O AVANÇO DO CAPITALISMO NO BRASIL E A CONSOLIDAÇÃO DE UMA CULTURA DE MASSA Renan Aparecido Alves Marcondes da Silva1, Cyro de Barros Rezende Filho2 1 Universidade de Taubaté/Departamento de Ciências Sociais e Letras, Rua São João, 41, Vila Santo Antonio – Tremembé – SP - CEP: 12120-000, [email protected] 2 Universidade de Taubaté/Núcleo de Pesquisa em História, Avenida Helvino de Moraes, 432 Apto. 12 Bloco 3, Vila São José- Taubaté-SP – CEP: 12070-450, [email protected] Resumo- O objetivo da pesquisa foi o de verificar o papel da cultura de massa na apropriação de eventos populares pelo Estado capitalista brasileiro, impulsionada pelo crescimento vertiginoso do capitalismo em meados da década de 1960. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica, com obras sobre economia brasileira e internacional, assim como literaturas especificas sobre relação economia-cultura, no sistema capitalista de produção. Os resultados preliminares apontam para uma apropriação cultural e mudança do significado da cultura popular pelo sistema capitalista, que em todo o globo possui as mesmas características e formas de dominação, ou seja, exploração do potencial turístico e econômico da cultura popular. Palavras-chave: Capitalismo, cultura de massa, cultura popular, apropriação cultural Área do Conhecimento: Ciências Humanas Introdução Metodologia A industrialização iniciada no governo de Getúlio Vargas, priorizada de maneira substancial no Plano de Metas de Juscelino, e consolidada nos anos da ditadura militar, cristalizou o sistema capitalista no Brasil. Por sua vez, esse sistema avançou por todos os ramos da sociedade, inclusive da cultura, contribuindo de maneira decisiva para a criação de uma verdadeira cultura de massa. A pesquisa baseou-se em levantamento bibliográfico com o foco nos temas principais: o crescimento econômico brasileiro a partir da década de 1930, a formação e a expansão de uma cultura de massa, e o papel do capitalismo na apropriação das festas populares. A presente pesquisa tem por objetivo caracterizar a formação da cultura de massa no Brasil, impulsionada pelo setor econômico, e as apropriações pela administração pública dos eventos populares, sempre com a prerrogativa da ampliação dos lucros. Vale ressaltar ainda, que esse artigo foi desenvolvido a partir de discussões e leituras incentivadas no curso de Especialização de Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo, da Universidade de Taubaté. Para a realização do presente trabalho, foi necessária a leitura de autores que interpretaram a economia brasileira no século XX, com o foco a partir da década de 1930, como João Mello e Fernando Novais (2005), autores do 9º capítulo do 4º volume da História da Vida Privada no Brasil, onde discutem de maneira clara, a consolidação do capitalismo no Brasil, impulsionado pelo crescimento vertiginoso da industrialização. Ainda na vertente econômica as referências de Cyro Rezende (1999, 2005) em suas obras, Economia Brasileira Contemporânea e História Econômica Geral foram vitais para o entendimento da economia mundial no século XX e seus reflexos na economia brasileira. Na questão da expansão da cultura de massa no Brasil, o autor Alfredo Bosi (2006) foi a principal referência em sua obra Dialética da Colonização. Também o estudioso Renato Ortiz (1994) com o livro Mundialização e cultura. E, finalmente, no que tange a apropriação capitalista em eventos populares, o principal teórico foi Canclini (1983, 2005) em As culturas populares no capitalismo e Cultura Híbridas. Vale ressaltar que as obras citadas acima, fazem parte do acervo pessoal do autor e co-autor da pesquisa. XV Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 Discussão Resultados O capitalismo no Brasil começou a ganhar impulso a partir da Era Vargas, que de maneira clara redirecionou a economia brasileira para a industrialização. No governo Juscelino (1956-60), as indústrias foram priorizadas, em especial a produção de bens duráveis. E finalmente, no governo militar, o capitalismo se consolida no Brasil de maneira substancial, a produção de bens duráveis encontra-se a todo vapor, as propagandas nos meios midiáticos começam a se desenvolver para gerar expectativas e necessidades nos consumidores. No governo militar foi realizado a construção de grandes obras públicas, e isso tornou o país ainda mais dependente dos mercados internacionais devido à aquisição de empréstimos. Mas há também de se mencionar, as contradições desse crescimento que não foi capaz de promover o desenvolvimento social, causando a marginalização social, como afirma Cyro Rezende (1999): Concomitante ao ‘paraíso do consumo’ que se abria para a classe média dos grandes centros urbanos, onde proliferavam-se supermercados, shoppings e os outdoors de construtoras oferecendo inúmeros lançamentos de apartamentos de luxo, crescia também a população marginalizada e miserável. A população favelada de Porto Alegre elevou-se de 30 mil pessoas em 1968 para 300 mil em 1980, a do Rio de Janeiro, de 450 mil em 1965 para 1,8 milhão em 1980; e a de São Paulo, de 42 mil em 1972 para mais de um milhão em 1980. (p.140) Verifica-se que o “progresso” também trouxe grandes “atrasos” principalmente no que tange a exclusão social e a elevação dos índices de violência. . Todo o processo de crescimento econômico verificado no Brasil em meados da década de 1960 e 1970 foi resultado de um amplo crescimento na economia global. O capitalismo passava pela fase de exportação de tecnologias, onde os países centrais disponibilizavam aos países periféricos máquinas obsoletas para a produção de bens, deixando os países subdesenvolvidos sempre em situação de desigualdade. Paralelamente a esse grande crescimento econômico, todos os setores da sociedade foram atingidos, e a cultura foi um deles. Em finais da dos anos 60 e início dos anos 70, em várias regiões do mundo, as festas populares foram apropriadas pelo Estado e seus valores profundamente alterados. Canclini (1983) exemplifica esse processo de maneira clara: A expansão do mercado capitalista, a sua reorganização monopolista e transnacional tende a integrar todos os países, todas as regiões de cada país, num sistema homogêneo. Este processo ‘estandartiza’ o gosto e substitui a louça ou a roupa de cada comunidade por produtos industriais padronizados, os seus hábitos particulares por outros de acordo com um sistema centralizado, as suas crenças e representações pela iconografia dos meios de comunicação de massas: o mercado da praça cede o seu lugar ao supermercado, a festa indígena para o espetáculo comercial. (p.65) Vale ressaltar que o exemplo acima é da realidade mexicana da década de 1970. Mas, como o capitalismo é um sistema econômico que visa à uniformização, no Brasil esse processo ocorreu e ocorre praticamente da mesma maneira, salvo as peculiaridades locais. Pode-se citar, por exemplo, a festa do Bom Jesus de Tremembé, que em 1971 foi formalmente apropriada pelo governo municipal, e desde então a população não participa mais do processo de elaboração da XV Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 festa, que se tornou na realidade uma exploração turística. História) - Departamento de Ciências Sociais e Letras, Universidade de Taubaté, Taubaté, 2009. Conclusão A economia mundial no sistema capitalista está cada vez mais integrada e uniforme. Diante dessa realidade, todos os países influenciados por esse sistema passam por processos idênticos, desde a exploração econômica dos países centrais aos periféricos, até mesmo a exploração cultural que o próprio Estado realiza de eventos populares. A dinâmica capitalista caminha infelizmente para a aniquilação dos gostos populares e sua consequente incorporação ao mercado mundial. Resta apenas a tentativa de conscientização das pessoas frente a esse processo, para que as tradições não sejam totalmente perdidas, ou no pior dos casos, totalmente modificadas e readaptadas aos interesses do capitalismo. Referências BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. 4. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. CANCLINI, Nestor Garcia. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983. ______. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. 4. ed . São Paulo: EDUSP, 2008 MELLO, João Manuel Cardoso de e NOVAIS, Fernando A. Capitalismo tardio e sociabilidade moderna. SCHWARCZ, Lilia Moritz. In.: História da vida privada no Brasil.vol.4. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994 REZENDE FILHO, Cyro de Barros. Economia Brasileira Contemporânea. São Paulo: Contexto, 1999. ______. História econômica geral. São Paulo: Contexto, 2005. SILVA, Renan Aparecido Alves Marcondes da. A devoção popular burocratizada: a Festa do Bom Jesus de Tremembé, SP - 1968-2009. 2009. 66f Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em XV Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 XV Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4