Matemática em Cena: aprendizagem por meio da

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Matemática em Cena: aprendizagem por meio da montagem de peças
do Teatro Matemático
Alvarito Mendes Filho1
GD5 – História da Matemática e Cultura
Resumo
Este artigo traz um recorte do projeto de pesquisa de mestrado em desenvolvimento no Educimat/IFES,
em que buscamos averiguar e analisar ocorrências de aprendizagem na participação dos alunos em
montagens de peças teatrais com conteúdo matemático. A peça Vaidades Geométrica, de nossa autoria,
está sendo montada com alunos do nono anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental – E.M.E.F.
Rosa da Penha, em Cariacica, Espírito Santo. Os trabalhos tiveram início em meados de julho desse ano.
A abordagem metodológica utilizada a de pesquisa qualitativa. No oitavo encontro, foi aplicado um
questionário impresso para colher as percepções dos alunos participantes da montagem sobre esse
processo artístico-educativo no qual estão envolvidos. Também registramos em vídeo as percepções da
professora e da pedagoga que estão acompanhando e, às vezes, participando das atividades. Esse material
inicial é aqui analisado, com base no que postula Jorge Larrosa Bondía sobre a importância da
experiência para a aprendizagem.
Palavras-chave: Educação Matemática. Teatro como recurso didático. Aprendizagens. Motivação.
Apresentação
O presente artigo traz um recorte do projeto de pesquisa de mestrado que estamos
desenvolvendo no Programa EDUCIMAT do Instituto Federal do Espírito Santo –
IFES, com o título Matemática em Cena: aprendizagem por meio de montagens de
peças do Teatro Matemático. Nele propomos um estudo da utilização do teatro como
instrumento didático-metodológico para o ensino-aprendizagem da Matemática, e
análise das aprendizagens resultantes da experiência de o aluno participar da montagem
e encenações de peças teatrais com conteúdo matemático.
As artes cênicas possuem a virtude de promover a socialização dos que a elas se
dedicam, da mesma forma que entre esses e os espectadores. Isso porque a dança, o
circo, a ópera, a mímica e principalmente o teatro têm por princípio a interação humana.
1
Mestrando do programa EDUCIMAT, Instituto Federal do Espírito
[email protected]. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Auxiliadora Vilela Paiva.
Santo,
e-mail:
O teatro, termo que veio da palavra grega théatron e “significa um lugar onde se vai ver
alguma coisa” (ESSELIN, 1977), traz desde a sua origem esse requisito básico: é
preciso haver alguém que se apresenta e alguém que assista. Sem qualquer um desses
dois elementos, o teatro simplesmente não se realiza.
Em seu percurso ao longo da história, a arte teatral se modificou espetacularmente, mas
jamais conseguiu eliminar qualquer um desses dois elementos: o artista que se apresenta
e o público que a ele assiste. Isso por conta da interação humana direta que está no gene
do teatro e, quando bem aproveitada, consegue efeitos didáticos fantásticos.
Na época atual, em que a interação humana se dá cada vez mais mediada por
dispositivos diversos (telefone, internet, correio eletrônico, redes sociais no computador,
cinema, televisão, vídeo etc.), o teatro se mantém como uma das formas de interação
humana direta. Nós não descartarmos a importância das novas tecnologias que
permitem o contato humano de forma remota, mas pensamos que a interação direta,
como acontece no teatro, propicia a vivência de momentos privilegiados de
aprendizagem. Até pelo seu caráter lúdico e sua sempre renovada capacidade de fabular,
que permitem que temas, às vezes áridos, sejam trabalhados e apresentados de forma
mais interessante do que através dos métodos tradicionais. Acreditamos que o teatro
como ferramenta didática possa produzir efeitos altamente positivos, dentre eles o
aprimoramento da capacidade de concentração e o aumento da socialização.
Embora nosso projeto de pesquisa ainda esteja numa fase inicial, as observações feitas e
o material colhido até o momento, por meio de questionário impresso respondido pelos
alunos e de entrevistas gravadas com a professora e com a pedagoga que estão
acompanhando a realização das atividades, nos permitem tecer algumas considerações.
Os alunos participantes já começam a revelar aprendizagens, algumas relativas à
disciplina Matemática; outras, à História do Teatro; e ainda outras relacionadas a como
se apresentar em público e se relacionar com os colegas, professores e demais pessoas.
Introdução
De há muito, pedagogia e teatro andam juntos. O grande comediógrafo grego
Aristófanes, já no século V a.C., fazia teatro didático. Também a tragédia grega tinha
por finalidade ensinar ao cidadão as ações virtuosas e o alertar para os resultados
nocivos de se agir de modo impróprio aos olhos dos deuses. O herói, ao proceder de
forma errada, tinha quase sempre por destino a morte, o que, segundo Aristóteles,
produzia no espectador terror e piedade.
O teatro medieval foi marcadamente didático, servindo de ferramenta para a catequese
de ateus e pagãos, aos quais se deviam ensinar a verdade e o caminho da salvação. A
verdade era o Deus único, senhor do céu e da terra, a quem se devia temer e adorar; e o
caminho da salvação, o Cristo Jesus, filho único de Deus feito homem, que veio a Terra
para salvar os homens. Os ensinamentos de Jesus, sua paixão e morte (da mesma forma
que a vida dos primeiros mártires da igreja católica) eram os temas ensinados através de
dramas sacros chamados “mistérios”, que começaram dentro de mosteiros e igrejas e,
aos poucos, passaram a ser encenados no lado de fora dos templos, chegando
eventualmente à praça da cidade, completando assim o movimento de separação do
teatro do local de culto.
No renascimento, o português Gil Vicente manteve a conotação didático-moralista em
peças cômicas como O Auto da Barca do Inferno; e mesmo o inglês William
Shakespeare teve por intuito instruir, ao escrever peças de caráter histórico que
transmitiam aos súditos da rainha Elizabeth I um profundo sentimento nacionalista.
Por essa época, Anchieta, um irmão leigo da ordem dos franciscanos, escreveu e
encenou peças sacras em terras brasileiras, principalmente na capitania do Espírito
Santo, pertencente a Dom Vasco Fernandes Coutinho. Escritas em Tupi-guarani, as
peças eram encenadas com a participação dos nativos e tinham por finalidade ensinar a
eles a religião do colonizador.
No século XIX, se consolidou no Brasil um teatro genuinamente nacional. Antes, era
patente a influência europeia. França Júnior, por exemplo, criticou em uma de suas
peças a importância que se dava ao estrangeiro em detrimento dos brasileiros, numa
clara tentativa de incutir um pouco de amor pátrio na nossa gente.
Mais recentemente, o alemão Bertolt Brecht, considerado por muitos o maior
dramaturgo do século XX, escreveu e encenou peças de “teatro dialético”, com o intuito
de combater o “analfabetismo político” e mobilizar o cidadão a participar das questões
da vida moderna e transformar a realidade. A transformação da realidade é também um
dos objetivos do Teatro do Oprimido, do brasileiro Augusto Boal, em voga ainda hoje.
Esses exemplos demonstram que o teatro tem cumprido historicamente um papel
didático. E não causa surpresa que de algum tempo para cá ele tenha passado a servir
também de ferramenta pedagógica no ensino de diversas disciplinas. Constata-se,
porém, que o teatro de cunho didático-pedagógico que se tem feito até o momento
apresenta como temática as ciências de um modo geral. São poucas as iniciativas, como
a da professora Andrea Gonçalves Poligicchio (2011) que, desde 2004, na Fundação
Bradesco de Osasco, São Paulo, tem encenado com seus alunos peças com conteúdo
matemático, numa tentativa de tornar a aprendizagem da disciplina mais agradável e de
desenvolver nos participantes competências individuais. Esse trabalho foi o tema da
pesquisa de mestrado desenvolvido por ela na Faculdade de Educação da USP.
Nossa proposta é, assim como Poligicchio, trabalhar o teatro voltado exclusivamente
para o ensino da Matemática. Uma iniciativa que, embora não inédita, trata-se da opção
por um campo que, até o momento, foi pouco pesquisado, e que, acreditamos, ganha
relevância por focarmos as aprendizagens desenvolvidas pelo aluno na montagem e
encenação de peças do Teatro Matemático.
Problemática
A questão que nos move na realização de nossa pesquisa de mestrado é esta: que
aprendizagens são construídas pelo aluno na montagem e encenação de peças de teatro
com conteúdos da disciplina Matemática? Trata-se de uma pesquisa qualitativa que tem
por objetivo geral averiguar de que modo montagens da peça do Teatro Matemático
ajudam os alunos a produzir e assimilar conteúdos e a desenvolver habilidades relativas
a essa disciplina.
Temos trabalhado como ator, diretor de teatro e dramaturgo há mais de três décadas.
Cerca de trinta das nossas peças já foram montadas e encenadas no Espírito Santo.
Algumas delas foram encenadas também em outros estados. O conhecimento que temos
da carpintaria teatral está nos permitindo criar textos teatrais em que temas e conteúdos
da Matemática são abordados de maneira lúdica e divertida.
Metodologia de pesquisa
A metodologia empregada em nosso projeto é a da pesquisa qualitativa, definida por
Moreira e Caleffe (2006, p. 73), como aquela que “explora as características dos
indivíduos e cenários que não podem ser facilmente descritos numericamente”. Martins
(1999) acrescenta que “os conceitos [...] sobre os quais as Ciências Humanas se
fundamentam, num plano de pesquisa qualitativa, são produzidos pelas descrições”.
A seguir apresentaremos os sujeitos da nossa pesquisa, em sua maioria alunos do nono
ano da U.M.E.F. Rosa da Penha, com idades entre treze e quinze anos. Cuidaremos não
só de apresentar esses estudantes, como também de descrever as etapas percorridas até
chegar a eles e começar o trabalho de preparação da montagem da peça Vaidades
Geométricas.
O termo Teatro Matemático diz respeito aqui a uma séria de peças teatrais com temas e
conteúdo da matemática que estamos escrevendo e que ofereceremos a professores
como sugestão de metodologia alternativa para a introdução, desenvolvimento e/ou
reforço de tópicos da disciplina. O professor poderá realizar com os alunos montagens
desses textos ou apenas os tomar como exemplos, para criar (ele próprio ou os
estudantes) novas histórias, de modo a usarem a experiência do teatro como recurso
didático-pedagógico no ensino-aprendizagem da Matemática.
Para chegarmos aos temas e conteúdos matemáticos desenvolvidos nas peças, fizemos
entrevistas (de questões abertas e gravadas em vídeo) com onze profissionais do ensino:
três professoras de Artes, um professor de Informática, duas professoras e um professor
de Matemática, três pesquisadores e uma mestranda do EDUCIMAT. A partir das
sugestões colhidas, escrevemos um acervo inicial de seis peças, começando pela
comédia A Feliz União de Seu Teatro com Dona Matemática, na qual, conforme o
título já antecipa, promovemos o encontro das duas áreas. Após isso, escrevemos
Vaidades Geométricas, Gauss - menino gênio da Matemática, As atrapalhadas
férias do Palhaço Matemático – Episódio 1, As atrapalhadas férias do Palhaço
Matemático – Episódio 2 e O linchamento da incógnita. As sugestões feitas pelos
onze entrevistados incluem temas como Matemática Financeira, Proporcionalidade,
Análise Combinatória e História dos Números, entre outros que pretendemos aproveitar
em algumas peças que ainda escreveremos.
No final do semestre passado, fomos convidados pela colega mestranda Vanusa
Stefanon para apresentar o Teatro Matemático para o grupo de formação continuada que
ela coordena na Secretaria de Educação de Cariacica. Nas duas reuniões, uma realizada
na parte da manhã e outra na da tarde, além de falarmos sobre o nosso projeto de
pesquisa, propusemos uma leitura da peça Vaidades Geométrica. Vanusa havia
providenciado cópias do texto que foram distribuídas aos participantes. A cada um deles
foi destinado um personagens e foi feita então a leitura corrida da peça. Numa avaliação
posterior dessa dinâmica, um dos professores deu a da seguinte opinião: “Gostei muito,
mas muito mesmo, da proposta da peça teatral, pois acredito que será envolvente e
atrativa, sem falar do aprendizado de forma diferenciada e divertida”.
Nas duas reuniões, destacamos o interesse em montar a peça em uma das escolas do
município e, uma semana depois, recebemos um telefonema de Vanusa informando que
a professor Jocélia Rosa, da Escola Municipal de Ensino Fundamental – E.M.E.F. Rosa
da Penha, estava interessada em que a peça fosse montada com seus alunos. A ida à
escola aconteceu duas semanas depois, no dia 14 de julho. Os alunos dos dois nonos
anos do período vespertino foram reunidos na sala de vídeo. Falamos para eles sobre
nosso projeto de pesquisa e convidamos os interessados a se inscreverem com a
professora Jocélia para participar de uma oficina de interpretação e da montagem da
peça Vaidades Geométricas.
Trinta e um alunos, quase todos do nono ano, com idades entre treze e quinze anos,
compareceram ao encontro seguinte. Houve também uma aluna do sétimo ano, que
havia sido convidada pela professora para participar, por ser considerada uma promessa
de “boa atriz”. Ainda durante esse primeiro encontro, um dos alunos deixou a sala, após
informar à professora que não estava mais interessado em participar. Foi uma reunião
tumultuada, uma vez que, além de não possuírem qualquer experiência em participação
da montagem de um espetáculo, os alunos eram todos jovens de comportamentos um
tanto agressivos e que não tinham por hábito ouvir os colegas. Todos falavam aos gritos
e ao mesmo tempo. E quando se davam ao trabalho de ouvir os colegas era para terem
motivos para fazer chacota. Razão pela qual tivemos dificuldade em emplacar os
primeiros exercícios de improvisação. Todos “morriam de medo de pagar mico”,
conforme explicou uma das alunas.
Apenas dois dos trinta alunos inscritos haviam participado, nas escolas onde haviam
estudado anteriormente, da montagem de uma peça teatral. Os demais nunca haviam
participado desse tipo de atividade. Por isso, começamos pela aplicação de exercícios de
criação de contexto para pequenos diálogos, exercícios de improvisação, de postura
corporal e de projeção de voz. Conforme relatamos anteriormente, de início tivemos
dificuldade em conseguir a participação dos alunos. As atitudes de alguns deles davam a
entender que haviam se inscrito para o grupo não para participar da montagem da peça,
mas para fugir das aulas normais. Dois alunos que estavam prejudicando a participação
dos demais foram retirados do grupo pela pedagoga. Um deles voltou a integrar o grupo
semanas mais tarde. O outro não quis retornar.
O ator de teatro precisa ouvir seus colegas e até mesmo o público, para saber o
momento de proferir suas falar. Sem ouvir os demais, ele certamente não escutaria as
“deixas” para sua participação. Por esse motivo, decidimos usar a dinâmica da bola que
é passada para aquela pessoa do grupo que vai falar. Tudo parte de uma estratégia para
fazer os alunos entenderem que o que os outros têm a dizer é tão importante quanto o
eles próprios têm a falar. Durante dois encontros usamos essa técnica com insistência.
Depois disso, ela foi utilizada apenas em momentos pontuais.
Em nosso diário de bordo, entre os apontamentos de 26 de agosto de 2014, dia em que,
com o auxílio do PowerPoint, foi feita uma breve apresentação sobre a origem do teatro,
registramos a seguinte anotação: Nos primeiros encontros havia grande dispersão e os
alunos falavam a todo instante, sem se darem a chance de ouvir os colegas. Fomos
obrigados a usar a estratégia da bola. A pessoa que estivesse com ela tinha o direito de
falar e os demais deveriam ouvi-lo. Completando essa estratégia, explicou-se para os
alunos a importância de, no teatro, se ouvir o outro. Isso porque um requisito básico
para o participante de espetáculos teatrais é saber escutar, pois só assim, ele ouve as
deixas para suas falas. E a estratégia da bola e a explicação não foram lançadas em solo
estéril. Os alunos demonstram estar desenvolvendo capacidades de sociabilidade. Aliás,
isso ficou patente na reunião de hoje. No término do encontro, uma das alunas disse e,
alto e bom tom (como, aliás, é recomendável ao participante de espetáculos teatrais):
“Professor, gostei da aula de hoje. Todo mundo falou e ouviu os outros e nem foi
preciso usar a bola”.
A percepção dos alunos do processo artístico-educativo de que estão participando foi
colhida por meio de um questionário com oito perguntas de respostas fechadas, quatro
de respostas abertas e com a solicitação para que “Cite algo interessante que você já
aprendeu nessa oficina de teatro”. Na próxima seção, apresentaremos suas respostas e as
percepções da professora Jocélia Rosa e da Pedagoga Marina Calixto da Silva que estão
acompanhando as atividades. As opiniões e expectativas das duas foram registradas em
vídeo. Estamos realizando o registro fotográfico dos exercícios de improvisação e das
leituras do texto da peça, entregue aos alunos no encontro do dia 26 de agosto. Algumas
das futuras atividades de preparação do espetáculo e as apresentações serão também
filmadas, de modo a compor um registro em vídeo desse trabalho.
O material
O questionário respondido pelos alunos teve doze perguntas. As duas primeiras relativas
a seu nome, idade e local de residência. Com as perguntas 3 a 12, buscamos desvendar
se o aluno aprecia (e tem por hábito) ler, assistir a filmes e a peças teatrais. Já no item
13, que não foi formulado como pergunta, pediu-se ao aluno que cite algo interessante
que ele tenha aprendido na oficina de teatro. A seguir apresentamos as respostas dadas,
o que deve ajudar a se ter uma ideia sobre os sujeitos da nossa pesquisa.
Quanto ao sexo e idade, os alunos participantes podem ser agrupados da seguinte forma:
MENINAS – dezenove (uma com 12 anos, duas com 13, quatorze com 14, e duas com
15); MENINOS – onze (dois com 13 anos, sete com 14 e dois com 15).
Quanto ao local de residência, oito dos alunos moram no Bairro Rosa da Penha, bairro
residencial, de famílias da classe média e media-baixa, onde está localizada a escola.
Dos demais, três não informaram onde moram. O restante reside em bairros
circunvizinhos ou próximos.
Quanto às perguntas que buscam identificar seus hábitos artísticos e culturais, incluímos
no Quadro 1 as respostas dadas.
Quadro 1
Pergunta 3: Você gosta de ler?
Muito
Mais ou menos
12
17
Não muito
Nem um pouco
1
Pergunta 5: Gosta de assistir a filmes
Muito
Mais ou menos
26
4
Não muito
Nem um pouco
Nunca fui
Pergunta 6: Você costuma ir ao cinema?
Sempre
Às vezes
Raramente
4
20
6
Pergunta 8: Onde você assistiu a esse filme?*
No cinema
Em casa
Na casa de colega
Em outro lugar
8
20
1
1
Pergunta 9: A quantas peças teatrais você já assistiu?
Mais de dez
De Cinco a nove
De uma a quatro
Nenhuma
2
5
19
4
Pergunta 10: Onde você assistiu à(s) peça(s)?
No teatro
Na escola
Na igreja
Em outro lugar
16
11
7
5
Pergunta 11: Por que você decidiu participar da montagem da peça?
É divertido
A professora convidou
Colegas participando
Não sei dizer
29
2
2
1
Um pouco
Quase nada
Pergunta 12: Você está gostando de participar?
Muito
Mais ou menos
30
*A relação dos filmes assistidos está mais abaixo, nas respostas da Pergunta 7.
A Pergunta 4 (Que livro você leu recentemente?) não foi respondia por nove alunos.
Os demais leram: A culpa é das estrelas (4 alunos), João e o pé-de-feião, O pequeno
príncipe, Cada segredo, O filho de Netuno, O guardião, A menina que roubava
livros, Não se apaga não, A menina que colecionava borboletas, A última música,
As aventuras do Capitão Cueca nº. 1 a 14, Crescendo - Hush Hush, As pedras não
morrem, O diário de um banana, Beijada por um anjo, Percy Jackson e a batalha
do labirinto, Minha vida fora de série, God of war.
E a Pergunta 7 (Qual foi o último filme que você assistiu?) recebeu como respostas:
Noé (3 alunos), Malévola (3 alunos), 17 outra vez (2 alunos), Dupla em fúria (2
alunos), X-Man Origem, 47 ronins, Tarzan, The Vampire Diaries, Busca
implacável, A culpa é das estrelas, Godzila, Frozen, Mato sem cachorro, Fairy
Tail, Minha mãe é uma peça, O Grande mestre, A casa de cera, Depois da Terra,
Deu a louca nos bichos, Hércules, Tartarugas ninja, Bleach, 5 dias para a morte.
A seguir apresentamos as respostas para o item 13, em que se pediu ao aluno que citasse
algo interessante que tinha aprendido na oficina de teatro. Mantivemos as resposta como
foram escritas, destacando em itálico as palavras grafadas em desacordo com o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Academia Brasileira de Letras, 2009).
Um aluno não respondeu. As respostas dos demais foram: 1) - “Aprender a interpretar
os personagens”. 2) - “O tempo das falas, como se comunicar”. 3) - “Eu aprendi a
história do teatro”. 4) - “A origem do teatro”. 5) - “Ouvir os colegas e a interpretar
melhor”. 6) - “Que para termos um bom empenho na peça, devemos estudar mais a
peça”. 7) - “Aprendia tira o medo de ler em voz alta”. 8) - “Já aprendi muita coisa,
principalmente a ouvir mais, também a respeitar o próximo da maneira como ele é”. 9) “Ter calma e improvisar quando possível”. 10) - “Como emcorpora o ator”. 11) “Participar mais”. 12) - “Os tons da fala”. 13) - “Descobri várias coisas que eu não sabia
que tinha em um teatro, como ouvir, ajudar nas escolhas, e como trabalhar em grupo é
bom”. 14) - “Estou lendo melhor”. 15) - “A usar melhor minha voz; dos tons,
espressões, altura; etc....” 16) - “Para ‘encarnar’ o personagem, não fazer algo robô, é
como uma dança, você pode até pensar um pouco, porém, o correto é você senti-la e
seus movimentos fazerem a música tocar”. 17) - “Desfarçar um pouco a timidez”. 18) “Saber ouvir e respeitar a vez do colega. A história do teatro”. 19) - “Da vida aos
personagens, a falar e escutar meus colegas”. 20) - “A saber ouvir as pessoas, saber
falar/expressar”. 21) - “A ouvir a pessoa que está falando e aprender a interpretar
melhor”. 22) - “Solte o personagem que está dentro de você”. 23) - “A ouvir, saber se
expressar, saber falar, e interagir”. 24) - “Eu perdi um pouco da timidez estou
aprendendo coisas novas”. 25) - “A interpretar melhor os personagens, a aprender a
ouvir, e aqui descobri que adoro teatro”. 26) - “Encorporar o personagem, respeitar, ler
expressando os sentimentos dos personagens”. 27) - “Aprender ouvir, e a interpretação”.
28) – “Aprendi a dar a vez para outra pessoa falar”. 29) - “Aprendi a lidar com o teatro”.
A professora Josélia Rosa da Silva, que é pós-graduada em Matemática, revela ter
decidido realizar a montagem da peça na escola para tentar melhorar a convivência com
os alunos. E, nesse aspecto, diz já está conseguindo se aproximar de alguns deles. E
mais, diz que por conta das atividades já desenvolvidas, percebe um considerável
crescimento em alguns dos participantes. “Em outros, não”, comenta. “Ou porque não
se adaptaram ainda ou porque não é o que eles querem”.
Já a Pedagoga Marina, graduada em Filosofia, Arte e Pedagogia e atualmente cursando
mestrado em Educação, conta que decidiu colaborar com a montagem por acreditar que
os alunos precisam desse tipo de atividade. E destaca o fato de não ter sido algo
imposto. “A convite da professora, eles aceitaram participar, foi algo que eles
escolheram”, diz. E acrescenta: “Embora, às vezes, não levem a atividade a sério. Mas
são adolescentes. Quem de nós quando adolescente não agiu assim?”. Ela diz que já se
percebe uma mudança de atitude em alguns alunos. “Principalmente, nas meninas. Elas
demonstram mais interesse”. Ela classifica a participação dos meninos como sendo
ainda “meio acanhada”, mas acredita que, no final, o resultado será positivo.
Considerações finais
O pensador espanhol Jorge Larrosa, ao abordar a questão da leitura, diz que “o
importante, desde o ponto de vista da experiência, é como a leitura de Kafka (ou de
qualquer outro) pode ajudar-me a pensar o que ainda não sei pensar, ou o que ainda não
posso pensar, ou o que ainda não quero pensar” (LARROSA, 2011, p. 11). Para esse
autor, a experiência é “isso que me passa” (LARROSA, 2011, p.5) e o saber adquirido
na experiência, “não está, como o conhecimento científico, fora de nós, e, só tem
sentido no modo como configura [...] uma forma humana singular” (LARROSA, 2011,
p.14). O que significa “pensar a experiência desde um ponto de vista da formação e
transformação da subjetividade” (LARROSA, 2011, p.15). Ele diz: “Este é o saber da
experiência: o que se adquire no modo como alguém vai respondendo ao que lhe vai
acontecendo ao longo da vida” (LARROSA, 2002, P.27).
Seguindo essa linha de raciocínio, porém, abordando a questão do teatro, constatamos
que as respostas dos alunos e os depoimentos da professora e da pedagoga, analisados
desde o ponto de vista da experiência, revelam que a participação em uma peça teatral,
pode proporcionar ao aluno aprendizagens ricas em conteúdo e transformadoras, que
mudem seu modo de ver não o mundo e a vida, pois estas são certamente instâncias
amplas demais para que as enxergue em sua totalidade, mas que mudem seu modo de
ver aspectos de sua vida e de seu mundo particular, exatamente por serem
aprendizagens obtidas por meio de vivências significativas.
Nossa pesquisa encontra-se na fase inicial. Este artigo não comporta conclusões. O que
podemos afirmar desde já é que esse trabalho tem se revelado muito estimulante para
esse pesquisador e, ao que parece, também para as demais pessoas envolvidas. Basta ver
que ao responder a Pergunta 12 (Você está gostando de participar?), os trinta alunos
foram unânimes em dizer que estão gostando muito. Cabe continuarmos averiguando a
veracidade de nossa premissa inicial, a de que a experiência de participação numa peça
do Teatro Matemática pode propiciar a nosso aluno aprendizagem que tornem sua vida
melhor. Não deu ainda para averiguar a ocorrência de aprendizagens de conceitos
matemáticos. Acreditamos que com a continuidade dos trabalhos isso deva acontecer.
Referências
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa. 5ª. ed. 2009. Encontrado no endereço eletrônico seguinte
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23. Acessado em
20/09/2014.
ESSLIN, Martin. Uma Anatomia do drama. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.
LARROSA, Jorge. Experiência e alteridade em educação. Reflexão e Ação, v. 19, n. 2,
p. 04-27, 2011.
_______________. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista
brasileira de educação, v. 19, n. 1, 2002.
MOREIRA, Herivelto; CALEFFE, Luiz Gonzaga. Metodologia de pesquisa para o
professor pesquisador. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
MARTINS, Joel. A pesquisa qualitativa. In FAZENDA, Ivani (Org.). Metodologia da
pesquisa educacional. 5ª. ed. – São Paulo: Cortez, 1999.
POLIGICCHIO, A. G. Teatro: A Materialização da Narrativa Matemática. Dissertação
(Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São
Paulo. 2011.
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