ANÁLISE PRELIMINAR DOS IMPACTOS DO RODOANEL NA REPRESA BILLINGS: ESTUDO DO CASO DO BAIRRO PARQUE MIAMI E JARDIM RIVIERA, NO MUNICÍPIO DE SANTO ANDRÉ, SP Thaís Marina Castelhano Ralla, Mestranda do Departamento de Geografia Física da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. [email protected] RESUMO Devido à concentração populacional e a generalização de transporte individual do Município de São Paulo a partir dos anos de 1940, o trânsito vem se tornando cada vez pior. Assim, a gestão pública foi obrigada a encontrar novas possibilidades. Uma delas foi o Rodoanel, que consiste em um anel viário que permite a passagem de veículos por São Paulo sem passar pelas suas concentrações urbanas. Porém, o eixo sul do Rodoanel será construído sob os principais mananciais que abastecem o Município de São Paulo, um deles seria a Represa Billings. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é prognosticar os possíveis impactos que o Rodoanel irá causar a Represa Billigs, especificamente a região do Parque Miami e Jardim Riviera, que tem sido até agora uma das áreas mais afetadas pelas obras do Rodoanel. O método utilizado neste trabalho será uma análise integrada evolutiva, inicialmente demonstrando a evolução urbana através de mapeamentos na área, antes do início das obras do Rodoanel, utilizando fotografias aéreas dos anos de 1972 e 2001. A indução e a analogia também orientarão o prognóstico, pois a previsão de impactos será pautada na análise de outras áreas que foram abrangidas pelo Rodoanel, para então projetar um quadro futuro. Tecnicamente a pesquisa será apoiada por trabalhos de campo, que viabilizarão a observação e registros fotográficos da área, além da aplicação de questionários aos moradores e de entrevistas com engenheiros das obras do Rodoanel. Esta região foi escolhida, pois apesar da grande concentração populacional da área, já se começou a perceber mudanças significativas. Este trabalho torna-se importante dentro da ciência geográfica, pois a previsão de impactos exige articulação da dimensão social e natural, identificando os principais danos que o homem pode causar a natureza, de modo a orientar a mitigação. Justifica-se também, pois a Geografia da USP em convênio com a Dersa está encarregada da recuperação dessas áreas. Palavras-chave: Rodoanel, Impactos Ambientais, Represa Billings. ABSTRACT Due to population concentration and spread of individual transport in São Paulo from the year 1940, traffic has become increasingly worse. Thus, public management was forced to find new possibilities. One was the Rodoanel, which consists of a ring road that allows the passage of vehicles in São Paulo without passing their conurbations. However, the shaft will be constructed south of Rodoanel under the main springs which supply the city of São Paulo, one of them would be to Billings. In this context, the objective of this work is to predict the possible impacts that will cause the Rodoanel dam Billigs, specifically the region of the Jardim Riviera and Parque Miami, which has so far been one of the areas most affected by the works of Rodoanel. The method used in this work is an integrated evolutionary analysis, initially by showing the evolution of urban mapping in the area, before the works of Rodoanel, using aerial photographs of the years 1972 and 2001. Induction and analogy also guide the prognosis, because the prediction of impacts is based on analysis of other areas that were covered by Rodoanel and then design a future. Technically the research will be supported by field work, which enable the observation and photographic records of the area, besides the application of questionnaires to residents and interviews with engineers of the works of Rodoanel. This region was chosen because despite the large concentration of population in the area, now started to see significant changes. This work becomes important in geographical science, as the prediction of impacts requires articulation of social and natural, identifying the main damage that may cause the man to nature, to guide the mitigation. It is also because the geography of USP ders in agreement with the task of rehabilitation of this areas. Keywords: Rodoanel, Environmental Impacts, Billings. 1. INTRODUÇÃO Segundo a PRODAM e o DPH (Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo e Departamento do Patrimônio Cultural, 1999), nos anos de 1950, o Município de São Paulo passa por um fenômeno de “desconcentração” industrial. As indústrias passaram a se transferir para outros municípios da Região Metropolitana como o grande ABC, Osasco, Guarulhos, Santo Amaro, Campinas, São José dos Campos, Sorocaba, devido a incentivos fiscais e outros tipos de incentivos, o que fez com que essas áreas se desenvolvessem também. Nas décadas de 1950 e 1960, a Via Anchieta tornou-se um dos principais eixos econômicos do país. A indústria automobilística instalou-se próxima à região de mananciais, que na época vivia seu momento de maior glória. Assim, a instalação das indústrias automobilísticas na região, levou à ocupação por uma população de alto poder aquisitivo que mudou por completo os hábitos do local. Inúmeros barcos de lazer de alto padrão invadiram a Represa Billings, onde não se viam mais embarcações simples. Devido à reversão do Rio Pinheiros para a Represa ela foi ficando cada vez mais poluída, o que afastou a população de alto poder aquisitivo da área. Também devido à promulgação da Lei Proteção dos Mananciais, que tornaria a permanência daquela população na área ilegal. A cidade de São Paulo cresceu muito rapidamente, fazendo com que as classes mais carentes se direcionassem para a periferia, já que as áreas centrais se valorizaram, causando especulação imobiliária. Com a expulsão das classes baixas para a periferia, iniciou-se a degradação ambiental, causada pela grande expansão e pela falta de infra-estrutura urbana adequada, gerando os problemas da ocupação das áreas de proteção de mananciais e das várzeas e, também, dos sistemas de abastecimento de água, coleta de esgotos sanitários e lixo. Em outras palavras, com a valorização das zonas centrais, o centro é ocupado por uma classe alta, onde a infra-estrutura já está consolidada, ocorrendo o inchaço das regiões periféricas, que não possuem infra-estrutura e esperam para obtê-la. A instalação das montadoras no Brasil expressou a opção feita pelo transporte individual rodoviário. Assim com o rápido desenvolvimento da cidade de São Paulo por volta dos anos 1940, e mais ainda nos 1950 e com o desenvolvimento da indústria automobilística no país, o trânsito se tornou cada vez mais sobrecarregado, principalmente com os atuais incentivos para se obter um carro. Assim, os governantes foram obrigados a tentar encontrar novas possibilidades. Uma delas foi o Rodoanel, que consiste em um anel viário que passaria fora da cidade de São Paulo para dessobrecarregar o trânsito da cidade, principalmente os caminhões que entram na cidade para ir ou voltar do porto de Santos. Neste quadro, o eixo sul do Rodoanel que servirá de acesso ao porto de Santos sem passar dentro da cidade de São Paulo está sendo construído. O problema é que passará pelos principais mananciais de água doce que abastecem a cidade de São Paulo. No relatório de impactos ambientais da PROTAN (empresa que está realizando as obras do Rodoanel, 2006) há uma breve explicação do que seria o Rodoanel Sul: “O principal impacto do Rodoanel refere-se às alterações que ocorrerão no desempenho do sistema viário metropolitano, a partir da entrada em operação de cada trecho. Essa melhoria do desempenho do sistema, de forma agregada, se concretizará mediante a sensível redução do tráfego de passagem em algumas artérias estruturais, como: as marginais e o Minianel Viário; os trechos de todas as rodovias entre a sua intersecção com o Rodoanel e o centro metropolitano; os trechos de estradas e vias concorrentes com o Rodoanel, como a SP-23, a SP-31, a estrada do Montanhão e a Galvão Bueno, dentre outras. Implicará, contudo, o incremento do tráfego em vias urbanas que catalisarão as viagens com origem e destino associados às interseções com o Rodoanel, como é o caso, hoje, com a abertura do trecho Oeste, da Avenida Raimundo Pereira de Magalhães e das vias urbanas que articulam as estradas do M’Boi Mirim e de Itapecerica da Serra à intersecção do Rodoanel com a Regis Bittencourt, e o caso, futuramente, da avenida Papa João XXIII, da SP-66, da estrada de Bonsucesso, dentre outras”. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é prognosticar os possíveis impactos que o Rodoanel irá causar a Represa Billigs, mais especificamente a região do Parque Miami e Jardim Riviera, que foram até agora uma das áreas que mais tiveram a cobertura vegetal retirada, e tiveram uma boa parte das populações de baixa renda deslocada. Para AB’SABER (1998), prever impactos é um ato de tomada de precauções para garantir a harmonia e compatibilizar funções no interior do espaço total no futuro. É também, por extensão, um ato de bom senso em que se procura harmonizar o desenvolvimento com uma correta postura de proteção ambiental e ecológica. Levando em consideração CHRISTOFOLETTI (1979), o espaço total pode ser considerado como o sistema inteiro (a Billings e seu entorno), e a área de estudo como um subsistema (Parque Miami e Jardim Riviera), utilizando a abordagem sistêmica, na qual um subsistema influencia o outro e vice-versa, gerando uma rede em que se houver a entrada de algum componente a entropia aumenta, fazendo com que o sistema não fique em equilíbrio, já que há muita sobra de energia no mesmo. Esta área foi escolhida porque além de ser a segunda região com maior densidade populacional do entorno da Represa Billings, perdendo apenas para a vertente do lado da Represa Guarapiranga, possui uma grande concentração de áreas verdes que por lei estão protegidas, Além disso, o tema dentro da ciência geográfica torna-se importante, pois a previsão de impactos exige articulação da dimensão social e natural, identificando os principais danos que o homem pode causar a natureza, de modo a orientar a mitigação. Justifica-se também, pois a Geografia da Universidade de São Paulo (USP) em convênio com o Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) que está encarregada da recuperação de áreas. As áreas selecionadas para a pesquisa situam-se as margens da Represa Billings; localizam-se no Município de Santo André, SP, quase na divisa com o município de São Bernardo do Campo. A área escolhida compreende o bairro Parque Miami, Jardim Riviera e a favela Pintassilgo que teve início como uma expansão não planejada da subdivisão legal do bairro Parque Miami, e assim pode ser considerada parte do bairro. O acesso à área se dá em Santo André pela Estrada do Pedroso e pela Estrada do Montanhão por São Bernardo, que é acessada pela Rodovia Anchieta (SP – 150). A figura 1 mostra a localização do Município de Santo André dentro da Região Metropolitana de São Paulo e a figura 2 mostra o Parque Miami e o Jardim Riviera dentro do Município de Santo André. Figura 1: Localização do Município de Santo André dentro da Região Metropolitana de São Paulo Fonte: SEADE (2007) – Organizado por RALLA, T, M, C.(2009) Figura 2: Os bairros Parque Miami e Jardim Riviera localizados dentro do Município de Santo André Fonte: SEADE (2007) – Organizado por RALLA, T, M, C.(2009) A figura 3 mostra a localização do Parque Miami e Jardim Riviera de uma forma mais detalhada Figura 3: Localização Parque Miami e Jardim Riviera no Município de Santo André de uma forma mais detalhada Fonte: SEADE (2007) – Organizado por RALLA, T, M, C.(2009) O traçado do Rodoanel Sul passa dentro da área de estudo, como mostra a figura 4. Figura 4: Traçado do Rodoanel dentro da área de estudo Fonte: SEADE (2007) – Organizado por RALLA, T, M, C.(2009) 2. MATERIAIS E MÉTODOS O método utilizado neste trabalho afim de se chegar ao objetivo proposto, será uma análise integrada evolutiva. A indução e a analogia também orientarão o prognóstico, pois a previsão de impactos será pautada na análise de outras áreas que foram abrangidas pelo Rodoanel, para então projetar um quadro futuro. Tecnicamente, serão feitos alguns mapeamentos na área para demonstrar a evolução urbana de recorte temporais anteriores, utilizando fotografias aéreas na escala de 1:25.000 e de 1:15.000, respectivamente dos anos de 1972 e 2001, fornecidas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), fazendo a sobreposição de dados no Software MapInfo 8.5. Após, a pesquisa será apoiada em trabalhos de campo, que viabilizarão a observação e registros fotográficos da área, além da aplicação de questionários aos moradores para identificar as mudanças que ocorreram na área desde o início das obras do Rodoanel, e também de entrevistas com engenheiros das obras. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Caracterização preliminar da área de estudo A área estudada está situada no Planalto Atlântico, caracterizada como “região de terras altas constituída predominantemente por rochas cristalinas pré-cambrianas e cambroordovicianas, cortadas por intrusivas básicas e alcalinas mesozóico-terciárias, e pelas coberturas das bacias sedimentares de São Paulo e Taubaté” (IPT, 1981, apud COPIANO, 2002). Esse planalto foi dividido em zonas, sendo que a área de estudo inclui-se na zona do Planalto Paulistano, que corresponde a uma área de relevo suavizado, desfeito em morros e espigões divisores de alturas modestas, com altitudes geralmente entre 751 e 900 metros, decrescendo de sudeste a noroeste. “Esse planalto limita-se a sul de modo brusco nas cumiadas das escarpas da Serra do Mar e Paranapiacaba...” (ALMEIDA,1964 apud COPIANO, 2002) e divide-se em duas subzonas. Denominam-se Morraria do Embu e Colinas de São Paulo. Portanto, pode-se descrever a geomorfologia dos núcleos estudados com sendo uma região com domínio dos mares de morros e com vales que possuem predominantemente vertentes convexas. Conseqüentemente trata-se de uma região de planalto há cerca de 25 km da linha de crista da Serra do Mar, muito afetada pela influência oceânica. Segundo COPIANO (2002), o clima é o tropical de altitude, com temperaturas médias de 20,6 oC e pluviosidade entre 1400 e 1500 mm anuais. Situa-se na área de influência das massas tropicais atlânticas e tropical continental, além da polar atlântica, mais freqüente de maio a setembro, e responsável pela maior parte das chuvas nesse período. A proximidade da área serrana favorece para que a umidade relativa do ar seja elevada, com freqüentes episódios de nevoeiros. Dessa forma, os bairros estão inseridos no Domínio da Mata Atlântica, e a totalidade de sua área era, originalmente, recoberta por floresta ombrófila densa. Inicialmente a floresta foi removida devido ao extrativismo vegetal, pois além da coleta do palmito, usavam outras árvores para a construção de embarcações, residências e também para a fabricação de móveis, de lenha e carvão. Muitas culturas foram introduzidas por famílias de chacareiros como o cultivo de verduras destinadas ao abastecimento local. Mais recentemente, foi feito o reflorestamento com espécies arbóreas, principalmente pinus e eucalipto, conhecidas por impedir o crescimento de outras espécies e comprometer a biodiversidade de onde são plantadas. Desde então, a expansão urbana tem alcançado as últimas áreas que possuem remanescentes de florestas, como o núcleo populacional estudado. Atualmente, a vegetação do Município é composta por matas secundárias, do tipo de florestas tropicais úmidas de altitude ou de florestas tropicais úmidas de encosta. No Parque Miami e Jardim Riviera, apesar da conservação, a cobertura vegetal mostra-se bastante alterada, devido à ocupação humana. Segundo COPIANO (2002), a área é situada dentro da bacia hidrográfica da represa Billings e constitui-se numa das áreas de expansão da mancha urbana, apresentando atrativos para a ocupação, tais como a proximidade com indústrias e áreas comerciais e de serviços, infraestrutura urbana já parcialmente implantada e que apesar de precária favorece o acesso público. Além disso, é próximo da área mais urbanizada do município de Santo André, e o baixo custo do solo urbano, quando comparado às áreas sem condicionantes restritivos legais e com melhor infra-estrutura, apresenta-se como fator de intensificação da apropriação dessa área pela classe trabalhadora, cujo acesso à moradia é dificultado pelo baixo rendimento e insuficiência das políticas públicas de habitação. Conforme dados obtidos nas pesquisas de campo, a região estudada é urbanizada, pois possui rede de saneamento básico e água, mas ainda parte do esgoto é jogado no Córrego Guarará (afluente do rio Tamanduateí) sem tratamento, pois a rede não alcança a ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) São Caetano; há coleta de lixo três vezes por semana. Não possui altos índices de violência e conta com áreas de lazer na proximidade (Parque do Pedroso). A comunidade conta com uma escola da Prefeitura, com um posto de saúde, com a creche Monteiro Lobato e com uma escola do Estado. Apesar de tudo ainda, é uma área considerada de baixa renda e possui a favela Pintassilgo que modifica um pouco a situação em relação à questão da urbanização já que a mesma não possui nenhum tipo de infra-estrutura. A favela encontra-se em uma área com declive acentuado e também parcialmente dentro de um parque destinado à conservação natural. Ela é adjacente ao bairro Parque Miami e densamente ocupada por edificações ao longo da encosta de um morro voltado para o sul, com grande declive descendo até um dos braços do Reservatório Billings. Serviços como comércio, saúde e educação não existem na Pintassilgo, apenas existe um campo de futebol, o qual, juntamente com algumas pequenas igrejas, constituem as únicas áreas comunitárias do local, outros serviços são acessíveis em algumas vizinhanças próximas. A favela é relativamente acessível à parte urbanizada de Santo André. A sudoeste da favela existem comércios e instalações de serviço local (incluindo um posto de saúde) do Parque Miami. Essa região possui uma escola de ensino primário, que é freqüentada pela maioria das crianças residentes na Pintassilgo. Existe ainda outra escola primária localizada a nordeste da favela, mas seu acesso se dá por meio de uma faixa de terra pantanosa e florestada. Muitas moradias foram construídas em alvenaria, no sistema de autoconstrução, por meio da cooperação da família e de amigos, sendo que em alguns terrenos a área total foi edificada, muitas vezes sendo construídos mais de um pavimento (sobrados), sem o prévio estudo do terreno. Atualmente, a favela conta com sistema de telefonia; as casas são abastecidas de água potável pela rede pública, porém não possuem acesso a rede de esgoto sanitário e, por não ser uma área urbanizada, não há controle sobre a utilização de fossa séptica. O lixo é coletado por meio de caçambas e retirado pela prefeitura semanalmente. Na região, ocorrem diversos problemas ambientais, resultantes do arruamento inadequado, da suavização do relevo por meio de terraplanagem e remoção de cobertura vegetal. Em certos locais, a ocupação sem infra-estrutura causou a erosão do solo, expondo-o ao impacto pluvial e a camada alterada do substrato rochoso tornou-se excessivamente suscetível aos mecanismos de remoção e transporte de massa pelo escoamento superficial. O deslizamento de terras, com a conseqüente destruição de moradias e ameaças à vida humana, o assoreamento dos rios, a perda de capacidade de armazenamento de água nos reservatórios e a ocorrência de enchentes são também conseqüências da ocupação e uso do solo de formas inadequadas e irregulares. As exigências legais que impõem controles sobre a densidade demográfica e o parcelamento do solo, exigindo nos lotes poucas pessoas por unidade de área, restringiram as possibilidades de utilização dessas áreas, causando a pré-desvalorização e tornando-as atrativas para venda à população de baixa renda, sob a forma de lotes clandestinos e/ou terrenos com construções irregulares, cuja área construída está em desacordo com a legislação. Os moradores comentam que mesmo se localizando em Área de Proteção de Mananciais, possuem a posse da terra, mas hoje em dia é proibido desmatar mais, e comentam que há fiscalização rigorosa. 3.2 Evolução da Ocupação Foram elaborados inicialmente dois mapas de uso e ocupação do solo, que podem demonstrar esse forte adensamento populacional, tendo como base fotos aéreas, de 1972, quando o loteamento estava começando a ser ocupado, e de 2001 quando a ocupação estava consolidada. A figura 5 mostra o mapa de uso e ocupação do solo na região do Parque Miami e Jardim Riviera no ano de 1972. Figura 5: Mapa de uso e ocupação do solo do Parque Miami e Jardim Riviera, no ano de 1972 Fonte: SEADE (2007) – Organizado por RALLA, T, M, C.(2009) Em relação à ocupação, no ano de 1972, apenas ocorriam áreas extensas com loteamentos desocupados; era o início da ocupação da região. Havia apenas uma chácara que desmatou uma parte da área. Fora isso, só havia mata ainda conservada. A figura 6 mostra o mapa de uso e ocupação do solo do Parque Miami e Jardim Riviera no ano de 2001. Figura 6: Mapa de uso e ocupação do solo do Parque Miami e Jardim Riviera, no ano de 2001 Fonte: SEADE (2007) – Organizado por RALLA, T, M, C.(2009) No ano de 2001, a região encontrava-se com um grande adensamento populacional de baixa renda. Ocorreu um forte desmatamento na área trazendo a possibilidade de escorregamentos e também o assoreamento da Represa, além da possibilidade de acúmulo de lixo e resíduos, já que a favela Pintassilgo não possui rede de saneamento básico, nem coleta de lixo efetiva. Um aspecto interessante é que, a área ocupada pela chácara parece ter sofrido impacto positivo, pelo fato de a foto aérea de 1972 mostrar que a região estava muito mais desmatada do que na foto de 2001. Ocorreram nestes anos, muitas mudanças na região que podem influenciar para sua contínua degradação. A maior mudança refere-se às obras do Rodoanel, cuja construção é empreendida pelo Governo Estadual, e estimulada pelo Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal. A partir da análise dos dois mapas e de trabalhos de campo, considerando a situação atual da área do ano de 2009, pode-se perceber que grande parte da cobertura vegetal foi retirada para a construção do Rodoanel. O Rodoanel consiste em um anel viário que servirá para ir ao porto de Santos sem passar na cidade de São Paulo. Com 61,4 quilômetros Trecho Sul tem início no trevo da Rodovia Régis Bittencourt, passando pelas Rodovias Anchieta e Imigrantes, chegando até o prolongamento da Avenida Papa João XXIII, em Mauá. 3.3 Situação Atual Segundo o jornal “O Estado de São Paulo” do dia 12 de Março de 2007, a Prefeitura e a empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) firmaram acordo para garantir a compensação ambiental pela retirada de 212 hectares de mata no entorno da Represa Billings, necessária para esta obra. Está prevista a criação de quatro unidades de preservação, além de um parque-estrada ao longo da pista do anel viário na área do entorno que será desmatada. Com isso, a expectativa é proteger 15 milhões de metros quadrados de área verde. Serão destinados cerca de R$ 600 milhões para o Trecho Sul, 3 milhões no Parque do Pedroso, em Santo André, que compreende a área do Parque Miami e Riviera. Quem está encarregado de planejar o uso dessas áreas é o Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), sob a coordenação da Professora Sueli Ângelo Furlan. Foram retiradas famílias que moravam no local onde as obras estão sendo construídas. Nos questionários aplicados aos moradores locais, pode-se perceber que todos os entrevistados confirmaram que as indenizações foram pagas, mas no projeto inicial a intenção seria remanejar as pessoas para outras áreas, e não apenas pagar indenizações. Foi comentado também pelos moradores que nas reuniões antes do início da construção do Rodoanel na área, foi dito que haveria aberturas para os moradores terem acesso ao Anel Viário. Mas segundo a Secretaria dos Transportes do Estado de São Paulo (2009), para não induzir a ocupação nas zonas de mananciais, o trecho sul estende-se por 38 quilômetros sem nenhum acesso às avenidas da região. Na área após o cruzamento com a Via Anchieta, prossegue em direção a Mauá, margeando o braço do Rio Grande, funcionando como barreira à ocupação da área. Ao tentar conversar com algum responsável pelas obras do Rodoanel só conseguiu-se entrevistar um engenheiro, que comentou que aquela região após a construção do Rodoanel será totalmente desalojada, e será construído lá um Parque Estadual. Ele não soube delimitar exatamente qual o núcleo populacional que seria desalojado. Na figura 6 e 7 mostra-se que a devastação inicial já é significante. No ano de 2007 a cobertura vegetal se encontrava muito mais densa. Agora em 2009, grande parte da cobertura vegetal foi retirada para a construção do Anel Viário. A figura 7 mostra a região do Parque Miami, onde a vegetação está relativamente conservada. Nota-se que a direita ainda permanece uma ocupação de baixa renda. Figura 7: Região Parque Miami onde a vegetação está relativamente conservada, com ocupação de baixa renda à direita Fonte: RALLA, T, M, C.(2007) A figura 8 mostra a região do Parque Miami, com as obras do Rodoanel Trecho Sul, com grande parte das ocupações de baixa renda retiradas a direta. Foto 8: Região do Parque Miami, com as obras do Rodoanel Trecho Sul, com grande parte das ocupações de baixa renda retiradas à direta Fonte: RALLA, T, M, C.(2009) Já a figura 9 mostra a grande retirada de cobertura vegetal da parte um pouco mais distante da margem da Represa onde o Rodoanel passará, para fazer ligação com a Rodovia Anchieta. Figura 9: região desmatada de onde está sendo construída a ligação do Rodoanel Sul com a Via Anchieta Fonte: RALLA, T, M, C.(2009) Uma comparação a ser feita seria do Rodoanel Trecho Sul que está sendo construído nos mananciais, que tem o comprometimento do reflorestamento dos trechos desmatados, com o Rodoanel Trecho Oeste, lá houve este mesmo compromisso por parte dos governantes, porém, segundo WHATELY (2005), não ocorreu o reflorestamento. As áreas foram mais ocupadas, devido ao beneficiamento de vias de ligação com locais mais centrais, assim diversas áreas foram terraplanadas para serem utilizadas na construção de grandes empreendimentos. A justificativa para o não realizamento das obras de reflorestamento está na falta de verbas. A figura 10, 11e 12 mostra algumas partes do Rodoanel Oeste que ainda não foram reflorestadas, e que foram e podem ser usadas para grandes empreendimentos, além de outras áreas que se encontram erodidas. Figura 10: mostra área desflorestada, que pode ser usada para grandes empreendimentos Fonte: VIEIRA, R. (2007) Figura 11: mostra grande área terraplanada, e algumas áreas desflorestadas Fonte: Secretaria dos Transportes do Estado de São Paulo (2009) Figura 12: mostra extensa área com grandes empreendimentos Fonte: Secretaria dos Transportes do Estado de São Paulo (2009) 4. CONCLUSÕES PARCIAIS Preliminarmente chega-se a conclusão que a finalização da obra do Rodoanel Trecho Sul, pode causar muitos impactos, pois se não houver realmente a tentativa de reflorestamento na área, o que era até pouco tempo relativamente conservado, se torna totalmente destruído, o que pode impulsionar um maior crescimento populacional na área. Pode-se perceber que não há interesse de mostrar a verdade aos moradores, já que inicialmente para eles a obra teria abertura para a área e apenas algumas moradias seriam desalojadas. Mas não é o que parece que vai acontecer, a obra não tem abertura para esta região segundo o que afirma a Secretaria de Transportes do Estado de São Paulo, e ainda há o projeto de desalojar toda a região para a construção de um Parque. Nota-se que para o governo, Estadual e Federal, é interessante apenas divulgar que as obras logo serão concluídas, mas não se sabe como as populações das áreas se encontram, ou mesmo como está a parte física da área, já que com trabalhos de campo pode-se perceber que a área do Parque Miami e Jardim Riviera foi bem devastada. Assim, o único meio de observar as obras de forma efetiva é a realização de trabalhos de campo nas áreas, já que as notícias divulgadas pela imprensa se encontram de forma nebulosa nestes assuntos. Também ainda encontra-se outro problema, já que no Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal há o projeto de urbanização da Favela Pintassilgo, imagina-se que se acontecer poderá incentivar uma maior demanda populacional para área, já que áreas que antes não eram regularizadas agora poderão ser, e ainda receber infra-estrutura. Claro que é um ponto importante, mas se não houver o reflorestamento, como por indução, projeta-se que não irá acontecer, incentivará a vinda de outras famílias para a área, pois ficarão muitas áreas desmatadas, prontas para serem ocupadas. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB’SABER, A.N. MULLER-PLATEBERG, C. (orgs.). Previsão de Impactos: O Estudo de impacto ambiental no leste, oeste e sul. Experiências no Brasil, na Rússia e na Alemanha. 2ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998. CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em Geografia. São Paulo, Hucitec, 1979. COMITÊ GESTOR DO PAC. Balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), referente a março de 2009. São Paulo, Julho de 2008. COPIANO, M.J. Nas margens da Billings e à margem da sociedade: análise da ocupação no Parque Miami e Jardim Riviera, situados na área de proteção aos mananciais do município de Santo André. São Paulo 2002. Trabalho de conclusão de curso apresentado a Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Departamento de Geografia. DEPARTAMENTO DE PATRIMÔNIO CULTURAL, EMPRESA DE TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. A cidade de São Paulo e sua história. Disponível em: <http://www.prodam.sp.gov.br/dph/historia/> Último acesso 01/08/2007. O ESTADO DE SÃO PAULO. Obra do Trecho Sul do Rodoanel recomeça em abril, 12 de Março de 2007. Disponível <http://www.estadao.com.br/arquivo/cidades/2007/not20070312p16974.htm> em: Último acesso 11/02/2009. PREFEITURA DE SANTO ANDRÉ. Dados estatísticos: Demografia. 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