Revista Médica de Minas Gerais volume 26 • suplemento 2 1º Semestre / 2016 RMMG Revista Médica de Minas Gerais issn 0103-880 X e-ISSN 2238-3181 volume 26 • suplemento 2 Patrocínio 26/S2 1º Semestre / 2016 issn 0103-880 X a rmmg é resultado da parceria entre as seguintes Instituições SUPLEMENTO DA SOCIEDADE MINEIRA DE PEDIATRIA e-ISSN 2238-3181 1º SEMESTRE / 2016 O leite materno deve ser sempre a primeira opção para a alimentação do lactente. Quando não for possível a manutenção do aleitamento materno, as fórmulas infantis são os substitutos mais adequados para o primeiro ano de vida, conforme orientação do médico ou nutricionista.1 O leite materno deve ser sempre a primeira opção para a alimentação do lactente. Quando não for possível a manutenção do aleitamento materno, as fórmulas infantis são os substitutos mais adequados para o primeiro ano de vida, conforme orientação do médico ou nutricionista.1 CONSTRUINDO HOJE UMA BASE FORTE PARA UM CRESCIMENTO SAUDÁVEL.2-5 Crescimento e desenvolvimento similares aos de lactentes amamentados.7,8 Proteína com a exclusiva tecnologia Nestlé.9 Menor risco de constipação e de cólica,2,3 que pode atrapalhar o sono.4-6 Contém prebióticos que auxiliam no funcionamento intestinal.7 Crescimento e desenvolvimento similares aos de lactentes amamentados.8,9 Proteína com a exclusiva tecnologia Nestlé. NAN COMFOR 1: NW075; NAN COMFOR 2: LW011; NAN COMFOR 3: LW012. NÃO CONTÊM GLÚTEN. Referências bibliográficas: 1. Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual de orientação para alimentação do lactente, do pré-escolar, do escolar, do adolescente e na escola. Departamento de Nutrologia, 3ªed. Rio de Janeiro, RJ: SBP; 2012. 148 p. 2. Koletzko B, Demmelmair H, Grote V, Prell C, Weber M. High protein intake in young children and increased weight gain and obesity risk. Am J Clin Nutr. 2016 Feb;103(2):303-4. 3. Weber M, Grote V, Closa-Monasterolo R, Escribano J, Langhendries JP, Dain E, Giovannini M, Verduci E, Gruszfeld D, Socha P, Koletzko B; European Childhood Obesity Trial Study Group. Lower protein content in infant formula reduces BMI and obesity risk at school age: follow-up of a randomized trial. Am J Clin Nutr. 2014 May;99(5):1041-51. 4. Koletzko B, von Kries R, Closa R, Escribano J, Scaglioni S, Giovannini M, Beyer J, Demmelmair H, Anton B, Gruszfeld D, Dobrzanska A, Sengier A, Langhendries JP, Rolland Cachera MF, Grote V. Can infant feeding choices modulate later obesity risk? Am J Clin Nutr. 2009 May;89(5):1502S-1508S. 5. Koletzko B, Broekaert I, Demmelmair H, Franke J, Hannibal I, Oberle D, Schiess S, Baumann BT, Verwied-Jorky S; EU Childhood Obesity Project. Protein intake in the first year of life: a risk factor for later obesity? The E.U. childhood obesity project. Adv Exp Med Biol. 2005;569:69-79. 6. Billeaud C, Guillet J, Sandler B. Gastric emptying in infants with or without gastro-oesophageal reflux according to the type of milk. Eur J Clin Nutr 1990;44:577–83. 7. Ziegler EE, Jeter JM, Drulis JM, Nelson SE, Haschke F, Steenhout P, et al.Formula with reduced content of improved, partially hydrolyzed protein and probiotics: infant growth and health. Monatsschrift Kinderheilkunde. 2003 Dec;151(1): S65-S71. 8. Steenhout P, Haschke F, Ziegler EE. Partially hydrolyzed whey formula with reduced protein content: Impact on IGF-1 and leptin levels. Abstract at the Pediatric Academic Societies (PAS) Meeting, Washington, USA, May 14-17, 2005 (PAS 2005:33:4902). 9. European Patent: EP 0880 902 A1. Referências bibliográficas: 1. Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual de orientação para alimentação do lactente, do pré-escolar, do do escolar, escolar, do do adolescente adolescente ee na na escola. escola. Departamento Departamento de de Nutrologia, Nutrologia, 3ª 3ªed. ed. Rio de Janeiro, RJ: SBP; 2012. 148 p. 2. Koletzko Demmelmair H, Grote V, Prell C, Weber M. High protein intake in young children and increased weight gainand andlongchain obesity risk. Am J Clin Nutr. 2016 Feb;103(2):303-4. Weber M, Grote Closa-Monasterolo R, ScholtensB,PA, Goossens DA, Staiano A. Stool characteristics of infants receiving short-chain galacto-oligosaccharides fructo-oligosaccharides: a review. World J 3. Gastroenterol. 2014V,Oct 7;20(37):13446-52. Escribano Langhendries JP, Dain E,M,Giovannini M, Verduci E, Gruszfeld D, Sochasupplemented P, Koletzko B; formula European Obesity Study Group. Lower proteinEarly content infant formula reduces BMI4.and obesity risk at school age:S,follow-up 3. CostalosJ, C, Kapiki A, Apostolou Papathoma E. The effect of a prebiotic onChildhood growth and stool Trial microbiology of term infants. HuminDev. 2008 Jan;84(1):45-9. James-Row berts IS, Conroy Hurry J. of a randomized trial.crying Am J and Clin sleep-waking Nutr. 2014 May;99(5):1041-51. 4. Koletzko B, von Closa R, Escribano J, 5. Scaglioni S, Giovannini M, Beyer J, Demmelmair B, Gruszfeld D, P.Dobrzanska Sengier Langhendries JP, Rolland Links between infant at six weeks of age. Early Hum Dev.Kries 1997R,Apr 25;48(1-2):143-52. Kirjavainen J, Kirjavainen T, Huhtala V, LehtonenH,L,Anton Korvenranta H, Kero Infants withA,colic haveA,a normal sleep structure at Cachera MF, Grote V. Can infant feeding choices modulate6.later obesity risk? Am J colic: Clin Nutr. 2009 May;89(5):1502S-1508S. 5. Koletzko Broekaert I, Demmelmair H, Ribeiro Franke HJ, Júnior, Hannibal I, Oberle SchiessAP, S, Pontes Baumann BT, Verwied-Jorky 2 and 7 months of age. J Pediatr. 2001 Feb;138(2):218-23. Ståhlberg MR. Infantile occurrence and risk factors. Eur J Pediatr. 1984 B, Dec;143(2):108-11. 7. Da Costa Ribeiro TC, deD,Mattos M, Sarni RO, Cruz ML S; Childhood Obesity Project. Infants Protein Born intakefrom in the first year ofFed life:aaReduced risk factorProtein for later obesity? TheContaining E.U. childhood obesity project. Adv Exp Med Biol. 2005;569:69-79. 6. Billeaud C, Guillet J, Sandler Controolled B. Gastric emptying infants with et EU al. Normal Growth of Healthy HIV+Mothers Infant Formula the Prebiotics Galacto-Oligosaccharides and Fructo-Oligossaccharides: A Randomized Trial. ClininMed Insights or without gastro-oesophageal refluxNC, according to the type milk. Eur J Clin Nutr 1990;44:577–83. Jeter JM, Drulis E, JM, Nelson SE,C,Haschke Steenhout P, et al.Formula withF. reduced content of improved, partially hydrolyzed Pediatr. 2015 Mar9;9:37-47. 8. Räihä Fazzolari-Nesci A, of Cajozzo C, Puccio G, Monestier A, Moro7.G,Ziegler Minoli EE, I, Haschke-Becher Bachmann Van’t HofF,M, Carrié Fässler AL, Haschke Whey predominant, whey modified infant formula protein and probiotics: infant Monatsschrift Kinderheilkunde. 2003 Dec;151(1): S65-S71.J 8. Steenhout P, Haschke F, Ziegler EE. Partially hydrolyzed whey formula with protein content: Impact on IGF-1PG. andGrowth leptin with protein/energy ratio of 1.8growth g/100and kcal:health. adequate and safe for term infants from birth to four months. Pediatr Gastroenterol Nutr. 2002 Sep;35(3):275-81. 9. Grathwohl DJ, Mace K, reduced Fichot MC, Spivey-Krobath E, Steenhout levels. Abstract at the Academic Societies (PAS) Meeting, May 14-17,Nestlé 2005 (PAS 2005:33:4902). 9. European Patent: EP 0880 902 A1. (2010) 68, 602–602. of Infants fed with NANPediatric is in good agreement with the WHO growthWashington, standard: AUSA, meta-analysis Research Center, Lausanne, Switzerland. Pediatric Research Nota importante: O aleitamento materno é a melhor opção para a alimentação do lactente, proporcionando não somente benefícios nutricionais e de proteção como também afetivos, demonstrando sua superioridade quando comparado aos seus substitutos. É fundamental que a gestante e a nutriz tenham uma alimentação equilibrada durante a gestação e amamentação. O aleitamento materno deve ser exclusivo até o sexto mês e, a partir desse momento, deve-se iniciar a alimentação complementar, mantendo o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais. O uso de mamadeiras, bicos e chupetas deve ser desencorajado, pois pode prejudicar o aleitamento materno e dificultar o retorno à amamentação. No caso de utilização de outros alimentos ou substitutos do leite materno, devem seguir rigorosamente as instruções de preparo para garantir a adequada higienização de utensílios e objetos utilizados pelo lactente para evitar prejuízos à saúde. A mãe deve estar ciente das implicações econômicas e sociais do não aleitamento ao seio. Para uma alimentação exclusiva com mamadeira, será necessária mais de uma lata de produto por semana, aumentando os custos no orçamento familiar. Deve-se lembrar à mãe que o leite materno não é somente o melhor, mas também o mais econômico alimento para o bebê. A saúde do lactente pode ser prejudicada quando alimentos artificiais são utilizados desnecessária ou inadequadamente. É importante que a família tenha uma alimentação equilibrada e que, no momento da introdução de alimentos complementares na dieta da criança ou do lactente, respeitem-se os hábitos culturais e que a criança seja orientada a ter escolhas alimentares saudáveis. Em conformidade com o Decreto nº 8.552/15; a Lei 11265/06; Resolução Anvisa nº 222/02; OMS – Código Internacional de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno (Resolução WHA 34:22, maio de 1981): e Portaria M.S. nº 2051 de 08 de novembro de 2001. Nota importante: O aleitamento materno é a melhor opção para a alimentação do lactente, proporcionando não somente benefícios nutricionais e de proteção como também afetivos, demonstrando sua superioridade quando comparado aos seus substitutos. É fundamental que a gestante e a nutriz tenham uma alimentação equilibrada durante a gestação e amamentação. O aleitamento materno deve ser exclusivo até o sexto mês e, a partir desse momento, deve-se iniciar a alimentação complementar, mantendo o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais. O uso de mamadeiras, bicos e chupetas deve ser desencorajado, pois pode prejudicar o aleitamento materno e dificultar o retorno à amamentação. No caso de utilização de outros alimentos ou substitutos do leite materno, devem seguir rigorosamente as instruções de preparo para garantir a adequada higienização de utensílios e objetos utilizados pelo lactente para evitar prejuízos à saúde. A mãe deve estar ciente das implicações econômicas e sociais do não aleitamento ao seio. Para uma alimentação exclusiva com mamadeira, será necessária mais de uma lata de produto por semana, aumentando os custos no orçamento familiar. Deve-se lembrar à mãe que o leite materno não é somente o melhor, mas também o mais econômico alimento para o bebê. A saúde do lactente pode ser prejudicada quando alimentos artificiais são utilizados desnecessária ou inadequadamente. É importante que a família tenha uma alimentação equilibrada e que, no momento da introdução de alimentos complementares na dieta da criança ou do lactente, respeitem-se os hábitos culturais e que a criança seja orientada a ter escolhas alimentares saudáveis. Em conformidade com o Decreto nº 8.552/15; a Lei 11265/06; Resolução Anvisa nº 222/02; OMS – Código Internacional de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno (Resolução WHA 34:22, maio de 1981): e Portaria M.S. nº 2051 de 08 de novembro de 2001. Material destinado exclusivamente aos Profissionais de Saúde. Proibida a distribuição aos consumidores. 0800-7701599 Atendimento exclusivo para Profissionais de Saúde. NI840 NAN SUPREME 1 - NWH203; NAN SUPREME 2 - LWH201. NÃO CONTÊM GLÚTEN. Material destinado exclusivamente aos Profissionais de Saúde. Proibida a distribuição aos consumidores. 0800-7701599 Atendimento exclusivo para Profissionais de Saúde. NI897 Promove fácil digestibilidade, pois contém proteína parcialmente hidrolisada.6 MAIS CONFORTO PARA OS LACTENTES.2-6 26/S2 Editorial DOI: 10.5935/2238-3182.20160015 Mensagem da Presidente da Sociedade Mineira de Pediatria Triênio 2016-2018 Caro leitor, Com grande alegria finalizamos o primeiro suplemento da Revista Médica de Minas Gerais do ano de 2016. Os temas foram selecionados com muito carinho, com o objetivo de trazer atualizações, experiências e novidades. Neste número incluímos um tema de comunicação breve sobre o uso de palivizumabe para prevenção de infecção pelo vírus sincicial respiratório (VSR). A Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) disponibiliza o produto aos grupos de alto risco, como prematuros, cardiopatas e portadores de pneumopatias e o pediatra tem de estar atento para prescrever e preencher os documentos de requisição para a SES-MG quando necessário. A bronquiolite é uma preocupação e motivo de procura de atendimento de urgência em Pediatria, desta forma, uma revisão de literatura nos últimos dois anos é apresentada neste número. Asma ainda é uma doença que nos traz questionamentos e um mapa conceitual baseado no consenso GINA foi desenvolvido buscando facilitar a melhor condução e controle dos casos e a redução dos riscos. O pediatra deve orientar os pacientes e familiares que, apesar da relativa complexidade do tratamento e da falta de resultados imediatos, os conhecimentos e recursos terapêuticos atuais possibilitam boa qualidade de vida. Como gastroenterologista, tenho visto que o número e a gravidade de casos de doença inflamatória intestinal têm aumentado nos últimos anos, assim, um artigo com as principais informações foi disponibilizado para os leitores. É importante estar alerta para os quadros de diarreia e dor abdominal nas crianças e adolescentes, fazendo o diagnóstico diferencial, solicitando exames complementares e referenciando os casos difíceis ao gastroenterologista pediatra. Uma reflexão sobre a violência e a indiferença humana no Brasil levando ao fenômeno da exclusão social é apresentada sob o ponto de vista de um estudo sobre os fatores de risco biopsicossociais impactantes desde a gestação aos demais períodos do ciclo de vida. Análise da produção do conhecimento científico de estudos conduzidos no Brasil entre 2009 e 2013 sobre o aleitamento materno é também relatada, demonstrando que, apesar da situação do aleitamento estar longe da ideal, muitos avanços relativos à prática no país têm ocorrido nos últimos anos. Outros temas – como as infecções congênitas, hipocalcemia em síndrome de DiGeorge, deficiência de vitamina B12 em fenilcetonúricos, tratamento de hemangioma e lesão de Morel-Lavallée – são abordados de forma a promover a discussão de casos menos comuns, mas de extrema importância para a educação continuada do pediatra. Boa leitura! Maria do Carmo Barros de Melo Presidente da Sociedade Mineira de Pediatria – Triênio 2016-2018 1 sociedade mineira de pediatria Av. João Pinheiro, 161 Sala T11 Centro Belo Horizonte MG. Tel.:(31) 3224-0857 Composição da Diretoria – Triênio 2016/2018 PRESIDENTE Maria do Carmo Barros de Melo PRESIDENTE DE HONRA Marcos Carvalho de Vasconcellos VICE-PRESIDENTE Marisa Lages Ribeiro DIRETOR DE ASSUNTOS PROFISSIONAIS Ricardo Sobreira Silva Araújo SECRETÁRIO GERAL Andréa Chaimowicz DIRETORES DE ASSUNTOS PROFISSIONAIS ADJUNTOS Margarida Constança Sofal Delgado Cláudio Drummond Pacheco 1ª SECRETÁRIA Vânia Nunes Viotti Parreira DIRETOR DE EVENTOS CIENTÍFICOS Luciano Amédée Péret Filho 2º SECRETÁRIO Oswaldo Trindade Filho DIRETORA DOS COMITÊS CIENTÍFICOS Cristina Gonçalves Alvim 1ª TESOUREIRO Salvador Henrique Ceolin DIRETOR DE REDAÇÃO, PUBLICAÇÕES E DIVULGAÇÃO Cássio da Cunha Ibiapina 2º TESOUREIRO Giane Marques Barbosa Chaves DIRETORA ADJUNTO DE REDAÇÃO, PUBLICAÇÕES E DIVULGAÇÃO Gabriela Araújo Costa DIRETOR GERAL DE ADMINISTRAÇÃO, PLANEJAMENTO E FINANÇAS Navantino Alves Filho MEMBRO DO CONSELHO FISCAL E DIRETOR DE ASSUNTOS PROFISSIONAIS ADJUNTO Fábio Augusto de Castro Guerra MEMBROS DO CONSELHO FISCAL José Guerra Lages Luiz Megale MEMBROS DO CONSELHO FISCAL E ASSESSORES DA PRESIDÊNCIA José Sabino de Oliveira Paulo Tadeu de Mattos Pereira Poggiali Raquel Pitchon dos Reis ASSESSORES DA PRESIDÊNCIA Benigna Maria de Oliveira Ivani Novato Silva 2 Rocksane de Carvalho Norton Ênnio Leão Francisco José Penna Paulo Pimenta Figueiredo Filho DIRETOR DE INTEGRAÇÃO DAS REGIONAIS José Carvalhido Gaspar DIRETORA DE PATRIMÔNIO Regina Fátima Barbosa Eto DIRETORA DOS CURSOS DE REANIMAÇÃO DA SMP Marcela Damásio Ribeiro de Castro DIRETORA DE INFORMÁTICA Priscila Menezes Ferri Liu DIRETOR ADJUNTO DE INFORMÁTICA Júlio Rocha Pimenta DIRETORA SOCIAL Ângela Soares Campos DIRETORA DE SÓCIOS ACADÊMICOS E RESIDENTES Flávia Cardoso Rodrigues COORDENADORES DO CURSO DE REANIMAÇÃO PEDIÁTRICA Frederico Mitre Pessoa Alexandre Rodrigues Ferreira COORDENADORES DO GRUPO DE REANIMAÇÃO NEONATAL (GRUPO EXECUTIVO) Marcela Damásio Ribeiro de Castro Márcia Gomes Penido Machado Márcio Pablo Pires Martins Miranda Vanessa Devitto Zákia Miranda COORDENADORES DO CURSO DE URGÊNCIAS Leonardo Falci Mourão Luciano Amédée Peret Filho Comitês Científicos – Triênio 2016/2018 ADOLESCÊNCIA Presidente: Dra. Tatiane Miranda Vice-Presidente: Dra. Cristiane de Freitas Cunha GASTROENTEROLOGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dra. Eleonora Druve Tavares Fagundes Vice-Presidente: Dr. Marco Antônio Duarte ALEITAMENTO MATERNO Presidente: Dra. Maria Cândida Ferrarez Bouzada Viana Vice-Presidente: Dra. Ana Luiza Diniz GENÉTICA CLÍNICA Presidente: Dr. Rodrigo Rezende Arantes Vice-Presidente: Dr. Marcos José Burle de Aguiar Secretária: Josiele Souza Lima ALERGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dr. Jorge Andrade Pinto Vice-Presidente: Raquel Pitchon BIOÉTICA Presidente: Dr. Eduardo Carlos Tavares CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dra. Zilda Maria Alves Meira Vice-Presidente: Dr. Sandra Regina Tolentino Castilho CIRURGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dr. Rodrigo Romualdo Vice-Presidente: Dr. Átila Reis Victória CUIDADOS PRIMÁRIOS Presidente: Dra. Mônica Maria de Almeida Vasconcelos Vice-Presidente e Presidente interina de janeiro a julho de 2016: Dra. Márcia Rocha Parizzi Membros: Dra. Elaine Alvarenga de Almeida Carvalho Dra. Lígia Damásio Kleim CUIDADOS HOSPITALARES Presidente: Dra. Maria Albertina Santiago Rêgo DERMATOLOGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dra. Cláudia Márcia Resende Silva Vice-Presidente: Dra. Luciana Baptista ENDOCRINOLOGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dra. Ivani Novato da Silva Vice-Presidente: Dr. Antônio José das Chagas INFECTOLOGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dra. Andréa Lucchesi de Carvalho Vice-Presidente: Dr. Alexandre Sérgio da Costa Braga NEFROLOGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dr. José Maria Penido Silva Vice-Presidente: Dra. Mariana Guerra Duarte NEONATOLOGIA Presidente: José Mariano Sales Alves Junior Vice-Presidente: Nívia Regina Moreira Scaldaferri NEUROLOGIA INFANTIL Presidente: Dra. Marli Marra de Andrade Vice-Presidente: Dra.Valéria Loureiro Rocha Secretário: Dr. Rodrigo Carneiro Campos NUTRIÇÃO Presidente: Dra.Virgínia Resende Silva Weffort Vice-Presidente: Dra. Adriana Reis Brasil Secretário: Dr. Joel Alves Lamounier ONCO-HEMATOLOGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dr. Joaquim Caetano de Aguirre Neto Vice-Presidente: Camila Silva Peres Cancela Secretário: Paulo do Val Rezende OTORRINOLARINGOLOGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dr. Ricardo Neves Godinho Vice-Presidente: Dra. Beatriz Fagundes Pedrosa 3 PNEUMOLOGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dr. Wilson Rocha Filho COMITÊ DA PRIMEIRA INFÂNCIA Presidente: Dra. Laís Maria Santos Valadares e Valadares REUMATOLOGIA PEDIÁTRICA Presidente: Dra. Maria Victória Pádua de Quintero SAÚDE ESCOLAR Presidente: Claudia Machado Siqueira COMITE DE OFTALMOLOGIA Presidente: Dr Geraldo de Barros Ribeiro Vice-Presidente: Dr. Pedro Paulo Leite dos Reis COMITE DE ORTOPEDIA Presidente: Dr. Francisco Carlos Nogueira SAÚDE MENTAL Presidente: Dra. Ana Maria Costa da Silva Lopes SEGURANÇA INFANTIL Presidente: Dra. Marislaine Lumena de Mendonça Vice-Presidente: Dr. Paulo Fernando Souto Bittencourt TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA: Presidente: Dra. Caroline Máximo Batista Vice-Presidente: Dr. Jaisson Gustavo da Fonseca COMITÊ DE REANIMAÇÃO NEONATAL Presidente: Dr. Márcio Pablo Pires Martins Miranda Dra.Vanessa Zákia Devitto Miranda COMITE DE ESPORTES E EXERCICIO Presidente: Dr. Carlos Eduardo Reis Silva COMITE DE INTEGRAÇÃO PROFISSIONAL Presidente: Dra. Júnia Gonçalves de Almeida Quintão Vice-Presidente: Monalisa Maria Gresta COMITE DE CUIDADOS PALIATIVOS Presidente: Dra. Tatiana Mattos do Amaral Vice-Presidente: Dra Filomena Camilo do Vale regionais da sociedade mineira de pediatria REGIONAL ZONA DA MATA Presidente: Dra. Mirna Granato Salomão Nagib REGIONAL VALE DO RIO DOCE Presidente: Dra.Walquíria do Nascimento Soares de Paula REGIONAL DO NORDESTE MINEIRO Presidente: Dra. Beatriz Correia Aguiar REGIONAL VALE DO RIO GRANDE Presidente: Dr. Luciano Borges Santiago REGIONAL VALE DO PARANAÍBA Presidente: Dra. Cristiane Ribeiro Ambrósio REGIONAL VALE DO AÇO Presidente: Dra. Sigrid Terezinha Campomizzi Calazans REGIONAL OESTE Presidente: Dr. Nozor Galvão REGIONAL SUL Presidente: Dr. Edson Lopes Libânio REGIONAL NORTE Presidente: Dra. Cláudia Pimenta sociedade mineira de pediatria COMISSÃO EDITORIAL DO SUPLEMENTO DA REVISTA MÉDICA DE MINAS GERAIS Cássio da Cunha Ibiapina Ennio Leão 4 Maria do Carmo Barros de Melo Rocksane Norton de Carvalho 26/S2 sumário Editorial 1 • Mensagem da Presidente da Sociedade Mineira de Pediatria Triênio 2016-2018 Maria do Carmo Barros de Melo Artigo Original Foto: Fazito Comunicação. 7 • Estudo transversal do perfil das infecções congênitas atendidas entre 2012 e 2014 em um centro de referência em Belo Horizonte, Minas Gerais Cross-sectional study of clinical and laboratorial aspects of congenital infections attended at a reference Center in Belo Horizonte, MG, 2012-2014 Roberta Maia de Castro Romanelli, Ericka Viana Machado Carellos, Mariana Antunes Faria Lima, Lilian Oliveira Diniz, Andrea Luchesi de Carvalho, Eduarda Almeida Wakabayashi, Tais Marina de Souza, Natalia Pinto Ribeiro, Camila Nakaya, GabrielaMafra de Oliveira, João Paulo Tomaz da Cunha Sacramento, Gláucia Manzan de Queiroz Andrade Artigos de Revisão 17 • Aleitamento materno nos últimos cinco anos: um estudo bibliométrico Breastfeeding in the last five years: a bibliometric study Lucinéia de Pinho, Camila Ferreira de Oliveira, Fúlvia Karine Santos Marques, Jéssica Alkmim Rodrigues, Antonio Prates Caldeira 23 • Atualizações no tratamento de bronquiolite viral aguda Updates on acute bronchiolitis treatment Renata Marcos Bedran, Maria Beatriz Marcos Bedran, André Bicalho Lima, Ana Cristina de Carvalho Fernández Fonseca, Cláudia Ribeiro de Andrade, Cristina Gonçalves Alvim, Laura Maria de Lima Belizário Lasmar 26 • Consenso de asma sob a forma de um mapa conceitual Guidelines of asthma in the form of a concept map Luciana Diniz Gomide, Paulo Augusto Moreira Camargos, Cássio da Cunha Ibiapina 31 • Deficiência de vitamina B12 e fenilcetonúria Vitamin B 12 deficiency and phenylketonuria Daniel E. Schmidt, Rocksane de Carvalho Norton, Ana Lucia Pimenta Starling, Valéria de Melo Rodrigues, Marcos José Burle Aguiar, Viviane de Cassia Kanufre, Michele Rosa Andrade Alves, Rosangelis Del Lama Soares 35 • Doença inflamatória intestinal na infância Intestinal Inflamatory disease in childood Maria do Carmo Barros de Melo, Bárbara Fonseca Gazzinelli, Ana Paula Pereira de Oliveira, Alexandre Ferreira Rodrigues, Eleonora Druve Tavares Fagundes, Júlio Rocha Pimenta, Thaís Costa Nascentes Queiroz, Catharina Wagner Giannini Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S1-S72 5 Educação Médica 46 • A Síndrome da Exclusão Social: compreensão das origens da violência/ contraviolência no Brasil The social exclusion syndrome: comprehension of the violence/ counter-violence origins in Brazil Antonio Benedito Lombardi, Carolina Couto de Azevedo Cysne, João Pedro Arruda Moraes Raso, João Víctor Soares Assunção, Pedro Rodrigues Greco Relatos de Caso 53 • Diagnóstico tardio de síndrome de DiGeorge em criança hipocalcêmica: relato de caso Late diagnosis of DiGeorge syndrome in hypocalcemic child: case report Christina Cruz Hegner, Fernanda Lavagnoli Barcelos, Juliana Neves Ferreira, Roberta Petroni Smiderle, Patrícia Casagrande Dias de Almeida 6 57 • Lesão de Morel-Lavallée: relato de caso Morel LavalléeLesion: case report Cássio da Cunha Ibiapina, Rachel Aparecida Ferreira Fernandes, Sergio Ribeiro de Andrade, Ana Luisa Neves, Ana Luiza Bessa, Carolina Martinelli Mascarenhas de Lucena Carvalho, Fernanda Moreira e Leite 62 • Tratamento de hemangioma da infância com maleato de timolol tópico Treatment of infantile hemangioma with topical timolol maleate Otávio Augusto Pinto, Isabela Guimarães Ribeiro Baeta, Nayara Silveira Maia, Thaís Braga Cerqueira Comunicação Breve 66 • Prevenção de Infecções pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR): uso do palivizumabe Respiratory Syncytial Vírus (RSV) infection prevention: palivizumab use José Geraldo Leite Ribeiro, Andrea Chaimowicz Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S1-S72 ARTIGO ORIGINAL Estudo transversal do perfil das infecções congênitas atendidas entre 2012 e 2014 em um centro de referência em Belo Horizonte, Minas Gerais Cross-sectional study of clinical and laboratorial aspects of congenital infections attended at a reference Center in Belo Horizonte, MG, 2012-2014 Roberta Maia de Castro Romanelli1, Ericka Viana Machado Carellos2, Mariana Antunes Faria Lima3, Lilian Oliveira Diniz2, Andrea Luchesi de Carvalho 4, Eduarda Almeida Wakabayashi5, Tais Marina de Souza5, Natalia Pinto Ribeiro6, Camila Nakaya5, GabrielaMafra de Oliveira5, João Paulo Tomaz da Cunha Sacramento6, Gláucia Manzan de Queiroz Andrade7 DOI: 10.5935/2238-3182.20160016 RESUMO Introdução: as infecções congênitas são resultantes da transmissão vertical de microrganismos de gestantes infectadas para seus conceptos. Apesar dessas infecções, em geral, cursarem com pouca ou nenhuma manifestação clínica nas gestantes, a infecção fetal pode trazer morbimortalidade perinatal e na infância. Objetivo: identificar a prevalência das infecções congênitas encaminhadas ao Centro de Referência e Treinamento em Doenças Infecciosas e Parasitárias Orestes Diniz (CTR/DIP Orestes Diniz) e avaliar os métodos laboratoriais usados para o diagnóstico. Métodos: estudo transversal realizado em ambulatório de referência em doenças infecciosas, a partir de coleta de dados de prontuários de crianças com diagnóstico suspeito de infecção congênita. A confirmação diagnóstica baseou-se em testes sorológicos ou de biologia molecular, além de descrição de sintomatologia da criança. Resultados: um total de 513 crianças foram identificadas, sendo que 41,3% tiveram o diagnóstico confirmado, a maioria foi de toxoplasmose (45,35%) e sífilis (15,98%). Entre as crianças com diagnóstico confirmado, 28,85% apresentaram manifestações clínicas, enquanto que no grupo com diagnóstico indeterminado ou suspeito o percentual foi de 16,38%. As principais manifestações identificadas foram acometimento do sistema nervoso central (n=39) e alterações visuais (n=30). Conclusão: a confirmação de infecção foi definida em aproximadamente metade dos pacientes avaliados e a maioria das crianças foi assintomática ao nascimento. O pré-natal de qualidade e a propedêutica e tratamento precoce das crianças identificadas podem reduzir o impacto dessas infecções no nosso meio. 1 Médica Pediatra. PhD. Professora. Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, Faculdade de Medicina-FM, Departamento de Pediatria; Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS. Belo Horizonte, MG – Brasil. 2 Médica Pediatra. PhD. Professora. UFMG/FM/ Departamento de Pediatria; Preceptora do Hospital Infantil de Urgência João Paulo II. Belo Horizonte, MG – Brasil. 3 Médica Pediatra. Residente em Infectologia Pediátrica. UFMG, Hospital das Clínicas. Belo Horizonte, MG – Brasil. 4 Médica Pediatra. MSc. Preceptora do Hospital Infantil de Urgência João Paulo II; Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecto-Parasitárias Orestes Diniz – PBH. Belo Horizonte, MG – Brasil. 5 Acadêmico do Curso de Medicina. UFMG/FM Belo Horizonte, MG – Brasil. 6 Acadêmico do Curso de Medicina. Faculdade de Ciências Médicas da Universidade José do Rosário Vellano – Unifenas. Belo Horizonte, MG – Brasil. 7 Médica Pediatra. PhD. Professora. UFMG/FM, Departamento de Pediatria. Belo Horizonte, MG – Brasil. Palavras-chave: Infecção/congênito; Sífilis Congênita; Citomegalovírus; Toxoplasmose Congênita; Hepatite B; Dengue. ABSTRACT Introduction: congenital infections are results of microorganisms transmitted to the fetus by the infected pregnant. Most newborn infants infected during pregnancy or labor have no sings of congenital disease. However, these infections may cause perinatal and infancy morbidity and mortality. Objective: to determine the prevalence of congenital infections in newborns and infants attended at the CTR/DIP Orestes Diniz (Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecciosas e Parasitárias Orestes Diniz) and to analyse the laboratorial methods used for diagnosis of congenital disease of assisted children. Methods: cross-sectional study conducted in an Infectious Diseases Reference Center where it was evaluated the charts of infants with suspected congenital infection. Diagnosis confirmation was based on serological tests, molecular biology and signs and Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais e Prefeitura de Belo Horizonte – PBH Centro de Treinamento e Referência Orestes Diniz Belo Horizonte, MG – Brasil Autor correspondente: Roberta Romanelli E-mail: [email protected] Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S7-S16 7 Estudo transversal do perfil das infecções congênitas atendidas entre 2012 e 2014 em um centro de referência em Belo Horizonte ... symptoms described in the charts. Results: A total of 41,3% of the 513 children identified have had a defined diagnosis. Most of them had toxoplasmosis (45,35%) and syphilis (15,98%). Clinical manifestations was observed in 28,85% of children with defined diagnosis of congenital infection, and in 16,38% of children with uncertain diagnosis. Central Nervous System (n=39) and ocular (n=30) manifestations were the most frequent findings. Conclusions: Defined diagnosis was possible in about half of cases and most of them were asymptomatic at birth. An appropriate prenatal care and early diagnosis and treatment of congenital infections may reduce the impact of disease in the population. Key words: Infection/congenital; Syphilis, Congenital; Cytomegalovirus; Toxoplasmosis, Congenital; Hepatitis B; Dengue. INTRODUÇÃO A transmissão vertical de microrganismos de gestantes infectadas para seus conceptos pode levar a abortamento, natimortalidade e recém-nascidos sintomáticos ou assintomáticos.1 A transmissão pode ocorrer intraútero (infecção congênita), durante o parto ou nas primeiras três semanas após o parto (infecção perinatal). Diversos são os microrganismos reconhecidos internacionalmente como causadores de infecção fetal que estão incluídos no acrônimo “Toxoplasma gondii, vírus da rubéola, citomegalovírus, vírus herpes simples, enteroviroses, Treponema pallidum, vírus varicela-zoster, Borrelia burgdorferi, HIV, parvovírus B19” (TORCHES CLAP).2 Outros agentes apresentam relevância regional e prevalência variável de acordo com condições epidemiológicas, como o vírus da dengue ou o protozoário Trypanosoma cruzi, por exemplo. Atualmente, o vírus Zika tem despontado como agente infeccioso danoso para o feto e encontra-se no foco das ações de cuidado pré e pós-natal no Brasil.3 O grande dinamismo na ocorrência regional dessas infecções torna importante o monitoramento de centros de referência no atendimento do binômio mãe/filho infectados para orientação do diagnóstico e seguimento das crianças. A prevenção da transmissão vertical de agentes infecciosos tornou-se uma das bases da saúde perinatal.4 A maioria dessas infecções cursa com pouca ou nenhuma manifestação clínica nas gestantes e, mesmo nas crianças, é elevada a frequência das assintomáticas ao nascimento, embora isso não exclua a possibilidade de manifestações leves a graves ao longo do crescimento. As frequência de crianças infectadas sem manifestações clínicas perceptíveis ou muitas vezes inespecíficas, quando presentes, torna obrigatória 8 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S7-S16 a realização de exames laboratoriais durante a gestação ou no período pós-natal (triagens pré-natal e neonatal) para realização do diagnóstico específico.2,4 Os testes sorológicos são os métodos diagnósticos mais utilizados para triagem e confirmação das infecções. Entretanto, a transferência passiva de anticorpos maternos da classe IgG através da placenta pode interferir na interpretação dos resultados, tornando necessário, muitas vezes, o acompanhamento da criança durante os primeiros meses ou anos de vida, a fim de se definir corretamente o seu diagnóstico, tratamento e prevenção de sequelas.1,5 Para alguns agentes de infecção fetal são necessários exames de biologia molecular ou microbiológicos diretos no binômio mãe-filho, em amostras de líquido amniótico, sangue de cordão, sangue periférico, liquor e urina, entre os espécimes mais comuns. As recomendações para investigação de infecções no período preconcepcional e gestacional variam em diversos países6-9, de acordo com a prevalência da infecção e métodos investigatórios disponíveis. No Brasil, os protocolos de triagem e acompanhamento das gestantes e conceptos em risco seguem as recomendações do Ministério da Saúde para algumas infecções e, para outras, variam entre os diferentes centros de referência. O Ministério da Saúde determina a triagem obrigatória da gestante para infecção pelo HIV e sífilis e recomenda investigação de hepatite B e toxoplasmose10,11 (MS 2000 e ou 2002 - Projeto Nascer, Assistência ao Parto e ao Nascimento). Alguns estados e regiões do Brasil têm programa de triagem para toxoplasmose e, em Minas Gerais, essa investigação é parte do Programa de Controle da Toxoplasmose Congênita, em vigor desde fevereiro de 2013.12 Outras infecções são diagnosticadas apenas quando o binômio mãe-filho apresenta manifestações clínicas sugestivas, o que reduz as chances de diagnóstico e tratamento. O presente estudo tem por objetivo identificar o perfil do binômio mãe-filho suspeito dessas infecções atendido em ambulatório de referência em doenças infecciosas de Belo Horizonte, avaliando criticamente as dificuldades diagnósticas e o follow-up das crianças comprometidas, visando contribuir para abordagem mais efetiva dessa população. CASUÍSTICA E MÉTODOS Trata-se de estudo transversal realizado entre março de 2012 e abril de 2014, no Centro de Referência e Treinamento em Doenças Infecciosas e Parasitárias Estudo transversal do perfil das infecções congênitas atendidas entre 2012 e 2014 em um centro de referência em Belo Horizonte ... Orestes Diniz (CTR/DIP Orestes Diniz). Esse ambulatório é uma parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte e o Hospital das Clínicas da UFMG e referência para o atendimento de doenças infecciosas no município e estado, incluindo as infecções congênitas. A população em estudo são as crianças atendidas nesse ambulatório com diagnóstico suspeito de infecção congênita. Foram excluídas do estudo as crianças infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana atendidas em ambulatório específico e as crianças que, embora agendadas e atendidas, não apresentavam registro da consulta para coleta de dados. O atendimento das crianças foi realizado por equipes de médicos residentes em Pediatria e Infectologia, supervisionados por médicos infectologistas pediátricos e de acordo com a rotina do serviço. Acadêmicos de Medicina treinados avaliaram os prontuários das crianças atendidas diariamente e preencheram questionário estruturado. As variáveis incluíram informações sobre manifestações clínicas, métodos propedêuticos e definição do diagnóstico materno e neonatal. O diagnóstico das várias infecções foi confirmado por exames específicos (sorológicos ou métodos de biologia molecular) disponíveis no laboratório de análises clínicas do HC-UFMG e considerados adequados para cada doença, de acordo com consensos publicados na literatura científica. Para confirmação dos casos de sífilis congênita utilizaram-se os testes não treponêmicos (VDRL), conforme recomendações do Ministério da Saúde (MS) do Brasil no período do estudo. Quando possível, foram realizados testes treponêmicos (FTA Abs) para o diagnóstico final aos 18 meses de idade. A propedêutica realizada pela mãe e os sinais e sintomas presentes na criança colaboraram para a confirmação diagnóstica. Avaliou-se, de acordo com o diagnóstico de cada caso, a extensão do comprometimento da criança (exames oftalmológico e audiológico; exames de imagem do encéfalo e de ossos longos; liquor; e ecocardiograma). Os dados coletados dos prontuários foram digitados para construção do banco de dados utilizando o software Statistical Package for Social Sciences (SPSS)®, versão 19.0. Realizou-se análise descritiva, determinando a média e desvio-padrão ou mediana e amplitude para variáveis quantitativas e frequência e percentual para variáveis categóricas. A comparação de variáveis quantitativas foi realizada com t-test e de variáveis categóricas com X2. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (ETIC 283/06). RESULTADOS Entre março de 2012 e abril de 2014 foram identificadas 513 crianças admitidas para investigação ou tratamento de infecção congênita no ambulatório Orestes Diniz, a maioria do sexo feminino (50,9%). A idade média de admissão da população no estudo foi de 4,7 meses (DP=18,5) e a mediana igual a 1,2 mês. No grupo de crianças que tiveram o diagnóstico confirmado, a idade mediana de admissão foi igual a 1,4 mês, enquanto no grupo que durante a realização do estudo apresentava diagnóstico suspeito/indeterminado, a idade mediana de admissão foi igual a 1,1 mês (Mann Whitney p=0,01). Considerando a suspeita diagnóstica à admissão das 513 crianças, foi possível confirmar o diagnóstico em 253 (49,31%) e excluí-lo em 83 (16,18%); em 177 (34,5%) crianças não foi possível determinar o diagnóstico (Figura 1). As infecções que mais motivaram o encaminhamento das crianças foram toxoplasmose (n=333 – 64,9%) e sífilis (n=141; 27,5%). Entre os casos de infecção congênita confirmados, a maioria foi de toxoplasmose (n=151; 59,68%) e de sífilis (n=82; 32,41%). Seis crianças foram expostas verticalmente à doença de Chagas, mas o diagnóstico não foi confirmado. Três crianças apresentaram exposição vertical ao vírus da hepatite B, mas a infecção congênita/perinatal foi excluída em todas. Em 2010 e 2013 foram atendidas duas crianças suspeitas de rubéola congênita e a infecção foi confirmada em uma delas. Suas mães tinham IgM positiva durante a gestação e história vacinal desconhecida. O diagnóstico de herpes foi confirmado em duas crianças. E apenas um caso de parvovirose, de dengue e de condilomatose foram encaminhados para seguimento. Observou-se que entre as 253 crianças que tiveram a infecção congênita confirmada, 73 (28,85%) apresentavam uma ou mais manifestações clínicas na consulta de admissão no ambulatório. As principais manifestações foram acometimento do sistema nervoso central (n=39) e alterações visuais (n=30), como pode ser visto na Tabela 1. As crianças com toxoplasmose congênita tiveram maior frequência de sinais ao exame físico (n=57; 37,7%), sendo mais comuns o estrabismo (n=18), atraso no desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) (n=21) e microcrania (n=9). Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S7-S16 9 Estudo transversal do perfil das infecções congênitas atendidas entre 2012 e 2014 em um centro de referência em Belo Horizonte ... Crianças encaminhadas para acompanhamento: 513 (100%) Diagnósticos confirmados: 253 (49,31%) Diagnóstico indeterminados/ suspeitos: 177 (34,5%) Diagnóstico excluídos: 83 (16,17%) Toxoplasmose; 151 (59,68%) Toxoplasmose; 136 (76,83%) Toxoplasmose; 46 (55,42%) Sífilis: 82 (32,41%)* Sífilis: 34 (19,20%) Sífilis: 25 (30,12%) CMV: 15 (5,92%) CMV: 5 (2,82%) CMV: 3 (3,62%) Outros - 5 (1,97%): Dengue: 1 (0,39%) Condilomatose: 1 (0,39%) Herpes Simples: 2 (0,79%) Rubéola: 1 (0,39%) Outros - 9 (10,84%): D. de Chagas: 5 (6,02%) Hepatite B: 3 (3,62%) Parvovirose: 1 (1,2%) Outros - 2 (1,12%): D. de Chagas: 1 (0,56%) Rubéola: 1 (0,56%) Figura 1 - Crianças suspeitas de infecção congênita admitidas em centro de referência para atendimento de doenças infecciosas em Belo Horizonte, MG, entre 2012 e 2014. *Dos 82 casos confirmados como sífilis congênita, 27 (32,92%) realizaram teste treponêmico (FTA-Abs) aos 18 meses de idade com resultado positivo e diagnóstico definitivo de sífilis congênita. Nos outros 55 casos, o diagnóstico da criança foi presumido devido à infecção materna associada a manifestações clínicas e/ou testes não treponêmicos positivos ao nascimento. Tabela 1 - Manifestações clínicas presentes na admissão de 253 crianças com infecção congênita confirmada em centro de referência para doenças infecciosas, BH, entre 2012 e 2014 Toxoplasmose 151 casos n (%)* Sífilis 82 casos n (%)* Citomegalovírus 15 casos n (%)* Estrabismo# 18 (11,92) 0 1 (6,66) 0 Manifestações clínicas Alterações visuais Alterações de pele Linfonodos Aparelho digestório Sistema nervoso Microftalmia# 3 (1,98) 0 Nistagmo isolado 1 (0,66) 0 0 Icterícia (> 2 semanas) 7 (4,63) 1 (1,21) 1 (6,66) Exantema 2 (1,32) 0 1 (6,66) Petéquias 0 0 1 ( 6,66) Linfadenomegalia 5 (3,31) 2 (2,43) 1 (6,66) Hepatomegalia 5 (3,31) 2 (2,43) 1 (6,66) Esplenomegalia 1 (0,66) 0 1 (6,66) Atraso no DNPM¶ 21 (13,90) 0 0 Microcefalia 9 (5,96) 1 (1,21) 4 (26,66) Macrocrania 2 (1,32) 0 0 Crises convulsivas 1 (0.66) 0 0 * Proporção em relação ao número de pacientes de cada doença confirmada; # Associado ou não a nistagmo; ¶ Desenvolvimento neuropsicomotor. 10 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S7-S16 Estudo transversal do perfil das infecções congênitas atendidas entre 2012 e 2014 em um centro de referência em Belo Horizonte ... Nos casos de sífilis, três exibiam linfadenopatia e dois, hepatomegalia percebida ao exame físico. A microcrania foi a manifestação mais frequente nas crianças com CMV (n=4). Na única criança da amostra estudada com infecção congênita pelo vírus da dengue confirmada, constatou-se hepatomegalia. Atraso do DNPM foi registrado em um caso de herpes congênito, além dos 21 com toxoplasmose. A condilomatose vulvar foi descrita em uma criança que adquiriu a infecção no canal de parto. Entre as 177 crianças com diagnóstico indefinido, 18 (10,16%) tinham sintomas compatíveis com a infecção congênita em investigação. Desses, 13/18 eram suspeitos de toxoplasmose congênita e a principal alteração encontrada foi estrabismo, em cinco pacientes. O único paciente com diagnóstico confirmado de rubéola relatou hepatomegalia. Um dos pacientes suspeitos de infecção pelo CMV apresentou microcrania, atraso no DNPM e hepatoesplenomegalia. Os dados estão detalhados na Tabela 2. Quando comparada a frequência de manifestações clínicas no momento da admissão entre os dois grupos, com diagnóstico confirmado (n=73/253 28,85%) e com diagnóstico indeterminado ou suspeito (n=29/177 - 16,38%), obteve-se maior prevalência de sintomas no grupo que apresentava diagnóstico confirmado (X2=8,95; p=0,003). Em 15,38% das crianças com infecção congênita confirmada, havia descrição completa, em prontuário, da propedêutica realizada. Das 194 crianças que realizaram hemograma como parte da investigação diagnóstica, detectou-se alteração inespecífica em 85 (43,81%). A criança com dengue confirmada manifestou anemia, plaquetopenia e hemoconcentração. As alterações liquóricas foram encontradas em 15 (17,24%) das 87 crianças que realizaram o procedimento e caracterizaram-se principalmente por hiperproteinorraquia. Observaram-se alterações nos exames de imagem em 104 (67,53%) crianças que realizaram ultrassonografia transfontanelar e/ou tomografia computadorizada do encéfalo. Na amostra estudada, a maioria dos pacientes com alterações em sistema nervoso central tinha toxoplasmose congênita (n=92; 90,19%), e a alteração mais frequente foi a calcificação, registrada em 84 casos. As calcificações foram difusas ou parenquimatosas em 59 casos, periventriculares em 24 e em um caso não havia descrição da localização. Mais da metade (7/12; 58,33%) das crianças com infecção pelo citomegalovírus apresentava alterações nos exames de imagem de sistema nervoso central, seis (50%) tinham calcificações isoladas e uma exibia calcificação associada à hidrocefalia. (Tabela 3). Entre os dois pacientes com herpes, um relatou hipodensidade de substância branca; e o paciente com rubéola congênita confirmada tinha hidrocefalia associada à hipodensidade da substância branca. Em 129 (83,43%) das 151 crianças com toxoplasmose congênita havia registro no prontuário de oftalmoscopia binocular indireta (exame de fundo de olho). Dessas, 82 (63,56%) referiam alguma alteração. Além disso, um paciente com infecção pelo citomegalovírus mostrava lesão ocular (Tabela 3). O total de 13 pacientes apresentou alterações na triagem auditiva, sendo 10 (30,3%) com toxoplasmose, dois (22,2%) com citomegalovirose e um com rubéola congênita (Tabela 3). Tabela 2 - Manifestações clínicas presentes na admissão de 177 crianças com diagnóstico de infecção congênita suspeita ou indefinida em centro de referência, BH, entre 2012 e 2014 Toxoplasmose 136 casos n (%)* Sífilis 34 casos n (%)* Citomegalovírus 5 casos n (%)* Estrabismo# 5 (2,82) 0 0 Icterícia (> 2 semanas) 4 (2,25) 0 0 Exantema 2 (1,12) 2 (5,88) 0 Descamação 0 2 (5,88) 0 Hepatomegalia 2 (1,12) 0 1 (100) Esplenomegalia 0 0 1 (100) Atraso no DNPM¶ 0 0 1 (100) Microcefalia 1 (0,73) 0 1 (100) Manifestações clínicas Alterações visuais Alterações de pele Aparelho digestório Sistema nervoso * Percentual em relação ao número de pacientes suspeitos ou prováveis de cada doença; # Associado ou não a nistagmo; ¶ Desenvolvimento neuropsicomotor. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S7-S16 11 Estudo transversal do perfil das infecções congênitas atendidas entre 2012 e 2014 em um centro de referência em Belo Horizonte ... Tabela 3 - Alterações na propedêutica realizada em crianças com infecção congênita confirmada atendidas em centro de referência, BH, entre 2012 e 2014 Toxoplasmose n ⁄ Total* Sífilis n ⁄ Total* Citomegalovírus n ⁄ Total* Pleocitose 4/32 1/51 1/3 Hiperproteinorraquia 7/32 Hipoglicorraquia# 1/32 Liquor 1/3 Exames de imagem cerebral Calcificação cerebral 84/126 Hidrocefalia 14/126 1/13 Hipodencidade de substância branca 5/126 1/13 Retinocoroidite 75/129 0 Catarata 2/129 0 Hemorragia retiniana 4/129 0 Descolamento de retina 1/129 0 10/33 0 6/12 1/12¶ Exame de fundo de olho 1/9 Audiometria Déficit auditivo 2/9 * n ⁄ Total = número de exames alterados ⁄ total de exames realizados; # Hipoglicorraquia associada a hiperproteínorraquia e pleocitose em um caso; ¶ Hidrocefalia associada à calcificação. Alterações em radiografia de ossos longos foram descritas em quatro dos 52 pacientes com diagnóstico de sífilis e registro de terem realizado o exame: um com rarefação óssea, dois com periostite e em um não foi descrita a alteração. DISCUSSÃO No Brasil, ao longo das últimas décadas, tem sido relatada melhora progressiva na atenção à saúde materno-infantil, com aumento do número de atendimentos no pré-natal (cinco ou mais) e início das consultas ainda no primeiro trimestre da gestação (83,6% das gestantes entre 2006-07).13 Consequentemente, tem ocorrido redução progressiva da mortalidade e morbidade no binômio mãe/filho, embora ainda ocorram muitos óbitos em fetos com peso superior a 2.500 g e sequelas nas crianças ao longo do crescimento, devido às infecções transmitidas pela via vertical, como a sífilis e a toxoplasmose, por exemplo, ambas potencialmente preveníveis.14 No presente estudo verificou-se, durante dois anos, elevado número de crianças encaminhadas a um centro de referência no município de Belo Horizonte por suspeita de infecção congênita, mas em um terço delas esse diagnóstico permaneceu indefinido, o que reforça a importância do seguimento ambulatorial. 12 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S7-S16 A admissão no serviço de referência foi precoce, geralmente no início do segundo mês de vida, mas a idade foi menor para aquelas crianças que ainda não possuíam confirmação diagnóstica comparadas àquelas com diagnóstico já estabelecido (p=0,01). Estas últimas, sintomáticas em cerca de um terço dos casos (28,85%) e com manifestações clínicas em proporção maior do que aquelas com diagnóstico indefinido (p=0,003), provavelmente permaneceram mais tempo nas unidades neonatais para investigação diagnóstica ou por mais instabilidade clínica e necessidade de tratamento. Na casuística avaliada, predominaram as infecções identificadas em programas públicos de triagem pré-natal/neonatal – sífilis e toxoplasmose, o que seria esperado visto que a maioria das infecções de transmissão vertical é assintomática para a gestante e recém-nascido, embora com grande frequência comprometam as crianças durante o crescimento. A toxoplasmose apresenta prevalência variável, mais baixa em regiões de clima frio (11% entre mulheres de 15 a 44 anos nos EUA)1,15 e elevada em regiões tropicais como o Brasil (50 a 80% em gestantes).16 Estudo realizado em maternidades de risco habitual e alto risco na região metropolitana de Belo Horizonte encontrou 59% das puérperas com perfil sorológico compatível com infecção pelo Toxoplasma gondii anterior à concepção, restando 41% de suscetíveis.17 Em Minas Gerais a Estudo transversal do perfil das infecções congênitas atendidas entre 2012 e 2014 em um centro de referência em Belo Horizonte ... prevalência da toxoplasmose congênita é elevada (13 recém-nascidos infectados para cada 10.000 nascidos vivos)18 e motivou o início do Programa de Controle da Toxoplasmose Congênita em 2013 (PCTC-MG), que inclui a triagem pré-natal universal e neonatal no grupo de risco e tem abrangência estadual.12 Essa pode ser uma das explicações para o predomínio de crianças com esse diagnóstico no presente estudo. Foram admitidas poucas crianças com suspeita de infecção pelo citomegalovírus (CMV), embora essa infecção seja sabidamente muito prevalente no Brasil, atingindo 0,5 a 2% dos recém-nascidos.2,19 Isso se deve, provavelmente, a falhas no diagnóstico precoce decorrentes da não realização de triagem para identificação do vírus na gestação e período neonatal. Alguns casos de infecção congênita foram raros na nossa casuística. A rubéola congênita, por exemplo, praticamente desapareceu após a política de vacinação universal das crianças e adolescentes antes da concepção.6,15,20 Os poucos casos encaminhados devem-se à vigilância constante. A infecção perinatal pelo vírus da hepatite B também é rara, com baixa prevalência da infecção em gestantes (cerca de 1% em MG). Isso se justifica, pois as mulheres são vacinadas e a triagem pré-natal é realizada no estado, além da administração de imunoglobulina específica e vacinação aos recém-nascidos de mães infectadas.21,22 Em relação aos microrganismos com prevalência regional, deve-se ressaltar que em Minas Gerais ainda vivem milhares de indivíduos com infecção crônica pelo Trypanosoma cruzi, muitas mulheres ainda em idade reprodutiva. Isso leva a incluir esse agente no diagnóstico diferencial das infecções congênitas, pois embora a transmissão vetorial do parasito tenha sido considerada interrompida no Brasil em 2006, a transmissão vertical (aproximadamente 1% no Brasil)23 atualmente tem sido responsabilizada pela manutenção da infecção na infância.24 Em seis crianças encaminhadas com essa suspeita a partir da sorologia positiva de suas mães, em nenhuma a infecção congênita foi confirmada. Ainda refletindo a realidade regional, foi admitida no serviço uma criança suspeita de infecção congênita pelo vírus da dengue. No Brasil, a dengue é um problema de saúde pública não controlado e, embora o risco de transmissão vertical pareça ser baixo, a ocorrência frequente de epidemias reforça a importância de estar sempre atento a essa infecção no binômio mãe/filho, especialmente nas gestantes com febre prolongada, mialgia e manifestações hemorrágicas.25 Mesmo em uma casuística selecionada pelo encaminhamento a um centro de referência, apenas um terço das crianças infectadas apresentava manifestações clínicas perceptíveis ao exame de admissão pediátrico. Como a maioria dessas crianças tinha toxoplasmose congênita, as manifestações clínicas mais frequentes foram o comprometimento do sistema nervoso central e ocular, achados esperados nessa doença. Sabe-se que apenas cerca de 10% das crianças infectadas pelo T. gondii manifestam sintomas ao nascimento,5,26 mas mesmo se ela nasce assintomática, a maioria (> 85%) terá comprometimento, principalmente ocular, até o início da vida adulta2. As lesões no sistema nervoso central são mais comuns nas infecções fetais ocorridas nos primeiros meses de gestação, especialmente no primeiro trimestre.27 A retinocoroidite, manifestação ocular mais frequente na toxoplasmose congênita, pode ocorrer nas infecções adquiridas em qualquer momento da gestação. Vários estudos revelam maior frequência e gravidade das lesões oculares em crianças com toxoplasmose congênita nos países da América do Sul, e uma das possíveis explicações é a diversidade dos genótipos do parasito e sua acentuada virulência.28-30 Em estudo multicêntrico europeu, Kieffer et al.31 identificaram 36 casos de retinocoroidite (12%) entre 300 crianças com toxoplasmose congênita avaliadas nos dois primeiros anos de vida. No presente estudo, a retinocoroidite esteve presente em 58,13% dos casos com descrição da fundoscopia, em acordo com outra pesquisa de base populacional realizada em MG, que encontrou 79,8% de 190 crianças com essa lesão cicatrizada e/ou em atividade inflamatória.32 Nesta investigação apurou-se largo espectro de manifestações clínicas entre os recém-nascidos com toxoplasmose, revelando o acometimento sistêmico da doença. Importante destacar que na amostra estudada os casos de microcefalia foram mais frequentes que os com macrocrania, resultados consonantes com outros estudos brasileiros. A calcificação cerebral foi a alteração mais frequente nos exames de imagem do encéfalo e foi encontrada principalmente na toxoplasmose e citomegalovirose. Os exames mais sensíveis e úteis para identificação dessas lesões são o ultrassom transfontanela e a tomografia computadorizada do crânio, este último o mais sensível15. Importante lembrar que o ultrassom também se presta para o diagnóstico e acompanhamento dos casos de dilatação ventricular.33 A segunda doença congênita com diagnóstico confirmado mais frequente nesta amostra foi a sífilis Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S7-S16 13 Estudo transversal do perfil das infecções congênitas atendidas entre 2012 e 2014 em um centro de referência em Belo Horizonte ... congênita (32,41%), constatando-se manifestações clínicas inespecíficas ao nascimento, como hepatomegalia, linfadenopatia e lesões de pele, além de uma criança com hiperproteinorraquia. Considera-se que o registro hepatomegalia tenha sido pequeno, pois a literatura descreve que essa alteração é presente na maioria das crianças com sífilis congênita.2 O exame do liquor é parte obrigatória da investigação nos casos suspeitos de sífilis congênita e, quando alterado, como na criança do presente estudo, após o tratamento o exame deve ser repetido até normalização, nos primeiros dois anos de vida. Publicações científicas estimam que mais de 50% dos recém-nascidos infectados com o T. pallidum podem nascer assintomáticos, mas a persistência da infecção pode levar a manifestações tardias graves nos primeiros meses de vida e aparecimento dos estigmas clínicos da doença após anos de evolução, devido à remodelação óssea. Importante ressaltar que estão disponíveis métodos diagnósticos de baixo custo e acessíveis, mesmo em regiões que não contam com laboratório de maior complexidade. As crianças suspeitas devem realizar teste não treponêmico (VDRL), que, se positivo, requer tratamento da criança e a retestagem até negativação.34 A confirmação definitiva da infecção é realizada pelo resultado positivo de um teste treponêmico aos 18 meses de idade, pois a transferência passiva de IgG da mãe para o filho pode ocasionar erros diagnósticos.34,35 A contínua ocorrência dos casos de sífilis congênita, com tendência à elevação nessa prevalência nos últimos anos,22,33,35 se deve provavelmente ao tratamento inadequado das gestantes e seus parceiros e deficiências na qualidade da atenção pré-natal, principalmente em locais com menos assistência de saúde.36,37 A infecção congênita pelo CMV pode levar a grave comprometimento do sistema nervoso central e déficit auditivo, embora apenas 10-15% dos infectados apresentem sintomas ao nascimento. Entre essas crianças sintomáticas, cerca de 80 a 95% terão sequelas neurológicas, como microcefalia, crises convulsivas, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, calcificações cerebrais e retinocoroidite.2,19,38,39 No presente trabalho obtiveram-se microcefalia (26,66%) e calcificação cerebral (50%) em proporção significativa das crianças avaliadas, mas importante lembrar que essa é uma amostra encaminhada ao centro de referência, portanto, com vício de seleção. Déficit auditivo foi observado em dois (22,22%) dos pacientes que realizaram o exame, proporção menor do que a 14 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S7-S16 descrita na literatura19,39,40, mas o presente estudo é transversal e não avaliou a evolução dessas perdas durante o crescimento das crianças. O estudo apresentou limitações por ser transversal e pela dificuldade na obtenção dos dados, devido ao registro inexistente ou inadequado em prontuário. Entre as crianças com infecção congênita confirmada, apenas 15,38% tinham registro adequado da propedêutica realizada. Isso leva a prejuízo no seguimento de alguns casos. Embora, no Brasil, programas nacionais recomendem a triagem pré-natal para doenças sexualmente transmitidas, como sífilis, HIV e hepatite B, programas estaduais ou municipais recomendem a triagem pré-natal para toxoplasmose; programa nacional recomenda vacinação rotineira para rubéola na infância e adolescência; além da já constatada eficácia das medidas de higiene (lavagem das mãos) para redução dos casos de citomegalovirose. Ressalta-se que o sucesso desses programas é limitado, pois alto número de crianças foi encaminhado para investigação e tratamento. Reduzir a morbidade e mortalidade decorrentes das infecções de transmissão vertical é um grande desafio. Para isso, pesquisas destacam a necessidade de melhorar a qualidade da atenção pré-natal11-13,22, já que o acesso a esses cuidados se tornou quase universal. Também é importante o manejo dessas infecções com programas de diagnóstico e tratamento bem estruturados, pois as gestantes e neonatos muitas vezes são assintomáticos e o número de microrganismos capazes de infectar o binômio mãe-filho está cada vez maior.4,5 A triagem pré-natal na infecção pelo CMV permanece controversa. A dificuldade de identificação das infecções primárias nas gestantes, especialmente em áreas de alta prevalência da doença, associada à inexistência de tratamento eficaz na gestação torna a triagem pré-natal questionável e indica mais eficácia da prevenção pela lavagem das mãos.39 Essa é a medida recomendada para grupos de risco, como cuidadoras de crianças, que devem lavar as mãos a cada troca de fraldas.40 Outros autores recomendam a triagem pré-natal, pois consideram que a identificação das infecções primárias na gestação permite o diagnóstico precoce das crianças infectadas e um possível tratamento.39-41 A notificação obrigatória é uma forma de o Ministério da Saúde monitorizar infecções congênitas e avaliar a eficácia dos seus programas de prevenção. Recentemente foi publicada a Lista Nacional de Notificação Compulsória, em 2016, que inclui: dengue, Estudo transversal do perfil das infecções congênitas atendidas entre 2012 e 2014 em um centro de referência em Belo Horizonte ... doença de Chagas aguda, infecção pelo vírus Zika, hepatites virais, síndrome da rubéola congênita, sífilis gestacional e congênita e toxoplasmose gestacional e congênita. Urge que as notificações sejam feitas para avançarmos na construção de programas de prevenção mais eficientes. CONCLUSÃO Quase a metade dos pacientes admitidos no ambulatório de referência necessitou do acompanhamento ambulatorial para esclarecimento diagnóstico; a maioria das crianças infectadas foi assintomática ao nascimento; as alterações observadas ao hemograma foram inespecíficas em sua maioria; os exames de imagem cerebral contribuíram para o diagnóstico, principalmente para avaliação da extensão do comprometimento; o exame do fundo de olho também é fundamental na avaliação das crianças suspeitas de infecção congênita. Concluindo, a orientação da gestante, parte fundamental do pré-natal de qualidade, pode reduzir o risco de infecção materna; e a propedêutica e tratamento precoce das crianças infectadas podem diminuir as sequelas que comprometem o desenvolvimento e a qualidade de vida dessas crianças. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Daniel Vitor de Vasconcelos Santos e a Dra. Danuza Oliveira Machado, que sempre estiveram disponíveis para realização de fundoscopia das crianças quando necessário. REFERÊNCIAS 1. Carlier Y, Truyens C, Deloron P, Peyron F. Congenital parasitic infections: A review. Acta Tropica. 2012;121(2):55-70. 2. Remington JS, Klein JO, Wilson CB, Baker CJ, editors. Infectious diseases of the fetus and newborn infant. 8th ed. Philadelphia: Elsevier; 2015. 3. Ministério da Saúde (BR). Protocolo de Vigilância a Ocorrência de Microcefalia e/ou Alterações do Sistema Nervoso Central. Brasília, 10/03/2016b. [citado em 2016 out 03]. Disponível em: http://combateaedes.saude.gov.br/images/sala-de-situacao/Microcefalia-Protocolo-de-vigilancia-e-resposta-10mar2016-18h.pdf 4. Shet A. Congenital and Perinatal Infections: Throwing New Light with an Old TORCH. Indian J Pediatr. 2010;78(1):88-95. 5. Martínez AS, Martínez LA, Teatino PM, Rodríguez-Granger J. Diagnóstico de infección congénita. Enfermedecciosas y Microbiología Clínica, 2011; 29(Supl 5), 15-20. 6. Gilbert GL.Infections in pregnant women. Med J Aust. 2002; 176(5):229-36. 7. Giles M, Pedrana A, Jones C, Garland S, Hellard M, Lewin S. Antenatal screening practice for infectious diseases by general practitioners in Australia. Aust N Z J Obstet Gynaecol. 2009;49(1):39-44. 8. Leddy M, Gonik B, Schulkin J. Obstetrician-Gynecologists and perinatal infections: a review of studies of the Collaborative Ambulatory Research Network (2005–2009). Infect DisObstet Gynecol. 2010;2010:1-7. 9. Torii Y, Kimura H, Ito Y, Hayakawa M, Tanaka T, Tajiri H, et al. Clinicoepidemiologic status of mother-to-child infections. Pediatr Infect Dis J. 2013;32(6):699-701. 10. Ministério da Saúde (BR), Secretaria Executiva, Programa Nacional de DST e Aids. Projeto Nascer. Brasília: Ministério da Saúde; 2003. [Citado em 2016 abr. 28].Disponível em: http://bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/projeto_nascer.pdf. 11. Ministério da Saúde (BR). Pré-natal e puerpério. Atenção qualificada e humanizada. [Citado em 2016 abr. 28]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_pre_natal_puerperio_3ed.pd. 12. Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (NUPAD) - Faculdade de Medicina, UFMG. Programa de Controle da Toxoplasmose Congênita em Minas Gerais: Belo Horizonte: Faculdade de Medicina, UFMG, 2012. [Citado em 2016 abr. 28]. Disponível em: http://www.nupad.medicina.ufmg.br/?page_id=4734. Acesso: 28/04/2016. 13. Victora CG, Aquino EML, Leal MC, Monteiro CA, Barros FC, Szwarcwald CL. Maternal and child health in Brazil: progress and challenges. Lancet. 2011 May 28; 377(9780):1863-76.. DOI:10.1016/ S0140-6736(11)60138-4. 14. Saraceni V, Guimarães MHFS, Theme Filha MM, Leal MC. Mortalidade perinatal por sífilis congênita: indicador da qualidade da atenção à mulher e à criança. Cad Saúde Pública. 2005; 21(4):1244-50. 15. Kimberlin DW, Brady MT, Jackson MA, Long SS. Committee on Infectious Diseases;. 30th ed. Elk Grove Village: American Academy of Pediatrics; 2015. 16. Souza Júnior V, FigueiróFilho E, Borges D, Oliveira V, Coelho L. Toxoplasmosis and pregnancy: Perinatal results and association of the IgG avidity test with congenital infection in pregnant women with positive anti- Toxoplasma gondii IgM [Abstract in English]. Scien Med. 2010 20(1):45-50. 17. Carellos EV, Andrade GM, Aguiar RA. Evaluation of prenatal screening for toxoplasmosis in Belo Horizonte, Minas Gerais State, Brazil: a cross-sectional study of postpartum women in two maternityhospitals. Cad Saúde Publica. 2008 fev; 24(2):391-401. 18. Carellos EMV, Andrade GMQ,Vasconcelos-Santos DV, Jauário JN, Romanelli RMC, Abreu MNS, et al. UFMG Congenital Toxoplasmosis Brazilian Group, -UFMG-CTBG. Adverse socioeconomic conditions and oocyst-related factors are associated with congenital toxoplasmosis in a population-based study in Minas Gerais, Brazil. Plos One 2014: 9 (2): e88588. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S7-S16 15 Estudo transversal do perfil das infecções congênitas atendidas entre 2012 e 2014 em um centro de referência em Belo Horizonte ... 19. Bialas KM, Swamy GK, Permar SR. Perinatal Cytomegalovirus and Varicella Zoster Virus infections: epidemiology, prevention, and treatment. Clin Perinatol. 2015; 42(1):61-75. 20. Ministério da Saúde (BR). Programa Nacional de Imunizações 40 anos. [Citado em 2015 dez. 15].Disponível em: http://bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/programa_nacional_imunizacoes_pni40.pdf 21. Minas Gerais, Secretaria Estadual de Saúde (BR). Circular Coordenadoria de Doenças Transmissíveis e Imunizações/MG. No 108/2002. Belo Horizonte: SES-MG; 2002. 22. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (BR). Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. Prevenção da Transmissão vertical de HIV, Sífilis e Hepatites virais. Brasília: SUS; 2015 ago. [Citado em 2015 set. 10].Disponível em: http://www. aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2015/58572/ pcdt_transm_vertical_091215_pdf_12930.pdf. 23. Andrade AQD, Gontijo ED. Triagem neonatal para infecção chagásica congênita: aplicação de análise de classe latente para avaliação dos testes diagnósticos. RevSoc BrasMedTrop. 2008; 41(6):615-20. 24. Barreto ML, Teixeira MG, Bastos FI, Ximenes RAA, Barata RB, Rodrigues LC. Successes and failures in the control of infectious diseases in Brazil: social and environmental context, policies, interventions, and research needs. Lancet. 2011 May 28;377(9780):1877-89. Doi: 10.1016/S0140-6736(11)60202-X. Epub 2011 May 9. 25. Tan P, Rajasingam G, Devi S, Omar S. Dengue infection in pregnancy. Obstet Gynecol. 2008;111(5):1111-6. 26. Neu N, Duchon J, Zachariah P. TORCH Infections. Clin Perinatol. 2015; 42(1):77-103 27. Wallon M, Peyron F, Cornu C, Vinault S, Abrahamowicz M, Kopp C, et al. Congenital Toxoplasma infection: monthly prenatal screening decreases transmission rate and improves clinical outcome at age 3 years. Clin Infect Dis. 2013; 56(9):1223-31. 28. Vasconcelos-Santos DV, Queiroz Andrade GM. Geographic difference in outcomes of congenital toxoplasmosis. Pediatr Infect Dis J. 2011 Sep;30(9):816-7. 29. Moncada PA, Montoya JG. Toxoplasmosis in the fetus and newborn: an update on prevalence, diagnosis and treatment. Expert Rev Anti Infect Ther. 2012 Jul;10(7):815-28. 16 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S7-S16 30. Carneiro AC, Andrade GM, Costa JG, Pinheiro BV, Vasconcelos-Santos DV, Ferreira AM,et al. Genetic characterization of Toxoplasma gondii revealed highly diverse genotypes for isolates from newborns with congenital toxoplasmosis in southeastern Brazil. J Clin Microbiol. 2013 Mar;51(3):901-7. 31. Kieffer F,Wallon M, Garcia P,Thulliez P, Peyron F, Franck J. Risk factors for retinochoroiditis during the first 2 years of life in infants with treated congenital toxoplasmosis. Pediatr Infect Dis J. 2008 Jan;27(1):27-32. 32. Vasconcelos-Santos DV, Machado Azevedo DO, Campos WR, Oréfice F, Queiroz-Andrade GM, Carellos EV, et al.; UFMG Congenital Toxoplasmosis Brazilian Group. Congenital toxoplasmosis in southeastern Brazil: results of early ophthalmologic examination of a large cohort of neonates. Ophthalmology. 2009 Nov;116(11):2199-205. 33. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção à Saúde do Recém-Nascido: Guia para os Profissionais de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2011. 34. Lago EG. Current Perspectives on Prevention of Mother-to-Child Transmission of Syphilis. Cureus. 2016 Mar;8(3):e525. [Citado em 2015 set. 10]. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/ articles/PMC4829408/ 35. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância à Saúde – Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico – Sífilis. Brasília: Ministério da Saúde; 2015. 36. Gomez GB, Kamb ML, Newman LM,Mark J, Broutet N, Hawkes SJ. Untreated maternal syphilis and adverse outcomes of pregnancy: a systematic review and meta-analysis. Bull WHO. 2013; 91(3):217-26. 37. Qin J, Yang T, Xiao S, Tan H, Feng T, Fu H. Reported estimates of adverse pregnancy outcomes among women with and without syphilis: a systematic review and meta-analysis. PLoS One. 2014 Jul 15;9(7):e102203. 38. Soper DE. Congenital Cytomegalovirus infection: obstetrician’s point of view. CID. 2013:57 (Suppl 4):S171-3. an 39. Johnson J,Anderson B. Screening, prevention, and treatment of congenital cytomegalovirus. Obstet Gynecol Clin N Am. 2014; 41:593-9. 40. Boppana SB, Ross SA, Fowler KB. Congenital cytomegalovirus infection: clinical outcome. CID. 2013; 57 (Suppl 4): S178-81. 41. Yinon Y, Farine D, Yudin M. Screening, Diagnosis, and Management of Cytomegalovirus Infection in Pregnancy. Obstet Gynecol Survey. 2010;65(11):736-43. ARTIGO DE REVISÃO Aleitamento materno nos últimos cinco anos: um estudo bibliométrico Breastfeeding in the last five years: a bibliometric study Lucinéia de Pinho1, Camila Ferreira de Oliveira2, Fúlvia Karine Santos Marques2, Jéssica Alkmim Rodrigues2, Antonio Prates Caldeira3 DOI: 10.5935/2238-3182.20160017 RESUMO Introdução: o leite materno é o melhor alimento para a criança nos primeiros meses de vida, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento adequado a curto e longo prazo. Objetivo: caracterizar o perfil das publicações brasileiras com a temática aleitamento materno. Método: trata-se de um estudo bibliométrico, com análise da produção do conhecimento científico de estudos conduzidos no país entre 2009 e 2013. As palavras-chave “breastfeeding and Brazil” na base de dados Pubmed e “aleitamento materno” no Scielo, Medline e Lilacs. Resultados: foram avaliadas 466 publicações, sendo que, entre os anos de 2009 e 2012, houve gradativo aumento do número. A temática mais prevalente foi “determinantes e fatores associados ao aleitamento materno/desmame” (33,9%). Identificaram-se 579 descritores entre os textos publicados, sendo aleitamento materno (397) e desmame (109) os mais citados. A maior parte dos artigos eram estudos quantitativos (n=301). A qualificação B1 foi a mais prevalente entre as revistas e a região Sudeste teve o maior número de publicações ao longo dos cinco anos. Destacam-se enfermeiros (28,5%), nutricionistas (21,7%) e médicos (15,1%) e predomínio de doutores (45,1%) e mestres (24,5%) entre os titulares das publicações. Conclusões: há relativa homogeneidade para os primeiros quatro anos do período estudado, com declínio no último ano da série. Apesar de a situação do aleitamento estar longe da ideal, foram conquistados avanços relativos à prática no país. 1 Nutricionista. Doutora em Ciências da Saúde. Professora Titular. Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. Mestrado Profissional em Cuidado Primário em Saúde. Montes Claros, MG – Brasil. 2 Acadêmica do Curso de Medicina. UNIMONTES, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. Montes Claros, MG – Brasil. 3 Médico Pediatra. Doutor em Ciências da Saúde. Professor Titular. UNIMONTES, Mestrado Profissional em Cuidado Primário em Saúde. Montes Claros, MG – Brasil. Suporte financeiro: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). Apoio financeiro por meio de bolsa de iniciação científica. Palavras-chave: Aleitamento Materno; Publicações Periódicas; Ibliométria. ABSTRACT Introduction: Breast milk is the best food for infants during their first months of life, contributing to the growth and proper development in the short and long term. Objective: To characterize the profile of Brazilian publications with the theme Breastfeeding. Method: This is a bibliometric study, with analysis of the production of scientific studies conducted in the country from 2009 to 2013. The key words “breastfeeding and Brazil” in Pubmed database and “breastfeeding” in Scielo, Medline and Lilacs. Results: 466 publications were evaluated, and, between the years 2009-2012, there was a gradual increase in the number. The most prevalent theme was “Determinants and Factors associated with breastfeeding / weaning” (33.9%). It identified 579 descriptors among the published texts, and breastfeeding (397) and weaning (109) the most cited. Most of the articles were quantitative studies (n = 301). The qualification B1 was the most prevalent among the magazines and the Southeast had the highest number of publications over the five years. Stand out nurses (28.5%), nutritionists (21.7%) and physicians (15.1%) and predominance of doctors (45.1%) and teachers (24.5%) among holders of publications. Conclusions: There is relative homogeneity for the first four years of the study period, with the decline in the last year of the series. Although the feeding situation is far from ideal, progress has been achieved concerning the practice in the country. Key words: Breast Feeding; Periodicals; Bibliometrics. Instituição: Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Montes Claros, MG – Brasil Autor correspondente: Lucinéia de Pinho E-mail: [email protected] Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S17-S22 17 Aleitamento materno nos últimos cinco anos: um estudo bibliométrico 18 INTRODUÇÃO MÉTODOS O leite materno é o melhor alimento para a criança nos primeiros meses de vida, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento adequado a curto e longo prazo e fornecendo proteção contra doenças respiratórias, gastrointestinais e processos alérgicos.1,2 A prática da amamentação também intensifica o vínculo mãe-filho e beneficia a mãe durante o puerpério por reduzir o sangramento pós-parto e acelerar a involução uterina.3 A literatura também registra outros benefícios para a mãe, como a proteção natural contra futuras gestações nos primeiros meses após o parto e proteção contra alguns tipos de tumores como os de mama e ovário.4,5 A amamentação exclusiva é preconizada até os seis meses de idade e sua manutenção, juntamente com outros alimentos, até os dois anos de idade ou mais.6,7 Entretanto, existem diversos fatores que contribuem para que tal prática não seja cumprida adequadamente: inserção da mulher no mercado de trabalho, dificuldades na amamentação, baixa escolaridade, falta de conhecimento sobre os benefícios da prática, hábitos culturais, uso precoce de chupeta e mamadeira, depressão pós-parto, entre outros.8,9 A literatura nacional apresenta, com relativa frequência, publicações sobre aleitamento materno, mas não existem registros de sistematização regular da produção científica na área. Nesse sentido, os estudos bibliométricos representam uma importante ferramenta para análise das publicações científicas e estão se tornando cada vez mais frequentes.10,11 Análises bibliométricas, ainda que descritivas, possibilitam o conhecimento do “estado da arte” em relação ao que se tem publicado sobre determinado tema, pois consolidam as informações destacando aspectos que outros estudos não permitem alcançar. Particularmente em relação à temática do aleitamento materno, análises bibliométricas são desejáveis, pois a pesquisa científica na área tem o potencial de envolver várias e diversificadas abordagens, incluindo análises multidisciplinares. O mapeamento de produções científicas a partir da contagem de documentos permite uma avaliação do que está sendo publicado e quais conhecimentos estão sendo construídos na área da saúde sobre a amamentação.10,12,13 No presente estudo, objetivou-se caracterizar o perfil das publicações brasileiras com a temática aleitamento materno. Trata-se de estudo bibliométrico, com análise quantitativa e descritiva da produção do conhecimento científico por meio da contagem de documentos.13,14 Para a coleta de dados, realizou-se um levantamento das publicações veiculadas entre os anos de 2009 e 2013, com as palavras-chave “breastfeeding and Brazil” na base de dados Pubmed e “aleitamento materno” no Scielo, Medline e Lilacs. A busca foi feita no período de março a abril de 2014 e incluíram-se artigos de todas as línguas disponíveis. A seleção das publicações baseou-se na leitura sistemática de títulos e resumos e utilizou-se como critérios de inclusão o aleitamento materno como tema principal e o Brasil como local da condução da pesquisa. Após identificação dos textos, conduziu-se a tabulação das publicações em planilha eletrônica, por ano de publicação, título, autor principal (formação, titulação e instituição vinculada), periódico, descritores utilizados e metodologias empregadas para realização do estudo. A partir desses dados, foram determinados cinco parâmetros para objeto de estudo e tabulação: número de publicações/ano, principais subtemas abordados, instituições publicadoras e suas respectivas regiões, periódicos e sua qualificação. As revistas foram analisadas pelo sistema “Qualis”, que avalia os periódicos e verifica a qualidade da produção intelectual, sendo elaborado a partir de diretrizes e orientações gerais estabelecidas pelo Conselho Técnico e Científico (CTC) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O sistema identifica os veículos de mais relevância para cada área, estimulando sua utilização para a divulgação da produção acadêmica. As produções são classificadas nos quesitos qualidade – alta (A), média (B), ou baixa (C) – e âmbito de circulação – internacional (1), nacional (2), local (3).15 Os descritores utilizados nas publicações foram listados e analisados quantitativa e qualitativamente para definição dos principais temas de pesquisa envolvendo o aleitamento materno. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S17-S22 RESULTADOS Foram identificadas e analisadas 466 publicações sobre “aleitamento materno”, sendo que, entre os anos de 2009 e 2012, houve aumento gradativo do número das publicações sobre o tema. O ano de 2013 apresentou a menor produção numérica do período Aleitamento materno nos últimos cinco anos: um estudo bibliométrico estudado, correspondendo a apenas 14,37% das publicações analisadas (Tabela 1). tores em Ciência da Saúde (DeCS), criado pela Biblioteca Virtual em Saúde, ou do Medical Subject Headings (MeSH), da US National Library of Medicine (NLM). A maioria dos artigos publicados foi classificada na categoria de estudos quantitativos (n=301) e 53 abordaram o tema em estudos de revisão. Observa-se que a maioria dos estudos era de caráter epidemiológico, com número restrito de investigações na área de análise laboratorial do leite humano e dos seus benefícios e vantagens. Entre as 466 publicações identificadas, 382 referiam-se a artigos em periódicos indexados e as demais 84 referiam-se a publicações de órgãos oficiais, dissertações/teses ou outras publicações em periódicos não qualificados pela CAPES. Os artigos foram identificados em 151 periódicos e os estratos dos mesmos estão na Tabela 3. Observou-se que a maior parte dos manuscritos concentrou-se no estrato de Qualis B. Entre os periódicos analisados, o Jornal de Pediatria se destacou quantitativamente, com o total de 33 artigos publicados, seguido pela Revista da Escola de Enfermagem da USP e Revista Paulista de Pediatria, ambas com 17 artigos, Revista de Saúde Pública e Revista Ciência & Saúde Coletiva com 15 artigos, Revista de Nutrição (14), Cadernos de Saúde Pública (13) e Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste (13). Na análise da formação profissional do primeiro autor do trabalho, destacam-se os enfermeiros (28,5%), nutricionistas (21,7%) e médicos (15,1%). Quanto à titulação do primeiro autor do trabalho, o maior número foi de doutores (45,1%) e mestres (24,5%). Em 100 (21,5%) dos artigos identificados ao longo do período, não foi possível identificar a titulação do primeiro autor. Tabela 1 - Número de artigos sobre aleitamento materno identificados por ano de publicação Número de publicações (n) (%) 2009 92 19,74 2010 99 21,24 2011 100 21,45 2012 108 23,17 2013 67 14,37 Total 466 100,0 A análise dos descritores, apoiada nos resumos dos textos, permitiu a definição de nove temas, que são apresentados na Tabela 2. Nos cinco anos do estudo o tema mais prevalente foi “determinantes e fatores associados ao aleitamento materno/desmame”, representando 33,9% do total de artigos analisados, seguido pela temática “educação e promoção do aleitamento materno”, correspondendo a 18,2% do total de textos publicados. Temas como “adolescência e aleitamento materno” e “prematuridade/baixo peso e aleitamento materno” foram menos comuns entre as publicações do período. Foram identificados 579 descritores entre os textos publicados. Os mais citados foram: aleitamento materno (397), desmame (109), promoção da saúde (26), nutrição do lactente (25) lactente (24) e leite humano (23). É relevante destacar que 364 descritores foram citados uma única vez e que 190 termos apresentados como descritores não constavam da relação dos Descri- Tabela 2 - Temas de artigos sobre aleitamento materno-infantil no período de 2009 a 2013 Temas 2009 n 2010 2011 2012 2013 % n % n % n % n Total % n % Morbidades e AM* 6 6,5 17 17,2 13 13,0 20 18,5 1 1,5 57 12,2 Promoção do AM 12 13,0 10 10,1 25 25,0 20 18,5 18 26,9 85 18,2 Prematuridade/baixo peso 4 4,3 3 3,0 6 6,0 4 3,7 1 1,5 18 3,9 Sentimentos ou percepções 15 16,3 10 10,1 8 8,0 5 4,6 4 6,0 42 9,0 Determinantes do desmame 33 35,9 36 36,4 33 33,0 36 33,3 20 29,9 158 33,9 Adolescência e AM 3 3,3 0 0,0 3 3,0 1 0,9 0 0,0 7 1,5 Leite humano 1 1,1 8 8,1 0 0,0 6 5,6 8 11,9 23 4,9 Benefícios ou vantagens 3 3,3 4 4,0 3 3,0 2 1,9 15 22,4 27 5,8 Outros 15 16,3 11 11,1 9 9,0 14 13,0 0 0,0 49 10,5 Total 92 100,0 99 100,0 100 100,0 108 100,0 67 100,0 466 100,0 *AM= aleitamento materno. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S17-S22 19 Aleitamento materno nos últimos cinco anos: um estudo bibliométrico Tabela 3 - Artigos sobre aleitamento materno publicados em periódicos científicos, segundo o estrado de classificação da CAPES (Qualis), no período de 2009 a 2013 Classificação CAPES 2009 n 2010 % n 2011 % 2012 % n 2013 % n Total % n % Qualis A1 3 3,3 9 9,1 7 7,0 6 5,6 5 7,5 30 6,4 Qualis A2 12 13,0 18 18,2 24 24,0 24 22,2 20 29,9 98 21,0 Qualis B1 30 32,6 38 38,4 40 40,0 33 30,6 20 29,9 161 34,5 Qualis B2 16 17,4 13 13,1 13 13,0 14 13,0 10 14,9 66 14,2 Qualis B3 10 10,9 4 4,0 6 6,0 4 3,7 1 1,5 25 5,4 Qualis B4 1 1,1 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 0,2 Qualis B5 1 1,1 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 0,2 Outras publicações 19 20,7 17 17,2 10 10,0 27 25,0 11 16,4 84 18,0 Total 92 100 99 100 100 100 108 100 67 100 466 100 A distribuição dos locais (instituições) responsáveis pelas publicações ao longo do período estudado é apresentada na Figura 1. A região Sudeste destaca-se com o maior número de publicações e a região Norte com o menor número. As publicações estiveram concentradas nas instituições públicas federais. Figura 1 - Número de artigos sobre aleitamento materno publicados em periódicos científicos, segundo região de origem da publicação, no período de 2009 a 2013. DISCUSSÃO A produção de artigos científicos sobre aleitamento materno apresentou um padrão de relativa homogeneidade para os primeiros quatro anos do período estudado, com declínio no último ano da série. Embora não seja possível definir que exista uma queda definitiva na produção de conhecimentos na área, a redução do número de artigos publicados deve ser vista como um sinal de alerta ou um possível desinteresse pelo tema, situação já registrada em um estudo similar realizado em Cuba.11 A abordagem dos temas dos artigos em análise conduzida a partir dos descritores destaca a investigação de fatores associados ao desmame como prin- 20 n Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S17-S22 cipal foco de investigação ao longo dos anos e com proporção relativamente constante. Esse aspecto é relevante, pois evidencia uma busca por variáveis que podem ser abordadas pelos serviços de saúde em estratégias de intervenção precoce e permite ainda a identificação do público-alvo para a promoção do aleitamento materno.8,16 A avaliação específica de atividades educativas e de promoção do aleitamento materno, incluindo-se aí os relatos de experiências exitosas, representou o segundo eixo temático mais comum nas publicações estudadas. Este representa outro aspecto relevante, pois ressalta o desenvolvimento de ações de saúde que podem ser repetidas em diferentes locais, com potencial benefício para a população assistida. Embora a literatura científica evidencie a importância do aleitamento materno para o binômio mãe-filho e todas as ações realizadas para a sua promoção, os indicadores da prática da amamentação ainda estão aquém das recomendações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde.7 ,17,18 Sabe-se que atualmente menos da metade das crianças menores de seis meses está em aleitamento materno exclusivo.19 Nessa conjuntura, faz-se necessário o desenvolvimento de ações pró-amamentação objetivando o incentivo e apoio contínuo ao aleitamento materno, além da consolidação da multidisciplinaridade na educação materna, visto que tais ações fornecem orientações acessíveis e suporte para que a lactante mantenha a amamentação.20 Ainda na análise temática dos artigos, observou-se que 364 descritores foram citados uma única vez, o que traduz uma diversidade de temas envolvidos nas publicações. Por outro lado, o registro de 190 termos não foi localizado na relação dos Descri- Aleitamento materno nos últimos cinco anos: um estudo bibliométrico tores em Ciência da Saúde, o que pode denotar uma precariedade em relação aos parâmetros científicos na redação das produções analisadas. Na produção científica, a definição dos descritores ou palavras-chave é de grande relevância ao indexar e delimitar um campo da ciência, além de auxiliar na procura de informações. Divergências na nomenclatura das bases de dados colocam em risco a localização do artigo, o que possibilita mais chances de o artigo não ser encontrado e, portanto, também não ser citado. Isso traz prejuízos, uma vez que o fator de impacto da revista é avaliado, entre outros parâmetros, pela quantidade de citações obtidas pelos artigos nela publicados.21 A avaliação dos periódicos mostrou que reduzida parcela de revistas apresentou-se com número significativo de publicações, enquanto a maioria delas teve pouca expressividade nesse aspecto, sendo muitas não especializadas em áreas afins ao aleitamento materno. Esses resultados, nos princípios bibliométricos, retomam a Lei de Bradford, em que se percebe menor número de periódicos associados intimamente ao assunto e uma quantidade maior de periódicos não relacionados ao tema.11,13 Na avaliação dos periódicos, proposta pelo CAPES, observam-se classificação e estratificação de revistas a partir de critérios mínimos, diferentemente de outros métodos que utilizam a somatória de pontos, em que notas máximas garantem superioridade do periódico em relação a outros. Embora a avaliação dos periódicos atrelada ao financiamento estabelecido pelo CAPES tenha aumentado o número de publicações, o país ainda possui valores baixos ou pouco “competitivos” em âmbito internacional, em relação ao fator de impacto.22,23 Esse aspecto, provavelmente, está associado a idioma de publicação (português) que tem baixa penetração internacionalmente. Em concordância com outros estudos bibliométricos, o predomínio de publicações de caráter epidemiológico foi evidente e notou-se carência de estudos de análises bioquímicas, laboratoriais e/ou com abordagem envolvendo biologia molecular.24,25 Apesar da notável importância de análises biomoleculares para conhecimento pormenorizado de fatores que interferem na saúde como um todo, estudos epidemiológicos contemplam desde fatores de risco para determinada situação até intervenções clínicas, possibilitando agilidade e resolutividade na assistência.24 Estudos de biologia molecular demandam alto investimento e qualificação profissional na área e existem limitações éticas. Porém, esses estudos podem permitir intervenções mais complexas e individualizadas, sugerindo a necessidade de estudos cruzados, contendo informações de ambos os lados, visto que o ser humano é um ser biopsicossocial. O aumento de produções científicas em determinada área do conhecimento pode levar a um impacto relacionado ao desenvolvimento tecnológico na área e aos menores índices de morbimortalidade.24 Nesse sentido, a publicação de trabalhos sobre aleitamento materno é um ponto importante para melhorar a assistência e, consequentemente, para consolidação da prática da amamentação. O Brasil investe no incentivo ao aleitamento materno desde 1981, com a instituição de um Programa Nacional, que adotou uma variedade de ações. Apesar de a situação da amamentação estar longe da ideal, os avanços conquistados objetivando a expansão da prática no país são irrefutáveis. Esperava-se um número mais significativo de publicações sobre o tema nos últimos cinco anos, uma vez que ainda é necessário grande esforço para que os índices de aleitamento materno estejam compatíveis com a recomendação da OMS.26 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados mostraram relativa homogeneidade para o período estudado. Apesar de a situação do AM estar longe da ideal, foram conquistados avanços relativos à prática no país. Esperava-se um número mais representativo de publicações sobre o tema nos últimos cinco anos, uma vez que ainda é necessário grande esforço para que os índices de aleitamento materno estejam compatíveis com as recomendações. Os resultados do presente estudo devem estimular a condução de novas pesquisas, orientando o desenvolvimento de pesquisas em áreas ainda pouco abordadas. Estratégias de estudos multicêntricos, pouco observadas nesta revisão, também devem ser estimuladas, de modo a promover envolvimento pluri-institucional e maior troca de experiências entre os pesquisadores da área. REFERÊNCIAS 1. Robinson S, Fall C. Infant nutrition and later health: a review of current evidence. Nutrients. 2012; 4(8):859-74. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S17-S22 21 Aleitamento materno nos últimos cinco anos: um estudo bibliométrico 2. Kneepkens CM, Brand PLP. Clinical practice: breastfeeding and the prevention of allergy. Eur J Pediatr. 2010; 169(8):911-7 3. Toma TS, Rea MF. Benefícios da amamentação para a saúde da mulher e da criança: um ensaio sobre as evidências. Cad Saúde Pública. 2008;24( Suppl 2):S235-46. 4. Rea MF. Os benefícios da amamentação para a saúde da mulher: um ensaio sobre as evidências. J Pediatr. 2004; 80(Suppl5):S142-6. 5. Fishman A. The effects of parity, breastfeeding, and infertility treatment on the risk of hereditary breast and ovarian cancer: a review. Int J Gynecol Cancer. 2010; 20(11 Suppl 2):S31-3. 6. Organización Panamericana de la Salud, Organización Mundial de la Salud. Indicadores para evaluar las prácticas de lactancia materna. Washington: OPAS; 1991. 7. Sociedade Brasileira de Pediatria.Departamento de Nutrologia. Manual de orientação: alimentação do lactente, alimentação do pré-escolar, alimentação do escolar, alimentação do adolescente, alimentação na escola. São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia; 2006. 8. Warkentin S,Taddei JAAC,Viana KJ, Colugnati FAB. Exclusive breastfeeding duration and determinants mong brazilian children under two years of age. Rev Nutr. 2013; 26(3):259-69. 9. Figueiredo B, Dias CC, Canário C, Costa RN. Breastfeeding and postpartum depression: state of the art review. J Pediatr. 2013; 89(4):332-8. 10. Parizoto GM, Erdmann AL, Santos EKA, Andrade SR. Produção de teses e dissertação, sobre aleitamento materno, nos programas de pós-graduação em enfermagem. Acta Paul Enferm. 2012; 25(4):632-8. 11. Brizuela EJF. Estudio bibliométrico sobre lactancia materna en las revistas médicas cubanas durante el período 2009-2013. Rev Cuba Inf Cienc Salud. 2014; 25(3):270-84. 12. Klimo P Jr,Venable GT, Khan NR,Taylor DR, Shepherd BA,Thompson CJ, et al. Bibliometric evaluation of pediatric neurosurgery in North America. J Neurosurg Pediatr.2014; 14(6):695-703. 13. Ferreira AGC. Bibliometria na avaliação de periódicos científicos. Rev Ci Inf. 2010; 11(3):1-15. 14. Araújo CA. Bibliometria: evolução histórica e questões atuais. Em Questão. 2006; 12(1):11-32. 22 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S17-S22 15. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-Capes. WebQualis [cited 2014 out 30]. Disponível em: http:// qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam. 16. Salustiano LPQ, Diniz ALD, Abdallah VOS, Pinto RMC. Fatores associados à duração do aleitamento materno em crianças menores de seis meses. Rev Bras Ginecol Obstet. 2012; 34(1):28-33. 17. Caminha MFC, Serva VB, Arruda IKG, Batista Filho M. Aspectos históricos, científicos, socioeconômicos e institucionais do aleitamento materno. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2010; 10(1):25-37. 18. Ministério da Saúde (BR). Guia alimentar para crianças menores de 2 anos. Brasília: Ministério da Saúde; 2005. 19. Ministério da Saúde (BR). II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e Distrito Federal. Brasília: Ministério da Saúde; 2009. 20. Machado MOF, Haas VJ, Stefanello J, Nakano ANS, Sponholz FG. Aleitamento materno: conhecimento e prática. Rev Esc Enferm. 2012; 46(4):809-15. 21. Brandau R, Monteiro R, Braile DM. Importância do uso correto dos descritores nos artigos científicos. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2005; 20(1):445-9. 22. Sola GL, Bonacim CAG. Avaliação bibliométrica de periódicos brasileiros: contrastando a metodologia Qualis-CAPES com o Modelo de Krzyzanowski e Ferreira (1998). Rev Adm. 2013; 6(1):1-17. 23. Oliveira MR, Almeida J. Programas de pós-graduação interdisciplinares: contexto, contradições e limites do processo de avaliação CAPES. Rev Bras Pós-Graduação. 2011; 8(15):37-57. 24. Ronco CS, Paula CC; Padoin SMM, Langendorf TF. Análise da produção científica acerca da atenção ao recém-nascido de baixo peso em UTI. Rev Gaúcha Enferm. 2010; 31(3):575-83. 25. Malavolta EA, Gobbi RG, Mancuso filho JA, Demange MK. Análise crítica das publicações científicas da Revista Brasileira de Ortopedia no período de 2006 a 2010. Rev Bras Ortop. 2013; 48(3):211-5. 26. Venancio SI, Escuder MML, Saldiva SRDM,Giugliane ERJ. A prática do aleitamento materno nas capitais brasileiras e Distrito Federal: situação atual e avanços. J Pediatr. 2010; 86(4): 317-24. ARTIGO DE REVISÃO Atualizações no tratamento de bronquiolite viral aguda Updates on acute bronchiolitis treatment Renata Marcos Bedran1, Maria Beatriz Marcos Bedran2, André Bicalho Lima3, Ana Cristina de Carvalho Fernández Fonseca4, Cláudia Ribeiro de Andrade5, Cristina Gonçalves Alvim6, Laura Maria de Lima Belizário Lasmar7 DOI: 10.5935/2238-3182.20160018 RESUMO Bronquiolite viral aguda consiste em uma afecção viral que acomete lactentes com idade inferior a dois anos, sendo o pico de incidência abaixo de seis meses de vida. O quadro clínico consiste em sintomas de infecção de vias aéreas superiores, que evolui após dois a quatro dias com cansaço, dispneia, taquipneia, além de esforço respiratório. Febre e redução da aceitação da dieta também podem ocorrer. Apneia tem sido relatada em casos graves ou em prematuros. O diagnóstico baseia-se na história clínica e no exame físico, sendo exames complementares reservados quando há suspeita de outros diagnósticos ou de complicações. O tratamento é suportivo, sendo a oxigenoterapia indicada para pacientes com saturação de oxigênio abaixo de 90%. Atualmente, o corticoide oral não tem indicação no tratamento. Broncodilatadores não são indicados de rotina e o uso da salina hipertônica é controverso. O antiviral, ribavirina, tem indicação em casos específicos, devido aos efeitos adversos e ao alto custo. A profilaxia da BVA é fundamental, sendo a lavagem das mãos e o uso de álcool, de máscaras e de luvas essenciais para prevenção da doença. Como medicação profilática, o palivizumabe é indicado apenas em casos selecionados. Palavras-chave: Infecções Respiratórias; Bronquiolite Viral; Bronquiolite Viral/terapia; Solução Salina Hipertônica; Broncodilatadores. 1 Médica Pediatra Pneumologista. Mestre. Professora. Universidade José do Rosário Vellano, UNIFENAS-BH. Preceptora de Pneumologia Pediátrica no Hospital das Clinicas da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. 2 Médica Pediatra Pneumologista. Mestre. Professora. Instituto Metropolitano de Ensino Superior. Belo Horizonte, MG – Brasil. 3 Médico Pediatra Pneumologista. Hospital Mater Dei. Belo Horizonte, MG – Brasil. 4 Médica Pediatra Pneumologista. Mestre. Coordenadora do Programa Criança que Chia da Coordenação da Saúde da Criança e do Adolescente na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Belo Horizonte, MG – Brasil. 5 Médica Pediatra Pneumologista. Doutora. Professora Adjunta II do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. 6 Médica Pediatra Pneumologista. Doutora. Professora Associada do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. 7 Médica Pediatra Pneumologista. Doutora. Professora Associada I do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina UFMG. Coordenadora do Grupo de Pesquisas em Pneumologia Pediátrica da Unidade de Pneumologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. ABSTRACT Acute bronchiolitis consists of a viral infection that affects children younger than 2 years old, with the peak of incidence under 6 months. The clinical disease has symptoms of infection of the upper airway, which develops after 2-4 days with fatigue, dyspnea, tachypnea, and respiratory effort. Fever and reduction of dietary compliance, may also occur. Apnea has been reported in severe cases or premature. The diagnosis is based on clinical history and physical examination, reserved additional tests when there is a suspicion of other diagnoses or complications. Treatment is supportive, the oxygen therapy is indicated for patients with oxygen saturation under 90%. Currently, oral corticosteroids has no indication for the treatment. The use of bronchodilators is not routinely indicated and the use of hypertonic saline is controversial. The use of the antiviral ribavirin is indicated in specific cases because there are adverse effects and high costs. Prophylaxis of bronchiolitis is fundamental, and hand-washing, use of alcohol, use of masks and gloves are essential for disease prevention. The use of palivizumab is indicated in selected cases. Key words: Respiratory Tract Infections; Bronchiolitis, Viral; Bronchiolitis, Viral/therapy; Saline Solution, Hypertonic; Bronchodilator Agents. Instituição: Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte, MG – Brasil Autor correspondente: Renata Marcos Bedran E-mail: [email protected] Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S23-S25 23 Atualizações no tratamento de bronquiolite viral aguda INTRODUÇÃO Bronquiolite viral aguda (BVA) consiste em uma afecção viral que acomete lactentes com idade inferior a dois anos, sendo o pico de incidência abaixo de seis meses de vida. A prevalência é maior durante os meses de outono e inverno. O agente etiológico mais frequente é o vírus respiratório sincicial, seguido pelo rinovírus, parainfluenzae e metapneumovírus. O quadro pode recidivar e mais de um vírus pode ser isolado durante o episódio.1-3 Do ponto de vista fisiopatológico, são descritos inflamação, necrose celular, edema, aumento da produção de muco, além de broncoespasmo que ocorre no epitélio brônquico.2 Os fatores de risco para o desenvolvimento de BVA consistem em prematuridade extrema (idade gestacional inferior a 29 semanas), doença pulmonar crônica (displasia broncopulmonar) e cardiopatia congênita.3 História de contato com paciente resfriado antes do início dos sintomas é muito comum. O período de incubação varia de quatro a cinco dias. O quadro clínico consiste em sintomas de infecção de vias aéreas superiores como congestão nasal e coriza serosa, que evoluem após dois a quatro dias com acometimento das vias aéreas inferiores, sendo observados tosse, taquipneia e esforço respiratório. Febre (temperatura axilar inferior a 39 graus) e redução da aceitação da dieta também podem ocorrer. Apneia tem sido relatada em casos graves ou em prematuros.1 Os achados ao exame físico podem variar, podendo haver roncos, sibilos e/ou crepitações na ausculta pulmonar. Sinais de esforço respiratório podem estar presentes, como tiragem intercostal, batimento de aleta nasal, retração xifoide e balanço toracoabdominal. A taquipneia é achado frequente, e pode haver aumento de tempo expiratório. O diagnóstico baseia-se na história clínica e no exame físico, sendo exames complementares reservados para quando há suspeita de outros diagnósticos ou de complicações. Exames excessivos e desnecessários deixam os pacientes mais irritados, piorando o padrão respiratório, além de não trazer benefícios para o mesmo. A pneumonia é um diagnóstico diferencial importante e deve ser pensada sempre que houver febre alta (temperatura axilar acima de 39 graus centígrados) e de crepitações fixas. 3 Os critérios de internação consistem em apneia, esforço respiratório importante, cianose central, saturimetria persistentemente baixa, freqüência respiratória superior a 70 irpm e problemas sociais ou 24 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S23-S25 dificuldade de acesso rápido a serviço médico, além dos fatores supracitados.3 REVISÃO DA LITERATURA Foi feita revisão da literatura de protocolos, guidelines e das publicações a respeito de BVA nos últimos dois anos e feita comparação principalmente entre os dois guidelines mais estudados.2,3 DISCUSSÃO O tratamento de BVA sempre foi motivo de dúvida e discussão ao longo dos anos. Ele consiste principalmente em medidas de suporte. A oxigenoterapia é a única terapia que é comprovadamente benéfica no tratamento de pacientes com BVA. Alguns autores indicam oxigenoterapia para pacientes com saturação de oxigênio abaixo de 90%, enquanto outros o indicam quando esse valor é abaixo de 92%.2,3 O oxigênio pode ser oferecido na forma umidificada, podendo ser administrado através de cânula nasal, HOOD, máscara facial, máscara com reservatório, dependendo da necessidade de concentrações mais elevadas do mesmo e da aceitação do paciente. A hidratação oral deve ser estimulada, mas se houver indisponibilidade da aceitação oral, sonda enteral ou acesso venoso deve ser providenciado imediatamente. A fisioterapia respiratória não tem indicação rotineira em pacientes com BVA.3 A literatura provou que o uso de corticoide, tanto oral, como inalatório ou venoso, não tem indicação no tratamento de BVA, sendo os riscos maiores que o benefício.1-3 O uso de antibioticoterapia somente será indicado em casos de infecção bacteriana secundária associada. Alguns sinais de alerta são essenciais para se pensar em infecções secundárias, como a necessidade de fração inalada de oxigênio (FiO2) maior que 50%, febre alta (superior a 39 graus centígrados) e piora clínica progressiva, apesar dos cuidados de suporte adequados.3 Nesses casos, a antibioticoterapia deve ser instituída prontamente, após exame físico completo e a realização de exames complementares. Otite média aguda e pneumonia bacteriana são algumas infecções secundárias descritas na literatura em pacientes com BVA. Broncodilatadores não são indicados em todo paciente com BVA, pois na literatura os trabalhos mostram que não há relato de melhora na evolução da doença, na Atualizações no tratamento de bronquiolite viral aguda necessidade de hospitalização ou no tempo de internação, apesar dessa medicação ser muito usada na prática clínica.3 Os casos de pacientes com história pessoal e familiar de atopia devem ser avaliados individualmente. A epinefrina é um agente alfa e beta-adrenérgico, que tem efeito broncodilatador. Alguns estudos são a favor do uso de epinefrina nebulizada em casos graves de BVA, descrevendo melhora nos sintomas, apesar de não afetar a resolução da doença ou necessidade de hospitalização.2 Esses estudos mostram que o a epinefrina nebulizada só pode ser indicada em ambiente hospitalar, reservada para casos graves, conforme assinalado anteriormente. Entretanto, outras pesquisas não acusam melhora clínica com a epinefrina1,3 e não indicam seu uso rotineiro. Atualmente questiona-se o uso da salina hipertônica. Alguns autores referem que a salina a 3% é segura e efetiva na melhora dos sintomas leves a moderados, sendo esse benefício notado com o uso da solução por mais de 24 horas.1,2 Desta forma, ela não seria indicada em dose única ou em urgência, uma vez que o paciente teria que utilizar a medicação no mínimo 24 horas para obter o beneficio. A salina hipertônica teria a função de reidratar a via aérea, restabelecer as propriedades do muco, melhorar o clearance mucociliar, além de reduzir o edema submucoso.4 Entretanto, novos estudos questionam esses benefícios e não se tem indicado a realização de rotina da mesma.3 É importante salientar que a salina hipertônica pode propiciar broncoespasmo, sendo necessário avaliar o uso de broncodilatador associado.2 Não está indicado de rotina o antiviral, ribavirina, devido aos seus efeitos adversos e ao alto custo.2,3 A profilaxia da BVA é fundamental, sendo a lavagem das mãos e o uso de álcool, de máscaras e de luvas essenciais para prevenção da doença. Evitar o contato de lactentes jovens com pessoas doentes é um dos pilares da prevenção da BVA. O anticorpo monoclonal, palivizumabe, é indicado profilaticamente, em casos selecionados. O Ministério da Saúde atualmente indica o uso nos prematuros com idade gestacional inferior a 28 semanas e com menos de um ano durante a sazonalidade, além de crianças com menos de dois anos e diagnóstico de broncodisplasia ou doença cardíaca com repercussão hemodinâmica. A medicação deve ser administrada por cinco meses consecutivos, iniciando um mês antes da sazonalidade. Essa sazonalidade corresponde, na região Sudeste, aos meses de março a julho, sendo, então, indicada a medicação a partir do mês de fevereiro.5 A Tabela 1 compara de forma sucinta as principais medicações descritas para BVA. Tabela 1. Principais medicações descritas para BVA Tabela 1 - Principais medicações descritas para BVA Medicação AAP, 2014 NICE, 2015 Corticoide Não indicado Não indicado Antibiótico Não indicado de rotina Não indicado de rotina Broncodilatador Não indicado de rotina Não indicado de rotina Indicado apenas em casos graves Não indicado de rotina Salina hipertônica Melhora os sintomas de BVA leve a moderada após 24h de uso. Não indicado de rotina Ribavirina Não indicado de rotina Não indicado de rotina Epinefrina nebulizada CONCLUSÕES O tratamento de BVA consiste em medidas suportivas. A única medida que se tem certeza do benefício na BVA é a oxigenoterapia em casos graves, que persiste como efetiva há mais de 40 anos. O tratamento deve ser individualizado, evitando-se o uso excessivo de medicações e procedimentos desnecessários nos lactentes, pois além de não auxiliarem na evolução da doença, deixam o paciente mais ansioso e agitado, piorando ainda mais seu estado clínico. A lavagem das mãos é essencial para prevenir a disseminação viral. REFERÊNCIAS 1. Julie R. Ingelfinger, M.D., H. Cody Meissner, M.D. Bronchiolitis in Children. N Engl J Med 2016;374:62-72., 2. Ralston S. L., Lieberthal A.S., Meissner C. H, et al. Clinical Practice Guideline: The Diagnosis, Management, and Prevention of Bronchiolitis PEDIATRICS Volume 134, Number 5, November 2014, FROM THE AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS 3. Bourke T, Chadwick K, Crimmins G. J. Bronchiolitis: diagnosis and management of bronchiolitis in children, Bronchiolitis in children NICE. Clinical Guideline NG 9, Junho 2015. 4. Linjie Zhang, Raúl A. Mendoza-Sassi,Terry P. Klassen, Claire Wainwright. Nebulized Hypertonic Saline for Acute Bronchiolitis: A Systematic Review. Pediatrics.Volume 136, issue 4, outubro 2015. 5. Ministério da Saúde. Estabelecer a sazonalidade do virus sincicial respiratório no Brasil e oferecer esclarecimentos referentes ao protocolo de palivizumabe. Nota técnica conjunta 05/2015. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S23-S25 25 ARTIGO DE REVISÃO Consenso de asma sob a forma de um mapa conceitual Guidelines of asthma in the form of a concept map Luciana Diniz Gomide1, Paulo Augusto Moreira Camargos1, Cássio da Cunha Ibiapina1 DOI: 10.5935/2238-3182.20160019 RESUMO 1 Médica(o) Pediatra. Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Faculdade de Medicina, Hospital das Clínicas, Grupo de Pneumologia Pediátrica. Belo Horizonte, MG – Brasil. Objetivo: o presente trabalho tem por objetivo apresentar sobre a forma de mapa conceitual o consenso de asma na Pediatria. Métodos: foi realizada a revisão do consenso GINA e apresentaram-se conjuntos de ideias e conceitos sobre o tema sob a forma de um mapa conceitual. Resultados: a asma é definida como doença inflamatória crônica de via aérea inferior. Seu diagnóstico em crianças é clínico e deve basear-se em história de sintomas característicos, exame físico e evidência de limitação variável do fluxo aéreo expiratório. A avaliação da asma baseia-se no controle dos sintomas após o tratamento adequado e na minimização dos riscos futuros que contribuem para a ocorrência de exacerbações e gravidade da sintomatologia. De acordo com nível de controle pode ser classificada em controlada, parcialmente controlada e fora de controle. O tratamento visa ao controle dos sintomas e à redução dos riscos futuros, mormente exacerbações (“crises”). O componente terapêutico não farmacológico fundamenta-se em tentar controlar os fatores de risco potencialmente evitáveis e o tratamento farmacológico é dividido em etapas que variam de um a cinco, com utilização de broncodilatadores de curta ação nas crises além corticoides inalatórios associados ou não a broncodilatadores de longa duração, antagonistas de leucotrienos e ainda anti-IgE na etapa 5. Conclusões: o médico, ao se deparar com uma criança com asma, deve acompanhar periodicamente a sua evolução, verificar os problemas e dificuldades existentes para o tratamento de maneira individualizada, adequando e analisando a resposta terapêutica passo a passo. Palavras-chave: Asma; Formação de Conceito; Consenso; Pediatria. ABSTRACT Instituição: Hospital das Clínicas da UFMG Belo Horizonte, MG – Brasil Autor correspondente: Cássio da Cunha Ibiapina E-mail: [email protected] 26 Objective: the present study aims to present in the form of a conceptual map consensus of asthma in Pediatrics. Methods: the GINA consensus review was performed. Issues and concepts about the theme were presented in the form of a map. Results: Asthma is defined chronic inflammatory disease of the lower airway. The diagnosis of asthma in children is clinical and must be based on a history of characteristic symptoms, physical examination, and evidence of expiratory air flow limitation. The evaluation of asthma is based on symptoms controls after proper treatment and the decrease of future risks that contribute to the occurrence of exacerbations and severity of symptoms. According to level of control can be classified into controlled, partly controlled and out of control. Treatment aims to control symptoms and reduce future risks; non-pharmacological treatment is based on trying to control the potentially avoidable risk factors; The pharmacological treatment is divided into steps ranging from 1 to 5 with use of short-acting bronchodilators for exacerbations, inhaled corticosteroids associated or not with the long-acting bronchodilators; leukotriene antagonists and also anti IgE in step 5. Conclusions: The doctor when faced with a child with asthma should periodically monitor its progress, check the problems and difficulties for the treatment analyzing therapeutic response step by step. Key words: Asthma; Concept Formation; Consensus; Pediatrics. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S26-S30 Consenso de asma sob a forma de um mapa conceitual INTRODUÇÃO DIAGNÓSTICO Mapas conceituais são estruturas esquemáticas que representam conjuntos de ideias e conceitos dispostos em uma espécie de rede de proposições, de modo a apresentar mais claramente a informação e conhecimento que se deseja transmitir e organizá-lo segundo a compreensão cognitiva do seu idealizador. Dessa forma, são representações gráficas que indicam relações entre conceitos e as palavras que a eles correspondem, desde aqueles mais abrangentes até os menos inclusivos.1 Estudos demonstram que um mapa conceitual constitui método de aprendizagem que leva à sedimentação dos conhecimentos a longo prazo. Normalmente, após a construção do mapa conceitual é realizada leitura em voz alta dos conceitos nele incluídos e como a utilização de palavras se conectam a esses conceitos, propiciam um exercício mental que leva à memorização efetiva e duradoura do aprendizado.1 A asma é uma doença heterogênea, geralmente caracterizada por inflamação crônica das vias aéreas. É definida por história de sintomas respiratórios como chiado/chieira, tosse, falta de ar e dor no peito e sensação de opressão torácica, que variam de intensidade e ao longo do tempo, juntamente com limitação variável do fluxo expiratório.2 O Brasil ocupa o oitavo lugar no ranking mundial de ocorrência/ prevalência de asma. Estima-se que nos grandes centros urbanos brasileiros 20% da população pediátrica em idade escolar apresentam sintomas de asma.3 Para dar o devido destaque a essa enfermidade, o Dia Mundial de Combate à Asma é comemorado, mundialmente, na primeira terça-feira do mês de maio, pois seis milhões de brasileiros têm a doença, segundo Pesquisa Nacional de Saúde realizada recentemente pelo Ministério da Saúde em parceria com o IBGE. O presente trabalho tem por objetivo apresentar, sob a forma de mapa conceitual, o tema asma na Pediatria. O diagnóstico de asma em crianças é clínico e deve basear-se em história de sintomas característicos, exame físico e evidência de limitação variável do fluxo aéreo expiratório.2 A maior probabilidade de que o quadro clínico corresponda à asma é quando ocorre mais de um dos sintomas anteriormente mencionados, quando estes se verificam ou pioram à noite e ao despertar, quando são desencadeados ou agravados por vírus, exposição a alérgenos, mudanças climáticas, atividade física, choro, estresse emocional, fumaça de cigarro e odores fortes.4 O exame físico geralmente é normal, porém o achado mais comum é a sibilância, evidenciada durante as “crises” ou fora delas, na fase expiratória da ausculta pulmonar, especialmente diante de uma expiração forçada. É importante salientar que “nem tudo que chia é asma” e a sibilância pode ser encontrada em outras doenças, tais como infecções respiratórias de origem viral ou obstrução endobrônquica de qualquer etiologia, como é o caso da aspiração de corpo estranho.4 Para confirmar a limitação de fluxo de ar pode ser realizada a espirometria ou a verificação do picofluxo expiratório (PFE) antes e após uso de broncodilatador. Na maioria das vezes esses exames revelam redução do volume expiratório final do primeiro segundo (VEF1) e da relação CFV/VEF1 < 90%. Além disso, constata-se ampla variação da função pulmonar, isto é, reversibilidade da broncoconstrição após uso de broncodilatador com o consequente aumento do VEF1, característica marcante dessa enfermidade. Por outro lado, se esse teste for inicialmente negativo, recomenda-se repeti-lo quando o paciente estiver sintomático ou após a interrupção temporária de broncodilatadores. INFLAMAÇÃO A inflamação crônica é decorrente da participação de mastócitos, eosinófilos, células dendríticas e células T. O fenótipo mais comum de asma é o alérgico, com aumento de eosinófilos circulantes e imunoglobulina E, e grande participação de mastócitos e seus produtos nas exacerbações (“crises”).3 AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONTROLE DA ASMA Tal como recomendado na hipertensão arterial ou no diabetes, a avaliação da asma baseia-se no controle dos sintomas após o tratamento adequado e a minimização dos riscos futuros que contribuem para as exacerbações e a gravidade da sintomatologia.3 Basicamente, é avaliada, nas últimas quatro semanas, a necessidade de medicação broncodilatadora para alívio dos sintomas por mais de duas vezes por semana, despertares noturnos desencadeados por tosse e/ou dispneia, sintomas diurnos mais de Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S26-S30 27 Consenso de asma sob a forma de um mapa conceitual duas vezes por semana e limitação para realização de atividades físicas. Classifica-se como “controlado” o indivíduo que não apresentar nenhum desses sintomas, “parcialmente controlado” ou “não controlado” quando da presença de um a dois ou três a quatro desses sintomas, respectivamente (ver Tabela 1). É importante ressaltar que o paciente tem riscos futuros mais elevados para a exacerbação quando é considerado “não controlado”, quando manifesta redução dos valores de VEF1ou PFE, se necessita de intubação orotraqueal durante “crise” anterior, se a técnica inalatória é incorreta e se é baixa a adesão ao tratamento.2 TRATAMENTO E NÍVEL DE CONTROLE DA ASMA Analogamente à hipertensão arterial e diabetes, em doenças crônicas como a asma, o tratamento visa ao controle dos sintomas e à redução dos riscos futuros, mormente exacerbações (“crises”). O componente terapêutico não farmacológico fundamenta-se em tentar controlar os fatores de risco potencialmente evitáveis, quais seja, evitar exposição ao tabaco e aos aeroalérgenos mais comuns (poeira doméstica, por exemplo) e a realização de atividades respiratórias.4 O tratamento farmacológico é dividido em etapas (ver Figura 1), lembrando que antes de progredir para o próximo passo é fundamental avaliar a adesão ao tratamento e à qualidade da técnica inalatória. Na etapa 1 é utilizado apenas broncodilatador de curta duração para aqueles pacientes cuja frequência dos sintomas não excede duas vezes por mês e que não revelam fatores de risco para exacerbações.4 Na etapa 2 utiliza-se o corticoide inalatório (CI) em baixa dose. Na etapa 3 mantém-se dose baixa de CI associada a broncodilatador de ação duradoura (LABA); alternativamente, pode-se usar dose média de CI ou ainda baixa dose de CI combinada com antileucotrieno. Quando, nesta etapa, não se obtiver o controle da sintomatologia, é recomendável encaminhar o paciente ao especialista. Na etapa 4 progride-se para média/alta dose de CI igualmente associado a LABA e, por fim, na etapa 5, acrescenta-se, o anti-IgE (omalizumabe), recurso terapêutico indicado apenas para asma alérgica/ atópica moderada a grave para a qual não se obteve controle com o regime terapêutico previsto na etapa 4. O broncodilatador de curta duração para alívio dos sintomas e/ou nas exacerbações é recomendado em todas as etapas.4,5 Tabela 1 - Gina 2015 box 2.2A Controle dos sintomas Nas últimas 4 semanas, o paciente teve: Bem controlado Parcialmente controlado Não controlado • sintomas diurnos de asma mais de 2 vezes por semana? • despertar noturnos devido asma? • necessidade de medicação para alívio dos sintomas mais de 2 vezes por semana? • limitação de alguma atividade devido à asma? Nenhum desses 1 a 2 desses 3 a 4 desses Figura 1 - GINA 2015 Box 3-5 (parte inferior). 28 Nível de controle dos sintomas de asma Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S26-S30 Acesso à imagem colorida. Consenso de asma sob a forma de um mapa conceitual Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S26-S30 29 Consenso de asma sob a forma de um mapa conceitual A asma é considerada de leve intensidade quando se obtém o controle da sintomatologia com o esquema terapêutico recomendado para as etapas 1 e 2, de moderada intensidade quando o controle é alcançado com medicamentos previstos para a etapa 3 e grave quando requer os medicamentos incluídos nas etapas 4 ou 5. Ademais, é categorizada como contínua, de difícil controle ou, ainda, resistente ao tratamento quando permanece não controlada apesar do emprego do arsenal terapêutico disponível.2 O sucesso do tratamento depende da estreita, contínua e amigável parceria entre médico, paciente e familiares, pois ela resulta em mais satisfação do paciente, melhores resultados clínicos e redução do uso dos recursos do sistema de saúde.6 CONCLUSÃO O médico, ao se deparar com uma criança com asma, deve acompanhar periodicamente a sua evolução, verificar os problemas e dificuldades existentes para o tratamento adequado e analisar a resposta terapêutica, reavaliando-os e adaptando-os às demandas e disponibilidades do paciente e da família. É importante tornar claro para pacientes e familiares 30 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S26-S30 que, apesar da relativa complexidade do tratamento e da falta de resultados imediatos, os conhecimentos e recursos terapêuticos atuais possibilitam ótima qualidade de vida aos pacientes com essa doença. REFERÊNCIAS 1. Ausubel DP.Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva. Lisboa: Plátano Edições Técnicas; 2003. 2. Global Initiative for Asthma-GINA. Dignosis of diseases of chronic airflow limitation: Astthma, COPD and Asthma –COPD overlap Syndrome (ACOS). 2015. [citado em 2016 jun 10]. Disponível em: file:///C:/Users/pccc/Downloads/ACOS_2015.pdf 3. Bisgaard H, Szefler S. Prevalence of asthma-like symptoms in young children. Pediatr Pulmonol. 2007;42:723-8. 4. Pedersen S, Hurd SS, Lemanske RF Jr, Becker A, Zar HJ, Sly PD, Soto-Quiroz M, et al. Global Strategy for the Diagnosis and Management of Asthma in Children 5 Years and Younger. Pediatr Pulmonol. 2011;46:1-17. 5. Boulet LP, FitzGerald JM, Levy ML, Cruz AA, Pedersen S, Haahtela T, Bateman ED. A guide to the translation of the Global Initiative for Asthma (GINA) strategy into improved care. Eur Respir J. 2012 May;39(5):1220-9. doi: 10.1183/09031936.00184511 6. Cabana MD, Slish KK, Evans D, Mellins RB, Brown RW, Lin X, et al. Impact of physician asthma care education on patient outcomes. Pediatrics. 2006 Jun;117(6):2149-57. ARTIGO DE REVISÃO Deficiência de vitamina B12 e fenilcetonúria Vitamin B 12 deficiency and phenylketonuria Daniel E. Schmidt1, Rocksane de Carvalho Norton2, Ana Lucia Pimenta Starling2, Valéria de Melo Rodrigues2, Marcos José Burle Aguiar2, Viviane de Cassia Kanufre3, Michele Rosa Andrade Alves3, Rosangelis Del Lama Soares3 DOI: 10.5935/2238-3182.20160020 RESUMO A fenilcetonúria, doença metabólica hereditária, autossômica recessiva, é a mais frequente das aminoacidopatias. Quando não diagnosticada e tratada precocemente, causa retardo mental grave. Os programas de triagem neonatal transformaram a história natural dessa doença, possibilitando o diagnóstico neonatal e a instituição imediata do tratamento dietético. Atualmente, os pacientes com controle adequado têm vida normal. Nas últimas décadas, alterações nutricionais têm sido relacionadas ao tratamento dietético e aos seus desvios, especialmente após a primeira década de vida. Neste artigo apresenta-se o caso de um adolescente que desenvolveu anemia megaloblástica por deficiente ingestão de vitamina B12 e uma revisão da literatura sobre o tema. 1 Acadêmico do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, Bolsista de extensão do NUPAD/FM/UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. 2 Médica(o) Pediatra. PhD. Professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. 3 Nutricionista. Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. Palavras-chave: Erros Inatos do Metabolismo dos Aminoácidos; Fenilcetonúria/dietoterapia; Anemia Megaloblástica; Deficiência de Vitamina B12. ABSTRACT Phenylketonuria, inherited metabolic disease, autosomal recessive, is the most common of aminoacidopathies. If not diagnosed and treated early, causes severe mental retardation. The newborn screening programs have transformed the natural history of this disease, allowing the neonatal diagnosis and the immediate institution of dietary treatment. Currently, patients with adequate control have normal life. In recent decades, nutritional changes have been related to dietary treatment and its deviations, especially after the first decade of life. In this article we present the case of a teenager who developed megaloblastic anemia due to poor intake of vitamin B12 and a literature review on the topic. Key words: Amino Acid Metabolism, Inborn Errors; Phenylketonuria/diet therapy; Anemia, Megaloblastic; Vitamin B 12 Deficiency. INTRODUÇÃO A fenilcetonúria é uma doença metabólica hereditária, de herança autossômica recessiva, incluída na triagem do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN). Tem incidência variável, sendo aproximadamente de 1:10.000 nascidos vivos na Europa e de 1: 21.000 em Minas Gerais, Brasil. Diversas mutações genéticas se traduzem na deficiência da enzima fenilalanina-hidroxilase, que converte fenilalanina (Phe) em tirosina (Tyr), substrato fundamental à produção de neurotransmissores. O acúmulo de fenilalanina no organismo tem como consequência mais nefasta o retardo mental. O tratamento da fenilcetonúria é dietético, deve ser instituído nos primeiros dias de vida e mantido por toda a vida. Fundamenta-se na exclusão de Instituição: Faculdade de Medicina da UFMG Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad) Belo Horizonte, MG – Brasil Autor correspondente: Rocksane de Carvalho Norton E-mail: [email protected] Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S31-S34 31 Deficiência de vitamina B12 e fenilcetonúria proteínas de origem animal, no controle da ingestão de vegetais e no uso de fórmula especial contendo aminoácidos, vitaminas e minerais e isenta em Phe.1 Lactentes e crianças pequenas, em geral, toleram bem o tratamento da doença. Entretanto, com o avançar da idade, quando o risco de desenvolvimento de manifestações neurológicas irreversíveis é reduzido, há progressiva dificuldade de adesão irrestrita à dieta, mais evidente entre os adolescentes. As transgressões aos esquemas dietéticos prescritos, em quantidade e qualidade, tornam-se mais frequentes. A não adesão ao tratamento pode causar complicações próprias da doença, como dificuldades de concentração e de aprendizado e desvios do estado nutricional, que compreendem o ganho excessivo de peso, associado às transgressões em volume e deficiências nutricionais específicas, relacionadas ao uso irregular da fórmula de aminoácidos ou da prescrição alimentar geral. Entre as carências nutricionais específicas, salientam-se aquelas relacionadas à impossibilidade de ingestão de produtos de origem animal e com uso irregular da fórmula especial, como as deficiências de micronutrientes: cálcio, ferro, selênio, cobre, vitamina B12, ácido fólico e carnitina.2 OBJETIVOS Este artigo teve por objetivo rever a literatura sobre a ocorrência de deficiência de vitamina B12 em pacientes com fenilcetonúria. E também de atualizar o assunto com a finalidade de subsidiar a revisão do protocolo de atendimento aos pacientes e alertar os profissionais de saúde que atuam na área, a partir da análise de caso de um adolescente acompanhado no Ambulatório de Fenilcetonúria do Serviço Especial de Genética do Hospital das Clínicas da UFMG (SEG/HC/UFMG). MÉTODOS Foi realizada revisão do prontuário do paciente procedendo-se à anotação de dados demográficos, clínicos e laboratoriais. O caso clínico foi comparado aos resultados da pesquisa bibliográfica que consistiu em busca, por meio do portal CAPES (www.periodicos.capes.gov.br), nas bases Medline/Pubmed, Scielo e Lilacs, de artigos publicados nos últimos 20 anos, tendo como descritores os termos: vitamina B12 e fenilcetonúria. 32 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S31-S34 RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa bibliográfica não identificou, nas bases Lilacs e Scielo, artigos com os descritores assinalados no período escolhido. A base Medline/Pubmed apresentou 33 publicações, das quais 12 atendiam aos objetivos do estudo. Todos os pacientes com fenilcetonúria, triados pelo PNTN em Minas Gerais, fazem acompanhamento multidisciplinar regular no Ambulatório de Fenilcetonúria do Serviço Especial de Genética do Hospital das Clínicas. Além do acompanhamento nutricional, orientado pelas determinações sistemáticas da fenilalanina sanguínea, os doentes passam por avaliações clínicas e neuropsicopedagógicas com periodicidade variável conforme a faixa etária. O paciente em questão, um adolescente de 13 anos, sexo masculino, havia sido triado pelo Programa de Triagem Neonatal de Minas Gerais (PTN/MG) ao nascimento e era acompanhado no Ambulatório de Fenilcetonúria (SEG/HC/UFMG). Teve ótima adesão ao tratamento dietético durante toda a infância, com consultas regulares, conforme agendamentos. Aos 12 anos, como apresentasse boa tolerância à fenilalanina, com dosagens sanguíneas sempre nos limites toleráveis e intolerância alimentar ao uso da fórmula de aminoácidos, passou à dieta vegetariana exclusiva com complementação oral de cálcio e de ferro. Comparecia regularmente aos retornos, sempre em boas condições clínicas. Entretanto, três meses após o último controle ambulatorial, a mãe percebeu o surgimento de palidez e astenia. Na ocasião, foi levado ao médico em sua cidade e realizou hemograma que revelou anemia (Hb= 3,9g/dL). Recebeu ferro injetável (sacarato de hidróxido de ferro 20 mg/ mL) com melhora da concentração de hemoglobina (Hb=8,8 g/dL). No mês seguinte, entretanto, houve piora da palidez associada à nova redução da concentração de hemoglobina (Hb=5 g/dL). Diante da possibilidade de anemia de outra natureza, que não apenas a deficiência de ferro, em especial de vitamina B12 e ácido fólico, foram solicitadas as determinações dessas vitaminas, cujos resultados foram normais. Entretanto, em decorrência de piora clínica com aparecimento de prostração e febre, além de agravamento laboratorial (Hb=3g/dL), o paciente foi internado na cidade de origem, onde recebeu concentrados de hemácias, com melhora (Hb = 9,9 g/dL). Retornou ao controle médico para consulta de rotina no ambulatório de fenilcetonúria do SEG/HC Deficiência de vitamina B12 e fenilcetonúria UFMG um mês após a alta hospitalar. Na consulta apresentava-se pálido (3+/4+), em estado hiperdinâmico, pressão arterial de 125x60 mmHg, taquicárdico, febril (38,1ºC), com esplenomegalia. Foi encaminhado ao Pronto-Atendimento do Hospital das Clínicas da UFMG para observação clínica e propedêutica de urgência. Realizou exames hematológicos e bioquímicos, além de aspirado de medula óssea, que confirmaram a suspeita clínica de anemia megaloblástica (vitamina B12 <159 pg/dL e ácido fólico normal). Foi iniciada a reposição de cobalamina, com melhora do quadro anêmico. O paciente evoluiu sem intercorrências, teve alta em sete dias e retomou o acompanhamento ambulatorial regular, passando novamente a fazer uso da fórmula especial de aminoácidos e micronutrientes. O tratamento da fenilcetonúria (PKU) tem por princípio a redução da ingestão de fenilalanina. A prescrição dietética compreende a proibição do uso de proteínas de origem animal, a restrição da ingestão de vegetais ricos em fenilalanina e o uso de uma fórmula especial de aminoácidos, vitaminas e minerais, isenta em fenilalanina. Adolescentes e adultos que apresentam formas leves da doença podem ter dieta menos rígida. Entretanto, nesses casos, o acompanhamento nutricional deve ser rigoroso, pelo risco de desenvolvimento de desvios nutricionais, como o excesso de peso ou as deficiências nutricionais específicas. Entre essas, salientam-se as deficiências dos micronutrientes: cálcio, ferro, cobre, selênio e zinco, vitaminas B6 e B12 e ácido fólico.3 A deficiência de vitamina B12 pode se manifestar por sintomas e sinais neurológicos, como paraparesias espásticas, tremores, fala arrastada e febre e/ou anemia megaloblástica.4 A deficiência de vitamina B12 em pacientes com PKU foi descrita pela primeira vez em 1993 por Hanley et al.5. Esses autores descreveram o caso de uma paciente com paraparesia espástica e anemia megaloblástica e demonstraram que 16% dos 37 pacientes fenilcetonúricos avaliados apresentavam deficiência laboratorial da vitamina.5 Estudos posteriores corroboraram as observações de Hanley et al.5. Vugteveen et al.6 destacaram o papel da deficiência funcional da vitamina B12. Esses autores investigaram a prevalência de atividade reduzida de vitamina B12 em fenilcetonúricos de várias idades e em tratamento dietético. Dosaram níveis de ácido metilmalônico (MMA) e de homocisteína (Hcy), que se elevam caso haja deficiência funcional ou quantitativa de vitamina B12. Os pesquisadores encontraram 10,7% dos pacientes com níveis séricos de vitamina B12 reduzidos. Entretanto, em 13,9% dos pacientes os níveis séricos de B12 eram normais, porém com dosagens elevadas de MMA e/ou Hcy, sugerindo deficiência funcional dessa vitamina. Schulpis et al.7 compararam crianças com dietas rígidas a um grupo que não aderia bem ao tratamento e concluíram que aquelas em dietas estritas tinham menores concentrações de vitaminas B6, B12 e de ácido fólico, resultando em moderada hiper-homociteinemia. Os autores sugeriram a introdução das dosagens desses nutrientes no protocolo de atendimento dos pacientes.7 Conclusões semelhantes foram recentemente publicadas por Procháskova et al.8 em estudo desenvolvido com pacientes adultos.Robinson et al.9, em coorte de 83 pacientes, encontraram níveis séricos de vitamina B12 abaixo do valor de referência em 12,1% dos casos. Entre esses, somente um apresentava volume corpuscular médio aumentado. Crujeiras et al.10, avaliando pacientes adultos com PKU, evidenciaram que apenas aqueles malcontrolados relatavam deficiência de vitamina B12, mas não de ácido fólico. O paciente em tela, embora sem manifestações neurológicas típicas 11, manifestava hipoatividade, febre – sinal pouco relatado nos casos dessa hipovitaminose12 – e anemia grave refratária ao tratamento com ferro. Uma primeira dosagem de vitamina B12 mostrou-se normal, mas o acompanhamento clínico e laboratorial evidenciou tratar-se de deficiência dessa vitamina, corroborando o que é descrito na literatura. CONCLUSÃO O caso descrito e dados recentes da literatura sugerem que os pacientes com fenilcetonúria, além do acompanhamento das concentrações de fenilalanina, devem ser monitorados quanto a outras variáveis bioquímicas que podem estar alteradas em decorrência das características dietéticas adotadas, independentemente da adesão declarada à dieta prescrita, pela possibilidade de desvios nutricionais silenciosos ou não, mas que podem ter repercussões orgânicas. REFERÊNCIAS 1. Camp KM, Parisi MA, Acosta PB, Berry GT, Bilder DA, Blau N, et al. Phenylketonuria scientific review conference: state of the science and future research needs. Mol Genet Metab. 2014; 112:87-122. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S31-S34 33 Deficiência de vitamina B12 e fenilcetonúria 2. Freitas O, Izumi C, Lara MG, Greene LJ. New Approaches to the Treatment of Phenylketonuria. Nutr Rev. 1999; 57(3): 65-70. 3. Robert M, Rocha JC, van Rijn M, Ahring K, Bélanger-Quintana A, MacDonald A, et al. Micronutrient status in phenylketonuria. Mol Genet Metab. 2013;110: S6-17. 4. Hanley WB, Feigenbaum AS, Clarke JT, Schoonheyt WE, Austin VJ. Vitamin B12 deficiency in adolescents and young adults with phenylketonuria. Eur J Pediatr. 1996; 155(S1):145-7 9. Robinson M, White FJ, Cleary MA, Wraith E, Lam WK, Walter JH. Increased risk of vitamin B12 deficiency in patients with phenylketonuria on an unrestricted or relaxed diet. J Pediatr. 2000; 136(4):545-7. 5. Hanley WB, Feigenbaum A, Clarke JTR, Schoonheyt W, Austin V. Vitamin B12 deficiency in adolescents and young adults with phenylketonuria. Lancet, 1993; 342(8877): 997-7. 10. VitaCrujeiras V, Aldámiz-Echevarría L, Dalmau J, Vitoria I, Andrade F, Roca I, et al. . Vitamin and mineral status in patients with hyperphenylalaninemia. Mol Genet Metab. 2015; 115(4):145-50. 6. Vugteveen I, Hoeksma, M, Monsen, AB, Fokkema, RM, Reijngoud, D-J, Van Rijn M, Van Spronsen JF.Serum vitamin B12 concentrations within reference values do not exclude functional vitamin B12 deficiency in PKU patients of various ages. Mol Genet Metab. 2011 Jan; 102(1):13-7. 11. Walter JH.Vitamin B12 deficiency and phenylketonuria. Mol Genet Metabol. 2011; 104: S52-4. 7. Schulpis KH, Karikas GA, Papakonstantinou E. Homocysteine and other vascular risk factors in patients with phenylketonuria on a diet. Acta Paediatr. 2002 Aug; 91(8):905-9 34 8. Procházková D, Jarkovský J, Haňková Z, Konečná P, Benáková H,Vinohradská HMikušková A. Long-term treatment for hyperphenylalaninemia and phenylketonuria: a risk for nutritional vitamin B12deficiency? J Pediatr Endocrinol Metab. 201; 28:1327-32. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S31-S34 12. Mishra VA, Harbada R, Sharma A.Vitamin B12 and vitamin d deficiencies: an unusual cause of fever, severe hemolytic anemia and thrombocytopenia. J Family Med Prim Care, 2015; 4(1):145-8. ARTIGO DE REVISÃO Doença inflamatória intestinal na infância Intestinal Inflamatory disease in childood Maria do Carmo Barros de Melo1, Bárbara Fonseca Gazzinelli2, Ana Paula Pereira de Oliveira3, Alexandre Rodrigues Ferreira1, Eleonora Druve Tavares Fagundes 4, Júlio Rocha Pimenta5, Thaís Costa Nascentes Queiroz6, Catharina Wagner Giannini7 DOI: 10.5935/2238-3182.20160021 RESUMO A incidência da doença inflamatória intestinal (DII) tem aumentado nos países ocidentais nos últimos anos. Classicamente ela é dividida em doença de Crohn e colite ulcerativa. As manifestações clínicas mais comuns são a dor abdominal, diarreia, perda de peso e sangue nas fezes. A inflamação intestinal reduz a absorção de nutrientes. Manifestações extraintestinais podem estar presentes. Deve ser realizada a pesquisa de imunodeficiência primária em crianças com diagnóstico de DII antes dos dois anos de idade. Os exames laboratoriais devem incluir triagem de inflamação aguda e/ou crônica, avaliação de anemia e estado nutricional. Exames endoscópicos e de fezes são necessários, principalmente antes do início do tratamento. O seguimento ambulatorial e a solicitação de exames complementares devem ser criteriosos. O tratamento é difícil por se tratar de uma doença crônica, com fases de recidiva e remissão. Os medicamentos apresentam efeitos adversos, algumas vezes graves. A visão mais atual da terapia da DII baseia-se na modificação da história natural da doença, com o objetivo de alcançar cicatrização da mucosa, redução das complicações da doença e melhora da qualidade de vida do paciente. É fundamental acompanhar o crescimento linear, o desenvolvimento muscular, esquelético e puberal. O pediatra geral deve estar atento para o diagnóstico, solicitando os exames complementares e avaliando a necessidade de encaminhamento para um gastroenterologista pediatra. Palavras-chave: Doença de Crohn; Proctocolite; Crianças; Adolescentes. ABSTRACT The incidence of inflammatory bowel disease in the Western countries has increased in recent years. Classically it is divided into Crohn’s Disease and Ulcerative Colitis. The most common clinical manifestations are abdominal pain, diarrhea, weight loss and blood in the stool. The intestinal inflammation reduces the absorption of nutrients, which increases susceptibility to micronutrient deficiency. extra-intestinal manifestations may be present. Primary immunodeficiency research in children diagnosed with IBD before two years of age should be performed. Laboratory tests should include screening of acute and/or chronic, evaluation of anemia and nutritional status. Endoscopic examinations and feces are needed, especially before the start of treatment. Outpatient follow-up and complementary tests should be judicious. Treatment is difficult because it is a chronic disease with phases of relapse and remission. The drugs have adverse effects sometimes severe. The most current view of IBD therapy is based on the modification of the natural history of the disease, with the goal of achieving mucosal healing, reducing complications of the disease and improve the patient’s quality of life. It is essential to monitor the linear growth, muscle development, skeletal and pubertal. The general pediatrician should be aware of the diagnosis, requesting additional examinations and evaluating the need for referral to the pediatric gastroenterologist. Key words: Crohn Disease; Proctocolitis; Child; Adolescent. 1 Médica Pediatra. Doutora. Professora Associada do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG; Membro do Grupo de Gastroenterologia Pediátrica do Departamento de Pediatria Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. 2 Médica Pediatra. Residente de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG. Membro do grupo de Gastroenterologia Pediátrica do Departamento de Pediatria e Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. 3 Médica .Gastroenterologista Pediatra. Membro do Grupo de Gastroenterologia Pediátrica, do Departamento de Pediatria e Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. 4 Médica Pediatra. Professora Adjunta do Departamento de Pediatria da Faculdde de Medicina da UFMG, Membro do Grupo de Gastroenterologia Pediátrica do Departamento de Pediatria e Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. 5 Médica, Gastroenterologista Pediatra. Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. 6 Médica Pediatra. Doutoranda em Saúde da Criança e Adolescente da Faculdade de Medicina da UFMG, membro do Grupo de Gastroenterologia Pediátrica do Departamento de Pediatria e Hospital das Clínicas da UFMG. Belo Horizonte, MG – Brasil. 7 Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da UFMG. Bolsista de Iniciação Científica pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG. UFMG, Belo Horizonte, MG – Brasil. Instituição: Hospital das Clínicas da UFMG Belo Horizonte, MG – Brasil Autor correspondente: Maria do Carmo Barros de Melo E-mail: [email protected] Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S35-S44 35 Doença inflamatória intestinal na infância INTRODUÇÃO A doença inflamatória intestinal (DII) apresenta-se como um processo inflamatório no trato intestinal, com períodos de exacerbação e remissão. É classicamente definida como doença de Crohn (DC) e colite ulcerativa (RCU).1-3 Apesar das semelhanças, essas duas doenças podem ser diferenciadas por suas características clínicas, endoscópicas e histológicas.2,3 A DC tem origem desconhecida, multifatorial, com acometimento assimétrico e transmural de qualquer porção do tubo digestivo, da boca ao ânus. Apresenta-se em três formas: inflamatória, fistulosa e fibroestenosante.4 A RCU é doença idiopática com episódios recorrentes de inflamação e que acomete predominantemente a camada mucosa do reto e também várias porções do cólon, em geral de forma contínua.5 Atualmente, é categorizado um outro subgrupo de DII: a colite indeterminada (CI), cuja definição é uma colite grave com características sobrepostas de RCU e DC.2 Nas últimas décadas houve significativo aumento na incidência nas populações ocidentais.6 A maioria dos dados sobre epidemiologia na infância foi publicada na Europa e Estados Unidos, com escassez de informações da Ásia, África e América do Sul.6,7 Na Unidade de Gastroenterologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Brasil, é registrado aumento progressivo na casuística de DII.3 Braegger et al. (2011) realizaram estudo na Suíça com 1.688 pacientes pediátricos e adultos, entre novembro de 2006 e maio de 2010, sugerindo aumento global da incidência dessas doenças.6 Em revisão sistemática sobre tendências internacionais da DII na faixa etária pediátrica foram demonstradas taxas crescentes de DII.7 A DII pode estar presente em qualquer idade, sendo 5% em menores de cinco anos e apenas 15% dos adultos são maiores de 60 anos ao diagnóstico.1 Diagnóstico na infância ou adolescência ocorre em 15 a 20% do total de pacientes.8 A incidência de DC em crianças e adolescentes é de aproximadamente três casos/100.000 pessoas e envolve até 20% de todos os pacientes antes dos 18 anos de idade.9 Wilson et al. (2010) relataram que a DC manifesta-se na infância ou adolescência em até 25% dos pacientes e a RCU ocorre antes dos 20 anos de idade entre 15 e 40% dos casos.10 Estudo prospectivo nacional de DII em crianças menores de 16 anos realizado no Reino Unido mostrou incidência de 5,2 casos/100.000 indivíduos por ano (60%, DC; 28%, RCU; e 12%, CI).1 Estudo realizado na Itália (2010) mostra idade média ao diagnóstico de 10,5 anos entre crianças e 36 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S35-S44 28,2 anos entre adultos.8 Sandhu et al. (2010) detectaram idade média de 11,9 anos.1 Estudo retrospectivo (2008) realizado em Londres com 210 pacientes demonstrou predomínio do sexo masculino em crianças com DC, enquanto que na RCU houve equivalência.11 QUADRO CLÍNICO A apresentação clínica das DIIs pode ser muito variável, dependendo da localização, gravidade e cronicidade da doença. Os sintomas mais comuns são diarreia e dor abdominal, que são observadas em 50 a 90% dos pacientes com DC e RCU.12 O sangramento retal é o sintoma mais comum da RCU. Na DC, os sintomas mais frequentemente relatados são: dor abdominal, diarreia, anemia, febre, perda de peso e atraso do crescimento. A doença perineal (fístulas e plicomas) e a perda de peso são mais observadas na DC. No entanto, há importante sobreposição dos sintomas de apresentação de ambas as doenças, como se pode ver na Tabela 1.13 Tabela 1 - Principais sintomas de apresentação da DII em crianças e adolescentes Classificação da DII (% dos pacientes) Sintomas de Apresentação Doença de Crohn Colite Ulcerativa Geral - Perda de peso - Febre 55-80 31-38 38 Não disponível - Anorexia 2-25 6 - Atraso do crescimento 3-4 0 13-27 2-12 - Dor abdominal 67-86 43-62 - Diarreia 30-78 74-98 - Sangramento retal 22-49 83-84 6 <1 1 0 - Letargia Gastrointestinal - Náusea/vômitos - Constipação - Doença perianal 6-15 0 - Úlceras orais 5-28 13 Adaptado de: Rosen MJ, Dhawan A, Saeed SA. Inflammatory Bowel Disease in Children and Adolescents. JAMA Pediatr. 2015;169(11):1053-1060.13 A DII na faixa etária pediátrica costuma ter fenótipo mais grave do que nos adultos. Além disso, deve-se dar atenção às importantes consequências de uma doença crônica (redução da densidade mineral óssea, impacto emocional e atraso da puberdade e Doença inflamatória intestinal na infância do crescimento), que acarretam grandes prejuízos ao adequado desenvolvimento das crianças.14,15 As manifestações extraintestinais podem estar presentes ao diagnóstico. As mais comuns são: hepáticas (hepatite autoimune e colangite esclerosante primária), dermatológicas (eritema nodoso e pioderma gangrenoso), oftalmológicas (uveite, episclerite, irite), renal (nefrolitíase), hematológicas (anemia e tromboembolismo venoso) e musculoesqueléticas (artrite, artralgia, atraso do crescimento, osteopenia, osteoporose, espondilite anquilosante).12,13 A inflamação intestinal reduz a absorção de nutrientes, o que aumenta a suscetibilidade à deficiência de micronutrientes, principalmente ferro, zinco, vitamina B12, folato, vitamina D e cálcio.12 EXAMES DIAGNÓSTICOS Os exames laboratoriais devem incluir triagem de inflamação aguda e /ou crônica, avaliação de anemia e estado nutricional.16 A triagem inicial inclui: hemograma completo, velocidade de hemossedimentação (VHS), proteína C reativa (PCR), enzimas hepáticas (ALT, GGT, FA, AST) e bilirrubinas, amilase ou lipase, albumina, anticorpo anti-Saccharomyces cerevisiae (ASCA), anticorpo antineutrófilo citoplasmático perinuclear (pANCA), endoscopia digestiva alta (EDA), colonoscopia e exames de imagem.13 Além desses, as fezes devem ser coletadas para a realização de: calprotectina ou lactoferrina fecal; pesquisa de Salmonella, Shigella, Campilobacter, Yersinia, Eschericia coli 0157, Clostridium difficile, sangue oculto; exame parasitológico com Merthiolate-Iodo-Formol (MIF) em três amostras coletadas em dias alternados e pelo método de Baermann Moraes (fezes recém-emitidas).12 A redução dos níveis de hemoglobina, elevação de marcadores inflamatórios (VHS, PCR e plaquetas) e redução de albumina são sugestivas de DII. VHS ou PCR aumentados são mais comuns na DC do que na RCU, mas valores normais não excluem o diagnóstico de DII. Mais de 25% das crianças têm VHS normal no momento do diagnóstico, especialmente na RCU leve.12,17,18,19 A calprotectina fecal é um marcador inflamatório intestinal positivo em até 95% dos pacientes com DII ao diagnóstico, sendo superior aos marcadores de inflamação sanguíneos. No entanto, não distingue entre as diferentes causas de inflamação intestinal (DII ou infecção) ou a forma da DII (RCU ou DC) ou o sítio da inflamação (intestino delgado ou cólon) e pode ainda estar positivo em crianças saudáveis. Exerce papel importante também para o seguimento dos pacientes, avaliação da resposta ao tratamento e detecção de recidivas.20 Os principais marcadores sorológicos são o ASCA e o pANCA, sendo o primeiro mais comum na DC (50-70% dos pacientes) e o segundo na RCU (60-70% dos pacientes). A ileocolonoscopia e a EDA com biópsias são ainda o padrão-ouro para o diagnóstico de DII.13 É recomendada a realização de biópsias durante a colonoscopia em íleo e cinco partes do cólon, incluindo o reto, sendo duas amostras de cada local. A realização da EDA é importante, mesmo na ausência de sintomas do trato gastrointestinal alto, para a pesquisa de alterações que possam sugerir DC. A apresentação clássica da RCU ao exame endoscópico é a inflamação contínua da mucosa do cólon que se inicia no reto, sem o envolvimento do intestino delgado e sem granulomas na biópsia. Pode haver lesão em mucosa ileal, chamada de ileíte de refluxo. As principais características macroscópicas são: eritema, granularidade, friabilidade, exsudato purulento e úlceras pequenas e superficiais. Ilhas de mucosa hiperplásica inflamada (pseudopólipos) podem ser vistas entre a mucosa ulcerada. Na RCU a histologia geralmente apresenta criptite, distorção da arquitetura das criptas, abscesso de cripta e células inflamatórias em lâmina própria. A DC apresenta-se macroscopicamente como úlceras lineares ou aftosas, principalmente em cólon ou íleo, podendo envolver qualquer parte do trato gastrointestinal. São características que sugerem fortemente DC: lesões salteadas ou em trato digestivo alto, estenose de intestino delgado, inflamação de íleo sem o envolvimento colônico, aspecto de cobblestone (pedras de calçamento) ou úlceras serpentinosas profundas. Granulomas não caseosos podem ocorrer em linfonodos, peritônio, fígado e em todas as camadas da parede do intestino. Apesar de patognomônicos quando presentes, os granulomas podem estar ausentes em até 50% dos pacientes. Os principais achados histopatológicos da DC são: inflamação focal (não contínua) crônica (com linfócitos e plasmócitos), irregularidades de criptas focais e granulomas.21 O intestino delgado é o segmento do trato gastrointestinal menos acessível por estudos endoscópicos, o que torna a avaliação por métodos de imagem especialmente importante e permite ainda a detecção de complicações como fístulas, abscessos e estenoses.13 A ultrassonografia abdominal é útil como triagem inicial devido ao baixo custo e ampla disponibilidade.16 O trânsito intestinal ainda é muito utilizado e, apesar de menos sensível e específico, é capaz de detectar afinaRev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S35-S44 37 Doença inflamatória intestinal na infância mento da parede intestinal, irregularidade, ulcerações, estenoses e fístulas.17 Exames de imagem como enterotomografia e enterorressonância, mais acessíveis atualmente, permitem análise mais detalhada da parede intestinal, identificando-se toda a sua espessura e luz. Fornecem informações sobre extensão e gravidade do acometimento intestinal, além de permitir a diferenciação de estenose por doença ativa ou fibrose. A enterotomografia e a enterorressonância são exames importantes para auxiliar no diagnóstico e acompanhamento da doença de Crohn. Em comparação com o trânsito de intestino delgado, esses exames apresentam sensibilidade e especificidade superiores. A ressonância tem a vantagem de não expor a criança à radiação ionizante. Deve ser realizada a pesquisa de imunodeficiência primária em crianças com diagnóstico de DII antes dos dois anos de idade.21 O Pediatric Crohn’s Disease Activity Index (PCDAI) – Tabela 2 – é um escore validado baseado em sintomas, parâmetros bioquímicos, exame clínico e crescimento.18,19,22 O Pediatric Ulcerative Colitis Activity Index (PUCAI) – Tabela 3 – é um escore da atividade clínica da RCU validado para a Pediatria.23 As recomendações para periodicidade dos exames complementares no seguimento da DII e para o acompanhamento ambulatorial estão inseridas nas Tabelas 4 e 5, respectivamente. Tabela 2 - Índice de atividade de DC em pediatria Pediatric Crohn’s Disease Activity Index (PCDAI) Pontos Dor abdominal Item Pontos Evacuações 0-1 líquidas, sem sangue 0 2-5 líquidas ou até 2 semiformadas com pequena quantidade de sangue 5 Sangramento intenso, > 6 evacuações líquidas ou diarreia noturna 10 Peso Ganho de peso ou perda de peso voluntária 0 Perda de peso involuntária 1-9% 5 Perda de peso involuntária > 10% 10 Estatura (ao diagnóstico) / velocidade de crescimento (seguimento) <1 canal de percentil de decréscimo/ ≥-1 desvio-padrão 0 ≥1 a <2 canais de percentil de decréscimo / <-1 e >-2 desvio-padrão 5 > 2 canais de percentil de decréscimo/ ≤ -2 desvio-padrão 10 Sem sensibilidade abdominal, sem massa 0 Sensibilidade abdominal ou massa sem sensibilidade abdominal 5 Sensibilidade abdominal, defesa involuntária, massa de contornos definidos 10 Doença perianal Nenhuma, plicoma assintomático 0 1-2 fístulas indolentes, drenagem escassa, sem sensibilidade 5 Fístula ativa, drenagem, sensibilidade ou abscesso 10 Manifestações extraintestinais (febre ≥38,5°C por 3 dias na última semana, artrite, uveíte, eritema nodoso, pioderma gangrenoso) 0 0 1 5 ≥2 10 Hematócrito < 10 anos 11-19 anos (menina)11-14 anos (menino) 15-19 anos (menino) ≥33%≥34% ≥35% ≥37% 0 Nenhuma 0 28-32%29-33% 30-34% 32-36% 2,5 Leve (episódios rápidos, não interfere nas atividades diárias) 5 <28%<29% <30% <32% 5 Moderada/grave (frequente/persistente, interfere nas atividades diárias) 10 VHS ≤20 mm/hr Funcionalidade do paciente/ Bem-estar geral (última semana) 20-50 mm/hr Nenhuma limitação / bem 0 Dificuldades ocasionais em manter atividades adequadas para a idade/ Abaixo da média 5 Albumina Limitações frequentes das atividades/ muito ruim 10 ≥3,5 g/dL >50 mm/hr 0 2,5 5 0 Evacuações 3,1-3,4 g/dL 5 0-1 líquidas, sem sangue 0 ≤3,0 g/dL 10 2-5 líquidas ou até 2 semiformadas com pequena quantidade de sangue 5 Sangramento intenso, > 6 evacuações líquidas ou diarreia noturna Soma dos pontos do PCDAI: 0-100: < 10 pontos: doença sem atividade; 11-30 pontos: doença leve; ≥ 31 pontos: doença moderada/grave 10 Continua... 38 Tabela 2 - Índice de atividade de DC em pediatria Pediatric Crohn’s Disease Activity Index (PCDAI) Abdome SEGUIMENTO DOS PACIENTES Item ... continuação Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S35-S44 Adaptado de: Hyams JS, Ferry GD, Mandel FS, Gribosky JD, Kibort KM, Kirschner BS, et al. Development and validation of a pediatric Crohn’s disease activity index. J Pediatr Gastroenterol Nutr.1991;12:439-447.19 Doença inflamatória intestinal na infância Tabela 3 - Índice de atividade de colite ulcerativa na faixa etária pediátrica Pediatric Ulcerative Colitis Activity Index (PUCAI) Item Pontos Dor abdominal Nenhuma 0 Dor pode ser ignorada 5 Dor não pode ser ignorada 10 Sangramento retal Nenhum 0 Pequena quantidade (<50% das evacuações) 10 Pequena quantidade na maioria das evacuações 20 Grande quantidade (> 50% do conteúdo das evacuações) 30 Consistência da maioria das fezes Formadas 0 Parcialmente formadas 5 Completamente não formadas 10 Número de evacuações em 24 horas 0-2 0 3-5 5 6-8 10 >8 15 Evacuações noturnas (qualquer episódio causando o despertar) Não 0 Sim 10 Nível de atividade Sem limitação da atividade 0 Limitação ocasional da atividade 5 Restrição grave da atividade 10 Soma dos pontos do PUCAI: 0-85 < 10 pontos: doença em remissão; 10-34 pontos: doença leve; 35-64 pontos: doença moderada; ≥ 65 pontos: doença grave Adaptado de: Turner D, Levine A, Escher JC, Griffiths AM, Russel RK, Dignass A, et al. Management of Pediatric Ulcerative Colitis: Joint ECCO and ESPGHAN Evidence-based Consensus Guidelines. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2012; 55(3): 340-361.23 TRATAMENTO O tratamento é difícil por se tratar de uma doença crônica, com fases de recidiva e remissão. Os medicamentos apresentam efeitos adversos, algumas vezes graves. A visão mais atual da terapia da DII baseia-se na modificação da história natural da doença, com o objetivo de alcançar cicatrização da mucosa, redução das complicações da doença e melhora da qualidade de vida do paciente. É fundamental acompanhar o crescimento linear, o desenvolvimento muscular, esquelético e puberal do paciente.15,21,23-25 A escolha da terapia medicamentosa é influenciada pelo tipo de doença, sua localização e gravidade. A maioria dos pacientes recebe o esquema tradicional sequencial (step-up), partindo de medicações menos agressivas para mais agressivas, conforme a resposta clínica de cada criança, deixando como última opção a terapia com antiTNF (infliximabe e adalimumabe) para pacientes corticodependentes, corticorresistentes, intolerantes ou com má-resposta ao tratamento com imunossupressores.21 Entretanto, estudos vêm mostrando que pode ser mais efetivo o uso do antiTNF na imunomodulação da doença em estágios iniciais da DII.21 Ultimamente vem-se discutindo as vantagens e desvantagens da inversão do esquema tradicional sequencial (step-up), iniciando-se com medicações mais agressivas, em uma terapia denominada descendente (top-down).21,26 A avaliação de estado vacinal antes de iniciar o tratamento medicamentoso com imunossupressor ou biológico é fundamental. Deve-se atualizar todas as vacinas, principalmente as de vírus vivo atenuado, pelo menos três semanas antes do início do tratamento.21,27 Tabela 4 - Recomendações para periodicidade dos exames complementares no seguimento da DII Exame Pré-tratamento Recomendação NAS-PGHAN Sim A critério médico como marcadores de atividade subclínica Não especificado Hemograma com contagem de plaquetas Sim - Todos os pacientes: a critério médico como marcador de atividade subclínica1 - Terapia imunomoduladora: inicialmente semanal e progressivamente mais espaçado até 3 meses - Terapia antiTNF: 3-6 meses - Terapia com aminossalicilatos: a cada 4 meses em nefropatas ou que utilizem medicação nefrotóxica - Terapia imunomoduladora: semanalmente no primeiro mês, quinzenalmente no segundo e terceiro meses e, após, mensalmente e quando houver mudança de dose. Urina rotina Sim - Terapia com aminossalicilatos: anual - Terapia com aminossalicilatos: a cada 4 meses em nefropatas ou que utilizem medicação nefrotóxica - Terapia com aminossalicilatos: semestral ou anual - Terapia com aminossalicilatos: a cada 4 meses em nefropatas ou que utilizem medicação nefrotóxica - Terapia com metotrexato: a cada 2 meses - Terapia com ciclosporina: a cada 15 dias durante os primeiros 3 meses de uso e, após, mensalmente se o paciente estiver estável. PCR e VHS Creatinina sérica Sim Recomendação Ministério da Saúde Continua... Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S35-S44 39 Doença inflamatória intestinal na infância ... continuação Tabela 4 - Recomendações para periodicidade dos exames complementares no seguimento da DII Exame Pré-tratamento Recomendação NAS-PGHAN Recomendação Ministério da Saúde Sim - Todos os pacientes: anual ou semestral - Terapia imunomoduladora: inicialmente semanal e progressivamente mais espaçado até 3-4 meses - Terapia imunomoduladora: a cada 3 meses ou a cada 2 meses em caso de uso de metotrexato - Terapia antiTNF: antes de cada dose 25-OH Vitamina D - Todos os pacientes: anual Não especificado Vit. B12 e ácido fólico - Todos os pacientes: Anual Não especificado Sim Antes de iniciar terapia antiTNF; avaliar individualmente a necessidade de monitoração anual conforme o risco do paciente Antes de iniciar terapia antiTNF Sim - Todos os pacientes: ao diagnóstico (preferencialmente corpo inteiro, exceto crânio). Repetir no mínimo após 6 meses em caso de alterações e/ou em casos graves e/ou em caso de uso prolonga-do de corticoides Não especificado Enzimas hepáticas (AST, ALT, FA, GGT) e bilirrubinas PPD e/ou Radiografia de tórax Densitometria óssea DXA - Todos os pacientes: após 7 a 10 anos do diagnóstico inicial, realizar colonoscopia anualmente ou a cada dois anos Colonoscopia com biópsia Fontes: Rufo PA, Denson LA, Sylvester FA, Szigethy E, Sathya P, Lu Y, et al. Health Supervision in the Management of Children and Adolescents With IBD: NASPGHAN Recommendations. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2012;55(1):93-108.12 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria SAS/MS nº 966, de 2 de outubro de 2014. Doença de Crohn: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. Brasília.4 Tabela 5 - Recomendações para periodicidade dos exames complementares no seguimento da DII Parâmetro Pré-tratamento Frequência/Intervalo Consultas Sim - 4 a 12 meses para DII leve ou em tratamento com aminossalicilatos - 3 a 6 meses para pacientes em remissão em tratamento com imunossupressores Observação De acordo com a avaliação clínico-laboratorial Peso, altura e IMC Sim Todas as consultas Verificar ganho de peso e crescimento Pressão arterial Sim Anual Aferir com maior frequência em pacientes recebendo medicações nefrotóxicas (aminossalicilatos, corticosteroides, imunossupressores) Estágio de Tanner Frequência individualizada De acordo com a idade, a atividade da doença e o dé-ficit de crescimento Avaliação oftalmológica Coletar dados da anamnese Realizar consulta com oftalmologista a cada 1 a 2 anos Rastreio câncer de pele Todas as consultas Por meio da anamnese e do exame físico Fonte: Rufo PA, Denson LA, Sylvester FA, Szigethy E, Sathya P, Lu Y, et al. Health Supervision in the Management of Children and Adolescents With IBD: NASPGHAN Recommendations. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2012; 55(1):93-108.12 A terapia para DII tem evoluído rapidamente na última década. Há muitos novos agentes biológicos sob investigação e novos alvos farmacológicos sendo testados, o que pode mudar de forma relevante as estratégias terapêuticas num futuro próximo.27 O resumo das opções terapêuticas atuais encontra-se na Tabela 6. Doença de Crohn Terapia de indução O consenso de 2014 da European Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN)/Sociedade Europeia de Gastroenterolo- 40 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S35-S44 gia, Hepatologia e Nutrição) sobre DII recomenda a nutrição enteral exclusiva (NEE) como terapia de primeira linha para induzir remissão em crianças com DC luminal ativa, mesmo nos pacientes com acometimento do cólon. Pesquisas evidenciam melhora da evolução nos pacientes em uso da NEE, ocorrendo cicatrização da mucosa, restauração da densidade mineral óssea e melhora do crescimento. No entanto, não existem dados concretos sobre a eficácia da NEE na pancolite isolada grave em pacientes com DC ou na doença oral ou perianal isoladas.15 A duração da NEE como terapia de indução é geralmente de seis a oito semanas. Tratamento alternativo deve ser considerado se não se obtiver resposta clínica em duas semanas.15 As fórmulas elementares e Doença inflamatória intestinal na infância as poliméricas foram igualmente efetivas na indução da remissão da criança com DC.15,21 A dieta deve ser administrada por via oral, com fórmulas poliméricas. Tabela 6 - Tipos de medicamentos, doses recomendadas para o tratamento da DII na faixa etária pediátrica Medicamento Dose Aminossalicilatos (5-ASA) – Indução e manutenção Sulfassalazina Comp. gastrorresistente 500 mg Mesalazina Comp. 400 mg, 800 mg, 1.200 mg Comp. liberação prolongada 500 mg Granulos de liberação prolongada 1.000 mg/g supositório 250 mg , 500 mg, 1.000 mg enema 1-3 g/100 mL 40 a 70 mg/kg/dia, divididos em 2 a 3 doses (máximo 4 g/dia) 60 a 80 mg/kg/dia, divididos em 2 a 3 doses (máximo 4,8 g/dia) Retal: 25 mg/kg (até 1 g/dia) – 1 a 3 vezes ao dia Corticoides – Indução Prednisona / Prednisolona 1 a 2 mg/kg/dia, 1 vez ao dia (máximo 40-60 mg/dia) Metilprednisolona 1 a 1,5 mg/kg/dia dividido em 2 doses (máximo 40 mg/dia) Adultos: 40 a 80 mg/dia Imunomoduladores – Indução e manutenção Azatioprina Comp. 50 mg 2,0 a 2,5 mg/kg/dia 6-Mercaptopurina Comp. 50 mg 1 a 1,5 mg/kg/dia Metotrexate (IM ou SC) 15 mg/m2 - semanal (Dose máxima: 25 mg) Imunossupressores – Indução Ciclosporina (IV) 4 a 6 mg/kg/dia, divididos em duas doses Tacrolimus 0,2 mg/kg/dia, dividido em duas doses Terapia biológica – Indução e manutenção Inflixamabe (solução injetável 100 mg/10 mL) Uso intravenoso Indução: 5 mg/kg nas semanas 0, 2 e 6 Manutenção: 5 mg/kg a cada 8 semanas (pode chegar até 10 mg/kg) Adalimumabe (SC) (solução injetável 40 mg/0,8 mL) Uso subcutâneo Indução: 2,4 mg/kg (até 160 mg) na semana 0 1,2 mg/kg (até 80 mg) na semana 2 Manutenção: 0,6 mg/kg (até 40 mg) a cada 2 semanas Alternativamente: pacientes abaixo de 40 Kg as doses podem ser de 80-40-20 mg e acima de 40Kg de 160-80-40 mg. Antibióticos – Tratamento de formas fistulizantes Metronidazol Suspensão 40 mg/mL Comp 250 mg, 400 mg 10-20 mg/kg Ciprofloxacino Comp 250 mg, 500 mg 20 mg/kg Fontes: Ruemmele FM, Veres G, Kolho KL, Griffiths A, Levine A, Escher JC, et al. Consensus guidelines of ECCO/ESPGHAN on the medical management of pediatric Crohn’s disease. Journal of Crohn’s and Colitis. 2014;8:1179-1207.15 Turner D, Levine A, Escher JC, Griffiths AM, Russel RK, Dignass A, et al. Management of Pediatric Ulcerative Colitis: Joint ECCO and ESPGHAN Evidence-based Consensus Guidelines. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2012;55(3):340-36.23 Dietas elementares só devem ser utilizadas quando houver indicação médica específica, como, por exemplo, na suspeita de alergia à proteína do leite de vaca. Sonda nasogástrica pode ser usada em caso de incapacidade em alcançar a ingestão oral adequada. A nutrição enteral suplementar pode ser uma opção para prevenir e otimizar o crescimento e o desenvolvimento do paciente pediátrico portador de DC. Os corticosteroides são efetivos na indução da remissão da DC leve a grave de qualquer localização, assim como no tratamento das manifestações extraintestinais.25 A dose recomendada de prednisona ou prednisolona por via oral para DC pediátrica ativa é 1 a 1,5 mg/kg (até um máximo de 40 a 60 mg/dia) uma vez por dia. Em crianças com DC ileocecal leve a moderada, a budesonida pode ser utilizada como alternativa aos corticosteroides sistêmicos para indução de remissão. Não há diretrizes baseadas em evidências para a retirada dos corticosteroides, mas na prática clínica é comum diminuir a dose em intervalos de sete a 10 dias, depois de um período inicial de indução de duas a quatro semanas.15 Aproximadamente 36% dos pacientes com DC são dependentes de corticosteroides e 20% são resistentes a eles. Além disso, o uso prolongado dessas substâncias está associado a efeitos colaterais como déficit de crescimento, osteopenia, hirsurtismo, diabetes, psicose, catarata, fácies de lua cheia e obesidade. Uma estratégia para a retirada gradual dos corticosteroides é a associação com imunomodulador desde o início do tratamento, como ponte terapêutica em crianças e adolescentes com DC moderada.21 Dessa forma, na DC moderada a grave indica-se a introdução precoce do imunomodulador (azatioprina ou 6-mercaptopurina) como tratamento inicial junto com o corticosteroide.27 As tiopurinas (azatioprina e 6-mercaptopurina) não estão indicadas como terapia de indução única.15 Antibioticoterapia, como metronidazol e/ou ciprofloxacino, está recomendada no tratamento da doença perianal, com abscesso ou fístula, juntamente com a drenagem cirúrgica.25 Não há ensaios randomizados em Pediatria sobre o efeito dos antibióticos para controlar inflamação luminal em DC.15 Embora tenha sua eficácia claramente documentada no tratamento da RCU, o papel dos aminossalicilatos (sulfassalazina e mesalazina) em DC permanece controverso. Não existem dados baseados em evidências indicando vantagem de usar o 5-ASA como terapia de indução para DC.15 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S35-S44 41 Doença inflamatória intestinal na infância Terapia de manutenção Os corticosteroides não devem ser usados como tratamento de manutenção, tendo em vista seu efeito deletério sobre o crescimento e a mineralização óssea.15 Os aminossalicilatos na terapia de manutenção são recomendados apenas em casos selecionados de pacientes com doença leve e devem ser usados com adjuvantes. Geralmente são bem tolerados pelos pacientes e exibem poucos efeitos colaterais.15 As drogas mais eficazes para manter a remissão são os imunomoduladores (azatioprina ou 6-mercaptopurina), mas podem demorar três a seis meses para alcançar o efeito máximo.15,21 A interrupção do tratamento é controversa, mas certamente não deve ocorrer durante o crescimento puberal.1 Metotrexate é uma opção de tratamento quando os demais imunomoduladores são ineficazes ou não tolerados.1,21 Segundo o novo consenso da ESPGHAN sobre DII (2014), a terapia com o anticorpo monoclonal antiTNF (infliximabe) é recomendada para a indução e manutenção em crianças com DC luminal crônica ativa, apesar da terapia prévia otimizada com imunomodulador. Além disso, há orientação para induzir a remissão em crianças com doença ativa refratária a esteroide.15 Os imunobiológicos também são recomendados como terapia de indução primária e terapia de manutenção para crianças com doença perianal ativa fistulizante, em associação com intervenção cirúrgica adequada.15 O uso do adalimumabe na faixa etária pediátrica foi aprovado em pacientes pediátricos a partir de seis anos, com DC ativa de intensidade moderada a grave, que apresentaram resposta inadequada à terapia convencional, sendo destinado para reduzir sinais e sintomas e induzir e manter a remissão clínica.28 Os biossimilares são produtos bioterapêuticos similares em termos de qualidade, segurança e eficácia a um medicamento biológico de referência já licenciado. Em setembro de 2013, a European Medicines Agency (EMA) aprovou o uso dos biossimilares do infliximabe para o tratamento de artrite reumatoide, espondilite anquilosante, artrite psoriática, bem como para DII em adulto e pediátrica. A introdução de medicamentos biológicos similares no mercado reduz os custos dos medicamentos antiTNF, entretanto, um grupo de especialistas da ESPGHAN (Porto Group) advoga que são necessários ainda estudos com boa evidência científica para a utilização de biossimilar em crianças com DII.24 42 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S35-S44 Colite ulcerativa Tratamento da RCU depende da atividade da doença e da extensão da colite. Como a maior parte das crianças com RCU apresenta pancolite, a terapêutica na maioria dos pacientes vai depender da gravidade da doença.23 Terapia de indução A administração por via oral dos aminossalicilatos (sulfassalazina e mesalazina) é recomendada como primeira linha de terapia de indução para RCU ativa leve a moderada e na manutenção da remissão. O uso de mesalazina tópica, na forma de supositório ou enema, ou do enema de corticosteroide é eficaz para colite leve a moderada ou doença retal isolada. A monoterapia com 5-ASA tópico pode ser efetiva em casos selecionados de proctite leve a moderada, apesar desta ser uma apresentação rara na faixa etária pediátrica. A combinação de aminossalicilatos na forma oral e tópica é mais efetiva que a terapia oral isolada. Dessa forma, sempre que tolerados, os enemas de mesalazina devem ser oferecidos juntamente com a terapia oral para a indução da remissão. Os aminossalicilatos tópicos retais são superiores aos corticosteroides retais e devem ser preferidos. Os esteroides orais são recomendados na doença moderada com sintomas sistêmicos e pacientes selecionados com doença grave sem sintomas sistêmicos ou naqueles pacientes que não obtiveram remissão com terapia com aminossalicilatos (orais e tópicos) otimizada. Os corticosteroides são introduzidos em até 80% dos pacientes com colite ulcerativa, em geral nos primeiros três meses após o diagnóstico, com taxa de resposta a curto prazo de 50-90%.23 São eficazes para indução da remissão na RCU, mas não na manutenção da remissão. Deve-se considerar terapia com imunomodulador, 6-mercaptoupurina ou azatioprina nos pacientes que estão recebendo alta dose de esteroide por mais de dois a três meses ou naqueles com recaídas frequentes, por causa da alta morbidade associada à terapia prolongada.23 Crianças com colite grave devem ser internadas para receberem corticosteroide intravenoso, antibioticoterapia de amplo espectro e serem monitoradas quanto a perfuração intestinal e megacolon tóxico.23 Doença inflamatória intestinal na infância Terapia de manutenção Os aminossalicilatos são recomendados na manutenção da remissão da doença para todos os pacientes.25 Os agentes imunomoduladores, azatioprina e 6-mercaptopurina são iniciados como manutenção para pacientes que não conseguiram desmame dos esteróides, mesmo com dose otimizada de aminossalicilatos, e que apresentaram recorrência em menos de seis meses ou duas ou mais recidivas por ano.23 A terapia biológica com anticorpo monoclonal antiTNF é uma possibilidade terapêutica na RCU com atividade intensa ou quando a terapêutica convencional não é efetiva.23,24 Colite indeterminada O manuseio terapêutico dos pacientes com CI é o mesmo daqueles com RCU. O paciente deve ser reavaliado periodicamente, porque o quadro histológico e/ou a distribuição da doença pode modificar para DC ou RCU.25 CONCLUSÃO A DII é uma doença que gera significativo custo financeiro para o tratamento. O paciente é suscetível a desnutrição, atraso no crescimento e eventos adversos devido ao uso crônico de medicamentos. O pediatra geral deve estar atento para o diagnóstico precoce e encaminhar os pacientes para tratamento especializado com o gastroenterologista pediatra, quando necessário. AGRADECIMENTOS À FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais), por propiciar apoio financeiro por meio de bolsa de iniciação científica, o que contribuiu para a elaboração deste artigo. REFERÊNCIAS 1. Sandhu BK, Fell JM, Beattie RM, Mitton SG, Wilson DC, Jenkins H; on Behalf of the IBD Working Group of the British Society of Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition. Guidelines for the Management of Inflammatory Bowel Disease in Children in the United Kingdom. J Pediatr Gastroenterol Nutr 2010;50 Suppl1:1-13. 2. Sdepanian VL, Junqueira JCF, Koda YKL. Doença inflamatória intestinal. In: Sdepanian VL. Gastroenterologia Pediátrica: manual de condutas. São Paulo: Manole; 2010. Cap.7, p.81-93. 3. Koda YKL. Doença inflamatória intestinal. In: Porta G, Koda YKL, organizadores. Gastroenterologia e hepatologia pediátrica. Indianópolis -SP: Sarvier Editora de livros Médicos; 2011. Cap. 24, p.343-56. 4. Ministério da Saúde (BR). Portaria SAS/MS nº 966, de 2 de outubro de 2014. Doença de Crohn: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. Brasília: MS; 2014. [citado em 2016 jan. 14].Disponível em: http://u.saude.gov.br/images/pdf/2014/outubro/06/Publica---o-out2014-Doen--a-Crhon-portaria-n-966-de-02-out-2014.pdf 5. Ministério da Saúde. (BR) Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas- Retocolite Ulcerativa. Portaria SAS/MS no 861, 4 de novembro de 2002[citado em 2016 jan. 14]. Disponível em: portal. saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pcdt_retocolite ulcerativa.pdf 6. Braegger CP, Ballabeni P, Rogler D, Vavricka SR, Friedt M, Pittet V; Swiss IBD Cohort Study Group. Epidemiology of inflammatory bowel disease: is there a shift towards onset at a younger age? J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2011 Aug;53(2):141-4. 7. Benchimol EI, Fortinsky KJ, Gozdyra P, Van den Heuvel M, Van Limbergen J, Griffiths AM. Epidemiology of pediatric inflammatory bowel disease: a systematic review of international trends. Inflamm Bowel Dis. 2011;17(1):423-39. 8. Guariso G, Gasparetto M,VisonàDallaPozza L, D’Incà R, Zancan L, Sturniolo G, Brotto F, FacchinP.Inflammatory bowel disease developing in paediatric and adult age. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2010;51(6):698-707. 9. Dignass A, Van Assche G, Lindsay JO, Lémann M, Söderholm J, Colombel JF,et al; European Crohn’s and Colitis Organisation (ECCO). The second European evidence-based Consensus on the diagnosis and management of Crohn’s disease: Current management. J Crohns Colitis. 2010;4(1):28-62. 10. Wilson D, Thomas A, Croft N, Newby E, Akobeng A, Sawczenko A, et al. and the IBD Working Group of the British Society of Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition. Systematic review of the evidence base for the medical treatment of paediatric inflammatory bowel disease. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2010;50(suppl 1):S14-34. 11. Newby EA, Croft NM, Green M, Hassan K, Heuschkel RB, Jenkins H, Casson DH. Natural history of paediatric inflammatory bowel diseases over a 5-year follow-up: a retrospective review of data from the register of paediatric inflammatory bowel diseases. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2008;46(5):539-45. 12. Rufo PA, Denson LA, Sylvester FA, Szigethy E, Sathya P, Lu Y, et al. Health Supervision in the Management of Children and Adolescents With IBD: NASPGHAN Recommendations. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2012;55(1):93-108. 13. Rosen MJ, Dhawan A, Saeed SA. Inflammatory bowel disease in children and adolescents. JAMA Pediatr. 2015;169(11):1053-60. 14. Grover Z, Muir R, Lewindon P. Exclusive enteral nutrition induces early clinical, mucosal and tranmural remission in paediatric Crohn’s disease. J Gastroenterol. 2014;49:638-45. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S35-S44 43 Doença inflamatória intestinal na infância 15. Ruemmele FM, Veres G, Kolho KL, Griffiths A, Levine A, Escher JC, et al. Consensus guidelines of ECCO/ESPGHAN on the medical management of pediatric Crohn’s disease. J Crohn’sColitis. 2014;8:1179-207. 23. Turner D, Levine A, Escher JC, Griffiths AM, Russel RK, Dignass A, et al.Management of Pediatric Ulcerative Colitis: Joint ECCO and ESPGHAN Evidence-based Consensus Guidelines. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2012;55(3):340-61. 16. Chiorean L, Schreiber-Dietrich D, Braden B, Cui X, Buchhorn R, Chang J, et al. Ultrasonographic imaging of inflammatory bowel disease in pediatric patients. World J Gastroenterol. 2015;21(17):5231-41. 24. Ridder L, Waterman M, Turner D, Bronsky J, Hauer AC, Dias JA, et al.; ESPGHAN Paediatric IBD Porto Group.Use of Biosimilars in Paediatric Inflammatory Bowel Disease: A Position Statement of the ESPGHAN Paediatric IBD Porto Group. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2015;61(4):503-8. 17. Anupindi SA, Grossman AB, Nimkin K, Mamula P, Gee MS. Imaging in the Evaluation of the Young Patient With Inflammatory Bowel Disease: What the Gastroenterologist Needs to Know. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2014; 59(4):429-39. 18. Greef ED, John JMM, Hoffman I, Smets F, Biervliet SV, Scaillon M, et al. Profile of pediatric Crohn’s disease in Belgium. J Crohn’s Colitis. 2013; 7:e588-e598. 19. Hyams JS, Ferry GD, Mandel FS. Development and validation of a pediatric Crohn’s disease activity index. J Pediatr Gastroenterol Nutr.1991;12:439-47. 20. Vaos G, Kostakis ID, Zavras N, Chatzemichael A. The role of calprotectin in pediatric disease. Biomed Res Int. 2013; 2013:542363 21. Cury DB, Moss AC. Doenças Inflamatórias Intestinais. 2a ed. Rio de Janeiro: Rubio; 2015. 476p. 22. Griffiths AM, Otley AR, Hyams J, Rosh J, Mack D, Bousvaros A, et al. A review of activity indices and end points for clinical trials in children with Crohn’s disease. Inflamm Bowel Dis. 2005;11:185-96. 44 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S35-S44 25. Rodrigues M, Sdepanian VL, Ferreira CT. Doença inflamatória intestinal. In: Carvalho E, Silva LR, Ferreira CT, editoras. Gastroenterologia e nutrição em pediatria. São Paulo: Manole; 2012. 26. Lee YM, Kang B, Lee Y, Kim MJ, Choe YH. Infliximab “Top-Down” Strategy is Superior to “Step-Up” in Maintaining Long-Term Remission in the Treatment of Pediatric Crohn Disease. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2015; 60(6): 737-43. 27. Chandel S, Prakash A, Medhi B. Current scenario in inflammatory bowel disease: Drug development prospects. Pharmacol Rep. 2015;67(2) 224–229. 28. HUMIRA: Adalimumabe. São Paulo: AbbVie Farmacêutica LTDA, 2015. Bula de remédio. [Citado em 2016 jna 2016].Disponível em: http://www4.anvisa.gov.br/BularioEletronico/ NI841 fóruns EDUCAÇÃO MÉDICA A Síndrome da Exclusão Social: compreensão das origens da violência/ contraviolência no Brasil The social exclusion syndrome: comprehension of the violence/counter-violence origins in Brazil Antonio Benedito Lombardi1, Carolina Couto de Azevedo Cysne2, João Pedro Arruda Moraes Raso2, João Víctor Soares Assunção2, Pedro Rodrigues Greco2 DOI: 10.5935/2238-3182.20160022 RESUMO 1 Médico Pediatra. Doutor em Ciências da Saúde. Professor. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Departamento de Medicina. Betim, MG – Brasil; Professor Adjunto(aposentado). Universidade Federal de Minas – UFMG, Faculdade de Medicina, Departamento de Pediatria, Belo Horizonte, MG – Brasil. 2 Acadêmicos do Curso de Medicina. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Departamento de Pediatria, Betim, MG – Brasil. A indiferença humana no Brasil desde o início da colonização tem produzido e perpetuado o fenômeno da exclusão social. Um exemplo é a escravidão que durou cerca de 350 anos. Esse fenômeno excludente materializa-se ao produzir uma diversidade de fatores de risco biopsicossociais impactantes desde a gestação e em todos os períodos do ciclo de vida, acumulando e deixando sequelas profundas. Na década de 80 ocorreu interação sinérgica perversa entre o fenômeno da exclusão social e a entrada das drogas no nosso meio. A criança maior, o adolescente e o adulto jovem, muitas vezes socialmente vulneráveis, encontraram nas drogas duas possibilidades: a primeira, usar e abusar de drogas por várias razões, entre elas, baixa autoestima, para aliviar ansiedade e depressão, raiva; devido a uma personalidade extrovertida, impulsividade e inclinação ao comportamento de risco. E a segunda possibilidade, “empoderadora”, entrar para o tráfico como meio de subir na vida e também por razões subjetivas. Esses caminhos quase sempre resultam em dependência química, “overdose”, hospitalizações, práticas de atos infracionais, prisões, mortes e homicídios. O estudo indica que primariamente ocorreu violência histórica contra esse contingente populacional e que, muitas vezes, essa violência desencadeia um fenômeno também complexo, a contraviolência. A abordagem da violência/contraviolência deve focar, simultaneamente, sua origem (cultura da indiferença) e as consequências (fatores de risco e impactos biopsicossociais). Palavras-chave: Exclusão Social; Condições Sociais; Determinantes Sociais da Saúde; Desenvolvimento Humano; Drogas Ilícitas; Violência. ABSTRACT Instituição: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Departamento de Medicina Betim, MG – Brasil Autor correspondente: Antonio Benedito Lombardi E-mail: [email protected] 46 The human indifference in Brazil since the beginning of colonization has produced and perpetuated the phenomenon of social exclusion. The example is the slavery, which lasted about 350 years. This exclusive phenomenon has materialized itself as it has produced a diversity of biopsychosocial risk factors, which has impacted the individuals in all their life cycle periods from the gestation, accumulating and leaving their effects. In the 80’s there was a perverse synergic interaction between the phenomenon of social exclusion and the entrance of drugs in our environment. The older child, the teenager and the young adult, socially vulnerables, find in drugs two possibilities: first, use and abuse of drugs for many reasons such as low self-esteem, to alleviate depression, anxiety and anger; due to an outgoing personality, impulsivity and more inclined to take risks; second possibility, “empowering”, entering the drug trade as a way of getting ahead in life and also for subjective reasons. These pathways often always result in addiction, “overdose”, hospitalization, infraction acts practice and also, arrests, deaths and homicides. The study of these cases in our history context shows that we face a primary historical violence against a huge population group that often this violence triggers a complex Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S46-S52 A Síndrome da Exclusão Social: compreensão das origens da violência/contraviolência no Brasil phenomenon, the counter-violence. The approach of violence/counter-violence should focus, simultaneously, on both the origin (culture of indifference) and the consequences (risk factors and biopsychosocial impacts). zinho aparentemente assustado, como que prevendo o que viria. Key words: Social exclusion; Social Conditions; Social Determinants of Health; Human Development; Street Drugs; Violence. INTRODUÇÃO “The way we organize our affairs, at the community level or, indeed at the whole societal level, are matters of life and death. As doctors we cannot stand idly by while our patients suffer from the way our societies are organized. Inequality of social and economic conditions is at the heart of it” (Michael Marmot)”. Discurso proferido por Michel Marmot, Presidente da World Medical Association, no dia 16 setembro de 2015 em Moscou. O começo de tudo: a criança na história do Brasil Figura 1 - Descobrimento do Brasil. Fonte: PORTINARI2, 1956. Na história do Brasil, mais especificamente no livro “História das Crianças no Brasil”, da historiadora Mary Del Priore1, encontram-se informações significativas que mostram que a violência contra a criança e o adolescente no Brasil esteve presente desde a descoberta do país. Constata-se, desde as primeiras navegações, a utilização de crianças como membros das tripulações dos navios portugueses do século XVI e XVII e que chegaram, em determinados períodos, a constituir o grosso da tripulação. Os “miúdos” eram encarregados dos trabalhos mais pesados e arriscados a bordo, bem como explorados por seus pares embarcados na qualidade de marujos, sofrendo frequentemente abusos sexuais, maus-tratos e humilhações. Em terras brasileiras, no início da colonização, aconteceu primeiramente a escravização dos índios. Eles foram escravizados, tiveram suas terras roubadas, foram mortos. Muitos morreram de doenças trazidas pelos europeus, como a varíola e o sarampo. Entre os mortos estavam as crianças e os adolescentes, fato, inclusive, que permanece até hoje. A destruição física também foi acompanhada pela destruição cultural. O quadro de Portinari2 (Figura 1) sobre o descobrimento do Brasil mostra um pequeno indio- A tentativa de escravidão de índios não foi bem-sucedida. Os colonizadores decidiram então trazer os negros para trabalhar neste país. Com a escravidão, vieram os navios negreiros. Dos escravos desembarcados no mercado de Valongo, no Rio de Janeiro, no início do século XIX, 4% eram crianças. Destas, apenas um terço sobrevivia até os 10 anos. Por outro lado, uma imagem muito forte que ficou da sociedade escravista em um momento da formação do povo brasileiro é a de uma criança branca que mandava e o adulto escravo obedecia. A escravidão durou cerca de 350 anos. Com a abolição da escravidão as crianças e adolescentes moradores das antigas senzalas continuaram a trabalhar nas fazendas de cana de Pernambuco. A experiência da escravidão havia demonstrado que a criança e o jovem trabalhador constituíam uma mão de obra mais dócil, mais barata e de adaptação mais fácil ao trabalho. Não bastando o uso de crianças como escravos, encontram-se relatos na história de cartas desesperadas de mães, mesmo as escravas analfabetas, tentando impedir que seus filhos partissem para a Guerra do Paraguai. A entrada maciça de imigrantes capaz de alavancar a incipiente industrialização do final do século Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S46-S52 47 A Síndrome da Exclusão Social: compreensão das origens da violência/contraviolência no Brasil trouxe consigo a imagem de crianças no trabalho fabril com jornadas de 11 horas em frente às maquinas de tecelagem e apenas 20 minutos de descanso. Tornaram-se simplesmente substitutas mais baratas do trabalho escravo. Com o fim da escravidão e a entrada em massa de expressivos contingentes de imigrantes advindos de diversas partes do mundo, São Paulo tornou-se palco de uma conformação social sem precedentes. Cresciam paulatinamente a indústria, o comércio e o mercado de serviços e, consequentemente, a miséria, a exclusão social, a violência e a pauperização de vastas camadas populacionais, excluídas do universo da produção e do consumo.1 No que se refere às crianças nesse período (fim da escravidão) e ao abandono das mesmas no Brasil, no livro “História Social da Criança Abandonada”, a autora Maria Luiza Marcílio3 afirma que: Com o fim da escravidão, o sistema que existiu foi sempre o da forte concentração de rendas e da exclusão, de marginalização de uma faixa considerável da população. Em sua quase totalidade, as crianças que eram abandonadas provinham dessa faixa de miseráveis, de excluídos. A pobreza foi a causa primeira – e de longe a maior – do abandono de crianças em todas as épocas3. Ainda no que se refere à situação da criança na época, com o fim da escravidão: [...] vale registrar que circulava, já naquele século, sempre que se discutiam os problemas da imigração, um slogan que afirmava: “o melhor imigrante é a criança nacional, querendo-se dizer com isso naturalmente que a melhor forma de assegurar a médio prazo uma força de trabalho, a qual supostamente não carregava consigo problemas comuns ao imigrante estrangeiro, como a língua, os costumes, a saúde, a tradição, a cultura, etc., era cuidando da infância que assim o retorno seria mais garantido”.4 Segundo Schmidt5, de 1930 a 1945 os investimentos do Estado deram prioridade total à indústria na região Sudeste. Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais foram os privilegiados. O Norte e o Nordeste continuariam agrários, dominados pelo latifúndio e pelas oligarquias locais. Os camponeses nessas regiões continuavam em grandes dificuldades, por isso, desde 1930, centenas de milhares de nordestinos emigraram para as grandes cidades do Sudeste. Entre 1930 e 1945, mais de meio milhão fo- 48 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S46-S52 ram para São Paulo. Trabalhavam na construção civil e nas indústrias por salários muito baixos e a maioria morava em favelas e em barracos. As crianças e adolescentes também fizeram parte desse fenômeno migratório, como retrataram João Cabral de Melo Neto e Portinari por meio de suas obras geniais. Ambos mostram como as crianças, os adolescentes, os adultos jovens, os velhos, enfim, como essas famílias de retirantes estavam adoentadas. Veja-se: Morte e Vida Severina […] Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas, e iguais também porque o sangue que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte Severina: que é a morte que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte Severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida). Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima, a de tentar despertar terra sempre mais extinta, a de querer arrancar algum roçado da cinza. Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida, Passo a ser o Severino... (MELO NETO, 2000, p. 46)6. João Cabral, nesse trecho transcrito, não apenas mostra as condições de saúde dos Severinos, mas também a condição da terra onde deveriam retirar A Síndrome da Exclusão Social: compreensão das origens da violência/contraviolência no Brasil o sustento da família. Agora veja-se Portinari7, o qual retrata na sua arte visual a sina dos retirantes; primeiramente (Figura 2), as condições em que estavam durante a caminhada: de crianças e suas famílias que foram estudados por Lombardi em 199510 e 200911. Figura 4 - Favela. Fonte: PORTINARI9, 1957. Figura 2 - Os Retirantes. Fonte: PORTINARI7, 1955. A seguir, Portinari8 retrata o espaço (Figura 3) que os retirantes ocupariam em uma região metropolitana, onde começaria a se formar um aglomerado: Geralmente, nesses aglomerados surgem e para eles confluem uma diversidade de fatores que colocam em risco o crescimento, o desenvolvimento e a saúde das crianças. Obviamente, muito mais adversidades a criança tem enfrentado durante a formação da sociedade brasileira, ou seja, desde os nossos primórdios a História mostra como o Estado e a sociedade forjaram progressivamente uma cultura em relação à criança e ao adolescente marcada pela indiferença, pela insensibilidade, pela negligência, pela não cidadania. Essa cultura permanece muito viva entre nós até hoje, veiculando essas características indesejáveis e perpetuando seus impactos negativos. A CULTURA DA INDIFERENÇA, O FENÔMENO DA EXCLUSÃO SOCIAL E OS IMPACTOS DIFUSOS NA SAÚDE Figura 3 - O Morro. Fonte: PORTINARI8, 1933. E depois de alguns anos esse espaço já totalmente ocupado e retratado por Portinari9 (Figura 4), denominado favela. Isso remete ao aglomerado onde, em condições semelhantes, viveria um grupo Assim, nestes 515 anos da existência deste país essa cultura excludente tem sido responsável pela origem e pela manutenção do fenômeno da exclusão social que produz impactos biopsicossociais sobre o sujeito, a chamada “síndrome da exclusão social”, tese de doutorado de Lombardi11, que pode ser resumida evolutivamente: ■■ pela materialização dessa cultura da indiferença, a qual é concretizada pela produção crônica de Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S46-S52 49 A Síndrome da Exclusão Social: compreensão das origens da violência/contraviolência no Brasil ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ uma multiplicidade de diferentes fatores de risco biopsicossociais; pela exposição desses sujeitos a esses múltiplos fatores de risco em todos os períodos do ciclo de vida: gestação, período neonatal, lactente, pré-escolar, escolar, adolescente e adulto jovem; pelos múltiplos impactos biopsicossociais simultâneos em todos os períodos do ciclo de vida; para muitos dos impactados, resultando em uso e abuso de drogas e/ou na entrada para o tráfico; pela existência de um fenômeno complexo no qual os sujeitos afetados são ao mesmo tempo vítimas de uma violência histórica e, muitas vezes, muitos se tornam protagonistas de uma resposta igualmente complexa, a contraviolência, resultante de uma interação perversa entre o fenômeno da exclusão social e a generalização das drogas; pelo caráter autoexcludente e intergeracional desses impactos sobre os sujeitos, arrastando-os para a espiral descendente da exclusão social e contribuindo, assim, para a perpetuação do fenômeno. CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES E PERSPECTIVAS “Social injustice is killing people on grand scale.” (WHO, 2008)12. Para finalizar, faz-se necessário fortalecer alguns conceitos vistos anteriormente, assim como acrescentar alguns outros aspectos relacionados aos mesmos que surgiram durante a apresentação do texto, com o objetivo de contribuir para a compreensão do que foi chamado síndrome da exclusão social. Existe ainda hoje uma preocupação mundial em relação a milhões de famílias mundo afora que ainda enfrentam inúmeras adversidades expondo suas crianças muito precocemente a essas adversidades. Essas crianças correm elevado risco de ficarem impactadas não apenas na infância e adolescência, mas também na idade adulta, quando diferentes repercussões clínicas continuam como resultado desses impactos precoces na vida dessas pessoas. Conhecimentos científicos mostram, inclusive, como as adversidades sociais atuam deixando suas assinaturas nos genes, no cérebro, na mente e no corpo das crianças expostas a essas diferentes adversidades, como consequência do chamado es- 50 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S46-S52 tresse tóxico.13 Assim, além de ser um tema atual, é importante destacar alguns conceitos fundamentais: ■■ o conceito de determinantes sociais de saúde: ■■ os determinantes sociais de saúde são condições nas quais as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem, incluindo o sistema de saúde. Essas circunstâncias são produzidas pela distribuição de dinheiro, poder e recursos em níveis global, nacional e local, os quais são eles próprios influenciados por escolhas políticas. Os determinantes sociais de saúde são responsáveis pela maior parte das desigualdades de saúde - diferenças injustas e evitáveis encontradas no estado de saúde dentro de um mesmo país e entre países (WHO).14 Essas observações preocupam porque no Brasil milhões de brasileiros ainda nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem em condições precárias de vida, para onde converge ampla variedade de adversidades sociais que podem afetar negativamente o crescimento, o desenvolvimento e a saúde de crianças e adolescentes. Essas condições precárias de vida existem porque ainda persiste a injustiça social no Brasil. ■■ o conceito de experiências adversas na infância (EAIs): ■■ experiências adversas na infância (EAI) são situações que levam ao aumento no risco de crianças e adolescentes experimentarem impactos negativos na saúde ou outras consequências sociais durante o curso da vida. Refere-se aqui aos indivíduos abaixo de 18 anos, os quais são abusados ou negligenciados, vivem em lares onde estão presentes a violência doméstica, o abuso de drogas ou álcool, a doença mental, a criminalidade ou a separação ou vivem sob custódia, por exemplo, em abrigos. Em muitos casos, múltiplas EAIs são vivenciadas simultaneamente. Experiência de adversidade tende a se agrupar (várias EAIs ocorrendo ao mesmo tempo) e aqueles que experimentam quatro ou mais adversidades têm risco significantemente aumentado de prejuízos na saúde durante o curso de vida comparados com aqueles sem EAIs. É também provável que algumas EAIs tenham mais impactos negativos do que outras, embora, como A Síndrome da Exclusão Social: compreensão das origens da violência/contraviolência no Brasil elas são experimentadas (e medidas) frequente e simultaneamente, isso seja difícil de ser verificado. Nem sempre a criança é impactada pela exposição às EAIs, como, por exemplo, algumas vezes a separação dos pais, na qual a violência doméstica se encontra presente, pode ser fator protetor para o bem-estar das crianças. Entretanto, evidências na Inglaterra e em outros locais mostram que crianças e jovens expostos às EAIs correm mais risco de morte ou lesões antes de atingirem a idade adulta e de mortalidade prematura na idade adulta. Por exemplo, mulheres expostas a duas ou mais EAIs antes da idade de 18 anos têm risco de morte de 80% em torno de 50 anos quando comparadas com aquelas não expostas a alguma EAIs. Indivíduos expostos a EAIs têm mais chance de morrer jovens e de experimentar uma variedade de doenças – incluindo câncer, doença cardíaca, doença pulmonar, doença hepática, acidente vascular cerebral, hipertensão, diabetes, asma e artrites. EAIs aumentam também o risco de doença mental. A Organização Mundial de Saúde estima que 30% das doenças mentais no adulto em 21 países podem ser atribuídas às EAIs.15 Frente a todos esses dados da literatura relacionados aos impactos das adversidades sobre as pessoas durante os diferentes períodos do ciclo de vida, não causam surpresa os impactos biopsicossociais causados pelo fenômeno da exclusão social e resumidos na descrição da síndrome da exclusão social. Existem três caminhos em potencial por meio dos quais as EAIs podem impactar a saúde: ■■ ■■ ■■ a partir do aumento de comportamentos perigosos para a saúde tais como abuso de álcool ou substâncias, tabagismo, comportamento sexual de risco, violência e criminalidade ou comportamentos que levam à obesidade. Por exemplo, aqueles os quais experimentaram quatro ou mais experiências adversas na infância têm 11 vezes mais riscos de usar heroína ou crack/cocaína. a partir de impacto nos determinantes sociais de saúde – particularmente evidente é o impacto negativo nos resultados educacionais, no emprego, na renda – cada um dos quais tem impacto na saúde. a partir de impacto genético, epigenético e no funcionamento neurobiológico os quais também impactam a saúde por meio do curso de vida.13 Aqueles que experimentam condições adversas são mais prováveis de serem filhos de pais os quais eles próprios foram expostos a EAIs. Essa transmissão intergeracional de adversidades é uma forma de desigualdade que reduz a mobilidade social.15 Há necessidade de intervenção precoce, de prevenção de doenças e de promoção de saúde e de desenvolvimento humano; de diálogo entre diferentes áreas do conhecimento e entre os setores responsáveis por esse público formado por crianças e adolescentes. O conceito de saúde deve integrar as políticas públicas de todos os setores de uma administração (economia, direito, educação, indústria, agricultura, desenvolvimento social, habitação, emprego, transporte, saneamento, etc.), fazendo parte da cultura da governança. Esses setores devem atuar de forma coordenada e coerente. As políticas de saúde não devem ser consideradas ações planejadas e colocadas em prática isoladamente pelo setor saúde e desvinculadas dos outros setores.16 Esses conceitos essenciais devem ser introduzidos precocemente pela Universidade durante a formação profissional a partir das atividades de ensino, pesquisa e extensão, sendo que esta última, representando uma atividade carregada de significados, traduz o momento em que a universidade se encontra com a comunidade. E a comunidade é a razão e a patrocinadora da existência da universidade, devendo ser, portanto, protagonista nesse processo. O pagamento da nossa dívida social é uma prioridade urgente. REFERÊNCIAS 1. Del Priore MD, (organizadora. A história das crianças no Brasil. 7ª ed. São Paulo: Contexto; 2013. 445 p. 2. Portinari C. Descobrimento do Brasil. Óleo sobre tela, 199x169 cm. Distrito Federal, Banco Central do Brasil. 3. Marcílio ML. História social da criança abandonada. 2ª ed. São Paulo: Hucitec; 2006. 331 p. 4. Lapa JR. Os excluídos: contribuição à história da pobreza no Brasil (1850-1930). Campinas: Editora Unicamp; 2008. 245 p. 5. Schmidt MF. Nova história crítica: Ensino médio. São Paulo: Nova Geração; 2008. 840 p. 6. Melo Neto JC. Morte e vida severina e outros poemas para Vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 2000. p. 46. 7. Portinari C. Os Retirantes. 1955. Desenho a lápis de cor/papel, 33 x 32cm. Coleção particular, Rio de Janeiro, RJ. 8. Portinari, C. O Morro. 1933. Óleo sobre tela, 114 x 146 cm. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. The Museum of Modern Art, New York, NY. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S46-S52 51 A Síndrome da Exclusão Social: compreensão das origens da violência/contraviolência no Brasil 52 9. Portinari C. Favela. 1957. Óleo sobre tela, 46 x 55 cm. Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro, RJ - Brasil. 13. Shonkoff JP, Garner.The lifelong effects of early childhood adversity and toxic stress. Pediatrics. 2012; 129:232-46. 10. Lombardi AB. Repetência e evasão escolar em classe sócio-econômica desfavorecida: um estudo de 39 crianças de 1ª série de uma escola pública - História de vida e perfil biopsicossocial. [Dissertação]. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Medicina de Minas Gerais;1995. 249 p 14. World Health Organization. Health Topics. Social Determinants of Health. 2015.[Citado em 2015 set. 08] Disponível em http:// www.who.int/topics/social_determinants/en/. 11. Lombardi AB. A síndrome da exclusão social: as origens, os fatores de risco, os múltiplos sintomas biopsicossociais ao longo dos períodos do ciclo de vida e os fatores perpetuadores. [Tese]. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais; 2009. 339p. 15. Institute of Health Equity - UCL.The Impact of Adverse Experiences in the Home on the Health of Children and Young People, and Inequalities in Prevalence and Effects. 2015. [citado em 2015 out. 20] Disponível em: http://www.instituteofhealthequity. org/projects/the-impact-of-adverse-experiences-in-the-home-on-the-health-of-children-and-young-people-and-inequalities-in-prevalence-and-effect. 12. Commission on Social Determinants of Health -CSDH. Closing the gap in a generation: health equity through action on the social determinants of health. Final Report of the Geneva, World Health Organization. 2008. [citado em 2015 set. 22]. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/43943/1/9789241563703_eng.pdf, 16. Solar O, Irwin A.A conceptual framework for action on the social determinants of health. Social Determinants of Health Discussion. Paper 2 (Policy and Practice).World Health Organization. [citado em 2015 out. 29]. Disponível em: http://www.who.int/ sdhconference/resources/ConceptualframeworkforactiononSDH_eng.pdf?ua=1 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S46-S52 RELATO DE CASO Diagnóstico tardio de síndrome de DiGeorge em criança hipocalcêmica: relato de caso Late diagnosis of DiGeorge syndrome in hypocalcemic child: case report Christina Cruz Hegner1, Fernanda Lavagnoli Barcelos2, Juliana Neves Ferreira2, Roberta Petroni Smiderle2, Patrícia Casagrande Dias de Almeida3 DOI: 10.5935/2238-3182.20160023 RESUMO A Síndrome de DiGeorge (SDG) decorre de uma microdeleção 22q11.2, sendo considerada uma das microdeleções mais frequentes em humanos. Caracteriza-se por espectro fenotípico bastante amplo, incluindo dificuldade de aprendizado, fácies dismórfica, anomalias cardíacas, hipocalcemia, hipoparatireoidismo, fenda palatina, anomalias do timo, insuficiência imunológica e problemas de fala e alimentação. Contudo, nenhum achado é patognomônico ou mesmo obrigatório. Este relato de caso pretende chamar a atenção para essa síndrome como causa potencial de hipocalcemia e convulsões hipocalcêmicas mesmo após o período neonatal. Reporta-se a história clinico-laboratorial e manejo de um menino de 12 anos, diagnosticado aos sete com SDG em decorrência de facies típica e crise convulsiva hipocalcêmica. O paciente apresentava diagnóstico prévio de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e fácies suspeita (micrognatia, orelhas de implantação baixa, hipertelorismo, nariz angular). A hipocalcemia que deflagrou a crise convulsiva foi secundária ao hipoparatireoidismo, sendo tratado com carbonato de cálcio e calcitriol. Houve melhora clínica, porém se manteve hipocalcêmico, apesar de dose otimizada da medicação. O caso é atípico, já que o diagnóstico de SDG foi feito tardiamente, visto que a maioria dos casos é diagnosticada no período neonatal. Além disso, o quadro demonstra a variabilidade de achados clínicos que podem ser encontrados nessa síndrome e a importância de se investigar a SDG em pacientes que apresentem hipocalcemia, mesmo em idades mais avançadas. Salienta-se que o diagnostico tem relevância na implicação dos cuidados à saúde, devido aos riscos imunológicos e cardiológicos apresentados pelos pacientes portadores, devendo ser realizado o mais precocemente possível. Médica Endocrinopediatra. Especialista em Endocrinologia Pediátrica. Professora auxiliar da disciplina de Pediatria da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM. Vitória, ES – Brasil. 2 Acadêmica do curso de Medicina da EMESCAM. Vitória, ES – Brasil. 3 Nutricionista. Mestre em Ciências da Saúde. Professora auxiliar da disciplina de Pediatria da EMESCAM. Vitória, ES – Brasil. 1 Palavras-chave: Síndrome de DiGeorge; Hipocalcemia; Hipoparatireoidismo; Convulsões. ABSTRACT The DiGeorge Syndrome (DGS) stems from a 22q11.2 microdeletion and is considered one of the most frequent microdeletions in humans. It is characterized by very wide phenotypic spectrum, including learning disability, dysmorphicfacies, cardiac abnormalities, hypocalcemia, hypoparathyroidism, cleft palate, thymus abnormalities, immune impairment and speech and feeding problems. However, any finding is pathognomonic or even mandatory. This case report aims to draw attention to this syndrome as a potential cause of hypocalcemia and hypocalcemic seizures even after the neonatal period. Refers to clinical and laboratory history and management of a boy of 12, diagnosed at 07 with DGS due to typical facies and hypocalcemic seizure. The patient had a previous diagnosis of attention deficit hyperactivity disorder, developmental delay and suspected facies (micrognathia, low-set ears, hypertelorism, angular nose). Hypocalcemia that triggered the seizure was secondary to hypoparathyroidism, being treated with calcium carbon- Instituição: Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória-EMESCAM Vitória, ES – Brasil Autor correspondente: Christina Cruz Hegner E-mail: [email protected] Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S53-S56 53 Diagnóstico tardio de síndrome de DiGeorge em criança hipocalcêmica: relato de caso ate and calcitriol. There was clinical improvement, but hypocalcemic remained despite optimal medication dose. The case is atypical, since the diagnosis DGS was made later, as the majority of cases are diagnosed in the neonatal period. In addition, the table shows the variability of clinical findings that can be found in this syndrome and the importance of investigating the DGS in patients who have hypocalcaemia, even at older ages. Please note that the diagnosis is relevant in the involvement of health care due to immunological and cardiac risks posed by patients and should be done as early as possible. Key words: DiGeorge Syndrome; Hypocalcemia; Hypoparathyroidism; Seizure. INTRODUÇÃO A síndrome de deleção 22q11.2, também conhecida como síndrome de DiGeorge, foi identificada no começo da década de 1990. É considerada uma das síndromes de microdeleção genética mais frequentes em seres humanos.1 A deleção no braço longo do cromossomo 22 (del22q11) na banda 1 da região 1 tem sido identificada como a principal causa da SDG. Cerca de 90% dos portadores apresentam uma mutação nova, entretanto, em aproximadamente 8% dos casos há um padrão de herança familiar.2,3 Estima-se que a síndrome ocorra em um a cada 4.000–6.000 nascidos-vivos, tornando essa desordem um problema de saúde significativo na população geral.4 Considerando-se o quão comum e variável é essa doença, não é de se surpreender que tenha sido independentemente descrita em diferentes momentos e de diferentes formas, em várias partes do mundo, refletindo a visão de vários especialistas para a mesma doença. Em consequência aos vários nomes, ficou a impressão de que existem diferentes doenças associadas à del22q11: síndrome de DiGeorge, síndrome velocardiofacial, síndrome de Caylere e CATCH22 (Conotruncalheartdefect, Abnormal face, T-celldeficiency, Clefting, e Hypocalcemia, decorrentes de uma anormalidade no cromossomo 22). Contudo, todas essas alterações representam a mesma condição, que tem uma expressão fenotípica altamente variável,5 com acometimento de praticamente todos os órgãos e/ou sistemas. Até o momento, mais de 180 achados clínicos já foram descritos na SDG, tanto do ponto vista físico como comportamental. No entanto, nenhum deles é patognomônico ou mesmo obrigatório, o que acaba dificultando o seu diagnóstico.1,5 É importante ressaltar que algumas manifestações são mais frequentes1, como o dismorfismo craniofacial, as malformações 54 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S53-S56 de vias aéreas, as cardiopatias, as malformações renais, o hipoparatireoidismo, a hipocalcemia, as alterações neurológicas e comportamentais, a insuficiência imunológica, anomalias do timo e o atraso no desenvolvimento da linguagem.2,4 A suspeita diagnóstica se torna mais fácil quando vários sinais e/ou sintomas associados à síndrome estão presentes simultaneamente. No entanto, deve-se ter atenção, pois esses indícios clínicos podem ser sutis, necessitando assim da realização de um exame físico minucioso nos pacientes pediátricos e da realização de medidas antropométricas, que podem levantar algumas suspeitas para o diagnóstico.6 A hibridização fluorescente in situ (FISH) é o método corrente de eleição para a detecção de deleções 22q11.2. Esse teste é altamente preciso e confiável, além de poder ser utilizado para o diagnóstico antenatal.6 A importância da identificação precoce dos pacientes deve-se às inúmeras comorbidades que estão associadas a essa doença. A maior parte dos diagnósticos é realizada ainda no período neonatal e deve ser suspeitado em um recém-nascido com alguns sinais clínicos, como: características faciais, ausência de timo na radiografia de tórax, cardiopatias congênitas e hipocalcemia, às vezes manifestada com convulsões de difícil controle. É importante ressaltar que as convulsões hipocalcêmicas são manifestações clínicas raras após o período neonatal, devido à hipertrofia da paratireoide e aumento da ingesta de cálcio após esse período.2,7 Apresenta-se a seguir um caso incomum da síndrome de DiGeorge, em que um paciente teve crise convulsiva por hipocalcemia aos sete anos, sem associação com anormalidades imunológicas, cardíacas ou renais. DESCRIÇÃO DO CASO S.Y.R.L., sexo masculino, sete anos de idade, foi admitido em pronto-socorro com crise convulsiva hipocalcêmica pouco tempo depois de ter sido diagnosticado com síndrome de DiGeorge (Figura 1). O paciente nasceu pré-termo (com 34,3 semanas), por cesariana devido à hipoatividade fetal demonstrada em exame cardiotocográfico. Vale dizer que a mãe era fenotipicamente normal, sendo seu primeiro filho também fenotipicamente normal, tendo realizado pré-natal regular e com doença hipertensiva específica da gestação (DHEG). O apgar do recém-nascido (RN) foi oito no 1º minuto e oito no 5º minuto, o peso Diagnóstico tardio de síndrome de DiGeorge em criança hipocalcêmica: relato de caso foi 1.890 g, comprimento 42 cm. O RN manifestou síndrome da deficiência respiratória aguda (SDRA) logo após o nascimento, sendo encaminhado para unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN). No primeiro dia de vida extrauterina exibiu hipertonia caracterizada como crise convulsiva, sendo esta secundária a um processo infeccioso, tendo evoluído com pneumonia e sepse por Gram-negativo. Foi avaliado por neuropediatra, sendo solicitada ultrassonografia cerebral, que acusou apenas discreta ectasia simétrica de ventrículos laterais. Tomografia de crânio posterior demonstrou que as alterações eram compatíveis com a prematuridade. O RN apresentava também cianose ao sugar associada ao refluxo gastroesofágico (RGE), necessitando de fisioterapia/estimulação de sucção. Foi avaliado ainda por gastropediatra, que solicitou seriografia esofagogastroduodenal confirmando o diagnóstico de RGE e iniciou medicação antirrefluxo. A função hepática estava normal, assim como a ultrassonografia abdominal. No sétimo dia de vida, foi avaliado por cardiologista devido ao surgimento de sopro cardíaco, classificado como funcional. Eletrocardiograma mostrou taquicardia sinusal e ao ecocardiograma estava dentro da normalidade. A função renal estava sem alterações. Além disso, RN evoluiu com icterícia neonatal tardia e realizou fototerapia por 24 horas. Necessitou de hemoderivados (concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas), imunoglobulinas e albumina exógena, ficando no total 45 dias internado na UTIN. Durante a infância, tinha baixa estatura, porém se encontrava dentro do alvo familiar. Além disso, não relatou problemas renais nem cardiológicos nem necessitou de internações por infecções frequentes, sendo uma criança aparentemente hígida. Vale ressaltar, porém, que o paciente apresenta atraso do desenvolvimento neuropsicomotor e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), estando em acompanhamento com neuropediatra. No mais, ao exame físico apresenta micrognatia, orelhas com implantação baixa, hipertelorismo e nariz angular. A neuropediatra suspeitou da SDG devido à fácies característica associada ao atraso neuropsicomotor, encaminhando o paciente ao geneticista para investigação. Foi realizada técnica de FISH para microdeleção 22q11.2, sendo o resultado 100% positivo para essa deleção. Depois de 20 dias do diagnóstico, foi levado ao hospital devido a episódio convulsivo tipo hipertônico sem cianose, sendo medicado com fenobarbital intramuscular. No dia seguinte, permaneceu sonolento, hipoativo, sendo colhidos exames laboratoriais que evidenciaram hipocalcemia acentuada e hipomagnesemia com hemograma normal. Evoluiu sem outras intercorrências. Após controle da crise, ainda no hospital, foi iniciado tratamento com carbonato de cálcio e calcitriol. Foi encaminhando para seguimento com endocrinopediatra, sendo mantido tratamento com as mesmas medicações em doses otimizadas, estando atualmente assintomático. DISCUSSÃO Figura 1 - Paciente aos sete anos apresentando fácies suspeita (micrognatia, orelhas de implantação baixa, hipertelorismo, nariz angular). A SDG é caracterizada classicamente por hipocalcemia, hipoparatireoidismo, anomalia do timo, déficit imunológico, anormalidades cardíacas, fenda palatina, fácies dismórfica e problemas na deglutição e na fala.2,4 O paciente descreveu diversas alterações ao nascimento que poderiam sugerir a SDG, como infecção Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S53-S56 55 Diagnóstico tardio de síndrome de DiGeorge em criança hipocalcêmica: relato de caso disseminada, hipocalcemia, convulsão, RGE e dificuldade de deglutição. Porém, o diagnóstico foi mascarado pela prematuridade, uma vez que esta também poderia explicar o quadro. Além disso, durante a primeira infância não manifestou mais qualquer sintoma que pudesse sugerir a síndrome. Em geral, como afirma a literatura, o diagnóstico é neonatal. Não obstante, há relato de que alguns pacientes receberam o diagnostico ao longo da infância ou até mesmo na vida adulta, devido à hipocalcemia, seja ela sintomática ou em um achado isolado de exame de rotina.2,3 No mais, é raro que um paciente apresente convulsão por hipocalcemia tardiamente, visto que com o passar da idade há aumento da ingesta de cálcio e hipertrofia compensatória da paratireoide.7 CONCLUSÃO O relato visa reforçar a necessidade de se considerar a SDG ao encontrar hipocalcemia, seja ela sintomática ou não, e também outros sinais, como no caso em questão, a fácies típica. O caso também mostra paciente com déficit no aprendizado associado, o que poderia reforçar a ideia da síndrome. Devido à amplitude e à variação de sinais e sintomas dessa doença, algumas vezes o diagnóstico passa despercebido. A importância de se realizar diagnóstico precoce reside em proporcionar melhor qualidade 56 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S53-S56 de vida ao paciente, prevenindo infecções, uma vez que ele pode ser mais suscetível a internações (seja por deficiência imunológica ou outras complicações da doença), na chance de proporcionar cuidados fonoaudiológicos precoces (se déficit na fala) e suporte ao atraso de desenvolvimento, quando presente. REFERÊNCIAS 1. Rosa RFM, Zen PRG, Roman T, Graziadio C, Paskulin GA. Síndrome de deleção 22q11.2: compreendendo o CATCH22. Rev Paul de Pediatr. 2009; 27(2):211-20. 2. Melo KM, Carvalho BTC. Síndrome de DiGeorge: Aspectos clínico-imunológicos e manejo. Rev Bras Alerg Imunopatol. 2007; 30(2):47-50. 3. Kar P, Ogoe B, Poole R, Meeking D. Di-George syndrome presenting with hypocalcaemia in adulthood: two case reports and a review. J Clin Pathol. 2005 Oct; 58(6): 655-7. 4. Diglio MC, Marino B, Capolino R, Dallapiccola B. Clinical manifestations of Deletion 22q11.2 syndrome (DiGeorge/Velo-Cardio-Facial syndrome). Images Paediatri Cardiol. 2005 Apr-Jun; 7(2):23-34. 5. Koshiyama DB, Rosa RFM, Zen PRG, Pereira VLB, Graziadio C, et al. Síndrome de deleção 22q11.2: importância da avaliação clínica e técnica de FISH. Rev Assoc Med Bras. 2009; 55(4): 442-6. 6. Hacıhamdioğlu B, Hacıhamdioğlu D, Delil K. 22q11 deletion syndrome: current perspective.Appl Clin Genet. 2015 May; 8(5): 123-32. 7. Jae HW, Hwa CK, Sung-Hee K, Ye-Ji C, Sung-Jin K, Hae-Soon K, et al. Two Cases of Chromosome 22q11.2 Deletion Syndrome Diagnosed in 12-Year-Old Boys with Hypocalcemic Seizures. J Epilepsy Res. 2012 Dec; 2(2): 43-7. RELATO DE CASO Lesão de Morel-Lavallée: relato de caso Morel LavalléeLesion: case report Cássio da Cunha Ibiapina1, Rachel Aparecida Ferreira Fernandes2, Sergio Ribeiro de Andrade3, Ana Luisa Neves 4, Ana Luiza Bessa4, Carolina Martinelli Mascarenhas de Lucena Carvalho 4, Fernanda Moreira e Leite4 DOI: 10.5935/2238-3182.20160024 RESUMO A lesão de Morel-Lavallée, descrita inicialmente no século XIX pelo cirurgião francês Victor Auguste François Morel-Lavallée, constitui lesão de partes moles, sobretudo nas áreas que revestem as protuberâncias ósseas. Sua fisiopatologia consiste no deslocamento da pele e do tecido celular subcutâneo sobre a fáscia muscular, provocado por forças tangenciais súbitas e intensas, secundárias a traumatismos. No espaço criado pela avulsão dos tecidos, acumulam-se sangue, linfa e debris gordurosos. O diagnóstico é baseado na história clínica, no exame físico e nos exames de imagem. O tratamento geralmente é conservador e o prognóstico é bom, nas lesões menores. Em casos de lesões extensas podem ocorrer graves complicações. O diagnóstico diferencial inclui bursite, hematoma, abscesso, tumores benignos e neoplasias malignas. O presente relato visa alertar o pediatra sobre a possibilidade diagnóstica de lesão de Morel-Lavallée, garantindo-se sua abordagem precoce e adequada, especialmente quando se considera a prática de esportes cada vez mais comum entre crianças e adolescentes, além do risco da sua ocorrência por traumas associados às atividades lúdicas próprias da faixa etária pediátrica. 1 Médico Pediatra. Pós Doutorado em Educação. Professor Associado I. Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Faculdade de Medicina-FM Departamento de Pediatria. Belo Horizonte, MG – Brasil. 2 Médica Pediatrica. Mestrado em Hematologia Pediatríca. Professora. UFMG/FM, Departamento de Pediatria. Belo Horizonte, MG – Brasil. 3 Radiologista. UFMG, Hospital das Clínicas; CONRAD; CDI. Belo Horizonte, MG – Brasil. 4 Acadêmica do curso de Medicina. UFMG/FM. Belo Horizonte, MG – Brasil. Palavras-chave: Neoplasias de Tecidos Moles; Crianças; Esportes; Traumatismos em Atletas. ABSTRACT The injury of Morel-Lavallée, first described in the nineteenth century by the French surgeon Victor Auguste François Morel-Lavallée, is a soft tissue injury, particularly in the linimg areas of the bony prominences. The patophysiology consists in the displacement of the skin and the fascia subcutaneous tissue caused by sudden and intense shear forces, secondary to trauma. In the space created by tissue avulsions acumulates blood, lymph and fatty debris. Diagnosis is based on clinical history, physical examination and imaging studies. Treatment is usually conservative and the prognosis is good, in the minor injuries. In cases of extensive lesions the result can be serious complications. The differential diagnosis includes bursitis, hematoma, abscess, benign and malignant neoplasms. This report aims to alert the pediatrician about the diagnostic possibility of Morel-Lavallée lesion nsuring their early and appropriate approach, especially when we consider the practice of sports, increasingly common among children and adolescents, and the risk of their occurrence of traumas associated with own play activities of pediatric patients. Key words: Soft Tissue Neoplasms; Children; Sports; Athletic Injuries. INTRODUÇÃO A lesão de Morel-Lavallée (LML) foi descrita inicialmente em 1848, pelo cirurgião francês Victor Auguste François Morel-Lavallée1, e constitui-se em lesões que ocorrem nos tecidos moles, entre a pele e a fáscia muscular, sobretudo nas áreas de re- Instituição: Faculdade de Medicina da UFMG Horizonte, MG – Brasil Autor correspondente: Cássio da Cunha Ibiapina E-mail: [email protected] Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S57-S61 57 Lesão de Morel-Lavallée: relato de caso vestimento das protuberâncias ósseas (região dos joelhos, anterolateral das coxas, glútea, lombodorsal e escapulares), sem rompimento da superfície cutânea. A fisiopatologia da lesão de Morel-Lavallée consiste no descolamento traumático do tecido celular subcutâneo da fáscia muscular profunda. O traumatismo deve ser agudo, intenso e com forças tangenciais capazes de provocar avulsão do tecido celular subcutâneo sobre a fáscia muscular, como num movimento de desenluvamento, que leva à ruptura de vasos sanguíneos perfurantes fasciocutâneos e musculocutâneos e subsequente extravasamento de sangue, linfa e esfacelamento de tecido adiposo. O diagnóstico da LML é baseado na história clínica, no exame físico e nos exames complementares de imagem. Embora o traumatismo seja evento essencial para a ocorrência da lesão, em um terço dos casos o paciente não se recorda de trauma significativo e, por isso, a obtenção da história clínica deve ser minuciosa para se fazer um diagnóstico preciso da MLL. As características clínicas da LML podem variar conforme a quantidade de sangue e fluido linfático acumulados no local da lesão e do tempo transcorrido desde o acidente. De modo geral, a lesão surge como uma tumoração de conteúdo flutuante, dentro de algumas horas ou dias após um traumatismo. Quando se forma agudamente, é dolorosa e, com frequência, acompanhada de alterações da pele como equimoses, hipermobilidade e diminuição da sensibilidade cutânea. Em até 30% dos casos, no entanto, a percepção da tumoração com alteração da sensibilidade cutânea pode ocorrer vários meses ou até anos após o trauma. As lesões mais crônicas podem ser indolores e, muitas vezes, com aspecto de encapsulamento à palpação. Os exames de imagem são essenciais para o diagnóstico da LML. A ultrassonografia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética identificam uma massa de tecido mole não calcificada. O aspecto radiológico varia com o tempo de evolução da lesão, bem como com a composição do conteúdo da lesão (predominância de sangue ou predominância de linfa). A ressonância magnética tem se mostrado padrão-ouro para o diagnóstico por imagem da LML, com capacidade de visualização com realce de contraste de tecidos moles. O tratamento varia conforme a extensão da lesão.2 De modo geral, é conservador e o prognóstico é bom. Todavia, quando a lesão é extensa e o conteúdo linfo-hemático acumulado muito volumoso, pode haver grave comprometimento dos tecidos superficiais, levando à necrose e à necessidade de desbridamento 58 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S57-S61 cirúrgico, com alta morbidade, risco de infecção local e/ou cicatrização inestética. O diagnóstico diferencial da LML inclui várias condições, a saber: a) bursite, que geralmente não está associada a traumas diretos, mas a movimentos cronicamente repetidos; b) hematoma agudo, sem avulsão de tecidos; c) abscessos, geralmente acompanhados por quadro febril e comprometimento do estado geral; d) lipomas, assintomáticos, exceto pela presença de tumoração; iv) neoplasias-sarcomas de partes moles e osteossarcomas, de localização mais profunda que a LML e consistência endurecida. A possibilidade de diagnóstico diferencial com neoplasias pode causar grande impacto negativo no paciente e em seus familiares. Embora a LML seja relativamente incomum, o presente artigo relata e discute um caso da afecção em adolescente, com o intuito de alertar o pediatra para que a considere no diagnóstico diferencial de tumorações superficiais, sobretudo quando localizadas sobre protuberâncias ósseas e em crianças e adolescentes mais expostos a traumatismos (praticantes de esporte ou hiperativos, por exemplo). RELATO DE CASO Paciente de 12 anos, sexo masculino, previamente hígido, comparece à consulta com queixa de tumoração e dor na região superior e lateral da coxa esquerda, com cinco dias de evolução. Paciente e familiares não sabiam informar sobre possíveis fatores desencadeadores da lesão. Embora com prática regular de esportes, goleiro do time escolar de handball, o adolescente negava evento de traumatismo precedendo o aparecimento da lesão. Negava ainda antecedentes de distúrbios hemorrágicos ou uso de anticoagulantes. Sem quaisquer outras queixas associadas, tais como: febre, queda do estado geral, alteração do apetite. Ao exame físico observou-se tumoração na região do trocânter maior do fêmur esquerdo, dolorosa à palpação, com diâmetro aproximado de 3,0 cm, sem contornos definidos, consistência amolecida e aspecto flutuante. A pele suprajacente apresentava coloração amarelo azulada. Foi aventada a hipótese diagnóstica de lesão neoplásica, gerando extrema ansiedade nos familiares. Foi solicitada a ressonância magnética para esclarecimento diagnóstico. O exame evidenciou área focal de hiperintensidade de sinal nas sequências sensíveis à água (Figuras 1 Lesão de Morel-Lavallée: relato de caso e 2), com sinal intermediário em T1 (Figuras 3 e 4) no subcutâneo na altura do grande trocânter femoral esquerdo medindo aproximadamente 1,2 x 1,3 x 0,5 cm e comprometendo pontualmente a tela subcutânea entre a superfície do trato iliotibial e a derme, sem coleção líquida encapsulada/ organizada. Os ventres musculares glúteos e demais músculos da coxa mantinham as características normais preservadas. Elementos ósseos, articulação coxofemoral e feixes vasculoneurais sem alterações detectáveis pelo método. Figura 3 - Coronal e axial T1 mostrando foco de isossinal na tela subcutânea em região trocantérica (seta). Figura 1 - Axial T2 com supressão de gordura evidenciando área de hipersinal na tela subcutânea em região trocantérica entre o trato iliotibial e a derme (seta). Figura 4 - Coronal e axial T1 mostrando foco de isossinal na tela subcutânea em região trocantérica (seta). Figura 2 - Sagital T2 com supressão de gordura evidenciando área de maior hipersinal na tela subcutânea no terço proximal da coxa (seta). Com base nos aspectos clínicos e de imagem foi diagnosticada lesão de Morel-Lavallée. Optou-se pelo tratamento conservador com regressão completa da lesão após quatro semanas de seguimento. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S57-S61 59 Lesão de Morel-Lavallée: relato de caso DISCUSSÃO Embora rara, a lesão de Morel-Lavallée, decorrente da avulsão do tecido celular subcutâneo sobre a fáscia muscular com subsequente acúmulo hemolinfático e de tecido gorduroso necrosado no espaço formado, tem se tornado mais frequente na faixa etária pediátrica, em função da prática de esportes entre crianças e adolescentes. Infelizmente, a afecção é pouco conhecida pelos pediatras e a literatura referente à sua ocorrência em crianças é escassa.2 No caso relatado, ainda que o paciente fosse desportista e, portanto, mais exposto a traumatismos, o diagnóstico de LML não foi inicialmente aventado e a possibilidade de neoplasia foi considerada. O diagnóstico da LML foi possível pelos achados clássicos da referida afecção ao exame de ressonância magnética. Em um terço dos casos de LML, os pacientes não se recordam de traumatismos e a história clínica deve ser muito minuciosa, garantindo-se adequada abordagem. Relatos de casos pioneiros correlacionam a ocorrência da LML em crianças a quedas e colisões automobilísticas associadas a fraturas pélvicas e de acetábulo. Entretanto, mais recentemente, a LML tem sido relacionada, por alguns autores, a pequenos, mas sucessivos, impactos durante a prática de esportes. Nesse contexto vale ressaltar a atuação do adolescente do caso relatado como goleiro de time de handball, sujeito, então, a quedas repetidas da própria altura. Mukherjee et al. 3 relataram um caso de um adolescente de 14 anos com massa de tecido mole no trocânter maior direito, de tempo de evolução desconhecida e sem passado de traumatismo. O diagnóstico da LML foi baseado unicamente nos exames de ultrassonografia e ressonância magnética. O método padrão-ouro para o diagnóstico é a ressonância magnética da região afetada. Geralmente a lesão apresenta hipossinal nas imagens ponderadas em T1 e hipersinal nas imagens ponderadas em T2.4 Em alguns casos, a LML crônica pode evoluir com formação de cápsula fibrosa ou de septos em seu interior, podendo ter aspecto lobulado. Mesmo quando há traumatismo prévio, a ressonância magnética pode ser essencial para o diagnóstico mais precoce da LML e imediata instituição terapêutica específica. Weiss et al.5 descreveram um caso de lesão de Morel-Lavallée na articulação do joelho em um paciente de 22 anos, cujo diagnóstico inicial havia sido de contusão do quadríceps e o tratamento específico postergado. Os autores concluíram 60 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S57-S61 que o atraso no tratamento da LML, em alguns casos, favorece o aumento do volume da lesão, a ocorrência de dor crônica e de infecções secundárias. No caso em questão, na carência de história de traumatismo prévio, a hipótese diagnóstica inicial foi de neoplasia óssea. O temor do diagnóstico de doença maligna em um adolescente saudável causou extrema ansiedade nos familiares, que poderia ter sido poupado pelo maior conhecimento do pediatra em relação à possibilidade do diagnóstico de LML, mesmo na ausência de traumatismo prévio declarado. Outro dado a se considerar para a menor possibilidade de diagnóstico de neoplasia foi a rapidez com que a lesão surgiu (cinco dias de evolução), sua superficialidade nos planos anatômicos e seu aspecto de conteúdo flutuante. Classicamente, nos osteossarcomas, as lesões dolorosas têm mais tempo de evolução, são mais profundas e de consistência endurecida.6 O tratamento da LML varia conforme o volume da lesão.2 Quando as lesões são de reduzido volume, como do caso relatado, a conduta é expectante e conservadora. Algumas vezes, pode haver necessidade de intervenção cirúrgica, sobretudo em coleções serossanguinolentas de grandes volumes ou na eventualidade de encapsulamento da lesão. Estudo retrospectivo realizado em 2013 concluiu que coleções com volume de mais de 50 mL, com aspiração percutânea, tendem a recidivar. E preconiza a drenagem cirúrgica associada a dreno de sucção.5 CONCLUSÃO A lesão de Morel-Lavallée, secundária a traumatismos, é relativamente rara em crianças e pouco conhecida pelos pediatras. Entretanto, com a prática de esportes cada vez mais comum entre as crianças e adolescentes, a LML tem sido mais frequente, tornando-se essencial que os pediatras estejam alerta para o diagnóstico dessa afecção. Assim, evita-se o retardo no seu diagnóstico e tratamento, bem como a inevitável ansiedade e sofrimento que podem ocorrer, no paciente e em seus familiares, quando se considera o diagnóstico diferencial de processo neoplásico maligno. REFERÊNCIAS 1. Cheong SCW,Wong BST. Clinics in diagnostic imaging. Singapore Med J, 2016;50(11):45-9. Lesão de Morel-Lavallée: relato de caso 2. Eun Young Rha, Dae Ho Kim, Ho Kwon, Sung-No Jung. Morel-lavallee lesion in children. World J Emerg Surg. 2013; 8:60. 3. Mukherjee K, Perrin SM, Hughes PM. Morel-Lavallée lesion in an adolescent with ultrasound and MRI correlation. Skeletal Radiol. 2007;8(1):43-5. 4. Tresley J, Jose J, Saraf-Lavi E, Sklar E. Sacral Morel-Lavallée lesion: A not-so-rare diagnosis. Neurological J. 2014;27(6):755-8 5. Weiss NA, Jonhson J, Anderson SB. Morel-Lavallée lesion iniatially diagnosed as quadriceps contusion: Ultrasound, MRI, and importance of early intervention. West J Emerg Med. 2015;169(3):438-41. 6. Isakoff MS, Bielack SS, Meltzer P,Gorlick R. Osteosarcoma: current treatmentand a collaborative pathway to success. J Clin Oncol. 2015 Sept 20;33(27):3029-35 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S57-S61 61 RELATO DE CASO Tratamento de hemangioma da infância com maleato de timolol tópico Treatment of infantile hemangioma with topical timolol maleate Otávio Augusto Pinto1, Isabela Guimarães Ribeiro Baeta2, Nayara Silveira Maia3, Thaís Braga Cerqueira1 DOI: 10.5935/2238-3182.20160025 RESUMO 1 Acadêmico(a) do Curso de Medicina. Universidade Federal de São João Del Rei. Divinópolis, MG – Brasil. 2 Médica Dermatologista. Professora Assistente. Universidade Federal de São João Del Rei. Divinópolis, MG – Brasil. 3 Médica Generalista. Universidade Federal de São João Del Rei. Divinópolis, MG – Brasil. Introdução: o hemangioma da infância é uma proliferação neoplásica benigna de células endoteliais, decorrente de um desequilíbrio na angiogênese. Atinge 10 a 12% das crianças com menos de ano de vida, sendo, portanto, o tumor mais comum da infância. O tratamento, geralmente, é expectante, mas são utilizados, em alguns casos, propranolol oral, corticosteroides, interferon alfa-2a, laserterapia, embolização, imunomoduladores e cirurgia. Descrição do caso: criança do sexo masculino com hemangioma em couro cabeludo de 3 cm de diâmetro. Utilizou-se maleato de timolol 0,5%, solução oftálmica, três gotas duas vezes ao dia na superfície da lesão, durante dois anos. Após um ano de tratamento, a lesão apresentava-se praticamente plana, com involução quase completa e alopecia residual. Nenhum efeito colateral foi observado durante o período de tratamento. Discussão: o hemangioma da infância possui amplo espectro clínico e graus variados de gravidade, o que torna o seu manejo difícil e controverso. Diante do alto número de efeitos colaterais descritos para os tratamentos convencionais, o timolol tópico tem se tornado excelente alternativa para os casos não complicados. Conclusão: o timolol tópico vem sendo uma nova opção terapêutica eficaz e desprovida de efeitos colaterais para o tratamento do hemangioma da infância, sendo capaz de acelerar sua involução e prevenir complicações. Entretanto, é necessário que sejam realizados estudos que padronizem a dosagem terapêutica mais segura e avaliem o real risco x benefício do uso do fármaco no tratamento desse tipo de tumor. Palavras-chave: Hemangioma/terapia; Lactente; Pré-Escolar; Criança; Timolol. ABSTRACT Instituição: Universidade Federal de São João Del Rei – Campus Centro-Oeste Dona Lindu Divinópolis, MG – Brasil Autor correspondente: Otávio Augusto Pinto E-mail: [email protected] 62 Introduction: Infantile hemangioma is a benign neoplastic proliferation of endothelial cells, resulting from an imbalance in angiogenesis. Reaches 10-12% of children under one year old, therefore it is the most commom tumor of childhood. Treatment is usually expectant, but in some cases can be used oral propranolol, corticosteroids, interferon alpha-2a, laser therapy, embolization, immunomodulators and surgery. Case report: Male child with scalp hemangioma of 3 cm diameter. It was used eye drop solution of timolol maleate 0.5%, three drops, twice daily, on the surface of the lesion, during two years. After one year, it was almost plane and completely involuted with residual alopecia. No side effects were observed during the treatment. Discussion: Infantile hemangioma has a wide spectrum of clinical presentation and varying degrees of severity, which make it difficult and controversial management. Due to the high number of side effects reported for conventional treatments, topical timolol has become an excellent alternative for uncomplicated cases. Conclusion: Topical timolol has been an effective therapeutic option devoid of side effects for treatment of infantile hemangioma, being able to accelerate tumors involution and to prevent complications. Still, it is necessary studies to standardize the safest therapeutic dose and evaluate the actual risk-benefit ratio of timolol use in treatment of this tumor. Key words: Hemangioma/therapy; Infant; Preschool; Child; Timolol. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S62-S65 Tratamento de hemangioma da infância com maleato de timolol tópico INTRODUÇÃO O hemangioma da infância é uma proliferação neoplásica benigna de células endoteliais, decorrente de um desequilíbrio na angiogênese. Atinge 10 a 12% das crianças com menos de um ano de vida, sendo, portanto, o tumor mais comum da infância.1-3 A incidência, estimada por estudos nacionais, é de três a quatro casos em cada 100 nascidos vivos,2 com evidente predileção por indivíduos do sexo feminino, prematuros e de pele clara.1-4 Cerca de 80% dos casos apresentam lesões únicas e as regiões mais afetadas são cabeça e pescoço (60%) e tronco (25%).2 O hemangioma da infância, em geral, não é clinicamente perceptível ao nascimento. Porém, em 30 a 50% dos casos é possível observar sinal precursor, que se manifesta sob forma de mancha anêmica, eritematosa e/ou equimótica, de agrupamento de pápulas vermelho-vivo ou, ainda, de telangiectasias circundadas ou não por halo anêmico.1,2,5 A partir da lesão inicial, o crescimento é acelerado, sendo mais de 90% dos hemangiomas bem evidentes ao final do primeiro mês de vida.1,2 O curso clínico do hemangioma demonstra uma fase de rápido crescimento, que dura, em geral, 6-10 meses, podendo se estender até o segundo ano de vida. Durante essa fase, a lesão vai se tornando mais eritematosa e violácea. Posteriormente, segue-se um período de estabilidade ou platô, que persiste por alguns meses, culminando em uma fase de involução lenta, que se inicia, em geral, entre 12 e 18 meses de vida.1,3,5-7 Estima-se que a involução completa ocorra ao ritmo de 10% ao ano,2 e lesões remanescentes após o 6º ano de vida cursam com alterações residuais, como telangiesctasias, atrofias, cicatrizes e áreas de alopecia.5 O diagnóstico, na maioria dos casos, é clínico. No entanto, caso haja a necessidade de excluir diagnósticos diferenciais ou de avaliar tamanho, tipo e extensão da lesão, podem ser solicitados exames de imagem, tais como: ultrassonografia (US) com doppler; ressonância magnética (RM) e tomografia computadorizada (TC).1-3 A biópsia pode ser realizada para confirmação diagnóstica e para afastar tumores malignos. O antígeno erythroccyte-type glucose transporter protein (GLUT-1) foi descrito como um marcador imuno-histoquímico específico do hemangiomana da infância, sendo expresso em todas as suas fases evolutivas.1,3 A conduta expectante é recomendada na maior parte dos casos, sendo que apenas 10 a 20% dos hemangiomas demandam tratamento, geralmente realizado na fase proliferativa do tumor. Indicações para o tratamento incluem: prevenir complicações alarmantes, como acometimento da visão, ulcerações, hemorragias, infecções e obstrução de vias aéreas, conduto auditivo e reto; e prevenir desfiguramentos permanentes e inestéticos.1,2,4,5,8 O tratamento deve sempre ser individualizado, levando em consideração o tamanho e localização das lesões, idade do paciente, estágio evolutivo do tumor e outros sintomas associados.1,2,4,5,8 Tradicionalmente, podem ser adotadas várias opções terapêuticas para os casos de hemangioma da infância, entre as quais se incluem: corticosteroides, interferon alfa-2a, laserterapia, embolização, imunomoduladores, cirurgia e propranolol oral. Entretanto, nenhuma dessas opções é totalmente eficaz para todos os casos,5 além de todas elas poderem cursar com efeitos colaterais em nível sistêmico.9,10 O relato a seguir descreve o tratamento de um caso de hemangioma da infância ulcerado com solução tópica de β-bloqueador, que vem sendo demonstrada como uma nova opção farmacológica de baixo custo, alta eficácia e praticamente sem efeitos colaterais no tratamento desse tipo de tumor. DESCRIÇÃO DO CASO Criança do sexo masculino, cinco meses de vida, foi levada pela mãe ao serviço de dermatologia devido a hemangioma em couro cabeludo. Mãe relatou que, cerca de um mês antes da consulta, havia surgido foco hemorrágico na superfície do tumor. Criança nasceu pré-termo e apresentou, já ao nascimento, mácula eritematosa precursora. Não havia realizado qualquer tipo de intervenção terapêutica para a queixa descrita e fazia uso de antibiótico oral prescrito pelo pediatra. Nenhuma comorbidade foi relatada. Ao exame dermatológico, exibia nódulo angiomatoso de cerca de 3 cm de diâmetro, com crosta central e pequeno foco hemorrágico na superfície (Figura 1). Mãe foi orientada a realizar curativo com compressa umedecida em soro fisiológico e a retornar em duas semanas. No retorno, a lesão demonstrou cicatrização completa, sem hemorragias. Devido à ausência de indicação para tratamento sistêmico, optou-se pelo uso de β-bloqueador tópico. O fármaco escolhido foi o maleato de timolol, 0,5%, solução oftálmica. Paciente iniciou tratamento com aplicação de três gotas da solução, duas vezes ao dia, na superfície da lesão, tendo sido avaliada ambulatorialmente nos meses subsequentes. Já no 1º mês após início do tratamento, foi observada importante melhora do quadro e redução das Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S62-S65 63 Tratamento de hemangioma da infância com maleato de timolol tópico dimensões do hemangioma. No 3º mês, a lesão se encontrava bem menos elevada e com coloração violácea menos intensa (Figura 2). Figura 1 - Hemangioma pré-tratamento. QR Code: Acesso à imagem colorida. acompanhamento anual. Nenhum efeito colateral foi constatado durante todo o período de tratamento. Figura 3 - Hemangioma após 1 ano de tratamento com β-bloqueador tópico. QR Code: Acesso à imagem colorida. DISCUSSÃO Figura 2 - Hemangioma após 3 meses de tratamento com β-bloqueador tópico. QR Code: Acesso à imagem colorida. Após 1 ano de tratamento, a lesão estava praticamente plana, com involução quase completa e alopecia residual (Figura 3). A conduta terapêutica foi mantida até a criança completar dois anos de vida, momento a partir do qual foi suspensa a solução e orientou-se 64 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S62-S65 O hemangioma da infância possui amplo espectro clínico e graus variados de gravidade, o que torna o seu manejo difícil e controverso.5 Por se tratar de tumor benigno e autolimitado, a conduta expectante é indicada para a maioria dos pacientes. Apenas 10 a 20% dos casos demandam intervenção farmacológica, entre os quais se incluem: os complicados por ulcerações, sangramentos e infecções; os que cursam com obstrução de vias aéreas, do conduto auditivo e do reto; os que podem comprometer a visão; e aqueles que provocam ICC ou que, ao involuírem, resultam em alterações permanentes e inestéticas na pele.1,5 Várias opções terapêuticas já foram descritas, porém com poucos estudos prospectivos que comprovem a eficácia e segurança.5 Inicialmente, o tratamento convencional era realizado com o uso sistêmico ou intralesional de corticosteroides durante a fase proliferativa do tumor. Entretanto, desde 2008, após artigo publicado no New England Journal of Medicine11 relatando o uso de propranolol para o tratamento de hemangioma da infância, esse fármaco vem sendo utilizado de forma rotineira em diversos serviços na condução de casos complicados. Tratamento de hemangioma da infância com maleato de timolol tópico Tanto os corticosteroides quanto o propranolol, todavia, podem cursar com efeitos colaterais importantes. No caso do uso oral de corticosteroides, já foram descritos: fácies cushingoide (71%), retardo de crescimento (35%), irritabilidade (29%), sintomas gástricos (21%) e infecção por Candida sp. (6%).3 Além disso, hemangiomas perioculares tratados com injeção intralesional de corticosteroides podem cursar com elevação da pressão intraocular e oclusão de artéria central da retina.1,3,9 Já o propranolol pode resultar em broncoespasmo, vasoespasmo, hipoglicemia, hipotensão, bradicardia grave, bloqueio cardíaco e insuficiência cardíaca congestiva.9,10 Os interferons alfa são tradicionalmente utilizados nos casos mais resistentes. No entanto, podem cursar com febre, irritabilidade, síndrome gripal, neutropenia, anemia e elevação de enzimas hepáticas. Além disso, foi relatado desenvolvimento de displegia espástica em até 20% dos casos tratados com esses fármacos.1,3 Intervenções cirúrgicas podem ser complicadas por hemorragias e infecções, e imunomoduladores podem causar mielotoxicidade, hepatotoxicidade e neurotoxicidade.9,10 Suqin Guo e Nina Ni9 descreveram pela primeira vez, em fevereiro de 2010, o uso de β-bloqueador tópico para o tratamento de hemangioma da infância em pálpebra superior de uma criança de quatro meses de vida. Foi utilizada solução oftálmica de maleato de timolol, 0,5%, com duas aplicações diárias de duas gotas na superfície do tumor, durante quatro meses, com alta eficácia e ausência de efeitos colaterais.9 Posteriormente, outras publicações foram lançadas, sugerindo ser o β-bloqueador tópico uma alternativa segura e eficaz no tratamento do hemangioma da infância.4,6,8,10,12 O mecanismo de ação do timolol no tratamento do hemangioma ainda não foi comprovado, mas sugere-se que vasoconstrição, diminuição da expressão de fatores de crescimento endotelial e indução de apoptose das células endoteliais possam ser fatores contribuintes.10 No caso relatado, o hemangioma não tinha indicação de terapia sistêmica ou cirúrgica, haja vista a localização no couro cabeludo e a resolução espontânea da ulceração e do sangramento iniciais. As justificativas para o uso de tratamento tópico com β-bloqueador foram diminuir a ansiedade da família e evitar a exposição da criança aos riscos da medicação sistêmica. CONCLUSÃO Em acordo com o que vem sendo publicado na literatura, nossa experiência sugeriu ser o timolol tópico uma opção terapêutica eficaz e desprovida de efeitos colaterais para o tratamento do hemangioma da infância, com capacidade de acelerar a sua involução, prevenir complicações e diminuir o estresse psicossocial dos familiares. Apesar do quadro provavelmente autolimitado, acredita-se que o timolol tópico tenha aumentado a velocidade de regressão do tumor. Entretanto, é necessário que sejam realizados estudos randomizados e controlados que se destinem a padronizar a dosagem terapêutica mais segura e a avaliar o real risco x benefício do uso do fármaco no tratamento do hemangioma da infância. REFERÊNCIAS 1. Sampaio SAP, Rivitti EA. Dermatologia. 3ª ed. São Paulo: Artes Médicas; 2008. p. 1198-203. 2. Bonini FK, Bellodi FS, Souza EM. Hemangioma infantil tratado com propranolol. An Bras Dermatol. 2011 Aug;86(4):763-6. 3. Gontijo B, Silva CMR, Pereira LB. Hemangioma da infância. An Bras Dermatol 2003 nov-dez;78(6):651-73. 4. Weissenstein A, Straeter A,Villalon G, Bittmann S. Topical timolol for small infantile hemangioma: a new therapy option. Turk J Pediatr. 2012 Mar/Apr;54(2):156-8. 5. Serra AMS, Soares FMG, Cunha JAG, Costa IMC. Abordagem terapêutica dos hemangiomas cutâneos na infância. An Bras Dermatol 2010 June;85(3):307-17. 6. Santos AL, Batista GS, Sampaio MG, Sabbatini S. Hemangioma ulcerado tratado com timolol tópico: Um relato de caso. Resid Pediátr. 2014;4(2):68-72. 7. Albuquerque JC, Magalhães RA, Félix JA, Bastos MV, Fontenele JB, Trompieri NM, Felix FH. Treatment of children and adolescents with hemangioma using propranolol: preliminary results from a retrospective study. São Paulo Med .J 2014;132(1):48-54. 8. Yu L, Li S, Su B, Liu Z, Fang J, Zhu L, Huang M, Shan W, Song D,Ye B, Luo C. Treatment of superficial infantile hemangiomas with timolol: evaluation of short-term efficacy and safety in infants. Exp Ther Med. 2013 Aug 6(2):388-90. 9. Guo S, Ni N. Topical treatment for capillary hemangioma of the eyelid using beta-blocker solution. Arch Ophthalmol. 2010 Feb; 128(2):255-6. 10. Ni N, Langer P, Wagner R, Guo S. Topical timolol for periocular hemangioma: report of further study. Arch Ophthalmol. 2011 Mar;129(3):377-9. 11. Léauté-Labrèze C, Dumas de la Roque E, Hubiche T, Boralevi F, Thambo JB, Taïeb A. Propranolol for severe hemangiomas of infancy. N Engl J Med. 2008 Jun 12;358(24):2649-51. 12. Pope E, Chakkittakandiyil A. Topical timolol gel for infantile hemangiomas: a pilot study. Arch Dermatol 2010 May;146(5):564-5. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S62-S65 65 COMUNICAÇÃO BREVE Prevenção de Infecções pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR): uso do palivizumabe Respiratory Syncytial Vírus (RSV) infection prevention: palivizumab use José Geraldo Leite Ribeiro1, Andrea Chaimowicz2 DOI: 10.5935/2238-3182.20160026 RESUMO Medico Pediatra. Epidemiologista. Mestre em Medicina Tropical. Professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais – FCMMG. Belo Horizonte, MG – Brasil; e da Faculdade de Saúde e Ecologia Humana – FASEH. Vespasiano, MG – Brasil. 2 Médica Pediatra. Neonatologista. Coordenadora do Ambulatório de Seguimento do RN de Risco da URS Saudade da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte – SMSA BH. Belo Horizonte, MG – Brasil. 1 Introdução: o vírus sincicial respiratório (VSR) pode causar quadros graves de bronquiolites e pneumonias, principalmente em grupos de risco como prematuros, cardiopatas e portadores de pneumopatias. O palivizumabe (PVZ) trouxe grande avanço na prevenção dessa doença e, devido ao alto custo, a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) disponibiliza o produto aos grupos de alto risco. Objetivo: orientar os pediatras quanto à prevenção da infecção pelo VSR com orientações práticas sobre a prescrição do PVZ em MG. Métodos: são apresentados os critérios de inclusão para o uso dessa medicação em MG segundo portaria do Ministério da Saúde de 2013, como também os procedimentos adequados para a prescrição e fornecimento segundo normas da SES-MG. Resultados e conclusões: o conhecimento sobre o uso do PVZ para a prevenção do VSR e dos fluxos adequados para a prescrição e aplicação dessa medicação é fundamental para a prevenção da bronquiolite, portanto, deve ser amplamente divulgado entre os pediatras. Dessa forma, poderá ocorrer a redução dos casos graves, diminuindo a prevalência de sequelas e óbitos por essa doença. Palavras-chave: Vírus Sinciciais Respiratórios; Palivizumab; Criança; Pneumonia; Bronquiolite. ABSTRACT Introduction: Respiratory Syncytial Vírus (RSV) can cause severe cases of bronchiolitis and pneumonia especially in risk groups such as premature neonates, cardiac patients and children with lung disease. Palivizumab (PVZ) has been successfully used in the prevention of this disease and due to the high cost, the Health’s Secretary of Minas Gerais (SESMG) provides the product to high-risk groups. Objective: guide pediatricians regarding the prevention of RSV infection with practical guidelines for the prescription of PVZ in MG. Methods: Here are the inclusion criteria for the application of this medication in MG following the guidelines of the Ministry of Health in 2013, as well as the proper procedures for the prescription and supply according to standards of SES-MG. Results and Conclusions: Knowledge about the use of PVZ for the prevention of RSV and about the guidelines for prescription and application of this medication are key to the prevention of bronchiolitis, therefore should be widely disseminated to pediatricians. Thus may occur the reduction of severe cases decreasing the prevalence of sequelae and deaths from this disease. Key words: Respiratory Syncytial Viruses; Palivizumab; Child; Pneumonia; Bronchiolitis. Instituição: Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte Belo Horizonte, MG – Brasil Autor correspondente: Andrea Chaimowicz. Pediatra E-mail: [email protected] 66 INTRODUÇÃO O VSR é um vírus RNA, com alta infectividade, que acomete grande parte das crianças até os cinco anos de idade. Causa infecções brandas, mas também acometimen- Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S66-S68 Prevenção de Infecções pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR): uso do palivizumabe to do trato respiratório inferior, levando a quadros de bronquiolite e pneumonias. É a principal etiologia relacionada à síndrome respiratória aguda grave em crianças no município de Belo Horizonte. O maior risco de quadros graves acontece em alguns grupos como prematuros, crianças com alguns tipos de cardiopatias e pneumopatias. Nesses grupos, as complicações podem levar a óbitos e sequelas. Uma das sequelas relatadas é a sibilância de repetição na infância. A inexistência de vacinas torna difícil seu controle, já que os adultos são transmissores em potencial. Imunoglobulinas desenvolvidas no passado eram de difícil aplicação e contraindicadas em alguns pacientes. O palivizumabe veio trazer avanço na prevenção, com comprovado impacto na doença. A aplicação é intramuscular e os eventos adversos pouco comuns. No entanto, precisa ser aplicado mensalmente e tem alto custo. Esses fatos levaram as sociedades científicas e governos a limitarem a indicação prioritária a alguns grupos, durante o período de maior transmissão. Geralmente é recomendado durante cinco meses. A Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais já disponibiliza o produto a alguns grupos. Orientações práticas para prescrição do palivizumabe no estado de Minas Gerais Os critérios de inclusão atuais para o uso do palivizumabe, definidos segundo Portaria do Ministério da Saúde no 522, de 13 de maio de 2013, são: ■■ crianças prematuras nascidas com idade gestacional ≤ 28 semanas (até 28 semanas e seis dias), com idade inferior a um ano (até 11 meses e 29 dias); ■■ crianças com idade inferior a dois anos (até 1 ano 11 meses e 29 dias) com doença pulmonar crônica da prematuridade (displasia broncopulmonar) ou doença cardíaca congênita com repercussão hemodinâmica demonstrada. A organização das redes de serviços e fluxos de atendimento é de responsabilidade das Secretarias Estaduais de Saúde. Em 2016 a SES/ MG definiu como período de aplicação os meses de fevereiro a julho. Cada criança receberá o medicamento mensalmente e serão aplicadas no máximo cinco doses dependendo do mês em que foi aplicada a primeira dose. O pediatra deverá consultar e imprimir a “Relação de documentos para abertura de processo de uso de palivizumabe”. A seguir, deverá preencher o “formulário para solicitação do palivizumabe” e o “termo de consentimento informado” – este último poderá ser preenchido pelo responsável. O “questionário avaliador para unidade hospitalar não credenciada” só deve ser preenchido se o medicamento for aplicado durante a internação. A “declaração autorizadora (para terceiros)” não é necessária. O pediatra deverá ainda fazer um relatório médico simples e a receita médica em duas vias. A receita médica deverá seguir o seguinte padrão: “uso intramuscular: palivizumabe 100 mg – aplicar 15 mg/kg mensalmente nos meses de março a julho”. As crianças terão a dose definida de acordo com o seu peso antes da aplicação de cada dose. O responsável deverá providenciar os demais itens da “Relação de documentos”, e levar toda a documentação para realização do cadastro da criança na Farmácia de Minas, Avenida do Contorno 8.495, Gutierrez, Belo Horizonte, de segunda à sexta-feira, no horário de 7:30 às 18:00 horas. O responsável receberá a orientação para definição do local (polo) de aplicação e agendamento das aplicações. Em 2016 os polos de aplicação em BH são: Hospital Infantil João Paulo II, Hospital Sofia Feldman, Hospital Julia Kubitschek, Hospital Público Regional de Betim, Maternidade Municipal de Contagem e Unidade de Referência Secundária Saudade. O medicamento pode ainda ser aplicado nas crianças internadas, que apresentem os critérios definidos anteriormente. Para aplicação nas crianças internadas, seguir a orientação do “Fluxo para pacientes internados” no documento “Orientações para fornecimento de palivizumabe 2016 a hospitais, prescritores e polos de aplicação”. O procedimento para crianças não residentes em BH segue o seguinte fluxo: se a criança foi cadastrada e recebeu a primeira dose ainda durante a internação será orientada para manter o esquema de aplicação no polo mais próximo de sua residência. Se a criança foi atendida pela primeira vez em algum município do interior, a mesma documentação deve ser preenchida e a criança deve ser encaminhada para a Gerência Regional de Saúde (GRS) mais próxima para cadastro e orientação do fluxo. Os polos de aplicação em Minas Gerais podem ser visualizados no anexo III do “Informativo DMEST/SAF/SES n°02/2016 – Informe Técnico para fornecimento do Palivizumabe 2016”. As dúvidas podem ser esclarecidas pelo telefone 155/opção 2-Secretaria de Saúde/opção 4-Farmácia de Minas. Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S66-S68 67 Prevenção de Infecções pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR): uso do palivizumabe REFERÊNCIAS 1. Meissner HD. Respiratory Sincytial Virus. In: Long SS, Pickering LK, Prober, CG. Pediatric infectious diseases. 4th ed. New York: Elsevier Saunders; 2012. p. 1130-4. 2. Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. (BR). Informativo DMEST/SAF/SES MG n°02/2016 – Informe Técnico para fornecimento do Palivizumabe 2016. [citado em 2016 abr. 15]. Disponível em: http://www.smp.org.br/arquivos/site/informativo-dmest-02-2016-fornecimento-palivizumabe.pdf 3. Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. (BR). Orientações para fornecimento de Palivizumabe 2016 a hospitais, prescritores e polos de aplicação - DMEST/SAF/SES MG. [citado em 2016 abr. 15]. Disponível em: http://www.smp.org.br/arquivos/ site/ orientacao-palivizumabe-para-hospitais-prescritores-e-polos-de-aplicacao-2016.pdf 68 Rev Med Minas Gerais 2016; 26 (Supl 2): S66-S68 Expediente Uma publicação do INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA EM SAÚDE (IEPS) Editor Geral: Enio Roberto Pietra Pedroso Mantenedoras: Associação Médica de Minas Gerais – AMMG Presidente: Lincoln Lopes Ferreira • Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais – CRM-MG Presidente: Fábio Augusto de Castro Guerra • Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais – FCMMG-Feluma Diretor: Neylor Pace Lasmar • Faculdade de Medicina da UFMG – FM/UFMG Diretor: Tarcizo Afonso Nunes • Unimed-BH Cooperativa de Trabalho Médico Ltda – UNIMED-BH Presidente: Samuel Flam • Editor Administrativo: Maria Piedade Fernandes Ribeiro Leite Conselho Curador (mandato – Nov. 2014 / Nov. 2015): Paulo Pimenta de Figueiredo Filho (UNIMED-BH) – Presidente • Luciana Costa Silva (AMMG) – Vice-Presidente • Bruno Mello Rodrigues dos Santos (CRM-MG) • Ricardo de Mello Marinho (FCMMG) • Tarcizo Afonso Nunes (FM/UFMG) • Conselho Diretor (mandato – Nov. 2014 / Nov. 2018): Odilon Gariglio Alvarenga de Freitas (AMMG) – Diretor Presidente • Bruno Mello Rodrigues dos Santos (CRM-MG) – Diretor Vice-Presidente • Lincoln Lopes Ferreira (AMMG) – Diretor Administrativo-Financeiro • Conselho Fiscal (mandato – Nov. 2014 / Nov. 2018): Lincoln Lopes Ferreira (AMMG) – Presidente • Oswaldo Fortini Levindo Lopes (FCMMG) • Antonio Vieira Machado (FCMMG)• Suplentes: Luiz Fernando Neves Ribeiro (UNIMED-BH)• Antônio Eugênio Mota Ferrari (FCMMG) • Geraldo Magela Gomes da Cruz (FCMMG)• Conselho Gestor da RMMG (mandato – Nov. 2014 / Nov. 2016): Bruno Mello Rodrigues dos Santos (CRMMG) • Fernando Coelho Neto (UNIMED-BH) • Odilon Gariglio Alvarenga de Freitas (AMMG) • Ricardo de Mello Marinho (FCMMG) • Tarcizo Afonso Nunes (FM-UFMG) • Revisores: Magda Barbosa Roquete de Pinho Taranto (Português) • Maria Piedade Fernandes Ribeiro Leite (Normalização) • Nice Shindo (Inglês) Produção Editorial: Folium Editorial www.folium.com.br Indexada em: LILACS-Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde; PERIÓDICA-Índice de Revistas Latinoamericanas; LATINDEX – Sistema Regional de Información em Línea para revistas Científicas da América latina, El Caribe y Portugal. ISSN: 0103-880X e-ISSN: 2238-3181 Disponível em: www.rmmg.org Faculdade de Medicina da UFMG: <http://rmmg.medicina.ufmg.br/> Biblioteca Universitária da UFMG: <https://www.bu.ufmg.br/periodicos/revista-medica-de-minas-gerais> Portal de Periódicos CAPES: <http://www-periodicos-capes-gov-br.ez27.periodicos.capes.gov.br/> Afiliada à Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC) Início da Publicação: v.1, n.1, jul./set. 1991 Periodicidade: Trimestral Normas para publicação, instruções aos autores e submissão de manuscritos estão disponíveis em: <www.rmmg.org> Correspondências: Revista Médica de Minas Gerais – Faculdade de Medicina da UFMG Av. Prof. Alfredo Balena, 190 – Sala 12. CEP: 30130-100 Belo Horizonte, MG – Brasil. Telefone: 55-31-3409-9796 e-mail: [email protected] Submissão de artigos: www.rmmg.org Corpo Editorial EDITOR GERAL Enio Roberto Pietra Pedroso Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil EDITORES ASSOCIADOS Cirurgia Alcino Lázaro da Silva Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Andy Petroianu Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Tarcizo Afonso Nunes Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Clínica Médica David de Pádua Brasil Faculdade de Ciências Médicas de MG Belo Horizonte – MG, Brasil Manoel Otávio da Costa Rocha Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Ginecologia e Obstetrícia Fernando Marcos dos Reis Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Ricardo Mello Marinho Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais – FCMMG Belo Horizonte – MG, Brasil Pediatria Ennio Leão Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Maria do Carmo Barros de Melo Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Saúde Coletiva Maria da Conceição J. Werneck Côrtes Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Saúde Mental Dulciene Maria Magalhães Queiroz Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Luiz Henrique Perocco Braga McMaster University, Department of Surgery/Urology Hamilton, Ontário, Canadá Edmundo Anderi Júnior Faculdade de Medicina do ABC São Paulo, SP – Brasil Manoel Roberto Maciel Trindade Departamento de Cirurgia da UFRGS Porto Alegre, RS – Brasil Enio Cardillo Vieira Instituto de Ciências Biológicas da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Marco Antonio de Avila Vitoria Organização Mundial da Saude – OMS Genebra, SUIÇA Fábio Leite Gastal Hospital Mãe de Deus Porto Alegre – RS, Brasil Marco Antonio Rodrigues Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Fabio Zicker Organizaçao Mundial da Saúde Genebra, SUIÇA Maria Inês Boechat Dept. of Radiological Sciences David Geffen School of Medicine at UCLA University of Califórnia Los Angeles – CA, USA Federico Lombardi Universtá degli Studi di Milano Milano, ITALY Francisco José Dutra Souto Universidade Federal do Mato Grosso Cuiabá – MT, Brasil Genival Veloso de França Centro de Ciências da Saúde da UFPB João Pessoa – PB, Brasil Georg Petroianu Department of Cellular Biology & Pharmacology Herbert Wertheim College of Medicine Florida International University Miami, FL – USA Mauro Martins Teixeira Instituto de Ciências Biológicas da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Mircea Beuran Clinical Emergency Hospital Bucharest Bucharest, ROMENIA Naftale Katz Fundação Oswaldo Cruz, Centro de Pesquisas René Rachou Belo Horizonte – MG, Brasil Nagy Habib Imperial College London. Department of Surgery London, UK Gerald Minuk University of Manitoba, Department of Internal Medicine Manitoba, CANADA Nicolau Fernandes Kruel Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e UNISUL Florianópolis. SC – Brasil Geraldo Magela Gomes da Cruz Faculdade de Ciências Médicas de MG Belo Horizonte – MG, Brasil Nilson do Rosário Costa Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz Rio de Janeiro, RJ – Brasil Giselia Alves Pontes da Silva Centro de Ciências da Saúde da UFPE Recife – PE, Brasil Orlando da Silva Department of Paediatrics, UWO Neonatal Intensive Care Unit London, Ontario, Canadá Henrique Leonardo Guerra PUC Minas Belo Horizonte – MG, Brasil Paulo Roberto Corsi Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de SP São Paulo, SP – Brasil Humberto Corrêa da Silva Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Henrique Neves da Silva Bittencourt Centre Hospitalier Universitaire Sainte-Justine – Universite de Montreal Montreal – QC, CANADÁ CONSELHO EDITORIAL Jacques Nicoli Instituto de Ciências Biológicas da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Pietro Accetta UFF / Faculdade de Medicina Niterói – RJ – Brasil Jair de Jesus Mari Faculdade de Medicina da UNIFESP São Paulo – SP, Brasil Protásio Lemos da Luz Universidade de São Paulo – Incor São Paulo – SP, Brasil João Carlos Pinto Dias Centro de Pesquisas René Rachou-FIOCRUZ Belo Horizonte – MG, Brasil Renato Manuel Natal Jorge Universidade do Porto Porto – Portugal João Carlos Simões Curso de Medicina da Faculdade Evangélica do Paraná ( FEPAR) Curitiba, PR – Brasil Roberto Marini Ladeira Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte Belo Horionte – MG, Brasil Ahmed Helmy Salem Assiut University Hospitals & Faculty of Medicine Tropical Medicine & Gastroenterology Department Assiut EGYPT Aldo da Cunha Medeiros Centro Ciências da Saúde da UFRN Natal – RN, Brasil Almir Ribeiro Tavares Júnio Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Antônio Luiz Pinho Ribeiro Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Aroldo Fernando Camargos Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Bruno Caramelli Faculdade de Medicina da USP São Paulo – SP, Brasil Bruno Zilberstein Faculdade de Medicina da USP São Paulo – SP, Brasil Carlos Teixeira Brandt Centro de Ciências da Saúde da UFPE Recife – PE, Brasil Cor Jesus Fernandes Fontes Faculdade de Medicina da UFMT Cuiabá – MT, Brasil Pedro Albajar Viñas Organização Mundial da Saúde Genebra, Suiça João Galizzi Filho Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Rodrigo Correa de Oliveira Fundação Oswaldo Cruz, Centro de Pesquisas René Rachou, Laboratório de Imunologia Belo Horizonte – MG, Brasil José Carlos Nunes Mota Departamento de Medicina da UFS Aracaju, SE – Brasil Ruy Garcia Marques Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ, Brasil José da Rocha Carvalheiro Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP São Paulo, SP – Brasil Sandhi Maria Barreto Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Leonor Bezerra Guerra Instituto de Ciências Biológicas da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil Sérgio Danilo Pena Instituto de Ciências Biológicas – UFMG Núcleo de Genética Médica – GENE Belo Horizonte – MG, Brasil Luiz Armando Cunha de Marco Faculdade de Medicina da UFMG Belo Horizonte – MG, Brasil William Hiatt Colorado Prevention Center Denver, Colorado, USA Anotações Anotações O leite materno deve ser sempre a primeira opção para a alimentação do lactente. Quando não for possível a manutenção do aleitamento materno, as fórmulas infantis são os substitutos mais adequados para o primeiro ano de vida, conforme orientação do médico ou nutricionista.1 O leite materno deve ser sempre a primeira opção para a alimentação do lactente. Quando não for possível a manutenção do aleitamento materno, as fórmulas infantis são os substitutos mais adequados para o primeiro ano de vida, conforme orientação do médico ou nutricionista.1 CONSTRUINDO HOJE UMA BASE FORTE PARA UM CRESCIMENTO SAUDÁVEL.2-5 Crescimento e desenvolvimento similares aos de lactentes amamentados.7,8 Proteína com a exclusiva tecnologia Nestlé.9 Menor risco de constipação e de cólica,2,3 que pode atrapalhar o sono.4-6 Contém prebióticos que auxiliam no funcionamento intestinal.7 Crescimento e desenvolvimento similares aos de lactentes amamentados.8,9 Proteína com a exclusiva tecnologia Nestlé. NAN COMFOR 1: NW075; NAN COMFOR 2: LW011; NAN COMFOR 3: LW012. NÃO CONTÊM GLÚTEN. Referências bibliográficas: 1. Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual de orientação para alimentação do lactente, do pré-escolar, do escolar, do adolescente e na escola. Departamento de Nutrologia, 3ªed. Rio de Janeiro, RJ: SBP; 2012. 148 p. 2. Koletzko B, Demmelmair H, Grote V, Prell C, Weber M. High protein intake in young children and increased weight gain and obesity risk. Am J Clin Nutr. 2016 Feb;103(2):303-4. 3. Weber M, Grote V, Closa-Monasterolo R, Escribano J, Langhendries JP, Dain E, Giovannini M, Verduci E, Gruszfeld D, Socha P, Koletzko B; European Childhood Obesity Trial Study Group. Lower protein content in infant formula reduces BMI and obesity risk at school age: follow-up of a randomized trial. Am J Clin Nutr. 2014 May;99(5):1041-51. 4. Koletzko B, von Kries R, Closa R, Escribano J, Scaglioni S, Giovannini M, Beyer J, Demmelmair H, Anton B, Gruszfeld D, Dobrzanska A, Sengier A, Langhendries JP, Rolland Cachera MF, Grote V. Can infant feeding choices modulate later obesity risk? Am J Clin Nutr. 2009 May;89(5):1502S-1508S. 5. Koletzko B, Broekaert I, Demmelmair H, Franke J, Hannibal I, Oberle D, Schiess S, Baumann BT, Verwied-Jorky S; EU Childhood Obesity Project. Protein intake in the first year of life: a risk factor for later obesity? The E.U. childhood obesity project. Adv Exp Med Biol. 2005;569:69-79. 6. Billeaud C, Guillet J, Sandler B. Gastric emptying in infants with or without gastro-oesophageal reflux according to the type of milk. Eur J Clin Nutr 1990;44:577–83. 7. Ziegler EE, Jeter JM, Drulis JM, Nelson SE, Haschke F, Steenhout P, et al.Formula with reduced content of improved, partially hydrolyzed protein and probiotics: infant growth and health. Monatsschrift Kinderheilkunde. 2003 Dec;151(1): S65-S71. 8. Steenhout P, Haschke F, Ziegler EE. Partially hydrolyzed whey formula with reduced protein content: Impact on IGF-1 and leptin levels. Abstract at the Pediatric Academic Societies (PAS) Meeting, Washington, USA, May 14-17, 2005 (PAS 2005:33:4902). 9. European Patent: EP 0880 902 A1. Referências bibliográficas: 1. Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual de orientação para alimentação do lactente, do pré-escolar, do do escolar, escolar, do do adolescente adolescente ee na na escola. escola. Departamento Departamento de de Nutrologia, Nutrologia, 3ª 3ªed. ed. Rio de Janeiro, RJ: SBP; 2012. 148 p. 2. Koletzko Demmelmair H, Grote V, Prell C, Weber M. High protein intake in young children and increased weight gainand andlongchain obesity risk. Am J Clin Nutr. 2016 Feb;103(2):303-4. Weber M, Grote Closa-Monasterolo R, ScholtensB,PA, Goossens DA, Staiano A. Stool characteristics of infants receiving short-chain galacto-oligosaccharides fructo-oligosaccharides: a review. World J 3. Gastroenterol. 2014V,Oct 7;20(37):13446-52. Escribano Langhendries JP, Dain E,M,Giovannini M, Verduci E, Gruszfeld D, Sochasupplemented P, Koletzko B; formula European Obesity Study Group. Lower proteinEarly content infant formula reduces BMI4.and obesity risk at school age:S,follow-up 3. CostalosJ, C, Kapiki A, Apostolou Papathoma E. The effect of a prebiotic onChildhood growth and stool Trial microbiology of term infants. HuminDev. 2008 Jan;84(1):45-9. James-Row berts IS, Conroy Hurry J. of a randomized trial.crying Am J and Clin sleep-waking Nutr. 2014 May;99(5):1041-51. 4. Koletzko B, von Closa R, Escribano J, 5. Scaglioni S, Giovannini M, Beyer J, Demmelmair B, Gruszfeld D, P.Dobrzanska Sengier Langhendries JP, Rolland Links between infant at six weeks of age. Early Hum Dev.Kries 1997R,Apr 25;48(1-2):143-52. Kirjavainen J, Kirjavainen T, Huhtala V, LehtonenH,L,Anton Korvenranta H, Kero Infants withA,colic haveA,a normal sleep structure at Cachera MF, Grote V. Can infant feeding choices modulate6.later obesity risk? Am J colic: Clin Nutr. 2009 May;89(5):1502S-1508S. 5. Koletzko Broekaert I, Demmelmair H, Ribeiro Franke HJ, Júnior, Hannibal I, Oberle SchiessAP, S, Pontes Baumann BT, Verwied-Jorky 2 and 7 months of age. J Pediatr. 2001 Feb;138(2):218-23. Ståhlberg MR. Infantile occurrence and risk factors. Eur J Pediatr. 1984 B, Dec;143(2):108-11. 7. Da Costa Ribeiro TC, deD,Mattos M, Sarni RO, Cruz ML S; Childhood Obesity Project. Infants Protein Born intakefrom in the first year ofFed life:aaReduced risk factorProtein for later obesity? TheContaining E.U. childhood obesity project. Adv Exp Med Biol. 2005;569:69-79. 6. Billeaud C, Guillet J, Sandler Controolled B. Gastric emptying infants with et EU al. Normal Growth of Healthy HIV+Mothers Infant Formula the Prebiotics Galacto-Oligosaccharides and Fructo-Oligossaccharides: A Randomized Trial. ClininMed Insights or without gastro-oesophageal refluxNC, according to the type milk. Eur J Clin Nutr 1990;44:577–83. Jeter JM, Drulis E, JM, Nelson SE,C,Haschke Steenhout P, et al.Formula withF. reduced content of improved, partially hydrolyzed Pediatr. 2015 Mar9;9:37-47. 8. Räihä Fazzolari-Nesci A, of Cajozzo C, Puccio G, Monestier A, Moro7.G,Ziegler Minoli EE, I, Haschke-Becher Bachmann Van’t HofF,M, Carrié Fässler AL, Haschke Whey predominant, whey modified infant formula protein and probiotics: infant Monatsschrift Kinderheilkunde. 2003 Dec;151(1): S65-S71.J 8. Steenhout P, Haschke F, Ziegler EE. Partially hydrolyzed whey formula with protein content: Impact on IGF-1PG. andGrowth leptin with protein/energy ratio of 1.8growth g/100and kcal:health. adequate and safe for term infants from birth to four months. Pediatr Gastroenterol Nutr. 2002 Sep;35(3):275-81. 9. Grathwohl DJ, Mace K, reduced Fichot MC, Spivey-Krobath E, Steenhout levels. Abstract at the Academic Societies (PAS) Meeting, May 14-17,Nestlé 2005 (PAS 2005:33:4902). 9. European Patent: EP 0880 902 A1. (2010) 68, 602–602. of Infants fed with NANPediatric is in good agreement with the WHO growthWashington, standard: AUSA, meta-analysis Research Center, Lausanne, Switzerland. Pediatric Research Nota importante: O aleitamento materno é a melhor opção para a alimentação do lactente, proporcionando não somente benefícios nutricionais e de proteção como também afetivos, demonstrando sua superioridade quando comparado aos seus substitutos. É fundamental que a gestante e a nutriz tenham uma alimentação equilibrada durante a gestação e amamentação. O aleitamento materno deve ser exclusivo até o sexto mês e, a partir desse momento, deve-se iniciar a alimentação complementar, mantendo o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais. O uso de mamadeiras, bicos e chupetas deve ser desencorajado, pois pode prejudicar o aleitamento materno e dificultar o retorno à amamentação. No caso de utilização de outros alimentos ou substitutos do leite materno, devem seguir rigorosamente as instruções de preparo para garantir a adequada higienização de utensílios e objetos utilizados pelo lactente para evitar prejuízos à saúde. A mãe deve estar ciente das implicações econômicas e sociais do não aleitamento ao seio. Para uma alimentação exclusiva com mamadeira, será necessária mais de uma lata de produto por semana, aumentando os custos no orçamento familiar. Deve-se lembrar à mãe que o leite materno não é somente o melhor, mas também o mais econômico alimento para o bebê. A saúde do lactente pode ser prejudicada quando alimentos artificiais são utilizados desnecessária ou inadequadamente. É importante que a família tenha uma alimentação equilibrada e que, no momento da introdução de alimentos complementares na dieta da criança ou do lactente, respeitem-se os hábitos culturais e que a criança seja orientada a ter escolhas alimentares saudáveis. Em conformidade com o Decreto nº 8.552/15; a Lei 11265/06; Resolução Anvisa nº 222/02; OMS – Código Internacional de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno (Resolução WHA 34:22, maio de 1981): e Portaria M.S. nº 2051 de 08 de novembro de 2001. Nota importante: O aleitamento materno é a melhor opção para a alimentação do lactente, proporcionando não somente benefícios nutricionais e de proteção como também afetivos, demonstrando sua superioridade quando comparado aos seus substitutos. É fundamental que a gestante e a nutriz tenham uma alimentação equilibrada durante a gestação e amamentação. O aleitamento materno deve ser exclusivo até o sexto mês e, a partir desse momento, deve-se iniciar a alimentação complementar, mantendo o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais. O uso de mamadeiras, bicos e chupetas deve ser desencorajado, pois pode prejudicar o aleitamento materno e dificultar o retorno à amamentação. No caso de utilização de outros alimentos ou substitutos do leite materno, devem seguir rigorosamente as instruções de preparo para garantir a adequada higienização de utensílios e objetos utilizados pelo lactente para evitar prejuízos à saúde. A mãe deve estar ciente das implicações econômicas e sociais do não aleitamento ao seio. Para uma alimentação exclusiva com mamadeira, será necessária mais de uma lata de produto por semana, aumentando os custos no orçamento familiar. Deve-se lembrar à mãe que o leite materno não é somente o melhor, mas também o mais econômico alimento para o bebê. A saúde do lactente pode ser prejudicada quando alimentos artificiais são utilizados desnecessária ou inadequadamente. É importante que a família tenha uma alimentação equilibrada e que, no momento da introdução de alimentos complementares na dieta da criança ou do lactente, respeitem-se os hábitos culturais e que a criança seja orientada a ter escolhas alimentares saudáveis. Em conformidade com o Decreto nº 8.552/15; a Lei 11265/06; Resolução Anvisa nº 222/02; OMS – Código Internacional de Comercialização dos Substitutos do Leite Materno (Resolução WHA 34:22, maio de 1981): e Portaria M.S. nº 2051 de 08 de novembro de 2001. Material destinado exclusivamente aos Profissionais de Saúde. Proibida a distribuição aos consumidores. 0800-7701599 Atendimento exclusivo para Profissionais de Saúde. NI840 NAN SUPREME 1 - NWH203; NAN SUPREME 2 - LWH201. NÃO CONTÊM GLÚTEN. Material destinado exclusivamente aos Profissionais de Saúde. Proibida a distribuição aos consumidores. 0800-7701599 Atendimento exclusivo para Profissionais de Saúde. NI897 Promove fácil digestibilidade, pois contém proteína parcialmente hidrolisada.6 MAIS CONFORTO PARA OS LACTENTES.2-6 Revista Médica de Minas Gerais volume 26 • suplemento 2 1º Semestre / 2016 RMMG Revista Médica de Minas Gerais issn 0103-880 X e-ISSN 2238-3181 volume 26 • suplemento 2 Patrocínio 26/S2 1º Semestre / 2016 issn 0103-880 X a rmmg é resultado da parceria entre as seguintes Instituições SUPLEMENTO DA SOCIEDADE MINEIRA DE PEDIATRIA e-ISSN 2238-3181 1º SEMESTRE / 2016