A Construção do Conhecimento em Sociologia Modalidades de conhecimento consideradas nas Ciências Sociais: • Senso comum – Conhecimento popular distinto do código culturalmente dominante, diz respeito a princípios normativos populares. • Senso crítico – O senso crítico depende do harmonioso crescimento de duas dimensões da consciência: a reflexão sobre si e a atenção sobre o mundo. O desenvolvimento da conscientização humana depende da superação do isolamento e do alheamento. Trata-se de um processo dialético, que se move do eu ao mundo e do mundo ao eu, do fazer ao saber, do saber ao refazer, e assim por diante. • Conhecimento científico – O progresso científico é produto da atividade humana, por meio da qual o Homem, compreendendo o que o cerca, passa a desenvolver novas descobertas. Dentro desse contexto, Ciência significa Conhecimento, mas, no sentido que buscamos aqui, não se trata de qualquer tipo de conhecimento, mas aquele que persegue suas respostas utilizando rigorosos procedimentos metodológicos. Formação das Ciências Humanas e Sociais As formações das Ciências Humanas e Sociais se caracterizam a partir dos seguintes critérios: • O humano como objeto de investigação; • Percebe-se que o Homem é diferente das coisas naturais e precisa ser estudado de forma distinta. Essa investigação filosófico-científica se realizou de três formas diferentes, divididas em períodos: 1 – Período humanista; 2 – Período do positivismo; 3 – Período do historicismo; Com o avanço do conhecimento, tornou-se necessária uma divisão das Ciências Sociais em diversas disciplinas como: Sociologia, Economia, Antropologia e Política; sendo que a Sociologia é uma ciência em construção que, desde seu início, procurou explicar as estruturas e os processos sociais, políticos, econômicos e culturais da sociedade. A transformação das sociedades a partir dos modos de produção A sociedade passou (e passa) por vários processos de transformação, nos quais, em determinadas épocas, ela organizou alguns modos de produção, sendo eles: • Modo de produção patriarcal; • Modo de produção escravista; • Modo de produção feudal; • Modo de produção capitalista; Nesse contexto, com a desenvoltura do capitalismo que assegurou as condições de produção e reprodução do mundo moderno, nasce a Sociologia junto com a modernidade. É nesse contexto que se matem a originalidade do capitalismo: uma sociedade que produz mais valia ou trabalho não pago. Augusto Comte Considerado o “pai” da Sociologia. Comprometido com o “espírito científico”, único capaz de situar as pessoas no intrincado e complexo mundo dos comportamentos sociais e das relações dos homens em sociedade, para restabelecer a pretendida “ordem e equilíbrio social”. Contribuição Crítica ao Positivismo Comtiano Comte usa da analogia mecânica para explicar que: “O todo é mais importante do que as partes; as partes só podem ser explicadas em função do todo". Com isso, reconheceu que, na sociedade, a complexidade das relações e da vida social não podem ser conhecidas e explicadas em si mesmas, mas somente a partir de algo que “as retrate”, nesse caso uma máquina. Limitações do positivismo comtiano: incide num “erro teórico-metodológico” ao admitir e defender que os fatos e os fenômenos sociais são coisas da mesma natureza que a Física, Biologia, Química e, enquanto tal, são regidas por leis naturais, e que somente nessa “condição objetiva” devem ser estudados. Émile Durkheim A ideia central de seu pensamento é a de que a humanidade avançaria para o aperfeiçoamento por meio da força do progresso – princípio herdado da filosofia iluminista. Desenvolveu um método de investigação dos acontecimentos sociais e estabeleceu um objeto de estudo: os fatos sociais. Ele desejava que a Sociologia, como as outras ciências, tivesse objeto específico que pudesse ser observado, explicado e que a distinguisse das demais. Fatos Sociais Para Durkheim, os fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo e dotadas de um poder coercitivo sobre ele. Formam assim a consciência coletiva (ou senso comum), que é a soma de todas as consciências sociais, ou seja, é criada a partir de como a sociedade percebe a si mesma e ao mundo. Dessa forma, afirma que podem ser estudados como “coisas”. Da mesma maneira que a Biologia e a Física estudam os fatos da natureza, a Sociologia faz o mesmo com os fatos sociais. Modelos Socioeconômicos e de regimes autoritários Capitalismo: defende os interesses da burguesia, divisão em classes sociais, meios de produção e propriedade privada. Socialismo: resolução de problemas sociais, reação contra o individualismo, subordina o indivíduo ao interesse e às necessidades do grupo. Comunismo: sociedade sem classes, sem “Estados”, sem fronteiras, ou seja, o comunismo é a evolução do socialismo – portanto, enquanto houver um país capitalista, o comunismo não existirá. Anarquismo: liberdade total do ser humano, inexistência do Estado, de autoridade e de leis. Fascismo: (Itália, Portugal, Espanha): pensamento de extrema direita. Não importa o cidadão, e sim a construção de um país forte e poderoso – militarista, ditaduras. Nazismo: extrema direita, Estado soberano, ideia de existência de uma “raça pura”, ditadura. UNIDADE II - Positivismo, Marxismo e Sociologia Compreensiva Positivismo Considerada a primeira corrente teórica sistematizada, da qual surgiram os primeiros movimentos sociológicos. Principais representantes do Positivismo: Auguste Comte e Émile Durkheim; no entanto, o primeiro a formular a proposta de uma ciência da sociedade estruturada foi Condorcet, e seu discípulo Saint-Simon foi o primeiro a utilizar o termo positivo ao tratar dessa nova ciência, ao propor uma ciência positiva. Comte e o Positivismo Auguste Comte foi o primeiro a sistematizar o pensamento sociológico. Para ele, o pensamento teria que ser totalmente positivo, não havendo dimensão crítica ou negativa na análise social. Acreditava no poder exclusivo da razão, sua capacidade de conhecer a realidade e traduzi-la na forma de leis naturais – tais leis permitiriam regular e controlar o comportamento e a vida humana. Nesse contexto, a ideia fundamental do método positivista era de que a ciência só pode ser objetiva e verdadeira, na qual o espírito humano se desenvolve a partir da lei dos três estados: Estado teológico; Estado metafísico; Estado positivo. Para Comte, deveria ser desenvolvido o “estado positivo”, deixando para trás os preconceitos e as noções equivocadas, mas os estados teológico e metafísico seriam etapas necessárias ao desenvolvimento da humanidade. Émile Durkheim Para Durkheim, a sociologia pode ser definida como a ciência das instituições, da sua gênese e do seu funcionamento. Elaborou as seguintes regras para a observação dos fatos sociais: • • • • Considerar os fatos sociais como coisas; Afastar os preconceitos e as noções pré-concebidas; Definir previamente tais fatos pelos caracteres exteriores que lhes são comuns; Considerá-los sem levar em consideração suas manifestações individuais. Para ele, todos possuem duas consciências: uma individual, que é única a cada indivíduo e lhe coloca problemas de ordem individual; outra coletiva ou comum, caracterizada como um conjunto de ideias, sentimentos e hábitos que exprimem em cada indivíduo o grupo do qual faz parte. O Marxismo Surge no final da primeira metade do séc. XIX com a publicação do Manifesto do Partido Comunista, no qual Marx definiu como práxis a ação transformadora da realidade através do trabalho, rumo à concretização da idealidade, na qual o princípio fundamental do marxismo é o materialismo, ou seja, a única realidade seria a matéria e suas forças em transformação contínua. Materialismo Econômico: Marx entendia que as relações econômicas de produção de determinada sociedade permitiriam compreender todos os seus demais aspectos. Materialismo Histórico: a sociedade sofre transformações que se dariam por meio de uma marcha triádica, a partir de três elementos com base na dialética hegeliana: tese + antítese = síntese. A sociologia compreensiva de Max Weber Para Weber, o objeto da Sociologia é a ação social. A ação social é a conduta humana à qual o próprio agente associa um sentido. Em 1. 2. 3. 4. Economia e sociedade, Weber apresenta quatro tipos de ação social: Ação racional em relação a um fim; Ação racional em relação a um valor; Ação afetiva; Ação tradicional; Metodologia Weberiana Chamou sua sociologia de sociologia compreensiva ou interpretativa. Para poder compreender os fenômenos sociais, Weber propôs um instrumento metodológico que chamou de tipo ideal, em que “obtém-se pela acentuação unilateral de um ou de vários pontos de vista e encadeando uma quantidade de fenômenos isolados, difusos e discretos, existentes que se encontram ora em grande número, ora em pequeno número, por vezes até ausentes, que se ordenam segundo aqueles unilateralmente evidenciados, em um quadro conceitual homogêneo” pontos de vista UNIDADE III – Sociologia Contemporânea A expansão do capitalismo Século XX, momento grandes transformações ocasionadas pelo imperialismo e processo de industrialização e expansão do modo de produção capitalista. As novas nações foram adquirindo características semelhantes a dos países industrializados, com classes sociais como as dos operários e da burguesia nacional. Desenvolvimento e Crescimento Econômico Crescimento econômico: aumento da capacidade produtiva da economia de um país; é o processo de expansão quantitativa do produto e da renda. A busca por esse crescimento tem como consequência problemas de ordem política, econômica e social na contemporaneidade: a desigualdade social. No entanto, viu-se a necessidade de repensar o crescimento econômico junto com a inclusão de outras esferas. Subdesenvolvimento Considerado por alguns autores como um estágio anterior ao desenvolvimento e, por outros, como uma situação permanente. Os países subdesenvolvidos têm as estruturas econômica, social e política atrasadas. Desenvolvimento É o processo de mudança social que consiste na transformação qualitativa da sociedade, na mudança de suas características. É possível o crescimento econômico sem desenvolvimento – como no caso do Brasil –, mas não é possível desenvolvimento econômico sem crescimento. A ilusão do desenvolvimento econômico A ideia do desenvolvimento econômico está em muitos países com a ilusão de uma população onde apenas uma minoria concentra a riqueza, além de um consumismo desenfreado, o que ocasiona impactos sobre a natureza. Globalização É um processo econômico e social que estabelece uma integração entre os países e as pessoas do mundo todo em uma dimensão histórica capitalista, o qual Ianni divide em três momentos: 1. O primeiro momento corresponde à sua emergência e instalação na Europa, instaurando o trabalho livre, a mercantilização da produção e a organização do mundo sob a forma de Estados Nacionais. 2. O segundo momento corresponde à industrialização e a um processo mais efetivo de implantação do capitalismo no mundo. 3. No terceiro momento, os modelos alternativos ao capitalismo, em especial os do mundo comunista, entram em decadência. Há um processo de enfraquecimento dos Estados Nacionais, abalando as identidades regionais e os nacionalismos. Pobreza e exclusão – Não houve nenhuma sociedade realmente igualitária, o que houve no decorrer do tempo foi a busca de diversos grupos para conquistar direitos ou manter privilégios. Modelos de explicação sociológica A Sociologia aproximou-se das demais ciências humanas e afastou-se das ciências exatas e biológicas que lhe haviam servido de modelo durante o século XIX, com Augusto Comte e Émile Durkheim inicialmente. A Sociologia contemporânea não abandonou os modelos clássicos de estudos sobre o homem e seu convívio social. Contudo, ela se atualizou e passou por uma reinterpretação para que conceitos se tornassem adequados ao estudo da sociedade em uma época de pleno desenvolvimento dos meios de comunicação e da indústria cultural, que reavalia as relações e as instituições sociais e coloca o indivíduo como centro de estudo em relação a sua participação na ação social. Escola de Chicago Por meio da Escola de Chicago foi dada a aplicação de métodos etnográficos às análises sociais e à sociologia urbana, e ênfase às pesquisas das minúcias da vida cotidiana e dos processos simbólicos. A vertente da Sociologia que resultou desses procedimentos ficou conhecida também por microssociologia. Em seu caso, o foco da pesquisa e dos estudos foi dado à Cidade, do qual resultou uma sociologia ao mesmo tempo urbana e pragmática. Escola de Frankfurt As teorias desenvolvidas pela Escola de Frankfurt procuravam rever os princípios marxistas, incorporando conceitos importantes da Sociologia do Conhecimento e da Psicanálise. É criado o conceito de Indústria Cultural, por Horkheimer e Adorno. A comunicação como informação A evolução da humanidade se torna possível, no que diz respeito à comunicação e à transmissão de informações, e pode ser dividida em quatro grandes estágios: a sociedade oral, a sociedade da escrita, a sociedade da imprensa e a sociedade eletrônica (a aldeia global). No último aspecto, abre-se espaço para o Homo studiosus – o homem universal, que será munido de instrução completa e com condições de mudar de profissão e, portanto, também de posição no interior da organização social do trabalho. UNIDADE IV – Escola de Chicago e a Sociologia Urbana Escola de Chicago A expressão Escola de Chicago refere-se a escolas e correntes do pensamento de diferentes áreas e épocas, que ficaram conhecidas por serem discutidas e desenvolvidas na cidade norte-americana de Chicago. Na Sociologia, a Escola de Chicago representa um conjunto de teorias cujo principal tema era os grandes centros urbanos, pela primeira vez estudados etnograficamente. A Cidade na Visão Latino-Americana Inaugurada a reflexão latino-americana sobre urbanização e desenvolvimento em "países periféricos". Aníbal Quijano, José Nun, entre outros, elegem a teoria da marginalidade e da pobreza como seu principal foco de atenção. Sociologia Urbana no Brasil Na década de 1960, deu-se início ao estudo da sociologia urbana no Brasil, onde teve grande influência da Escola de Chicago e do pensamento de Marx. Um exemplo, foi a publicação, em 1968, do livro Desenvolvimento e Mudança Social: formação da sociedade urbano-industrial no Brasil, de J. B. Lopes – este foi a primeira grande tentativa de reflexão sociológica sobre a relação entre desenvolvimento industrial, falência do modelo patrimonial e urbanização. Outros pesquisadores como Francisco Oliveira, Paul Singer, Maria Célia Paoli, Manoel Tostes Berlink, demonstram que a marginalidade resulta não de um problema de integração social, mas de uma questão estrutural. Após esse contexto, na década de 1980, surge uma novidade temática: os movimentos sociais urbanos. Atualmente a reflexão contemporânea sobre a cidade é ampla e multidisciplinar. Ainda são importados paradigmas, mas já se analisa o contexto brasileiro, como por exemplo a discussão sobre dual city. Megacidades O processo de urbanização traz as megacidades, onde, até certo momento, o que era considerado Terceiro Mundo acaba sendo o maior gerador de Megalópoles, enquanto que países até então considerados de Primeiro Mundo tendem à estabilização. São Paulo é um exemplo disso no Brasil, pois cresceu até certo momento e agora apresenta um crescimento demográfico menor. No momento, a cidade se torna sede de grandes empresas (mesmo que estas estejam no interior) e, apesar da violência ainda assustar a população e haver déficits na saúde, no transporte e outros a megacidade, venceu a disputa com Buenos Aires e Rio, tornando-se a cidade global por excelência na América do Sul. Além de São Paulo, outros exemplos de megalópoles passam de vilãs ambientais para aliadas na luta pela sustentabilidade, por concentrar uma população que, dispersa, disputaria espaço com a biodiversidade na natureza. UNIDADE V - Escola de Frankfurt e Cultura Escola de Frankfurt Foi fundada em 1924 na Universidade de Frankfurt, Alemanha, com Max Horkheimer (1895-1973) e Theodor W. Adorno (1903-1969) como seus principais representantes. Os filósofos dessa escola ficaram conhecidos por utilizarem a Teoria Crítica ao invés da Teoria Tradicional. Mídia e Comunicação Na primeira metade do século XX, os EUA percebem que os meios de comunicação podem vender não apenas produtos, mas ideologias. Mas o que seria a ideologia? No sentido amplo, define-se como conjunto de ideias, concepções ou opiniões sobre algum ponto sujeito a discussão. Mas ainda, ao nos referirmos à ideologia enquanto teoria, estamos tratando dela no sentido de organização sistemática dos conhecimentos destinados a orientar a ação efetiva. Cultura e Indústria Cultural Um dos maiores legados deixados pela Escola de Frankfurt e seus pensadores foi o de que compreender a cultura do outro é também respeitar a diversidade. Nesse caso, a palavra cultura e cultural pode seguir vários significados, desde Padrão Cultural até Indústria Cultural. Para os frankfurtianos, cultura não significa tão somente práticas, hábitos ou modos de vida, mas trata-se de uma Antropologia Filosófica. Na verdade, os autores seguem a tradição alemã que associa cultura à Kultur, e a identificam com a Arte, Filosofia, Literatura e Música. No debate sobre cultura, eles retomam ainda a diferença entre cultura e civilização estabelecida pelo pensamento alemão. Cultura e Indústria O fetichismo na música como regressão da audição, escrito por Adorno, desenvolve de maneira sistemática a relação entre cultura e mercadoria, e representou um marco para o tipo de análise elaborada pela Escola. Procurou compreender como a cultura de valor de uso se transforma em valor de troca. O que ele mostra em seus estudos é que a cultura de massa não é arte, e que a função da indústria cultural seria narcotizante. Ela se realizaria como entretenimento: o público, ao se divertir, seria captado pelo fetichismo do produto, afastando-se de qualquer atitude reflexiva Traço característico da indústria cultural Segundo Adorno e Horkheimer, um traço característico da indústria cultural é a padronização que atinge os diversos ramos da cultura, sendo um produto do Iluminismo, eliminando as diferenças e uniformizando a vida segundo os padrões da racionalidade técnica. Exemplo disso são os filmes como os westerns ou policiais, os best-sellers, os programas diferenciados de rádio e de televisão. CAPÍTULO VI – Do Capitalismo do Século XX aos Dias Atuais O século XX é marcado pela dominação da indústria de massa, com avanços tecnológicos e mercadorias que não são mais estocadas para suprir as necessidades, mas sim produzidas em just in time, sem encalhar os produtos para um mercado consumidor que cresce a cada dia. Antes disso, temos o exemplo do fordismo, que segundo o geógrafo marxista Harvey: “o que havia de especial em Ford era sua visão, seu reconhecimento explícito de que produção de massa significava consumo de massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada e modernista.” Surge o termo utilizado por Harvey, Acumulação flexível, na qual aparecem novos setores de produção, novos mercados, novas formas de serviços financeiros. A produção é feita por uma mão de obra, que entra facilmente e é demitida sem custos. Há uma variedade de bens e preços baixos em pequenos lotes. Novas formas de produção e as crises Através da superprodução e da especulação financeira surgem as crises, como o colapso da Bolsa de Valores de 1929, nos Estados Unidos. Com isso, muitos países periféricos tiveram que criar uma indústria local. Exemplo claro disso foi o capital gerado pela exportação de café na cidade de São Paulo. Conforme as economias “centrais” se recuperavam, o panorama das relações econômicas internacionais se modificava também com o aparecimento das empresas multinacionais. Com o fim da segunda Guerra Mundial, as grandes empresas abriram sedes em países que eram considerados de Terceiro Mundo (Primeiro Mundo correspondendo às nações de economia capitalista desenvolvida; Segundo Mundo, às de economia socialista industrializada; e, finalmente, o Terceiro Mundo reúne economias periféricas a um e outro regime). Essas empresas, ao se instalarem, além de não permitirem o crescimento da indústria local, fizeram com que fosse gerada uma grande indústria nova, devido sua permanência nesses países. Atualmente, o processo de globalização da economia capitalista industrial reforça as desigualdades estruturais entre países industrialmente desenvolvidos e subdesenvolvidos, ou, como são chamados hoje, os países em “vias de desenvolvimento”. No modelo neoliberal, as indústrias nacionais acabam por sofrer maiores danos com seus produtos mais baratos. Além de tudo isso, deve-se destacar que as crises que se passaram nos últimos tempos atingiram os países mais pobres, devido à falta de infraestruturas e de organização institucional. UNIDADE VII - Antropologia e Diversidade Étnica: Raça, Etnia e Racismo Etnia: deriva do grego, ethnos, que designa um grupo humano portador de um mesmo conjunto de traços linguísticos, culturais e/ou “raciais” determinantes de sua identidade. Através da Antropologia Cultural, vê-se que o conceito de etnia não é dado apenas para povos distintos, com os mesmos costumes, mas para que o grupo se veja como parte de um mesmo povo. Formas de abordar o tema etnia: Pode-se tomar a etnia como algo primordial, um laço ancestral que, independentemente de fatores externos e circunstâncias históricas, une determinada população; Etnia é uma construção histórica, política e social, ou seja, identidade étnica é o laço que une determinado povo e não algo natural ou essencial, mas uma invenção coletiva. No âmbito da Antropologia, “etnia” geralmente aparece como sinônimo de “povo” ou “cultura”, no sentido de “sociedade humana dotada de traços distintivos próprios”. Na linguagem comum, a noção de etnia adquiriu uma carga profundamente preconceituosa, que merece nossa atenção: termos como “étnico” ou “grupo étnico” se referem sempre a culturas diferentes da nossa e, em geral, consideradas inferiores. Uma problemática para definir etnia é achar que ela se refere apenas a grupos de minorias exóticas. Raça e racialismo A palavra “raça” deriva do latim, ratio. Em busca de uma explicação para as diferenças étnicas, pensadores dos séculos XVIII e XIX passaram a identificar e hierarquizar as raças de acordo com explicações ideológicas e justificativas de dominação. Para definir o conceito de raça, temos a definição de Lineu, que afirma que o Homo sapiens se subdivide em quatro grupos: 1. 2. 3. 4. Europæus albus (“europeu branco”); Americanus rubescens (“americano vermelho”, o indígena); Asiaticus fuscus (“asiático moreno”); Africanus niger (“negro africano”). A outra concepção possível de raça, desenvolvida por Edward B. Du Bois, poderia ser chamada de “histórico-cultural”, pois ela considera não só os elementos fenotípicos das populações humanas, mas também suas ancestralidades e práticas culturais. São levadas em conta oito grandes raças segundo o teórico. O conceito de racialismo é diferente de racismo, uma não deve ser confundida a outra. O racismo é o preconceito contra a etnia que, embora tendo esse nome, se difere da definição de raça. Dessa forma, raça se define sempre, embora não exclusivamente, com base em aspectos biológicos, fenotípicos; enquanto a etnia está ligada a aspectos culturais, sociais, históricos e até psicológicos. Racismo: histórico, definições e novos usos O conceito de racismo ganhou concretude teórica a partir do século XX, no qual construíram-se escalas valorativas para as diferenças entre os homens – sempre baseadas numa suposta divisão primordial e biológica da espécie. Exemplo disso, é o Apartheid na África do Sul. Apesar de no Brasil não se ter tido um regime explícito de racismo, ainda permanece de forma incutida esse conceito. Hoje não temos mais o racismo clássico, mas o racismo contemporâneo, que se baseia numa essencialização que não é mais racial-biológica, mas, acima de tudo, histórica e cultural. UNIDADE VIII – Relativismo Cultural, Diversidade E Direitos Humanos O conceito de diversidade Diversidade pode ser definida como o conjunto de traços culturais distintos de uma sociedade. Essa diversidade é responsável pela história do homem ser tão rica em suas diferenças. No entanto, deve-se ater ao fato de que diferença não é a mesma coisa que desigualdade. Na primeira, o termo se refere à riqueza de práticas culturais e saberes das sociedades humanas – ou seja, à “diversidade” – e carrega, portanto, um valor positivo, que tem como oposto a ideia de homogeneização, padronização, mesmice. Já o segundo, tem sentido negativo, relacionado à imposição de desvantagens e injustiças. Isso quer dizer que situações de “igualdade” e “diferença” podem e devem coexistir. Com isso, a percepção das diferenças entre a minha cultura e as demais só se torna possível quando existe uma ideia mais ou menos acabada daquilo que constitui a minha cultura – pensando na questão, temos o conceito de identidade cultural e do auto reconhecimento. Na Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, documento que estabeleceu diretrizes internacionais para a preservação das manifestações culturais de todos os povos, lemos que a diversidade é um “patrimônio comum da humanidade”, “tão vital para a espécie humana quanto a biodiversidade é para a natureza”. Universalismo: um pouco de História Na virada do século XV para o XVI, a Europa passou por uma série de transformações, nas quais todos os processos históricos ajudaram a moldar um conjunto de valores e modelos de pensamento que compuseram – e, em grande medida, ainda compõem – algo que, passados mais de cinco séculos, identificamos genericamente como parte de uma “cultura” ou “tradição” ocidental. O Ocidente trouxe consigo também uma concepção extremamente inovadora de “Homem” e de “Humanidade”, marcada, dentre outras coisas, pela noção de universalidade. O “homem universal” é dotado de características e modos de pensamento, independentemente de sua bagagem cultural – isto é, que ele é dotado de uma essência, uma “natureza”. As leis que regem o funcionamento das sociedades podem ser reveladas pela razão. Essa perspectiva universalista do século XIX começou a perder força, tendo alguns de seus alicerces teóricos confrontados com os novos estudos culturais e com os dados coletados em campo. O Relativismo Cultural O Relativismo Cultural ganhou força no início do século passado em decorrência dos problemas teóricos que a própria Antropologia enfrentava. Seu princípio básico é a ideia de que cada cultura constitui um todo singular de traços comportamentais, simbolismos, linguagens, etc., dotado de um valor unicamente posicional. Sendo assim, qualquer prática cultural só adquire sentido pleno quando encaixada em seu contexto original. Como cada cultura é única, os conceitos adequados para compreendê-las são somente os seus próprios. O principal nome dessa linhagem teórica é o antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942), para ele o relativismo não é somente uma postura filosófica, mas também uma questão prática de metodologia do trabalho científico. Diversidade e Direitos Humanos Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o tema dos Direitos Humanos passou a ter extrema importância, o que levou a recém-criada Organização das Nações Unidas a assinar em 1948 sua Declaração Universal dos Direitos Humanos. Seis décadas depois da Declaração, a garantia dos Direitos Humanos já se tornou um valor inquestionável. Afinal, como falar em direitos universais abstratos, atemporais e aplicáveis a qualquer ser humano se estes sempre existirão em uma realidade concreta, historicamente determinada e marcada pelas diferenças entre as várias culturas? Por razões óbvias, o aparecimento do relativismo no início do século XX ajudou a ampliar esse debate. Mas é preciso tomar cuidado para não confundir o relativismo moral com o relativismo cultural. Este último se refere a uma postura teórico-metodológica que serve de estratégia para o estudo de uma sociedade estranha ao antropólogo, evitando que ele cometa o erro de observar o mundo a partir de seu próprio repertório cultural – como se uma lente distorcesse suas conclusões a respeito de determinado povo. Nos dias atuais, a maior parte das soluções encontradas pelas ciências humanas para o conflito entre diversidade e Direitos Humanos gira em torno da ideia de que as culturas não são sistemas fechados, auto suficientes e alheios ao mundo que os cerca; logo, o contato intercultural pode abrir espaços para a penetração dos valores universais humanistas sem que haja necessariamente imposição e, portanto, desrespeito à diversidade dos povos. Além do mais, devemos nos ater ao fato de que a noção de sincretismo pode ser uma das saídas mais promissoras para que o projeto intrinsecamente universalista dos Direitos Humanos consiga conviver com o respeito à diversidade cultural. Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Claudio Brites