UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS Pós-Graduação em Ensino de Filosofia - CEEF A OLÍMPIADA DE FILOSOFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMO POSSIBILIDADE DE VARIAÇÃO METODOLÓGICA NO ENSINO DE FILOSOFIA Marcelo de Moraes Belini São Carlos 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS Pós-Graduação em Ensino de Filosofia - CEEF A OLÍMPIADA DE FILOSOFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMO POSSIBILIDADE DE VARIAÇÃO METODOLÓGICA NO ENSINO DE FILOSOFIA Marcelo de Moraes Belini Trabalho apresentado ao Curso de PósGraduação em Ensino de Filosofia da Universidade Federal de São Carlos, como parte dos requisitos para a obtenção de diploma de PósGraduado em Ensino de Filosofia. São Carlos 2015 BELINI, Marcelo de Moraes. A Olímpiada de Filosofia do Estado de São Paulo como possibilidade de variação metodológica no Ensino de Filosofia – Marcelo de Moraes Belini – São Carlos: UFSCar, 2015 48f.: il. Orientador: Claudia Simone Galassi. Monografia (Especialização em Ensino de Filosofia) Universidade Federal de São Carlos, Centro de Educação e Ciências Humanas. 1. Ensino de Filosofia 2. Escola Pública 3. Gestão Escolar. PARECERISTAS ____________________________ _______________ ____________________________ _______________ ____________________________ _______________ Dedicatória À Lou Haro e Damaris de Moraes. Agradecimentos Agradeço primeiramente a minha esposa pelo companheirismo profundo, meus familiares e amigos pelo total apoio concedido. Agradeço minha tutora, Profa. Ma. Claudia Simone Galassi por prontificar-se em exercer sua função de maneira exemplar, sempre disposta a esclarecer possíveis dúvidas e resolver os obstáculos pertinentes. Agradeço meus alunos que disponibilizaram seus respectivos tempos para participarem parcial e indiretamente deste trabalho. Um agradecimento especial ao Prof. Me. Luiz Pires por ter se comprometido com a entrevista que compõe este trabalho e também pela dedicação dada ao evento. E finalmente agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. RESUMO O presente trabalho analisa algumas questões a respeito de técnicas pedagógicas contemporâneas no ensino de Filosofia, mais especificamente no que se refere ao estudo da necessidade de uma variação metodológica e pedagógica em sua prática. De princípio, apresenta uma resumida abordagem histórica/conceitual sobre o ensino de Filosofia no Brasil, que possui por finalidade posicionar aquele que o lerá acerca da trajetória que a Filosofia possui em nosso País. Em seguida, a pesquisa apresenta os motivos que levam a necessidade de uma variação metodológica na prática do ensino de Filosofia. Destarte disso, há uma reflexão sobre a Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo como possibilidade e alternativa de variação didática, assim como, uma breve abordagem sobre eventos dirigidos para a área educacional. O trabalho se finaliza com uma análise de depoimentos de alunos que participaram do evento e também com uma apreciação de uma entrevista com o organizador e responsável pela Olimpíada de Filosofia em São Paulo. PALAVRAS-CHAVE: Olimpíadas; Didática; Metodologia; Filosofia; Ensino. ABSTRACT This paper analyzes some issues about contemporary pedagogical techniques in the teaching of philosophy, specifically in regard to the study of the need for methodological and pedagogical change in their practice. In principle, gives a brief historical / conceptual approach to the philosophy of education in Brazil, which has the purpose of positioning the one who read about the path that philosophy has in our country. Then, the research presents the reasons why the need a methodological change in the practice of philosophy of education. Thus addition, there is a reflection on the Olympics Philosophy State of São Paulo as a possibility and alternative didactic variation, as well as a brief approach directed events for education. The work concludes with an analysis of testimonials from students who attended the event and also with an appreciation of an interview with the organization and responsible for the Olympics of Philosophy in São Paulo. KEYWORDS: Olympics; teaching; methodology; Philosophy; Education. Sumário Introdução ................................................................................................................ 07 Capítulo 1: A volta da Filosofia ao currículo oficial do Ensino Médio no Brasil: Um breve histórico do Ensino de Filosofia em nosso País ................................................. 09 Capítulo 2: A necessidade de uma variação metodológica no Ensino de Filosofia ............. 17 Capítulo 3: A Olímpiada de Filosofia do Estado de São Paulo como possibilidade de variação metodológica no Ensino de Filosofia .................................................... 24 3.1. A Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo: Configuração e estrutura do evento .................................................................................................................... 29 Capítulo 4: Depoimento de alunos que participaram de edições da Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo.......................................................................................... 31 4.1. Apreciação crítica dos relatos dos alunos que participaram de alguma edição da Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo ............................................... 34 Capítulo 5: Entrevista com o Prof. Me. Luiz Pires – Responsável pela Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo .......................................................................... 36 5.1. Apreciação crítica acerca da entrevista .......................................................... 41 Capítulo 6: Considerações finais .............................................................................................. 43 Referências Bibliográficas ..................................................................................... 44 7 INTRODUÇÃO Desde a antiguidade com o aparecimento dos primeiros questionadores acerca da natureza humana em seu âmbito cosmológico e existencial, que posteriormente passaram a ser reconhecidos como “filósofos”, compreendemos que o núcleo de suas argumentações reflexivas, de suas procuras em prol a uma elucidação e inquietações intelectivas, promulgam as brechas dos conhecimentos edificados até o momento de suas vivências, entre estas podemos nos deparar com a questão que norteia a Educação (neste caso mais específico o Ensino de Filosofia) e suas práticas pedagógicas (divididas em didáticas, metodologias e técnicas que se referem ao processo de Ensino/Aprendizado). Essas contestações abarcando todo caráter existencial e cultivo intelectivo como base da práxis filosófica, bem como o estilo subjetivo com os quais os filósofos praticam a capacidade do raciocinar, aproximando-se dos fatos que norteiam todos os preceitos aceitos como realidade, não se baseiam em uma prática isolada e misantropa, mas, fortifica-se na investigação da construção de sentidos que se evidenciam como algo a ser praticado e transmitido aos demais seres humanos que nos cercam, transformando-se em um elemento essencial do desenvolvimento e estágios da humanidade que se concretizam pela prática Educacional. Hoje sabemos que a situação das salas de aula, nas relações entre professores e alunos no mundo contemporâneo, é demarcada por diversas modificações conceituais. São mutações estimuladas, principalmente pelo uso constante da rede mundial de computadores e os novos artifícios advindos da tecnologia, a multiplicidade social e cultural, com o surgimento de novas maneiras comportamentais, a economia e a política, a ética e a moral, assim como a ciência etc. Esse contexto parece ser movimentado pelo espetáculo da contemporaneidade que tenta harmonizar a edificação de sujeitos reflexivos pelo desenvolvimento de um educando crítico que restaura passagens de sua experiência vital sob o olhar e mediação do docente. Entendemos também que tais transformações nos exercícios pedagógicos são movimentadas pelas variações sociais que culminam na prática metodológica cultivada no ambiente escolar pelo professor. Destarte disso, nas próximas páginas, há uma tentativa de „‟criação de sintonia‟‟ entre o objeto de pesquisa (expressos nos pensamentos e análises dos pensadores estudados), o enfoque temático, ou seja, a necessidade de uma 8 variação metodológica no Ensino de Filosofia e a amostragem conceitual daqueles que participaram do evento analisado como alternativa para esta variabilidade metodológica (no caso em questão, a Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo). Isso tudo pode adequar uma sensatez na acomodação dos diagnósticos, embora dos enfoques de cada pensador tenham sido tratadas de forma individualizada, para daí sim, serem colocados em um contexto mais generalizado. Desta forma, almejando-se um melhor entendimento de como se estabelecem e se organizam a afinidade entre a Filosofia e o Ensinar, a partir de ponderações filosóficas que se estabelecem no contexto da Educação e em suas particularidades, levantamos outros questionamentos: Quais são os critérios para se ensinar Filosofia? A Filosofia é ensinada ou transmitida da mesma maneira desde a época de seu surgimento? Existe a necessidade de uma variação metodológica em seu ensino? Dentre quais possibilidades deveríamos percorrer para melhor praticarmos nossa função na Educação enquanto educadores? Por meio destas distinções e abordagens buscamos perceber a forma da investida filosófica em sua aplicação conceitual e prática nos fatos que constituem a Educação, explanando didático/pedagógica, o e exemplificando conhecimento e as a analogia formas que entre a constituem ação tais entrelaçamentos. De tal modo, com esta aspiração instigadora, organizam-se os imediatos desígnios que compõem este material textual: considerar o “porque” e “a quem se destina” o palco metodológico da prática pedagógica no que se refere ao Ensino de Filosofia, relacionando tais questionamentos com hipóteses em seu procedimento imperativo, o qual tende para uma contextura de conhecimentos específicos, porem variáveis; buscar na tradição da própria Filosofia e em suas sempre úteis indagações um demonstrativo de que é possível construirmos alternativas metodológicas que demonstrem o “como” e o “para que” da necessidade de modificações nos métodos de ensinar Filosofia; averiguar como um evento dirigido pode colaborar como um procedimento educacional, tendo-se em mente seu intuito principal: ensinar e aprender Filosofia pelos meios possíveis, disponíveis e necessários. 9 1. A VOLTA DA FILOSOFIA AO CURRÍCULO OFICIAL DO ENSINO MÉDIO NO BRASIL: UM BREVE HISTÓRICO DO ENSINO DE FILOSOFIA EM NOSSO PAÍS. A Filosofia sempre esteve presente na recente história do Brasil. Mesmo não conseguindo se estabelecer como sempre mereceu, continuamente aparecia (e aparece) no Ensino Básico e no Ensino Superior em nosso País. Rodrigo (2009) nos dá uma noção disso: “O Ensino de Filosofia na escola secundária existe no Brasil desde o período colonial, embora sempre com grande dificuldade para conquistar um lugar estável no currículo escolar. Seu sentido e suas funções também oscilam muito ao longe desses quinhentos anos de história, ao sabor das diferentes orientações que foram sendo conferidas a esse nível de ensino”. (p.08) A ideia de Filosofia ou aquilo que entendemos hoje por ensinar e aprender Filosofia no Brasil inicia-se com a chegada dos Jesuítas e religiosos da Companhia de Jesus no século XVI (mais especificamente em 1553). Com a intenção de promover e influenciar os autóctones que aqui se encontravam; assim sendo, começaram a catequisar e a propagar de forma veemente a fé cristã por meio de “escolas” que se responsabilizavam em difundir o interesse, não só da coroa, mas também da teocracia milenar existente até então. Neste contexto, é importante salientar que, através desta prática, os colonizadores portugueses e a instituição cristã portuguesa, ficavam de certa forma, alienados e suplantados dos conhecimentos filosóficos, científicos e tecnológicos que compunham a estrutura do conhecimento humano no velho continente – um exemplo claro disso é a sempre notória disputa argumentativa entre o Racionalismo e o Empirismo que estava em voga na Europa entre pesquisadores e catedráticos da época. Ou nas palavras de Campaner (2012): “Tem-se acentuado a constante situação ou de presença inócua da Filosofia nos currículos escolares nacionais, o que de certa forma explica sua situação particularmente desconfortável e polêmica. Os momentos são, no entanto, distintos, pois a presença da Filosofia no currículo do Ensino colonial justificava-se pela necessidade de catequizar os indígenas e africanos, além de manter os colonos próximos à igreja católica”. (p.11) Discutir Bacon e Descartes parece-nos normal hoje, mas isso remonta principalmente a este período. 10 O processo educacional estava ligado a certos fragmentos sociais e tinham a intenção de manter um poder estabelecido através dos discursos dirigidos, falta de rigor acadêmico - o que acabou fazendo da Filosofia uma mera interpretação livre e tendenciosa da bíblia e das obras teológicas de autores doutores da igreja católica como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino– nem a influência platônica do primeiro e nem o contingente aristotélico do segundo era levados em conta – Aristóteles, assim como Santo Tomás de Aquino eram ainda mais vilipendiados!. E quando pensamos e associamos a educação no Brasil em sua gênese e os principais responsáveis por isso, os jesuítas portugueses, nos vêm à mente logo em seguida a metodologia aplicada por eles e a didática fundamentada em um sistema de ensino e aprendizado: A RatioStudiorum. A RatioStudiorum foi o algoritmo maior do alicerce que estava solidificado e particularizado o conhecimento na época. Com a funcionalidade de uma espécie de plano de disciplinas e temas estudáveis por excelência, o Ratiostudiorum se firmava como a elevação e a salvação da alma pelo estudo de uma teologia centralizada, dogmatizadora e até mesmo ortodoxa para estabelecer uma doutrina única e maleável em prol ao reinado português e à igreja católica, o que também se predispunha à prevenção da possibilidade de anormalidades morais daqueles que já compunham, forçadamente ou não, às regras vigentes estabelecidas de antemão. Nas palavras de Miranda (2009, citado por Toyshima, Ana Maria da Silva, Costa, Célio Juvenal p. 05): “O primeiro ano era consagrado à lógica e previa o estudo de livros como Da Interpretação, Primeiros Analíticos, Tópicos e Refutações Sofísticas, incluindo desde logo algumas partes da Física e Da Alma. No segundo ano, o corpus aristotélico englobava os oito livros da Física e ainda Do Céu, Da Geração e Corrupção e Meteorológico. No terceiro ano, acabava-se os estudos dos livros Da Geração, Da Alma e iniciava-se o estudo da Metafísica”. (p. 32) Logo após este breve período, num ato que poderíamos considerar sóbrio e racional, mas com expectativas puramente de características ideológicas e, principalmente, políticas, Marquês de Pombal expele os Padres e simpatizantes jesuíticos do protetorado português. Alegando sempre que a Educação deveria ser voltada à cidadania consciente, Marquês de Pombal alega que o conhecimento Basicamente a gramática, textos sobre a humanidade e a arte retórica. 11 deveria servir primeiramente ao Estado e não a uma instituição que também compõe o mesmo, no caso a igreja. E é neste momento que começa a disseminação dos ideais que emanavam da França para o restante do mundo: a ideia de igualdade, fraternidade e liberdade. Isso afeta de modo imediato a maneira de como encarávamos a Educação até então. A Educação não poderia ser voltada à “nova escolástica” em si, mas deveria ser defendida a ideia de que a Educação era mais uma ciência aplicada do que um sistema de valores fechados e ultrapassados. Após os desencadeamentos oriundos dessa fase, houve uma reforma educacional, tanto na sua forma de ensino, quanto em quem se predispunha a ensinar. Não era de se surpreender que com esses esforços, surgissem novos pensamentos, novos valores, gerando assim novas obras e descobertas interpretativas de antigos livros. Por mais que vejamos um salto fundamental em relação ao progresso da Educação no Brasil, por meio dos esforços do Marquês de Pombal , isso já por volta de 1780, parece que o método utilizado por ele era o mesmo prestado pelos jesuítas, graças às suas escolhas que culminaram na ação dos franciscanos que se utilizavam de métodos parecidos com os padres jesuítas expulsos da colônia. Com a chegada de Dom João VI ao Brasil em 1808 e que coincide também com a crescente comercialização internacional, permite uma nova visão sobre a Educação em nosso país. Surgem novas escolas. Escolas preparadas não para agirem de acordo com os serviços prestados à corte ou à igreja; escolas que estariam preparadas para educar e expandir conhecimentos que estavam estabelecidos na formação da mão-de-obra que ficariam e administrariam a colônia. Cursos superiores para a profissionalização qualificada são criados, por volta de 1834, e é então que a Filosofia passa a ser obrigatórias para estes. Destarte disso, vemos novos pensamentos invadirem o Brasil. O mais eminente de todos neste momento histórico talvez tenha sido o Positivismo – principalmente aquele definido e estabelecido por August Comte, que repercutia na Europa e extrapolava as linhas limítrofes do velho mundo através das viagens e Muito alavancada pelo pensamento enciclopedista que era sistêmico em seu tom racional e “revolucionário”. Neste caso, o responsável imediato por essa “reforma”, Marquês de Pombal, era quem muitas vezes escolhia os seus representantes operacionais – professores – que comporiam esse novo ideal educacional. Mesmo ela se mantendo no caminho enciclopédico e de serventia aparentemente para fins econômicos e industriais. 12 explorações marítimas. O próprio Comte (1929) a define a necessidade do Positivismo assim: (...) o positivismo compõe-se essencialmente de uma filosofia e de uma política que são necessariamente inseparáveis, uma constituindo a base e a outra o fim de um mesmo sistema universal no qual a inteligência e a sociabilidade se acham intimamente combinadas” (p. 30) A tradição escolástica estava ficando deveras ultrapassada e carcomida, fazendo que estudiosos se lançassem de “corpo e alma” em novas tendências cientificas e o Positivismo embarcava toda essa nova tendência. A promessa era simples: dar autonomia à Educação brasileira e determinar novos horizontes que se distanciem de vez das rédeas da igreja e suas ideias que já estavam defasadas. Baseado em Benjamim Constant, vingavam pensamentos que levariam o Ensino à sua gratuidade, autonomia e liberdade - o que fora mal interpretado num primeiro momento, levando ao acréscimo de outras áreas científicas em um currículo já maciço, tornando o conhecimento ainda mais caracterizado como enciclopedista. Darwin deixa seu legado evolucionista também no Positivismo brasileiro, pois definia ainda mais a demarcação científica na luta contra o pensamento mítico e religioso propagado pelo sistema metafísico da igreja. Apesar de o Positivismo ter sido atacado em grande escala pelos estudiosos da cultura e da Filosofia alemã de Recife o positivismo se manteve firme e até hoje ilustra parte de nosso símbolo nacionalista maior: nossa Bandeira Nacional. No século XIX, com o declínio do Império e a criação de uma República (1889) criamos a necessidade de estabelecer um parâmetro para as bases educacionais. Surgem as elites intelectuais que se alimentam do puro Racionalismo. Apesar dos esforços e dos elementos conflitantes, a Educação brasileira se refaz aos moldes de um neo-tomismo ainda mais orientado e tutelado pela igreja católica. Com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914), parece que certos pensamentos românticos renascem, como por exemplo, a exaltação da Pátria e ao poder de um povo soberano e estabelecido. Ganham campo os pensamentos voltados às áreas sociais, não significando a identificação da cultura brasileira e muito menos a Filosofia voltando-se para as características estritamente brasileiras. Mais conhecidos como os “germanistas” da Escola de Recife - que também criticavam os métodos de ensino religioso empregados até então. Renascem, pois, o Positivismo em sua gênese é romântico. 13 Muitas leis, decretos e imposições acerca da Filosofia no contexto educacional foram estabelecidos. Mais propriamente dito, em 1915 surge o que alguns chamaram de uma “nova reforma educacional”. Essa reforma coloca a Filosofia como uma disciplina optativa. Se por um lado a Filosofia se faz presente no currículo, por outro, ela não tem a atenção desejada e a atenção que merece como disciplina letiva, alavancado um interesse quase nulo na sociedade. Em 1931 houve uma reforma básica, mas também significativa, na estrutura educacional brasileira: a Educação não era mais apenas algo voltado para o acesso ao Ensino Superior. Além de contar com diretrizes que levariam ao Ensino Superior, a Educação voltava-se para a cidadania – ensinava-se pensando também no ser humano; ensinava-se para a tomada de posição frente a qualquer percalço existencial que o afrontasse. Já em 1942 surge uma regulamentação que divide o Ensino Básico em dois: o ginásio e o colegial. O colegial era, por sua vez, dividido em científico, voltado especificamente ao ensino de ciências, e clássico, que dispunha de pelos menos 4 horas semanais à Filosofia – o que não excluía a Filosofia na divisão que se voltava às ciências. O ano de 1961 começa com a primeira LDB Lei n°4024 - fruto também dos embates políticos e ideológicos do período em questão. A Filosofia aparece neste momento como disciplina complementar, o que faz com que se perca a sua obrigatoriedade no sistema educacional vigente. Em 1964 temos o golpe militar e como todos nós sabemos, a Filosofia é definitivamente excluída dos currículos oficiais, tornando-se facultativa em cursos superiores, assim como outras disciplinas voltadas à área das Ciências Humanas. Os interesses econômicos e políticos prevaleceram abrindo-se espaço para pensamentos oriundos dos Estados Unidos, tornando a Educação ainda mais mecânica, sistematizada e refém de processos tecnoburocráticos, tornando seus agentes meros reprodutores de um esquema cultural diferente, deixando-nos longe de uma autonomia para pensar e existir, culminando de vez na extinção e demérito da Filosofia nas novas diretrizes voltadas à Educação, ato que é concretizado em 1971 em mais uma reforma educacional. Ainda na década de 1970, mais Bem, pelo menos essa era a ideia... Leis de Diretrizes de Base da Educação Nacional. Pragmatismo cultural, Político e Econômico. 14 exatamente em 1972, uma nova reforma coloca a disciplina como facultativa, possibilitando a sua substituição por disciplinas como a OSPB (organização Social e Política do Brasil) e a EMC (Educação Moral e Cívica) que serviam de base para a propagação dos juízos fixados pelas pessoas que comandavam o cenário nacional na época. Isso parecia ser o suficiente, mas, a Filosofia, assim como a Educação como um todo, ainda sofria de uma desconfiança vinda das classes mais “abastadas”, como afirma Rodrigo (2009): “Na época, muitos atribuíram a queda da qualidade do ensino ao ingresso das classes populares, como se houvesse inevitável contradição entre qualidade e quantidade e o preço a pagar pela expansão quantitativa fosse o rebaixamento da qualidade de ensino. Até hoje, muitos professores lamentam a qualidade perdida pelo sistema público de ensino e sonham em recuperá-la. Esse saudosismo é inútil, porque aquela qualidade era inerente a uma escola elitista que não existe mais. Hoje o que existe é outra escola e qualquer melhoria de sua qualidade deve ser pensada com base nessa nova realidade, constituída por uma massa de estudantes com um perfil bem distinto do anterior”. (p.09) Parece que, até então, a Filosofia não era tratada como uma disciplina que se volta sempre para a construção de um pensamento crítico, autônomo e libertário, ganhando posição apenas de reprodutora de elementos culturais distantes. Logo após a queda do regime militar, parece que surge uma luz no fim do túnel. A Filosofia retorna então, mesmo que de forma optativa, aos currículos educacionais. Com a nova LDB de 1996, e o PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) de 1999, o que parecia certo sofre um abalo significativo: esperava-se que a Filosofia voltasse com uma força nunca antes imaginada, mas o que aconteceu foi que a Filosofia surge como uma disciplina que visava complementar os temas transversais estudados - isso mesmo com o grande crescimento do discurso de “redemocratizar o Brasil” para um futuro de qualidade!. Quando nos deparamos no ano de 2000, lembramos que o então deputado Zimmermann elaborou um projeto de lei que visava a volta e a obrigatoriedade da Filosofia como disciplina que faria parte dos currículos voltados ao Ensino Médio. A iniciativa fracassou quando o Presidente da República na época, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, vetou de imediato o projeto alegando não dispor de profissionais em quantidade adequada e qualificada para suprir as necessidades exigidas para a implantação e execução do intento. Essa sazonalidade da Filosofia no currículo oficial do Ensino Médio nacional parece estar longe de acabar, mas recebeu um alívio conceitual no ano de 2008, coisa que explicitaremos a seguir. 15 Apesar de termos coberto de maneira tacanha trajetória histórica do Ensino de Filosofia no Brasil, fica evidenciada que a sua implementação ou deslocamento para fora do âmbito curricular se dá pura e simplesmente por razões ideológicas e/ou políticas. No entanto, apesar de parecerem claros os motivos, temos um fator extremamente importante para este feito: o ano de 2008 com a Lei n°11.684 de 2 de junho deste referido ano e que inclui a Filosofia, assim como a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todos os anos do Ensino Médio. Rodrigo (2009) sinaliza: No dia 2 de julho de 2008, o presidente da República em exercício, José de Alencar, sancionou a lei que torna obrigatório o ensino de filosofia e sociologia nas escolas públicas e privadas de nível médio. Trinta anos após ser eliminada desse nível de ensino, a filosofia retorna a ele como disciplina obrigatória em âmbito nacional, com lugar garantido por força da lei. Sua reinserção no currículo de nível médio já vinha se processando desde 1980, mas em caráter muito precário e instável, na medida em que ficava na dependência de recomendações das Secretarias Estaduais de Educação e da opção dos diretores de escolas. (p.01) Bem sabemos que, a partir do ano 2000, a Educação passou a ser considerada pelos estudiosos do capital e também por pensadores neoliberais como uma representatividade e um elemento que conferiria ao país o status de “desenvolvido” ou “subdesenvolvido”. Em se tratando de Brasil, notou-se também o mau gerenciamento das políticas públicas voltadas à Educação e a notória necessidade de uma reestruturação educacional e isso foi o inicio de uma discussão para salientar a importância dos investimentos na área educativa. A vigente LDB vigente foi construída para introduzir o Brasil no itinerário capitalista do restante do “mundo desenvolvido”, atendendo a formação da demanda de profissionais que atendam às novas e antigas necessidades deste modo de produção existente. Nisso decorre a necessidade da obrigatoriedade do Ensino de Filosofia: educar pessoas conscientes de sua própria consciência cidadã e também pessoas autônomas, que carreguem um pensamento crítico e que sejam capacitadas para enfrentar quaisquer percursos existenciais que o mercado de trabalho e o mundo os apresentem. Podemos notar que chegamos agora a uma definição mais abrangente sobre o Ensino de Filosofia, apesar de parecer que a Educação brasileira não tenha definido ainda se ela educa para a cidadania, para o vestibular ou para o mercado de trabalho. Percebemos que, pelo menos a Filosofia tem um papel investigativo, O que alterou o Art. 36 da Lei n°9.394 de 20 de dezembro de 1996 da LDB. 16 crítico, racional com tendências autônomas para com os jovens em idade escolar (principalmente no Ensino Médio) e também adultos que perceberam a necessidade da Educação formalizada para obtenção de conhecimentos - mesmo que para um mercado de trabalho cada dia mais exigente - e que, a Filosofia, assim como as demais áreas do conhecimento humano, necessita acompanhar as modificações culturais, sociais, politicas e econômica de seu tempo em sua forma de ser transmitida e/ou compartilhada. 17 2. A NECESSIDADE DE UMA VARIAÇÃO METODOLÓGICA NO ENSINO DE FILOSOFIA Poderíamos iniciar sintetizando e comentando apenas um dado notório a respeito da didática e pedagogia voltadas à Filosofia: O Ensino de Filosofia está sendo realizado a partir das práticas educativas em sala de aula. Estas práticas educativas levam em conta certas características que compõem sua estrutura elementar, como enfatiza Campaner (2012): Certas características devem ser levadas em conta quando se pensa a presença da Filosofia no Ensino Médio: 1) o fato de ela ser transdisciplinar não faz dela uma espécie de ligação natural entre todas as disciplinas, e nem a sua presença no currículo garante essa transdisciplinaridade; 2) a Filosofia tem presença importante na cultura humana há pelo menos 25 séculos. Seu papel na sociedade deve ser compreendido para que não se torne um luxo ou sinal de polimento cultural sem nenhuma finalidade; 3) a Filosofia tem sua especificidade que deve ser respeitada, assim como devem ser reconhecidos os pontos de contato com as outras disciplinas; 4) ela constitui-se de uma multiplicidade de perspectivas que precisa ser respeitada. Isso vai se refletir na elaboração do currículo; 5) e como decorrência do item anterior, a Filosofia não é doutrinária. (p.25) Todo contexto inserido nesse tópico, aberto a discussões, pode ser fragmentado e traduzido em três etapas distintas. Primeiramente, nas inovações trazidas pelos docentes – reinventando, sempre que possível, a maneira de ensinar uma disciplina que conta mais de dois milênios, onde a reprodução sistemática de conceitos já não basta, fazendo com que, estes profissionais apelem e abusem da criatividade. Em um segundo plano, no material didático – antes contávamos apenas com a tríade livros, lousa e giz, mas também com a ferramenta mais importante: a voz do professor – como se fosse a vontade metamorfoseada na capacidade vocal e comunicativa do docente, para podermos ministrar uma boa aula. Hoje em dia contamos com uma infinidade de recursos didáticos e midiáticos que confere ao professor uma possibilidade imensa de reestruturar seu escopo na hora de lecionar, assim como os alunos dispõem de artifícios para poderem aprender, ou ainda, extrapolar os limites materiais e intelectuais impostos pela sala de aula em um prédio escolar. Exemplos não faltam: livros; aplicativos para celulares, vídeos, filmes, sites, jogos, softwares, web conferências, entre outros Criatividade que concorre – covardemente – com as implicações existentes no dia-a-dia do público alvo educacional. 18 vários. Por último temos a implementação de currículos oficiais, tanto em segmentos de escolas particulares – na maioria das vezes com seu sistema “apostilado”, quanto em escolas públicas – no caso do Estado de São Paulo, temos o Currículo Oficial da Educação do Estado de São Paulo que, se não são de toda qualidade desejada e necessária, ao menos tem exercido a função de um “norte” aos vários funcionários estatais que atuam como professores. Tudo isso inserido no programa da disciplina ou unidades didáticas, melhor definidas por Rodrigo (2009): O programa de disciplina corresponde ao planejamento do trabalho a ser desenvolvido durante o ano letivo, definindo em termos genéricos seus objetivos, conteúdo, avaliação e bibliografia. A implementação desse programa no cotidiano da sala de aula demanda uma planificação mais detalhada e específica de suas diferentes etapas. A formulação de unidades didáticas ou unidades de programação atende a essa necessidade, ao configurar articuladamente o conteúdo e conjunto de atividades que compõem cada tópico de programa da disciplina (p.99) Neste sentido, observamos que, aquilo que merece mais atenção e destaque são as inovações e reinvenções daquilo que vem acontecendo nas escolas e mais especificamente nas aulas de Filosofia: os professores, com raras exceções, estão cada dia mais atentos àquilo que podemos denominar de “movimento próprio do conhecimento”. Inovações, reestruturações, reinvenções, reavaliações são as marcas dos novos tempos da Educação – ainda mais se tratando do Ensino de Filosofia, que sabemos que é uma área do conhecimento humano que ainda é vilipendiado e mal compreendido em uma sociedade com muitas características pragmáticas. Outro fator que não foi mencionado ainda, mas merece reconhecimento e também compõe o algoritmo final desta equação, é o suposto reconhecimento, anos após a volta da disciplina Filosófica ao Ensino Médio, dos estudantes – que são outros em escala social e existencial dos estudantes de outrora. Consequentemente, conseguimos de alguma forma e com muito esforça “esculpir”, sem dogmatizar ou fazer inferências, jovens que tendem a analisar mais e com isso saber identificar ainda mais a importância da Filosofia como um exercício necessário à cidadania e a vida, propriamente dita. Mesmo essa “aptidão” profissional não pode ficar isolada no contexto pedagógico e, nela mesmo se enquadra a necessidade de uma variação metodológica, ou nas palavras de Rodrigo (2009): E como sabemos os professores de Filosofia não fogem à regra. 19 Em que pesem todas as ilusões e equívocos do passado sobre o modo de emprego da aula expositiva, isso não deve levar a sua pura e simples exclusão, como pregam alguns. Essa técnica de ensino permanece importante, pelas razões apontadas anteriormente. Mas é preciso renovar o formato da preleção e mesclá-la com outros procedimentos didáticos, adotando formas mais interativas, que solicitem o envolvimento intelectual do estudante e não apenas sua presença física. (p.74) Destarte disso, surgem alguns questionamentos: Quais os significados e que exigências trazem esse reconhecimento da necessidade da variação metodológica no Ensino de Filosofia segundo os próprios agentes da ação pedagógica, docentes e discentes como referenciais e não meros destinatários ou reprodutores de um conteúdo? Em um mundo ideal, seria lícito iniciar junto aos jovens a identificação de quais os parâmetros, limites e juízos de valores que serviriam de base legitimadora do Ensino de Filosofia, já que os maiores envolvidos acabam por serem os alunos. Seriam aqueles objetivos norteadores de toda política pública e/ou socioeconômica/educativa: direito à Educação plena; direito a cidadania; direito a justiça e o direito a igualdade. Mas qual seria, pelo menos, o alcance desses juízos nas aulas de Filosofia? Não sabemos ao certo, mas sabemos que existem inúmeras maneiras de transmiti-las e essas maneiras não são únicas ou pré-definidas, pelo contrário, estão abertas a discussões e evoluções conceituais para melhor atender o destinatário (aluno) e satisfazer o principio básico do papel funcional do mediador do conhecimento (o professor). Esses impulsos de repetidas ou variadas práticas de ensino no cerne das salas de aula oferecem uma proporção bem significante aferida para o desempenho da noção dos professores nas respectivas matérias que são detentores de cátedra. Contudo, é importante salientar que essas variações metodológicas constituem-se muitas vezes de complementos ao próprio conhecimento incontroverso do próprio professor e possivelmente há uma grande correspondência dentre os profissionais da área que concretizam as práticas em uma escola com o interesse do público alvo em questão. A apreciação superficial das possíveis variabilidades nas metodologias de Ensino de Filosofia no Ensino Médio assinala para a tendência de que ela é, além de necessária, implexa e extensa em sua pluralidade, assim sendo determina além dos conhecimentos especializados, também conhecimentos técnicos, os conhecimentos No caso, o Ensino Médio. 20 existenciais e uma ponderação sobre o macro e micro, sobre o uno e o conjunto, intercedida, talvez, pela moral, num conjunto cultural estabelecido em tendências econômicas e sociais, nos quais os educadores desempenham seu ofício, por conseguinte, novos métodos transcorrem pelos julgamentos da teoria e da prática efetiva incididos das compreensões filosóficas e também didáticas em que docentes e educandos estão como que, subordinados, instrução/informação/conhecimento/sabedoria, das implicando práxis em do contento uma didática especifica. Rodrigo (2009) corrobora com a questão: Parece fazer sentido, portanto, uma didática específica ou didática de disciplina, como preferem alguns, na qual o que está em jogo é a intersecção dos conhecimentos de determinada especialidade com a sistemática de sua transmissão, na qual a conversão do saber científico em conhecimento escolar deve processar-se pelo ângulo da especificidade de determinado conteúdo. (p.32) Grandes partes das variações metodológicas em sala de aula decorrem tanto da formação específica do professor, acadêmica e subjetivamente, mas também das “grandes ondas” de tendências educacionais que inundam o cenário da Educação brasileira. Como exemplos, podemos citar: A tendência tradicionalista, que se concentra, principalmente, na educação enciclopédica, onde, o educador é um mero reprodutor de informações e de hábitos que se acumularam através do tempo e do espaço e que ficaram disponíveis à humanidade principalmente em forma de textos, contudo, além de ser um especialista do “esqueleto epistêmico” da matéria lecionada, faz-se imperativo a propriedade dos artifícios metodológicos/didáticos de embasamento explanatório dos contentos aparelhados para um estudante idealizado em seu melhor desempenho e a julgamento daquilo que se exige em uma avaliação, demanda uma simples reprodução do teor que na maioria das vezes é cobrado do estudante apenas no arquivamento mental correspondente, memorização prévia e sazonal; na tendência tecnicista da Educação, a importância converge na instrumentalização do docente, no procedimento cultivado. A presteza do docente determina apenas noções fundamentais do tema lecionado, noção das práticas que permitem resolver os métodos particulares de análises e dissolução de dificuldades do processo ensino/aprendizado. Na tendência pragmática, o destaque concentra-se no acréscimo de capacidades técnicas e maneiras que se adéquam da ciência Hoje em dia, muito facilitado pelo advento da internet. 21 básica e aproveitada em virtude dos resultados. Compete ao docente, com a ampliação de tais capacidades, interferir ou não no exercício norteado pela particularização dos conhecimentos em relação a uma finalidade específica. Na tendência crítica e analítica, talvez a tendência que mais se assemelhe àquilo que o Ensino de Filosofia busca e/ou determina, procura-se nas reflexões e decisões ou até mesmo confrontação dentre juízos, apreciações, compreensões e ideologias, o intuito de renovar, revigorar e talvez cunhar novas inquietações existenciais em prol do individuo e da humanidade, dando ao docente a oportunidade de “dilatar-se” como educador, a partir da coexistência dos seus próprios conhecimentos, destrezas, costumes e afeições, solidificando valores morais de características igualitárias, princípios éticos e seus reais desejos na edificação do saber, apreciando um público alvo plural conferido pela conjuntura política, cultural, econômica, social e existencial. Todas essas tendências e maneiras de aplicá-las acabam por culminar em alguns intuitos comuns, como a transversalidade ou interdisciplinaridade que possuem por si só a finalidade de, segundo Adas (2012): Oferecer condições conceituais, enunciativas e argumentativas para que os alunos organizem, ainda que minimamente, a avalanche de informações sobre os problemas selecionados, filtrando-os por assim dizer pela construção paulatina de uma perspectiva cultural e histórica acerca dos mesmos. Em outras palavras, isso implica franquear-lhes uma visão mais ampliada dos fatos aparentemente desconexos divulgados na imprensa em geral, com o apoio de discursos quase ausentes nos meios destinados ao grande público, isto é, justamente o filosófico e das demais ciências humanas. (p.11) E Adas (2012), continua em sua colaboração textual dizendo que outra finalidade seria o de “promover a leitura filosófica de textos ou registros não filosóficos, sobretudo científicos, documentais e artísticos”. E conclui sua fala sobre o assunto expondo um terceiro ponto objetivo: Estabelecer para os alunos algumas referências ou fontes históricas retiradas principalmente da tradição filosófica e de disciplinas importantes para a discussão de determinada temática, com vista a permitir a estruturação de um olhar mais fino sobre os problemas contemporâneos, visando, ao menos ao nível do pensamento, possibilitar a atribuição e criação de sentidos às questões atuais relacionadas de grande relevância. Queremos crer que essa orientação é particularmente salutar para o ensino de filosofia, pois ao “pescarmos” certas inquietações mais próximas do universo dos alunos e largamente comentadas nos meios extraescolares aos quais estão expostos, contribuímos para gerar um interesse renovado E instrumento necessário à própria Educação. 22 dos mesmos para com a disciplina, sem que isso resvale para um abandono de certos objetivos e práticas educacionais voltados a assegurar as condições mínimas da especificidade do ensino de filosofia. Dito de outro modo, no momento em que dispomos de acontecimentos calorosamente debatidos fora da escola, é válido mobilizar nossos esforços para promover uma aliança entre autores, textos e conceitos da história da filosofia com a realidade do mundo atual, de modo a intensificar seu potencial problematizador. (p.11) Neste sentido, compreendemos que o estilo da ação didática do educador transcorre pela edificação de sua própria identificação enquanto tal, acatando os cumprimentos políticos e morais da ação que abrange todo consenso da metodologia instrucional, os denodos que dirigem a desígnio educacional, uma instituição escolar direcionada ao democratismo, à constituição de um currículo que atenda as necessidades docentes e discentes, de forma inventiva, analítica e enérgica, porém, acolhedora. Por via desta proposição, o docente da disciplina de Filosofia (não só ele, assim como os demais participantes da área educacional) necessita ser perspicaz na hora de decodificar, e ponderar e aplicar conjunturas em uma sala de aula, sabendo ele que, apesar de seu conhecimento inato ou adquirido com anos de dedicação, há sempre de rever conceitos e atitudes didático/pedagógicas que façam de sua aula algo dinâmico e novo apesar dos conteúdos serem os mesmos de sempre, com uma ou outra reformulação por conta de novos comentadores de antigas obras. Daí surge a necessidade de mudança contínua para algo que parece estático. É interessante notar a partir desta nossa argumentação, quase ontológica, que o professor, mais do que qualquer outro profissional, precisa mudar sempre se quiser continuar a ser o mesmo. Nesta explanada situação educacional em que vive o Ensino de Filosofia, precisaríamos ressaltar o cultivo grupal dos saberes, no qual o docente orientaria essa produção intelectiva de forma diversificada e eficaz. Permanece manifesta, a obrigação do aprendizado a autoinstrução, a necessidade do conhecimento, o inventar, do coexistir e do existir na diversidade, avalizando a agudeza de uma circulação e apropriação de práticas didáticas que implicam em problematizações, apreensão das várias características que compõem uma determinada situação escolar específica, estabelecendo com isso, um exercício inter/multidisciplinar que incidiria no esboço de um novo catedrático, principalmente na disciplina filosófica, com destrezas, aptidões e maneiras distintas para consentir e intervir nessas atuais reivindicações educacionais. 23 Compreendemos então que, essa prática didática e filosófica promove uma alteração nos modos do docente diante das constituições formais de mediação do saber ligado à Filosofia, caracterizando-se não mais em particularidades encerradas em si mesmas, e sim, em uma prática pedagógica multifacetada e dinâmica, sendo necessário conjeturar sobre a edificação de saberes, da elocução alegórica e natural que empregamos nas invenções didático/pedagógicos que optamos por realizar. Finalmente, é de suma importância sublinhar que essa sintetização textual exposta até o momento sobre a prática didático/pedagógica do docente da disciplina de Filosofia, não deve ser adotada como um resultado metodológico capacitado a preceituar conclusões categóricas, se trata apenas de pontuações e exposições a propósito desse tópico. Também a ligada à lógica. 24 3. A OLÍMPIADA DE FILOSOFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMO POSSIBILIDADE DE VARIAÇÃO METODOLÓGICA NO ENSINO DE FILOSOFIA. O diálogo e o entendimento na Filosofia, como os demais campos do conhecimento intrínseco nos valores culturais do ser humano, vem passando por modificações profundas nas últimas décadas. As transformações na conduta de um determinado público alvo, as táticas comunicacionais e as novidades em ciência/tecnologia estão enraizados em todas as formas de manifestações humanas. Neste panorama assinalado pela necessidade de se adequar a variações precipitadas, as instituições e o próprio homem busca, como forma de expansão e supervivência cultural, situar um juízo público e positivo, fundamentado em uma identificação preenchida e manejada de maneira conscienciosa, responsável e lógica em seu intuito cultural/social. E nada melhor para explicitar e exemplificar o comentário anterior como um evento cultural. Hoje em dia, a idealização organizacional de um intuito, neste caso específico, a área educacional voltada a Filosofia, está diametralmente atrelada às táticas de comunicabilidade, muitas vezes com grande abrangência semiótica, e um evento é um formato de diálogo direcionado que qualquer um pode valer-se para melhoria ou manutenção de implicações na inter-relação com aqueles a quem se destina a produção em si. Quando um procedimento dirigido é bem constituído e esquematizado, pode sustentar, abranger ou readquirir os conceitos e juízos de um interesse conjunto ou particular em relação àquilo que se espera. Por conseguinte, um acontecimento planejado é uma tática de conversação que alcança o seguimento aspirado; apregoa uma imagem, agencia opiniões, pode potencializar um determinado sistema de ideias ou tendências e coopera para a dilatação e a atração de novos entusiastas de uma definida fração cultural, social e/ou econômica. Tais procedimentos dirigidos vêm se solidificando a cada momento e tem se tornado efetivo à produção acadêmica, assim como, na Educação de um modo Instituição ou grupo de pessoas – ou até mesmo uma pessoa. 25 generalizado. A cada dia percorrido, os eventos educacionais desenvolvem-se em dígitos, dimensões e extensão e em medida de sofisticação técnica. Tendo em mente a necessidade e os pormenores na Educação, aqueles que se dispuserem a promover um evento educacional ou, meramente para uma explanação cultural ou intelectiva, tem de ciência de algumas questões fundamentais para a realização do mesmo. Em meio a elas, é essencial e necessário de observar a consistência basilar em seu amago; aferir o avanço ou retrocesso em relação ao que se espera como meta educacional objetiva, classificar e tomar deliberações em todos os momentos e, principalmente, alavancar a importância do tema em questão, desencadear novas perspectivas e produzir um maior interesse pelas arguições apresentadas. Ao se assinalar a capacidade de uma atividade dirigida como um instrumento eficaz na Educação, precisamos manter o foco em uma tríade básica: organização do evento, o público alvo e tema e o evento em si. O questionamento capital seria então: Quando há a real necessidade de uma atividade dirigida no processo de Ensino/Aprendizado? A réplica a essa questão estar ancorado em identificar se tal procedimento possui uma finalidade específica e pontual. Tudo isso com a finalidade de favorecer e contribuir para uma série de requisitos que compõem a idealização, coordenação e a realização efetiva do evento, assim como, tende a facilitar a propagação dos ideais promovidos para aqueles que participarão como público alvo desta “jornada” intelectiva e educacional. Tudo isso envolve, em resumo, a classificação de elementos pré-existentes, a idealização e coordenação, a efetivação da atividade, ponderação dos resultados e a avaliação do legado que o evento deixará à Educação. Ao nos utilizarmos de um evento educacional, seus idealizadores e executores possuem a propriedade de avigorar o obrigação moral e ética para com seus próprios alunos e também para com aqueles que apenas desejam saber um pouco mais sobre determinado tema, potencializando e reunindo aqueles que, por necessidade, obrigação ou apenas ensejo, querem desfrutar de um momento Pré e pós-evento. Ou se terá como resultado um processo de longa duração e de manifestações diversas, subjetivas e que não estariam ao alcance e controle de seus idealizadores; se o evento é algo original e nunca antes visto ou se ele se repete periodicamente (como nos casos das Olimpíadas das diversas disciplinas que acontecem no Brasil e também em territórios internacionais. Educadores de modo geral. 26 diferenciado na Educação reforçando o comprometimento que cabe a todos na Educação. Os embates filosóficos por meio de atividades dirigidas foram sendo aperfeiçoados no decorrer da própria história da Filosofia no decorrer das Eras. Já na Grécia clássica, eram célebres os acendimentos direcionados nos quais respeitáveis pensadores impeliam seus conhecimentos numa disputa que colocavam sempre seu renome à prova, dependendo da disputa, razoáveis quantidades capitais eram dispostas – como no caso dos sofistas. Nessa ocasião, a maioria dos pensadores estava impelida em descobrir dissoluções para dificuldades que se colocassem pragmaticamente como um reforço enérgico nos possíveis “combates e corridas intelectivas” de cunho filosófico em que estariam submergidos num futuro não tão distante. Um pensador grego, cuja popularidade em conhecimentos filosóficos e científicos consentia com suas atitudes nessas atividades dirigidas e que se estabelecesse como como tal, poderia vir a ser um tutor, educador ou professor – como queiram, alcançava consideração pública notória, autoridade e, especialmente, uma qualidade econômica um pouco superior aos demais. Essa circunstância aparentemente atrativa fazia com que surgisse nos mais jovens o desejo de saber mais sobre determinado tema e, talvez, surgisse a vontade de se parecer com aqueles que ali estavam como centro do evento, mas que também procuravam um certo grau de reconhecimento. Portanto, a lógica envolvida para com a Educação sempre foi sempre quase a mesma: despertar naqueles que estão dispostos a aprender, a necessidade da busca pelo conhecimento para uma finalidade particular ou apenas o conhecimento pelo próprio conhecimento. No Período Medievo, mais especificamente nas universidades, havia uma atividade dirigida que denominavam de Disputatio, que consistia em um aprendizado pela retórica, onde, aqueles que se predispunham a participar, eram “obrigados” a responder inúmeros questionamentos sobre um tema específico – mas nesse caso não podemos dar o mérito somente àqueles que protagonizavam a disputa oral, mas também àqueles que assistiam e depois refletiam e discutiam sobre o que fora ouvido. É óbvio que vários se negaram a compartilhar a questão econômica, como por exemplo, Sócrates – que sempre foi um hábil orador e nem por isso recorria ao feito para beneficiar-se economicamente. Do latim: disputationes, singular: disputatio, que significa Disputa em português. 27 A Disputatio como evento, se dividia em dois momentos distintos: A Disputatio ordinária que era realizada regularmente, em geral, uma vez por semana ou duas vezes ao mês e a Disputatio generalis, que era feita uma ou duas vezes no decorrer de um ano, sempre na presença de doutores e autoridades da igreja católica. Na Era Moderna, os eventos e disputas em universidades continuaram, mas agora não mais sob a tutela da igreja. A noção de progresso científico e a noção do antropocentrismo deixava a disputa mais racional e aplicada e, sempre que possível, recorriam às demonstrações e sistematizações práticas para enfatizar determinada teoria. Desse conhecimento mais dicotomizado em relação aos seus processos, surgiu a necessidade de novos meios de comunicabilidade dos teores pressupostos através de eventos, como por exemplo, colóquios, encontros, palestras, feiras etc. Em nossos dias, a educação que está sendo estabelecida exige que a escola prepare o educando para confrontar-se com as adversidades do cotidiano e também dos privilégios que a existência acarreta. De tal modo, a Educação deixa de ser sinônimo de permuta de conhecimentos e estabelece caraterísticas de reinvenção em sua própria multiplicidade. Isso fez com que surgissem novas formas de democratizar o conhecimento através de novas estratégias de atividades dirigidas nas modalidades educacionais. Podemos listar algumas delas: Almoços temáticos; desfiles cívicos e temáticos; leilões culturais; eventos culturais de dias específicos; assembleias; encontros temáticos; mesa-redonda; entrevistas coletivas; mostras culturais; Braisntorming1; cafés filosóficos; excursões acadêmicas; painéis artísticos; exposições e apresentações; palestras; feiras; festivais; colação de grau; colóquios; fóruns; concílios; seminários; concursos; conferências (e com o advento da internet, web conferências); simpósios; congressos; jornadas; vernissages; convenções; lançamento de livros; visitas culturais; debates; workshops; olimpíadas etc. E é exatamente o formato moderno deste último tópico citado, isto é, olimpíadas acadêmicas, que nos interessa neste momento. Pelo visto e também pela falta de literatura específica na área, as primeiras olimpíadas acadêmicas que se têm registros, foram a Olímpiadas de Matemática. A mais remota registrada foi executada na Hungria em 1894. Esta prática foi vagarosamente se alastrando por países de toda Europa e depois para o restante do * Brainstorming ou “tempestade mental ou de ideias” é uma dinâmica de grupo que é usada em várias empresas como uma técnica para resolver problemas específicos, para desenvolver novas ideias ou projetos, para juntar informação e para estimular o pensamento criativo – referência para tradução do site www.significados.com.br. 28 mundo, incidindo na elaboração da Olimpíada Internacional de Matemática, em 1959 – formalmente solidificada em 1980 na Romênia. Posteriormente, outras olimpíadas internacionais, de outras disciplinas, foram estabelecidas, geralmente ligadas às ciências exatas e depois às outras áreas do conhecimento humano. A primeira olimpíada internacional de Filosofia foi realizada no Cazaquistão em 1996. No nosso País, a primeira olimpíada nacional acadêmica também foi a olimpíada voltada a área do cálculo e da álgebra, apresentando sua iniciativa e concretizando num evento realizado vinte anos após a primeira olimpíada internacional de matemática, ou seja, em 1979. Logo após, houve alguns eventos em pontos diversos, em universidades estaduais e federais, como por exemplo, a Olimpíada Brasileira de Química, em 1996, acompanhada pela primeira olimpíada brasileira de astronomia, em 1998 e pela Olimpíada Brasileira de Física e a primeira Olimpíada Brasileira de Informática, ambas em 1999. Tais eventos só ganharam um pouco mais de notoriedade quando o interesse passou a ser do governo, em 2005, com a invenção da olimpíada brasileira de Matemática das escolas públicas (OBMEP), apadrinhada e administrada pelo Ministério da Educação. Quando nos reportamos a Olimpíada de Filosofia, mais designadamente no Brasil, muitos institutos promoveram eventos com essa nomeação no decorrer do tempo, mas nunca conseguindo alcançar o patamar nacional que esta atividade dirigida merece. Temos iniciativas assim em todo território nacional, mas, alguns Estados se destacaram na realização desta empreitada, dentre eles temos o Rio de Janeiro, iniciada oficialmente em 2013, Santa Catarina, iniciada oficialmente em 2008, Rio Grande do Sul, iniciada oficialmente em 2008, São Paulo, iniciado oficialmente em 2010 pela UFABC e também no Paraná desenvolvida pela UFPR (NESEF) a partir do ano de 2011. Depois de fazermos apontamentos sobre as origens das Olimpíadas de Filosofia, fica quase que como obrigação enquadrar a Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo como fator de suma importância para uma variabilidade da metodologia e didática para com os educandos que nos são apresentados em nossas jornadas acadêmicas. E isso se faz quase instantaneamente ao analisarmos os objetivos que propõem os idealizadores e organizadores e os princípios que norteiam o evento. Geralmente os objetivos gerais e específicos não mudam. O que Como a literatura na área é muito escassa, tomamos como referências sites e redes sociais que comentam o assunto. 29 sofre alteração é sempre o tema proposto e a ser trabalhado. Os objetivos gerais permanecem como: Promover a integração entre as escolas, os estudantes e os professores participantes, bem como entre a Escola e a Universidade; Contribuir para o fortalecimento do vínculo entre a Universidade e a Comunidade, propiciando a troca de conhecimentos e experiências entre os envolvidos; Fortalecer e contribuir com os objetivos do Ministério da Educação ao reintroduzir a Filosofia como disciplina obrigatória no Ensino Médio; Subsidiar uma efetiva contribuição da Filosofia à formação dos participantes. Já os objetivos específicos se configuram como: Agregar os interesses de alunos e professores de Filosofia do Estado de São Paulo, o qual carece de iniciativas deste gênero; Fomentar o espírito crítico e dialógico entre os estudantes; Desenvolver nos jovens cidadãos o aprimoramento das habilidades de ler e escrever textos filosóficos, bem como de realizar diálogo filosófico em solidariedade investigativa; Ler, de maneira filosófica, textos de distintas expressões e estruturas; Vivenciar o questionamento, a investigação de conceitos e a criação de novas possibilidades de pensar através da prática coletiva de fazer filosofia; Construir um espaço favorável para uma postura filosofante individual e coletiva; Promover a interface entre a Filosofia e outras áreas do conhecimento; Fomentar a participação dos discentes da Educação Básica como agentes criadores e responsáveis pelas atividades; Criar um espaço de troca de experiências e reflexões entre alunos e professores de Filosofia. 3.1 A Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo: Configuração e estrutura do evento A Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo é realizada anualmente, tendo seu primeiro momento no ano de 2011 na Universidade Federal do ABC. Em 2012 e 2013 o evento também fora realizado por esta instituição. Já no ano de 2014, com o sucesso alcançado, o evento recebeu parceria da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e ganhou caráter itinerante, podendo ser realizada em outras instituições de ensino. No presente ano (2015) a previsão é de que ela se realize na Universidade católica de Santos no final do mês de setembro. Uma visualização mais detalhada dos objetivos específicos e gerais do evento podem ser encontrados no sítio: https://olimpiadadefilosofiasp.wordpress.com/ **Para mais detalhes sobre o evento, vide link citado acima. 30 O evento sempre se divide em três etapas distintas: primeiramente, nas escolas acontecem as atividades pré-olímpicas (primeiro semestre letivo), onde depois de definido o tema pelos administradores do evento, os professores nas mais diversas escolas trabalham junto aos alunos possíveis hipóteses para debates e formas de alavancar o interesse dos últimos pelo plano idealizado. No segundo momento (segundo semestre letivo), acontecem as apresentações daquilo que fora discutido e orquestrado nas escolas, apresentações musicais, teatros, textos, vídeos, monólogos, intervenções, panfletos, fanzines, entre outros, demonstrando as características processuais do evento e, também, no mesmo dia desta segunda etapa, acontecem as exposições fotográficas e de outros trabalhos relativos às artes plásticas; paralelamente, ainda no dia das apresentações, no momento final do evento, acontecem as oficinas e comunidades de investigação. Este é o momento em que os alunos possuem a disponibilidade de compartilhar ideias e discutir com outros alunos, de outras escolas, como foi participar da Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo. Geralmente quando pensamos numa olimpíada ou concurso, poderíamos pensar também numa premiação. Não é o caso da Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo onde, a premiação está na gratificação dos alunos e professores em poderem participar de um momento diferenciado no processo de ensino/aprendizado de Filosofia. Novamente, o conhecimento pelo conhecimento. 31 4. DEPOIMENTO DE ALUNOS QUE PARTICIPARAM DE EDIÇÕES DA OLIMPÍADA DE FILOSOFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Depoimento 1 - Sabrina Diniz Proença (ex-aluna); Escola: E.E. Padre Anchieta, Pilar do Sul/SP; Ano de Participação: Setembro de 2011. Quando soube que minha escola iria participar da I Olimpíadas de Filosofia do Estado, que elencava o tema “O mundo é admirável”? O que nos torna plenamente humanos?”, não pude conter a ansiedade: eu e minha turma contávamos os dias para estarmos no evento que teria como escopo uma das melhores – senão a mais profunda – disciplinas do ensino médio, a Filosofia. Logo, fui convidada pelo professor Belini a participar do trabalho na parte das filmagens e apresentação do nosso subtema, “A consciência humana acerca da finitude da existência”, que, de certa forma, foi uma experiência indelével para minha formação educacional. Lembro-me, veementemente, de toda a elaboração do trabalho que seria apresentado. Cemitérios, campos, ruas e vielas foram nossos cenários de gravações, e dividimos as filmagens em questionamentos, depoimentos pessoais, entrevistas com estudiosos, avivando o tema filosófico concisamente, com uma linguagem acessível a qualquer interessado pelo tema. Trabalhamos, ainda, com pensamentos de filósofos como Nietzsche, Comte, Freud, Schopenhauer e demais renomados. Um bom trabalho em equipe abraçado por uma orientação forte e didática desencadeou um resultado final satisfatório. Estava tudo pronto e chegando à Universidade Federal do ABC, local onde as apresentações foram presididas, percebemos que éramos exceção: a maioria das instituições de ensino participantes eram da área privada! E isso foi o “bacana” de tudo! Nós representávamos uma escola pública estadual, do interior e, sim, sim! Estávamos participando da primeiríssima olimpíada de filosofia do Estado de São Paulo! Saímo-nos bem ao final, pois o tema finitude é espetacular e move os questionamentos mais intrínsecos em relação à vida humana, de forma que, como diria Albert Camus, “decidir se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da Filosofia”. Destarte disso, minha participação foi muito gratificante e é claro que, mesmo depois de quase cinco anos, eu relembro de todos os momentos que vivenciei naquele dia com minha turma. Se eu pudesse, voltaria no tempo e faria tudo 32 de novo. O incentivo de um professor para que seus alunos participem de eventos como estes é essencial e contribui para a formação pessoal, moral e ética dos mesmos. Através da matéria Filosofia, meus aprendizados durante o ensino médio foram fecundados profundamente e, de verdade mesmo? Hoje vejo o resultado que isso tudo gerou. Ah, que saudade! Depoimento 2 -Giovana Caroline Vargas Ferreira (ex-aluna); Escola: E.E Padre Anchieta – Pilar do Sul/SP; Ano de Participação: 2012 e 2014. Participar das Olimpíadas de Filosofia é algo que nos surpreende e nos deixa entusiasmados, pois para mim, participar foi algo maravilhoso, aprendi durante alguns anos a teoria e quando exerci a pratica é totalmente diferente, muito bom! Quando foi proposto o tema e como teria que ser apresentado o trabalho filosófico a sala se mobilizou e cada um com seu „‟jeitinho‟‟ mostrou o amor pela filosofia. Ao deparar com diversas escolas, pessoas para todos os lados e ver Professores de filosofia mostrando com qualidade os seus trabalhos e os alunos dedicados para apresentar é gratificante. Eu e meus colegas ficamos curiosos e realizados pois, tudo aquilo que imaginávamos foi relatado nas olimpíadas de filosofia. Fizemos com dedicação e carinho para que tudo saísse perfeito, um dia vivenciando um mundo de sabedoria e virtudes. Depoimento 3 - Luiz Kaique dos Santos Lima (aluno); Escola: E.E. Padre Anchieta – Pilar do Sul/SP; Ano de Participação: 2014. Participar da IV edição das Olimpíadas de Filosofia do Estado de São Paulo foi algo muito interessante, pois não esperava participar de um evento como esse logo em meu primeiro contato com a filosofia na escola; estar presente e poder debater com pessoas que nunca vi foi uma das coisas mais legais, devido à separação das escolas deixando os participantes em salas aleatórias, poder ver e ouvir diversos pontos de vista semelhantes e outros completamente contrários, poder opinar sobre os mesmos, fazer críticas. O evento que é realizado em São Paulo desde 2011, realmente é uma “ferramenta” muito boa para ajudar no estímulo do interesse pela disciplina pelos jovens, e o fato de poder defender sua opinião, estando ela correta ou 33 errada é o que mais ajuda para que isso aconteça, pois não será ridicularizado, simplesmente criticado sem ser contrariado. A discussão do tema que estava em debate foi agregando-se a outras experiências que vivenciamos no dia a dia, devido às teses que os participantes apresentavam. O que acabou deixando de certa forma mais fácil a conversa, fazendo comparações entre coisas mais simples e o que estava sendo discutido. O tema nessa edição das olimpíadas foi o seguinte: “Qual é o caminho para a reconstrução de nós mesmos?”, uma pergunta aparentemente muito difícil de ser respondida, porém durante o debate vimos que existem diversas suposições que poderiam servir como resposta para a questão, o que acabou contribuindo para que a conversa se estendesse mais a cada nova possível conclusão que surgia. Sempre questionando o porquê e como tal ideia poderia ser a solução da questão. Outra coisa muito interessante em ter participado das Olimpíadas de Filosofia, foi que o tema em si nos fez pensar não somente ali, enquanto debatíamos, como também na vida de um modo geral, tendo como objetivo principal tentar encontrar uma solução para a pergunta também após o término do evento, tendo uma visão mais ampla e eloquente sobre o que realmente é filosofia e inspirando-nos em outras coisas em nossas vidas, por causa de nossa consciência agora do que seria a filosofia disciplina como a que usamos fora da escola. Uma ótima experiência que todos deveriam ter a oportunidade e curiosidade de ter, pois isso ajudaria muito para que os estudantes se interessassem realmente pela filosofia. Depoimento 4 - Nome: Ana Paula da Silva Almeida (ex-aluna); Escola: E.E. Padre Anchieta – Pilar do Sul/SP; Ano de Participação: 2012 e 2014. Alguns alunos ao entrar no ensino médio têm uma péssima imagem sobre a matéria filosofia, realmente, é de se esperar que você precise “enlouquecer” para acompanhar a matéria: então foi isso que fizemos. Acredito que tive a sorte em ter um professor igual ao Belini; o seu método de ensino é admirado por anos e encanta vários alunos, suas aulas são dinâmicas e ao mesmo tempo muito eficientes, pois sempre se pode ver resultados grandiosos vindo de seus alunos. Estou segura que tenho conhecimentos sobre a filosofia, em 34 três anos tendo esse componente curricular pude presenciar dois anos de olímpiadas de filosofia como complemento das aulas, nós analisávamos o tema individualmente e em grupos, sempre expressando nossos pensamentos, a sala toda pensava em conjunto e chegávamos a um ideal visto por todos, mas sem deixar a própria opinião de lado. A olimpíada de filosofia foi um grande passo para nossa escola e seus alunos, começávamos a ver novos horizontes e novos desafios, abrimos nossas mentes para novas ideias e aperfeiçoamos as antigas. Os assuntos eram sempre variados e profundos, ás vezes mal tínhamos ideia do que seria e corríamos pesquisar para ficar por dentro de tudo, e quando chegávamos ao evento, ficávamos deslumbrados com as ideias das apresentações de outras escolas. Posso afirmar que a olimpíada de filosofia me moldou para o que sou hoje e que sinto muito ao ter saído do ensino médio e ido a faculdade, pois não terei mais a oportunidade de ir como uma aluna da E.E.” Padre Anchieta”. 4.1 Apreciação crítica dos relatos dos alunos que participaram de alguma edição da Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo. Os dados computados nestes relatos são de alunos e ex-alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Padre Anchieta de Pilar do Sul, São Paulo. A solicitação para os relatos foram simples e objetivos: descrever em poucas palavras e de forma livre como foi a sua autoanálise em relação a sua participação na Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo. Os relatos foram transcritos na integra, sem alteração ou correção para demonstrar um pouco o nível de proficiência destes alunos na disciplina de Filosofia. A partir dos relatos dos alunos textualizados anteriormente, podemos notar a abrangência que o evento ganhou na passagem destes alunos pelo ensino médio e o contato formalizado e disponibilizado pela Filosofia. Receber o convite, trabalhar o tema de diversas maneiras (sempre no primeiro bimestre letivo) e participar deste evento dirigido (lembrando que, pra eles, um momento muito significativo é o instante dos grupos de investigação filosófica onde podem trocar informações e discutir temas orientados por professores das universidades ou outros professores participantes – e isso parece ser o cerne do evento, essa miscelânea entre instituições públicas e privadas, professores 35 universitários e do ensino básico, pesquisadores e as mais diversas formas de alunos, passando pelo ensino infantil ao ensino universitário), parece não só ter sido uma participação em algo que faria parte do conjunto direcional de aulas de Filosofia, mas, aparentemente, foi um subsidio significativo na vivência escolar destes alunos; não só para algo que ficará em suas lembranças, e sim, em algo que eles levaram para suas vidas acadêmicas como um todo (muitos deles estão agora em universidades) e para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de estudar em uma instituição de Ensino Superior, ou não desejam fazê-las, o evento ficou marcado como uma espécie de socialização através de conceitos filosóficos, afinal, no dia das apresentações dos projetos, o clima sempre é de entusiasmo com o novo, a incerteza benéfica do que os aguarda e a confiança de que, ao menos sairão desta passagem, no mínimo, miseravelmente mais cultos em relação ao aprendizado voltado à Filosofia. Em suma, podemos notar que, particularmente ou coletivamente, o evento tem seus objetivos alcançados de maneira prática e simples, sempre fomentando aos alunos e demais participantes a vontade de continuar a busca por conhecimentos filosóficos no intuito de coloca-los a prova na prática. 36 5. ENTREVISTA COM O PROF. ME. LUIZ PIRES – RESPONSÁVEL PELA OLIMPÍADA DE FILOSOFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Gostaria, primeiramente, de agradecer a oportunidade de poder realizar tal entrevista com o organizador das Olímpiadas de Filosofia do Estado de São Paulo e poder explorar uma didática que vem se concretizando e se fortalecendo no decorrer destes anos. Para dar um início propriamente dito, peço uma breve apresentação pessoal (e principalmente acadêmica). Primeiramente, é um prazer colaborar com a sua pesquisa e para que o Ensino de Filosofia seja cada vez mais pensado, refletido e valorizado. Enquanto minha apresentação, pessoalmente me considero um jovem sonhador que busca estimular o ensino de filosofia junto aos jovens e adolescentes de nossas escolas. Sou graduado em Filosofia e Comunicação das Artes do Corpo (habilitação em teatro) pela PUC-SP, mestre e doutorando em Filosofia pela mesma instituição. Estudei a ética em Michel Foucault na dissertação de mestrado e atualmente pesquiso a possibilidade de um Ensino de Filosofia que contemple rigor e criatividade. Atuo como professor de Filosofia, Ética, Lógica e Política em instituições de Ensino Médio, Superior e Cursinhos preparatórios para concurso público. Sou colaborador da Olimpíada de Filosofia da Argentina, fui membro da comissão organizadora da Olimpíada Latino-americana de Filosofia e faço parte de um projeto para a organização da I Olimpíada Brasileira de Filosofia no ano de 2016. A Olimpíada de Filosofia é um projeto que tenho como projeto de vida e busco compartilhá-lo, principalmente a questão da organização, com todos os que quiserem contribuir para a sua realização. Como surgiu a ideia de trazer ao Estado de São Paulo a Olímpiada de Filosofia? Quais as influências ou exemplos inspiradores para o evento? Em 2010, em um congresso sobre ensino de filosofia, estive em contato com professores do Uruguai, responsáveis pela organização da Olimpíada de Filosofia em seu país e professores do Rio Grande do Sul (que tinham o interesse de iniciar a organização da Olimpíada de Filosofia em seu estado). Ao mesmo tempo, tivemos a ideia de criar um espaço de intercâmbio de ideias em filosofia entre alunos do Uruguai e do Brasil, o que veio a se tornar a Olimpíada Latino-americana de Filosofia. 37 Neste mesmo ano, realizamos este evento em Porto Alegre, onde participei com alguns alunos de uma escola de São Paulo na qual trabalhava na época. Voltando deste evento, empolgado com a ideia, visualizando a possibilidade e potencialidade de contribuição para o ensino de filosofia que este evento possibilitava e percebendo as dificuldades, de locomoção, arrecadação de fundos para uma longa viagem, dentre outros desafios, convidei os alunos paulistas que participaram do evento no Rio Grande do Sul para formarmos uma equipe e organizarmos algo semelhante em São Paulo. Saímos, então, em busca de uma Universidade que apoiasse e quisesse sediar o evento e, após longa busca, encontramos, na pessoa da Profa. Patrícia Velasco, um espaço na Universidade Federal do ABC. Desta forma, ampliamos nossa equipe, contando com a participação de professores e estudantes desta Universidade. Após formarmos uma equipe, começamos a pensar em uma estrutura para o evento, a partir de críticas realizadas pelos próprios alunos que participaram da Olimpíada Latino-americana. Sempre acreditamos que, se desejamos estimular o protagonismo dos alunos da educação básica, devemos sempre ouvi-los e permitir que possam contribuir, não apenas com sua participação, mas também com ideias e inspiração para a organização. Assim sendo, começamos a traçar as primeiras características da Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo: 1o Não se configuraria em uma competição. 2o Não se restringiria em apenas uma produção textual filosófica. 3o Teríamos espaço para a expressão do pensamento filosófico em diversas linguagens e formulações. 4o Privilegiaríamos um espaço para o debate em forma de comunidade de investigação, gerando a troca de ideias entre o estudantes das diversas escolas participantes. Partindo desta ideia, realizamos a I Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo e, a cada ano que passa, buscamos ouvir aquilo que professores e alunos participantes têm a contribuir para modificar, reorganizar e fazer com que o evento continue sendo realizado. 38 Tendo dado o primeiro passo, creio que a principal inspiração para a Olimpíada de Filosofia é a própria Olimpíada. Ou seja, a Olimpíada de um ano e as trocas nela ocorridas, inspiram o evento que está por vir. Qual o objetivo geral e quais são os objetivos específicos das Olímpiadas de Filosofia? Enquanto objetivo geral das Olimpíadas de Filosofia, posso afirmar que é contribuir e incentivar o ensino de filosofia nas escolas de nível básico, promovendo a integração entre as escolas, os estudantes e os professores, fortalecendo os objetivos de se ter a filosofia presente no currículo do Ensino Médio e contribuindo para a formação dos alunos participantes. Os objetivos específicos são diversos e são renovados a cada edição do evento, partindo nas necessidades percebidas e apontadas pelos participantes. Dentre eles, podemos destacar que desejamos agregar os interesses de alunos e professores de filosofia do Estado de São Paulo, fomentar o espírito crítico e dialógico entre os estudantes, desenvolver nos jovens o aprimoramento de ler e escrever textos filosóficos, desenvolver a capacidade da realização de um diálogo filosófico na forma de comunidade de investigação, vivenciar o questionamento, a investigação de conceitos e a criação de novas possibilidades de pensar, promover interfaces entre a filosofia e outras áreas do conhecimento, fomentar a participação de nossos estudantes como protagonistas, agentes criadores e responsáveis pelas atividades, criar um espírito de troca de experiências e reflexões entre alunos e professores de filosofia e desenvolver a capacidade de expressar um conceito filosófico em diversas linguagens. Qual a proposta didático/pedagógica que o evento propõe? O evento é direcionado a algum público específico? O evento é destinado aos alunos da Educação Básica, de escolas públicas e privadas. Temos a ideia de que os estudantes sejam os protagonistas das Olimpíadas de Filosofia. Enquanto proposta didático/pedagógica, temos em um primeiro momento, o respeito à didática exercida pelo professor em sua escola, deixando-o totalmente livre para escolher como e o que trabalhar junto aos seus alunos. O ponto de partida é um tema geral, que consiste sempre em uma pergunta filosófica, que gera diversas possibilidades de trabalho. 39 Enquanto proposta didático/pedagógica do evento, damos a possibilidade para que os alunos (escolas) possam escolher em que modalidade desejam participar. Apresentamos uma estrutura inicial que pode ser modificada de acordo com propostas realizadas pelos estudantes. Enquanto responsável pela organização da Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo, vejo que o meu papel muito mais do que propor uma didática é o de promover o encontro entre diversas didáticas para que, assim, estas didáticas possam ser aprimoradas. Sabemos que a primeira etapa da Olimpíada de Filosofia é desenvolvida na escola e a segunda no dia do evento em uma universidade escolhida pelos responsáveis. Poderia nos dar mais detalhes destas fases tão distintas e que ao mesmo tempo se complementam? Acredito que falei um pouco sobre esta pergunta na questão anterior porém vou sintetizar resposta: Na primeira etapa os professores trabalham o tema com seus alunos em suas escolas e decidem o que pretendem apresentar na segunda etapa em que todas as escolas se reúnem. Na segunda etapa, temos o interesse de promover o encontro e a troca de ideias entre os alunos das diversas escolas e, desta forma, organizamos um espaço para a apresentação dos trabalhos realizados pelos alunos e um espaço para o debate na forma de comunidade de investigação. Em 2015, testaremos uma outra atividade: a organização de oficinas que envolvam a filosofia, o tema proposto e diversas áreas do conhecimento, para que os alunos possam participar e tenham uma outra contribuição à sua formação. Qual o processo existente para criação do tema que a Olímpiada carrega? – sendo este tema trocado anualmente - E como ocorre a escolha do local para a realização do evento? Com relação à escolha do tema, ele é decidido a partir de um diálogo entre os professores organizadores das Olimpíadas de Filosofia nos diversos estados em que ela acontece, atualmente: São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro. Cada estado propõe temas distintos, podendo ser propostos por alunos e professores participantes das Olimpíadas e, em um diálogo, a questão filosófica é então, ajustada. 40 A escolha para a realização do evento é realizada a partir da disposição das Universidades que desejam contribuir para a sua realização. Como o evento pode auxiliar os professores que trabalham no Ensino Básico? Bem, além do meu trabalho de pesquisa, de organização da Olimpíada e de docência no Ensino Superior, continuo atuando no Ensino Básico. Posso dizer, inclusive, que a Olimpíada de Filosofia nasceu de uma necessidade e de uma urgência. Nós, professores de filosofia que atuam no ensino básico, contamos muitas vezes com uma realidade desafiadora: desenvolver um trabalho filosófico com nossos alunos, contando com – na maior parte das vezes – uma aula por semana e tendo que dar conta de diversas burocracias institucionais estabelecidas pelo sistema educacional. Diante disso, sentia um grande desejo de que o ensino de filosofia fosse mais valorizado nas instituições em que atuava e atuo. E, acredito, que o evento pode auxiliar os professores frente a estes desafios. A cada ano que passa, percebo o quanto a Olimpíada contribui para o interesse dos alunos, o desejo de aprender, de discutir, de debater, de ir ao encontro do pensamento filosófico e penso que este é um fator fundamental para o trabalho dos professores que atuam no Ensino Básico. A Educação no Brasil parece se dividir em Ensino Particular e Ensino Público, sempre existindo um abismo conceitual entre os dois. Mas a Olimpíada de Filosofia parece contribuir para que este espaçamento seja, em muito, diminuído, colocando juntos alunos e professores de Escolas Particulares e Públicas juntos para debaterem temas que fomentam e interessam a todos. Qual o “segredo” para que isso possa ocorrer sem truculências? Isso fora planejado previamente ou isso aconteceu por acaso? A meu ver, esta é a grande beleza do evento: a diversidade em todos os sentidos – de escolas, professores, alunos, localidades, pensamentos, ideias, ideologias, conceitos, realidades, gêneros, idades. Toda diversidade apresenta pontos divergentes e convergentes, semelhanças e diferenças. Na Olimpíada de Filosofia, partimos de um pressuposto: todos possuem algo a contribuir e todos são capazes de desenvolver a escuta daquilo que o outro traz consigo. Não existe um segredo, senão privilegiar o pensamento filosófico, a discussão, o debate e permitir que os jovens alunos sejam os 41 protagonistas de toda a atividade. Penso que os jovens lidam muito bem com a diversidade e são eles quem fazem com que este espaço possa ser construído. Não houve um planejamento para que isso acontecesse, apenas a ideia de que a Olimpíada de Filosofia é um espaço aberto para todos aqueles que quiserem participar e contribuir para a construção deste evento. Acredito que a escuta do outro e o fato de considerarmos a Olimpíada de Filosofia uma construção coletiva, na qual todos os agentes envolvidos são importantes e essenciais para que ela aconteça, fez com que esta situação se estabelecesse de forma orgânica, fundamentada no respeito mútuo e na troca de ideias. O evento é sempre realizado no Estado de São Paulo e é destinado apenas à escolas do próprio Estado? A Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo é sempre realizada no Estado de São Paulo, porém acolhemos escolas de outros estados que desejam participar e não possuem o evento em seus estados. Qual o principal legado que a Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo pode nos deixar? Acredito que o principal legado que a Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo pode nos deixar é um convite: um convite a continuarmos lutando pelo ensino de filosofia, valorizando a presença do pensamento filosófico em nossas escolas, indo ao encontro do outro para o diálogo, buscando pensar de forma diferente, respeitar o outro, acolher suas ideias, questionar, aprender, se transformar. 5.1 Apreciação crítica acerca da entrevista Sabemos que uma das maiores dificuldades enfrentadas pela educação em nosso país, atualmente, é o desajustamento dos contentos curriculares nas diferentes disciplinas em uma escola em contrapartida a utilidade e os significados que os alunos necessitam e almejam. Em uma perspectiva mais minuciosa podemos avaliar que, de forma generalizada, tais teores disciplinares estão, em muito, distanciados do dia-a-dia dos nossos alunos, tornando o estudo de qualquer disciplina um momento de desmotivação e desinteresse. 42 A partir disso, analisando as prestadas respostas a entrevista do Prof.Ms. Luiz Pires, podemos nos propor a pensar que o Ensino da Filosofia necessita ser observado e praticado a partir de uma estrutura teórica que se concretize na prática e que perpasse por um seguimento que se constitua em sentido ao se aprender através de uma construção empírica que leve em conta o conhecimento que culmine na ação. Fica evidenciado também que a realização do evento não se constitui na forma de pensá-lo e executá-lo em uma instituição escolar de forma apenas a focarmos em seus aparatos externos, pelo contrário, foi pensando na necessidade de dar suporte aos professores e aos conteúdos curriculares internos que surgiu a ideia do evento. A Olímpiada Paulista de Filosofia não se comporta de maneira reducionista, apostando na captação de uma suposta realidade voltada a ela mesma: de forma oposta, possui uma percepção dicotômica do processo de ensino/aprendizado da Filosofia, dando importância tanto aos conteúdos, quanto a sua prática. As respostas indicam ainda que o evento preza pela constituição de um espaço democrático que ambiciona a construção de traços típicos da autonomia em relação ao próprio conhecimento e do exercício cidadão dos saberes filosóficos. Ainda de modo coerente, existe a preocupação com as pressuposições do enredamento que envolve o Ensino de Filosofia. Pelas palavras concedidas, percebemos que um educador que cobice o democratismo educacional e o desenvolvimento de alunos éticos e adequados em suas atuações cidadãs, deve ter audácia e o anseio motivacional de reestruturar sua forma de ensinar Filosofia. Estar disposto a se adequar as múltiplas variações pedagógicas e procurar de propósito suas práticas no cotidiano escolar é uma função capital dos Educadores da área filosófica que estão preocupados com a democratização dos pressupostos sociais e com a edificação de individualidades éticas e independentes. Resumindo, a Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo aparece como uma forma efetiva de variação metodológica no ensino de Filosofia, trazendo uma prática que se contrapõe à sociedade extremamente excludente que se evidencia nos dias de hoje. 43 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conhecimento com sentido teórico e prático, contextualização, edificação e organização dos saberes, capacidades e aptidões, trabalho em equipe, dissolução das dificuldades que surgem no processo ensino/aprendizado, concretização de concepções que transformam conceitos em implicações. São apenas um pouco da amostra de considerações positivas confirmadas quando nos voltamos a um evento dirigido na área educacional. Em seu cerne, os eventos dirigidos são estratégias didático/pedagógicas para ensinar e aprender Filosofia principalmente na prática. Contudo, não se trata exclusivamente de fazer por fazer, livre de discernimentos de opções claras e distintas, técnicas, finalidades educativas, disposição para o “orientar” e uma assistência sensata. É imprescindível ponderar naquilo que se presta o intento, preparar o que se refletiu e discorrer sobre aquilo que fora feito. Aquilo que buscamos com as práticas pedagógicas dirigidas no Ensino de Filosofia é o exercício de um caráter consciente perante a realidade educacional que se quer transformar e dos saberes e disposições que se pretende conquistar e transmitir dentro do amplo processo de Ensino e Aprendizado voltado à Filosofia. Assim sendo, notamos que os subsídios metodológicos funcionais num evento dirigido como a Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo nos consentem antecipar que, ao invés de termos nossos alunos deixando uma instituição de ensino básico com a fantasia de apresentarem apenas aquilo que fora estudado em exposições pedagógicas tradicionais, contaremos com estudantes que degustaram de conjunturas do conhecimento filosófico intensamente expressivo em suas breves existências. Caso eles sintam a ausência de algum contexto filosófico, conseguirão localizá-lo e perceber quais procedimentos terão de realizar para absorvê-lo. Apenas variando nossas práticas em sala de aula no que se refere à Filosofia, poderemos cunhar uma geração de educandos com o apropriado encanto na investigação do saber filosófico, com a ciência fulgente de que o papel de instruirse não se finda quando se afastam de uma unidade escolar e que permanecerão continuamente prontos para encarar novos subterfúgios que os acometerão. 44 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAS, Sérgio. Propostas de trabalho e ensino de filosofia: especificidades das habilidades; eixos temáticos-históricos e transversalidade – São Paulo, SP: Moderna, 2012. CAMPANER, Sônia. Filosofia: Ensinar e Aprender – São Paulo: Livraria Saraiva. 2012. COMTE, Augusto. Système de politique positive ou traité de sociologieinstituantlareligion de l’humanité.v. IV, Paris: SociétéPositiviste, 1929. DEWEY, John. Democracia e educação. 3.ed. Tradução de Godofredo Rangel e Anísio Teixeira. São Paulo: Nacional, 1959. FRANCA, Leonel. O método pedagógico dos jesuítas. 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