Facoemulsificação bilateral seguida de implante de lente acrílica dobrável em uma tigresa-de-bengala (Panthera tigris tigris) – relato de caso Bilateral phacoemulsification followed by a foldable acrylic lens implant in a Bengal Tiger (Panthera tigris tigris) – case report Facoemulsificación bilateral seguida de la implantación de la lente de acrílico plegable en una tigresa de Bengala (Panthera tigris tigris) – reporte de un caso João Alfredo Kleiner MV, MSc Vetweb Oftalmologia Veterinária Rua Vereador Augusto Staben, 133 – Bacacheri Cep.: 82.515-240 Curitiba – Pr E-mail: [email protected] Website: www.vetweb.com.br Telefone: (41) 9921-5026 RG: 5729737-9 CPF: 962931449-53 Eduardo Kato Watanabe MV, MSc Hospital Veterinário Prontodog Rua Tiete, 585 apto 102 Cep.: 87.020-210 Maringá – Pr E-mail: [email protected] Telefone: (44) 9953-4201 RG: 3722914 CPF: 747336809-53 Carlos Bettini MV, MSc, PhD Hospital Veterinário Prontodog Rua Arthur Thomas, 129 Cep.: 87.013-250 Maringá – Pr E-mail: [email protected] Telefone: (44) 3028-7785 RG: 46613600 CPF: 722036179-34 Resumo: O advento da facoemulsificação com implante de lentes intraoculares (LIOs) acrílicas dobráveis trouxe melhores resultados nas cirurgias de catarata na medicina veterinária. Além de devolver a boa acuidade visual (detalhe da imagem), as lentes artificiais diminuem a opacidade de cápsula posterior, diminuindo a proliferação celular lenticular e também a incidência de glaucoma a longo prazo. O poder dióptrico de uma lente artificial varia de espécie para espécie, devido às variações encontradas nas dimensões do bulbo ocular. As particularidades anatômicas encontradas nos animais variam o que pode prejudicar o prognóstico cirúrgico em muitos casos. Este relato de caso tem como objetivo descrever o preparo, a técnica utilizada e os resultados obtidos na facoemulsificação bilateral seguida de implante de lente acrílica dobrável em uma tigresa-de-bengala (Panthera tigris tigris) de 2,5 anos de idade. Palavras-chave: catarata, cirurgia, lente intraocular, visão, animais selvagens. Abstract: The advent of phacoemulsification and foldable intraocular lens (IOLs) implants has provided improved outcomes for cataract surgery in veterinary patients. Besides restoring good visual acuity (image details), artificial lenses decrease posterior capsular opacification, diminishing the proliferation of lens cells and also the incidence of glaucoma in the long run. The dioptric power of artificial lenses varies among species because of the great variations of ocular globe dimensions. Species and anatomical differences vary greatly, which complicates the postoperative predictability in some cases. This report describes the preparation, technique employed and results obtained in a bilateral cataract surgery using phacoemulsification followed by a foldable acrylic IOL implant in a two and a half year-old Bengal Tigress (Panthera tigris tigris). Keywords: Cataract, surgery, intraocular lens, vision, wild life. Resumen: El advenimiento de la facoemulsificación con implantación de lentes intraoculares (LIO) acrílico plegable trajo mejores resultados en la cirugía de cataratas en la medicina veterinaria. Y además de una buena agudeza visual (detalles de la imagen), lentes artificiales disminuye las opacidades capsulares posteriores, la reducción de la proliferación celular lenticular y también la incidencia del glaucoma a largo plazo. El poder dióptrico de una lente artificial varía de una especie a otra debido a las variaciones que se encuentran en las dimensiones del globo ocular. Amplia variedad de las especies y sus características anatómicas individuales afectam el resultado e prognostico de la cirugía en muchos casos. Este artículo científico tiene como objetivo describir la preparación, la técnica y los resultados de la facoemulsificación bilateral seguida de la implantación de la lente de acrílico plegable en una Tigresa de Bengala (Panthera tigris tigris) 2.5 años de edad. Palabras clave: cataratas, cirugía, lente intraocular, visión, animales salvages. Introdução O tigre é uma espécie muito importante na conservação da biota da maioria das ecorregiões da Ásia. Seu papel como predador é fundamental na regulação e perpetuação de processos ecológicos e sistemas 1. Existem nove subespécies de tigres: tigre-de-bengala (Panthera tigris tigris), tigre-da-Indochina (Panthera tigris corbetti), tigre-malaio (Panthera tigris jacksoni), tigre-de-sumatra (Panthera tigris sumatrae), tigre-siberiano (Panthera tigris altaica), tigre-do-Sul-da-China (Panthera tigris amoyensis), tigre-de-báli (Panthera tigris Balica), tigre-docáspio (Panthera tigris virgata) e tigre-de-java (Panthera tigris sondaica), sendo que os últimos três já estão extintos. O tigre é reconhecido como o maior dos felinos selvagens e um dos animais mais magníficos dentre todas as espécies. O tigre-de-bengala (Panthera tigris tigris) é uma das mais numerosas subespécies de tigre e foi enquadrado como uma das espécies globalmente ameaçadas de extinção. A população total é estimada em menos de 2.500 indivíduos, e um número escasso pode ser encontrado em zoológicos e santuários particulares no Brasil. O comprimento total do corpo é de 3,3 m, o peso atinge até 306 kg e sua longevidade nos zoológicos é de cerca de 20 a 26 anos, o que parece ser o mesmo na selva 2. A catarata pode afetar numerosas espécies de mamíferos, e sem tratamento adequado a uveíte facoinduzida, bem como o glaucoma e as retinopatias, podem levar à perda irreversível da visão. Um bom preparo do paciente candidato à intervenção cirúrgica para o tratamento da catarata é fundamental no sucesso a curto e longo prazo, diminuindo a incidência de complicações (glaucoma, opacidades capsulares, uveítes) que podem reduzir a visão e a saúde dos tecidos oculares. A facoemulsificação segue sendo a técnica de escolha e que apresenta os melhores resultados para o tratamento da catarata em todas as espécies. Os aparelhos utilizados (facoemulsificadores) têm uma caneta que inicialmente transforma a energia elétrica em vibração ultrassônica e depois em energia mecânica, que produz uma excursão longitudinal da ponteira metálica da caneta de ultrassom, fragmentando a massa cristaliana. A infusão e a aspiração contínuas de fluído mantêm a câmara anterior do bulbo do olho, evitando seu colabamento e equilibrando a pressão positiva do vítreo 3. As lentes intraoculares, principalmente as de acrílico hidrofílico e dobráveis, podem ser especificamente desenvolvidas para cada espécie, e no cálculo do seu poder dióptrico algumas variáveis estão envolvidas, como a curvatura da córnea, a profundidade da câmara anterior, o comprimento axial do bulbo ocular e o índice de refração do humor aquoso. Tais dados são obtidos por meio da ultrassonografia ocular e as medidas obtidas inseridas em fórmulas que calculam as dimensões específicas das lentes a ser implantadas (ex.: fórmula de Binkhorst) 4. Este relato de caso pretende descrever a preparação, os exames adicionais (ultrassonografia ocular, eletrorretinografia, tonometria) a técnica cirúrgica e os resultados obtidos em uma cirurgia de catarata bilateral utilizando a facoemulsificação seguida do implante de lente acrílica dobrável em uma tigresa-de-bengala de 2,5 anos de idade. Relato de caso História clínica Uma tigresa-de-bengala (Panthera tigris tigris) não castrada de 2,5 anos de idade e 200 kg de peso vivo foi atendida pelo serviço de oftalmologia veterinária da Vetweb devido a uma diminuição severa de visão. O proprietário relatou que a paciente enxergava bem durante os primeiros meses de vida e ficou totalmente cega aos sete meses de idade. A observação clínica do animal em sua jaula revelou que a tigresa tinha grande dificuldade em evitar obstáculos e outros animais, esbarrando neles a todo momento. Embora fosse adestrada e dócil, para facilitar o exame oftálmico completo e o manuseio empregou-se uma sedação composta de 1,8 mg/kg de alfa-2 agonista a, 1,8 mg/kg de cetamina e 0,08 mg/kg de midazolam. Os fármacos foram misturados na mesma seringa e aplicados por via intramuscular. Exame oftálmico O exame oftálmico revelou discreta hiperemia conjuntival e secreção mucoide bilateral. A córnea encontrava-se transparente, sem a presença de vasos sanguíneos ou pigmento; o reflexo pupilar fotomotor estava dentro da normalidade. Os valores obtidos do teste de Schirmer b foram de 18 mm em um minuto no olho esquerdo (OS) e 20 mm em um minuto no olho direito (OD). Em ambos os olhos utilizou-se tropicamida c para dilatação pupilar, lente de oftalmoscopia indireta de 20D para magnificação e uma fonte de luz, observando-se uma catarata imatura bilateral (Figuras 1A e B). A tonometria digital usando tonômetro de aplanação d revelou uma pressão intraocular (PIO) de 16 mmHg em OD e 14 mmHg em OS, sendo que o normal, segundo a literatura, é de 12 a 22 mmHg 5. Coletou-se uma amostra de sangue da veia cefálica para exame de sangue completo (hemograma, glicose, ureia, creatinina, fosfatase alcalina, ALT, AST e gama G-T), e os resultados encontravam-se dentro dos parâmetros normais para a espécie 6-8. Eletrorretinografia (ERG) Para o exame de ERG, a tigresa foi levada para um corredor com pouca luminosidade, e para o teste utilizou-se o eletrorretinógrafo BPM-200 e (Figura 2). O eletrodo de gravação f foi colocado em contato com a córnea, utilizando-se uma gota de solução salina para melhor a Sedomin® 10%, Konig, Avellaneda, Argentina. Importador: Londrivet, Maringá – Pr. Ophthalmos®, São Paulo, SP. c Mydriacyl®; Alcon Laboratórios, São Paulo, SP. d Tono-pen Avia® Vet, Reichert, USA. Importador: Tradevet, Curitiba, Pr. e Retinographics®, Norwalk, CT, USA. Importador: Tradevet, Curitiba, Pr. f Lente de contato ERG-Jet®, Fabrinal SA, La Chaux-de-Fonds, Switzerland. b aderência. Os eletrodos referência e terra usados foram agulhas de platina subdérmicas g. O eletrodo referência foi colocado na porção superior do arco zigomático, a 6 cm do canto lateral e rostral à base da orelha, do mesmo lado ao olho examinado, e o eletrodo terra foi colocado na região dorsal média do pescoço. Apenas o protocolo Standard h do aparelho BPM-200 foi utilizado em ambos os olhos e obtendo-se ondas a e b em ambos, o que demonstrou uma boa atividade do tecido retineano (Figura 3). Ultrassonografia ocular Na ultrassonografia modo-B utilizou-se o aparelho Honda HS-2000 Vet i em busca de anormalidades como instabilidade lenticular, microfaquia, persistência da artéria hialoidea, vitreíte e descolamento de retina, e nenhuma alteração digna de nota foi observada (Figura 4). As dimensões de ambos os olhos (curvatura da córnea, comprimento axial e profundidade da câmara anterior) foram medidas, e os dados foram utilizados para o cálculo do poder dióptrico da LIO a ser implantada. Cálculo do poder dióptrico da LIO Para o cálculo do poder dióptrico da LIO a ser implantada utilizou-se a fórmula de Binkhorst, D= 1336 (4r-a) / (a-d) x (4r-d), sendo “D” o poder dióptrico da LIO, 1336 o índice de refração do humor aquoso e vítreo, “r” a curvatura radial da superfície anterior da córnea, “a” o comprimento axial (em milímetros) do bulbo ocular e “d” profundidade da câmara anterior 9. Essa equação, depois de resolvida, nos dá o poder dióptrico necessário da lente intraocular a ser implantada para que a luz (imagem) de um objeto distante seja projetada diretamente na retina originando uma imagem definida 10. O resultado obtido, juntamente com as imagens ultrassonográficas para uma mensuração mais acurada, foram enviados para a Acrivet ®, na Alemanha, para fabricação das lentes intraoculares acrílicas dobráveis específicas para a paciente. Preparo para a cirurgia Aproximadamente 20 dias antes do procedimento cirúrgico, iniciou-se a aplicação diária de gatifloxacina 0,3% com acetato de prednisolona 1% j e glicerina 1% com polissorbato 80 1% k em ambos os olhos e na frequência de 3 vezes ao dia. A tigresa foi ensinada a aceitar os colírios oferecendo-se leite bovino com auxílio de uma mamadeira toda vez que ela era manipulada. Para o transporte da paciente para o centro cirúrgico do Hospital Veterinário Prontodog de Maringá, utilizou-se uma sedação que consistiu em midazolam 0,05 mg/kg l associado com alfa-2 agonista 0,6 mg/kg m e cloridrato de cetamina 0,5 mg/kg n. Durante o transporte utilizou-se colírio de cloridrato de fenilefrina 10% o e sulfato de atropina 1% p , alternados a intervalos de 10 minutos, para uma midríase química adequada ao procedimento cirúrgico. Protocolo anestésico para a cirurgia Para indução, usou-se propofol 0,5 mg/kg q misturado a citrato de fentanil 0,13 µg/kg r por via endovenosa. Um traqueotubo 20 mm foi utilizado para a intubação e manutenção da g 28ga. x 10mm long platinum needle, 24” lead, F-E2-24”, Grass-Telefactor Division, Astro-Med, Inc., West Warwick, RI, USA. h Parâmetros 5 ms/div (Time base), 20 µV/div (Sensitivity), none notch filter, single stimulus, 0 dB (Intensity), white color, 4 tests, 2 seconds of inter-test time, 25% artifact rejection. i Honda Electronics CO, Dusseldorf, Germany. Importador: Tradevet, Curitiba, Pr. j Zypred®, Allergan, São Paulo, SP. k Refresh Endura®, Allergan, São Paulo, SP. l Midazolam® 0.5%, União química, São Paulo, SP. m Sedomin® 10%, Konig, Avellaneda, Argentina. Importador: Londrivet, Maringá – Pr. n Ketamin-S(+)® 5%, Cristália, São Paulo, SP. o Allergan, São Paulo, SP. p Allergan, São Paulo, SP. q Propovan® 1%, Cristália, São Paulo, SP. r Fentanest® 0.5%, Cristália, São Paulo, SP. anestesia com Isoflurano s. A paciente foi posicionada em decúbito dorsal e a cabeça fixada à mesa com auxílio de esparadrapo (Figura 5A). As pálpebras foram retraídas utilizando-se pontos interrompidos simples com fio de náilon 2-0 (Figura 5B) e também com blefarostato de Castroviejo. Para antissepsia da superfície ocular, utilizou-se iodopovidine a 5% e uma lavagem com solução de Ringer Lactato. A centralização do bulbo ocular foi obtida pelo bloqueio peribulbar (periconal) com lidocaína 2% t, volume de 0,6 mL, nos pontos 12, 3, 6 e 9 horas com auxílio de um catéter 24 G inserido até a região equatorial do bulbo e através da conjuntiva bulbar. Foram utilizados solução de Ringer Lactato com uma velocidade de infusão de 10 mL/kg/h e 100 µg/ml de fentanil em 0,9% de solução de cloreto de sódio na velocidade de 5 µg/kg/h para diminuição da concentração alveolar mínima (CAM) durante a cirurgia. Para o aquecimento da paciente, utilizaram-se cobertores elétricos. A pressão sistólica foi acompanhada utilizando-se doppler ultrassônico u e esfignomanômetrov para detecção do pulso audível, na artéria radial do carpo. A média entre sistólica e diastólica foi de 90 mmHg. A oxigenação sanguínea variou de 80 – 99 w , a temperatura corporal, de 36º a 37ºC, e a frequência respiratória, de 6 a 10 rpm (respirações por minuto). Técnica de facoemulsificação A técnica de facoemulsificação com duas mãos com o auxílio de um microscópio cirúrgico x e aumento de 10 x foi utilizada bilateralmente (Vídeo 1). A incisão de serviço (port incision) foi realizada com o auxílio de um bisturi de diamante de 1 mm y na córnea, a uma distância de 1 mm do limbo, na posição de 3 horas e 1 mL de azul de tripano z misturado a 0,5 ml de adrenalina 1:10.000 aa foram injetados na câmara anterior para colorir a cápsula anterior e facilitar a midríase. Para a incisão principal em córnea clara na posição de 11 horas, utilizouse um bisturi descartável de 3,2 mm bb, sendo o bulbo ocular fixado com um anel de Thorton; através dela foi injetado 1 mL de viscoelástico dispersivo cc para proteção endotelial e midríase mecânica. Uma pinça Masket foi utilizada para realização da capsulorréxis, a qual ficou com um tamanho final de 11 mm de diâmetro. Para a hidrodissecção e a hidrodelineação, utilizou-se uma cânula de 27 gauge dd e solução salina balanceada ee. Para a facoemulsificação endocapsular, utilizou-se uma unidade portátil ff com uma ponteira de 30° tipo flared gg e a técnica, stop and chop para fragmentação nuclear. Os parâmetros utilizados no aparelho foram 38 mm de aspiração, 400 de vácuo e 65% de ultrassom. A região mais central da lente (núcleo fetal e embrionário) era extremamente dura, tornando essa etapa de fragmentação e aspiração mais demorada. Após um bom polimento de cápsula anterior e posterior por meio de uma caneta de dupla via de irrigação e aspiração, utilizou-se 1 mL de viscoelástico coesivo hh para a expansão do saco capsular e posterior implante da LIO. A lente utilizada no procedimento era biconvexa, constituída de acrílico hidrofílico, 30 dioptrias de poder refrativo, 21 mm de comprimento total, 12 mm de zona óptica, angulação de alças de 0 ° e bordas posteriores quadradas ii. Para o implante da LIO com o auxílio de uma pinça de inserção, a incisão s Isoforine®, Cristália, São Paulo, SP. Xylestesin®, Cristália, São Paulo, SP. u Doppler flow detector, Model 811-B, Parks Medical Electronics, Inc., Oregon, USA. v WelchAllyn® blood pressure cuff Adult, USA. Importador: Fibra cirúrgica, Joinville, SC. w Pulse oximeter CMS-50D, Contec Medical System, Qinhuangdao, China. Importador: Tradevet, Curitiba, Pr. x MC-M12, DF Vasconcelos, São Paulo, SP. y Katana diamond blade Keragenics®, Rapid City, SD, USA. z Ophthalmos, São Paulo, SP. aa Drenalin®, Ariston, São Paulo, SP. bb Surgistar®, California, USA. cc Ixium Twim®, LCA Pharmaceutical, Chartres, France. dd Right angle chang cannula Keragenics®, Rapid City, SD, USA. ee BSS - Bausch & Lomb, Waterford, Ireland. Importador: Visionline, Curitiba, Pr. ff AMODiplomax®, Allergan, MA, USA. Importador: Visionline, Curitiba, Pr. gg Keragenics®, Rapid City, SD, USA. hh Ixium Twim®, LCA Pharmaceutical, Chartres, France. Importador: Visionline, Curitiba, Pr. ii Acrivet® Veterinary Division, Hennigsdorf, Germany. t principal corneana foi ampliada para 6 mm. Após uma boa aspiração do viscoelástico utilizado durante o procedimento, realizou-se uma sutura da córnea com pontos interrompidos simples e com fio de náilon 8-0 (Figuras 6A e B). Ao final do procedimento, aplicou-se 0,4 ml de betametasona jj por via subconjuntival, a pressão intraocular foi aferida utilizando-se um tonômetro de aplanação kk e os resultados foram OD: 18 mmHg e OS: 13 mmHg. Realizou-se uma retinoscopia bilateral utilizando-se a ClearView ll demonstrando uma boa transparência dos meios ópticos e arquitetura normal de retina (Figura 7). O tempo total de cirurgia dos dois olhos foi de 2 horas e 45 minutos. A terapia pós-operatória consistiu apenas na utilização de colírios de lágrima artificial 3 vezes ao dia por 30 dias, sulfato de atropina 1% 2 vezes ao dia por 12 dias, gatifloxacino 0,3% e acetato de prednisolona 1% mm 3 vezes ao dia por 25 dias e cetorolaco de trometamol 0,45% nn 3 vezes ao dia por 25 dias. Não se utilizou nenhuma medicação sistêmica, nem colar elisabetano. O vídeo do procedimento cirúrgico completo está disponível na figura 8. Resultados e discussão A catarata é definida como a perda da transparência da lente e/ou de sua cápsula. É a patologia mais comum que afeta tal estrutura e a causa principal de cegueira em muitas espécies. Normalmente, não se observam alterações comportamentais associadas à catarata até haver uma perda de 40 a 50% da transparência da lente bilateralmente. Quando as opacidades são localizadas no eixo visual, as alterações comportamentais são muito mais evidentes. O reflexo de piscar à ameaça permanece inalterado até que a lente se torne totalmente opaca. As opacidades podem variar de tamanho, formato, região, etiologia, idade de aparecimento e progressão. O mecanismo básico de formação da catarata deve-se ao desarranjo das fibras lenticulares, e as células epiteliais podem morrer ou sofrer transformação e proliferação, resultando em alterações no equilíbrio osmótico e embebição de água. Com a hidratação da lente, ela se torna translúcida e depois opaca 11. Dentre as causas, podemos citar a hereditariedade, o diabetes, inflamações intraoculares, traumas, retinopatias (ex.: atrofia retiniana progressiva), radiações e substâncias tóxicas. No caso relatado, as causas mais prováveis poderiam ser nutricionais ou genéticas. A primeira, devido ao fato de a alimentação na fase inicial da vida da paciente (leite bovino) ser deficiente em aminoácidos e vitaminas e ter excesso de açúcares para a espécie, podendo originar opacidades lenticulares, assim como ocorre em cães 12,13. Quanto à segunda, sabe-se muito pouco de sua patogênese, e as informações sobre a cataratogênese, tanto em animais de companhia quanto em animais selvagens, são extrapoladas dos seres humanos e de animais de laboratório 14. O tratamento medicamentoso da catarata não é indicado, considerando-se que não há dados conclusivos a respeito da eficácia dos antioxidantes e das “drogas anticatarata”, embora existam alguns estudos realizados in vitro 15. A catarata deve ser manejada cirurgicamente assim que tivermos comprometimento visual, mesmo que unilateral, e a técnica de escolha na grande maioria das espécies é a facoemulsificação 16,17. Na literatura de cirurgia de catarata existem relatos da utilização da facoemulsificação em outras espécies 18-24. Entretanto, não há relato de uma cirurgia bilateral com essa técnica, seguida do implante de lente acrílica dobrável em um tigre de bengala, bem como de exames de ERG, ultrassom ocular, tonometria de aplanação e retinoscopia. Ambos os olhos foram operados no mesmo ato cirúrgico para minimizar os riscos relacionados ao transporte, manejo e anestesia do paciente. Nos seres humanos, a anestesia local é um dos maiores problemas associados à cirurgia de catarata; dentre suas complicações, podemos destacar as perfurações de bulbo ocular, a administração intraocular de fármacos, o descolamento de retina e a hemorragia intraocular 25,26. Muitos oftalmologistas veterinários ao redor do mundo utilizam bloqueadores neuromusculares para estabilizar e centralizar o bulbo ocular. As complicações envolvendo tal jj Diprospan® , Mantecorp Indústria Química e Farmacêutica LTDA, Rio de Janeiro, Brasil. Tono-pen Avia® Vet, Reichert, USA. Importador: Tradevet, Curitiba, Pr. ll Optibrand®, Fort Collins, CO, USA. Importador: Tradevet, Curitiba, Pr. mm Pred-fort®, Allergan, São Paulo, SP. nn Acular®, Allergan, São Paulo, SP. kk procedimento incluem apneia, acidose respiratória, necessidade de ventilação assistida e tempo de recuperação prolongado. Para evitar tais riscos, os bloqueios periconais (peribulbares) vêm sendo utilizados com mais frequência. A combinação de lidocaína com bupivacaína tem-se demonstrado segura em muitas espécies 27-30. A anestesia periconal no caso descrito gerou uma boa centralização e a exposição do bulbo ocular sem nenhuma complicação associada. A utilização do azul de tripano para corar a cápsula anterior e facilitar a capsulorréxis foi muito eficaz. A cápsula anterior era bem fina e facilmente controlada durante a abertura, provavelmente devido ao fato de a paciente ser jovem. A incisão principal de 3,2 mm demonstrou-se autosselante durante todo o procedimento. Sendo assim, uma pequena quantidade de viscoelástico foi usada apenas para proteção endotelial e expansão do saco capsular para o implante da lente. A aspiração e emulsificação da região cortical e do epinúcleo da catarata foram rápidas, devido à sua consistência mole. Já a região central demorou um longo tempo por ser extremamente dura, necessitando de movimentos mais precisos do pré-chopper e mais tempo de ultrassom na emulsificação. A técnica de stop and chop demonstrou ser bem eficaz na fragmentação nuclear da paciente em questão 31. Para o implante da lente intraocular, a incisão principal precisou ser aumentada para 6 mm. Não se observou colapso da câmara anterior durante essa fase, devido à grande amplitude da superfície corneana e à consistência firme do tecido escleral características dessa espécie 32. A visão restabeleceu-se no terceiro dia pós-operatório e foi confirmada por testes de visão (seguir objetos de perto, teste de piscar à ameaça, notar e acompanhar pessoas e animais de longe), pelo comportamento da paciente na jaula e pela interação com outros animais (figura 9). Até mesmo uma mudança na expressão facial foi observada pelos responsáveis. Nos três primeiros dias após a intervenção cirúrgica observou-se uma proeminência bilateral da terceira pálpebra (Figura 10), provavelmente devido ao desequilíbrio do tônus simpático e parassimpático desencadeado pela prolongada anestesia. A lente intraocular usada adaptou-se muito bem ao caso com boa centralização, acomodação dentro do saco capsular, excelente transparência (sem opacidades de cápsula posterior) e não originando reações inflamatórias importantes, fatores confirmados pelo exame ultrassonográfico (Figura 11). Tendo em vista os bons resultados, a paciente foi liberada para voltar ao convívio com os outros animais. Aos 60 dias de pós-operatório, realizou-se uma nova sedação para retirada dos pontos da córnea e realização de novos exames oculares, nos quais se observou normalidade de todos os parâmetros, olho calmo, visual, LIO centralizada em sem opacidades capsulares (Figura 12). Três meses após a cirurgia, a paciente foi novamente avaliada (Figura 13), dessa vez sem sedação, e observou-se que ambos os olhos estavam calmos, visuais, sem sinais evidentes de desconforto como fotofobia, lacrimejamento e blefarospasmo. Normalmente a utilização de medicamentos em animais selvagens é uma tarefa muito difícil, principalmente quando se trata da utilização correta de colírios. Sendo assim, acostumar os pacientes a serem manipulados no momento da utilização da terapia aumenta consideravelmente o sucesso terapêutico e os resultados obtidos após as intervenções cirúrgicas 33. Agradecimentos Os autores gostariam de agradecer particularmente à dra. Ingeborg Fromberg, da divisão veterinária da empresa Acrivet ®, pela confecção das lentes intraoculares, à dra. Lívia Pereira e a Camile Vimo pelo auxílio no procedimento cirúrgico; à dra. Soraya Midori Capdeboscq Morita e ao dr. Filipe Gomes Macedo, pelos exames ultrassonográficos, ao Ary Marcos e toda a sua família pela dedicação no pós-operatório e a toda a equipe do Hospital Veterinário Prontodog de Maringá, PR. Figura 1A: Catarata Imatura em OD. Figura 1B: Catarata Imatura em OS. Figura 2A: Exame de Eletrorretinografia. Figura 2B: Traçado de eletrorretinografia em OS. Figura 3: Imagem ultrassonográfica normal de OS. Figura 4A: Posicionamento para a cirurgia de catarata. Figura 4B: Sutura de fixação palpebral com nylon. Figura 5A: OD logo após a cirurgia. Notar discreto sangramento iridiano periférico. Figura 5B: OS logo após a cirurgia. Notar os pontos de Figura 6A: Retina de OD logo após cirurgia. sutura na córnea. Figura 6B: Retina de OS logo após cirurgia. Figura 7: Primeiro dia pós-operatório com proeminência da terceira pálpebra. Figura 8A: Ultrassom OD 2 semanas pós-operatório. Figura 9A: OD 2 meses pós-operatório. Figura 8B: Ultrassom OS 2 semanas pós-operatório. Figura 9B: OS 2 meses pós-operatório. Figura 10: Tigresa 3 meses após a cirurgia. Referências: 1. JHALA, Y.V.; QURESHI, Q.; GOPAL, R.; SINHA,P.R. Status of Tigers, co-predators, and prey in India, 2010. National Tiger Conservation Authority, Govt. of India, New Delhi, and Wildlife Institute of India, Dehradun, 2011, 302. 2. WIKRAMANAYAKE, E.; DINERSTEIN, E.; ROBINSON, J.; KARANTH, U. ; RABINOWITZ, A. ; OLSON, D. ; MATHEW, T. ; HEDAO, P. ; CONNOR, M. Where can tigers live in the future? A framework for identifying high-priority areas for the conservation of tigers in the wild. In: SEIDENSTICKER, J. ; CHRISTIE, S. ; JACKSON, P. Riding the tiger: conservation in a human-dominated landscape. Cambridge: Cambridge University Press, Cambridge University Press, Cambridge, 1999, p.255272. 3. DAVIDSON, M.G.; NASISSE, M.P.; JAMIESON, V.E.; ENGLISH, R.V.; OLIVERO, D.K. Phacoemulsification and intraocular lens implantation: a study of surgical results in 182 dogs. Progress in Veterinary and Comparative Ophthalmology, v.1, n.4, p. 233-238, 1991. 4. GAIDDON, J.A.; LALLEMENT, P.E.; PEIFFER, R.L. Implantation of a foldable intraocular lens in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.216, n.6, p. 875-877, 2000. 5. THOMAS, R.; NAVIN, S.; SINGH, T.; CHAKRABARTI, S. A tiger with glaucoma. The British Journal of Ophthalmology, v. 90, n. 12, p.1549, 2006. 6. FAROOQ, U.; SAJJAD, S.; ANWAR, M; KHAN, B. N. Serum chemistry variables of Bengal Tigers (Panthera tigris tigris) kept in various forms of captivity. Pakistan Veterinary Journal, v. 32, n. 2, p. 283–285, 2012. 7. MARCO, I.; MARTINEZ, F.; PASTOR, J.; LAVIN, S. Hematologic and serum chemistry values of the captive European wildcat. Journal of Wildlife Diseases, v.36, n. 3, p. 445-449, 2000. 8. MOEN, R.; RASMUSSEN, J.M.; BURDETT, C.L.; PELICAN, K.M. Hematology, serum chemistry, and body mass of free-ranging and captive Canada lynx in Minnesota. Journal of Wildlife Diseases, v. 46, n. 1, p. 13-22, 2010. 9. HILLMAN, J.S. Intraocular lens power calculation – the selection of formula. Transactions of the Ophthalmological Societies of the United Kingdom, v. 104, n. 7, p. 693-698, 1985. 10. FLEDELIUS, H.C.; ALSBIRK, P.H.; GOLDSCHMIDT, E. Intraocular lens calculation. An evaluation of Binkhorst and SRK estimates in 100 consecutive cataract extractions with 3M type 78 anterior chamber lens implantation. Acta Ophthalmologica, v 65, n. 5, p. 579-584, 1987. 11. GELATT, K.N.; WILKIE, D.A. Surgical procedures of the lens and cataract. In: GELATT, K. N. ; GELATT, J. P. Veterinary ophthalmic surgery. 1. Ed. Oxford: Saunders Elsevier, 2011. p. 305-352. 12. RANZ, D. ; GUTBROD, F. ; EULE, C. ; KIENZLE, E. Nutritional lens opacities in two litters of Newfoundland dogs. The Journal of Nutrition, v. 132, n. 6, p. 16885-16895, 2002. 13. MARTIN, C.L.; CHAMBREAU, T. Cataract production in experimentally orphaned puppies fed a commercial replacement for bitch’s milk. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 18, n.1, p. 115-119, 1982. 14. BARNETT, K.C. Hereditary cataract in the dog. The Journal of Small Animal Practice, v. 19, n.1-12, p. 109-120, 1978. 15. KADOR, P. F.; SUN, G.; RAIT, V. K. ; RODRIGUEZ, L.; MA, Y. ; SUGIYAMA, K. Intrinsic inhibition of aldose reductase. Journal of Ocular Pharmacology and Therapeutics. v. 17, n. 4, p. 373-381, 2001. 16. MAGGS, D.J.; MILLER, P.E.; OFRI, R. The lens. In: Slatter’s fundamentals of veterinary ophthalmology. 5.ed. Oxford: Saunders Elsevier, 2013, p. 272-290. 17. LIM, C. C. ; BAKKER, S. C. ; WALDNER, C. L. ; SANDMEYER, L. S. ; GRAHN, B. H. Cataracts in 44 dogs (77eyes): a comparison of outcomes for no treatment, topical management, or phacoemulsification with intraocular lens implantation. The Canadian Veterinary Journal, v. 52, n. 3, p. 283-288, 2011. 18. KELLY, T.R.; WALTON, W.; NADELSTEIN, B.; LEWBART, G.A. Phacoemulsification of bilateral cataracts in a loggerhead sea turtle (Caretta caretta). Veterinary Record, v.156, n. 24, p. 774-777, 2005. 19. CARTER, R.T.; MURPHY, C.J.; STUHR, C.M.; DIEHL, K.A. Bilateral phacoemulsification and intraocular lens implantation in a great horned owl. Journal of the American Veterinary Medicine Association, v. 230, n. 4, p. 559-561, 2007. 20. COOLEY, P.L. Phacoemulsification in a clouded leopard (Neofelis nebulosa). Veterinary Ophthalmology, v.4, n. 2, p. 113-117, 2001. 21. WHITTAKER, C.; VOGELNEST, L.; HULST, F.; BARNES, J.; BRYANT, B. Bilateral phacofragmentation in a Komodo dragon (Varanus komodoensis). Proceedings of American Association of Zoo Veterinarians, v. 13, n. 1, p. 18-23, 2001. 22. BAKAL, R.S.; HICKSON, B.H.; GILGER, B.C.; LEVY, M.G.; FLOWERS, J.R.; KHOO, L. Surgical removal of cataracts due to Diplostomum species in Gulf sturgeon (Acipenser oxyrinchus desotoi). Journal of Zoo and Wildlife Medicine, v. 36, n. 3, p. 504-508, 2005. 23. WHITLEY, R.D.; JACOBSON, E.R.; LAVACH, J.D.; GELATT, K.N.; BARRIE, K.P. Bilateral ultrasonic phacofragmentation and aspiration cataract extraction in a spider monkey (Ateles geoffroyi). The Journal of Zoo Animal Medicine, v. 11, n. 2, p. 58-60, 1980. 24. MONTIANI-FERREIRA, F.; LIMA, L.; BACELLAR, M.; D’OTAVIANO VILANI, R.G.; FEDULLO, J.D.; LANGE, R.R. Bilateral phacoemulsification in an orangutan (Pongo pygmaeus). Veterinary Ophthalmology, v.13, n. 1, p. 91-99, 2010. 25. EKE, T.; THOMPSON, J.R. National survey of local anaesthesia for ocular surgery: early report. London: Audit Committee, Royal College of Ophthalmologists, 1997. 26. GILLOW, J.T.; KIRKBY, G.R. Ophthalmic local anesthesia. Ophthalmology, v.106, n. 5, p. 858, 1999. 27. KANEMAKI, N.; ONO, K.; SUGA, T. Retrobulbar anesthesia of both bupivacaine and lidocaine for intraocular surgery in dogs. ANNUAL MEETING OF THE AMERICAN COLLEGE OF VETERINARY OPHTHALMOLOGISTS, 31, 2000. Montreal, Canada. Proceedings…Montreal: American College of Veterinary Ophthalmologists, 2000. P.247-257. 28. O’BRIEN, H.D. Anesthesia for cataract surgery. American Journal of Ophthalmology, v. 57, n. 1, p. 751, 1964. 29. ADAMS, A.K.; JONES, R.M. Anaesthesia for eye surgery: general considerations. British Journal of Anaesthesiology, v. 52, n. 7, p. 663-669, 1980. 30. ALHASSAN, M.B.; KYARI, F.; EJERE, H.O. Peribulbar versus retrobulbar anaesthesia for cataract surgery. Anesthesia and Analgesia, v.107, n. 6, p. 2089, 2008. 31. FISHKIND, W.J.; KOCH, P.S. Stop and Chop Phaco. In: FISHKIND, W.J. Complications in phacoemulsification: avoidance, recognition and management. 1.ed. New York: Thieme, 2002, p. 85-89. 32. BERNAYS, M.E.; SMITH, R.I. Convergent strabismus in a white Bengal tiger. Australian Veterinary Journal, v. 77, n. 3, p. 152-155, 1999. 33. MILLICHAMP, N.J. Management of ocular disease in exotic species. In: MURPHY, C.J, PAUL-MURPHY, J,. Seminars in avian and exotic pet medicine. Philadelphia: WB Saunders, 1997, p.152-159.