a olimpíada de filosofia do estado de são paulo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
Pós-Graduação em Ensino de Filosofia - CEEF
A OLÍMPIADA DE FILOSOFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMO
POSSIBILIDADE DE VARIAÇÃO METODOLÓGICA NO ENSINO DE
FILOSOFIA
Marcelo de Moraes Belini
São Carlos
2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
Pós-Graduação em Ensino de Filosofia - CEEF
A OLÍMPIADA DE FILOSOFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMO
POSSIBILIDADE DE VARIAÇÃO METODOLÓGICA NO ENSINO DE
FILOSOFIA
Marcelo de Moraes Belini
Trabalho apresentado ao Curso de PósGraduação em Ensino de Filosofia da
Universidade Federal de São Carlos, como parte
dos requisitos para a obtenção de diploma de PósGraduado em Ensino de Filosofia.
São Carlos
2015
BELINI, Marcelo de Moraes.
A Olímpiada de Filosofia do Estado de São Paulo como
possibilidade de variação metodológica no Ensino de
Filosofia – Marcelo de Moraes Belini – São Carlos: UFSCar,
2015 48f.: il. Orientador: Claudia Simone Galassi.
Monografia (Especialização em Ensino de Filosofia) Universidade
Federal
de
São
Carlos,
Centro
de
Educação e Ciências Humanas.
1. Ensino de Filosofia 2. Escola Pública 3. Gestão Escolar.
PARECERISTAS
____________________________
_______________
____________________________
_______________
____________________________
_______________
Dedicatória
À Lou Haro e Damaris de Moraes.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a minha esposa pelo companheirismo profundo, meus
familiares e amigos pelo total apoio concedido.
Agradeço minha tutora, Profa. Ma. Claudia Simone Galassi por prontificar-se em
exercer sua função de maneira exemplar, sempre disposta a esclarecer possíveis
dúvidas e resolver os obstáculos pertinentes.
Agradeço meus alunos que disponibilizaram seus respectivos tempos para
participarem parcial e indiretamente deste trabalho.
Um agradecimento especial ao Prof. Me. Luiz Pires por ter se comprometido com a
entrevista que compõe este trabalho e também pela dedicação dada ao evento.
E finalmente agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a
realização deste trabalho.
RESUMO
O presente trabalho analisa algumas questões a respeito de técnicas pedagógicas
contemporâneas no ensino de Filosofia, mais especificamente no que se refere ao
estudo da necessidade de uma variação metodológica e pedagógica em sua prática.
De princípio, apresenta uma resumida abordagem histórica/conceitual sobre o
ensino de Filosofia no Brasil, que possui por finalidade posicionar aquele que o lerá
acerca da trajetória que a Filosofia possui em nosso País. Em seguida, a pesquisa
apresenta os motivos que levam a necessidade de uma variação metodológica na
prática do ensino de Filosofia. Destarte disso, há uma reflexão sobre a Olimpíada de
Filosofia do Estado de São Paulo como possibilidade e alternativa de variação
didática, assim como, uma breve abordagem sobre eventos dirigidos para a área
educacional. O trabalho se finaliza com uma análise de depoimentos de alunos que
participaram do evento e também com uma apreciação de uma entrevista com o
organizador e responsável pela Olimpíada de Filosofia em São Paulo.
PALAVRAS-CHAVE: Olimpíadas; Didática; Metodologia; Filosofia; Ensino.
ABSTRACT
This paper analyzes some issues about contemporary pedagogical techniques in the
teaching of philosophy, specifically in regard to the study of the need for
methodological and pedagogical change in their practice. In principle, gives a brief
historical / conceptual approach to the philosophy of education in Brazil, which has
the purpose of positioning the one who read about the path that philosophy has in
our country. Then, the research presents the reasons why the need a methodological
change in the practice of philosophy of education. Thus addition, there is a reflection
on the Olympics Philosophy State of São Paulo as a possibility and alternative
didactic variation, as well as a brief approach directed events for education. The work
concludes with an analysis of testimonials from students who attended the event and
also with an appreciation of an interview with the organization and responsible for the
Olympics of Philosophy in São Paulo.
KEYWORDS: Olympics; teaching; methodology; Philosophy; Education.
Sumário
Introdução ................................................................................................................ 07
Capítulo 1:
A volta da Filosofia ao currículo oficial do Ensino Médio no Brasil: Um breve
histórico do Ensino de Filosofia em nosso País ................................................. 09
Capítulo 2:
A necessidade de uma variação metodológica no Ensino de Filosofia ............. 17
Capítulo 3:
A Olímpiada de Filosofia do Estado de São Paulo como possibilidade de
variação metodológica no Ensino de Filosofia .................................................... 24
3.1. A Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo: Configuração e estrutura do
evento .................................................................................................................... 29
Capítulo 4:
Depoimento de alunos que participaram de edições da Olimpíada de Filosofia
do Estado de São Paulo.......................................................................................... 31
4.1. Apreciação crítica dos relatos dos alunos que participaram de alguma edição
da Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo ............................................... 34
Capítulo 5:
Entrevista com o Prof. Me. Luiz Pires – Responsável pela Olimpíada de
Filosofia do Estado de São Paulo .......................................................................... 36
5.1. Apreciação crítica acerca da entrevista .......................................................... 41
Capítulo 6:
Considerações finais .............................................................................................. 43
Referências Bibliográficas ..................................................................................... 44
7
INTRODUÇÃO
Desde a antiguidade com o aparecimento dos primeiros questionadores
acerca da natureza humana em seu âmbito cosmológico e existencial, que
posteriormente passaram a ser reconhecidos como “filósofos”, compreendemos que
o núcleo de suas argumentações reflexivas, de suas procuras em prol a uma
elucidação e inquietações intelectivas, promulgam as brechas dos conhecimentos
edificados até o momento de suas vivências, entre estas podemos nos deparar com
a questão que norteia a Educação (neste caso mais específico o Ensino de Filosofia)
e suas práticas pedagógicas (divididas em didáticas, metodologias e técnicas que se
referem ao processo de Ensino/Aprendizado).
Essas contestações abarcando todo caráter existencial e cultivo intelectivo
como base da práxis filosófica, bem como o estilo subjetivo com os quais os filósofos
praticam a capacidade do raciocinar, aproximando-se dos fatos que norteiam todos
os preceitos aceitos como realidade, não se baseiam em uma prática isolada e
misantropa, mas, fortifica-se na investigação da construção de sentidos que se
evidenciam como algo a ser praticado e transmitido aos demais seres humanos que
nos cercam, transformando-se em um elemento essencial do desenvolvimento e
estágios da humanidade que se concretizam pela prática Educacional.
Hoje sabemos que a situação das salas de aula, nas relações entre
professores e alunos no mundo contemporâneo, é demarcada por diversas
modificações conceituais. São mutações estimuladas, principalmente pelo uso
constante da rede mundial de computadores e os novos artifícios advindos da
tecnologia, a multiplicidade social e cultural, com o surgimento de novas maneiras
comportamentais, a economia e a política, a ética e a moral, assim como a ciência
etc. Esse contexto parece ser movimentado pelo espetáculo da contemporaneidade
que tenta harmonizar a edificação de sujeitos reflexivos pelo desenvolvimento de um
educando crítico que restaura passagens de sua experiência vital sob o olhar e
mediação do docente. Entendemos também que tais transformações nos exercícios
pedagógicos são movimentadas pelas variações sociais que culminam na prática
metodológica cultivada no ambiente escolar pelo professor.
Destarte disso, nas próximas páginas, há uma tentativa de „‟criação de
sintonia‟‟ entre o objeto de pesquisa (expressos nos pensamentos e análises dos
pensadores estudados), o enfoque temático, ou seja, a necessidade de uma
8
variação metodológica no Ensino de Filosofia e a amostragem conceitual daqueles
que participaram do evento analisado como alternativa para esta variabilidade
metodológica (no caso em questão, a Olimpíada de Filosofia do Estado de São
Paulo). Isso tudo pode adequar uma sensatez na acomodação dos diagnósticos,
embora dos enfoques de cada pensador tenham sido tratadas de forma
individualizada, para daí sim, serem colocados em um contexto mais generalizado.
Desta forma, almejando-se um melhor entendimento de como se estabelecem
e se organizam a afinidade entre a Filosofia e o Ensinar, a partir de ponderações
filosóficas que se estabelecem no contexto da Educação e em suas particularidades,
levantamos outros questionamentos: Quais são os critérios para se ensinar
Filosofia? A Filosofia é ensinada ou transmitida da mesma maneira desde a época
de seu surgimento? Existe a necessidade de uma variação metodológica em seu
ensino? Dentre quais possibilidades deveríamos percorrer para melhor praticarmos
nossa função na Educação enquanto educadores?
Por meio destas distinções e abordagens buscamos perceber a forma da
investida filosófica em sua aplicação conceitual e prática nos fatos que constituem a
Educação,
explanando
didático/pedagógica,
o
e
exemplificando
conhecimento
e
as
a
analogia
formas
que
entre
a
constituem
ação
tais
entrelaçamentos.
De tal modo, com esta aspiração instigadora, organizam-se os imediatos
desígnios que compõem este material textual: considerar o “porque” e “a quem se
destina” o palco metodológico da prática pedagógica no que se refere ao Ensino de
Filosofia, relacionando tais questionamentos com hipóteses em seu procedimento
imperativo, o qual tende para uma contextura de conhecimentos específicos, porem
variáveis; buscar na tradição da própria Filosofia e em suas sempre úteis
indagações um demonstrativo de que é possível construirmos alternativas
metodológicas que demonstrem o “como” e o “para que” da necessidade de
modificações nos métodos de ensinar Filosofia; averiguar como um evento dirigido
pode colaborar como um procedimento educacional, tendo-se em mente seu intuito
principal: ensinar e aprender Filosofia pelos meios possíveis, disponíveis e
necessários.
9
1. A VOLTA DA FILOSOFIA AO CURRÍCULO OFICIAL DO ENSINO MÉDIO
NO BRASIL: UM BREVE HISTÓRICO DO ENSINO DE FILOSOFIA EM
NOSSO PAÍS.
A Filosofia sempre esteve presente na recente história do Brasil. Mesmo não
conseguindo se estabelecer como sempre mereceu, continuamente aparecia (e
aparece) no Ensino Básico e no Ensino Superior em nosso País. Rodrigo (2009) nos
dá uma noção disso:
“O Ensino de Filosofia na escola secundária existe no Brasil desde o
período colonial, embora sempre com grande dificuldade para conquistar
um lugar estável no currículo escolar. Seu sentido e suas funções também
oscilam muito ao longe desses quinhentos anos de história, ao sabor das
diferentes orientações que foram sendo conferidas a esse nível de ensino”.
(p.08)
A ideia de Filosofia ou aquilo que entendemos hoje por ensinar e aprender
Filosofia no Brasil inicia-se com a chegada dos Jesuítas e religiosos da Companhia
de Jesus no século XVI (mais especificamente em 1553). Com a intenção de
promover e influenciar os autóctones que aqui se encontravam; assim sendo,
começaram a catequisar e a propagar de forma veemente a fé cristã por meio de
“escolas” que se responsabilizavam em difundir o interesse, não só da coroa, mas
também da teocracia milenar existente até então. Neste contexto, é importante
salientar que, através desta prática, os colonizadores portugueses e a instituição
cristã portuguesa, ficavam de certa forma, alienados e suplantados dos
conhecimentos filosóficos, científicos e tecnológicos que compunham a estrutura do
conhecimento humano no velho continente – um exemplo claro disso é a sempre
notória disputa argumentativa entre o Racionalismo e o Empirismo que estava em
voga na Europa entre pesquisadores e catedráticos da época. Ou nas palavras de
Campaner (2012):
“Tem-se acentuado a constante situação ou de presença inócua da Filosofia
nos currículos escolares nacionais, o que de certa forma explica sua
situação particularmente desconfortável e polêmica. Os momentos são, no
entanto, distintos, pois a presença da Filosofia no currículo do Ensino
colonial justificava-se pela necessidade de catequizar os indígenas e
africanos, além de manter os colonos próximos à igreja católica”. (p.11)

Discutir Bacon e Descartes parece-nos normal hoje, mas isso remonta principalmente a este
período.
10
O processo educacional estava ligado a certos fragmentos sociais e tinham a
intenção de manter um poder estabelecido através dos discursos dirigidos, falta de
rigor acadêmico - o que acabou fazendo da Filosofia uma mera interpretação livre e
tendenciosa da bíblia e das obras teológicas de autores doutores da igreja católica
como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino– nem a influência platônica do
primeiro e nem o contingente aristotélico do segundo era levados em conta –
Aristóteles, assim como Santo Tomás de Aquino eram ainda mais vilipendiados!.
E quando pensamos e associamos a educação no Brasil em sua gênese e os
principais responsáveis por isso, os jesuítas portugueses, nos vêm à mente logo em
seguida a metodologia aplicada por eles e a didática fundamentada em um sistema
de ensino e aprendizado: A RatioStudiorum.
A RatioStudiorum foi o algoritmo maior do alicerce que estava solidificado e
particularizado o conhecimento na época. Com a funcionalidade de uma espécie de
plano de disciplinas e temas estudáveis por excelência, o Ratiostudiorum se firmava
como a elevação e a salvação da alma pelo estudo de uma teologia centralizada,
dogmatizadora e até mesmo ortodoxa para estabelecer uma doutrina única e
maleável em prol ao reinado português e à igreja católica, o que também se
predispunha à prevenção da possibilidade de anormalidades morais daqueles que já
compunham, forçadamente ou não, às regras vigentes estabelecidas de antemão.
Nas palavras de Miranda (2009, citado por Toyshima, Ana Maria da Silva, Costa,
Célio Juvenal p. 05):
“O primeiro ano era consagrado à lógica e previa o estudo de livros como
Da Interpretação, Primeiros Analíticos, Tópicos e Refutações Sofísticas,
incluindo desde logo algumas partes da Física e Da Alma. No segundo ano,
o corpus aristotélico englobava os oito livros da Física e ainda Do Céu, Da
Geração e Corrupção e Meteorológico. No terceiro ano, acabava-se os
estudos dos livros Da Geração, Da Alma e iniciava-se o estudo da
Metafísica”. (p. 32)
Logo após este breve período, num ato que poderíamos considerar sóbrio e
racional, mas com expectativas puramente de características ideológicas e,
principalmente, políticas, Marquês de Pombal expele os Padres e simpatizantes
jesuíticos do protetorado português. Alegando sempre que a Educação deveria ser
voltada à cidadania consciente, Marquês de Pombal alega que o conhecimento

Basicamente a gramática, textos sobre a humanidade e a arte retórica.
11
deveria servir primeiramente ao Estado e não a uma instituição que também compõe
o mesmo, no caso a igreja. E é neste momento que começa a disseminação dos
ideais que emanavam da França para o restante do mundo: a ideia de igualdade,
fraternidade e liberdade.
Isso afeta de modo imediato a maneira de como encarávamos a Educação
até então. A Educação não poderia ser voltada à “nova escolástica” em si, mas
deveria ser defendida a ideia de que a Educação era mais uma ciência aplicada do
que um sistema de valores fechados e ultrapassados. Após os desencadeamentos
oriundos dessa fase, houve uma reforma educacional, tanto na sua forma de
ensino, quanto em quem se predispunha a ensinar. Não era de se surpreender que
com esses esforços, surgissem novos pensamentos, novos valores, gerando assim
novas obras e descobertas interpretativas de antigos livros.
Por mais que vejamos um salto fundamental em relação ao progresso da
Educação no Brasil, por meio dos esforços do Marquês de Pombal , isso já por volta
de 1780, parece que o método utilizado por ele era o mesmo prestado pelos
jesuítas, graças às suas escolhas que culminaram na ação dos franciscanos que se
utilizavam de métodos parecidos com os padres jesuítas expulsos da colônia.
Com a chegada de Dom João VI ao Brasil em 1808 e que coincide também
com a crescente comercialização internacional, permite uma nova visão sobre a
Educação em nosso país. Surgem novas escolas. Escolas preparadas não para
agirem de acordo com os serviços prestados à corte ou à igreja; escolas que
estariam preparadas para educar e expandir conhecimentos que estavam
estabelecidos na formação da mão-de-obra que ficariam e administrariam a colônia.
Cursos superiores para a profissionalização qualificada são criados, por volta de
1834, e é então que a Filosofia passa a ser obrigatórias para estes.
Destarte disso, vemos novos pensamentos invadirem o Brasil. O mais
eminente de todos neste momento histórico talvez tenha sido o Positivismo –
principalmente aquele definido e estabelecido por August Comte, que repercutia na
Europa e extrapolava as linhas limítrofes do velho mundo através das viagens e

Muito alavancada pelo pensamento enciclopedista que era sistêmico em seu tom racional e “revolucionário”.
Neste caso, o responsável imediato por essa “reforma”, Marquês de Pombal, era quem muitas
vezes escolhia os seus representantes operacionais – professores – que comporiam esse novo ideal
educacional.

Mesmo ela se mantendo no caminho enciclopédico e de serventia aparentemente para fins
econômicos e industriais.

12
explorações marítimas. O próprio Comte (1929) a define a necessidade do
Positivismo assim:
(...) o positivismo compõe-se essencialmente de uma filosofia e de uma
política que são necessariamente inseparáveis, uma constituindo a base e a
outra o fim de um mesmo sistema universal no qual a inteligência e a
sociabilidade se acham intimamente combinadas” (p. 30)
A tradição escolástica estava ficando deveras ultrapassada e carcomida,
fazendo que estudiosos se lançassem de “corpo e alma” em novas tendências
cientificas e o Positivismo embarcava toda essa nova tendência. A promessa era
simples: dar autonomia à Educação brasileira e determinar novos horizontes que se
distanciem de vez das rédeas da igreja e suas ideias que já estavam defasadas.
Baseado em Benjamim Constant, vingavam pensamentos que levariam o Ensino à
sua gratuidade, autonomia e liberdade - o que fora mal interpretado num primeiro
momento, levando ao acréscimo de outras áreas científicas em um currículo já
maciço, tornando o conhecimento ainda mais caracterizado como enciclopedista.
Darwin deixa seu legado evolucionista também no Positivismo brasileiro, pois definia
ainda mais a demarcação científica na luta contra o pensamento mítico e religioso
propagado pelo sistema metafísico da igreja.
Apesar de o Positivismo ter sido atacado em grande escala pelos estudiosos
da cultura e da Filosofia alemã de Recife o positivismo se manteve firme e até hoje
ilustra parte de nosso símbolo nacionalista maior: nossa Bandeira Nacional.
No século XIX, com o declínio do Império e a criação de uma República
(1889) criamos a necessidade de estabelecer um parâmetro para as bases
educacionais. Surgem as elites intelectuais que se alimentam do puro Racionalismo.
Apesar dos esforços e dos elementos conflitantes, a Educação brasileira se refaz
aos moldes de um neo-tomismo ainda mais orientado e tutelado pela igreja católica.
Com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914), parece que certos
pensamentos românticos renascem, como por exemplo, a exaltação da Pátria e ao
poder de um povo soberano e estabelecido. Ganham campo os pensamentos
voltados às áreas sociais, não significando a identificação da cultura brasileira e
muito menos a Filosofia voltando-se para as características estritamente brasileiras.

Mais conhecidos como os “germanistas” da Escola de Recife - que também criticavam os métodos
de ensino religioso empregados até então.

Renascem, pois, o Positivismo em sua gênese é romântico.
13
Muitas leis, decretos e imposições acerca da Filosofia no contexto
educacional foram estabelecidos. Mais propriamente dito, em 1915 surge o que
alguns chamaram de uma “nova reforma educacional”. Essa reforma coloca a
Filosofia como uma disciplina optativa. Se por um lado a Filosofia se faz presente no
currículo, por outro, ela não tem a atenção desejada e a atenção que merece como
disciplina letiva, alavancado um interesse quase nulo na sociedade.
Em 1931 houve uma reforma básica, mas também significativa, na estrutura
educacional brasileira: a Educação não era mais apenas algo voltado para o acesso
ao Ensino Superior. Além de contar com diretrizes que levariam ao Ensino Superior,
a Educação voltava-se para a cidadania – ensinava-se pensando também no ser
humano; ensinava-se para a tomada de posição frente a qualquer percalço
existencial que o afrontasse.
Já em 1942 surge uma regulamentação que divide o Ensino Básico em dois:
o ginásio e o colegial. O colegial era, por sua vez, dividido em científico, voltado
especificamente ao ensino de ciências, e clássico, que dispunha de pelos menos 4
horas semanais à Filosofia – o que não excluía a Filosofia na divisão que se voltava
às ciências.
O ano de 1961 começa com a primeira LDB Lei n°4024 - fruto também dos
embates políticos e ideológicos do período em questão. A Filosofia aparece neste
momento como disciplina complementar, o que faz com que se perca a sua
obrigatoriedade no sistema educacional vigente.
Em 1964 temos o golpe militar e como todos nós sabemos, a Filosofia é
definitivamente excluída dos currículos oficiais, tornando-se facultativa em cursos
superiores, assim como outras disciplinas voltadas à área das Ciências Humanas.
Os interesses econômicos e políticos prevaleceram abrindo-se espaço para
pensamentos oriundos dos Estados Unidos, tornando a Educação ainda mais
mecânica, sistematizada e refém de processos tecnoburocráticos, tornando seus
agentes meros reprodutores de um esquema cultural diferente, deixando-nos longe
de uma autonomia para pensar e existir, culminando de vez na extinção e demérito
da Filosofia nas novas diretrizes voltadas à Educação, ato que é concretizado em
1971 em mais uma reforma educacional. Ainda na década de 1970, mais

Bem, pelo menos essa era a ideia...
Leis de Diretrizes de Base da Educação Nacional.

Pragmatismo cultural, Político e Econômico.

14
exatamente em 1972, uma nova reforma coloca a disciplina como facultativa,
possibilitando a sua substituição por disciplinas como a OSPB (organização Social e
Política do Brasil) e a EMC (Educação Moral e Cívica) que serviam de base para a
propagação dos juízos fixados pelas pessoas que comandavam o cenário nacional
na época. Isso parecia ser o suficiente, mas, a Filosofia, assim como a Educação
como um todo, ainda sofria de uma desconfiança vinda das classes mais
“abastadas”, como afirma Rodrigo (2009):
“Na época, muitos atribuíram a queda da qualidade do ensino ao ingresso
das classes populares, como se houvesse inevitável contradição entre
qualidade e quantidade e o preço a pagar pela expansão quantitativa fosse
o rebaixamento da qualidade de ensino. Até hoje, muitos professores
lamentam a qualidade perdida pelo sistema público de ensino e sonham em
recuperá-la. Esse saudosismo é inútil, porque aquela qualidade era inerente
a uma escola elitista que não existe mais. Hoje o que existe é outra escola e
qualquer melhoria de sua qualidade deve ser pensada com base nessa
nova realidade, constituída por uma massa de estudantes com um perfil
bem distinto do anterior”. (p.09)
Parece que, até então, a Filosofia não era tratada como uma disciplina que se
volta sempre para a construção de um pensamento crítico, autônomo e libertário,
ganhando posição apenas de reprodutora de elementos culturais distantes.
Logo após a queda do regime militar, parece que surge uma luz no fim do
túnel. A Filosofia retorna então, mesmo que de forma optativa, aos currículos
educacionais. Com a nova LDB de 1996, e o PCN (Parâmetros Curriculares
Nacionais) de 1999, o que parecia certo sofre um abalo significativo: esperava-se
que a Filosofia voltasse com uma força nunca antes imaginada, mas o que
aconteceu foi que a Filosofia surge como uma disciplina que visava complementar
os temas transversais estudados - isso mesmo com o grande crescimento do
discurso de “redemocratizar o Brasil” para um futuro de qualidade!.
Quando nos deparamos no ano de 2000, lembramos que o então deputado
Zimmermann elaborou um projeto de lei que visava a volta e a obrigatoriedade da
Filosofia como disciplina que faria parte dos currículos voltados ao Ensino Médio. A
iniciativa fracassou quando o Presidente da República na época, o sociólogo
Fernando Henrique Cardoso, vetou de imediato o projeto alegando não dispor de
profissionais em quantidade adequada e qualificada para suprir as necessidades
exigidas para a implantação e execução do intento.
Essa sazonalidade da Filosofia no currículo oficial do Ensino Médio nacional
parece estar longe de acabar, mas recebeu um alívio conceitual no ano de 2008,
coisa que explicitaremos a seguir.
15
Apesar de termos coberto de maneira tacanha trajetória histórica do Ensino de
Filosofia no Brasil, fica evidenciada que a sua implementação ou deslocamento para
fora do âmbito curricular se dá pura e simplesmente por razões ideológicas e/ou
políticas. No entanto, apesar de parecerem claros os motivos, temos um fator
extremamente importante para este feito: o ano de 2008 com a Lei n°11.684 de 2 de
junho deste referido ano e que inclui a Filosofia, assim como a Sociologia como
disciplinas obrigatórias em todos os anos do Ensino Médio. Rodrigo (2009) sinaliza:
No dia 2 de julho de 2008, o presidente da República em exercício, José de
Alencar, sancionou a lei que torna obrigatório o ensino de filosofia e
sociologia nas escolas públicas e privadas de nível médio. Trinta anos após
ser eliminada desse nível de ensino, a filosofia retorna a ele como disciplina
obrigatória em âmbito nacional, com lugar garantido por força da lei. Sua
reinserção no currículo de nível médio já vinha se processando desde 1980,
mas em caráter muito precário e instável, na medida em que ficava na
dependência de recomendações das Secretarias Estaduais de Educação e
da opção dos diretores de escolas. (p.01)
Bem sabemos que, a partir do ano 2000, a Educação passou a ser considerada
pelos estudiosos do capital e também por pensadores neoliberais como uma
representatividade e um elemento que conferiria ao país o status de “desenvolvido”
ou “subdesenvolvido”. Em se tratando de Brasil, notou-se também o mau
gerenciamento das políticas públicas voltadas à Educação e a notória necessidade
de uma reestruturação educacional e isso foi o inicio de uma discussão para
salientar a importância dos investimentos na área educativa.
A vigente LDB vigente foi construída para introduzir o Brasil no itinerário
capitalista do restante do “mundo desenvolvido”, atendendo a formação da demanda
de profissionais que atendam às novas e antigas necessidades deste modo de
produção existente. Nisso decorre a necessidade da obrigatoriedade do Ensino de
Filosofia: educar pessoas conscientes de sua própria consciência cidadã e também
pessoas autônomas, que carreguem um pensamento crítico e que sejam
capacitadas para enfrentar quaisquer percursos existenciais que o mercado de
trabalho e o mundo os apresentem.
Podemos notar que chegamos agora a uma definição mais abrangente sobre o
Ensino de Filosofia, apesar de parecer que a Educação brasileira não tenha definido
ainda se ela educa para a cidadania, para o vestibular ou para o mercado de
trabalho. Percebemos que, pelo menos a Filosofia tem um papel investigativo,

O que alterou o Art. 36 da Lei n°9.394 de 20 de dezembro de 1996 da LDB.
16
crítico, racional com tendências autônomas para com os jovens em idade escolar
(principalmente no Ensino Médio) e também adultos que perceberam a necessidade
da Educação formalizada para obtenção de conhecimentos - mesmo que para um
mercado de trabalho cada dia mais exigente - e que, a Filosofia, assim como as
demais áreas do conhecimento humano, necessita acompanhar as modificações
culturais, sociais, politicas e econômica de seu tempo em sua forma de ser
transmitida e/ou compartilhada.
17
2. A NECESSIDADE DE UMA VARIAÇÃO METODOLÓGICA NO ENSINO DE
FILOSOFIA
Poderíamos iniciar sintetizando e comentando apenas um dado notório a
respeito da didática e pedagogia voltadas à Filosofia: O Ensino de Filosofia está
sendo realizado a partir das práticas educativas em sala de aula. Estas práticas
educativas levam em conta certas características que compõem sua estrutura
elementar, como enfatiza Campaner (2012):
Certas características devem ser levadas em conta quando se pensa a
presença da Filosofia no Ensino Médio: 1) o fato de ela ser transdisciplinar
não faz dela uma espécie de ligação natural entre todas as disciplinas, e
nem a sua presença no currículo garante essa transdisciplinaridade; 2) a
Filosofia tem presença importante na cultura humana há pelo menos 25
séculos. Seu papel na sociedade deve ser compreendido para que não se
torne um luxo ou sinal de polimento cultural sem nenhuma finalidade; 3) a
Filosofia tem sua especificidade que deve ser respeitada, assim como
devem ser reconhecidos os pontos de contato com as outras disciplinas; 4)
ela constitui-se de uma multiplicidade de perspectivas que precisa ser
respeitada. Isso vai se refletir na elaboração do currículo; 5) e como
decorrência do item anterior, a Filosofia não é doutrinária. (p.25)
Todo contexto inserido nesse tópico, aberto a discussões, pode ser
fragmentado e traduzido em três etapas distintas. Primeiramente, nas inovações
trazidas pelos docentes – reinventando, sempre que possível, a maneira de ensinar
uma disciplina que conta mais de dois milênios, onde a reprodução sistemática de
conceitos já não basta, fazendo com que, estes profissionais apelem e abusem da
criatividade. Em um segundo plano, no material didático – antes contávamos
apenas com a tríade livros, lousa e giz, mas também com a ferramenta mais
importante: a voz do professor – como se fosse a vontade metamorfoseada na
capacidade vocal e comunicativa do docente, para podermos ministrar uma boa
aula. Hoje em dia contamos com uma infinidade de recursos didáticos e midiáticos
que confere ao professor uma possibilidade imensa de reestruturar seu escopo na
hora de lecionar, assim como os alunos dispõem de artifícios para poderem
aprender, ou ainda, extrapolar os limites materiais e intelectuais impostos pela sala
de aula em um prédio escolar. Exemplos não faltam: livros; aplicativos para
celulares, vídeos, filmes, sites, jogos, softwares, web conferências, entre outros

Criatividade que concorre – covardemente – com as implicações existentes no dia-a-dia do público alvo
educacional.
18
vários. Por último temos a implementação de currículos oficiais, tanto em segmentos
de escolas particulares – na maioria das vezes com seu sistema “apostilado”, quanto
em escolas públicas – no caso do Estado de São Paulo, temos o Currículo Oficial da
Educação do Estado de São Paulo que, se não são de toda qualidade desejada e
necessária, ao menos tem exercido a função de um “norte” aos vários funcionários
estatais que atuam como professores. Tudo isso inserido no programa da disciplina
ou unidades didáticas, melhor definidas por Rodrigo (2009):
O programa de disciplina corresponde ao planejamento do trabalho a ser
desenvolvido durante o ano letivo, definindo em termos genéricos seus
objetivos, conteúdo, avaliação e bibliografia. A implementação desse
programa no cotidiano da sala de aula demanda uma planificação mais
detalhada e específica de suas diferentes etapas. A formulação de unidades
didáticas ou unidades de programação atende a essa necessidade, ao
configurar articuladamente o conteúdo e conjunto de atividades que
compõem cada tópico de programa da disciplina (p.99)
Neste sentido, observamos que, aquilo que merece mais atenção e destaque
são as inovações e reinvenções daquilo que vem acontecendo nas escolas e mais
especificamente nas aulas de Filosofia: os professores, com raras exceções, estão
cada dia mais atentos àquilo que podemos denominar de “movimento próprio do
conhecimento”. Inovações, reestruturações, reinvenções, reavaliações são as
marcas dos novos tempos da Educação – ainda mais se tratando do Ensino de
Filosofia, que sabemos que é uma área do conhecimento humano que ainda é
vilipendiado e mal compreendido em uma sociedade com muitas características
pragmáticas.
Outro fator que não foi mencionado ainda, mas merece reconhecimento e
também compõe o algoritmo final desta equação, é o suposto reconhecimento, anos
após a volta da disciplina Filosófica ao Ensino Médio, dos estudantes – que são
outros em escala social e existencial dos estudantes de outrora. Consequentemente,
conseguimos de alguma forma e com muito esforça “esculpir”, sem dogmatizar ou
fazer inferências, jovens que tendem a analisar mais e com isso saber identificar
ainda mais a importância da Filosofia como um exercício necessário à cidadania e a
vida, propriamente dita. Mesmo essa “aptidão” profissional não pode ficar isolada no
contexto pedagógico e, nela mesmo se enquadra a necessidade de uma variação
metodológica, ou nas palavras de Rodrigo (2009):

E como sabemos os professores de Filosofia não fogem à regra.
19
Em que pesem todas as ilusões e equívocos do passado sobre o modo de
emprego da aula expositiva, isso não deve levar a sua pura e simples
exclusão, como pregam alguns. Essa técnica de ensino permanece
importante, pelas razões apontadas anteriormente. Mas é preciso renovar o
formato da preleção e mesclá-la com outros procedimentos didáticos,
adotando formas mais interativas, que solicitem o envolvimento intelectual
do estudante e não apenas sua presença física. (p.74)
Destarte disso, surgem alguns questionamentos: Quais os significados e que
exigências trazem esse reconhecimento da necessidade da variação metodológica
no Ensino de Filosofia segundo os próprios agentes da ação pedagógica, docentes e
discentes como referenciais e não meros destinatários ou reprodutores de um
conteúdo? Em um mundo ideal, seria lícito iniciar junto aos jovens a identificação de
quais os parâmetros, limites e juízos de valores que serviriam de base legitimadora
do Ensino de Filosofia, já que os maiores envolvidos acabam por serem os alunos.
Seriam
aqueles
objetivos
norteadores
de
toda
política
pública
e/ou
socioeconômica/educativa: direito à Educação plena; direito a cidadania; direito a
justiça e o direito a igualdade. Mas qual seria, pelo menos, o alcance desses juízos
nas aulas de Filosofia? Não sabemos ao certo, mas sabemos que existem inúmeras
maneiras de transmiti-las e essas maneiras não são únicas ou pré-definidas, pelo
contrário, estão abertas a discussões e evoluções conceituais para melhor atender o
destinatário (aluno) e satisfazer o principio básico do papel funcional do mediador do
conhecimento (o professor).
Esses impulsos de repetidas ou variadas práticas de ensino no cerne das
salas de aula oferecem uma proporção bem significante aferida para o desempenho
da noção dos professores nas respectivas matérias que são detentores de cátedra.
Contudo, é importante salientar que essas variações metodológicas constituem-se
muitas vezes de complementos ao próprio conhecimento incontroverso do próprio
professor e possivelmente há uma grande correspondência dentre os profissionais
da área que concretizam as práticas em uma escola com o interesse do público alvo
em questão.
A apreciação superficial das possíveis variabilidades nas metodologias de
Ensino de Filosofia no Ensino Médio assinala para a tendência de que ela é, além de
necessária, implexa e extensa em sua pluralidade, assim sendo determina além dos
conhecimentos especializados, também conhecimentos técnicos, os conhecimentos

No caso, o Ensino Médio.
20
existenciais e uma ponderação sobre o macro e micro, sobre o uno e o conjunto,
intercedida, talvez, pela moral, num conjunto cultural estabelecido em tendências
econômicas e sociais, nos quais os educadores desempenham seu ofício, por
conseguinte, novos métodos transcorrem pelos julgamentos da teoria e da prática
efetiva incididos das compreensões filosóficas e também didáticas em que docentes
e
educandos
estão
como
que,
subordinados,
instrução/informação/conhecimento/sabedoria,
das
implicando
práxis
em
do
contento
uma
didática
especifica. Rodrigo (2009) corrobora com a questão:
Parece fazer sentido, portanto, uma didática específica ou didática de
disciplina, como preferem alguns, na qual o que está em jogo é a
intersecção dos conhecimentos de determinada especialidade com a
sistemática de sua transmissão, na qual a conversão do saber científico em
conhecimento escolar deve processar-se pelo ângulo da especificidade de
determinado conteúdo. (p.32)
Grandes partes das variações metodológicas em sala de aula decorrem tanto
da formação específica do professor, acadêmica e subjetivamente, mas também das
“grandes ondas” de tendências educacionais que inundam o cenário da Educação
brasileira. Como exemplos, podemos citar: A tendência tradicionalista, que se
concentra, principalmente, na educação enciclopédica, onde, o educador é um mero
reprodutor de informações e de hábitos que se acumularam através do tempo e do
espaço e que ficaram disponíveis à humanidade principalmente em forma de textos,
contudo, além de ser um especialista do “esqueleto epistêmico” da matéria
lecionada, faz-se imperativo a propriedade dos artifícios metodológicos/didáticos de
embasamento explanatório dos contentos aparelhados para um estudante idealizado
em seu melhor desempenho e a julgamento daquilo que se exige em uma avaliação,
demanda uma simples reprodução do teor que na maioria das vezes é cobrado do
estudante apenas no arquivamento mental correspondente, memorização prévia e
sazonal; na tendência tecnicista da Educação, a importância converge na
instrumentalização do docente, no procedimento cultivado. A presteza do docente
determina apenas noções fundamentais do tema lecionado, noção das práticas que
permitem resolver os métodos particulares de análises e dissolução de dificuldades
do processo ensino/aprendizado. Na tendência pragmática, o destaque concentra-se
no acréscimo de capacidades técnicas e maneiras que se adéquam da ciência

Hoje em dia, muito facilitado pelo advento da internet.
21
básica e aproveitada em virtude dos resultados. Compete ao docente, com a
ampliação de tais capacidades, interferir ou não no exercício norteado pela
particularização dos conhecimentos em relação a uma finalidade específica. Na
tendência crítica e analítica, talvez a tendência que mais se assemelhe àquilo que o
Ensino de Filosofia busca e/ou determina, procura-se nas reflexões e decisões ou
até mesmo confrontação dentre juízos, apreciações, compreensões e ideologias, o
intuito de renovar, revigorar e talvez cunhar novas inquietações existenciais em prol
do individuo e da humanidade, dando ao docente a oportunidade de “dilatar-se”
como educador, a partir da coexistência dos seus próprios conhecimentos,
destrezas, costumes e afeições, solidificando valores morais de características
igualitárias, princípios éticos e seus reais desejos na edificação do saber, apreciando
um público alvo plural conferido pela conjuntura política, cultural, econômica, social e
existencial. Todas essas tendências e maneiras de aplicá-las acabam por culminar
em alguns intuitos comuns, como a transversalidade ou interdisciplinaridade que
possuem por si só a finalidade de, segundo Adas (2012):
Oferecer condições conceituais, enunciativas e argumentativas para que os
alunos organizem, ainda que minimamente, a avalanche de informações
sobre os problemas selecionados, filtrando-os por assim dizer pela
construção paulatina de uma perspectiva cultural e histórica acerca dos
mesmos. Em outras palavras, isso implica franquear-lhes uma visão mais
ampliada dos fatos aparentemente desconexos divulgados na imprensa em
geral, com o apoio de discursos quase ausentes nos meios destinados ao
grande público, isto é, justamente o filosófico e das demais ciências
humanas. (p.11)
E Adas (2012), continua em sua colaboração textual dizendo que outra
finalidade seria o de “promover a leitura filosófica de textos ou registros não
filosóficos, sobretudo científicos, documentais e artísticos”. E conclui sua fala sobre
o assunto expondo um terceiro ponto objetivo:
Estabelecer para os alunos algumas referências ou fontes históricas
retiradas principalmente da tradição filosófica e de disciplinas importantes
para a discussão de determinada temática, com vista a permitir a
estruturação de um olhar mais fino sobre os problemas contemporâneos,
visando, ao menos ao nível do pensamento, possibilitar a atribuição e
criação de sentidos às questões atuais relacionadas de grande relevância.
Queremos crer que essa orientação é particularmente salutar para o ensino
de filosofia, pois ao “pescarmos” certas inquietações mais próximas do
universo dos alunos e largamente comentadas nos meios extraescolares
aos quais estão expostos, contribuímos para gerar um interesse renovado

E instrumento necessário à própria Educação.
22
dos mesmos para com a disciplina, sem que isso resvale para um abandono
de certos objetivos e práticas educacionais voltados a assegurar as
condições mínimas da especificidade do ensino de filosofia. Dito de outro
modo, no momento em que dispomos de acontecimentos calorosamente
debatidos fora da escola, é válido mobilizar nossos esforços para promover
uma aliança entre autores, textos e conceitos da história da filosofia com a
realidade do mundo atual, de modo a intensificar seu potencial
problematizador. (p.11)
Neste sentido, compreendemos que o estilo da ação didática do educador
transcorre pela edificação de sua própria identificação enquanto tal, acatando os
cumprimentos políticos e morais da ação que abrange todo consenso da
metodologia instrucional, os denodos que dirigem a desígnio educacional, uma
instituição escolar direcionada ao democratismo, à constituição de um currículo que
atenda as necessidades docentes e discentes, de forma inventiva, analítica e
enérgica, porém, acolhedora.
Por via desta proposição, o docente da disciplina de Filosofia (não só ele,
assim como os demais participantes da área educacional) necessita ser perspicaz
na hora de decodificar, e ponderar e aplicar conjunturas em uma sala de aula,
sabendo ele que, apesar de seu conhecimento inato ou adquirido com anos de
dedicação, há sempre de rever conceitos e atitudes didático/pedagógicas que façam
de sua aula algo dinâmico e novo apesar dos conteúdos serem os mesmos de
sempre, com uma ou outra reformulação por conta de novos comentadores de
antigas obras. Daí surge a necessidade de mudança contínua para algo que parece
estático. É interessante notar a partir desta nossa argumentação, quase ontológica,
que o professor, mais do que qualquer outro profissional, precisa mudar sempre se
quiser continuar a ser o mesmo.
Nesta explanada situação educacional em que vive o Ensino de Filosofia,
precisaríamos ressaltar o cultivo grupal dos saberes, no qual o docente orientaria
essa produção intelectiva de forma diversificada e eficaz. Permanece manifesta, a
obrigação do aprendizado a autoinstrução, a necessidade do conhecimento, o
inventar, do coexistir e do existir na diversidade, avalizando a agudeza de uma
circulação e apropriação de práticas didáticas que implicam em problematizações,
apreensão das várias características que compõem uma determinada situação
escolar específica, estabelecendo com isso, um exercício inter/multidisciplinar que
incidiria no esboço de um novo catedrático, principalmente na disciplina filosófica,
com destrezas, aptidões e maneiras distintas para consentir e intervir nessas atuais
reivindicações educacionais.
23
Compreendemos então que, essa prática didática e filosófica promove uma
alteração nos modos do docente diante das constituições formais de mediação do
saber ligado à Filosofia, caracterizando-se não mais em particularidades encerradas
em si mesmas, e sim, em uma prática pedagógica multifacetada e dinâmica, sendo
necessário conjeturar sobre a edificação de saberes, da elocução alegórica e
natural que empregamos nas invenções didático/pedagógicos que optamos por
realizar.
Finalmente, é de suma importância sublinhar que essa sintetização textual
exposta até o momento sobre a prática didático/pedagógica do docente da disciplina
de Filosofia, não deve ser adotada como um resultado metodológico capacitado a
preceituar conclusões categóricas, se trata apenas de pontuações e exposições a
propósito desse tópico.

Também a ligada à lógica.
24
3. A OLÍMPIADA DE FILOSOFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMO
POSSIBILIDADE DE VARIAÇÃO METODOLÓGICA NO ENSINO DE
FILOSOFIA.
O diálogo e o entendimento na Filosofia, como os demais campos do
conhecimento intrínseco nos valores culturais do ser humano, vem passando por
modificações profundas nas últimas décadas. As transformações na conduta de um
determinado público alvo, as táticas comunicacionais e as novidades em
ciência/tecnologia estão enraizados em todas as formas de manifestações humanas.
Neste panorama assinalado pela necessidade de se adequar a variações
precipitadas, as instituições e o próprio homem busca, como forma de expansão e
supervivência cultural, situar um juízo público e positivo, fundamentado em uma
identificação preenchida e manejada de maneira conscienciosa, responsável e
lógica em seu intuito cultural/social. E nada melhor para explicitar e exemplificar o
comentário anterior como um evento cultural.
Hoje em dia, a idealização organizacional de um intuito, neste caso
específico, a área educacional voltada a Filosofia, está diametralmente atrelada às
táticas de comunicabilidade, muitas vezes com grande abrangência semiótica, e um
evento é um formato de diálogo direcionado que qualquer um  pode valer-se para
melhoria ou manutenção de implicações na inter-relação com aqueles a quem se
destina a produção em si.
Quando um procedimento dirigido é bem constituído e esquematizado, pode
sustentar, abranger ou readquirir os conceitos e juízos de um interesse conjunto ou
particular em relação àquilo que se espera. Por conseguinte, um acontecimento
planejado é uma tática de conversação que alcança o seguimento aspirado; apregoa
uma imagem, agencia opiniões, pode potencializar um determinado sistema de
ideias ou tendências e coopera para a dilatação e a atração de novos entusiastas de
uma definida fração cultural, social e/ou econômica.
Tais procedimentos dirigidos vêm se solidificando a cada momento e tem se
tornado efetivo à produção acadêmica, assim como, na Educação de um modo

Instituição ou grupo de pessoas – ou até mesmo uma pessoa.
25
generalizado. A cada dia percorrido, os eventos educacionais desenvolvem-se em
dígitos, dimensões e extensão e em medida de sofisticação técnica.
Tendo em mente a necessidade e os pormenores na Educação, aqueles que
se dispuserem a promover um evento educacional ou, meramente para uma
explanação cultural ou intelectiva, tem de ciência de algumas questões
fundamentais para a realização do mesmo. Em meio a elas, é essencial e
necessário de observar a consistência basilar em seu amago; aferir o avanço ou
retrocesso em relação ao que se espera como meta educacional objetiva, classificar
e tomar deliberações em todos os momentos e, principalmente, alavancar a
importância do tema em questão, desencadear novas perspectivas e produzir um
maior interesse pelas arguições apresentadas. Ao se assinalar a capacidade de uma
atividade dirigida como um instrumento eficaz na Educação, precisamos manter o
foco em uma tríade básica: organização do evento, o público alvo e tema e o evento
em si.
O questionamento capital seria então: Quando há a real necessidade de uma
atividade dirigida no processo de Ensino/Aprendizado? A réplica a essa questão
estar ancorado em identificar se tal procedimento possui uma finalidade específica e
pontual. Tudo isso com a finalidade de favorecer e contribuir para uma série de
requisitos que compõem a idealização, coordenação e a realização efetiva do
evento, assim como, tende a facilitar a propagação dos ideais promovidos para
aqueles que participarão como público alvo desta “jornada” intelectiva e educacional.
Tudo isso envolve, em resumo, a classificação de elementos pré-existentes, a
idealização e coordenação, a efetivação da atividade, ponderação dos resultados e
a avaliação do legado que o evento deixará à Educação.
Ao nos utilizarmos de um evento educacional, seus idealizadores e
executores possuem a propriedade de avigorar o obrigação moral e ética para
com seus próprios alunos e também para com aqueles que apenas desejam saber
um pouco mais sobre determinado tema, potencializando e reunindo aqueles que,
por necessidade, obrigação ou apenas ensejo, querem desfrutar de um momento

Pré e pós-evento.
Ou se terá como resultado um processo de longa duração e de manifestações diversas, subjetivas
e que não estariam ao alcance e controle de seus idealizadores; se o evento é algo original e nunca
antes visto ou se ele se repete periodicamente (como nos casos das Olimpíadas das diversas
disciplinas que acontecem no Brasil e também em territórios internacionais.

Educadores de modo geral.

26
diferenciado na Educação reforçando o comprometimento que cabe a todos na
Educação.
Os embates filosóficos por meio de atividades dirigidas foram sendo
aperfeiçoados no decorrer da própria história da Filosofia no decorrer das Eras. Já
na Grécia clássica, eram célebres os acendimentos direcionados nos quais
respeitáveis pensadores
impeliam
seus conhecimentos numa
disputa
que
colocavam sempre seu renome à prova, dependendo da disputa, razoáveis
quantidades capitais eram dispostas – como no caso dos sofistas.
Nessa ocasião, a maioria dos pensadores estava impelida em descobrir
dissoluções para dificuldades que se colocassem pragmaticamente como um reforço
enérgico nos possíveis “combates e corridas intelectivas” de cunho filosófico em que
estariam submergidos num futuro não tão distante. Um pensador grego, cuja
popularidade em conhecimentos filosóficos e científicos consentia com suas atitudes
nessas atividades dirigidas e que se estabelecesse como como tal, poderia vir a ser
um tutor, educador ou professor – como queiram, alcançava consideração pública
notória, autoridade e, especialmente, uma qualidade econômica um pouco superior
aos demais. Essa circunstância aparentemente atrativa fazia com que surgisse nos
mais jovens o desejo de saber mais sobre determinado tema e, talvez, surgisse a
vontade de se parecer com aqueles que ali estavam como centro do evento, mas
que também procuravam um certo grau de reconhecimento. Portanto, a lógica
envolvida para com a Educação sempre foi sempre quase a mesma: despertar
naqueles que estão dispostos a aprender, a necessidade da busca pelo
conhecimento para uma finalidade particular ou apenas o conhecimento pelo próprio
conhecimento.
No Período Medievo, mais especificamente nas universidades, havia uma
atividade dirigida que denominavam de Disputatio, que consistia em um
aprendizado pela retórica, onde, aqueles que se predispunham a participar, eram
“obrigados” a responder inúmeros questionamentos sobre um tema específico – mas
nesse caso não podemos dar o mérito somente àqueles que protagonizavam a
disputa oral, mas também àqueles que assistiam e depois refletiam e discutiam
sobre o que fora ouvido.

É óbvio que vários se negaram a compartilhar a questão econômica, como por exemplo, Sócrates –
que sempre foi um hábil orador e nem por isso recorria ao feito para beneficiar-se economicamente.

Do latim: disputationes, singular: disputatio, que significa Disputa em português.
27
A Disputatio como evento, se dividia em dois momentos distintos: A Disputatio
ordinária que era realizada regularmente, em geral, uma vez por semana ou duas
vezes ao mês e a Disputatio generalis, que era feita uma ou duas vezes no decorrer
de um ano, sempre na presença de doutores e autoridades da igreja católica.
Na Era Moderna, os eventos e disputas em universidades continuaram, mas
agora não mais sob a tutela da igreja. A noção de progresso científico e a noção do
antropocentrismo deixava a disputa mais racional e aplicada e, sempre que possível,
recorriam às demonstrações e sistematizações práticas para enfatizar determinada
teoria. Desse conhecimento mais dicotomizado em relação aos seus processos,
surgiu a necessidade de novos meios de comunicabilidade dos teores pressupostos
através de eventos, como por exemplo, colóquios, encontros, palestras, feiras etc.
Em nossos dias, a educação que está sendo estabelecida exige que a escola
prepare o educando para confrontar-se com as adversidades do cotidiano e também
dos privilégios que a existência acarreta. De tal modo, a Educação deixa de ser
sinônimo de permuta de conhecimentos e estabelece caraterísticas de reinvenção
em sua própria multiplicidade. Isso fez com que surgissem novas formas de
democratizar o conhecimento através de novas estratégias de atividades dirigidas
nas modalidades educacionais. Podemos listar algumas delas: Almoços temáticos;
desfiles cívicos e temáticos; leilões culturais; eventos culturais de dias específicos;
assembleias; encontros temáticos; mesa-redonda; entrevistas coletivas; mostras
culturais; Braisntorming1; cafés filosóficos; excursões acadêmicas; painéis artísticos;
exposições e apresentações; palestras; feiras; festivais; colação de grau; colóquios;
fóruns; concílios; seminários; concursos; conferências (e com o advento da internet,
web conferências); simpósios; congressos; jornadas; vernissages; convenções;
lançamento de livros; visitas culturais; debates; workshops; olimpíadas etc.
E é exatamente o formato moderno deste último tópico citado, isto é,
olimpíadas acadêmicas, que nos interessa neste momento.
Pelo visto e também pela falta de literatura específica na área, as primeiras
olimpíadas acadêmicas que se têm registros, foram a Olímpiadas de Matemática. A
mais remota registrada foi executada na Hungria em 1894. Esta prática foi
vagarosamente se alastrando por países de toda Europa e depois para o restante do
* Brainstorming ou “tempestade mental ou de ideias” é uma dinâmica de grupo que é usada em
várias empresas como uma técnica para resolver problemas específicos, para desenvolver novas
ideias ou projetos, para juntar informação e para estimular o pensamento criativo – referência para
tradução do site www.significados.com.br.
28
mundo, incidindo na elaboração da Olimpíada Internacional de Matemática, em 1959
– formalmente solidificada em 1980 na Romênia. Posteriormente, outras olimpíadas
internacionais, de outras disciplinas, foram estabelecidas, geralmente ligadas às
ciências exatas e depois às outras áreas do conhecimento humano. A primeira
olimpíada internacional de Filosofia foi realizada no Cazaquistão em 1996.
No nosso País, a primeira olimpíada nacional acadêmica também foi a
olimpíada voltada a área do cálculo e da álgebra, apresentando sua iniciativa e
concretizando num evento realizado vinte anos após a primeira olimpíada
internacional de matemática, ou seja, em 1979. Logo após, houve alguns eventos
em pontos diversos, em universidades estaduais e federais, como por exemplo, a
Olimpíada Brasileira de Química, em 1996, acompanhada pela primeira olimpíada
brasileira de astronomia, em 1998 e pela Olimpíada Brasileira de Física e a primeira
Olimpíada Brasileira de Informática, ambas em 1999. Tais eventos só ganharam um
pouco mais de notoriedade quando o interesse passou a ser do governo, em 2005,
com a invenção da olimpíada brasileira de Matemática das escolas públicas
(OBMEP), apadrinhada e administrada pelo Ministério da Educação.
Quando nos reportamos a Olimpíada de Filosofia, mais designadamente no
Brasil, muitos institutos promoveram eventos com essa nomeação no decorrer do
tempo, mas nunca conseguindo alcançar o patamar nacional que esta atividade
dirigida merece. Temos iniciativas assim em todo território nacional, mas, alguns
Estados se destacaram na realização desta empreitada, dentre eles temos o Rio de
Janeiro, iniciada oficialmente em 2013, Santa Catarina, iniciada oficialmente em
2008, Rio Grande do Sul, iniciada oficialmente em 2008, São Paulo, iniciado
oficialmente em 2010 pela UFABC e também no Paraná desenvolvida pela UFPR
(NESEF) a partir do ano de 2011.
Depois de fazermos apontamentos sobre as origens das Olimpíadas de
Filosofia, fica quase que como obrigação enquadrar a Olimpíada de Filosofia do
Estado de São Paulo como fator de suma importância para uma variabilidade da
metodologia e didática para com os educandos que nos são apresentados em
nossas jornadas acadêmicas. E isso se faz quase instantaneamente ao analisarmos
os objetivos que propõem os idealizadores e organizadores e os princípios que
norteiam o evento. Geralmente os objetivos gerais e específicos não mudam. O que

Como a literatura na área é muito escassa, tomamos como referências sites e redes sociais que comentam o
assunto.
29
sofre alteração é sempre o tema proposto e a ser trabalhado. Os objetivos gerais
permanecem como: Promover a integração entre as escolas, os estudantes e os
professores participantes, bem como entre a Escola e a Universidade; Contribuir
para o fortalecimento do vínculo entre a Universidade e a Comunidade, propiciando
a troca de conhecimentos e experiências entre os envolvidos; Fortalecer e contribuir
com os objetivos do Ministério da Educação ao reintroduzir a Filosofia como
disciplina obrigatória no Ensino Médio; Subsidiar uma efetiva contribuição da
Filosofia à formação dos participantes. Já os objetivos específicos se configuram
como: Agregar os interesses de alunos e professores de Filosofia do Estado de São
Paulo, o qual carece de iniciativas deste gênero; Fomentar o espírito crítico e
dialógico entre os estudantes; Desenvolver nos jovens cidadãos o aprimoramento
das habilidades de ler e escrever textos filosóficos, bem como de realizar diálogo
filosófico em solidariedade investigativa; Ler, de maneira filosófica, textos de
distintas expressões e estruturas; Vivenciar o questionamento, a investigação de
conceitos e a criação de novas possibilidades de pensar através da prática coletiva
de fazer filosofia; Construir um espaço favorável para uma postura filosofante
individual e coletiva; Promover a interface entre a Filosofia e outras áreas do
conhecimento; Fomentar a participação dos discentes da Educação Básica como
agentes criadores e responsáveis pelas atividades; Criar um espaço de troca de
experiências e reflexões entre alunos e professores de Filosofia.
3.1 A Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo: Configuração e estrutura
do evento
A Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo  é realizada anualmente,
tendo seu primeiro momento no ano de 2011 na Universidade Federal do ABC. Em
2012 e 2013 o evento também fora realizado por esta instituição. Já no ano de 2014,
com o sucesso alcançado, o evento recebeu parceria da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo e ganhou caráter itinerante, podendo ser realizada em outras
instituições de ensino. No presente ano (2015) a previsão é de que ela se realize na
Universidade católica de Santos no final do mês de setembro.

Uma visualização mais detalhada dos objetivos específicos e gerais do evento podem ser
encontrados no sítio: https://olimpiadadefilosofiasp.wordpress.com/

**Para mais detalhes sobre o evento, vide link citado acima.
30
O evento sempre se divide em três etapas distintas: primeiramente, nas
escolas acontecem as atividades pré-olímpicas (primeiro semestre letivo), onde
depois de definido o tema pelos administradores do evento, os professores nas mais
diversas escolas trabalham junto aos alunos possíveis hipóteses para debates e
formas de alavancar o interesse dos últimos pelo plano idealizado. No segundo
momento (segundo semestre letivo), acontecem as apresentações daquilo que fora
discutido e orquestrado nas escolas, apresentações musicais, teatros, textos,
vídeos, monólogos, intervenções, panfletos, fanzines, entre outros, demonstrando as
características processuais do evento e, também, no mesmo dia desta segunda
etapa, acontecem as exposições fotográficas e de outros trabalhos relativos às artes
plásticas; paralelamente, ainda no dia das apresentações, no momento final do
evento, acontecem as oficinas e comunidades de investigação. Este é o momento
em que os alunos possuem a disponibilidade de compartilhar ideias e discutir com
outros alunos, de outras escolas, como foi participar da Olimpíada de Filosofia do
Estado de São Paulo.
Geralmente quando pensamos numa olimpíada ou concurso, poderíamos
pensar também numa premiação. Não é o caso da Olimpíada de Filosofia do Estado
de São Paulo onde, a premiação está na gratificação dos alunos e professores em
poderem participar de um momento diferenciado no processo de ensino/aprendizado
de Filosofia. Novamente, o conhecimento pelo conhecimento.
31
4. DEPOIMENTO DE ALUNOS QUE PARTICIPARAM DE EDIÇÕES DA
OLIMPÍADA DE FILOSOFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

Depoimento 1 - Sabrina Diniz Proença (ex-aluna); Escola: E.E. Padre
Anchieta, Pilar do Sul/SP; Ano de Participação: Setembro de 2011.
Quando soube que minha escola iria participar da I Olimpíadas de Filosofia do
Estado, que elencava o tema “O mundo é admirável”? O que nos torna
plenamente humanos?”, não pude conter a ansiedade: eu e minha turma
contávamos os dias para estarmos no evento que teria como escopo uma das
melhores – senão a mais profunda – disciplinas do ensino médio, a Filosofia.
Logo, fui convidada pelo professor Belini a participar do trabalho na parte das
filmagens e apresentação do nosso subtema, “A consciência humana acerca
da finitude da existência”, que, de certa forma, foi uma experiência indelével
para minha formação educacional. Lembro-me, veementemente, de toda a
elaboração do trabalho que seria apresentado. Cemitérios, campos, ruas e
vielas foram nossos cenários de gravações, e dividimos as filmagens em
questionamentos,
depoimentos
pessoais,
entrevistas
com
estudiosos,
avivando o tema filosófico concisamente, com uma linguagem acessível a
qualquer interessado pelo tema. Trabalhamos, ainda, com pensamentos de
filósofos como Nietzsche, Comte, Freud, Schopenhauer e demais renomados.
Um bom trabalho em equipe abraçado por uma orientação forte e didática
desencadeou um resultado final satisfatório. Estava tudo pronto e chegando à
Universidade Federal do ABC, local onde as apresentações foram presididas,
percebemos que éramos exceção: a maioria das instituições de ensino
participantes eram da área privada! E isso foi o “bacana” de tudo! Nós
representávamos uma escola pública estadual, do interior e, sim, sim!
Estávamos participando da primeiríssima olimpíada de filosofia do Estado de
São Paulo! Saímo-nos bem ao final, pois o tema finitude é espetacular e
move os questionamentos mais intrínsecos em relação à vida humana, de
forma que, como diria Albert Camus, “decidir se a vida vale ou não a pena ser
vivida é responder à pergunta fundamental da Filosofia”.
Destarte disso, minha participação foi muito gratificante e é claro que, mesmo
depois de quase cinco anos, eu relembro de todos os momentos que vivenciei
naquele dia com minha turma. Se eu pudesse, voltaria no tempo e faria tudo
32
de novo. O incentivo de um professor para que seus alunos participem de
eventos como estes é essencial e contribui para a formação pessoal, moral e
ética dos mesmos. Através da matéria Filosofia, meus aprendizados durante o
ensino médio foram fecundados profundamente e, de verdade mesmo? Hoje
vejo o resultado que isso tudo gerou. Ah, que saudade!

Depoimento 2 -Giovana Caroline Vargas Ferreira (ex-aluna); Escola: E.E
Padre Anchieta – Pilar do Sul/SP; Ano de Participação: 2012 e 2014.
Participar das Olimpíadas de Filosofia é algo que nos surpreende e nos deixa
entusiasmados, pois para mim, participar foi algo maravilhoso, aprendi
durante alguns anos a teoria e quando exerci a pratica é totalmente diferente,
muito bom!
Quando foi proposto o tema e como teria que ser apresentado o trabalho
filosófico a sala se mobilizou e cada um com seu „‟jeitinho‟‟ mostrou o amor
pela filosofia. Ao deparar com diversas escolas, pessoas para todos os lados
e ver Professores de filosofia mostrando com qualidade os seus trabalhos e
os alunos dedicados para apresentar é gratificante.
Eu e meus colegas ficamos curiosos e realizados pois, tudo aquilo que
imaginávamos foi relatado nas olimpíadas de filosofia. Fizemos com
dedicação e carinho para que tudo saísse perfeito, um dia vivenciando um
mundo de sabedoria e virtudes.

Depoimento 3 - Luiz Kaique dos Santos Lima (aluno); Escola: E.E. Padre
Anchieta – Pilar do Sul/SP; Ano de Participação: 2014.
Participar da IV edição das Olimpíadas de Filosofia do Estado de São Paulo
foi algo muito interessante, pois não esperava participar de um evento como
esse logo em meu primeiro contato com a filosofia na escola; estar presente e
poder debater com pessoas que nunca vi foi uma das coisas mais legais,
devido à separação das escolas deixando os participantes em salas
aleatórias, poder ver e ouvir diversos pontos de vista semelhantes e outros
completamente contrários, poder opinar sobre os mesmos, fazer críticas.
O evento que é realizado em São Paulo desde 2011, realmente é uma
“ferramenta” muito boa para ajudar no estímulo do interesse pela disciplina
pelos jovens, e o fato de poder defender sua opinião, estando ela correta ou
33
errada é o que mais ajuda para que isso aconteça, pois não será
ridicularizado, simplesmente criticado sem ser contrariado.
A discussão do tema que estava em debate foi agregando-se a outras
experiências que vivenciamos no dia a dia, devido às teses que os
participantes apresentavam. O que acabou deixando de certa forma mais fácil
a conversa, fazendo comparações entre coisas mais simples e o que estava
sendo discutido.
O tema nessa edição das olimpíadas foi o seguinte: “Qual é o caminho para a
reconstrução de nós mesmos?”, uma pergunta aparentemente muito difícil de
ser respondida, porém durante o debate vimos que existem diversas
suposições que poderiam servir como resposta para a questão, o que acabou
contribuindo para que a conversa se estendesse mais a cada nova possível
conclusão que surgia. Sempre questionando o porquê e como tal ideia
poderia ser a solução da questão.
Outra coisa muito interessante em ter participado das Olimpíadas de Filosofia,
foi que o tema em si nos fez pensar não somente ali, enquanto debatíamos,
como também na vida de um modo geral, tendo como objetivo principal tentar
encontrar uma solução para a pergunta também após o término do evento,
tendo uma visão mais ampla e eloquente sobre o que realmente é filosofia e
inspirando-nos em outras coisas em nossas vidas, por causa de nossa
consciência agora do que seria a filosofia disciplina como a que usamos fora
da escola. Uma ótima experiência que todos deveriam ter a oportunidade e
curiosidade de ter, pois isso ajudaria muito para que os estudantes se
interessassem realmente pela filosofia.

Depoimento 4 - Nome: Ana Paula da Silva Almeida (ex-aluna); Escola: E.E.
Padre Anchieta – Pilar do Sul/SP; Ano de Participação: 2012 e 2014.
Alguns alunos ao entrar no ensino médio têm uma péssima imagem sobre a
matéria filosofia, realmente, é de se esperar que você precise “enlouquecer”
para acompanhar a matéria: então foi isso que fizemos. Acredito que tive a
sorte em ter um professor igual ao Belini; o seu método de ensino é admirado
por anos e encanta vários alunos, suas aulas são dinâmicas e ao mesmo
tempo muito eficientes, pois sempre se pode ver resultados grandiosos vindo
de seus alunos. Estou segura que tenho conhecimentos sobre a filosofia, em
34
três anos tendo esse componente curricular pude presenciar dois anos de
olímpiadas de filosofia como complemento das aulas, nós analisávamos o
tema
individualmente
e
em
grupos,
sempre
expressando
nossos
pensamentos, a sala toda pensava em conjunto e chegávamos a um ideal
visto por todos, mas sem deixar a própria opinião de lado. A olimpíada de
filosofia foi um grande passo para nossa escola e seus alunos, começávamos
a ver novos horizontes e novos desafios, abrimos nossas mentes para novas
ideias e aperfeiçoamos as antigas. Os assuntos eram sempre variados e
profundos, ás vezes mal tínhamos ideia do que seria e corríamos pesquisar
para ficar por dentro de tudo, e quando chegávamos ao evento, ficávamos
deslumbrados com as ideias das apresentações de outras escolas. Posso
afirmar que a olimpíada de filosofia me moldou para o que sou hoje e que
sinto muito ao ter saído do ensino médio e ido a faculdade, pois não terei
mais a oportunidade de ir como uma aluna da E.E.” Padre Anchieta”.
4.1 Apreciação crítica dos relatos dos alunos que participaram de
alguma edição da Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo.
Os dados computados nestes relatos são de alunos e ex-alunos do Ensino
Médio da Escola Estadual Padre Anchieta de Pilar do Sul, São Paulo. A solicitação
para os relatos foram simples e objetivos: descrever em poucas palavras e de forma
livre como foi a sua autoanálise em relação a sua participação na Olimpíada de
Filosofia do Estado de São Paulo. Os relatos foram transcritos na integra, sem
alteração ou correção para demonstrar um pouco o nível de proficiência destes
alunos na disciplina de Filosofia.
A partir dos relatos dos alunos textualizados anteriormente, podemos notar a
abrangência que o evento ganhou na passagem destes alunos pelo ensino médio e
o contato formalizado e disponibilizado pela Filosofia.
Receber o convite, trabalhar o tema de diversas maneiras (sempre no
primeiro bimestre letivo) e participar deste evento dirigido (lembrando que, pra eles,
um momento muito significativo é o instante dos grupos de investigação filosófica
onde podem trocar informações e discutir temas orientados por professores das
universidades ou outros professores participantes – e isso parece ser o cerne do
evento, essa miscelânea entre instituições públicas e privadas, professores
35
universitários e do ensino básico, pesquisadores e as mais diversas formas de
alunos, passando pelo ensino infantil ao ensino universitário), parece não só ter sido
uma participação em algo que faria parte do conjunto direcional de aulas de
Filosofia, mas, aparentemente, foi um subsidio significativo na vivência escolar
destes alunos; não só para algo que ficará em suas lembranças, e sim, em algo que
eles levaram para suas vidas acadêmicas como um todo (muitos deles estão agora
em universidades) e para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de estudar
em uma instituição de Ensino Superior, ou não desejam fazê-las, o evento ficou
marcado como uma espécie de socialização através de conceitos filosóficos, afinal,
no dia das apresentações dos projetos, o clima sempre é de entusiasmo com o
novo, a incerteza benéfica do que os aguarda e a confiança de que, ao menos
sairão desta passagem, no mínimo, miseravelmente mais cultos em relação ao
aprendizado voltado à Filosofia.
Em suma, podemos notar que, particularmente ou coletivamente, o evento
tem seus objetivos alcançados de maneira prática e simples, sempre fomentando
aos alunos e demais participantes a vontade de continuar a busca por
conhecimentos filosóficos no intuito de coloca-los a prova na prática.
36
5. ENTREVISTA COM O PROF. ME. LUIZ PIRES – RESPONSÁVEL PELA
OLIMPÍADA DE FILOSOFIA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Gostaria, primeiramente, de agradecer a oportunidade de poder realizar tal
entrevista com o organizador das Olímpiadas de Filosofia do Estado de São
Paulo e poder explorar uma didática que vem se concretizando e se
fortalecendo no decorrer destes anos. Para dar um início propriamente dito,
peço uma breve apresentação pessoal (e principalmente acadêmica).
Primeiramente, é um prazer colaborar com a sua pesquisa e para que o
Ensino de Filosofia seja cada vez mais pensado, refletido e valorizado.
Enquanto minha apresentação, pessoalmente me considero um jovem
sonhador que busca estimular o ensino de filosofia junto aos jovens e
adolescentes de nossas escolas. Sou graduado em Filosofia e Comunicação
das Artes do Corpo (habilitação em teatro) pela PUC-SP, mestre e
doutorando em Filosofia pela mesma instituição. Estudei a ética em Michel
Foucault na dissertação de mestrado e atualmente pesquiso a possibilidade
de um Ensino de Filosofia que contemple rigor e criatividade. Atuo como
professor de Filosofia, Ética, Lógica e Política em instituições de Ensino
Médio, Superior e Cursinhos preparatórios para concurso público. Sou
colaborador da Olimpíada de Filosofia da Argentina, fui membro da comissão
organizadora da Olimpíada Latino-americana de Filosofia e faço parte de um
projeto para a organização da I Olimpíada Brasileira de Filosofia no ano de
2016. A Olimpíada de Filosofia é um projeto que tenho como projeto de vida e
busco compartilhá-lo, principalmente a questão da organização, com todos os
que quiserem contribuir para a sua realização.

Como surgiu a ideia de trazer ao Estado de São Paulo a Olímpiada de
Filosofia? Quais as influências ou exemplos inspiradores para o evento?
Em 2010, em um congresso sobre ensino de filosofia, estive em contato com
professores do Uruguai, responsáveis pela organização da Olimpíada de
Filosofia em seu país e professores do Rio Grande do Sul (que tinham o
interesse de iniciar a organização da Olimpíada de Filosofia em seu estado).
Ao mesmo tempo, tivemos a ideia de criar um espaço de intercâmbio de
ideias em filosofia entre alunos do Uruguai e do Brasil, o que veio a se tornar
a Olimpíada Latino-americana de Filosofia.
37
Neste mesmo ano, realizamos este evento em Porto Alegre, onde participei
com alguns alunos de uma escola de São Paulo na qual trabalhava na época.
Voltando deste evento, empolgado com a ideia, visualizando a possibilidade e
potencialidade de contribuição para o ensino de filosofia que este evento
possibilitava e percebendo as dificuldades, de locomoção, arrecadação de
fundos para uma longa viagem, dentre outros desafios, convidei os alunos
paulistas que participaram do evento no Rio Grande do Sul para formarmos
uma equipe e organizarmos algo semelhante em São Paulo. Saímos, então,
em busca de uma Universidade que apoiasse e quisesse sediar o evento e,
após longa busca, encontramos, na pessoa da Profa. Patrícia Velasco, um
espaço na Universidade Federal do ABC. Desta forma, ampliamos nossa
equipe, contando com a participação de professores e estudantes desta
Universidade.
Após formarmos uma equipe, começamos a pensar em uma estrutura para o
evento, a partir de críticas realizadas pelos próprios alunos que participaram
da Olimpíada Latino-americana. Sempre acreditamos que, se desejamos
estimular o protagonismo dos alunos da educação básica, devemos sempre
ouvi-los e permitir que possam contribuir, não apenas com sua participação,
mas também com ideias e inspiração para a organização.
Assim sendo, começamos a traçar as primeiras características da Olimpíada
de Filosofia do Estado de São Paulo:
1o Não se configuraria em uma competição.
2o Não se restringiria em apenas uma produção textual filosófica.
3o Teríamos espaço para a expressão do pensamento filosófico em diversas
linguagens e formulações.
4o Privilegiaríamos um espaço para o debate em forma de comunidade de
investigação, gerando a troca de ideias entre o estudantes das diversas
escolas participantes.
Partindo desta ideia, realizamos a I Olimpíada de Filosofia do Estado de São
Paulo e, a cada ano que passa, buscamos ouvir aquilo que professores e
alunos participantes têm a contribuir para modificar, reorganizar e fazer com
que o evento continue sendo realizado.
38
Tendo dado o primeiro passo, creio que a principal inspiração para a
Olimpíada de Filosofia é a própria Olimpíada. Ou seja, a Olimpíada de um ano
e as trocas nela ocorridas, inspiram o evento que está por vir.

Qual o objetivo geral e quais são os objetivos específicos das Olímpiadas de
Filosofia?
Enquanto objetivo geral das Olimpíadas de Filosofia, posso afirmar que é
contribuir e incentivar o ensino de filosofia nas escolas de nível básico,
promovendo a integração entre as escolas, os estudantes e os professores,
fortalecendo os objetivos de se ter a filosofia presente no currículo do Ensino
Médio e contribuindo para a formação dos alunos participantes.
Os objetivos específicos são diversos e são renovados a cada edição do
evento,
partindo
nas
necessidades
percebidas
e
apontadas
pelos
participantes. Dentre eles, podemos destacar que desejamos agregar os
interesses de alunos e professores de filosofia do Estado de São Paulo,
fomentar o espírito crítico e dialógico entre os estudantes, desenvolver nos
jovens o aprimoramento de ler e escrever textos filosóficos, desenvolver a
capacidade da realização de um diálogo filosófico na forma de comunidade de
investigação, vivenciar o questionamento, a investigação de conceitos e a
criação de novas possibilidades de pensar, promover interfaces entre a
filosofia e outras áreas do conhecimento, fomentar a participação de nossos
estudantes como protagonistas, agentes criadores e responsáveis pelas
atividades, criar um espírito de troca de experiências e reflexões entre alunos
e professores de filosofia e desenvolver a capacidade de expressar um
conceito filosófico em diversas linguagens.

Qual a proposta didático/pedagógica que o evento propõe? O evento é
direcionado a algum público específico?
O evento é destinado aos alunos da Educação Básica, de escolas públicas e
privadas. Temos a ideia de que os estudantes sejam os protagonistas das
Olimpíadas de Filosofia.
Enquanto proposta didático/pedagógica, temos em um primeiro momento, o
respeito à didática exercida pelo professor em sua escola, deixando-o
totalmente livre para escolher como e o que trabalhar junto aos seus alunos.
O ponto de partida é um tema geral, que consiste sempre em uma pergunta
filosófica, que gera diversas possibilidades de trabalho.
39
Enquanto proposta didático/pedagógica do evento, damos a possibilidade
para que os alunos (escolas) possam escolher em que modalidade desejam
participar. Apresentamos uma estrutura inicial que pode ser modificada de
acordo com propostas realizadas pelos estudantes.
Enquanto responsável pela organização da Olimpíada de Filosofia do Estado
de São Paulo, vejo que o meu papel muito mais do que propor uma didática é
o de promover o encontro entre diversas didáticas para que, assim, estas
didáticas possam ser aprimoradas.

Sabemos que a primeira etapa da Olimpíada de Filosofia é desenvolvida na
escola e a segunda no dia do evento em uma universidade escolhida pelos
responsáveis. Poderia nos dar mais detalhes destas fases tão distintas e que
ao mesmo tempo se complementam?
Acredito que falei um pouco sobre esta pergunta na questão anterior porém
vou sintetizar resposta:
Na primeira etapa os professores trabalham o tema com seus alunos em suas
escolas e decidem o que pretendem apresentar na segunda etapa em que
todas as escolas se reúnem.
Na segunda etapa, temos o interesse de promover o encontro e a troca de
ideias entre os alunos das diversas escolas e, desta forma, organizamos um
espaço para a apresentação dos trabalhos realizados pelos alunos e um
espaço para o debate na forma de comunidade de investigação. Em 2015,
testaremos uma outra atividade: a organização de oficinas que envolvam a
filosofia, o tema proposto e diversas áreas do conhecimento, para que os
alunos possam participar e tenham uma outra contribuição à sua formação.

Qual o processo existente para criação do tema que a Olímpiada carrega? –
sendo este tema trocado anualmente - E como ocorre a escolha do local para
a realização do evento?
Com relação à escolha do tema, ele é decidido a partir de um diálogo entre os
professores organizadores das Olimpíadas de Filosofia nos diversos estados
em que ela acontece, atualmente: São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e
Rio de Janeiro. Cada estado propõe temas distintos, podendo ser propostos
por alunos e professores participantes das Olimpíadas e, em um diálogo, a
questão filosófica é então, ajustada.
40
A escolha para a realização do evento é realizada a partir da disposição das
Universidades que desejam contribuir para a sua realização.

Como o evento pode auxiliar os professores que trabalham no Ensino
Básico?
Bem, além do meu trabalho de pesquisa, de organização da Olimpíada e de
docência no Ensino Superior, continuo atuando no Ensino Básico. Posso
dizer, inclusive, que a Olimpíada de Filosofia nasceu de uma necessidade e
de uma urgência. Nós, professores de filosofia que atuam no ensino básico,
contamos muitas vezes com uma realidade desafiadora: desenvolver um
trabalho filosófico com nossos alunos, contando com – na maior parte das
vezes – uma aula por semana e tendo que dar conta de diversas burocracias
institucionais estabelecidas pelo sistema educacional. Diante disso, sentia um
grande desejo de que o ensino de filosofia fosse mais valorizado nas
instituições em que atuava e atuo. E, acredito, que o evento pode auxiliar os
professores frente a estes desafios. A cada ano que passa, percebo o quanto
a Olimpíada contribui para o interesse dos alunos, o desejo de aprender, de
discutir, de debater, de ir ao encontro do pensamento filosófico e penso que
este é um fator fundamental para o trabalho dos professores que atuam no
Ensino Básico.

A Educação no Brasil parece se dividir em Ensino Particular e Ensino Público,
sempre existindo um abismo conceitual entre os dois. Mas a Olimpíada de
Filosofia parece contribuir para que este espaçamento seja, em muito,
diminuído, colocando juntos alunos e professores de Escolas Particulares e
Públicas juntos para debaterem temas que fomentam e interessam a todos.
Qual o “segredo” para que isso possa ocorrer sem truculências? Isso fora
planejado previamente ou isso aconteceu por acaso?
A meu ver, esta é a grande beleza do evento: a diversidade em todos os
sentidos – de escolas, professores, alunos, localidades, pensamentos, ideias,
ideologias,
conceitos,
realidades,
gêneros,
idades.
Toda
diversidade
apresenta pontos divergentes e convergentes, semelhanças e diferenças. Na
Olimpíada de Filosofia, partimos de um pressuposto: todos possuem algo a
contribuir e todos são capazes de desenvolver a escuta daquilo que o outro
traz consigo. Não existe um segredo, senão privilegiar o pensamento
filosófico, a discussão, o debate e permitir que os jovens alunos sejam os
41
protagonistas de toda a atividade. Penso que os jovens lidam muito bem com
a diversidade e são eles quem fazem com que este espaço possa ser
construído. Não houve um planejamento para que isso acontecesse, apenas
a ideia de que a Olimpíada de Filosofia é um espaço aberto para todos
aqueles que quiserem participar e contribuir para a construção deste evento.
Acredito que a escuta do outro e o fato de considerarmos a Olimpíada de
Filosofia uma construção coletiva, na qual todos os agentes envolvidos são
importantes e essenciais para que ela aconteça, fez com que esta situação se
estabelecesse de forma orgânica, fundamentada no respeito mútuo e na troca
de ideias.

O evento é sempre realizado no Estado de São Paulo e é destinado apenas à
escolas do próprio Estado?
A Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo é sempre realizada no
Estado de São Paulo, porém acolhemos escolas de outros estados que
desejam participar e não possuem o evento em seus estados.

Qual o principal legado que a Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo
pode nos deixar?
Acredito que o principal legado que a Olimpíada de Filosofia do Estado de
São Paulo pode nos deixar é um convite: um convite a continuarmos lutando
pelo ensino de filosofia, valorizando a presença do pensamento filosófico em
nossas escolas, indo ao encontro do outro para o diálogo, buscando pensar
de forma diferente, respeitar o outro, acolher suas ideias, questionar,
aprender, se transformar.
5.1 Apreciação crítica acerca da entrevista
Sabemos que uma das maiores dificuldades enfrentadas pela educação em
nosso país, atualmente, é o desajustamento dos contentos curriculares nas
diferentes disciplinas em uma escola em contrapartida a utilidade e os significados
que os alunos necessitam e almejam. Em uma perspectiva mais minuciosa podemos
avaliar que, de forma generalizada, tais teores disciplinares estão, em muito,
distanciados do dia-a-dia dos nossos alunos, tornando o estudo de qualquer
disciplina um momento de desmotivação e desinteresse.
42
A partir disso, analisando as prestadas respostas a entrevista do Prof.Ms. Luiz
Pires, podemos nos propor a pensar que o Ensino da Filosofia necessita ser
observado e praticado a partir de uma estrutura teórica que se concretize na prática
e que perpasse por um seguimento que se constitua em sentido ao se aprender
através de uma construção empírica que leve em conta o conhecimento que culmine
na ação.
Fica evidenciado também que a realização do evento não se constitui na
forma de pensá-lo e executá-lo em uma instituição escolar de forma apenas a
focarmos em seus aparatos externos, pelo contrário, foi pensando na necessidade
de dar suporte aos professores e aos conteúdos curriculares internos que surgiu a
ideia do evento. A Olímpiada Paulista de Filosofia não se comporta de maneira
reducionista, apostando na captação de uma suposta realidade voltada a ela
mesma: de forma oposta, possui uma percepção dicotômica do processo de
ensino/aprendizado da Filosofia, dando importância tanto aos conteúdos, quanto a
sua prática.
As respostas indicam ainda que o evento preza pela constituição de um
espaço democrático que ambiciona a construção de traços típicos da autonomia em
relação ao próprio conhecimento e do exercício cidadão dos saberes filosóficos.
Ainda de modo coerente, existe a preocupação com as pressuposições do
enredamento que envolve o Ensino de Filosofia.
Pelas palavras concedidas, percebemos que um educador que cobice o
democratismo educacional e o desenvolvimento de alunos éticos e adequados em
suas atuações cidadãs, deve ter audácia e o anseio motivacional de reestruturar sua
forma de ensinar Filosofia. Estar disposto a se adequar as múltiplas variações
pedagógicas e procurar de propósito suas práticas no cotidiano escolar é uma
função capital dos Educadores da área filosófica que estão preocupados com a
democratização dos pressupostos sociais e com a edificação de individualidades
éticas e independentes.
Resumindo, a Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo aparece como
uma forma efetiva de variação metodológica no ensino de Filosofia, trazendo uma
prática que se contrapõe à sociedade extremamente excludente que se evidencia
nos dias de hoje.
43
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conhecimento com sentido teórico e prático, contextualização, edificação e
organização dos saberes, capacidades e aptidões, trabalho em equipe, dissolução
das dificuldades que surgem no processo ensino/aprendizado, concretização de
concepções que transformam conceitos em implicações. São apenas um pouco da
amostra de considerações positivas confirmadas quando nos voltamos a um evento
dirigido na área educacional. Em seu cerne, os eventos dirigidos são estratégias
didático/pedagógicas para ensinar e aprender Filosofia principalmente na prática.
Contudo, não se trata exclusivamente de fazer por fazer, livre de discernimentos de
opções claras e distintas, técnicas, finalidades educativas, disposição para o
“orientar” e uma assistência sensata. É imprescindível ponderar naquilo que se
presta o intento, preparar o que se refletiu e discorrer sobre aquilo que fora feito.
Aquilo que buscamos com as práticas pedagógicas dirigidas no Ensino de Filosofia é
o exercício de um caráter consciente perante a realidade educacional que se quer
transformar e dos saberes e disposições que se pretende conquistar e transmitir
dentro do amplo processo de Ensino e Aprendizado voltado à Filosofia.
Assim sendo, notamos que os subsídios metodológicos funcionais num
evento dirigido como a Olimpíada de Filosofia do Estado de São Paulo nos
consentem antecipar que, ao invés de termos nossos alunos deixando uma
instituição de ensino básico com a fantasia de apresentarem apenas aquilo que fora
estudado em exposições pedagógicas tradicionais, contaremos com estudantes que
degustaram de conjunturas do conhecimento filosófico intensamente expressivo em
suas breves existências. Caso eles sintam a ausência de algum contexto filosófico,
conseguirão localizá-lo e perceber quais procedimentos terão de realizar para
absorvê-lo. Apenas variando nossas práticas em sala de aula no que se refere à
Filosofia, poderemos cunhar uma geração de educandos com o apropriado encanto
na investigação do saber filosófico, com a ciência fulgente de que o papel de instruirse não se finda quando se afastam de uma unidade escolar e que permanecerão
continuamente prontos para encarar novos subterfúgios que os acometerão.
44
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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habilidades; eixos temáticos-históricos e transversalidade – São Paulo, SP:
Moderna, 2012.
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2012.
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sociologieinstituantlareligion de l’humanité.v. IV, Paris: SociétéPositiviste, 1929.
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FRANCA, Leonel. O método pedagógico dos jesuítas. Rio de Janeiro: Agir, 1952.
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL – Disponível em:
www.portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf
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de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938-1950.
MARQUES, M. O. Conhecimento e educação. Ijuí: Unijuí, 1988.
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REZENDE, A. M ,org.iniciação teórica e prática às ciências da educação. Rio de
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RODRIGO, Lidia Maria. Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino
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SAVIANI, D. Escola e democracia. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1985.
SEVERINO, A. J. Educação, ideologia e contra ideologia. São Paulo: EPU, 1986.
45
TOYSHIMA, Ana Maria da Silva; COSTA, Célio Juvenal. O RatioStudiorum e seus
processos
pedagógicos.
UEM,
Maringá,
2012
–
Disponível
em:
http://www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2012/trabalhos/co_05/104.pdf
Acesso em: 20/01/2015.
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