Bibliografia

Propaganda
Zika Vírus: subjetividades e decisões reprodutivos
Introdução
A epidemia do Zika Vírus é um fato hoje no Brasil e em vários países do mundo, de
complexidade crescente, desde seu surgimento, e de grande impacto sobre a situação
de saúde das mulheres gravidas e de seu desenvolvimento gestacional. As reações
físicas que algumas das mulheres grávidas tem apresentado frente aos efeitos da Zika
ainda são pouco conhecidas, e sua incidência sobre a integridade do feto foi indicada
no Brasil, mas ainda não explicada. Parte dos bebes atingidos tem sido observados
como portadores de um conjunto de problemas que não se restringem apenas a
redução do perímetro cerebral, mas apresentam outros problemas tais como
problemas auditivos, oculares, calcificações no corpo, inclusive intracranianas,
dilatação ventricular do sistema nervoso central, acentuadas lesões de córtex, excesso
de pele de couro cabeludo, artrogriposes, dentre inúmeros outros, ampliando a
possível extensão do dano. Por esta razão, fala-se em Síndrome da Zika Congênita.
De uma maneira geral, os esforços de investigação tem se debruçado sobre a
natureza do vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti do ponto de vista das
ciências biológicas, ou os efeitos sobre o feto, como a Síndrome da Zika Congênita,
deixando de lado aspectos associados á saúde integral das mulheres, incluindo a
saúde mental e os determinantes sociais da enfermidade, especialmente as
desigualdades de gênero, raça e socioambientais em que vivem as mulheres que
engravidaram e/ou abortaram. Este trabalho, de maneira inovadora, inclui o olhar
sobre as mulheres, suas preocupações e angústias, frente ao desconhecido e abre uma
janela de oportunidades para que se possa operar com todas as novas vertentes que
forem surgindo no processo, como é o caso das distintas modalidades de transmissão,
inclusive sexual. Propõe-se a investigar, de maneira colaborativa com os demais
componentes da pesquisa, o impacto da evidência da existência da infecção, da
Síndrome de Zika Congênita (diagnosticada durante gestação ou parto, ou pôs parto
ou de abortamentos), sobre o universo psíquico das mulheres participantes da
pesquisa no Ambulatório de Saúde da Mulher do Hospital Universitário da cidade de
Jundiaí.
Material e Métodos O estudo qualitativo em questão se desenvolve na cidade de
Jundiaí, a partir da realização de uma coorte de 500 mulheres, que vem pequisando
as modalidades de transmissão da infecção e seu impacto sobre o desenvolvimento
das crianças nascidas nesse contexto . Jundiaí que faz parte do Aglomerado Urbano
2
de Jundiaí, reúne uma população de aproximadamente 700 mil habitantes, com uma
grande tendência à conurbação. Dentre os 7 municípios que compõem a AUJ, Jundiaí
é o maior deles, com mais de 50% da população total, hoje de acordo com os dados
do Censo de 2010, estabelecida em 370.126 habitantes. A região dispõe de 147
estabelecimentos de saúde, 24.509 unidades escolares, numa área de 1.269.572 Km
quadrados. De acordo com os dados do Censo 2010, pode-se afirmar que 94,6% dos
nascimentos ocorridos em mulheres de 10 anos ou mais, ocorreram em regiões
urbanas do Aglomerado, sendo que 60% deste total de nascimentos ocorreu entre as
mulheres sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto, e apenas 7%
ocorreu entre as mulheres com superior completo. O Brasil carece de estudos que
informem e atualizem a natureza dos vínculos subjetivos que as mulheres vem
construindo com a maternidade na contemporaneidade, especialmente quando se
considera que o evento reprodutivo se concretiza num cenário de novos processos
infecciosos e que trazem danos contundentes aos fetos, e em cidades que apresentam
um ritmo de mudanças estruturais importantes como é o caso de Jundiaí e região.
Mostram incremento da escolaridade, entrada no mercado de trabalho, rápido
crescimento, mas que se enfrentam com o deterioro das condições econômicas do
pais e particularmente dos municípios, com prejuízo na implementação de políticas
públicas, inclusive socioambientais.
Estudos quali-quanti mais sólidos foram
desenhados no final dos anos 90, e não refletem ainda mudanças havidas no pais no
início deste século, menos ainda nos últimos 12 anos. Da mesma maneira, não há
estudos atualizados sobre maternidade e decisões reprodutivas desenhados com
amostra robusta em serviço, como é a que se apresenta neste trabalho, 500 casos,
com coleta de amostras de fluidos corporais que serão analisadas, para a mãe, antes e
durante o parto, e para o bebe ainda durante o processo de nascimento e alojamento
conjunto.
Entrevistas semi-abertas serão realizadas com mulheres em situação
hospitalar, semi abertas, e posteriormente 100 entrevistas domiciliares serão
realizadas com mulheres em situação que tiveram filhos nascidos com a síndrome ou
não, e também mulheres com abortamento.
Resultados
3
O trabalho vem investigando , do ponto de vista psíquico e psicossocial, as seguintes
questões centrais :a) Que impactos psíquicos a presença do risco da infecção pelo
Zika e/ou da Síndrome da Zika Congênita em recém nascidos, poderia acarretar na
constituição da subjetividade feminina em sua relação com a maternidade? , b) Que
impactos psicossociais a dimensão conjugal, familiar e comunitária poderia sofrer,
considerados os variados determinantes sociais (especialmente, gênero, raça,
contextos socioambientais) com o risco da infecção pelo Zika e/ou com a presença
do quadro de Síndrome da Zika Congênita em recém nascidos?
Os principais eixos de análise tem sido : a) a constituição da história de vida das
mulheres,
noção
de
sujeito
estabelecida
em
si
mesma,
subjetividades,
compreendendo e caracterizando os discursos e significantes que apresentam sobre a
maternidade e a relação que estabelecem com a gestação/feto/filho nascido na nova
perspectiva vivida, b) tipo de vínculos estabelecidos com o parceiro/pai? c)
contexto/apoios ou adversidades em que vive, considerando-se situação familiar, de
seu entorno, de sua comunidade? d) relação com a vida produtiva e) sua percepção
de direitos . Alem de informações sobre a investigação como um todo, serão
apresentados em detalhe, dois casos de mulheres positivas para ZIKAVIRUS e que
apresentaram nascimentos com microcefalia, um deles apresentando toda a
configuração da síndrome completa congênita. Um dos objetivos é o de mostrar de
que maneira a enfermidade pode ser enfrentada por mulheres de distintos estratos
sociais, mostrando o impacto dos determinantes sociais da saúde na determinação de
configurações psíquicas e sociais distintas e com diferentes impactos sobre as
historias de vida individuais , conjugais e familiares.
Conclusões O trabalho em questão tem a seu favor o fato de abordar uma epidemia
desconhecida, e ser portanto, considerado de alta relevância para a saúde pública
nacional e internacional. Não obstante, para além das ciências médicas e biológicas,
epidemias desta natureza necessitam da colaboração da contribuição das ciências
humanas para serem entendidas em sua complexidade. Os maiores desafios estão
associados a compreender aspectos sócio culturais que as mulheres ou casais,
famílias e comunidades apresentam diante da possibilidade do resultado positivo
frente a Zika, e posteriormente como lidam com o impacto da enfermidade em suas
vidas, considerando as determinações de gênero e raça, especialmente. Os resultados
do trabalho são de interesse imediato da sociedade, e deverão ser apresentados em
4
processos que permitam a opinião pública assimilar de maneira consistente e rápida
os dados obtidos e sua operacionalização para mudança de comportamentos e
atitudes sociais e individuais e transformados em políticas públicas.
Bibliografia .
ALONSO, S.; GURFINKEL, A.; BREYTON, D. Figuras clínicas do feminino no
mal–estar contemporâneo. São Paulo, SP: Escuta, 2002.
ARÁN, M. Lacan e o feminino: algumas considerações críticas. Natureza Humana,
São Paulo, SP, v. 5, n. 2, p. 293-327, 2003.
ARILHA, M. et al. Diálogos transversais em gênero e fecundidade: articulações
contemporâneas. Campinas, SP: Editora Librum, 2012.
______; BERQUÓ, E. Cairo+15: trajetórias globais e caminhos brasileiros em saúde
reprodutiva e direitos reprodutivos. In: ABEP; UNFPA. Brasil, 15 anos após a
Conferência do Cairo. Belo Horizonte, MG: ABEP, 2009.
CAETANO, A.; AMORIM, F. Classe social, reprodução e contracepção no Brasil
contemporâneo. In: ARILHA, M. et al. Diálogos transversais em gênero e
fecundidade: articulações contemporâneas. Campinas, SP: Editora Librum, 2012.
IBGE. Síntese de Indicadores Sociais 2012. Rio de Janeiro, RJ, 2012.
IBGE. Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro, RJ, 2010.
MAKSOUD, I. Estigma e discriminação: desafios da pesquisa e das políticas
públicas na área de saúde. Physis, Rio de Janeiro, RJ, v. 24, n. 1, p. 311-321, 2014.
ROA, M. Zika vírus outbreak: reproductive health and rights in Latin America. The
Lancet,
London,
v.
387,
p.
843,
2016.
Disponível
em:
<http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(16)00331-7>.
SOARES DE ARAÚJO, J. S. et al. Microcephaly in northeast Brazil: a review of 16
208 births between 2012 and 2015. Bulletin of the World Health Organization,
New York, NY, 2016. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.2471/BLT.16.170639>.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guillain–Barré syndrome. Geneva, 2016.
Disponível
em:
<http://www.who.int/mediacentre/factsheets/guillain-barresyndrome/en/,>. Acesso em: 16 mar. 2016.
______.
Microcephaly.
Geneva,
2016.
Disponível
em:
http://www.who.int/emergencies/zika- virus/microcephaly/en,>. Acesso em: 16 mar.
2016.
______. Zika virus infection: step by step guide on risk communications and
community engagement. Washington: Pan American Health Organization; Geneva:
WHO Regional Office for the Americas, 2016. Disponível em: <http://iris.paho
.org/xmlui/handle/123456789/18599,>. Acesso em: 16 mar. 2016.
______.
Zika
virus.
Geneva,
2016.
Disponível
em:
<http://www.who.int/mediacentre/factsheets/zika/en/,>. Acesso em: 16 mar. 2016.
5
______. Women in the context of microcephaly and zika virus disease: online
Q&A. Geneva, 2016. Disponível em: <http://www.who.int/features/qa/zikapregnancy/en>. Acesso em: 16 mar. 2016.
______. Thinking healthy: a manual for psychosocial management of perinatal
depression (who generic field-trial version 1.0). Genebra, 2015. Disponível em:
<http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/152936/1/WHO_MSDMER_15.1_eng.pdf?
ua=1&ua=1>. Acesso em: 16 fev. 2016.
6
Download