Postal do Algarve ID: 46167603 15-02-2013 Tiragem: 9420 Pág: 23 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 30,63 x 20,54 cm² Âmbito: Regional Corte: 1 de 1 Empreendedorismo em tempos de austeridade Dinis Caetano Professor Assistente Convidado na Universidade do Algarve A experiência de 12 anos enquanto director duma incubadora de empresas bem-sucedida e o meu entusiasmo pelo empreendedorismo, que não é de agora, desinstalam-me da minha zona de conforto e instigam-me a pensar e reflectir sobre o meu país e a absoluta necessidade de rasgar novos horizontes. Perante o primado dos mer- cados duma economia capitalista desregrada, a ditadura do défice e da dívida públicas que cresceram desmesuradamente, e a consequente multiplicação dos cortes orçamentais, está patente um problema dramático na sociedade portuguesa: o estigma do desemprego. Desemprego estrutural, desemprego jovem, desemprego de longa duração, que, em muitos casos, representa desespero e falta de esperança num futuro melhor. A austeridade, por si só, não é solução para os problemas do país, pelo que importa relançar a economia através de uma agenda para o crescimento económico, assente na captação de investimento estrangeiro, desenvolvimento de empresas produtoras de bens transacionáveis e de base tecnológica, substituição de importações e promoção das exportações. É neste contexto, que o empreendedorismo é cada vez mais reconhecido como importante factor de crescimen to económico. Empreendedorismo que não é uma “moda”, como muitos o defendem, qual panaceia para os problemas da economia, baseado num esforço de última hora, mas antes uma estratégia definida e consolidada no tempo; empreendedorismo que não se trata duma mudança imposta por decreto mas duma atitude intrínseca do indivíduo (que começa ou deve começar desde tenra idade), que deve repercutir-se nas organizações; empreendedorismo que não é visto apenas como um talento inato e providencial, mas sobretudo como disciplina que pode ser aprendida e ensinada como defendeu Peter Drucker (1993). Em resumo, não se trata apenas de empreendedorismo como um fim mas de empreendedorismo como um instrumento de Estratégia, Liderança, Organização, conceitos e práticas de que Portugal e os portugueses estão tão necessitados. Antes de mais, o empreendedorismo é uma decisão, uma vocação, uma oportunidade, uma necessidade, uma atitude, tão mais postas em evidência quando em tempos de austeridade. O empreen- dedorismo é tudo isso e muito mais. O indivíduo pode ser empreendedor por conta própria ou por conta de outrem, seja criando empresas e negócios, geradores de emprego e de riqueza, seja fazendo a diferença na organização em que trabalha, no designado empreendedorismo corpora- tivo. Pode criar o seu próprio emprego em alternativa ao desemprego ou desenvolver um projecto de empreendedorismo social. Em todo o caso, empreendedor é sempre alguém que se arrisca e cria algo de novo. Porque acredito que há mais vida para além da crise, porque acredito num Portugal com mais empreendedorismo e inovação, com mais futuro, por mim não me vou resignar. Convido-o a meter mãos à obra, a rasgar novos horizontes, a fazer acontecer a esperança, mesmo que as evidências não joguem a nosso favor.