Interferência eletromagnética em equipamentos eletromédicos – Um plano de contingência para estabelecimentos assistenciais de saúde. Autores: - João Carlos Langanke Pedroso - Saide Jorge Calil 1. Introdução Questões relativas à interferência eletromagnética (IEM) e compatibilidade eletromagnética (CEM) são de grande importância nas indústrias aeronáutica, automotiva e militar, porque é reconhecido que muitas vidas humanas foram perdidas quando a CEM foi deficiente. Entretanto, estas questões foram largamente ignoradas na área de saúde, mais especificamente com relação a equipamentos eletromédicos, pelo menos até recentemente. Hoje, a maior parte das pessoas ligadas à área de saúde está ciente da IEM, mas muitos desconhecem os riscos de mal funcionamento de equipamentos eletromédicos devido à IEM, comparados com outros riscos a que os pacientes estão expostos quando entram em um hospital [1]. O ambiente eletromagnético em estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS) modernos pode ser extremamente variável, particularmente como resultado do tremendo crescimento da utilização de sistemas de comunicação sem fio [2]. Sob o ponto de vista da Engenharia Clínica, maneiras de minimizar a IEM são bem conhecidas. Atualmente, existe virtualmente uma concordância unânime sobre os princípios em que se baseia tal minimização, ainda que grupos diferentes possam sugerir maneiras distintas de implementar estes princípios. Os princípios-chave são: (1) gerenciamento de fontes de radiofreqüência (RF) e equipamentos eletromédicos, de modo a promover CEM, (2) educação, e (3) testes “ad hoc” quando faltam informações a respeito de CEM. Entretanto, apesar da concordância dentre os especialistas sobre como minimizar IEM, é surpreendente que alguns hospitais ainda não agiram efetivamente para minimizar os riscos associados – muitos hospitais ainda não têm uma norma interna a respeito de CEM, enquanto outros têm normas questionáveis [1]. Este trabalho enfatiza a IEM causada por energia eletromagnética de RF, devido à proliferação de fontes de RF em EAS criando um risco potencial para equipamentos eletromédicos. Muitos equipamentos eletromédicos atualmente em utilização não foram testados com relação à imunidade a perturbações eletromagnéticas, e alguns estão sob risco de falha ou mal funcionamento devido à interferência proveniente destas fontes [2]. 2. Interferência eletromagnética em equipamentos eletromédicos IEM tem duas faces: emissões e imunidade. Emissões partem de um equipamento, possivelmente para interferir com a operação de equipamentos eletrônicos próximos. Por outro lado, energia elétrica externa pode adversamente afetar o funcionamento de um equipamento. Assim, determinado equipamento pode ser a fonte de interferência ou o recipiente [1]. Há ainda a questão da auto-compatibilidade, que lida com as ameaças internas de um equipamento eletromédico. Simplesmente o equipamento é privado de um funcionamento satisfatório por um gerador de interfe rência no próprio equipamento. Dois casos comuns são quando se está lidando com equipamentos sensíveis (sensíveis mesmo à eletrônica digital ordinária), e quando se tem um gerador de alta energia que é potente o suficiente para interferir com equipamentos próximos e a eletrônica no seu próprio interior. Estes problemas normalmente vêm à tona quando se está integrando a um sistema módulos adquiridos de diferentes fabricantes [1]. As fontes de interferência podem ser transientes em sua natureza ou quase contínuas. As três ameaças comuns de IEM são: energia eletromagnética de RF, descarga eletrostática e qualidade da energia [1]. 2.1. Acoplamento de energia eletromagnética de RF [2] Energia eletromagnética de RF é acoplada através de radiação, condução e/ou indução. 2.1.1. Radiação No acoplamento por radiação, a energia se propaga através do espaço (e através do ar) na forma de ondas eletromagnéticas que são emitidas pela fonte e recebidas por um cabo ou outro condutor no equipamento susceptível. Se a fonte for suficientemente intensa e o equipamento suficientemente susceptível, eles não precisam estar próximos. Por exemplo, já foram relatados casos em que monitores de apnéia detectaram falsas respirações quando a intensidade dos sinais de transmissão de rádio FM no ambiente mudou pelo movimento de pessoas e objetos nas proximidades do monitor. Devese notar que a energia eletromagnética irradiada deve primeiramente ser convertida em energia eletromagnética conduzida (em um cabo ou um componente de um equipamento susceptível) para que tenha efeito. 2.1.2. Condução No acoplamento por condução existe um trajeto elétrico direto entre a fonte de energia eletromagnética e o equipamento susceptível, i.e., uma conexão física entre os equipamentos. Por exemplo, a energia eletromagnética gerada por uma unidade eletrocirúrgica pode ser acoplada através de um paciente para um eletrocardiógrafo ou um monitor de eletrocardiograma. Energia de radiofreqüência e transiente também pode penetrar em um dispositivo através de seu cabo de alimentação. 2.1.3. Indução No acoplamento por indução existe um acoplamento capacitivo ou indutivo (i.e., magnético) da energia eletromagnética da fonte para um equipamento susceptível próximo. Um exemplo de acoplamento indutivo é a distorção que ocorre em um monitor de tubo de raios catódicos (TRC) quando este é posicionado próximo a cabos de alimentação AC de alta corrente no chão ou na parede adjacente. Acoplamento capacitivo pode ocorrer quando longos comprimentos de cabos de diferentes equipamentos são posicionados em paralelo. 2.2. Descarga eletrostática A descarga eletrostática segue um crescimento gradual de carga. O crescimento real de carga ocorrerá durante um período de tempo, geralmente segundos ou mais, e normalmente não represent a uma ameaça para a eletrônica. Quando a descarga ocorre, ele leva apenas alguns nanosegundos, e isto é o que causa o problema da descarga eletrostática. Uma descarga real pode ser de um corpo humano para (ou próximo de) um equipamento em questão, ou pode ser acumulada pelo equipamento e descarregada dele [1]. Um evento significante de descarga eletrostática gerará um alto pulso eletromagnético (PEM) que pode ser destrutivo para sistemas eletrônicos próximos. Tal evento pode ter um rápido tempo de subida, especialmente para descargas de baixa tensão. A forma de onda para um evento de descarga eletrostática inclui componentes de freqüências que variam numa faixa de CC até mais que 6GHz. Esta radiação eletromagnética pode se acoplar a trilhas de circuito e condutores (estes elementos agindo como antenas). Circuitos de alta velocidade, por sua natureza, tendem a ser bastante susceptíveis a sinais de alta freqüência, sinais tais quais os gerados por um evento de descarga eletrostática próximo [3]. 2.3. Qualidade da energia Qualidade da energia, ou a falta de, é simplesmente um desvio da onda senoidal de potência de 50 ou 60Hz fornecida pela concessionária de energia. Perturbações de alimentação podem ter várias fontes e várias formas, tanto contínuas como transientes. Perturbações de alimentação são normalmente geradas localmente por equipamentos próximos ruidosos e, por esta razão, não podem ser controladas pela concessionária de energia. Tais perturbações são difíceis de eliminar completamente, então é normalmente necessário conviver com elas. Estas perturbações podem ter uma variedade de assinaturas, mas apenas um pequeno número delas são significativas para a eletrônica [1]. 3. Mecanismos de IEM 3.1. Retificação na junção [2] Retificação na junção, ou auto-retificação, ocorre quando uma corrente alternada passa através de um semicondutor. A resposta não linear da junção de um semicondutor à corrente passando através desta, combinada com a capacitância parasita ou intencional do circuito, pode resultar em conversão de um sinal de uma onda contínua de RF em uma tensão CC, ou na detecção de uma modulação em baixa freqüência em uma portadora de RF. O sinal “detectado” pode parecer como um deslocamento de nível CC (e.g., um erro numa quantidade medida) ou um artefato na forma de onda ou imagem. O efeito pode variar de sutil a óbvio. Pode se assemelhar com formas de onda fisiológicas o suficiente para ser confundido com dados clínicos normais ou anormais, o que pode afetar alarmes, diagnóstico e tratamento. 3.2. Corrupção de bits A corrupção de bits se refere aos efeitos de IEM em circuitos digitais lógicos. A energia eletromagnética não intencionalmente acoplada a um circuito, sobrepõe-se à margem de ruído lógica e altera um ou mais bits do nível lógico “0” para “1” ou vice-versa [2]. Por exemplo, as duas principais famílias de dispositivos eletrônicos lógicos, CMOS (Complementary Metal-Oxide-Silicon) e TTL (Transistor-Transistor Logic) têm nível lógico “0” a 0,8V ou menos, e nível lógico “1” a 2,0V ou mais. Isto leva a uma pequena faixa indeterminada de 1,2V, e torna as entradas lógicas destas trilhas de circuito ou conexões susceptíveis a tensões induzidas por IEM que excedam esta faixa [3]. Se isto não for reconhecido por algoritmos de detecção de erro, os bits alterados podem ser interpretados como dados válidos ou instruções operacionais. Os efeitos podem incluir nos dados medidos ou indicados: mudanças no modo operacional, falsos alarmes, falha em alarmar, e “trancamento” ou “congelamento” dos mostradores e/ou funções [2]. 3.3. Interferência de intermodulação, mesmo canal ou canal adjacente [2] Equipamentos médicos de RF tais como receptores de telemetria de paciente, podem ser afetados por sinais de RF de outros transmissores. Algumas freqüências de telemetria médica são utilizadas em uma base secundária, sendo compartilhadas com usuários licenciados destas freqüências de RF. Assim, se um usuário comercial licenciado no mesmo canal aproxima-se das imediações do EAS, estas transmissões podem interferir com a recepção do sinal do paciente no receptor de telemetria. Sinais de RF que estão próximos à freqüência de telemetria e são suficientemente intensos, podem também causar perda de recepção ou operação não confiável. Interferência de intermodulação ocorre quando duas freqüências de RF no mesmo ambiente misturam-se em componentes não lineares tal qual o circuito detector de RF de um receptor de telemetria para formar freqüências de soma e diferença. Interferência de intermodulação em um receptor de telemetria de multi-canais pode causar formas de onda de um paciente aparecerem no canal de outro paciente. 4. Fatores que afetam o grau de IEM O grau com que os equipamentos eletromédicos são afetados por energia eletromagnética irradiada é influenciado pela freqüência, potência, intensidade de campo, modulação, absorção e reflexão da energia eletromagnética, e pelo projeto e manutenção do equipamento [1]. 4.1. Projeto de equipamentos Em geral, um equipamento eletromédico será mais imune a uma perturbação eletromagnética se ele tiver sido projetado com CEM em mente. As técnicas utilizadas pelos fabricantes para aumentar a imunidade a perturbações eletromagnéticas de RF incluem, mas não estão limitadas a, considerações em layout de circuitos, blindagem, filtragem, aterramento e utilização de absorvedores de ferrita [2]. Adicionalmente, existem técnicas mais avançadas, como a utilização do método dos elementos finitos na determinação da intensidade do campo resultante, e ainda conceitos de inteligência artificial (I A) [4]. 4.2. Manutenção de equipamentos [2] É de importância crítica reinstalar e/ou manter a integridade das técnicas de minimização de IEM, tais quais blindagem e filtragem, na ocasião da manutenção de equipamentos elétricos e eletrônicos presentes no ambiente hospitalar, inclusive os não médicos. Por exemplo, blindagens, conexões e parafusos do gabinete devem ser retornados ao seu local e condição original. Superfícies metálicas intencionalmente deixadas sem pintura para continuidade da blindagem não devem ser pintadas. Uma cobertura faltante, parafuso, anel de ferrita, ou uma fita condutiva podem tornar um equipamento mais susceptível a IEM. Não é prática comum testar equipamentos com relação à IEM após a manutenção. Assim, erros na reposição de componentes relacionados à CEM são difíceis de serem detectados. Deve-se ter atenção especial na limpeza do contato de conectores, uma vez que a natureza semicondutora de contatos oxidados tem um papel importante no possível aumento da susceptibilidade à IEM a medida em que o equipamento envelhece. Neste caso, deve-se usar apenas limpadores não abrasivos. IEM pode ser a explicação possível para o mal funcionamento de equipamentos quando o problema aparenta ter se resolvido sozinho ou não pode ser reproduzido, particularmente após o equipamento ter sido retirado do ambiente onde estava. IEM é difícil de investigar por que a interferência pode ser intermitente, a fonte pode não mais estar presente, a interferência pode somente ocorrer em um determinado ponto do ciclo de operação, ou o equipamento eletromédico pode estar funcionando “silenciosamente”, i.e., sem alarmar. Como resultado, IEM pode não ser detectada na primeira vez em que um problema for relatado. IEM pode ser uma causa de mal funcionamento que resultou em uma ordem de serviço (OS) do tipo “nenhum problema encontrado”, na qual um equipamento é mandado para serviço e o problema não pode ser duplicado pela equipe de Engenharia Clínica/Biomédica ou um empresa prestadora de serviços. Enquanto as prováveis causas das ordens de serviço do tipo “nenhum problema encontrado” incluem problemas intermitentes de hardware, “bugs” de software e erros de usuário, a IEM deve ser investigada como uma possibilidade. Manter um banco de dados de tais mal funcionamentos pode, pela hora, data e local da ocorrência, ajudar a identificar os mal funcionamentos que resultaram de transmissões de RF contínuas e periódicas. Pelo exposto até o momento, pode-se de maneira resumida dizer que a IEM afeta equipamentos eletromédicos destruindo malhas de realimentação em sistemas de controle. Os principais fatores que influenciam são: polarização do sinal, potência de transmissão (função direta) e distância de fonte de emissão (função inversa da raiz quadrada). 5. Como abordar o problema? Do ponto de vista do projeto de equipamentos, os equipamentos devem ser projetados levando-se em consideração conceitos de CEM. Do ponto de vista do gerenciamento da IEM em um EAS, pode-se optar por uma abordagem qualitativa (mais viável frente à realidade brasileira), uma abordagem quantitativa, ou ambas. O grau de capacitação tecnológica e o custo dos equipamentos envolvidos são as restrições existentes para que se aborde o problema de maneira quantitativa. Efetuar o gerenciamento do ambiente eletromagnético no EAS é uma atribuição dos setores de Engenharia Clínica. A implementação de um programa de gerenciamento de IEM é uma abordagem multifacetada. Um aspecto muito importante do gerenciamento é educar os usuários, particularmente em áreas onde equipamentos de cuidados críticos são utilizados, bem como promover a conscientização a respeito dos riscos potenciais decorrentes de IEM. Um outro fator importante é identificar potenciais fontes de IEM no ambiente do EAS. Adicionalmente, equipamentos eletromédicos e outros equipamentos operados eletricamente devem ser testados com relação a suas características de emissão eletromagnética [5]. Pode-se optar por uma abordagem qualitativa, uma abordagem quantitativa, ou ambas. 5.1. Abordagem qualitativa Inclui, mas não está limitada a: - definir uma norma interna para o EAS com relação à IEM; - definir áreas restritas no EAS; - educação: corpo técnico, corpo assistencial, pacientes e visitantes (distribuição de panfletos informativos); - utilizar detectores de celulares (resultados questionáveis frente ao alto investimento. Trata-se de uma solução de baixa relação custo/benefício); - reprodução de eventos. Frente à realidade brasileira, a elaboração de um plano de contingência para IEM em um EAS deve seguir as seguintes etapas: Passo 1 Definir a norma interna do EAS com relação a IEM eletromagnética em equipamentos eletromédicos. Definir todas as áreas restritas. Passo 2 Reunir com todas as diretorias do EAS e repassar as decisões tomadas. Passo 3 Colocar em uso a sinalização visual. Passo 4 Divulgar o programa dentro do EAS através da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Distribuição de panfletos informativos aos funcionários participantes. Esta fase deve ter participação obrigatória de todos os funcionários dos setores de Segurança e Engenharia Clínica. Passo 5 Educar: - Distribuição de panfletos a todos os funcionários do EAS. Treinamento dos novos funcionários pelo setor de Segurança. - Distribuição de panfletos a funcionários de empresas prestadoras de serviços. - Distribuição de panfletos a pacientes e visitantes. 5.1.1. Exemplo de folheto informativo São fornecidas a seguir informações direcionadas ao público leigo relativas ao risco de interferência eletromagnética causada por telefones celulares e outros equipamentos. A apresentação do material na forma de perguntas e respostas facilita o entendimento do problema e chama a atenção para aspectos talvez antes despercebidos. A critério do setor de Engenharia Clínica do EAS, alguns itens podem ser suprimidos. Utilização de telefones celulares Minimizando os riscos para a segurança dos pacientes Telefones celulares representam um risco para pacientes Telefones celulares são extremamente úteis – mas não próximo a equipamentos médicos. Por que? Porque a energia invisível de rádio-freqüência (RF) que os celulares emitem podem causar sérios problemas em equipamentos eletrônicos próximos. Este fenômeno, conhecido como interferência eletromagnética (IEM), pode resultar no mal funcionamento do equipamento, colocando pacientes em risco. Lembre-se da restrição que existe quanto à utilização de celulares em aviões comerciais. Trata-se de um problema semelhante. E se o equipamento de cuidado com o paciente estiver atrás de uma parede ou em um outro andar? Os pacientes ainda estão em risco. A energia eletromagnética emitida pelo celular pode atravessar obstáculos como paredes, colunas, janelas e pisos. Equipamentos de cuidado com o paciente em áreas adjacentes podem ser adversamente afetados. Que outros equipamentos representam risco equivalente ao oferecido pelos telefones celulares? Sistemas de comunicação pessoal, rádios transreceptores e telefones sem fio também oferecem risco equivalente. Pagers também representam risco? A maioria dos pagers utilizados atualmente são do tipo one -way, que apenas recebem mensagens. Uma vez que não transmitem, eles não emitem os níveis perigosos de energia de RF que podem afetar o funcionamento de equipamentos médicos. Two-way pagers (que enviam e recebem mensagens), entretanto, devem ser desligados. Interferência eletromagnética O que é interferência eletromagnética? Interferência eletromagnética, ou IEM, ocorre quando a energia de RF de um equipamento afeta adversamente o desempenho de um outro equipamento. Pode ser gerado ruído elétrico que afeta os circuitos do equipamento, corrompendo dados. Se o equipamento afetado é um equipamento médico, os resultados da IEM podem alterar a operação normal do equipamento e levar a diagnóstico incorreto, tratamento insuficiente, falsos alarmes, falhas na ocorrência de alarmes ou outras condições que põem em risco a saúde do paciente. O que determina a intensidade do campo eletromagnético que um equipamento médico recebe, irradiado por um telefone celular? A intensidade do campo eletromagnético irradiado é afetada por muitos fatores, incluindo o grau com que a radiação eletromagnética é absorvida ou refletida no ambiente. Por exemplo, a presença de metal irá reduzir a propagação da energia de RF irradiada, funcionando como uma “blindagem”. Entretanto, geralmente a intensidade do campo eletromagnético da energia gerada diminui quanto mais distante o celular estiver. Entendendo os riscos Quão graves são os tipos de falhas em equipamentos médicos? Problemas relatados variam de leituras erradas e perda de dados, até o total desligamento do equipamento. Equipamentos como máquinas de anestesia, ventiladores, desfibriladores cardíacos, marcapassos cardíacos externos, monitores de ECG, oxímetros de pulso, berços aquecidos, bombas de infusão, dentre outros, podem reinicializar, ter seus valores ajustados alterados, falhar na operação ou alarme, ou até mesmo desligar. Como isto representa um risco para os pacientes? Se o mal funcionamento não for notado pelo funcionário responsável, ou não for respondido a tempo, o efeito no paciente pode ser extremamente sério. A saúde do paciente é colocada em risco. Por que os fabricantes de equipamentos médicos simplesmente não eliminam estes problemas? Muitos fabricantes estão tomando medidas para projetar equipamentos mais resistentes à IEM. Entretanto, mesmo os melhores produtos projetados podem ser afetados se a energia de RF for intensa o suficiente. Como este EAS lida com o problema? Que medidas foram tomadas para minimizar os riscos para a segurança dos pacientes? A IEM em equipamentos médicos é um problema sério o suficiente para que milhares de hospitais em todo mundo tenham tomado medidas preventivas. Este EAS educou toda a sua equipe a respeito das possíveis conseqüências da utilização de celulares, e implementou medidas para restringir a utilização destes equipamentos. Sinalização visual foi colocada de modo a indicar a visitantes, pacientes, funcionários, empresas contratadas e equipe médica estas restrições. Em que áreas o uso de telefones celulares, sistemas de comunicação pessoal e rádios transreceptores é proibido? Em qualquer lugar onde o cuidado com o paciente dependa da operação correta de equipamentos médicos. Isto se aplica à unidade de tratamento intensivo (UTI), unidade coronária (UCO), hemodinâmica (HEMO), pronto-socorro (PS), centro cirúrgico (CC), centro de diagnósticos (CD) e apartamentos de pacientes. Todas as áreas restritas estão indicadas com a devida sinalização visual. E em áreas de espera, onde visitantes e acompanhantes normalmente necessitam efetuar ligações? Uma vez que a energia de RF pode penetrar através de paredes e viajar em qualquer direção, é importante prevenir a utilização de celulares e rádios transreceptores mesmo em alguns ambientes onde não hajam equipamentos médicos. Se estas áreas de espera estiverem imediatamente adjacentes, abaixo ou acima de áreas com equipamentos médicos sensíveis, elas estarão indicadas com a devida sinalização visual, sendo proibida a utilização de celulares. Celulares emitem energia de RF mesmo quando não estão sendo utilizados, mas estão ligados? Sim, periodicamente eles emitem energia de RF, efetuando transmissões de registro. Esta é a maneira como a estação rádio base (ERB) mantém controle de onde o celular está, de modo a poder direcionar de maneira eficiente as chamadas recebidas. Este modo é normalmente chamado stand -by. Isto significa que telefones celulares devem ser completamente desligados (off) nas áreas restritas, e não apenas deixados no modo stand-by? Sim, pois a energia de RF emitida em uma transmissão de registro (modo stand-by) é tão perigosa quanto a emitida em uma transmissão de comunicação. Algumas pessoas ignoram as restrições estabelecidas. Como proceder neste caso? Algumas pessoas, não compreendendo ou não acreditando que suas ações podem pôr em risco a segurança dos pacientes, deliberadamente utilizam celulares em áreas restritas. Neste caso, por favor entrar em contato com o setor de Segurança, para que sejam tomadas as providências necessárias. Para obter informações adicionais, entrar em contato com o setor de Engenharia Clínica. Agindo de acordo com as informações contidas neste panfleto, você estará contribuindo de maneira significativa para evitar riscos de segurança aos pacientes. Obrigado pela colaboração. 5.2. Abordagem quantitativa Um estudo quantitativo utilizando análise espectral é uma maneira de identificar e prevenir incidentes decorrentes de IEM. Utilizando-se softwares que podem ser configurados para analisar faixas específicas do espectro eletromagnético sobre períodos apropriados de tempo, pesquisas do ambiente eletromagnético fornecem relatórios e dados gráficos a respeito de todas as freqüências capturadas e ruído eletromagnético relevante [6]. Esta abordagem entretanto apresenta como desvantagem o grau de capacitação tecnológica requerido e o alto custo dos equipamentos utilizados. Inclui, mas não está limitada a: - Medição em campo (footprint) [7]: consiste em efetuar varreduras de espectro, amplitude e tipo de emissão de radiação eletromagnética em uma área definida. As áreas alvo são aquelas onde provavelmente há registro de degradação de desempenho de equipamentos ou suspeita de IEM. - Medição de equipamentos em laboratório (fingerprint) [7]: é efetuada com o objetivo de caracterizar a assinatura de emissão de radiação de energia eletromagnética de um equipamento. A combinação dos resultados obtidos em medições de campo e de laboratório fornece informações significativas a respeito da susceptibilidade do equipamento na área em questão. 6. Normatização vigente no Brasil [8] - NBR IEC 60601-1-2: 1997. Equipamento eletromédico. Parte 1: Prescrições gerais para segurança. Parte 2: Norma colateral: Compatibilidade eletromagnética – Prescrições e ensaios: Esta norma estabelece um nível de imunidade de 3V/m para equipamentos eletromédicos. 7. Conclusões Ainda que muitos fabricantes de equipamentos eletromédicos abordem a questão da CEM, ainda não há conscientização suficiente dos problemas relativos à IEM. É premente a necessidade de educar usuários, fabricantes e reguladores a respeito de IEM, e de se desenvolver normas de CEM. Prevenir todas as falhas decorrentes de IEM é difícil, pois é um desafio fabricar equipamentos imunes a todas as formas de IEM. A exposição ao ambiente eletromagnético, freqüência, locação, orientação e projeto de um equipamento pode influenciar se e como um equipamento será afetado por IEM. Em termos práticos, é impossível eliminar a energia eletromagnética na sua fonte. A sociedade moderna tornou-se muito dependente da conveniência da comunicação instantânea. Adicionalmente, alguns equipamentos eletromédicos emitem energia eletromagnética, e a utilização simultânea de muitos equipamentos também pode causar problemas de IEM [9]. A IEM é mais um risco ao qual o paciente está exposto em um EAS, e como tal, deve ser gerenciado. Este gerenciamento é uma atribuição dos setores de Engenharia Clínica, e consiste em minimizar este risco a níveis satisfatórios. A melhor abordagem para o problema é definir uma norma interna do EAS para IEM, definir áreas restritas, divulgar o plano de contingência entre os setores do EAS, educar o corpo técnico, corpo assistencial, prestadores de serviços externos, pacientes e visitantes. Deve-se adotar uma postura proativa, e não “pagar para ver”. 8. Referências Bibliográficas [1] KIMMEL, William D.; GERKE, Daryl D. Electromagnetic compatibility in medical equipment – A guide for designers and installers – IEEE Press and Interpharm Press, Inc., 1995. [2] ASSOCIATION FOR THE ADVA NCEMENT OF MEDICAL INSTRUMENTATION. AAMI TIR No. 18-1997 – Guidance on Electromagnetic Compatibility of Medical Devices for Clinical/Biomedical Engineers – Part 1: Radiated Radio-frequency Electromagnetic Energy. Arlington, VA: AAMI, 1997. [3] ALLEN, Ryne . Susceptibility from ESD Induced EM Radiation. ESD Journal. [4] WU KOO WAN, Michael. Analysis, Modeling and Measurement of EMC with Emphasis on Electronic Product Design, 1995. [5] David et al. Management of Electromagnetic Interference at a Hospital. Journal of Clinical Engineering, March/April, 2000. [6] TREJO, George. Managing EMC: Issues and Challenges. Journal of Clinical Engineering, March/April, 2000. [7] PAPERMAN, et al . Testing for EMC in the Clinical Environment. Journal of Clinical Engineering, May/June, 1996. [8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR IEC 60601-1-2: Equipamento eletromédico. Parte 1 – Prescrições gerais para segurança. Parte 2 – Norma colateral: Compatibilidade eletromagnética – Prescrições e ensaios – Rio de Janeiro: ABNT, 1997. [9] TAN, et al. Electromagnetic Interference in Medical Devices: Health Canada’s Past and Current Perspectives and Activities. Proceedings of the IEEE EMC Symposium. Montréal, Canada. August, 2001.