Matemática em Cena: aprendizagem por meio da montagem de peças do Teatro Matemático Alvarito Mendes Filho1 GD5 – História da Matemática e Cultura Resumo Este artigo traz um recorte do projeto de pesquisa de mestrado em desenvolvimento no Educimat/IFES, em que buscamos averiguar e analisar ocorrências de aprendizagem na participação dos alunos em montagens de peças teatrais com conteúdo matemático. A peça Vaidades Geométrica, de nossa autoria, está sendo montada com alunos do nono anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental – E.M.E.F. Rosa da Penha, em Cariacica, Espírito Santo. Os trabalhos tiveram início em meados de julho desse ano. A abordagem metodológica utilizada a de pesquisa qualitativa. No oitavo encontro, foi aplicado um questionário impresso para colher as percepções dos alunos participantes da montagem sobre esse processo artístico-educativo no qual estão envolvidos. Também registramos em vídeo as percepções da professora e da pedagoga que estão acompanhando e, às vezes, participando das atividades. Esse material inicial é aqui analisado, com base no que postula Jorge Larrosa Bondía sobre a importância da experiência para a aprendizagem. Palavras-chave: Educação Matemática. Teatro como recurso didático. Aprendizagens. Motivação. Apresentação O presente artigo traz um recorte do projeto de pesquisa de mestrado que estamos desenvolvendo no Programa EDUCIMAT do Instituto Federal do Espírito Santo – IFES, com o título Matemática em Cena: aprendizagem por meio de montagens de peças do Teatro Matemático. Nele propomos um estudo da utilização do teatro como instrumento didático-metodológico para o ensino-aprendizagem da Matemática, e análise das aprendizagens resultantes da experiência de o aluno participar da montagem e encenações de peças teatrais com conteúdo matemático. As artes cênicas possuem a virtude de promover a socialização dos que a elas se dedicam, da mesma forma que entre esses e os espectadores. Isso porque a dança, o circo, a ópera, a mímica e principalmente o teatro têm por princípio a interação humana. 1 Mestrando do programa EDUCIMAT, Instituto Federal do Espírito [email protected]. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Auxiliadora Vilela Paiva. Santo, e-mail: O teatro, termo que veio da palavra grega théatron e “significa um lugar onde se vai ver alguma coisa” (ESSELIN, 1977), traz desde a sua origem esse requisito básico: é preciso haver alguém que se apresenta e alguém que assista. Sem qualquer um desses dois elementos, o teatro simplesmente não se realiza. Em seu percurso ao longo da história, a arte teatral se modificou espetacularmente, mas jamais conseguiu eliminar qualquer um desses dois elementos: o artista que se apresenta e o público que a ele assiste. Isso por conta da interação humana direta que está no gene do teatro e, quando bem aproveitada, consegue efeitos didáticos fantásticos. Na época atual, em que a interação humana se dá cada vez mais mediada por dispositivos diversos (telefone, internet, correio eletrônico, redes sociais no computador, cinema, televisão, vídeo etc.), o teatro se mantém como uma das formas de interação humana direta. Nós não descartarmos a importância das novas tecnologias que permitem o contato humano de forma remota, mas pensamos que a interação direta, como acontece no teatro, propicia a vivência de momentos privilegiados de aprendizagem. Até pelo seu caráter lúdico e sua sempre renovada capacidade de fabular, que permitem que temas, às vezes áridos, sejam trabalhados e apresentados de forma mais interessante do que através dos métodos tradicionais. Acreditamos que o teatro como ferramenta didática possa produzir efeitos altamente positivos, dentre eles o aprimoramento da capacidade de concentração e o aumento da socialização. Embora nosso projeto de pesquisa ainda esteja numa fase inicial, as observações feitas e o material colhido até o momento, por meio de questionário impresso respondido pelos alunos e de entrevistas gravadas com a professora e com a pedagoga que estão acompanhando a realização das atividades, nos permitem tecer algumas considerações. Os alunos participantes já começam a revelar aprendizagens, algumas relativas à disciplina Matemática; outras, à História do Teatro; e ainda outras relacionadas a como se apresentar em público e se relacionar com os colegas, professores e demais pessoas. Introdução De há muito, pedagogia e teatro andam juntos. O grande comediógrafo grego Aristófanes, já no século V a.C., fazia teatro didático. Também a tragédia grega tinha por finalidade ensinar ao cidadão as ações virtuosas e o alertar para os resultados nocivos de se agir de modo impróprio aos olhos dos deuses. O herói, ao proceder de forma errada, tinha quase sempre por destino a morte, o que, segundo Aristóteles, produzia no espectador terror e piedade. O teatro medieval foi marcadamente didático, servindo de ferramenta para a catequese de ateus e pagãos, aos quais se deviam ensinar a verdade e o caminho da salvação. A verdade era o Deus único, senhor do céu e da terra, a quem se devia temer e adorar; e o caminho da salvação, o Cristo Jesus, filho único de Deus feito homem, que veio a Terra para salvar os homens. Os ensinamentos de Jesus, sua paixão e morte (da mesma forma que a vida dos primeiros mártires da igreja católica) eram os temas ensinados através de dramas sacros chamados “mistérios”, que começaram dentro de mosteiros e igrejas e, aos poucos, passaram a ser encenados no lado de fora dos templos, chegando eventualmente à praça da cidade, completando assim o movimento de separação do teatro do local de culto. No renascimento, o português Gil Vicente manteve a conotação didático-moralista em peças cômicas como O Auto da Barca do Inferno; e mesmo o inglês William Shakespeare teve por intuito instruir, ao escrever peças de caráter histórico que transmitiam aos súditos da rainha Elizabeth I um profundo sentimento nacionalista. Por essa época, Anchieta, um irmão leigo da ordem dos franciscanos, escreveu e encenou peças sacras em terras brasileiras, principalmente na capitania do Espírito Santo, pertencente a Dom Vasco Fernandes Coutinho. Escritas em Tupi-guarani, as peças eram encenadas com a participação dos nativos e tinham por finalidade ensinar a eles a religião do colonizador. No século XIX, se consolidou no Brasil um teatro genuinamente nacional. Antes, era patente a influência europeia. França Júnior, por exemplo, criticou em uma de suas peças a importância que se dava ao estrangeiro em detrimento dos brasileiros, numa clara tentativa de incutir um pouco de amor pátrio na nossa gente. Mais recentemente, o alemão Bertolt Brecht, considerado por muitos o maior dramaturgo do século XX, escreveu e encenou peças de “teatro dialético”, com o intuito de combater o “analfabetismo político” e mobilizar o cidadão a participar das questões da vida moderna e transformar a realidade. A transformação da realidade é também um dos objetivos do Teatro do Oprimido, do brasileiro Augusto Boal, em voga ainda hoje. Esses exemplos demonstram que o teatro tem cumprido historicamente um papel didático. E não causa surpresa que de algum tempo para cá ele tenha passado a servir também de ferramenta pedagógica no ensino de diversas disciplinas. Constata-se, porém, que o teatro de cunho didático-pedagógico que se tem feito até o momento apresenta como temática as ciências de um modo geral. São poucas as iniciativas, como a da professora Andrea Gonçalves Poligicchio (2011) que, desde 2004, na Fundação Bradesco de Osasco, São Paulo, tem encenado com seus alunos peças com conteúdo matemático, numa tentativa de tornar a aprendizagem da disciplina mais agradável e de desenvolver nos participantes competências individuais. Esse trabalho foi o tema da pesquisa de mestrado desenvolvido por ela na Faculdade de Educação da USP. Nossa proposta é, assim como Poligicchio, trabalhar o teatro voltado exclusivamente para o ensino da Matemática. Uma iniciativa que, embora não inédita, trata-se da opção por um campo que, até o momento, foi pouco pesquisado, e que, acreditamos, ganha relevância por focarmos as aprendizagens desenvolvidas pelo aluno na montagem e encenação de peças do Teatro Matemático. Problemática A questão que nos move na realização de nossa pesquisa de mestrado é esta: que aprendizagens são construídas pelo aluno na montagem e encenação de peças de teatro com conteúdos da disciplina Matemática? Trata-se de uma pesquisa qualitativa que tem por objetivo geral averiguar de que modo montagens da peça do Teatro Matemático ajudam os alunos a produzir e assimilar conteúdos e a desenvolver habilidades relativas a essa disciplina. Temos trabalhado como ator, diretor de teatro e dramaturgo há mais de três décadas. Cerca de trinta das nossas peças já foram montadas e encenadas no Espírito Santo. Algumas delas foram encenadas também em outros estados. O conhecimento que temos da carpintaria teatral está nos permitindo criar textos teatrais em que temas e conteúdos da Matemática são abordados de maneira lúdica e divertida. Metodologia de pesquisa A metodologia empregada em nosso projeto é a da pesquisa qualitativa, definida por Moreira e Caleffe (2006, p. 73), como aquela que “explora as características dos indivíduos e cenários que não podem ser facilmente descritos numericamente”. Martins (1999) acrescenta que “os conceitos [...] sobre os quais as Ciências Humanas se fundamentam, num plano de pesquisa qualitativa, são produzidos pelas descrições”. A seguir apresentaremos os sujeitos da nossa pesquisa, em sua maioria alunos do nono ano da U.M.E.F. Rosa da Penha, com idades entre treze e quinze anos. Cuidaremos não só de apresentar esses estudantes, como também de descrever as etapas percorridas até chegar a eles e começar o trabalho de preparação da montagem da peça Vaidades Geométricas. O termo Teatro Matemático diz respeito aqui a uma séria de peças teatrais com temas e conteúdo da matemática que estamos escrevendo e que ofereceremos a professores como sugestão de metodologia alternativa para a introdução, desenvolvimento e/ou reforço de tópicos da disciplina. O professor poderá realizar com os alunos montagens desses textos ou apenas os tomar como exemplos, para criar (ele próprio ou os estudantes) novas histórias, de modo a usarem a experiência do teatro como recurso didático-pedagógico no ensino-aprendizagem da Matemática. Para chegarmos aos temas e conteúdos matemáticos desenvolvidos nas peças, fizemos entrevistas (de questões abertas e gravadas em vídeo) com onze profissionais do ensino: três professoras de Artes, um professor de Informática, duas professoras e um professor de Matemática, três pesquisadores e uma mestranda do EDUCIMAT. A partir das sugestões colhidas, escrevemos um acervo inicial de seis peças, começando pela comédia A Feliz União de Seu Teatro com Dona Matemática, na qual, conforme o título já antecipa, promovemos o encontro das duas áreas. Após isso, escrevemos Vaidades Geométricas, Gauss - menino gênio da Matemática, As atrapalhadas férias do Palhaço Matemático – Episódio 1, As atrapalhadas férias do Palhaço Matemático – Episódio 2 e O linchamento da incógnita. As sugestões feitas pelos onze entrevistados incluem temas como Matemática Financeira, Proporcionalidade, Análise Combinatória e História dos Números, entre outros que pretendemos aproveitar em algumas peças que ainda escreveremos. No final do semestre passado, fomos convidados pela colega mestranda Vanusa Stefanon para apresentar o Teatro Matemático para o grupo de formação continuada que ela coordena na Secretaria de Educação de Cariacica. Nas duas reuniões, uma realizada na parte da manhã e outra na da tarde, além de falarmos sobre o nosso projeto de pesquisa, propusemos uma leitura da peça Vaidades Geométrica. Vanusa havia providenciado cópias do texto que foram distribuídas aos participantes. A cada um deles foi destinado um personagens e foi feita então a leitura corrida da peça. Numa avaliação posterior dessa dinâmica, um dos professores deu a da seguinte opinião: “Gostei muito, mas muito mesmo, da proposta da peça teatral, pois acredito que será envolvente e atrativa, sem falar do aprendizado de forma diferenciada e divertida”. Nas duas reuniões, destacamos o interesse em montar a peça em uma das escolas do município e, uma semana depois, recebemos um telefonema de Vanusa informando que a professor Jocélia Rosa, da Escola Municipal de Ensino Fundamental – E.M.E.F. Rosa da Penha, estava interessada em que a peça fosse montada com seus alunos. A ida à escola aconteceu duas semanas depois, no dia 14 de julho. Os alunos dos dois nonos anos do período vespertino foram reunidos na sala de vídeo. Falamos para eles sobre nosso projeto de pesquisa e convidamos os interessados a se inscreverem com a professora Jocélia para participar de uma oficina de interpretação e da montagem da peça Vaidades Geométricas. Trinta e um alunos, quase todos do nono ano, com idades entre treze e quinze anos, compareceram ao encontro seguinte. Houve também uma aluna do sétimo ano, que havia sido convidada pela professora para participar, por ser considerada uma promessa de “boa atriz”. Ainda durante esse primeiro encontro, um dos alunos deixou a sala, após informar à professora que não estava mais interessado em participar. Foi uma reunião tumultuada, uma vez que, além de não possuírem qualquer experiência em participação da montagem de um espetáculo, os alunos eram todos jovens de comportamentos um tanto agressivos e que não tinham por hábito ouvir os colegas. Todos falavam aos gritos e ao mesmo tempo. E quando se davam ao trabalho de ouvir os colegas era para terem motivos para fazer chacota. Razão pela qual tivemos dificuldade em emplacar os primeiros exercícios de improvisação. Todos “morriam de medo de pagar mico”, conforme explicou uma das alunas. Apenas dois dos trinta alunos inscritos haviam participado, nas escolas onde haviam estudado anteriormente, da montagem de uma peça teatral. Os demais nunca haviam participado desse tipo de atividade. Por isso, começamos pela aplicação de exercícios de criação de contexto para pequenos diálogos, exercícios de improvisação, de postura corporal e de projeção de voz. Conforme relatamos anteriormente, de início tivemos dificuldade em conseguir a participação dos alunos. As atitudes de alguns deles davam a entender que haviam se inscrito para o grupo não para participar da montagem da peça, mas para fugir das aulas normais. Dois alunos que estavam prejudicando a participação dos demais foram retirados do grupo pela pedagoga. Um deles voltou a integrar o grupo semanas mais tarde. O outro não quis retornar. O ator de teatro precisa ouvir seus colegas e até mesmo o público, para saber o momento de proferir suas falar. Sem ouvir os demais, ele certamente não escutaria as “deixas” para sua participação. Por esse motivo, decidimos usar a dinâmica da bola que é passada para aquela pessoa do grupo que vai falar. Tudo parte de uma estratégia para fazer os alunos entenderem que o que os outros têm a dizer é tão importante quanto o eles próprios têm a falar. Durante dois encontros usamos essa técnica com insistência. Depois disso, ela foi utilizada apenas em momentos pontuais. Em nosso diário de bordo, entre os apontamentos de 26 de agosto de 2014, dia em que, com o auxílio do PowerPoint, foi feita uma breve apresentação sobre a origem do teatro, registramos a seguinte anotação: Nos primeiros encontros havia grande dispersão e os alunos falavam a todo instante, sem se darem a chance de ouvir os colegas. Fomos obrigados a usar a estratégia da bola. A pessoa que estivesse com ela tinha o direito de falar e os demais deveriam ouvi-lo. Completando essa estratégia, explicou-se para os alunos a importância de, no teatro, se ouvir o outro. Isso porque um requisito básico para o participante de espetáculos teatrais é saber escutar, pois só assim, ele ouve as deixas para suas falas. E a estratégia da bola e a explicação não foram lançadas em solo estéril. Os alunos demonstram estar desenvolvendo capacidades de sociabilidade. Aliás, isso ficou patente na reunião de hoje. No término do encontro, uma das alunas disse e, alto e bom tom (como, aliás, é recomendável ao participante de espetáculos teatrais): “Professor, gostei da aula de hoje. Todo mundo falou e ouviu os outros e nem foi preciso usar a bola”. A percepção dos alunos do processo artístico-educativo de que estão participando foi colhida por meio de um questionário com oito perguntas de respostas fechadas, quatro de respostas abertas e com a solicitação para que “Cite algo interessante que você já aprendeu nessa oficina de teatro”. Na próxima seção, apresentaremos suas respostas e as percepções da professora Jocélia Rosa e da Pedagoga Marina Calixto da Silva que estão acompanhando as atividades. As opiniões e expectativas das duas foram registradas em vídeo. Estamos realizando o registro fotográfico dos exercícios de improvisação e das leituras do texto da peça, entregue aos alunos no encontro do dia 26 de agosto. Algumas das futuras atividades de preparação do espetáculo e as apresentações serão também filmadas, de modo a compor um registro em vídeo desse trabalho. O material O questionário respondido pelos alunos teve doze perguntas. As duas primeiras relativas a seu nome, idade e local de residência. Com as perguntas 3 a 12, buscamos desvendar se o aluno aprecia (e tem por hábito) ler, assistir a filmes e a peças teatrais. Já no item 13, que não foi formulado como pergunta, pediu-se ao aluno que cite algo interessante que ele tenha aprendido na oficina de teatro. A seguir apresentamos as respostas dadas, o que deve ajudar a se ter uma ideia sobre os sujeitos da nossa pesquisa. Quanto ao sexo e idade, os alunos participantes podem ser agrupados da seguinte forma: MENINAS – dezenove (uma com 12 anos, duas com 13, quatorze com 14, e duas com 15); MENINOS – onze (dois com 13 anos, sete com 14 e dois com 15). Quanto ao local de residência, oito dos alunos moram no Bairro Rosa da Penha, bairro residencial, de famílias da classe média e media-baixa, onde está localizada a escola. Dos demais, três não informaram onde moram. O restante reside em bairros circunvizinhos ou próximos. Quanto às perguntas que buscam identificar seus hábitos artísticos e culturais, incluímos no Quadro 1 as respostas dadas. Quadro 1 Pergunta 3: Você gosta de ler? Muito Mais ou menos 12 17 Não muito Nem um pouco 1 Pergunta 5: Gosta de assistir a filmes Muito Mais ou menos 26 4 Não muito Nem um pouco Nunca fui Pergunta 6: Você costuma ir ao cinema? Sempre Às vezes Raramente 4 20 6 Pergunta 8: Onde você assistiu a esse filme?* No cinema Em casa Na casa de colega Em outro lugar 8 20 1 1 Pergunta 9: A quantas peças teatrais você já assistiu? Mais de dez De Cinco a nove De uma a quatro Nenhuma 2 5 19 4 Pergunta 10: Onde você assistiu à(s) peça(s)? No teatro Na escola Na igreja Em outro lugar 16 11 7 5 Pergunta 11: Por que você decidiu participar da montagem da peça? É divertido A professora convidou Colegas participando Não sei dizer 29 2 2 1 Um pouco Quase nada Pergunta 12: Você está gostando de participar? Muito Mais ou menos 30 *A relação dos filmes assistidos está mais abaixo, nas respostas da Pergunta 7. A Pergunta 4 (Que livro você leu recentemente?) não foi respondia por nove alunos. Os demais leram: A culpa é das estrelas (4 alunos), João e o pé-de-feião, O pequeno príncipe, Cada segredo, O filho de Netuno, O guardião, A menina que roubava livros, Não se apaga não, A menina que colecionava borboletas, A última música, As aventuras do Capitão Cueca nº. 1 a 14, Crescendo - Hush Hush, As pedras não morrem, O diário de um banana, Beijada por um anjo, Percy Jackson e a batalha do labirinto, Minha vida fora de série, God of war. E a Pergunta 7 (Qual foi o último filme que você assistiu?) recebeu como respostas: Noé (3 alunos), Malévola (3 alunos), 17 outra vez (2 alunos), Dupla em fúria (2 alunos), X-Man Origem, 47 ronins, Tarzan, The Vampire Diaries, Busca implacável, A culpa é das estrelas, Godzila, Frozen, Mato sem cachorro, Fairy Tail, Minha mãe é uma peça, O Grande mestre, A casa de cera, Depois da Terra, Deu a louca nos bichos, Hércules, Tartarugas ninja, Bleach, 5 dias para a morte. A seguir apresentamos as respostas para o item 13, em que se pediu ao aluno que citasse algo interessante que tinha aprendido na oficina de teatro. Mantivemos as resposta como foram escritas, destacando em itálico as palavras grafadas em desacordo com o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Academia Brasileira de Letras, 2009). Um aluno não respondeu. As respostas dos demais foram: 1) - “Aprender a interpretar os personagens”. 2) - “O tempo das falas, como se comunicar”. 3) - “Eu aprendi a história do teatro”. 4) - “A origem do teatro”. 5) - “Ouvir os colegas e a interpretar melhor”. 6) - “Que para termos um bom empenho na peça, devemos estudar mais a peça”. 7) - “Aprendia tira o medo de ler em voz alta”. 8) - “Já aprendi muita coisa, principalmente a ouvir mais, também a respeitar o próximo da maneira como ele é”. 9) “Ter calma e improvisar quando possível”. 10) - “Como emcorpora o ator”. 11) “Participar mais”. 12) - “Os tons da fala”. 13) - “Descobri várias coisas que eu não sabia que tinha em um teatro, como ouvir, ajudar nas escolhas, e como trabalhar em grupo é bom”. 14) - “Estou lendo melhor”. 15) - “A usar melhor minha voz; dos tons, espressões, altura; etc....” 16) - “Para ‘encarnar’ o personagem, não fazer algo robô, é como uma dança, você pode até pensar um pouco, porém, o correto é você senti-la e seus movimentos fazerem a música tocar”. 17) - “Desfarçar um pouco a timidez”. 18) “Saber ouvir e respeitar a vez do colega. A história do teatro”. 19) - “Da vida aos personagens, a falar e escutar meus colegas”. 20) - “A saber ouvir as pessoas, saber falar/expressar”. 21) - “A ouvir a pessoa que está falando e aprender a interpretar melhor”. 22) - “Solte o personagem que está dentro de você”. 23) - “A ouvir, saber se expressar, saber falar, e interagir”. 24) - “Eu perdi um pouco da timidez estou aprendendo coisas novas”. 25) - “A interpretar melhor os personagens, a aprender a ouvir, e aqui descobri que adoro teatro”. 26) - “Encorporar o personagem, respeitar, ler expressando os sentimentos dos personagens”. 27) - “Aprender ouvir, e a interpretação”. 28) – “Aprendi a dar a vez para outra pessoa falar”. 29) - “Aprendi a lidar com o teatro”. A professora Josélia Rosa da Silva, que é pós-graduada em Matemática, revela ter decidido realizar a montagem da peça na escola para tentar melhorar a convivência com os alunos. E, nesse aspecto, diz já está conseguindo se aproximar de alguns deles. E mais, diz que por conta das atividades já desenvolvidas, percebe um considerável crescimento em alguns dos participantes. “Em outros, não”, comenta. “Ou porque não se adaptaram ainda ou porque não é o que eles querem”. Já a Pedagoga Marina, graduada em Filosofia, Arte e Pedagogia e atualmente cursando mestrado em Educação, conta que decidiu colaborar com a montagem por acreditar que os alunos precisam desse tipo de atividade. E destaca o fato de não ter sido algo imposto. “A convite da professora, eles aceitaram participar, foi algo que eles escolheram”, diz. E acrescenta: “Embora, às vezes, não levem a atividade a sério. Mas são adolescentes. Quem de nós quando adolescente não agiu assim?”. Ela diz que já se percebe uma mudança de atitude em alguns alunos. “Principalmente, nas meninas. Elas demonstram mais interesse”. Ela classifica a participação dos meninos como sendo ainda “meio acanhada”, mas acredita que, no final, o resultado será positivo. Considerações finais O pensador espanhol Jorge Larrosa, ao abordar a questão da leitura, diz que “o importante, desde o ponto de vista da experiência, é como a leitura de Kafka (ou de qualquer outro) pode ajudar-me a pensar o que ainda não sei pensar, ou o que ainda não posso pensar, ou o que ainda não quero pensar” (LARROSA, 2011, p. 11). Para esse autor, a experiência é “isso que me passa” (LARROSA, 2011, p.5) e o saber adquirido na experiência, “não está, como o conhecimento científico, fora de nós, e, só tem sentido no modo como configura [...] uma forma humana singular” (LARROSA, 2011, p.14). O que significa “pensar a experiência desde um ponto de vista da formação e transformação da subjetividade” (LARROSA, 2011, p.15). Ele diz: “Este é o saber da experiência: o que se adquire no modo como alguém vai respondendo ao que lhe vai acontecendo ao longo da vida” (LARROSA, 2002, P.27). Seguindo essa linha de raciocínio, porém, abordando a questão do teatro, constatamos que as respostas dos alunos e os depoimentos da professora e da pedagoga, analisados desde o ponto de vista da experiência, revelam que a participação em uma peça teatral, pode proporcionar ao aluno aprendizagens ricas em conteúdo e transformadoras, que mudem seu modo de ver não o mundo e a vida, pois estas são certamente instâncias amplas demais para que as enxergue em sua totalidade, mas que mudem seu modo de ver aspectos de sua vida e de seu mundo particular, exatamente por serem aprendizagens obtidas por meio de vivências significativas. Nossa pesquisa encontra-se na fase inicial. Este artigo não comporta conclusões. O que podemos afirmar desde já é que esse trabalho tem se revelado muito estimulante para esse pesquisador e, ao que parece, também para as demais pessoas envolvidas. Basta ver que ao responder a Pergunta 12 (Você está gostando de participar?), os trinta alunos foram unânimes em dizer que estão gostando muito. Cabe continuarmos averiguando a veracidade de nossa premissa inicial, a de que a experiência de participação numa peça do Teatro Matemática pode propiciar a nosso aluno aprendizagem que tornem sua vida melhor. Não deu ainda para averiguar a ocorrência de aprendizagens de conceitos matemáticos. Acreditamos que com a continuidade dos trabalhos isso deva acontecer. Referências ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 5ª. ed. 2009. Encontrado no endereço eletrônico seguinte http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23. Acessado em 20/09/2014. ESSLIN, Martin. Uma Anatomia do drama. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. LARROSA, Jorge. Experiência e alteridade em educação. Reflexão e Ação, v. 19, n. 2, p. 04-27, 2011. _______________. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista brasileira de educação, v. 19, n. 1, 2002. MOREIRA, Herivelto; CALEFFE, Luiz Gonzaga. Metodologia de pesquisa para o professor pesquisador. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. MARTINS, Joel. A pesquisa qualitativa. In FAZENDA, Ivani (Org.). Metodologia da pesquisa educacional. 5ª. ed. – São Paulo: Cortez, 1999. POLIGICCHIO, A. G. Teatro: A Materialização da Narrativa Matemática. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2011.