1 BANDAS ORTODÔNTICAS Introdução Para entendermos a real importância destes componentes de um aparelho ortodôntico, devemos inicialmente compreender qual a função da bandagem frente à um complexo sistema de tratamento para a reposição não apenas de dentes, mas também de bases ósseas. Simplificando, tudo que o ortodontista deseja nada mais é do a criação de um sistema de forças que, uma vez aplicado aos dentes ou bases ósseas, seja capaz de realizar um trabalho mecânico. Logicamente, as forças geradas quer sejam ortodônticas ou ortopédicas, devem respeitar os limites biológicos do paciente, pois sabemos que a movimentação dental ocorre às custas de alterações teciduais metabólicas por pura atividade celular. Para que estas manifestações teciduais sejam o mais fisiológicas possíveis, devemos entender que existem fatores locais e gerais que modificam o comportamento do complexo estomatognático frente à aplicação de forças. Tais fenômenos serão estudados minuciosamente em capítulo especial. Na técnica Edgewise, as forças ortodônticas e ortopédicas são oriundas de arcos confeccionados com aço inoxidável do tipo cromo-níquel, que possuem flexibilidade e elasticidade capazes de gerar e transmitir forças delicadamente controláveis. Também pode-se “fabricar” forças à partir de componentes elásticos, molas, aparelhos de ancoragem extra-bucal e etc. Ocorre que de nada adiantaria possuirmos domínio completo sobre todo este sistema se não houvesse uma maneira de transmitir as forças geradas diretamente para os dentes. A maneira mais eficaz de se realizar tal ato é a bandagem ortodôntica. Portanto, as bandas ortodônticas são elementos básicos dos aparelhos fixos nos quais soldamos acessórios ortodônticos (tubos, bráquetes, ganchos, botões, etc) e, quando cimentados aos dentes permitem a composição de um complexo biomecânico para a movimentação dental. Salientamos que em nosso curso de Typodont teremos bandados todos os molares, um pré-molar, um canino e um incisivo (um dente de cada grupo), o que não acontece na prática diária em ortodontia, uma vez que existem meios mais modernos e eficazes d transmissão de forças aos dentes, como a colagem direta de acessórios. No entanto se faz necessário um treinamento manual para o aluno iniciante no sentido de dominar a técnica de confecção de bandas, pois o mesmo irá se deparar posteriormente com situações no dia-a-dia que justificam essa preocupação. MATERIAL EMPREGADO NA CONFECÇÃO DAS BANDAS O material de primeira eleição para a confecção das bandas é o aço inoxidável da série 300, do tipo 18-8 - 18% de cromo, 8% de níquel e o restante em ferro e mínimas quantidades de carbono. Esse é um material considerado moderno, pois sua divulgação após o ano de 1935 pelos ingleses veio revolucionar a ortodontia, através da substituição do ouro laminado na confecção das bandas. O aço inox 18-8 tem várias vantagens na sua utilização, como por exemplo: a) resistência b) baixo custo c) compatibilidade biológica d) inalterável pela ação da saliva e) permite um alto grau de polimento 2 f) insípido g) mau condutor elétrico. SOLDA ELÉTRICA DE PONTO Solda elétrica de ponto constitui na união molecular de duas ou mais peças metálicas de mesma composição ou não, através do calor produzido pela passagem da corrente elétrica. Sabemos que toda vez que, à uma passagem de corrente elétrica, se faz uma resistência, existe geração de calor. Esse fenômeno é conhecido como efeito Joule, e é aplicado, por exemplo, nos chuveiros elétricos. Para a soldagem de duas peças laminadas de aço, utilizamos um aparelho de solda de ponto, cujos eletrodos são confeccionados em cobre (que é um ótimo condutor de eletricidade). Quando a corrente passa pelos eletrodos, sofre a resistência do aço, que, por sua vez, é um péssimo condutor de eletricidade. Desta forma, através do efeito Joule, há liberação de calor sobre as lâminas de aço que, sob pressão, serão passíveis de união molecular. É assim que se procede a soldagem de ponto. Entretanto, para que se consiga uma soldagem estável, deve-se observar alguns cuidados, tais como: a- intensidade de corrente ideal; b- tempo de soldagem; c- limpeza dos eletrodos; d- compressão dos eletrodos sobre as partes a serem soldadas. APRESENTAÇÃO DAS BANDAS TIPOS: 1-BANDAS EM FORMA DE FITAS a) vantagens: melhor adaptação (individualizada). b) desvantagens: maior dificuldade na adaptação maior tempo de trabalho maior desconforto para o paciente maior n.º de instrumentos envolvidos. 2- BANDAS PRÉ-FABRICADAS a) vantagens: menor dificuldade de adaptação menor tempo de trabalho menor desconforto para o paciente arsenal menor. b) desvantagem: maior custo. POSIÇÃO DAS BANDAS 1- Dentes anteriores: A posição ideal é no terço médio das coroas dentais, sendo que as bordas oclusais das bandas devem estar paralelas às bordas incisais dos dentes. 2- Dentes posteriores: 3 Também devem se localizar no terço médio das coroas dentais, com as bordas oclusais das bandas paralelas às bordas oclusais dos dentes, permanecendo 0,5mm abaixo das cristas marginais (nas proximais). TÉCNICA PARA ADAPTAÇÃO DE BANDAS PRÉ-FABRICADAS Após a seleção da banda, por tentativas, no modelo de gesso ou diretamente na boca do paciente, fazemos a individualização necessária a nível de papila interdental, região de cristas marginais, sulcos, tubérculos, etc. TÉCNICA PARA CONFECÇÃO DE BANDAS 1- Cortar a lâmina correta, em aproximadamente 8 cm. 2- Soldar as extremidades. 3- Preparar encaixe para o alicate 157. 4- Dar um ponto de solda. 5- Contornear com o alicate De La Rosa.. 6- Adaptar a banda com alicate 157 e com brunidor cauda de peixe. 7- Alívio das bordas cervicais. 8- Contornear o reforço com alicate 139. 9- Dar um ponto de solda no reforço e depois cortá-lo do rolo da lâmina. 10- Completar a soldagem do reforço apenas de um lado e levar a banda ao dente com alicate 157 para ajustar o reforço. 11- Cortar a extremidade excedente da lâmina. 12-Soldar a outra extremidade do reforço. 13- Cortar a última sobra da banda. 14- Rebater o retalho remanescente com solda. 15- Acabamento com pedras montadas e borrachas abrasivas. 4 ACESSÓRIOS ORTODÔNTICOS No capítulo anterior, verificamos a necessidade de se transmitir forças geradas por um aparelho ortodôntico aos dentes. Observamos também que as bandas ortodônticas constituem um ótimo sistema de transmissão de forças. Neste capítulo, notaremos que existem regiões específicas das coroas dentais que deverão receber estas forças, a fim de que se tenha um rendimento ótimo do aparelho montado. Um aparelho ortodôntico ideal seria aquele que “realiza o movimento planejado, no menor espaço de tempo possível, porém sem causar agressões ao periodonto de sustentação e proteção”. Em outras palavras, é importante que se respeite os limites biológicos do paciente, o que se pode observar em âmbito geral (idade, sexo, distúrbios endócrinos, maturação óssea, etc.) ou mesmo a nível local (posicionamento dental, idade dental, etc.) . Portanto, para que tenhamos sucesso, o mínimo que podemos fazer é criar um sistema mecânico que não gere forças excessivas. Para a criação deste sistema, necessitaremos de alguns componentes que recebam diretamente a ação dos aparelhos ortodônticos, transmitindo-as aos dentes, quer através de bandagem ou colagem. Estes componentes são conhecidos como acessórios ortodônticos. BRÁQUETES São acessórios ortodônticos soldados às bandas ou colados direta ou indiretamente aos dentes. Quanto à sua constituição, podem ser metálicos, plásticos ou ainda cerâmicos. Existem vários designs para os bráquetes, de acordo com sua prescrição a ser empregada. Logicamente, estudaremos os específicos para a técnica que iremos empregar, o Edgewise. Estes são compostos por um corpo, também denominado de encaixe ou slot, cuja função é abrigar o fio ortodôntico. Este encaixe, ou slot, é de secção transversal e retangular, podendo ter medidas de 0.018"x 0.030" ou 0.022" x 0.028". São compostos também por uma base que constitui a superfície de contato entre o bráquete e o dente. Portanto, a base de um bráquete pode ser específica para colagem ou para soldagem - é representada por uma malha fina para reter a resina ou uma base lisa para ser soldada à banda. Outro componente deste acessório são as aletas que se destinam à fixação do arco no bráquete, que pode ser efetivada através de amarrilhos elásticos ou metálicos. TUBOS, GANCHOS E BOTÕES 5 6 Os tubos são peças com as mesmas características de um bráquete, porém possuem um “slot fechado”, que vem a ser um verdadeiro túnel por onde passará o arco ortodôntico. Para a aplicação da técnica edgewise, usaremos basicamente três tipos de tubos: Tubo simples: destina-se a receber um arco de aparelho do tipo Edgewise, tendo portanto a luz de secção retangular. É aplicado aos segundos molares superiores e inferiores. Tubo duplo: tubo duplo: nada mais é que a união de um tubo retangular (que recebe o arco Edgewise) à um tubo redondo que abrigará um aparelho do tipo extra-bucal, ou uma placa Lábio-Ativa. Tubo duplo conversível: também possui um tubo retangular e um tubo redondo. Apresenta a possibilidade de se converter de tubo retangular para bráquete, transformado-se então em tubobráquete, através da remoção de uma cobertura vestibular. Será por nós aplicado aos quatro primeiro molares, sendo que o tubo será voltado para cervical em todos eles. Tubo triplo conversível: composto de dois slots retangulares, sendo um para o arco de nivelamento (o que fica mais próximo do dente) e um para ser utilizado com o Arco Base ou Utilidade, de Ricketts, e um tubo redondo para a utilizar o AEB ou PLA. Tubos palatinos: utilizados na face lingual dos molares, para acolher o ATP - arco transpalatino ou o Quadri-hélix, quando confeccionados para serem encaixados, e não soldados. Como seu controle de qualidade é abaixo do esperado, às vezes se consegue encaixar nele o fio 0.9mm, dobrado, na Os ganchos e botões são elementos retentivos aplicados normalmente às faces palatinas de molares superiores, para se prevenir ou corrigir um cruzamento individual de mordida, através do uso de elásticos. 7 8 POSICIONAMENTO DOS ACESSÓRIOS ANGULAÇÕES IDEAIS Em ortodontia temos, quanto aos movimentos dentais, dois tipos de resultados: um que proporciona um movimento pendular do dente, sendo que a coroa se move mais que a raiz; ou aquele que produz um movimento de todo o corpo do dente, como se fosse uma translação. Estes resultados estão condicionados ao tipo de secção transversal do arco, que pode ser redondo (movimentos pendulares) ou retangular (movimentos de corpo). Sabemos, através da física estática, que quanto mais se aproxima o ponto de aplicação da força ao centro de massa de um corpo, mais fácil será a translação do mesmo. Assim sendo, o posicionamento de um acessório deve ser realizado de forma a se aproximar ao máximo do centro de massa da coroa dental. Desta forma, teremos um aparelho eficaz e o mais biológico possível. Concluise, portanto, que o posicionamento ideal de um bráquete (mais precisamente seu slot), é o terço médio das coroas dentais, centralizado no sentido mésio-distal e cérvicooclusal. Para tanto, chamaremos de “X” a distância entre a borda incisal ou oclusal do dente até o slot do bráquete. Este “X” também é conhecido como afastamento oclusal, e deve respeitar também as características morfológicas existentes entre os dentes. Se dividirmos um dente em quatro quadrantes, poderemos localizar a angulação correta de um bráquete no quadrante disto-cervical (DC). Assim, após a mecanoterapia, o dente correspondente terminará com a raiz voltada para o lado distal, exatamente na angulação desejada. ANGULAÇÕES DE ACESSÓRIOS Além de um posicionamento linear ideal, alguns dentes necessitam de um posicionamento angular específico para seus bráquetes. É o caso dos dentes anteriores superiores, que numa oclusão normal, exibem uma convergência distal de suas raízes, o que é conhecido na ortodontia como o posicionamento artístico. a)dentes anteriores superiores: incisivos centrais: 3 graus DC incisivos laterais: 4 graus DC caninos : 5 graus DC b) dentes anteriores inferiores: incisivos (todos) : zero grau (paralelos ao plano oclusal) caninos : 5 graus DC c) dentes posteriores superiores e inferiores: todos os dentes posteriores deverão estar com os acessórios paralelos ao plano oclusal, ou seja, com zero grau. 9 ROTEIRO PARA SOLDAGEM E COLAGEM DOS ACESSÓRIOS ¾ incisivos centrais superiores x : 4,5 mm angulação : 3º DC ¾ incisivos laterais superiores x : 4 mm angulação : 4º DC >caninos superiores x : 4,5 mm angulação : 5º DC ¾ pré-molares superiores x´ : 4 mm angulação : zero grau (paralelo) ¾ primeiros molares superiores x´ : 3,5 mm angulação : zero grau (paralelo) ¾ segundos molares superiores x´ : 3 mm angulação : zero grau (paralelo) ¾ incisivos inferiores x : 4 mm angulação : zero grau (paralelo) ¾ caninos inferiores x : 4,5 mm angulação : 5 graus DC ¾ pré-molares inferiores x´ : 4 mm angulação : zero grau (paralelo) ¾ molares inferiores x´ : 3,5 mm angulação : zero grau (paralelo).