Formação territorial e mobilidade populacional em Candiba-BA

Propaganda
1
Formação territorial e mobilidade populacional em Candiba-BA*
Michelle Neris MOREIRA**
Graduada em Geografia – UNEB/Caetité
E-mail: [email protected]
Maria Goreth e Silva NERY***
Professora Assistente – UNEB/Caetité
E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho analisa a formação territorial do município de Candiba-Bahia na perspectiva
de sua mobilidade populacional, propiciando uma reflexão acerca do conceito de território.
Procura identificar os principais fatores políticos e econômicos para a configuração do referido
município. Para isso fez-se uso de uma linearidade histórica evidenciando as categorias de
povoado, vila e cidade, e de uma pesquisa empírica dos processos que ocorrem no âmbito
espacial empreendendo desse modo, um resgate histórico das dimensões políticas, sociais e
econômicas do espaço humanamente habitado. Nessa perspectiva o trabalho foi confeccionado
através de uma pesquisa explorativa-descritiva, utilizando os métodos de procedimento histórico e
estatístico que consistiram numa análise histórica dos processos responsáveis pela formação do
município de Candiba e no levantamento de dados respectivamente. A organização metodológica
das idéias e da pesquisa seguiu o viés das fontes primárias e das fontes secundárias. Fazendo
uso de leituras sistematizadas houve ainda coleta de dados em órgão como o IBGE e SEI, Por
fim, a realização desse trabalho nos aproxima da identidade do território estudado, e nos
apresenta realidades e contrastes diretamente vinculados ao processo de mudança social e de
desenvolvimento local.
Palavras-chave: Formação territorial, Território, Mobilidade populacional, Candiba.
Introdução
O processo migratório se caracteriza como sendo um movimento populacional
que historicamente e espacialmente está relacionado a busca por melhores condições de
vida. Situado nessa categoria de análise o município de Candiba (Bahia) se destaca pela
fragilidade e precariedade das relações de trabalho e da circulação de capital que o
sustenta e que refletem nos expressivos índices de fluxo migratório. E é no território,
enquanto fração do espaço geográfico, que essa fluidez do movimento humano se
estabelece; território este, marcado pelas contradições das relações sociais, políticas e
econômicas, onde a dialética das relações de trabalho gera a mobilidade como
conseqüência dos movimentos do capital.
*Artigo elaborado no Componente Curricular Estudos Locais Aplicados durante o período de graduação em
Geografia pela UNEB.
**
Graduada em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia – campus VI, Caetité.
***
Professora Assistente da Universidade do Estado da Bahia - campus VI, Caetité.
2
Assim, tanto a mobilidade espacial quanto a do trabalho torna-se resultado do
processo de acumulação capitalista. A migração nesse âmbito passa a ser conseqüência
das necessidades geradas pelo jogo do capital.
Desse modo, o presente trabalho firma-se em alguns autores tais como Castro
(1995), Andrade (1995), Santos (1998), Haesbaert (2001), Santos e Silveira (2001),
Mesquita (1995) e Machado (1997) entre outros, na perspectiva do território e em Santos
(1991), George (1983), Damiani (1991), Beaujeu- Garnier (1980) e Andrade (1987), entre
outros, na análise da mobilidade populacional.
De acordo com dados da SEI (2000) o município de Candiba se encontra
localizado na Região da Serra Geral, estando situado na Mesorregião do Centro Sul
Baiano, mais precisamente na Microrregião de Guanambi (IBGE, 2000). Limitando-se ao
norte com o município de Guanambi, a sudeste com Pindaí e a sudoeste com Sebastião
Laranjeiras (Figura 01).
Guanambi
Candiba
Sebastião
Laranjeiras
Pindaí
Escala
0
16820
33640
Elaborador: Junívio da Silva Pimentel, jan/2008.
Figura 01 – Municípios limítrofes com Candiba. 2008
Fonte: base cartográfica SEI
50460 m
3
No referente aos dados divulgados no Indicie de Desenvolvimento Social dos
municípios1, Candiba aparece localizada na 13º região econômica, intitulada Serra Geral,
já com relação ao território de identidade está inserida no Sertão Produtivo2.
Detentora
de
uma
área
de
aproximadamente
399,4Km²,
Candiba
demograficamente é composta, de acordo o censo realizado em 2009, por uma população
de 12.821, sendo que destas, 6.821 residem na área urbana. Candiba foi constituído
município com a força da Lei Estadual nº. 1.756 de 27 de julho de 19623 quando foi
desmembrado de Guanambi. E em 13 de maio de 1982 criou-se o distrito de Pilões as
margens da BR 122, com a Lei Estadual nº. 4.0264.
A fragilidade, a precariedade das relações de trabalho e da circulação de capital
que sustenta o município reflete nos expressivos índices de fluxo migratório e é
conseqüência do modo como tal município foi estruturado economicamente e
territorialmente. Para entender tal processo se faz necessário uma viagem histórica pela
formação territorial do município de Candiba- Bahia.
Confeccionado através de uma pesquisa explorativa-descritiva, utilizando os
métodos de procedimento histórico e estatístico que consiste numa análise histórica dos
processos responsáveis pela formação do município de Candiba e no levantamento de
dados respectivamente, este artigo teve nas fontes primárias e secundárias a base para a
sua organização metodológica, tanto no âmbito das idéias e quanto da pesquisa.
Utilizou-se ainda de algumas entrevistas com representantes do município, de uma
observação sistemática direta, bem como uma revisão bibliográfica de conceitos, houve
ainda coleta de dados em órgão como o IBGE e SEI.
O presente trabalho esta estruturado em duas seções além da introdução. A
primeira aborda a fundamentação teórica com uma reflexão do conceito de território e a
segunda destaca o município de Candiba cuja analisa faz referencia a formação sócio
territorial, a dinâmica populacional bem como a mobilidade humana inerente a realidade
local mediante cenário centralizador e economicamente pouco diversificado o que conduz
a uma mobilidade como alternativa de sobrevivência.
1
SUPERINTENDENCIA DE ESTUDOS ECONOMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Indice de Desenvolvimento
Econômico e Social dos Municípios Baianos. Salvador: SEI, 2002.
2
SUPERINTENDENCIA DE ESTUDOS ECONOMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Índice de Desenvolvimento
Econômico e Social dos Municípios Baianos. Salvador: SEI, 2004.
3
Lei Estadual n°. 1.756 na integra em Anexo e atuali zados os limites municipais posteriormente, vide Anexo.
4
Lei Estadual n°. 4.026 na integra em Anexo.
4
Fundamentação teórica
O espaço geográfico é uma concretude que resulta da dialética das relações
sociais e suas materializações.5 É inserida nesse espaço que a mobilidade populacional
assume sua importância no processo sócio-espacial de organização e manutenção do
território.
O processo de mobilidade populacional tem um caráter histórico e universal: “A
mistura racial, lingüística e nacional de grande parte da população evidencia que o
homem é uma criatura móvel.”6 essa mobilidade, no entanto, não é determinada
biologicamente, mas ato da vontade humana, possuindo ainda um forte caráter
estratégico e uma considerável relevância social posto que: “A discussão da migração
tem um caráter estratégico no desvendamento da relação entre a dinâmica populacional e
o processo de acumulação de capital [...]”7
Partindo da premissa, que a noção de território, ao ultrapassar o senso comum se
organiza de forma muito mais complexa do que a propagada ao longo dos séculos por
dicionários e enciclopédias como sendo simples extensão de terra ou área de um país ou
estado, pretende-se discutir a questão do território sobre o viés do espaço e do poder,
haja vista que o território: “[...] é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e
a partir de relações de poder.”8 e que por isso vão além das características geográficas
para assim, abranger a questão de domínio e influência.
Nessa tentativa de entender o território é necessário enfatizar a importância da
concretude desse termo, que envolve: “[...] representações, sentimentos de vinculação, de
comportamentos individuais ou de instituições que participam de uma organização
espacial.”9 o que não pode ser esquecido nessa visão humanística é o devir, ou seja, o
território é antes de mais nada resultado de um processo historio e de uma apropriação.
5
BRITO, Cristóvão. Revisando o Conceito de Território. In: RDE-Revista de Desenvolvimento
econômico/UNIFACS. Departamento de Ciências Sociais Aplicadas 2. Ano IV, n.6, (julho de 2002).Salvador: Bahia.p.12
6
TREWARTHA, Glenn Thomas. Geografia da População: padrão mundial. São Paulo: Atlas, 1974. p. 166.
7
DAMIANI, Amélia Luisa. População e Geografia. São Paulo: Contexto, 1991. p. 30.
8
SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In:
CASTRO, Iná de; GOMES, Paulo César da Costa; CORREA, Roberto Lobão. Geografia conceitos e temas.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p.78.
9
MACHADO, Mônica Sampaio. Geografia e Epistemologia: Um passeio pelos conceitos de espaço, território
e territorialidade. IN: GEOUREJ, Revista do departamento de geografia UERJ, RJ. Nº1 Janeiro 1997. p.26.
5
Desse modo o território não é homogêneo nem inerte, ao contrário, está em
constante transformação sendo moldado todo o tempo pelo movimento das forças
políticas, sociais e econômicas que sobre ele exerce seu poder.
É dentro dessa perspectiva territorial que a problemática da migração vem ser
abordada haja vista, que é nesse espaço de interação social e de exercício de poder que
o homem enquanto criatura móvel se insere e que a história da humanidade, enquanto
história do movimento foi construída.
Os movimentos migratórios sempre estiveram diretamente relacionados com a
expansão capitalista e ao seu modo de produção, sendo que sua intensidade e direção
foram sempre subordinadas às condições econômicas e sociais de cada país:
As mobilidades de acumulação de capital, a herança histórica e a estrutura
de classes foram arroladas como elementos relevantes para interpretar
movimentos populacionais que representavam ora necessidades, força de
trabalho para o capital industrial em expansão, ora respostas a situação de
estagnação de áreas frente á concentração crescentes dos pólos
dinâmicos.10
E algumas causas dessa mobilidade humana11, são: a pobreza absoluta; a
destruição do equilíbrio econômico estabelecido; as forças de repulsão e atração; e as
motivações psicológicas, que engloba a busca da liberdade política e religiosa. As
migrações12 podem ainda ser consideradas sob dois enfoques diferentes: quanto ao
tempo e ao espaço, noções essas imprescindíveis para a organização territorial.
As migrações são manifestações do processo de desenvolvimento e das
transformações sociais que se verificam em diferentes ramos da economia13, elas
retratam as disparidades regionais existentes nos países, bem como a concentração de
oportunidades de trabalho em certas áreas.
Nesse contexto o município de Candiba se inseri de forma pontual mas que reflete
uma realidade em escala nacional, como será discutido a seguir.
10
SANTOS, Jair L.F; LEVY, Maria Stella; SZMRECSÁNYI, Tamas. Dinâmica da População: teoria, métodos
e técnicas de análise. São Paulo: T.A. Queiroz, 1991. p.256.
11
BEAUJEU-GARNIER, Jacqueline. Geografia da população. 2.ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1980.
ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia econômica.7 ed. São Paulo; Atlas, 1981.
13
SARMENTO, Walney Moraes. Nordeste: a urbanização do subdesenvolvimento do subdesenvolvimento.
2. ed. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1984.p.61.
12
6
O Município de Candiba: a formação sócio territorial
Durante o período colonial, o espaço geográfico que hoje representa o município
de Candiba esteve sob a jurisdição da Capitania Hereditária de São Jorge dos Ilhéus.
Após a fragmentação dessa capitania, o mesmo passou a pertencer a feitoria do Urubu,
isso em meados de 1800. Na segunda metade desse século a feitoria é repartida14 e a
área passa a pertencer a Palmas de Monte Alto, que foi criada em 1840.
A apropriação territorial do município no condizente ao uso e à posse começa a se
configurar com a chegada dos escravos fugidos das fazendas Mulungu, Canabrava e
Santa Rosa que se alojaram em torno da lagoa do Mocambo15 (Figura 02).
Figura 02: Lagoa do Mocambo, Candiba – Bahia
Fonte: MACEDO, Thiago Prado, acervo pessoal, 2008
Por volta de 1834, o padre português Moreira de Souza, devido ao processo de
catequização promovido pela Igreja e pelo governo português, migra para essa localidade
trazendo a imagem de Nossa Senhora das Dores (hoje padroeira do município) e
permanece ali ensinando aos escravos fugidos os preceitos Católicos. Visando agrupar e
catequizar os escravos debandados, o padre organiza a construção de uma capela, e no
14
Divisão Administrativa da Bahia em 1889. BAHIA. ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA BAHIA. V. 1, 1972 –
Salvador: SEI, 2003.
15
Termo indígena que significa lugar de refugio de escravos.
7
fundo desta constrói dois cômodos para sua própria residência, onde hoje se encontra a
Igreja Matriz do município (Figura 03).
Figura 03: Igreja Matriz de Candiba –BA em meados da década de1990
Fonte: MARTINS, João, 2005.
A figura do Padre Moreira é ainda importante para a compreensão da organização
territorial do atual município, bem como para sua composição populacional, já que suas
duas filhas (fruto de uma relação ilícita com uma escrava) tiveram grande relevância para
o povoamento da região, foram elas: Ana Epifânia Moreira de Souza e Rita Epifânia
Moreira de Souza.
A tradição da reconstituição histórica de Candiba faz questão de destacar a
contribuição da família Moreira de Souza para a estruturação do atual município. No
entanto, várias outras famílias também foram significativas para tal processo como, por
exemplo, a Silva Prado, vinda de Portugal, e a família Martins. Essas famílias foram
responsáveis (e ainda são) pela centralização política. Essa mesma tradição, entretanto,
se cala diante das práticas e contribuições de variados sujeitos das camadas mais
pobres.
A dimensão social do território de Candiba, nesse contexto, se configura
historicamente numa imbricada rede de relações do cotidiano. Nos dias de feira,
geralmente uma vez por semana, evento que até hoje se observa, moradores das zonas
rurais e lavradores vinham dispor à venda gêneros diversos, e em suas conversas e
8
negociações teciam uma convivência entre solidariedades e até mesmo recrudescimento
de inimizades.
Essa retrospectiva histórica que aqui se propõe é necessária para que o território
seja entendido no plano do desenvolvimento local. Para isso, tem-se em vista que o
território em sua configuração espacial é cumulativo, ou seja, resultado de transformações
e/ou alterações que se processam no tempo e no espaço humanamente e historicamente
vivido.
Em 1834, com a chegada do Padre Moreira, tem início a organização do arraial
cuja população compreendia majoritariamente de escravos refugiados. As relações
econômicas nessa área se davam mediante trocas ou vendas irrisórias e a agricultura de
subsistência era o que sustentava a população. Em 1920, a lei municipal nº2 de 8 de
janeiro confirmou a criação do distrito sede de Guanambi, ao tempo que criou para o
município o novo distrito de Mocambo, que foi confirmado pela lei estadual número 2.219
de 20 de agosto de 1929, distrito que posteriormente viria a se chamar Candiba.
Ao passo que se torna distrito, Candiba é elevada a categoria de vila. Nesse
período as atividades econômicas alcançaram um nível de estabilidade relativamente
maior, mas a dependência à Guanambi, ainda prevaleceu. Somente em 1962, Candiba é
promovida à categoria de cidade. Sua autonomia, no entanto, não foi conquistada com a
assinatura dos papéis de direito jurídico, posto que, a centralização política existente gera
instabilidades e atrasos no desenvolvimento econômico e social.
Dinâmica populacional e mobilidade
Foi a ritmos lentos que a população candibense veio crescendo ao longo do tempo.
De acordo com o censo de 1950, presente na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, a
vila do Mocambo, até então distrito de Guanambi, possuía cerca de 382 habitantes, cuja
concentração maior se dava na zona rural. Em 1970, essa estimativa cresce
significativamente para 12.715 habitantes. A análise da Tabela 1, permite verificar que a
taxa de crescimento (%a.a.) na década de 1980 foi de - 0,85% e de 1991 a 1996 esse
percentual foi de - 0,6%.
9
Tabela 01: Candiba – População Total (censo demográfico)
ANO
POPULAÇÃO
1970
12.715
1980
11.491
12.610
1991
1996
12.574
1999
12.435
2001
12.063
2002
12.022
2004
11.875
2005
11.820
2007
12.352
Fonte: IBGE – Censos Demográficos de 1970-2007
Essa primeira metade da década de 1990, foi marcada por um declínio no ritmo do
crescimento demográfico de cerca de 1,22%a.a. na região da Serra Geral e da Bahia num
todo, segundo dados da Série de Estudos e Pesquisas (SEP) divulgados em 1998. No
município de Candiba, essa queda foi mais significativa na década de 1980. Essa
tendência de ganhos e perdas populacionais teve por causa motivadora a intensificação
do fluxo migratório, que esteve relacionada à falta de investimentos de políticas públicas,
que buscassem reduzir o potencial migratório do município (Tabela 2).
Tabela 02: Candiba – População Total e Taxa de Crescimento
ANO
POPULAÇÃO
TAXA DE CRESC. % a.a.
1980
11.491
-0,85
1991
12.610
––
1996
12.574
-0,6
Fonte: IBGE – Censos Demográficos de 1995-2000
No referente à população rural e à sua taxa de crescimento, tem-se na década de
1980 uma estimativa de crescimento de -0,45%a.a.. Já na primeira metade da década de
1990, de 1991 a 1996, essa taxa de crescimento foi de -1,52 (Tabela 3).
Tabela 03: População Rural e Taxa de Crescimento (% a.a.)
ANO
POPULAÇÃO
TAXA DE CRESC. % a.a.
1980
8.956
-0,45
1991
8.523
1996
7.893
-1,52
Fonte: IBGE – Censos Demográficos de 1980-1996
10
A população urbana, por sua vez, na década de 1980, era de 2.535, e em 1991
essa estimativa quase dobrou, indo para 4.807. A taxa de crescimento na década de 1980
foi de 4,44% a.a. e na primeira metade da década de 1990 correspondeu a 2,75% a.a
(Tabela 4).
Tabela 04: População Urbana e Taxa de Crescimento (% a.a.)
ANO
POPULAÇÃO
TAXA DE CRESC. % a.a.
1980
2.535
4,44
1991
4.807
––
1996
4.681
2,75
Fonte: IBGE – Censos Demográficos de 1980-1996
Esses dados evidenciam o lento processo de urbanização do município. O
aumento significativo da população urbana na década de 1990 apresenta-se como
resultado do aumento da fertilidade e da diminuição da mortalidade infantil, posto que,
regionalmente e nacionalmente algumas epidemias haviam sido controladas e somandose ao êxodo rural que é intensificado por diversos motivos.
A partir de 1996 até 2005 a estimativa da população Candibense veio sofrendo
uma queda gradativa. Se em 1996 a população era de 12.574 em 2005 a mesma
alcançou o valor absoluto de 11.820. Em 2007, no entanto, ocorreu uma elevação
significativa da população que chegou a 12.352 (Tabela 1), o valor mais alto já alcançado
em oito anos, fato esse associado possivelmente a uma diminuição do fluxo migratório
com a instalação de uma fabrica de confecções que gerou, aproximadamente 300
empregos diretos (2005-2006).
De acordo o panorama da migração dos municípios baianos de 1995-2000
produzido pelo SEI (2007), o município de Candiba com relação às migrações
interestaduais possui um saldo negativo de -871, que é superior ao das migrações intraestaduais cujo saldo negativo é de -183, no total Candiba possui um saldo migratório
negativo de -1054 com 372 imigrantes e 1426 emigrantes (Tabela 5).
Tabela 05: Taxa de Migração – 1995-2000
DISCRIMINAÇÃO
IMIGRANTE
EMIGRANTE
Inter-Estaduais
Intra-Estadual
Total
107
265
372
978
448
1.426
SALDO
MIGRATÓRIO
- 871
- 183
- 1054
Fonte: SEI (2007) Panorama dos Municípios Baianos em 1995-2000.
11
Esses saldos negativos se configuram em consequência do intenso fluxo migratório
que o município sofre.
Os contrastes sociopolíticos
O cenário sociopolítico de Candiba se materializa ao longo do tempo mediante as
contradições inerentes das relações sociais e de produção. Assim, somente com a
emancipação, é que são eleitos prefeitos e vereadores próprios do então distrito de
Mocambo. É importante salientar que nas eleições de 1958 o então distrito de Mocambo
havia conseguido eleger apenas dois vereadores (o Sr. José Moreira de Souza e o Sr.
João Joaquim Marques), nessa época os vereadores não tinham remuneração alguma.
Porém a representação política se faz presente diante de uma realidade adversa, pois o
poder encontrava-se no distrito-sede (na época Guanambi).
A partir da emancipação em 1962 a primeira eleição municipal veio a ocorrer no dia
sete de abril de 1963, com quase um ano de emancipação. O primeiro prefeito eleito foi o
Sr. Tertuliano Joaquim Neto; quatro anos depois, assumiu a prefeitura o Sr. Joaquim
Neves da Silva. Em 1977, o Sr. Aleci da Silva Prado foi empossado prefeito, seguindo a
cadeia sucessória.
O cenário politico passa a ser construído e as relações de poder vão sendo
estabelecidas mediante articulação de atores políticos que comandam as transformações
e/ou as permanências em Candiba.
E importante ressaltar que no início do século XXI algumas contestações sociais e
políticas começam a se organizar e fazer reivindicações dinamizando a realidade local.
Nesse contexto verificam-se diversas ações da gestão publica direcionada para a
infraestrutura onde há uma reforma/construção da Praça da Igreja Matriz (Figura 4), que
dão aspectos paisagísticos modernos ao centro da cidade proporcionando uma
reestruturação na forma e no conteúdo do espaço local.
12
Figura 4: Praça da Matriz de Candiba-Ba.
Fonte: www.candibanet.com.br
Nessa lógica de reestruturação se efetuou a demolição do o antigo Mercado
Municipal e construiu outro, bem como uma Praça de Evento (Figura 5). É importante
destacar que as novas formas incidiram na estrutura, na forma e no conteúdo do espaço
local. Porém não refletiram na melhoria da qualidade de vida como um todo.
Figura 4: Mercado Municipal de Candiba.
Fonte: www.candibanet.com.br
A centralização do poder nas mãos de um grupo político é a característica de
Candiba que tem ao longo de sua independência a reprodução desse cenário pelos
13
atores políticos/econômicos e sociais cuja cultura vinculam-se as tradições de
permanência e subserviência ao do poder que é materializada no local.
Diante do exposto a ausência da diversificação político/econômica e em
decorrência o acesso ao mercado de trabalho intensifica-se a mobilidade populacional em
Candiba fazendo com que sua população tenha ganhos negativos e ao mesmo tempo a
justiça social não seja efetivada para todos. Esta por sua vez fica a cargo/privilegio de
uma minoria em detrimento da maioria da população.
Considerações finais
O histórico do município de Candiba, como se evidencia nos dados exposto foi
marcado por apenas dois grupos políticos que, comunga da mesma ideologia, e se
revezam no poder. A análise política vem, pois, validar a importância dos agentes
políticos na estruturação do território, haja vista que são esses agentes os primeiros a
incorporar o exercício do poder. Foi por meio desses mecanismos de organização política,
que o município recebeu o abastecimento de água, as ruas foram calçadas e praças
construídas.
No entanto, devido à centralização do poder e à estrutura paternalista que nos
remete ao fenômeno do coronelismo na História do Brasil e aos traços do mandonismo
que ainda imperam no município, os candibenses se deparam com dificuldades na
ampliação e na estruturação das políticas de saúde e de educação, problemas que
reforçam as carências sociais acumuladas.
Diante da pouca diversificação das atividades econômicas é que o fenômeno da
mobilidade populacional é evidente e se intensifica. As alternativas de modificar ainda não
contiveram essa realidade.
NOTAS
1
SUPERINTENDENCIA DE ESTUDOS ECONOMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Indice de Desenvolvimento
Econômico e Social dos Municípios Baianos. Salvador: SEI, 2002.
2
SUPERINTENDENCIA DE ESTUDOS ECONOMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Índice de Desenvolvimento
Econômico e Social dos Municípios Baianos. Salvador: SEI, 2004.
3
Lei Estadual n°. 1.756 na integra em Anexo e atual izados os limites municipais posteriormente, vide
Anexo.
4
Lei Estadual n°. 4.026 na integra em Anexo.
14
5
BRITO, Cristóvao. Revisando o Conceito de Território. In: RDE-Revista de Desenvolvimento
econômico/UNIFACS. Departamento de Ciências Sociais Aplicadas 2. Ano IV, n.6, (julho de 2002).Salvador: Bahia.p.12
6
TREWARTHA, Glenn Thomas. Geografia da População: padrão mundial. São Paulo: Atlas, 1974. p. 166.
7
DAMIANI, Amélia Luisa. População e Geografia. São Paulo: Contexto, 1991. p. 30.
8
SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In:
CASTRO, Iná de; GOMES, Paulo César da Costa; CORREA, Roberto Lobão. Geografia conceitos e temas.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p.78.
9
MACHADO, Mônica Sampaio. Geografia e Epistemologia: Um passeio pelos conceitos de espaço, território
e territorialidade. IN: GEOUREJ, Revista do departamento de geografia UERJ, RJ. Nº1 Janeiro 1997. p.26.
10
SANTOS, Jair L.F; LEVY, Maria Stella; SZMRECSÁNYI, Tamas. Dinâmica da População: teoria, métodos
e técnicas de análise. São Paulo: T.A. Queiroz, 1991. p.256.
11
BEAUJEU-GARNIER, Jacqueline. Geografia da população. 2.ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1980.
12
ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia econômica.7 ed. São Paulo; Atlas, 1981.
13
SARMENTO, Walney Moraes. Nordeste: a urbanização do subdesenvolvimento do subdesenvolvimento.
2. ed. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1984.p.61.
14
Divisão Administrativa da Bahia em 1889. BAHIA. ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA BAHIA. V. 1, 1972 –
Salvador: SEI, 2003.
15
Termo indígena que significa lugar de refugio de escravos.
Referencias
ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia econômica. 7 ed. São Paulo; Atlas, 1981.
BEAUJEU-GARNIER, Jacqueline. Geografia da população. 2.ed. São Paulo: Ed.
Nacional, 1980.
BRITO, Cristóvão. Revisando o Conceito de Território. In: RDE-Revista de
Desenvolvimento econômico/UNIFACS. Departamento de Ciências Sociais Aplicadas 2.
Salvador. Ano IV, n.6, Jul, 2002.
DAMIANI, Amélia Luisa. População e Geografia. São Paulo: Contexto, 1991.
MACHADO, Mônica Sampaio. Geografia e Epistemologia: Um passeio pelos conceitos de
espaço, território e territorialidade. IN: GEOUREJ, Revista do departamento de geografia
UERJ, RJ. n.1 Jan. 1997.
SANTOS, Jair L.F; LEVY, Maria Stella; SZMRECSÁNYI, Tamas. Dinâmica da
População: teoria, métodos e técnicas de análise. São Paulo: T.A. Queiroz, 1991.
SARMENTO, Walney Moraes. Nordeste: a urbanização do subdesenvolvimento 2. ed.
Porto Alegre, Mercado Aberto, 1984.
SOUZA, Marcelo José Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e
desenvolvimento. In: CASTRO, Iná de; GOMES, Paulo César da Costa; CORREA,
Roberto Lobão. Geografia conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.
SUPERINTENDENCIA DE ESTUDOS ECONOMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Indice de
Desenvolvimento Econômico e Social dos Municípios Baianos. Salvador: SEI, 2002.
SUPERINTENDENCIA DE ESTUDOS ECONOMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Índice de
Desenvolvimento Econômico e Social dos Municípios Baianos. Salvador: SEI, 2004.
TREWARTHA, Glenn Thomas. Geografia da População: padrão mundial. São Paulo:
Atlas, 1974.
Download