As consequências da ausência do Grau de Escolarização nas Soropositivas no município de Presidente Prudente, SP. Arilda Ines Miranda Ribeiro (NUDISE/FCT/UNESP/P.Prudente-SP) [email protected] Jaqueline de Andrade (NUDISE/FCT/UNESP/P.Prudente-SP) [email protected] Keith Daiani da Silva Braga (NUDISE/FCT/UNESP/P.Prudente-SP) [email protected] Resumo: A temática da feminização da epidemia da AIDS ainda é um desafio para ser problematizado em nossa sociedade arraigada de preconceitos, porém se faz necessário a discussão desse tema pelo viés da vulnerabilidade social. Nesse sentido, percebe-se que a ausência de escolarização interfere na vida das mulheres, pois determina o impacto socioeconômico provocado pela AIDS e as construções sociais que interferem na vulnerabilidade dos sujeitos. Este artigo tem por objetivo fornecer reflexões acerca da temática da feminização do HIV no município de Presidente Prudente, bem como sobre as consequências da ausência do grau de escolaridade como um dos fatores do aumento dos casos de HIV entre as mulheres soropositivas. A metodologia utilizada baseou-se no estudo da literatura sobre a temática, na aplicabilidade de questionários sobre o HIV para duas soropositivas e profissionais da área da saúde, assim como na análise do documentário “Positivas”. Os resultados indicam que mesmo após 30 anos depois da descoberta da doença, muitas ainda creem que o vírus atinja apenas um grupo de risco determinado. Mulheres se sujeitam à imposição de seus parceiros e abrem mão de métodos preventivos, demonstrando que a ausência de grau de escolaridade aumenta a vulnerabilidade dessas mulheres, uma vez que as mesmas sem a apropriação das informações não conseguem preservar sua saúde. Palavras chave: HIV/AIDS em Presidente Prudente-SP; Soropositivas e Educação e Saúde. Grau de escolaridade; The consequences of the absence of the Degree of Schooling in the HIV in the city of Presidente Prudente, SP. Abstract The theme of the feminization of the AIDS epidemic is still a challenge to be questioned in our society rooted prejudices, however we still need to discuss this subject by the bias of social vulnerability. Accordingly, we find that the absence of schooling interfere in the lives of women, because it determines the socioeconomic impact caused by AIDS and the social constructs that affect the vulnerability of the subjects. This article aims to provide reflections on the theme of the feminisation of HIV in the city of Presidente Prudente, as well as the consequences of this absence of schooling as a factor in the increasing incidence of HIV among women living with HIV. The methodology used was based on the study of literature on the subject, the applicability of questionnaires for two HIV seropositive and health professionals, as well as the analysis of the documentary "Positive". The results indicate that even after 30 years after the discovery of the disease, many still believe that the virus reaches only a particular risk group. Women are subject to the imposition of its partners and forgo preventive methods, demonstrating that the absence of schooling increases the vulnerability of these women, since the same without the ownership of the information cannot preserve their health. Key-words: HIV / AIDS in the Presidente Prudente-SP, Seropositive Grade Education, Education and Health 1 Introdução Sexo faz parte da nossa vida. É algo natural e importante para a existência da humanidade. Somos, na maioria das vezes, “frutos” de uma relação sexual entre nossos pais. Entretanto a questão da sexualidade representa certo desconforto. Para muitos sujeitos encarar essa questão com naturalidade é um desafio. Isso ocorre por que culturalmente somos influenciados a conceber a sexualidade como algo ruim, por razões religiosas, pela consequência da AIDS, etc. Há um tabu inserido nos discursos oficiais de como é vista a sexualidade, que necessita ser rompido. É preciso levar em consideração os sujeitos soropositivos. Ser soropositivo não significa deixar a sexualidade de lado. Ao contrário, a diferença é que a relação sexual, como em todas as outras, deverá ser sempre com preservativo. Sabe-se que a AIDS é uma grave doença causada pelo vírus HIV, porém poucos tem conhecimento de qual é a diferença entre a doença e o vírus causador. A AIDS é uma doença transmitida pelo vírus HIV que compromete o sistema de defesa do organismo, tornando o sujeito incapaz de se defender até mesmo de doenças que comumente não apresentam gravidade para a saúde como, por exemplo, gripes e resfriados. Isso ocorre por que o HIV destrói as principais células de defesa do sistema imune. Após o contágio, o vírus pode permanecer sem se manifestar de dez anos ou mais. Ou seja, significa que a única maneira do sujeito descobrir se é portador do vírus ou não é através de exames de sangue. O HIV é transmitido pelo sangue, pelo sêmen, pela secreção vaginal e pelo leite materno. Um bebê pode ser infectado pela mãe durante a gravidez e na hora do parto. Atualmente, os chamados coquetéis de medicamentos antirretrovirais (com distribuição gratuita pelo governo) conseguem, em muitos casos, controlar a carga de vírus no sangue, aumentando consideravelmente a qualidade de vida e as chances de sobrevivência, e principalmente reduzindo o risco de transmissão vertical (da mãe para o bebê) do vírus HIV. Em sua tese de doutorado Sanches (1999) ressalta que: O HIV é transmitido através do contato sexual; exposição ao sangue e hemoderivados ou da mãe para o filho, tanto em útero, no momento do parto ou através do aleitamento materno. O HIV já foi identificado no sangue, saliva, lágrima, fluido cérebro-espinhal, tecido cerebral, urina, sêmen, leite materno, líquido amniótico e secreções vaginais. Entretanto, a baixa carga de vírus e a baixa frequência do seu isolamento da maioria desses fluidos sugerem que, com exceção do sangue, sêmen, secreções vaginais e leite materno, os demais fluidos desempenham um papel insignificante na transmissão do vírus. (SANCHES, 1999, p. 66). As Políticas e diretrizes de prevenção das DST/AIDS entre mulheres documento elaborado pelo Ministério da Saúde (2003) assinalam que: A iniciação sexual feminina, no Brasil, é precoce e acontece por vários motivos, desde manifestação espontânea, pressão social, coerção de homens mais velhos, até por pura violência física. Há ainda o comércio informal de sexo, em troca de dinheiro, proteção, alimentação ou habitação. Meninas jovens são procuradas porque se acredita que são “seguras” e não infectadas com o HIV. Adolescentes que vivem e/ou trabalham nas ruas muitas vezes se envolvem no comércio sexual, e vivem em circunstâncias bem difíceis. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003, p. 27). O constrangimento associado à discussão da sexualidade e o medo da aparição de uma doença transmitida pelo parceiro desempenham forte influência sobre essas mulheres, mantendo-as no silêncio sobre suas dúvidas, aprisionadas em sua dor moral e desinformadas sobre a probabilidade de tornarem-se multiplicadoras do problema pela transmissão a outros sujeitos. O procedimento mais adequado para evitar o contágio do HIV é a prevenção, mas infelizmente muitos sujeitos sentem-se invulneráveis a doença e por isso não se previnem, pois pensam que não fazem parte do grupo de risco. A ausência de escolarização nessa situação prejudica, na medida em que estando aberta a novos conhecimentos, a prevenção ocorre de forma natural de preservação. Entretanto na atual circunstância não há um grupo de risco determinado, isto é, todos os sujeitos que são sexualmente ativos também são vulneráveis e podem contrair a doença, desde que não tomem as medidas preventivas. Sanches (1999) ressalta que: A percepção de vulnerabilidade pessoal pelas mulheres é importante e necessária, mas não é suficiente para determinar mudanças de comportamento. Diferentes grupos sociais apresentam lógicos e concepções diferenciadas sobre a saúde e doença. O conceito de risco é um dos mais complexos da epidemiologia, com implicações importantes para a educação em saúde. A noção que cada pessoa tem acerca do risco a que está exposta tem, frequentemente, pouco a ver com o risco real. Mesmo aqueles que sabem bastante sobre HIV/AIDS e sobre a importância de adotar medidas de proteção, admitem que nem sempre tomam as devidas precauções. (SANCHES, 1999, p.77) Um comentário, oportuno para esse dito de invulnerabilidade é que se sabe que a princípio a epidemia da AIDS foi denominada como “peste gay”, esse pensamento equivocado faz com que os tiros sintam-se imunes ao vírus da AIDS. De modo concomitante o comportamento preventivo para os soropositivos consiste em evitar situações que possam acelerar a evolução da infecção do vírus HIV um aspecto importante que faz parte do comportamento preventivo do indivíduo soropositivo é o que tem se chamado de sexo seguro. A questão da vulnerabilidade é analisada por alguns autores como um problema que atinge somente as mulheres empobrecidas. Não ter cursado escolas, não possuírem saberes limita sua percepção sobre os riscos que correm de infecção. O Ministério da Saúde (2003) diz que: Entre as mulheres vulneráveis à epidemia, estão àquelas residentes em favelas e bolsões de pobreza urbana como imigrantes e mulheres em áreas rurais remotas, que vivem em condições de extrema pobreza e não tem acesso à educação, sendo, portanto, analfabetas ou semi-analfabetas. Raça é mais uma variável essencial para entender-se a vulnerabilidade das mulheres. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003, p.28). É sabido que as mulheres mais empobrecidas são mais vulneráveis a contrair o HIV. Entretanto é um grande equívoco da sociedade que tem um poder aquisitivo melhor pensar que estão livres do vírus HIV, pois a AIDS é uma doença que atinge todas as camadas sociais. 2 A AIDS e as Mulheres A epidemia de AIDS desde seus primeiros indícios atingiu variados segmentos sociais, como por exemplo, a população feminina. Essa modificação no perfil da epidemia pode ser analisada através de alguns fatores que colaboraram e que vem contribuindo para disseminação da doença. Podemos assinalar como determinante no crescimento dos dados epidemiológicos à que as mulheres estão vulneráveis: as relações desiguais de gênero; racismo e desigualdades étnico-raciais; a pobreza; a violência doméstica e sexual; estigma e violação dos direitos humanos. Outro agente importante dessa ampliação do vírus entre as mulheres se refere à falta de uso do preservativo. Isso ocorre por que há uma grande dificuldade por parte do segmento feminino exigir que seus parceiros usem preservativo. De acordo com o Ministério da Saúde (1997): Em geral, as mulheres mais jovens temem ser consideradas ‘fáceis’ ou. ‘experientes demais’, enquanto as mais velhas reportam o medo de desagradar ao parceiro, pois solicitar o uso do preservativo pode ser visto como uma “prova de desconfiança”. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1997, p. 73). Pode-se inferir que essa prática da não exigência por parte das mulheres em relação ao uso da camisinha por seu parceiro está enraizada na nossa cultura. O senso comum dissemina a ideia de que se a mulher solicita que seu parceiro faça uso do preservativo isso implica em conflitos externos entre o casal, gerando essa dificuldade. “Mulheres apanham quando querem negociar o preservativo, os homens pensam que ela ou está traindo ou tem AIDS, muitas vezes são eles que têm AIDS e não sabem né?” Rosária, soropositiva há dez anos. Essa fala de dona Rosária, uma das participantes do documentário Positivas, é uma afirmação verdadeira, pois ainda há uma desigualdade entre as relações de gênero. A desigualdade de gênero ocorre por que dentro do campo da sexualidade as mulheres sempre foram vistas apenas como reprodutoras para perpetuar a continuação da espécie humana. Por esse motivo elas não têm a liberdade de expressarem seus desejos e fantasias, muito menos, de exigir de seus parceiros o uso do preservativo. Se por parte da mulher há o receio da desconfiança do seu companheiro sobre sua fidelidade em relação ao uso do preservativo, para o homem há a máxima machista e intolerante de que ele é invulnerável e cabe somente a ele a decisão de usar ou não o preservativo. Sobre essa desigualdade de relação de gênero, dona Cida outra participante do mesmo documentário enfatiza que a mulher não foi educada para discutir relação. A função dela é aceitar passivamente o que o parceiro quer. “Nós mulheres somos educadas para não discutirmos relação aceitamos o que o parceiro quer”. Cida, soropositiva há nove anos. Uma maneira de quebrar essa barreira é a prática do diálogo entre o casal. Ambos devem ter a consciência de que o uso do preservativo não significa desconfiança ou traição, mas sim é uma demonstração de preocupação e amor que um tem para com o outro, ou seja, ambos devem compreender que a prevenção eficaz contra o HIV é o preservativo masculino ou feminino. É necessário difundir como ocorrem, socialmente, as desigualdades de gênero. Assim como a homossexualidade, a AIDS também é um tema causador de discussão extensa, tanto os homossexuais quanto os aidéticos são censurados pela sociedade. Basta (2006) ressalta que: A doença ficou conhecida e ligada à imunodeficiência das pessoas com práticas homossexuais, apontando para o pesado e forte estigma social, o preconceito e a discriminação que ganharia força nos anos seguintes (BASTA, 2006, p.24). Observa-se que cada vez mais as mulheres estão sendo expostas a essa doença, e na maioria das vezes, pelos próprios parceiros, pelos maridos. O documentário intitulado Positivas, citado acima, foi produzido pela jornalista e cineasta Susanna Lira é um filme que aborda de forma direta e clara os principais fatores da feminização da AIDS no Brasil. O filme tem como principal alvo o estigma em torno da AIDS. Ao apresentar experiências de mulheres de “bom comportamento” que contraíram o HIV de seus maridos ou parceiros fixos, o documentário desvenda o véu de silêncio e hipocrisia que assola os laços do matrimônio. O documentário acompanha a vida de Cida, Heli, Rosária, Medianeira, Sílvia, Ana Paula e Michelle. , mulheres que foram surpreendidas pela notícia da doença em um ambiente até então seguro e moralmente “adequado”. Essas mulheres estão muito próximas de nós, mas não as reconhecemos. Ao lançar um olhar para mulheres heterossexuais, “protegidas” pela instituição do casamento e contaminadas pelo HIV, o filme POSITIVAS mostra como o muro do preconceito é frágil e desinformado, que cega toda a sociedade. Deve-se levar em conta que a AIDS não é mais uma doença segmentada. Para fazer o filme foram eleitas mulheres comprometidas com os dogmas do relacionamento ideal e que não viam a necessidade de negociar o uso da camisinha com seus parceiros. O documentário mostra como é a vida dessas mulheres, como elas são fisicamente, como vivem, o que gostam de fazer, quais são seus sonhos e fragilidades. POSITIVAS vira do avesso os paradigmas sobre os sujeitos com AIDS, como frases desse teor: “Hoje, o grupo de risco somos todos nós e a desinformação ainda nos atinge de maneira brutal”. Falta a cultura, falta a escolarização. Através dos relatos das próprias mulheres, e não de especialistas e médicos, POSITIVAS aponta os principais fatores responsáveis pela feminização da AIDS no país. O filme dá voz a essas mulheres, porque apesar do luto inicial que acompanha a notícia e do preconceito que vem em seguida, elas nos mostram que viver com AIDS não é o fim. Ao contrário, pode significar uma nova chance à vida e à sexualidade. Para dar mais força aos resultados obtidos no filme, essa pesquisa lançou mão de aplicar via e-mail, sem identificação social do servidor, um questionário para duas soropositivas de Presidente Prudente. Assim como no documentário, os resultados das narrativas das participantes prudentinas sinalizam que suas vidas pessoais após a contaminação, é e continuam normais. A diferença é que elas precisam tomar os medicamentos todos os dias para controlar a manifestação do vírus. Abaixo se insere a narrativa das mesmas: Email da soropositiva 01: Tive vários namorados depois do HIV e não contei nada pra nenhum deles, mas nunca mais fiz sexo sem preservativo. Estou num relacionamento novo. Ele tem 40 anos e foi meu namorado na adolescência. Para ele eu contei, pois queremos ter uma relação sincera. No inicio ele sumiu por 15 dias, disse que pensou em não me ver mais, foi muito triste pra mim. Depois liguei pra ele varias vezes, conversamos e hoje, estamos mais fortes e juntos. O levei pra conhecer outros amigos que estão com amigas minhas soropositivas e sinto que ele está com menos medo. Conversamos abertamente e só fazemos sexo com preservativo. Mas confesso que é muito difícil contar. Me sinto uma guerreira. Fiquei uns oito anos sem sexo, não sabia o que fazer, aí era só beijo e abraço. Para muitas mulheres discutir sobre sexualidade ainda é um tabu que envolve o moralismo e o preconceito. O constrangimento associado à discussão da sexualidade e o medo do desvelamento de uma doença transmitida pelo parceiro exercem uma grande influência sobre essas mulheres, mantendo-as no silêncio sobre suas dúvidas, aprisionadas em sua dor moral e desinformadas sobre as formas de contágio e de prevenção da doença. No depoimento acima se percebe que a mulher soropositiva que teve acesso aos graus de escolarização, tem consciência de que mesmo não revelando para o parceiro ou parceira sobre sua sorologia, o uso do preservativo é fundamental para que não haja contaminação. Email da soropositiva 02: Tenho uma vida mais que normal, pois posso fazer tudo que eu quiser. Gosto de sair, dançar, paquerar, tomar umas cervejas de vez em quando e sim: namorei por mais de três anos um soro discordante. No começo foi difícil para ele aceitar a minha condição, mas depois de muitos esclarecimentos da minha parte e de outros profissionais, a nossa relação se tornou norma. Como qualquer casal, nós nos cuidávamos muito bem. O término da relação se deu por outros motivos e não pelo HIV. No relato acima, agregado aos relatos que se vê no filme e na literatura lida, se observa que é possível viver normalmente mesmo sendo soropositiva. Além disso, os relacionamentos sociais e pessoais(família, amigos e colegas de trabalho) são essenciais para que essa mulher soropositiva possa ter um suporte emocional equilibrado para enfrentamento da soropositividade, pois o apoio psicológico é extremamente importante, uma vez que a depressão está associada à progressão da infecção pelo HIV. Por mais que a AIDS seja uma doença incurável, é possível conviver com a doença sem abandonar a sua vida social, pois depois da contaminação, a soropositiva deve levar em conta que há tratamentos para amenizar os efeitos devastadores da AIDS. Assim como é possível um soropositiva (o) poder viver normalmente, desde que siga corretamente o uso dos medicamentos e as orientações do médico, também é possível um soro discordante conviver com um soropositivo desde que tome as devidas precauções. A tabela a seguir, a guisa de complementação da pesquisa, mostra alguns dados da feminização do HIV em Presidente Prudente. Nela é possível observar o grau de escolaridade das soropositivas prudentinas no ano de 2010. A maioria se encontra cursando ou concluindo o primeiro grau, hoje denominado Ensino Fundamental. Poucas as que contraem estão no ensino superior (5) ou são analfabetas (4). Esses dados estão em consonância com o Ministério da Saúde que demonstra em pesquisas nacionais quanto mais a escolaridade menor o risco de infecção. Outro dado interessante a ser ressaltado é que apenas uma mulher soropositiva é homossexual, o que derruba o mito/tabu do preconceito homofóbico. Os dados de Presidente Prudente confirmam que o parceiro é o primeiro agente transmissor da doença. Centro e trinta e sete casos ocorrem nessa perspectiva, dentro do contexto de duzentos e quarenta e sete. Faixa Etária 15 a 29 Anos 54 Pessoas 30 a 44 122 Pessoas Profissão Escolaridade Do lar 148 Analfabeto 04 Desempregada 24 1º Grau Completo 88 GII 38 Maior de 45 63 Pessoas Funcionária Pública 05 1º Grau Incompleto 93 GII S/TARV Tratamento GIV 140 Categoria Homossexual 01 Raça Branca 108 Parda 114 Heterossexual 241 Amarela 02 2º Grau Completo 20 Bissexual 05 Preta 23 2º Grau Incompleto 20 Superior 17 UDI 10 Superior incompleto 05 Múltiplo parceiro 108 Procedência Presidente Prudente 170 Presídio 0 Região 77 69 Com 60 Anos ou Mais 08 Pessoas Prof. Sexo 02 Serviços Gerais 33 Detento 0 Parceiro único 137 Tec. Enfermagem 02 Trabalhador Rural 04 Curso técnico profissional 06 Autonomia 11 Aposentada 07 Estudante 03 Professora 02 Fonte cedida gentilmente pela CUT/ Presidente Prudente (2010) Tabela 1- Dados de Mulheres com AIDS atendida em Presidente Prudente/SP em 2010. Total de Soropositivas: 247 3 A chegada do Vírus da AIDS no Gênero feminino e o Grau de escolaridade como influencia da feminização da AIDS A feminização do HIV se dá por meio de fatores diversos, assim como desigualdade de gênero, desigualdades étnico-raciais; a pobreza; a violência doméstica e sexual; estigma e violação dos direitos humanos. A questão do grau de escolaridade também é um fator que determina o aumento dos casos de AIDS entre as mulheres. O grau de escolaridade é também considerado um dos fatores determinantes para o aumento da feminização do HIV, pois o desconhecimento é um elemento crucial da disseminação do HIV/AIDS. Estima-se que é através da educação preventiva que surge a possibilidade de diminuir os índices de contaminação do vírus entre as mulheres. A infecção do HIV é uma causa de morte que pode ser evitada através de medidas simples, mas que pode fazer diferença na vida de muitos sujeitos que convivem com a doença. A transmissão do vírus se dá de diversas formas desde a relação sexual sem camisinha, transfusão ou contato direto com sangue contaminado. A AIDS também pode ser transmitida através da gestação. Uma gestante soropositiva pode passar o vírus para o bebê em três momentos: durante a gravidez, durante o parto e na amamentação. Essa transmissão dificulta o crescimento do bebê e aumenta as chances dele adoecer, podendo, inclusive, levá-lo à morte. A dificuldade encontrada pelas mulheres em exigir que os parceiros usem camisinha está culturalmente arraigada na nossa sociedade. A doença foi rotulada como “peste gay” logo após seu surgimento e com isso houve uma grande disseminação do HIV, fazendo com que os heterossexuais se julgassem automaticamente imunes à infecção e não prescindiam de prevenção. Quanto menor for o grau de acesso à escolarização prejudica o gênero feminino adquirir conhecimentos e informações sobre os cuidados com a sua saúde e as maneiras como manter-se saudável. Por meio da aplicação de questionários não identificáveis, a duas soropositivas de Presidente Prudente, via email, foi possível analisar que: apesar de profissão e grau de escolaridade diferenciadas, ambas atribuíram respostas semelhantes no que diz respeito à vulnerabilidade. Responderam que nunca se preocuparam com a prevenção, porque julgavam que a contaminação do vírus se dava apenas por relações homossexuais e usuários de drogas. Abordar as diversas práticas sexuais (anal, vaginal, oral), destacando as diferenças vulnerabilidades masculinas e femininas (biológica e de gênero) é fundamental para que homens e mulheres percebam as situações de risco que vivenciam, não apenas a partir do seu comportamento sexual, mas também de suas parcerias (homo e/ou heterossexual). (Aconselhamento em DST/HIV/AIDS para a atenção básica, p.14). O Aumento de casos de AIDS entre as mulheres requer medidas preventivas e urgentes e isso começa a ser revelado durante os primeiros casos da doença entre a população feminina. Com a epidemia da AIDS acelerando cada vez mais entre as mulheres se faz necessário à implantação de programas voltados à saúde da mulher. As desigualdades existentes entre o universo feminino e masculino estigmatizam a idéia de que somente as mulheres devem procurar os serviços de saúde. Pelo fato das mulheres procurarem pelos centros de saúde pública ou particular em maior número do que a população masculina, não significa em última instância, que são invulneráveis ao vírus HIV. A questão da vulnerabilidade diz respeito a todos nós. Desde que sejamos sexualmente ativos somos vulneráveis a contrair o vírus da AIDS. No entanto, a contaminação do HIV não se restringe apenas pela relação sexual sem prevenção, mas também pela transfusão de sangue contaminado, ou pelo uso de drogas injetáveis e ainda por materiais de uso pessoal cortante compartilhado. Como por exemplo: alicate de unha, agulhas, etc. Apesar de esses objeto s apresentarem poucos riscos de contaminação é fundamental a manicure esterilizá-los antes de reutilizá-los. É importante também que ao ir à manicure deve-se levar o próprio material para evitar a contaminação de outras doenças, como por exemplo, a hepatite C e B, que são transmitidas pelo sangue contaminado. A contaminação dessas doenças também pode ocorrer por meio de relações sexuais sem proteção. Foi aplicado um questionário a uma profissional de saúde referente ao índice de HIV no município de Mirante do Paranapanema-SP. Questão Possibilidades de respostas Respostas 1. Nesta unidade de ( )Sim saúde há a oferta do ( )Não teste de HIV? Sim 2. Quantos testes são realizados por mês? ( ) Nenhum teste por mês ( ) De 1 a 4 testes por mês ( )De 1 a 4 testes a cada 3 meses ( ) De 1 a 4 testes a cada 6 meses ( ) De 1 a 4 testes por ano De 01 a 04 testes por mês 3. Quem procura mais pelo teste de HIV? ( )homem ( )mulher ( ) ambos Mulher 4. Qual é a faixa etária das pessoas que mais procuram fazer o teste do HIV? ( ( ( ( ( ( ( ( ( 24 anos 5. Se for possível qual é o grau de escolaridade daqueles que fazem o teste de HIV? ( ) ensino fundamental completo ( )ensino fundamental incompleto ( )ensino médio completo ( )ensino médio incompleto ( )ensino superior completo ( )ensino superior incompleto ( )não estudou ( )não sei informar )18 anos ) 24 anos )28 anos ) 30 anos ) 34 anos ) 38 anos ) 40 anos ) 48 anos ) 50 anos ou mais Ensino médio completo Fonte: Elaborado pela autora (2011) Tabela 2: Questionário sobre o índice de HIV em Mirante do Paranapanema O questionário apresentado acima foi elaborado com o intuito de analisar qual é a faixa etária que mais faz requerimento do teste de HIV. A Unidade Básica de Saúde do município analisado é mantida pelo SUS e faz parte do programa saúde da família. Como se pode observar na tabela, nesta unidade são realizadas de 01 a 04 testes por mês. A população feminina é a quem mais procura pelo teste. Dos resultados aferidos, observa-se que 24 anos é a faixa etária que mais realiza o teste. O grau de escolaridade das mulheres é de ensino fundamental completo, isso demonstra que há uma maior preocupação da população feminina em diagnosticar ou não precocemente a incidência do vírus. Tem se observado que o aumento de caso de AIDS não se da apenas pelo diagnóstico precoce, mas também pode ser observado que as mulheres estão cada vez mais preocupadas com a prevenção, talvez porque também se tem conhecimento de que gênero feminino tem ascendido, nos últimos anos, com mais rapidez, aos graus de escolaridade. Estima-se que os novos casos da doença diagnosticados atualmente entre as mulheres são consequências de um diagnóstico tardio. 4 Considerações finais Após 30 anos de dos primeiros casos de AIDS no mundo, ainda se encontram tabus a serem desmitificados. Infelizmente, muitos profissionais da área da saúde têm preconceito em relação a AIDS. Inicialmente o objetivo desta pesquisa era aplicar questionários para profissionais de saúde sobre a temática da feminização do HIV e grau de escolaridade, com a finalidade de comparar os dados do município de Mirante do Paranapanema com os presentes nos artigos estudados, porém esse objetivo inicial foi inviabilizado. Isso porque ao constatar a APPA através de e-mail, a instituição informou que lá são atendidos apenas os aidéticos de baixa renda. No entanto a atendente informou que o CTA de Presidente Prudente poderia auxiliar na pesquisa, pois o centro atende a todos os aidéticos independentemente da classe social. Foi acionado o CTA de Presidente Prudente por e-mail, porém não foi obtida nenhuma resposta. Diante desse impasse, foram elaborados dois questionários, apresentados a uma enfermeira que trabalha no PSF localizado na Zona Rural no município de Mirante do Paranapanema-SP. Ao trabalhar com esse tema, já é esperado o enfrentamento de escassez de dados e de fontes. Essas dificuldades, porém são importantes para refletirmos sobre a falta de sensibilidade dos sujeitos soro-discordantes para com os soropositivos, por que a AIDS é um tema polêmico, mas é relevante e diz respeito a todos. Como foi dito anteriormente, não há um determinado grupo de risco, todos nós podemos contrair o vírus e isso é reforçado no documentário da jornalista e cineasta Susanna Lira. Ela nos mostra que nem mesmo um relacionamento estável pode imunizar e o sujeito não corre risco de se contaminar. A AIDS é uma doença que não tem cura, mas pode ser tratada e antes de tudo, pode ser prevenida. Acredita-se que o presente trabalho foi relevante, pois se tem observado cada vez mais que o índice de AIDS entre as mulheres vem aumentado significativamente, passando assim a ser reconhecida como grave ameaça às mulheres sexualmente ativas, inclusive as monogâmicas. Cada vez mais as mulheres estão sendo expostas a essa doença, muitas vezes até mesmo pelos seus próprios maridos. Isto pode ser percebido em narrativas de mulheres soropositivas. Conforme FIGUEIREDO & AYRES: As mulheres adquirem AIDS por meio de contatos sexuais esporádicos, pela prestação de serviços sexuais remunerados, mas, cada vez mais, com seus parceiros fixos, tanto namorados quanto maridos. (FIGUEUIREDO & AYRES, 2002, p.97) É possível notar que a confiança que a mulher deposita em seu parceiro faz com que ela não exija o uso do preservativo, porém é a mulher que sofre com a consequência desse ato. O problema é que as mulheres possuem menos poder econômico e social do que os homens. Menor poder econômico, menos acesso à educação escolarizada e consequentemente, menos acesso à informação e a autoestima e confiança. Como outras epidemias de doenças transmissíveis, a AIDS se alastra com mais velocidade entre elas e na camada mais desfavorecida A falta de escolaridade e a dependência econômica colocam-nas em desvantagem na hora de negociar com o parceiro o uso do preservativo. Esse trabalho corroborou a tese de que a AIDS é uma doença que pode ser evitada, mas para isso é necessário que haja conscientização de que o uso do preservativo em qualquer relação sexual é fundamental para que isso não aconteça, pois ela é uma doença que mata e não tem cura, apenas tratamento. Ela prejudica não apenas o portador, mas também todos os sujeitos que convivem com o aidético. Ter acesso a informação, ter estudos mais avançados facilitam a preservação da saúde tanto de mulheres quanto de homens, contribuindo de diversas maneiras para se prevenir e ter uma vida mais saudável. Sabe-se que o tratamento de AIDS existe e que os medicamentos utilizados controlam a doenças e melhoram a qualidade de vida do paciente, aumentando a sobrevida, mas ainda não há uma vacina contra a AIDS. Que outros trabalham surjam, na esteira deste e de outros. Só assim, havendo conscientização, muitos sobreviverão. 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Som Direto de Bruno Armelin. Finzalização de Paulo de Andrade. Rio de Janeiro, Modo Operante Produções, 2010. DVD (78 min)Cor. PRATA, M. C. da S; NICHIATA, L. Y. .I. ; TAKAHASHI, R. F.; BERTOLOZZI, M. R. Vulnerabilidade de mulheres à AIDS: estudo da mortalidade segundo anos potenciais de vida perdidos. O Mundo da Saúde, São Paulo: 2009; 33(4): 440-448. Disponível em: <http://www.saocamilo-sp.br/pdf/mundo_saude/70/440a448.pdf> Acesso em: Julho de 2011.