ED-1 Imunidade Inata

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http://pathmicro.med.sc.edu/Portuguese/immuno
-port-chapter1.htm
IMUNOLOGIA – CAPÍTULO UM
IMUNIDADE INATA (NÃO ESPECÍFICA)
Gene Mayer, Ph.D
Tradução: PhD. Myres Hopkins
LEITURA
(EM INGLÊS)
Male et al. Immunology
7th edição, capítulo 1, pp. 19-28, capítulo 6
OBJETIVOS
Reconhecer a significância do sistema imune no combate à infecção e doença
Distinguir entre sistemas imunes não específico (inato) e específico (adaptativo)
Compreender os mecanismos de combate a infecções/doenças (eliminação de patógenos)
Conhecer os componentes humorais e celulares da imunidade não específica
Compreender o mecanismo de ação dos componentes humorais e celulares da imunidade não específica
Figura 1
Visão geral do sistema imune
2
Figura 2
Células do sistema imune
Figura 3
Desenvolvimento das células do sistema imune
I. VISÃO GERAL DO SISTEMA IMUNE
Estamos constantemente expostos a agentes infecciosos e mesmo assim, na maioria dos
casos somos capazes de resistir a essas infecções. É o nosso sistema imune que nos permite
resistir a infecções. O sistema imune é composto de duas subdivisões principais: O sistema
inato ou não específico e o sistema imune adaptativo ou específico (Figura 1). O sistema inato
é nossa primeira linha de defesa contra organismos invasores enquanto que o sistema imune
adaptativo age como uma segunda linha de defesa e também protege contra re-exposição ao
mesmo patógeno. Cada uma dessas subdivisões principais do sistema imune tem tanto
componentes celulares como humorais, através dos quais elas executam suas funções de
proteção (Figura 1). Além disso, o sistema imune inato também tem aspectos anatômicos que
funcionam como barreiras à infecção. Embora esses dois ramos do sistema imune tenham
funções distintas, há interconexão entre eles (isto é, componentes do sistema imune inato
influenciam o sistema imune adaptativo e vice-versa).
Embora ambos os sistemas imunes inato e adaptativo funcionem na proteção de organismos
invasores, eles diferem de várias maneiras. O sistema imune adaptativo requer algum tempo
para reagir contra um organismo invasor, enquanto que o sistema imune inato inclui sistemas
de defesa que, em sua maior parte, estão constitutivamente presentes e prontos para serem
mobilizados em uma infecção. Segundo, o sistema imune adaptativo é específico para um
antígeno e reage somente contra o organismo que induz a resposta. Em contraposição, o
sistema imune inato não é específico para um antígeno e reage da mesma maneira para uma
variedade de organismos. Finalmente, o sistema adaptativo possui memória imunológica. Ele
“lembra” que já encontrou um organismo invasor e reage mais rapidamente à exposição
subseqüente do mesmo organismo. Ao contrário, o sistema imune inato não possui memória
imunológica.
Todas as células do sistema imune têm sua origem na medula óssea e elas incluem células
mielóides (neutrófilos, basófilos, eosinófilos, macrófagos e células dendríticas) e linfóides
(linfócitos B, linfócitos T e células assassinas naturais ou células NK [do Inglês Natural Killer])
(Figura 2), que se diferenciam segundo etapas diferentes (Figura 3). A célula mielóide
progenitora (tronco) na medula óssea produz eritrócitos, plaquetas, neutrófilos,
monócitos/macrófagos e células dendríticas enquanto que células linfóides progenitoras (tronco)
produzem células NK, T e B. Para o desenvolvimento das células T as células precursoras de
células T devem migrar para o timo onde sofrem diferenciação em dois tipos distintos de células
T, as células T auxiliares CD4+ e as células T pré-citotóxicas CD8+. Dois tipos de células T
auxiliares são produzidos no timo: As células TH1, que ajudam as células pré-citotóxicas CD8+
a se diferenciarem em células T e as TH2, que ajudam as células B a se diferenciarem em
plasmócitos, que secretam anticorpos.
A principal função do sistema imune é a discriminação do próprio/não próprio. Esta habilidade
de distinguir entre o próprio e não próprio é necessária para proteger o organismo contra
invasores patogênicos e para eliminar células modificadas ou alteradas (ex. células malignas).
3
Uma vez que patógenos podem replicar intracelularmente (vírus e algumas bactérias e
parasitas) ou extracelularmente (a maioria das bactérias, fungos e parasitas), diferentes
componentes do sistema imune evoluíram para proteger contra esses diferentes tipos de
patógenos. É importante lembrar que a infecção por um organismo não necessariamente
significa doença, uma vez que o sistema imune na maioria dos casos será capaz de eliminar a
infecção antes que a doença ocorra. Doença ocorre quando o nível de infecção é elevado,
quando a virulência do organismo invasor é grande ou quando a imunidade está comprometida.
Embora o sistema imune, em sua maior parte, tenha efeitos benéficos, podem ocorrer efeitos
detrimentais também. Durante a inflamação, que é a resposta a um organismo invasor, pode
haver desconforto local e danos colaterais a tecidos sadios como resultado dos produtos
tóxicos da resposta imune. Além disso, em alguns casos a resposta imune pode ser dirigida a
tecidos próprios resultando em doença autoimune.
Tabela 1
Imunidade Não Específica
Imunidade Específica
A resposta é independente de
antígeno
A resposta é dependente de
antígeno
Há resposta imediata e máxima
Há período de latência entre a
exposição e a resposta máxima
Não específica a antígeno
Específica a antígeno
Exposição não resulta em memória
imunológica
Exposição resulta em memória
imunológica
II. IMUNIDADE INATA (NÃO-ESPECÍFICA)
Os elementos do sistema imune inato (não específico (Tabela 2) incluem barreiras anatômicas,
moléculas de secreção e componentes celulares. Entre as barreiras mecânicas anatômicas
estão a pele e camadas epiteliais internas, o movimento dos intestinos e a oscilação dos cílios
bronco-pulmonares. Associados a essas superfícies protetoras estão agentes químicos e
biológicos.
A. Barreiras anatômicas a infecções
1. Fatores mecânicos
As superfícies epiteliais formam uma barreira física que é muito impermeável à maioria dos
agentes infecciosos. Dessa forma, a pele age como nossa primeira linha de defesa contra
organismos invasores. A descamação do epitélio da pele também ajuda a remover bactéria e
outros agentes infecciosos que aderiram às superfícies epiteliais. Movimentos devido aos cílios
e à peristalse ajuda a manter as vias aéreas e o trato gastrointestinal livres de organismos. O
fluir das lágrimas e saliva ajuda a prevenir infecção nos olhos e na boca. O efeito pegajoso do
muco que cobre o trato respiratório e gastrointestinal ajuda a proteger os pulmões e o sistema
digestivo contra as infecções.
2. Fatores químicos
Os ácidos graxos no suor inibem o crescimento de bactéria. Lisozima e fosfolipase encontrados
na lágrima, saliva e secreção nasal podem destruir a parede celular da bactéria e desestabilizar
as membranas bacterianas. O baixo pH do suor e da secreção gástrica previnem o crescimento
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de bactéria. Defensinas (proteínas de baixo peso molecular) encontradas nos pulmões e no
trato gastrointestinal têm atividade antimicrobiana. Agentes surfactantes nos pulmões agem
como opsoninas (substâncias que promovem fagocitose de partículas pelas células
fagocitárias).
3. Fatores biológicos
A flora normal da pele e no trato gastrointestinal pode prevenir a colonização de bactéria
patogênica pela secreção de substâncias tóxicas ou pela competição com bactéria patogênica
por nutrientes ou pela ligação à superfície da célula.
B. Barreiras humorais à infecção
As barreiras anatômicas são muito eficientes na prevenção da colonização de tecidos por
microrganismos. Entretanto, quando há lesão em tecidos as barreiras anatômicas são
rompidas e a infecção pode ocorrer. Uma vez penetrados nos tecidos os agentes infecciosos,
outro mecanismo de defesa inato entra em ação, o qual chamamos de inflamação aguda.
Fatores humorais têm um papel importante na inflamação, que se caracteriza por edema e o
recrutamento de células fagocitárias.
Esses fatores humorais são encontrados no soro ou são formados no local da infecção.
1. Sistema complemento – O sistema complemento é o principal mecanismo de defesa
humoral não específico (ver capítulo sobre complemento). Uma vez ativado o
complemento pode levar ao aumento da permeabilidade vascular, recrutamento de
células fagocitárias, e lise e opsonização de bactéria.
2. Sistema de coagulação – Dependendo da severidade da lesão no tecido, o sistema
de coagulação poderá ou não ser ativado. Alguns produtos do sistema de coagulação
podem contribuir para a defesa específica devido a sua habilidade de aumentar a
permeabilidade vascular e agir como agente quimiotáctico para células fagocitárias.
Além disso, alguns dos produtos do sistema de coagulação são antimicrobianos por si
só. Por exemplo, a beta-lisina, uma proteína produzida pelos plaquetas durante a
coagulação pode lisar muitas bactérias Gram positivas ao agir como detergentes
catiônicos.
3. Lactoferrina e transferrina – Ao se ligarem com o ferro, um nutriente essencial para
bactéria, essas proteínas limitam o crescimento bacteriano.
4. Interferons – Interferons são proteínas que podem limitar a replicação de vírus nas
células.
5. Lisozima – Lisozima degrada a parede celular da bactéria.
6. Interleucina-1 – Il-1 induz febre e a produção de proteínas de fase aguda, algumas
das quais são antimicrobianos porque elas podem opsonizar bactéria.
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Tabela 2. Barreiras físico-químicas a infecções
Sistema/Órgão
Componente
ativo
Mecanismo efetor
Pele
Células de
descamação;
Suor
Descamação; fluxo secretor, ácidos
orgânicos
Trato GI
Células
colunares
Peristalse, baixo pH, ácidos biliares,
fluxo secretor, tiocianato
Pulmão
Cílios traqueais
Elevador mucociliar, surfactante
Nasofaringe e
olhos
Muco, saliva,
lágrima
Fluxo secretor, lisozima
Circulação e
Células
órgãos linfóides fagocitárias
Fagocitose e morte intracelular
Citólise direta e dependente de citólise
Células NK e K
Citólise ativada por IL2
LAK
Soro
Lactoferrina
e Transferrina
Ligação ao ferro
Interferons
Proteínas antivirais
TNF-alpha
Antiviral, ativação fagocitária
Lisozima
Hidrólise de peptidoglicano
Fibronectina
Opsonização e fagocitose
Complemento
Opsonização, fagocitose aumentada,
inflamação
Figura 4A Dois neutrófilos em esfregaço sanguíneo, arquivo de Imagem da © Bristol
Biomedical, utilizado com permissão.
Figura 4B Histopatologia tipo linfadenopatia devido a infeção por HIV-1. Seio subcapsular. O
seio contém número elevado de neutrófilos. CDC/Dr. Edwin P. Ewing, Jr. [email protected]
6
Figura 4C
Neutrófilo- eletromicrografia. Note os dois lobos nucleares e os grânulos azurófilos © Dr Louise Odor, Universidade
da Carolina do Sul, Escola de Medicina
Figure 4D Esfregaço sanguíneo mostrando um monócito (esquerda) e dois neutrófilos
arquivo de Imagem da © Bristol Biomedical, utilizado com permissão
Figura 5
Macrófago Atacando E.coli (MEV x8,800) © Dr Dennis Kunkel (utilizado com permissão)
Figura 6
Macrófago Alveolar (Pulmão) Macrófago Atacando E. coli (MEV x10,000) © Dr Dennis Kunkel (utilizado com permissão)
Figura 6A Eosinófilo em esfregaço sanguíneo. Arquivo de Imagem da © Bristol Biomedical
Utilizado com permissão
Figura 6B
Histopatologia da bexiga mostra ovos de Schistosoma haematobium rodeado por infiltrados intensos de eosinófilos
CDC/Dr. Edwin P. Ewing, Jr. [email protected]
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Figura 7
Histiócitos –Macrófagos residentes de vida longa encontrados no interior de tecidos. Arquivo de Imagem da ©
Bristol Biomedical, utilizado com permissão
Figura 8 Monócito com parasita da malária ingerido. CDC/Dr. Melvin
Figura 9 Resposta quimiotáctica a estímulo inflamatório
C. Barreiras celulares à infecção
Parte da resposta inflamatória é o recrutamento de eosinófilos polimorfonucleares e
macrófagos ao local da infecção. Essas células são a principal linha de defesa no sistema
imune não específico.
1. Neutrófilos – Células polimorfonucleares (PMNs, figura 4) são recrutadas ao local da
infecção onde fagocitam organismos invasores e os mata intracelularmente. Além disso, PMNs
contribuem para lesões colaterais no tecido que ocorrem durante a inflamação.
2. Macrófagos – Macrófagos tissulares (figura 5, 6, 7) e monócitos recentemente recrutados
(figura 4 e 8), que se diferenciam em macrófagos, também funcionam na fagocitose e na morte
intracelular de microrganismos. Além disso, macrófagos contribuem para o reparo de tecidos e
agem como células apresentadoras de antígenos, que são requeridas para a indução de
respostas imunes específicas.
3. Células assassinas naturais (NK) e células assassinas ativadas por linfocina (LAK) – Células
NK e LAK podem matar células tumorais infectadas por vírus de maneira não específica. Essas
células não são parte da resposta inflamatória, mas são importantes na imunidade não
específica a infecções virais e na prevenção de tumores.
4. Eosinófilos – Eosinófilos (figura 6a e b) têm proteínas em grânulos que são eficientes na
destruição de certos parasitas.
III. FAGOCITOSE E MORTE INTRACELULAR
A. Células fagocitárias
1. Neutrófilos/Células polimorfonucleares
PMNs são células fagocitárias móveis com núcleo lobulado. Elas podem ser
identificadas pelas características do núcleo ou pela presença de um antígeno na
superfície da célula chamado CD66. Elas contêm dois tipos de grânulos cujos
conteúdos estão envolvidos nas propriedades antimicrobianas dessas células. Os
grânulos primários ou azurófilos, que são abundantes em PMNs recém formados,
contêm proteínas catiônicas e defensinas que podem matar bactéria, enzimas
8
proteolíticas como elastase, e catepsina G para degradar proteínas, lisozima para
degradar paredes celulares, e caracteristicamente, mieloperoxidase, que está
envolvida na geração de compostos bactericidas. O segundo tipo de grânulo
encontrado em PMNs mais maduros é o grânulo secundário ou específico. Estes
contêm lisozima, componentes da NADPH oxidase, que está envolvido na geração de
produtos tóxicos de oxigênio, e caracteristicamente lactoferrina, uma proteína
queladora de ferro e proteína ligadora a B12.
2. Monócitos/Macrófagos – Macrófagos são células fagocitárias que têm como
característica o núcleo na forma de rim. Elas podem ser identificadas morfologicamente
ou pela presença do marcador de superfície CD14. Ao contrário dos PMNs elas não
contêm grânulos, mas têm numerosos lisossomos com conteúdos similares aos dos
grânulos do PMNs.
B. Resposta de fagócitos a infecção
PMN circulantes e monócitos respondem ao perigo (sinais SOS) gerado no local da infecção.
Os sinais SOS incluem peptídeos contento N-formil-metionina liberados pela bactéria,
peptídeos do sistema de coagulação, produtos do complemento e citocinas liberadas dos
macrófagos tissulares que encontraram bactéria no tecido. Alguns dos sinais SOS estimulam
células endoteliais próximas do local da infecção que passam a expressar moléculas de
adesão tais como ICAM-1 e selectinas que ligam a componentes da superfície das células
fagocitárias provocando a aderência dos fagócitos ao endotélio. Vasodilatadores produzidos no
local da infecção provocam o afrouxamento das junções entre as células endoteliais e os
fagócitos então atravessam a barreira endotelial “espremendo-se” entre as células endoteliais
através de um processo chamado diapedese (Figura 9). Uma vez formados espaços no tecido
alguns dos sinais SOS atraem fagócitos ao local da infecção por quimiotaxia (movimento em
direção a um gradiente químico). Os sinais SOS também ativam os fagócitos, o que resulta em
um aumento da fagocitose e morte intracelular dos organismos invasores.
Figura 10 Aderência de bactéria via receptores
C. Iniciação da Fagocitose (Figura 10)
Células fagocitárias têm uma variedade de receptores em suas membranas através dos quais
agentes infecciosos se ligam às células. Eles incluem:
1. Receptores Fc – Bactérias com anticorpo IgG em sua superfície têm a região Fc exposta e esta parte da
molécula de Ig se liga ao receptor nos fagócitos. A ligação ao receptor Fc requer interação prévia do
anticorpo com o antígeno. A ligação de bactéria coberta com IgG aos receptores Fc levam ao aumento da
fagocitose e da atividade metabólica dos fagócitos (queima respiratória).
2. Receptores do complemento– Células fagocitárias têm um receptor para o terceiro componente do
complemento: C3b. A ligação de bactéria coberta com C3b a este receptor também leva ao aumento da
fagocitose e à queima respiratória.
3. Receptores scavenger – Receptores scavenger (do Inglês scavenger = removedor) ligam-se a uma
variedade de poliânions na superfície bacteriana levando à sua fagocitose.
4. Receptores tipo Toll - Células fagocitárias têm uma variedade de receptores tipo Toll ou
PRRs (do Inglês Pattern Recognition Receptors) que reconhecem classes de padrões
moleculares chamados PAMPs (do Inglês Pathogen Associated Molecular Patterns) em
agentes infecciosos. A ligação de um agente infeccioso via receptores tipo Toll resulta na
fagocitose e na liberação de citocinas inflamatórias (IL-1, TNF-alfa e IL-6) pelas células
fagocitárias.
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D. Fagocitose
Após a ligação a uma bactéria, a célula fagocitária começa a estender pseudópodos próximo à
bactéria. Estes eventualmente envolvem a bactéria e a engolfam, sendo a mesma
enclausurada em um fagossomo. Durante a fagocitose os grânulos ou lisossomos da célula
fagocitária se fusionam como o fagossomo e esvaziam seus conteúdos. O resultado é uma
bactéria engolfada em um fagolisossomo que contém os conteúdos dos grânulos ou
lisossomos.
Figura 11
A. Queima respiratória: Reações dependentes de oxigênio, independentes de mieloperoxidase
B. Queima respiratória: Reações dependentes de oxigênio, dependentes de mieloperoxidase
E. Queima respiratória e morte intracelular
Durante a fagocitose há um aumento no consumo de glicose e oxigênio, o que é referido como
queima respiratória. A conseqüência da queima respiratória é a produção de uma quantidade
de compostos de oxigênio, que matam a bactéria fagocitada. Esta é a chamada morte
intracelular dependente de oxigênio. Além disso, a bactéria pode ser destruída por substâncias
previamente produzidas e liberadas dos grânulos ou lisossomas quando estes fusionam com o
fagossomo. Esta é a chamada morte intracelular independente de oxigênio.
1. Morte intracelular dependente de oxigênio e independente de mieloperoxidase
(Figura11A)
Durante a fagocitose a glicose é metabolizada pela via da pentose monofosfato e o
NADPH é formado. O citocromo B, que faz parte do grânulo específico, combina com
a NADPH oxidase da membrana plasmática, ativando-a. A NADPH oxidase ativada usa
oxigênio para oxidar o NADPH. O resultado é a produção de ânion superóxido. Alguns
dos ânions superóxidos são convertidos a H2O2 e oxigênio singleto pela superóxido
dismutase. Além disso, o ânion superóxido pode reagir com H2O2 resultando na
formação de radical hidroxílico e mais oxigênio singleto. O resultado de todas essas
reações é a produção dos compostos de oxigênio tóxicos: Ânion superóxido (O 2-),
1
H2O2, oxigênio singleto ( O2) e radical hidroxila (OH•).
2. Morte intracelular dependente de oxigênio e dependente de mieloperoxidase (Figura
11B)
À medida que os grânulos azurófilos se fusionam com o fagossomo, mieloperoxidase é
liberada no fagolisossomo. Mieloperoxidase utiliza H 2O2 e íons haletos (normalmente Cl-) para
produzir hipoclorito, uma substância muito tóxica. Alguns dos hipocloritos podem se decompor
espontaneamente para produzir oxigênio singleto. O resultado dessas reações é a produção
1
de hipoclorito tóxico (OCl-) e oxigênio singleto ( O2).
3. Reações de detoxificação (Tabela 3)
PMNs e macrófagos têm maneiras de se proteger contra os intermediários de oxigênio. Essas
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reações envolvem a dismutação do ânion superóxido a peróxido de hidrogênio pela
superóxido dismutase e a conversão de peróxido de hidrogênio em água pela catalase.
Tabela 3
Reação
H2O2 + Cl- --> OCl- + H2O
OCl- + H2O --> 1O2 +Cl- + H2O
Enzima
Mieloperoxidase
2O2 + 2H+ --> O2- + H2O2
Superóxido dismutase
H2O2 --> H2O + O2
Catalase
4. Morte intracelular independente de oxigênio (tabela 4)
Além do mecanismo de morte dependente de oxigênio há também o mecanismo de morte
independente de oxigênio em fagócitos: Proteínas catiônicas (catepsinas) liberadas no
fagolisossomo podem danificar membranas bacterianas; lisozima degrada paredes celulares
bacterianas; lactoferrina quela ferro, que impede a bactéria de utilizar este nutriente necessário;
enzimas hidrolíticas degradam proteínas bacterianas. Dessa forma, mesmo pacientes que têm
defeitos nas etapas de morte dependente de oxigênio são capazes de matar bactéria.
Entretanto, como os mecanismos dependentes de oxigênio são muito mais eficientes em
matar, pacientes com defeitos nesses mecanismos são mais susceptíveis e têm infecções mais
sérias.
Tabela 4. Mecanismos de morte intracelular independentes de oxigênio
Molécula efetora
Função
Proteínas catiônicas (incluindo
catepsinas)
Danificam membranas microbianas
Lisozima
Separa mucopeptídeos em parede
celular bacteriana
Lactoferrina
Priva de ferro bactérias em
proliferação
Enzimas proteolíticas e hidrolíticas
Digestão de organismos mortos
11
Figura 12 Morte dependente de óxido nítrico
IV. MORTE DEPENDENTE DE ÓXIDO NÍTRICO
A ligação de bactéria a macrófagos, particularmente ligação via receptores tipo Toll, resulta na
produção de TNF-alfa, que age de maneira autócrina para induzir a expressão do gene
induzível da óxido nítrico sintetase (i-nos ) resultando na produção de óxido nítrico (NO) (figura
12). Se a célula é também exposta ao gama interferon (IFN-gama) é produzido óxido nítrico
adicional (figura 12). O óxido nítrico liberado pela célula é tóxico e pode matar microrganismos
na vizinhança do macrófago.
Figura 13 Células NK e sua ativação
Figura 14
Morte de alvo opsonizado por células NK.
V. CÉLULAS ASSASSINAS NÃO ESPECÍFICAS
Algumas células incluindo NK e LAK, células K, macrófagos ativados e eosinófilos são capazes
de matar células-alvo próprias alteradas de maneira não específica. Essas células têm papel
importante no sistema imune inato.
A. Células NK e LAK
Células assassinas naturais ou células NK são também conhecidas como grandes linfócitos
granulares ou células LGL (do Inglês Large Granular Lymphocytes) porque se assemelham
com linfócitos em sua morfologia, exceto pelo fato de serem um pouco maiores e terem
numerosos grânulos. Células NK podem ser identificadas pela presença dos marcadores de
superfície CD56 e CD16 e pela falta de CD3. Células NK são capazes de matar células-alvo
infectadas por vírus ou malignas, mas são relativamente ineficientes nessa tarefa. Entretanto,
ao serem expostas a IL-2 e IFN-gama, células NK tornam-se células assassinas ativadas por
linfocina ou LAK (do Inglês Lymphokine-Activated Killer), que são capazes de matar células
malignas. Exposição continuada a IL-2 e IFN-gama habilita células LAK a matar células
transformadas e malignas. Terapia com células LAK é uma abordagem para o tratamento de
malignidades.
Como células NK e LAK distinguem uma célula normal de uma célula infectada por vírus ou
maligna? Células NK e LAK têm dois tipos de receptores em sua superfície – um receptor
ativador de função assassina ou receptor KAR (do Inglês Killer Activacting Receptor) e um
receptor inibidor de função assassina ou receptor KIR (do Inglês Killer Inhibiting Receptor).
12
Quando KAR encontra o seu ligante, um ligante ativador de função assassina (KAL) na célulaalvo a célula NK ou LAK, é capaz de matar o alvo. Entretanto, se o KIR também se liga a este
ligante então a morte é inibida mesmo que KAR se ligue a KAL. Os ligantes para KIR são
moléculas de MHC classe I. Assim, se uma célula-alvo expressa moléculas de MHC classe I
esta não vai ser morta por células NK ou LAK mesmo que o alvo também tenha um KAL que
não pode se ligar a KAR.Células normais constitutivamente expressam moléculas de MHC
classe I na sua superfície, entretanto, células infectadas por vírus e células malignas têm
diminuída a expressão de MHC classe I. Dessa forma, células NK e LAK matam seletivamente
células infectadas por vírus e células malignas, deixando livres as células normais.
B. Células K (Figura 14)
Células assassinas (K) não são um tipo de célula morfologicamente distinto. Pelo contrário,
uma célula K é qualquer célula que media a citotoxicidade celular dependente de anticorpo
(ADCC). Em ADCC o anticorpo age como um conector que aproxima a célula K e a célula-alvo
para que a morte ocorra. Células K têm em sua superfície um receptor Fc para anticorpo e
assim elas podem reconhecer, ligar e matar células-alvo cobertas com anticorpo. Células
assassinas que têm receptores Fc incluem NK, LAK, e macrófagos que têm um receptor Fc
para anticorpos IgG e eosinófilos que têm um receptor Fc para anticorpos IgE.
Todos os componentes do sistema imune não específico estão modulados por produtos do
sistema imune específico, tais como interleucinas,gama interferon, anticorpos, etc.
Nesse estágio você deverá saber o seguinte:
1. Diferenças entre as funções do sistema imune não específico e específico.
2. Componentes humorais do sistema imune não específico e suas ações.
3. Componentes celulares do sistema imune não específico e suas ações.
4. Etapas da morte intracelular de bactéria pelos fagócitos e suas características.
5. Efeito dos componentes humorais tais como interferon, TNF, IL-2, complemento etc. nos
componentes celulares do sistema imune não específico.
13
Tabela 5. Características das células envolvidas na resistência não
específica
Marcador identificador e/ou função
CD3
Ig
Fc
CD
Fagocitose
Neutrófilo
-
-
IgG
CD67
+
Macrófago
-
-
IgG
CD14
+
Célula NK
-
-
IgG
CD56 & 16
-
Células K
-
-
IgG
?
-
Célula LAK
-
-
?
?
?
Eosinófilo
-
-
IgE
CD67
-
Célula efetora
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