
• Surto de infecção por Mycobacterium chelonae após
cirurgia laparoscópica em um Hospital em Mumbai,
India, 16/33
– trocartes sem desmontar eram submetidos a desinfecção em
glutaraldeído 2%. Rodrigues et al. Infect Control Hosp Epidemiol
2001; 22(8): 474-5
• Surto de infecção por Mycobacterium chelonae após
cirurgia laparoscópica em Bangalore, India, 35/156
– isolado na água de enxague dos instrumentais reprocessados e
na bandeja da solução desinfetante. Vijayaraghavan et al. J Hosp
Infection 2006; 64: 344-7
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Surtos de infecção
associados ao
processo de
desinfecção, quando
deveria ter ocorrido a
esterilização
Vania Regina Goveia
Materiais
críticos
Desinfecção química: o que posso usar?
Risco associado aos processos de
desinfecção
• surtos de infecção após
endoscopias gastrointestinal e
broncoscopias
– investigações identificaram falhas nos
processos de limpeza, seleção
inadequada do desinfetante
• investigação microbiológica dos
canais dos endoscópios
– crescimento >105 UFC de bactérias
após a desinfecção
Rutala & Weber, 2008
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Risco associado aos processos de
desinfecção
• Surto de Serratia marcescens em uma UTI neonatal
associada a laringoscópios, em um Hospital de Ensino
no Reino Unido, 2005
– Em um período de 3 meses, 4 RNs com pneumonia e
septicemia. Lâminas do laringoscópio foram identificadas
como potencial meio de transmissão devido a falhas no
reprocessamento. Cullen et al. J Hosp Infect 2005; 59:68-70
Vania Regina Goveia
RESISTENTE
PRIONS
Creutzfeldt-Jakob Disease
Desinfecção química: o que posso usar?
ESPOROS BACTERIANOS
B. subtillis, B. difficile
Esterilização
COCCIDIA
Cryptosporidium
MICOBACTÉRIAS
M. tuberculosis, M. terrae, M. avium
VÍRUS PEQUENOS OU NÃO LIPÍDICOS
Poliovírus, Coxsackie
Alto Nível
Glutaraldeído, ortoftalaldeído,
ácido peracético
Nível Intermediário
FUNGOS
Aspergillus, Candida spp
BACTÉRIAS VEGETATIVAS
S. aureus, P. aeruginosa
SUSCEPTÍVEL
Regina Goveia
VÍRUS MÉDIOS Vania
OU LIPÍDICOS
vírus HBV, HIV, herpes
Baixo Nível
Rutala & Weber, 2008
Desinfecção química: o que posso usar?
Risco associado à processos de
desinfecção
• Patógenos emergentes
– facilmente disseminados ou transmitidos por
contato
•
•
•
•
•
•
•
•
Cryptosporidium parvum
Helicobacter pylori
Escherichia coli 0157:H7
HIV
HCV
rotavirus
M. tuberculosis
micobactéria não-tuberculosa
– susceptíveis à maioria dos desinfetantes
Rutala & Weber, 2008
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Cryptosporidium parvum
•
Protozoário que pode causar doença intestinal ou de vias aéreas em
pacientes com deficiência de imunidade
•
Desinfetantes habitualmente utilizados não tem sido eficazes, inclusive
glutaraldeído, ácido peracético e ortoftalaldeído. Exceto peróxido de
hidrogênio 6%-7,5%
•
Esterilização em situações de contaminação por este protozoário?
•
Boas práticas de limpeza e desinfecção tem-se mostrado suficientes
para impedir a disseminação associada ao cuidado da saúde
•
A secagem do material auxilia na perda da viabilidade do
Cryptosporidium
Rutala & Weber, 2008
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Helicobacter pylori
• Dados de susceptibilidade aos desinfetantes limitados
– estudos experimentais: susceptibilidade ao glutaraldeído a 0,5% em
15 segundos; susceptibilidade ao glutaraldeído e ao ácido peracético
– investigação epidemiológica revelou a susceptibilidade ao
glutaraldeído 2%
– Um estudo revelou por PCR o DNA do H. pylori em um canal do
endoscópio após a limpeza e desinfecção com glutaraldeído,
entretanto, não se sabe ao certo o significado desse achado.
Rutala & Weber, 2008
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Escherichia coli 0157:H7
• Bactéria emergente que causa um quadro de colite hemorrágica,
entretanto, muito susceptível aos desinfetantes
ROTAVIRUS
• Causa gastroenterite em crianças, agente etiológico de surtos
hospitalares
• Sobrevivência em superfícies ambientais – de 90 minutos a 10
dias à temperatura ambiente
• Bem susceptível aos desinfetantes
Rutala & Weber, 2008
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
NUMEROSOS SURTOS DE INFECÇÃO
SUGEREM FALHAS NA ADESÃO ÀS
RECOMENDAÇÕES DE DESINFECÇÃO
OU ESTERILIZAÇÃO BASEADAS EM
PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS
CDC, 2008
Vania Regina Goveia
O que fazer
para promover
a adesão às
medidas de
desinfecção?
Desinfecção química: o que posso usar?
1.
Produtos testados e aprovados para
uso hospitalar
2. Produtos que possuam registro no
Ministério da Saúde para desinfecção
de artigos
3. Produtos com dados de sua atividade
antimicrobiana publicados na literatura
científica
4. Atentar-se ao princípio ativo e a
compatibilidade com os materiais a que
se destinam
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
O que fazer para promover a adesão às
medidas de desinfecção?
• Analisar: as publicações científicas, as recomendações de
sociedades de especialistas e as recomendações dos fabricantes
• Padronizar o processamento dos materiais
• Tornar disponível os procedimentos escritos e de fácil acesso
• Treinar periodicamente os profissionais envolvidos e testar suas
habilidades e competências
• Auditar a aplicação das medidas
• Investigar surtos e dar feedback às equipes
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Desinfetantes disponíveis comercialmente?
• Glutaraldeído
• Ortoftalaldeído
• Ácido peracético
• Tempo de exposição: 12 a 45 minutos
• Temperatura: 20 a 25 ºC
• RDC 75/2008
– Art. 1º O registro de produtos enquadrados nas categorias Esterilizantes e
Desinfetantes Hospitalares para Artigos Semi-Críticos fica condicionado à
apresentação de laudos de eficácia antimicrobiana frente às micobactérias
Mycobacterium abscessus e Mycobacterium massiliense, sem prejuízo dos
demais requisitos técnicos e administrativos estabelecidos na legislação
vigente.
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Glutaraldeído
• Atividade antimicrobiana
– excelente
– atividade na presença de matéria orgânica
– depende das condições de uso: diluição, carga de matéria
orgânica
• Outras características
– não corrosivo
– requer enxague abundante
– Resistência da cepa de micobacteria BRA
Vania Regina Goveia
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Ácido peracético
• Atividade antimicrobiana
– Rápida
– Ação na presença de matéria orgânica
– Diferentes concentrações disponíveis
• Outras características
– Decomposição em ácido acético, água, oxigênio e peróxido de
hidrogênio
– Remoção de resíduos de matéria orgânica
– Não deixa resíduos no material
– Corrosivo
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Ácido peracético
• Uma formulação de ácido peracético a 0,26% teve sua atividade
micobactericida avaliada para M. tuberculosis, M. avium, M.
fortuitum e M. chelonae com redução >5 log10, entre 20 e 30
minutos, na presença e na ausência de matéria orgânica.
Hernandez et al. Journal Hospital Infection 2003; 54: 46-56.
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Ortoftalaldeído
• FDA (1999); ANVISA (2007-2008)
• Atividade antimicrobiana
– excelente
– atividade superior para micobactéria quando comparado ao
glutaraldeído
– Concentração de uso: 0,55%
– Temperatura ambiente
• Outras características
– Reação anafilática após cistoscopias repetidas (4-9). 24
casos/1.000.000.
(J Allergy Clin Immunol 2004; 114: 392-7)
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Ortoftalaldeído
•
Foram testados 100 endoscópios após o uso clínico - carga microbiana, limpeza com enzimático,
desinfecção com OPA 0,5% 20 ºC por 5’ que foi efetivo para a redução ≥5 log 10. Alfa & Sitter. J
Hosp Infection 1994; 26: 15-26
•
Cepas de micobacterias – M. bovis comparado com M. terrae e M. chelonae – foram testadas com
glutaraldeído e OPA que mostrou-se eficaz em tempo inferior ao glutaraldeído (5,5’ x 32’). Gregory
et al. Infect Control Hosp Epidemiol 1999; 20 (5): 324-30
•
Cepas de micobacteria (Mycobacterium chelonae) sensíveis e resistentes ao glutaraldeído 2%
foram testadas para o OPA 0,5% e demonstraram susceptibilidade aos testes. Walsh et al. Journal of
Applied Microbiology 2001; 91:80-92
•
Akamatsu e cols testaram OPA em diferentes concentrações frente a 21 cepas de patógenos
hospitalares (bactérias, micobactérias, fungos e HBsAg) sendo que a eficácia comprovada para a
maioria das cepas bacterianas em tempo muito inferior ao glutaraldeído. (bactérias em até 15
segundos, micobactérias em até 3 minutos, HBsAg 30 segundos). Journal of International Medical
Research 2005; 33: 178-87
Vania Regina Goveia
Desinfecção química: o que posso usar?
Escolha do desinfetante
Vantagens e desvantagens de agentes de desinfecção de alto nível
Vantagens
Desvantagens
Glutaraldeído
Numerosos estudos publicados
Custo relativamente baixo
Excelente compatibilidade com os
materiais
Irritação respiratória pelo vapor
Odor pungente e irritante
Atividade micobactericida relativamente baixa
Coagula proteínas e fixa matéria orgânica
Dermatite de contato alérgica
Ortoftalaldeído
Ação rápida
Não requer ativação
Odor insignificante
Excelente compatibilidade com os
materiais
Não coagula sangue ou fica matéria
orgânica
Mancha pele, membrana mucosa, roupas e
superfícies ambientais
Uso clínico limitado
Mais caro que glutaraldeído
Irritação ocular ao contato
Atividade esporicida lenta
Exposições repetidas podem causar
hiperssensibilidade em alguns pacientes com câncer
de bexiga
Ac. Peracético
Não requer ativação
Odor insignificante
Favorável ao meio ambiente
*Método automatizado
Incompatibilidade com materiais que contem ferro,
cobre, zinco
Uso clínico limitado
Dano potencial para os olhos e pele
Desinfetante
Fonte: Rutala & Weber. CID 2004; 39:702-9
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Desinfecção química: o que posso usar?
Escolha do desinfetante
• Passado
– Registro do produto
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Escolha do desinfetante
• Presente
–
–
–
–
Registro do produto
Laudo de atividade antimicrobiana
Compatibilidade com os materiais
Informações do produto disponíveis na literatura
científica
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Escolha do desinfetante
• FUTURO?
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Escolha do desinfetante
• Futuro
– Documentação do desinfetante – CRP, laudos de
atividade antimicrobiana de laboratórios
credenciados
– Informações do fabricante quanto ao uso
– Informações fornecidas pelo rótulo
– BUSCAR AS EVIDENCIAS CIENTÍFICAS
•
•
•
•
•
Atividade antimicrobiana para organismos emergentes
Compatibilidade com os materiais
Tempo de ação do desinfetante
Saúde ocupacional
Cuidados à saúde fora do hospital – riscos e
necessidades
• Meio ambiente
• Processos automatizados
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