RESUMO PARA SEGUNDA PROVA, 2ª CHAMADA II E RECUPERAÇÃO DO 2º TRIMESTRE 2013 – SOCIOLOGIA: PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO Prezados alunos e alunas, conforme informei, aqui estão as minhas considerações a respeito do assunto da Unidade 8, Volume II. Não esqueçam de olhar (e conferir) o exercícios (Atividades Sociológicas, páginas 30-32), cujo Gabarito segue abaixo: 1 (Corretas, 02+04= 06); 2 (E); 3 (B); 4 (01+32+64= 97); 5 (D); 6 D); 7 (C); 8 (D); 9 (02+04= 06); 10 (E); 11 (A); Bons estudos a todos e todas e não se esqueçam de que o Resumo é tão somente uma ajuda, mas não substitui a Apostila e apontamentos de aulas. SOCIOLOGIA: APOSTILA II, UNIDADE 8, PÁGINAS 24-29. O Capítulo 8, em grande parte, é um “repeteco” dos Capítulos 6 e 7, acrescentando apenas alguns detalhes ao que já constava nos assuntos daqueles. “SOCIALISMO, VALORES E SISTEMA SOCIAL” O SOCIALISMO NA EUROPA O século XIX, na Europa, marca o acirramento de disputas entre operários e empresários da indústria capitalista (conflito entre empregados e patrões). Daí se segue que em vários países europeus, como Bélgica, Alemanha, Inglaterra, França, surgem tentativas de formar uma sociedade socialista, tendo por princípio as ideias de Karl Marx e Friedrich Engels, os principais teóricos da doutrina socialista-comunista. Diferentemente de Marx e Engels, outros dois pensadores também procuram respostas, trata-se de Max Weber e de Émile Durkheim. Esses três clássicos puseram-se a pensar o socialismo sob diferentes perspectivas, como se pode ler no resumo abaixo. Como informei, uma boa parte desses problemas já constavam nos capítulos anteriores da Apostila II. MARX e ENGELS, (páginas 24-25) Havia já então na Europa algumas doutrinas sobre uma possível sociedade socialista, cujos pressupostos Marx e Engels consideraram utópicos, são os tais “socialistas utópicos” (veja p. 24). Contra o socialismo utópico e que, portanto na perspectiva de Karl Heinrich Marx e Friedrich Engels, seria fraco demais para enfrentar a robustez, a violência e a opressão presentes pelo Capital, eles propõem o “socialismo científico” (p. 24). Para Marx e Engels, o capitalismo é formado pela Luta de Classes e pelo antagonismo (oposição) dos proletários em relação aos detentores de capital (Patrões e respectivos meios de produção), enfim, a propriedade privada. Marx profetizou que o capitalismo entraria em colapso e que o Socialismo/Comunismo seria uma consequência inevitável àquele sistema econômico. O capitalismo, então, é um sistema contraditório que deverá ser sucedido inevitavelmente pelo Socialismo/Comunismo. Classes Sociais, Propriedade Privada e Estado devem ser superados, isto é, extintos. Dito de outro modo, a Propriedade Privada deve deixar de existir. Isso porque o capitalismo outra coisa não é senão a exploração dos trabalhadores pela Alienação 1 que os Capitalistas (diga-se, Propriedade Privada) fazem por meio da Ideologia. A ideologia gera Alienação social pois, conforme Marx, por meio dela os trabalhadores perdem sua consciência de classe e não percebam o processo de 1 Conforme Marx e Engels, Alienação é a perda que o proletário tem de sua consciência como trabalhador e produtor dos bens matérias que geram lucros ao capitalista. Assim, ele “vende” (aliena) sua força de trabalho ao capitalista em troca do salário e não se reconhece como sujeito histórico e principal agente do sistema produtivo. Ver também “Conceitos Sociológicos”, Apostila II Positivo, 2013, p. 28. exploração que sobre eles e por meio deles. Para acabar com essa situação Marx e Engels propõem o Comunismo, que se dará por duas etapas distintas: 1ª) Socialismo: Primeira etapa em que os trabalhadores, depois de devidamente organizados, socializariam os Meios de Produção. Nessa etapa ainda haveria Classes e Estado, mas os Meios de Produção estariam na mão de quem produz a riqueza, os trabalhadores - (Desalienar a classe trabalhadora). A essa etapa Marx e Engels denominaram Ditadura do Proletariado, que só seria possível pela organização dos trabalhadores e pela Revolução Social. Socializar os Meios de Produção (Terra e Máquinas) significa primeiramente extinguir a Propriedade Privada ou então passa-la aos domínios da classe trabalhadora; 2ª) Comunismo: etapa posterior à instauração da Ditadura do Proletariado, na qual as Classes e o Estado finalmente estariam superados (extintos; obsoletos). Para Marx, o Comunismo liberta tanto opressores quanto oprimidos (patrões e empregados). Não haverá igualdade enquanto houver Propriedade Privada, isto é, Capital (Meios de Produção) na mão de apenas alguns, que dele auferem lucros fabulosos (mais-valia). Desse modo, o Estado e a Justiça só representam a classe de “proprietários de capital”. Por essa razão, comunismo significa abolição completa do Estado Burguês, Socialização dos Meios de Produção e, consequentemente, fim da Propriedade Privada. Marx imaginou que essa seria uma consequência natural e lógica do processo histórico que se iniciou com a Revolução Industrial. Sobre isso, Marx é fatalista e determinista, o que sempre foi motivo de debates e controvérsias entre seus defensores e opositores. WEBER, página 26. Max Weber, porém vai em outra direção. Embora concorde com Marx que o Capitalismo seja opressor e injusto, para ele nada há que indique ser o Socialismo e o Comunismo uma consequência lógica e natural do Capitalismo. Nem mesmo aceitou a possibilidade de existir uma sociedade comunista e menos ainda uma sociedade sem Estado. E mesmo que vier a assim acontecer, isso não significa que os conflitos acabariam. Weber reconhece que há antagonismos entre trabalhadores e proprietários, mas como acabar com o Estado, por exemplo? E uma sociedade comunista, ainda que possível, não teria Estado? Como funcionaria? Como poderia funcionar? Para Weber, um socialismo científico, como queriam Marx e Engels, seria apenas uma economia coletivista (ver quadro explicativo da página 26). Para Weber, o que orienta as sociedades atuais é a capacidade racional de organização – que ele chama “racionalização”. Vivemos em um mundo complexo, tecnológico, industrial, com relações sociais muito imbricadas, complexas, prolixas. Weber considera ingênua e simplista a solução de Marx. Ora, para Weber, o Estado é justamente uma necessidade burocrática para organizar a complexidade das sociedades modernas – que gera a “burocratização” – o poder dos tecnocratas. Dizendo de outro modo, o Estado é regido por um corpo de funcionários agindo de acordo com determinadas prerrogativas definidas pelas autoridades competentes. Um socialismo, como Marx queria, seria tão burocrático (ou até mais) do que o capitalismo. O Estado não é uma figura só do capitalismo, mas do desenvolvimento burocrático, técnico e científico das sociedades atuais, diz Weber. O Estado é Racionalização de nossas ações. Para ele, é possível parcerias entre poder público e o setor privado. As funções do Estado são as de garantir competitividade entre empresários. Vê se aqui a visão liberal de Weber.2 A competição entre empresários não acarreta destruição do capitalismo, mas bem ao contrário, a competição traz novos ares, dinamiza a economia e permite novos investimentos. O lucro, a mais-valia de Marx, não é só negativo. O lucro permite criar rendas e possibilidades que um sistema estatizante suprimiria. Weber afirma que o Estado não tem como ser extinto porque ele é a razão de ser das economias modernas, industrializadas e altamente complexas (justiça, sindicatos, escolas, partidos políticos, bancos). Seja de modo socialista ou capitalista, sempre haverá o Estado como aparato burocrático e 2 Uma das principais características do Liberalismo é justamente a Liberdade Econômica, a livre concorrência e a liberdade individual, como se pode ver em autores como John Locke, Stuart Mill, Adam Smith, Diderot e outros. Os marxistas, via de regra, sempre acusaram e ainda acusam Weber de ser burguês e um defensor do capitalismo. Weber atacou Marx e os marxistas por achar que querer uma sociedade sem Estado, sem Racionalização Burocrática, enfim, sem ter quem decida, é uma ingenuidade de quem estudou pouco as evoluções e relações econômicas das sociedades humanas. técnico para administrar os problemas públicos. É necessário que haja autoridade e pessoas que aceitam tal autoridade. O Estado não é uma figura estranha e alheia às vontades das pessoas, mas expressão da vontade das pessoas. O Estado é regido por autoridades que encontram seu poder justamente ancorado na sociedade (empresários e trabalhadores) que lhe delega esse poder. É preciso entender o que é “poder” para Weber. Para melhor entender, reveja o capítulo 7, página 20 (O Estado em Weber), onde aparece melhor explicado como Weber interpreta Estado e as Formas de Poder (Carismática, Tradicional e Racional-Legal). Justamente a forma de Poder denominada Racional-Legal corresponde aos anseios e prerrogativas do Estado moderno, do Estado organizado racionalmente pelos tecnocratas e burocratas. Poder, em Weber é aceitação de regras por parte de um grupo. As pessoas entendem que um princípio de autoridade e organização é imprescindível; daí se segue, na visão weberiana, que aceitam obedecer a determinados princípios de autoridade (reveja página 20). DURKHEIM, página 27-28 Émile Durkheim vê as coisas sob uma ótica ainda diferente: individualismo e moralidade. Para ele, se houvesse socialismo, ele deveria ser apenas uma forma de amenizar (diminuir) as distorções e abusos entre empregados e empregadores causadas pelo individualismo que, para ele, é um problema de ordem moral. Será? O individualismo deixa as sociedades sem harmonia. Daí se segue, pois, que o socialismo seria apenas uma questão de moralidade e de ética que tornasse o sistema social mais solidário e harmônico. O socialismo, como o vê, seria uma doutrina moral, mas não um sistema político e social (p. 27). O socialismo deveria ser estudado como Fato Social (ver explicação na nota 3, abaixo), como um fenômeno do mesmo matiz de problemas como, por exemplo, desemprego, pobreza, educação, qualidade de vida, trabalho, grupos sociais e outros. Mas jamais um sistema político em que trabalhadores estivessem no poder.3 Era desnecessário que os trabalhadores detivessem o poder. O poder nunca está de um lado só. Daí que se segue que, mesmo que o detivessem, nada indica, conforme esse autor, que as coisas ficariam, só por isso, melhores, como se pode ler na passagem do texto de Nossa Apostila, p. 27, que agora destaco: “Para o mestre francês, antes de ser um sistema econômico ou político, o socialismo apresentava-se essencialmente como uma questão de reforma moral. Dentro de sua linguagem sociológica, era um problema de mudanças nas regras de comportamento coletivo. Dizia respeito à coletividade, à sociedade, não estando restrito a um único partido político, à classe operária ou a uma única ideologia”. MINHAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Durkheim é herdeiro da tradição iluminista e pensa sob um grande círculo moral proveniente daquela visão de mundo, isto é, pensa que há regras econômicas e morais válidas universalmente. Durkheim desconhecia, pelo menos aparentemente, as questões que a historiografia e a antropologia trariam mais tarde, ou seja, mostrar que a trajetória humana está longe ser unânime e igual em todos os lugares. A cultura não pode ser enquadrada em moldes únicos e universais, como os iluministas apregoavam. Aqui Weber foi bem mais incisivo e importante. Pelo menos em minha visão, que é apenas a minha visão – a visão de um professor de filosofia cada dia mais torto e capenga.4 Toda filosofia iluminista foi liberal, no sentido de defender a Propriedade Privada, exceto Rousseau, o que também não significa que Rousseau tenha proposto um socialismo/comunismo em termos de “ditadura do proletariado”, como querem Marx e Engels. Para Durkheim, a ética é universal (no sentido de Kant) e também a forma de organizar a economia o deve ser do mesmo modo. Há, conforme os iluministas franceses uma regra cultural universal que deve ser desenvolvida e instituída para o mundo todo por meio do aperfeiçoamento moral das pessoas. Então basta resolver as questões conflituosas, ou seja, 3 Durkheim é adepto da doutrina positivista, que pretendia estudar problemas sociais como Fatos, como coisas, por meio de um padrão técnico e mensurador (exatidão e certeza) a exemplo do que ocorria com as ciências da natureza no século XIX. Essa, como já vimos, é a principal característica do Positivismo, e procede das ciências exatas que podem medir tecnicamente seus objetos por meio de “Leis Naturais”. 4 Falo aqui de minha labirintite e do meu problema ósseo no pé direito. tornar o capitalismo mais harmônico, mas solidário e a situação estaria resolvida. Ou melhor, para Durkheim, essa é a solução. Eu, meu alunos, se me permitem uma pequena observação, acho a solução de Durkheim cômoda, no sentido de querer evitar polêmicas. Não há em suas teses uma rejeição do capitalismo, como em Marx. Também Weber, como dito antes, não rejeita o capitalismo e nem crê que seja possível uma sociedade complexa, sem Estado e sem a Burocratização e a Racionalização para mantê-lo funcionando. Para Weber, a sociedade moderna, industrial e tecnológica, não têm como evitar hierarquias e burocracias porque a sociedade precisa estar organizada de algum modo para funcionar. Em outras palavras, não há como evitar o poder e a obrigação de ter quem mande e execute. Socialismo, conforme ele, apenas mudaria o poder de lugar: se antes os capitalistas mandavam, no socialismo quem mandaria seria um Partido Centralizado e, certamente, tão poderoso, tão burocratizado, tão racionalizado, se não ainda mais, que os empreendimentos ditos capitalistas. A história, até o presente momento, parece ter dado razão a Weber. “Se tens um coração de ferro, sorte tua. O meu é de carne e sangra todo dia”. José Saramago Indaial, 27.07.2013