a contribuição da ciência geográfica na formação social dos sujeitos

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A CONTRIBUIÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA NA FORMAÇÃO SOCIAL
DOS SUJEITOS DO CAMPO
Lucinéia Lourenzi
Universidade Federal de Santa Maria-UFSM
[email protected]
João Silvano Zanon
Universidade Federal de Santa Maria-UFSM
[email protected]
Pamela Fleck dos Santos
Universidade Federal de Santa Maria-UFSM
[email protected]
Resumo
O presente trabalho possui o enfoque na educação do campo e na formação dos sujeitos sociais
do meio rural e a sua relação com a ciência geográfica. O trabalho também promove uma
reflexão acerca de como o ensino de geografia é ministrado nas escolas do meio rural e a
importância do seu conhecimento na articulação e construção de uma educação verdadeiramente
do campo. Outro aspecto abordado será a reflexão teórico-conceitual sobre a Educação do
Campo no cenário das políticas públicas brasileiras, já que a educação do campo possuí uma
trajetória histórica relevante, que precisa ser mais estudada, valorizada e compreendida. Este
estudo também faz-se importante no sentido de verificar até que ponto o ensino de Geografia
pode contribuir na formação de cidadãos e na continuidade de um ensino popular aproximando
a realidade local do sujeito do campo a educação.
Palavras chave: Educação do campo. Ciência geográfica. Lugar.
Introdução
A Educação como é de conhecimento geral, deve ser garantida como direito a toda
população independente desta residir em um meio rural ou urbano. É direito garantido
por Lei que os povos do campo tenham acesso a educação pública gratuita e universal
em todos os níveis de modalidade. Construir reflexões acerca do campo, seus sujeitos, e
mais precisamente, sobre a Educação do Campo significa que estamos mergulhando no
debate político, ideológico e teórico (OLIVEIRA, 2004). A escola do campo deve se
aproximar da realidade dos sujeitos que vivem no campo, a fim de se tornar um local de
produção e reprodução de dinâmicas capazes de atender as necessidades locais. A
escola precisa preparar o individuo para a autonomia pessoal e também para a inserção
na comunidade e emancipação social e pessoal, ela não tem um fim em si mesma, mas
sim esta a serviço da comunidade.
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A educação do campo ao longo de sua história vem se caracterizando como um espaço
de precariedade e descasos especialmente pela ausência de políticas públicas para as
populações locais. Na grande maioria das escolas do campo, ocorre um distanciamento
entre as dinâmicas produzidas e a realidade do sujeito que vive no campo, esse
desencontro ocorre principalmente pela histórica valorização das atividades do meio
urbano, marginalizando o sujeito do campo.
Este panorama “urbanocêntrico” condicionou a evolução da história da educação
brasileira deixando como herança um quadro de total precariedade no funcionamento
das escolas do campo, tanto no que diz respeito a estrutura física como humana. Muitas
dessas escolas estão apenas localizadas no meio rural mas não possuem uma educação
com enfoque a realidade do campo. De forma geral a educação possui muitos
problemas, esses problemas não estão localizados apenas no meio rural, mas neste a
situação é mais grave, pois em muitas vezes não se leva em consideração a realidade
sócio ambiental onde a escola está inserida.
A educação no espaço rural muitas vezes acaba por priorizar uma educação com saberes
e praticas urbanas, sobrepondo o estudo do lugar, sujeitos e saberes.
Essa realidade é percebida no espaço rural, e nesta perspectiva, se inserem
os sujeitos do campo, como o agricultor familiar, que não consegue
acompanhar a evolução tecnológica que a globalização lhe confere. Como
resultado, muitos desses agricultores acabam por abandonar o campo e
buscam a cidade pensando ser essa a alternativa mais viável para o futuro. É
importante que se diga, que neste processo, a escola não teve grande
importância, e muitas vezes, estimulou o sentimento de que o campo é
atrasado, e que somente as pessoas que moram na cidade podem usufruir das
comodidades e do confronto proporcionado pela evolução do processo
urbano. Portanto, a realidade vivida pelo homem do campo, seus saberes,
não são valorizados na comunidade rural, como não o são na escola que
educa esses sujeitos. (MOURA, 2009, p.12)
Dessa forma, o professor que atua em uma escola do campo encontra sérias dificuldades
de compreender, valorizar e dinamizar a realidade local, e principalmente em preservar
os saberes tradicionais, pois muitos desses professores são sujeitos urbanos com
formação urbana que apenas atuam no meio rural. Nos últimos anos muito tem se
discutido a respeito da educação do/no campo para que a mesma passe a ter
características próprias deixando de ser apenas uma “cópia” de escolas urbanas. O papel
da escola vai muito alem da transmissão exclusiva de conhecimento, mas por
intermédio de praticas particulares de ensino e valores esses conhecimentos são
socializados e reproduzidos, a escola deve priorizar a troca de saberes tendo presente as
relações do homem em sociedade.
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Desta forma, e para uma melhor compreensão do problema, parte-se para a
análise de uma importante categoria espacial: o lugar. É por meio da
compreensão e do conhecimento do lugar, que os educadores das escolas
rurais poderão compor suas práticas educativas, de forma a respeitar e
apreender sobre os saberes sociais das comunidades envolvidas. (MOURA,
2009. p.13)
Para refletirmos a respeito da educação do campo e do uso da ciência geográfica na
formação dos sujeitos sociais do campo temos que começar a entender quem são esses
sujeitos, qual a sua realidade e principalmente qual o papel que a escola e a Geografia
possuem perante a formação desses sujeitos e na construção do saber social. “O saber
social é um saber gestado no cotidiano do trabalho e da luta camponesa, é a expressão
concreta da consciência desse grupo social; um saber que é útil ao trabalho, aos
enfrentamentos vividos cotidianamente pelos camponeses” (DAMASCENO, 1993,
p.55). Para isso deve-se levar em conta a fonte de conhecimento da vida cotidiana
desses sujeitos.
As comunidades em geral, tem a escola como um referencial de construção de
conhecimento. Dessa forma, este trabalho tem por objetivo geral fazer uma reflexão a
cerca da educação do campo no contexto do local, enfatizando o uso da ciência
geográfica na formação dos sujeitos sociais do campo, bem como refletir acerca da
importância da escola rural para o desenvolvimento cultural, social e produtivo da
comunidade escolar, analisando também a dinâmica dos processos educacionais das
escolas a partir de seus sujeitos. Este estudo também faz-se importante no sentido de
verificar de que forma o ensino de Geografia pode contribuir na formação de cidadãos e
na continuidade de um ensino popular aproximando a realidade local do sujeito do
campo a educação.
O método utilizado para a realização deste trabalho foi o dialético, pois este permite que
se faça uma melhor contextualização das diferentes proporções da realidade da
comunidade escolar, bem como suas relações com os saberes sociais presentes no
contexto do lugar, permeando tanto a pratica como a teoria.
Um resgate da educação do campo
A educação brasileira reflete o momento histórico pelo qual passa a nossa sociedade,
constituindo-se como um instrumento de grande importância para a sociedade. A
educação do campo foi historicamente caracterizada como um espaço de precariedade,
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de descaso especialmente pela falta de apoio das instituições governamentais e pela
ausência de políticas públicas para a população rural.
A compreensão das transformações que acontecem no meio rural brasileiro deve passar
necessariamente pela analise e observação do processo histórico do qual se originou o
rural enquanto espaço de produção e reprodução social, sendo este alem de um espaço
produtivo, um lugar de vida e interação social. É importante ressaltar que a concepção
que vem sendo empregada de educação visivelmente desfavorece políticas que buscam
combater o analfabetismo, elevar a escolaridade dos sujeitos bem como sua cultura e
também seu padrão de vida.
A educação do campo tradicionalmente inferiorizada e caracterizada como um espaço
precário, onde o descaso especialmente pela ausência de políticas publica para as
populações ali residentes vem tomando outro rumo, hoje essa pratica educativa se
propõem a ser diferenciada, comprometendo-se com os interesses da comunidade local,
sendo uma educação de sentido prático e utilitário, abrangendo as necessidades das
escolas adaptadas à vida rural.
Essa falta de incentivo tem refletido na realidade dos pequenos agricultores, esses
sofrem com a ausência de estradas apropriadas para o escoamento de sua produção
agrícola; na falta de atendimento adequado a saúde; na falta de assistência técnica e
principalmente na falta de educação básica de qualidade e difícil acesso a educação de
nível superior.
A Educação do Campo nasceu como mobilização/pressão de movimentos
sociais por uma política educacional para comunidades camponesas: nasceu
da combinação das lutas dos Sem Terra pela implantação de escolas públicas
nas áreas de Reforma Agrária com as lutas de resistência de inúmeras
organizações e comunidades camponesas para não perder suas escolas, suas
experiências de educação, suas comunidades, seu território, sua identidade.
(CALDART, 2007)
A escola do campo deve trabalhar no sentido de dar condições do homem manter-se no
campo e deve prepará-lo para isso, percebe-se, cada vez mais, a importância em não
formar os alunos apenas para os sistemas produtivos, mas sim cidadãos comprometidos
com problemática referente à modernização da agricultura e consequente crise social,
ambiental e econômica como um todo. O território do campo é a base fundamental de
sustentação da Educação do Campo, e este deve ser compreendido para muito além de
um simples espaço de produção agrícola. O campo é território de produção de vida.
Sobre isso Wiznieswsky (2010) nos diz que:
[...] A escola no meio rural é muito mais que um espaço de escolarização, é,
em muitos casos, a referência para a comunidade, deve, então, contar com
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professores que entendam e valorizem esse espaço. Fica clara a necessidade
de formar professores para aturar nas escolas do campo, sem seguir
produzindo o modelo da escola urbana. (WIZNIEWSKY, 2010, p.33)
O conceito de campo e de educação do campo, como um espaço de vida e de produção
de conhecimento, possibilita a leitura e políticas mais amplas do que os simples
conceitos de educação e de espaço rural, este ultimo visto apenas como espaço de
produção de mercadorias. A educação do campo vem com a finalidade de
reterritorializar o conhecimento, buscando trazer a cidadania aos habitantes da área
rural, portanto a educação do campo, é uma educação construída junto com seus sujeitos
e a partir de suas necessidades.
Segundo Caldart (1995), ao elaborar uma proposta de educação do campo não significa
dicotomizá-la o deseja-se, isto sim, é trabalhar com as suas especificidades. O rural e o
urbano possuem formas de vida diferenciadas, sendo necessário um olhar pedagógico
também diferenciado como forma de respeito e valorização ao espaço agrário. À medida
que essas “diferenças” forem sendo trabalhadas torna-se mais acessível à superação dos
conflitos, extinguindo as discriminações e preconceitos próprios do ensino rural.
Conforme Caldart:
É a combinação entre estudo e trabalho, quer dizer que na ou através da
escola, todos os alunos desde as primeiras séries, devem ter a oportunidade
de realizar algum tipo de trabalho produtivo ou socialmente útil, como
forma de complementar a educação de sua personalidade e combinado com
o ensino da sala de aula (CALDART, 1995, p.8).
Uma das preocupações dos camponeses está no ato de planejar um ensino voltado para
o meio rural, pois “(...) a educação na realidade camponesa se expressa não apenas no
espaço escolar, mas nas diversas formas de manifestação do movimento camponês”
(Therrien, 1993, p.08). Uma estrutura curricular para o ensino rural vai muito mais além
do que simplesmente elaborar legislações, pois estas desde a década de 1930, sempre
foram pensadas em nível de papel, esbarraram na prática, porque tinham no seu bojo
determinações que não vinham ao encontro das expectativas do homem do campo,
provocando ao longo dos anos estudos e pesquisas, para elucidar as reais condições de
precariedades pelas quais vêm passando as escolas rurais.
O ensino da geografia a partir da realidade do campo
A Geografia, enquanto ciência despida de preconceitos, e disciplina que estuda as
interações da sociedade e natureza, as relações sócio-espaciais, têm um importante
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papel na compreensão das transformações sociais, na explicação da organização dos
homens na sociedade, afetando a produção do espaço de forma desigual. O ensino da
Geografia nas escolas de forma geral vem sendo muito baseado na descrição física dos
lugares, ignorando muitas vezes os fatores econômicos, sócias, políticos e culturais que
fazem parte da formação e caracterização de uma sociedade, sendo assim, essa forma de
ensino vem contribuindo significativamente para a formação de sujeitos submissos e
descomprometidos socialmente.
A educação exerce um papel preponderantes na criação de uma nova cultura, sendo
privilegiada as formas de educação que não sejam apenas meros instrumentos de
reprodução dos valores sociais dominantes, mas a educação deve reconhecer e valorizar
a sua força, a educação do campo prima por privilegiar o próprio campesinato, como
sujeito no processo de re/criação da educação do campo.
Sobre o processo de construção do conhecimento Caldart (2010) nos diz que:
Faz parte do processo de construção do novo desenho de escola e do
exercício da práxis uma reflexão epistemológica ou sobre como as praticas
educativas escolares devem trabalhar com a dimensão do conhecimento, e
como essa dimensão integra o processo educativo mais amplo: que
conhecimentos, que modos de produção do conhecimento, que forma de
trabalho pedagógico para garantir o movimento entre apropriação e
produção do conhecimento e o engate entre conhecimento e processo
formativo como um todo: que conhecimentos ajudam nos processos de
formação do ser humano, na formação de sujeitos coletivos, nas lutas sociais
emancipatórias; que conhecimentos se produzem nestes processos; que
concepção de conhecimento, que matriz teórica de produção do
conhecimento, de ciência, de pesquisa, nos deve servir como referência.
(CALDART, 2010, p.137)
O ensino da Geografia nas escolas do campo deve levar ao conhecimento dos
trabalhadores do campo, a comunidade escolar a informação a respeito dos processos de
construção do território e o papel que a sociedade exerce na construção da mesma, e a
compreensão da Geografia como disciplina contribui e muito para a formação de um
ensino critico que caminha ao encontro dos reais interesses da comunidade.
A Geografia, enquanto disciplina, permaneceu apática por muito tempo e
ainda hoje a Geografia ensinada em nossas escolas é acrítica e a histórica,
uma vez que desconsidera a importância das relações sociais na
configuração do território. Enquanto isso, os movimentos sociais populares
questionam a ordem econômica, social e política; e surgem constantemente
novas iniciativas de educação popular que põem em evidência a necessidade
de um novo ensino. (BUTH, 2003, p.3)
Atualmente objetiva-se a formação de um indivíduo consciente, que contemple a
totalidade das relações de poder que se manifestam no espaço vivido cotidianamente,
essa realidade pode variar dependendo de onde o aluno mora, não precisamos de uma
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Geografia que apenas descreva a paisagem, mas sim de uma Geografia que esclareça os
fatores que contribuíram para a construção e formação dessa paisagem. O espaço vivido
do estudante deve ser trabalhado para criar um vinculo estreito entre a ciência e o
cotidiano do mesmo, este é uma categoria que acentua a constituição atual dos lugares,
dedicando uma atenção especial a redes de valores e significações materiais e afetivas.
O espaço vivido deve ser compreendido como um espaço de vida, cuja constituição e
representação se dá pelos sujeitos e atores sociais que circulam por este espaço. O
espaço não é uma ideia abstrata, ou um conjunto complexo de ideias, mas sim um lugar
estruturado, é resultado concreto de um processo histórico possuindo uma dimensão real
e física. A geografia toma o espaço como uma dimensão da experiência humana dos
lugares. A ciência geográfica ao explicar a concepção de espaço construído enquanto
resultado da ação antrópica, é abordada por KAERCHER et al (2000, p.85):
A geografia ao falar das coisas do mundo da vida, fala dos espaços
construídos pelos homens, que em sua trajetória marcaram os lugares com
os resultados da luta pela sobrevivência. A tarefa da geografia na análise da
sociedade é exatamente debruçar-se sobre a realidade com o olhar espacial.
O ensino da Geografia bem como a sociedade é dinâmico, esta em constante
transformação e adaptação, por isso é de fundamental importância que o aluno consiga
compreender que existem diferentes lugares, culturas, saberes, e relações sociais. É
necessário que ao abordar a Geografia em uma escola do campo, seja proposta uma
sistematização das experiências do cotidiano dos educandos, de modo que a escola e o
professor possa contribuir para a elucidação das questões inerentes a construção e
produção do conhecimento e do saber geográfico. Produzir é gerar relações sociais de
produção.
A Geografia contribui para o processo de transformação da sociedade, pois como
ciência e como disciplina estabelece fundamentos para o discurso do comprometimento
social em busca de uma sociedade melhor e adaptada a necessidade real do aluno e de
toda a comunidade escolar. A Geografia contribui também no sentido de que o
educando se perceba e se reconheça como participante do espaço em que vive, ou seja,
como ser social e histórico inserido no processo de construção de sua própria realidade.
O conhecimento geográfico é construído através de uma união de saberes sociais e
técnicas que promovem a união do lugar ao mundo. A geográfica como ciência estuda o
lugar, o espaço, e as transformações que ai ocorrem a partir da ação e do trabalho do
homem e de sua evolução que
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[...]marca as etapas do processo de trabalho e das relações sociais, marca
também, mas mudanças verificadas no espaço geográfico, tanto
morfologicamente, quanto do ponto de vista das funções e dos processos.
(SANTOS, 1997, p.77)
A geografia deve promover juntamente com a escola e a comunidade escolar, e com o
auxilio das demais disciplinas, projetos que aproximem o sujeito do campo, sua
comunidade e a escola. Os educadores do campo tem papel fundamental nessa
aproximação pois é a ação deles como educadores que pode possibilitar as dinâmicas
pedagógicas que resgatam a cultura e o significado do quão importante é o campo.
O professor de Geografia deve estar formado em uma perspectiva crítica, uma visão
política da realidade para que possa de forma efetiva promover a construção e
reconstrução do conhecimento juntamente com a participação dos alunos e de todos
aqueles envolvidos na formação e no processo de educação dos mesmos.
Costa (2010) nos fala que:
O desafio atual para o professor é compreender a importância do seu papel,
na sociedade capitalista, ele precisa de uma formação com nova práxis, em
que ele possa desenvolver junto aos seus alunos uma educação crítica,
reflexiva, emancipatória e cidadã. (COSTA, 2010, p.02)
Neste sentido podemos perceber que o estudo da Geografia não pode ser neutro, pois
esta é uma ciência que não fica alheia a realidade, o professor como veiculo difusor de
ideias e formador de opiniões deve criar meios capazes de promover uma total
integração, para que todos tenham a possibilidade de crescer intelectualmente juntos. O
conhecimento só se faz verdadeiro quando é vivenciado, pois a vivência influencia e
contagia os alunos a discutir, interagir, também influencia nas relações interpessoais.
A educação pode modificar visivelmente uma sociedade, o processo educativo envolve
alem dos professores e alunos toda a comunidade escolar, pois todos são sujeitos
pensantes e atuantes, e como tal devem participar da construção de uma educação do
campo capaz de atender as necessidade e peculiaridades locais, tornando assim a
educação do campo ainda mais significativa.
A respeito disso Paulo Freire afirma que :
Educador que, ensinando geografia, “castra” a curiosidade do educando em
nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos tolhe a
liberdade do educando, a sua capacidade de aventurar-se. Tal qual quem
assume a ideologia fatalista embutida no discurso neoliberal. (FREIRE,
1999, p.63).
O professor da escola do campo deve atuar de forma mais efetiva não só aplicando o
conteúdo, mas sim dialogando as formas de conhecimento já existentes, pois hoje é
imprescindível que haja uma associação entre o conhecimento teórico e pratico, pois
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essas duas formas de conhecimento devem andar sempre juntas, nunca em separado,
pois o conhecimento cientifico complementa o conhecimento que os alunos trazem da
sua realidade.
Considerações Finais
Concebemos uma educação que forme o individuo para ser atuante na sociedade, deve
promover um sujeito critico e reflexivo. A proposta de uma educação do campo e de
uma Geografia caminhando de mãos dadas e voltados a formação do sujeito social do
campo surgiu com contradições marcantes, principalmente no que se referem a
injustiças sociais e agrárias, porém a Geografia tem muito a contribuir na formação
política, e critica do pequeno produtor rural, bem como para o entendimento das
relações sociais e espaciais que acontecem no cotidiano de cada aluno. É necessário que
a escola do campo e a Geografia, contemplem a preocupação em trabalhar os conteúdos
didáticos atrelados ao espaço vivido dos alunos, de modo a permitir que o aluno do
campo possa questionar, criticar e compreender o seu lugar no contexto global de
mudanças freqüentes.
O ensino da Geografia oportuniza o conhecimento e a compreensão do espaço rural, e
da comunidade em que a escola esta inserida. A colaboração da Geografia, ajuda na
transformação da escola em um espaço de produção de saberes, de transmissão de
experiências tanto para os alunos quanto para a escola e para a comunidade escolar,
vindo por intermédio disso quebrar o paradigma de que a escola é apenas um espaço de
transmissão de conhecimento. A articulação dos conteúdos de Geografia e seus
conceitos fundamentais com o espaço vivido do aluno tornam essa construção do
conhecimento mais duradoura e significativa. O cotidiano das escolas rurais possui
vários desafios a serem superados a fim de promover e proporcionar essa educação que
seja capaz de formar sujeitos sociais, sujeitos estes que atendam os desígnios
pedagógicos da educação do campo.
Neste contexto, a escola deve assumir o seu papel como elo integrador das trocas dos
saberes e técnicas que apontem para uma nova proposta de desenvolvimento: o
desenvolvimento rural sustentável. Porém a educação rural durante um longo período
não foi prioridade para as legislações educacionais, as políticas públicas não eram
elaboradas a fim de atender as necessidades do sujeito do campo, ao contrario, tinham
como objetivo a adaptação do rural as necessidade do modo de vida urbano. Acredita9
se que para uma escola rural formar cidadãos críticos e empenhados numa real
transformação social, primeiramente, é preciso que ela valorize o espaço agrário no seu
entorno e, sobretudo, respeite os saberes sociais acumulados historicamente pelos seus
sujeitos.
O professor de Geografia, enquanto sujeito de uma pratica social, esta de maneira geral
atuando dentro de uma linha reprodutora de conhecimento, o educador de uma escola do
campo necessita querer ir muito alem do que simplesmente impor aos alunos o seu
ponto de vista, ele precisa promover a construção coletiva do conhecimento a partir da
realidade em que os alunos estão inseridos. Na educação do campo devem ser
observadas essas identidades especificas de cada sujeito para que o educador possa se
inserir neste contexto de uma forma que já tenha pleno conhecimento da realidade com
a qual vai trabalhar.
O ensino da Geografia nas escolas do campo deve ter por finalidade a construção de um
saber, cujos agentes deverão ser os professores, a escola e a comunidade escolar,
promovendo o desenvolvimento da capacidade do aluno pensar criticamente o seu
espaço de vivencia e as suas experiências, da mesma forma que desenvolve-se no
educando a capacidade de compreender como se da a elaboração do saber social pelo
camponês, na sua pratica diária e social. Fica a certeza de que ainda a muito a se
desenvolver nas escolas do meio rural, a cerca da valorização da escola e da educação
do campo, visto que a cada dia é maior a sua responsabilidade em formar cidadãos
conscientes a respeito de sua importância para o meio ao qual esta inserido, e a
educação assume um papel de vital importância nesse contexto.
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