UFU – AGOSTO/2012 O preço do feijão / não cabe no poema. O preço/ do arroz/ não cabe no poema. Não cabem no poema o gás/ a luz o telefone/ a sonegação/ do leite/ da carne/ do açúcar / do pão / O funcionário público/ não cabe no poema/ com seu salário de fome/ sua vida fechada/ em arquivos./ Como não cabe no poema / o operário/ que esmerilha seu dia de aço/ e carvão / nas oficinas escuras/ — porque o poema, senhores,/ está fechado:/ “não há vagas”/ Só cabe no poema/ o homem sem estômago/ a mulher de nuvens/ a fruta sem preço/ O poema, senhores, /não fede/ nem cheira GULLAR, Ferreira. Não há vagas. In: Toda Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. p. 224. Ferreira Gullar é um poeta brasileiro que se destacou, entre outras coisas, por ter dado engajamento à sua poesia. Os versos acima fazem uma dura crítica a um tipo de sociedade. Essa crítica assemelha-se àquela que Marx fez ao idealismo hegeliano, que sugere a superação do modo de produção capitalista, por meio do método do materialismo histórico e dialético. Sintetize a crítica marxiana ao hegelianismo, utilizando, para tanto, o método de Marx e o poema de Gullar. Discorra sobre, pelo menos, cinco aspectos. Resolução: O poema realiza uma delimitação entre o que, naquele momento, na concepção poética brasileira, caberia ou não no espaço artístico. É então que demarca sua posição de engajamento na arte, em contraposição ao que parecia ser a visão anteriormente dominante. Passam a caber no poema problemas sociais, do cotidiano, decorrentes da estrutura de renda concentrada, enquanto antes estes não cabiam. Algo parecido é realizado por Marx quando se posiciona contrariamente ao idealismo alemão. Podemos partir, como primeiro aspecto a ser evidenciado em sua critica, de sua afirmação de que não é a consciência do homem que condiciona seu ser social mas, ao contrário, seu ser social que condiciona sua consciência. Esta perspectiva representa seu rompimento cabal com o idealismo. A partir daí, outro ponto importante pode ser elencado, consiste no fato de que toda filosofia anterior a Marx se preocupara em interpretar o mundo das mais diversas formas, quando para o autor, cabia agora, transformá-lo. É tal afirmação que nos conduz à noção de práxis. De acordo com Marx, apesar de a posição idealista ter um mérito, que é o de captar a realidade em sua atividade, ela só o faz tomando o real como mera abstração, e não em seu caráter concreto, o que pode ser tomado como uma terceira grande crítica. Decorre daí o quarto grande erro, que consiste em, a partir de um enfoque dado às concepções ideológicas, entendê-las como neutras, como é o caso do Estado para Hegel, instituição responsável pela consolidação da liberdade, Ao passo que Marx, partindo das condições materiais da produção da existência, consegue apreender o caráter ideológico das formas da superestrutura, e denunciar, por exemplo, o caráter classista das instituições políticas. Por último, mas não menos importante, como Marx não tem uma concepção teleológica, que compreende cada etapa da realidade como parte de uma totalidade orgânica que tende para algo, ele pode criticar tal concepção como uma visão que pode conduzir a uma tendência reacionária, no sentido de não se fazer a crítica a um determinado período exatamente por entendê-lo como parte necessária do todo do Absoluto. S O C I O L O G I A