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Trabalho de pesquisa
Avaliação citológica da conjuntiva de cães
clinicamente sadios pelo método panóptico
Cytological evaluation of conjunctiva in healthy dogs by panoptic method
Gisllyana Medeiros Azevedo – Médica veterinária Autônoma
Almir Pereira de Souza – Médico veterinário; Professor; Doutor; Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária (UAMV) / Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG) – Campus de Patos – PB. email: [email protected]
Roseane de Araújo Portela – Médica veterinária; Mestranda UFCG – Campus de Patos - PB
Elaine Silva Dantas – Médica veterinária., Residente UFCG – Campus de Patos-PB
Rosangela Maria Nunes da Silva – Médica veterinária; Doutoranda UFRPE – Recife – PE
Joaquim Evêncio Neto – Médico veterinário; Professor; Doutor; DMFA/UFRPE – Recife-PE
Azevedo GM, Souza AP, Portela RA, Dantas ES, Silva RMN, Neto JE. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de
Estimação 2009; 7(23); 473-477.
Resumo
Foram realizados exames de citologia conjuntival em 30 cães de raças e idades variadas os quais foram
distribuídos de acordo com a idade em dois grupos: GI (até um ano de idade) e GII (mais de um ano
de idade). As coletas foram realizadas com swab estéril, o qual era rotacionado sobre a conjuntiva
inferior e rolado levemente sobre lâmina de vidro, obtendo uma quantidade de células suficiente para
realização da avaliação, posteriormente coradas com Panóptico Rápido. Foi observado em ambos os
grupos células epiteliais das camadas superficial e intermediária. Em + 67% dos animais do GII e em
27% do GI observou-se grande quantidade de células inflamatórias. Concluiu-se que a coloração pelo
método Panóptico é eficaz para a avaliação citológica e que apesar dos animais não apresentarem
alterações oculares evidente, a presença de células inflamatórias é marcante.
Palavras-chave: Citologia, conjuntiva, cães, swab
Abstract
The conjunctival cytology exams were performed in 30 dogs of several breeds and ages which were
distributed accordingly to the age in two groups: GI (animal until 1 year old) and GII (animals over 1
year old). The samples were collected with the use of a sterile swab; which was rotated on the lower
conjunctiva, and rolled slightly on sheet of glass, obtaining enough quantity of cells to perform the
evaluation, subsequently stained with quick Panoptic. In all smears it was observed the presence of
epithelial cells of the superficial and intermediary layers. Around 67% of the animals of the GI and
27% of the GII, it was observed a large quantity of inflammatory cells. Concluding that the technique
of the Panoptic proved to be efficient to cytological evaluation and therefore the animals didn’t have
ophthalmic diseases evident, the presence of inflammatory cells is significant.
Keywords: Cytology, conjunctiva, dogs, swab
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Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23);473-477.
Avaliação citológica da conjuntiva de cães clinicamente sadios pelo método panóptico
Os olhos constituem uma das mais perfeitas obras, criadas para auxiliar no andamento harmonioso de nossa vida.
É através dos mesmos, que podemos enxergar, traduzindo
assim nossos sentimentos, gostos e sensações, atuando como
uma câmara de recepção de luz e revelação de imagens. No
intuito de buscar novas formas de manejar as oftalmopatias, torna-se necessário o conhecimento dos anexos e órgãos
acessórios do olho, bem como as principais patologias que
acometem esse órgão. Sabendo-se da importância da visão,
para uma melhor condição de vida, a área da oftalmologia
tem uma importância fundamental no ramo da Medicina, e
que atualmente, vem ganhando grande destaque na Medicina Veterinária.
Estudos têm demonstrado a eficácia dos diagnósticos
obtidos pelo exame citológico, em que o mesmo apresentase menos dispendioso, de resultado rápido, utilizando materiais de fácil obtenção e por não ser uma técnica invasiva.
Na citologia, o objetivo principal é identificar o processo patológico existente através da identificação e qualificação das
células que dele se descamam (1). De modo que o preparo da
lâmina consiste de uma etapa importante para a obtenção de
um diagnóstico seguro. A coleta da amostra para a citologia é
feita com auxílio de swabs de algodão, escovas para citologia
esfoliativa, espátulas, lâminas de bisturi com ponta romba e
agulha, que será definida de acordo com a localização anatômica da lesão e as características do tecido. Da mesma forma,
o método de preparo da lâmina também depende dessas características, podendo ser de forma aspirativa, imprint, esfoliativa, por lavagem, ou impressão com swabs (2).
Após a coleta as amostras devem ser suavemente roladas
sobre as lâminas de vidro para evitar dano celular, seguida
da fixação com calor, acetona, sprays fixadores especiais para
citologia ou alguma combinação dessas técnicas. Os métodos
de coloração mais comumente utilizados incluem o Gram e
várias colorações tipo Romanowsky (3).
Da necessidade de maiores conhecimentos sobre a citologia oftalmológica, objetivou-se com esse trabalho fazer uma
avaliação da secreção conjuntival de cães aparentemente sadios, a fim de estabelecer parâmetros de normalidade nesses
casos, bem como avaliar o uso da técnica do swab de algodão
e do método Panóptico para a coloração das lâminas.
Material e método
Foi realizada a coleta da secreção ocular de 30 cães, machos e fêmeas, de idade variada com e sem raça definida, obtidos junto ao setor de Clínica Médica de Pequenos Animais
do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina
Grande-Campus de Patos-PB, sem sinais aparentes de alterações oculares, como produção de exsudato e/ou congestão,
que indicassem oftalmopatias. Foram constituídos dois grupos, de igual número, distribuídos de acordo com a idade dos
animais previamente denominados de GI (animais com até
1 ano de idade) e GII (animais com mais de 1 ano de idade).
Comprovada a ausência de problema ocular aparente, era
exposta a conjuntiva inferior, sobre a qual era passado o swab
estéril, em movimento de rotação (figura 1), rolando o mesmo
em seguida na lâmina de microscopia, limpa e desengordurada, inicialmente em um olho e seguindo o mesmo processo
no outro. As lâminas foram identificadas de acordo com o
número do cadastro do animal e localização do olho (direito
e esquerdo), e em seguida foram encaminhadas para o Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande-Campus de Patos-PB,
para posterior fixação e coloração. Após a secagem da lâmina
ao ar livre, realizou-se a coloração desta com o corante PaFoto: MV Roseane de Araújo Portela/
Prof. Dr. Almir Pereira de Souza
Introdução
Figura 1: Coleta de secreção conjuntival com swab de algodão.
nóptico Rápido.
Ato contínuo, a lâmina foi lavada em água corrente e colocada para secar ao ar livre para em seguida ser analisada em
microscópio óptico1, com aumento de 100x e 400x.
A avaliação foi realizada inicialmente utilizando objetiva
de 10X, para a observação da disposição das células. Em seguida, com o auxílio da objetiva de 40X, foi feita a avaliação
da morfologia celular, detectando o tipo de célula presente.
Realizou-se a contagem de 100 células, com o auxílio do contador automático de células sanguíneas, percorrendo a lâmina em movimentos progressivos em vai e vem, observando
em seguida o número correspondente a cada tipo celular.
Resultados
Em ambos os grupos as células apresentaram-se dispostas
em grupos (figura 2) ou isoladas (figura 3), e em poucas lâminas observou-se a presença de células rompidas.
Os tipos celulares mais encontrados foram as células das
camadas intermediária e superficial, apresentando morfologia variando de poligonal, achatadas ou redondas. Em relação à predominância de um tipo celular, detectou-se em 50%
das lâminas o predomínio de células intermediárias grandes e
pequenas, com núcleo central, podendo estar circular ou com
formato variado e citoplasma basofilico, e em outras 50% pre-
1 Microscópio Óptico modelo – Nikon Eclipse® E 200.
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Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 474-477.
Avaliação citológica da conjuntiva de cães clinicamente sadios pelo método panóptico
Figura 2: Disposição das células da conjuntiva agrupadas (Panóptico;
100X)
Figura 4: Células intermediária e superficial da conjuntiva de cães,
(Panóptico; 100X)
Figura 3: Disposição das células da conjuntiva isoladas. (Panóptico;
100X)
Figura 5: Célula epitelial superficial anucleada, com grânulos de
melanina intracitoplasmático, da
Foto: MV Roseane de Araújo Portela/
Prof. Dr. Almir Pereira de Souza
Foto: MV Roseane de Araújo Portela/
Prof. Dr. Almir Pereira de Souza
Foto: MV Roseane de Araújo Portela/
Prof. Dr. Almir Pereira de Souza
dominante foi a presença considerável de células com bordas
citoplasmáticas dobradas (figura 7).
Em relação a presença de células inflamatórias, houve
predominância no GII, independente do quadro clínico apresentado pelo animal. Em aproximadamente 67% das lâminas
visualizou-se uma grande quantidade de células inflamatórias
que estavam dispostas em grandes agrupamentos circundando
as células epiteliais, desde pequenos grupos, até mesmo isoladas, evidenciando em especial a presença de neutrófilos, em sua
grande maioria degenerados, macrófagos e em menor número,
linfócitos e plasmócitos. Em 27% das lâminas do GI, também verificou-se aumento do número de células inflamatórias, do tipo
neutrófilo, da mesma forma que a encontrada no GII (figura 8).
Foto: MV Roseane de Araújo Portela/
Prof. Dr. Almir Pereira de Souza
dominância de células epiteliais superficiais, onde algumas
apresentavam-se com tamanho maior que as intermediárias,
hipocoradas e com núcleo picnótico ou ausente, observando
essa variação em ambos os grupos avaliados (figura 4).
Foram observadas em seis lâminas do GI e em sete lâminas do GII presença de grânulos de melanina intracitoplasmáticos, em ambos os tipos celulares epiteliais, sendo mais
evidente nas células superficiais que apresentavam-se em
processo de degeneração (figura 5). Destacou-se também a
presença de células epiteliais com vacuolizações intracitoplamáticas perinucleares em seis lâminas do GI e em cinco
lâminas do GII (figura 6). Observou-se também pouca quantidade de muco em algumas lâminas. Um outro achado pre-
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Avaliação citológica da conjuntiva de cães clinicamente sadios pelo método panóptico
Foto: MV Roseane de Araújo Portela/
Prof. Dr. Almir Pereira de Souza
Discussão
Foto: MV Roseane de Araújo Portela/
Prof. Dr. Almir Pereira de Souza
Figura 6: Células epiteliais com vacúolos intracitoplasmáticos
perinucleares da conjuntiva de cães. (Panóptico; 400X)
Foto: MV Roseane de Araújo Portela/
Prof. Dr. Almir Pereira de Souza
Figura 7: Células epiteliais com bordas citoplasmáticas dobradas.
(Panóptico; 400X)
Figura 8: Células epiteliais envoltas por uma grande quantidade de
neutrófilos. (Panóptico; 100X)
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A técnica de coleta por meio de swab de algodão, mostrou-se bastante eficaz na qual obteve-se uma boa amostragem celular, em praticamente todas as lâminas, sendo realizada de maneira a não ter causado desconforto ao animal
que apenas era contido fisicamente. A passagem do swab não
causou quaisquer lesão ou irritação da mucosa. Segunod outros autores o método de coleta com papel-filtro apresenta
vantagens sobre o método de coleta por swab, uma vez que
neste último há perda de células que não são transferidas à
lâmina (4). Por outro lado, constatou-se nesta pesquisa que o
método do swab pode ser considerado prático, com obtenção
de resultados confiáveis para a análise citológica semelhantes
à técnica utilizando papel-filtro (4,5).
Outrossim, pode-se afirmar que a técnica de coleta com
swab é mais confortável e segura para o paciente do que a
utilizada com escova ginecológica, a qual pode apresentar
eritrócitos (6), o qual segundo os autores estariam relacionados a contenção dos animais, contidos fisicamente por meio
de puçá. Ademais, com a técnica do swab não se torna necessário o uso de colírio anestésico para a coleta do material,
conforme pode ser visto com o uso de papel-filtro de acetato
de celulose (7).
O método de coloração mostrou-se bastante eficiente,
uma vez que tornou possível possível a observação clara,
mais especificamente núcleo e citoplasma, com apenas algumas lâminas com falha de coloração. A qualidade do esfregaço corado é fundamental para a interpretação, de forma que
dependendo do que se queira observar, deve-se escolher corretamente o corante, de modo que existem vários tipos de corantes citológicos, mas rotineiramente os mais fáceis, rápidos
e eficazes principalmente em relação ao custo são os corantes
rápidos do tipo Romanowsky (2). Uma desvantagem desse
tipo de corante é que não parecem sofrer reação metacromática, não corando assim os grânulos de alguns mastócitos (8).
Sendo assim, o método de coloração utilizado neste estudo
mostrou-se bastante eficiente, no que diz respeito a qualidade
da lâmina, com boa visualização dos constituintes celulares
e de rápida realização. O corante panóptico, refere-se a um
conjunto de corantes utilizados para coloração diferencial
dos elementos figurados do sangue, tendo em sua composição corantes ácidos e básicos, de tal modo que todas as estruturas celulares podem ser coradas conforme sua afinidade. A
escolha do corante se deu em especial pela rapidez e praticidade do preparo.
Foram observadas em todas as amostras presença de células epiteliais conjuntivais, dispostas em sua maioria isoladas
e em menor quantidade agrupadas em ambos os grupos, semelhantes a técnica de coleta por impressão com papel filtro
em gatos, discordando apenas no que diz respeito a disposição das células, onde as mesmas se apresentavam em sua
maioria agrupadas (5).
Em metade das lâminas de ambos os grupos, houve o predomínio de células da camada intermediária apresentandose em quase sua totalidade, com núcleo grande de formato
circular e central de coloração fortemente basofílica, com citoplasma fracamente basofílico, da mesma forma encontradas
Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 476-477.
Avaliação citológica da conjuntiva de cães clinicamente sadios pelo método panóptico
em lâminas coradas pelo método de Giemsa e Shorr (5). Nos
outros 50% das lâminas as células superficiais predominavam, apresentando-se em sua maioria isoladas com tamanho
maior que as intermediárias, com núcleo central e pequeno,
com citoplasma abundante e corado eosinofilicamente (9).
Algumas apresentavam-se com núcleo picnótico ou até mesmo ausentes.
As células superficiais são encontradas em mucosas e típicas representantes da morte celular (10). Dessa forma, a predominância dessas juntamente com as do tipo intermediárias
poderiam estar associadas ao tipo de coleta de material empregada (swab), que, ao contrário de outras técnicas mais esfoliativas, não removeria as células basais que se encontram
sobre a membrana basal, não descamando com facilidade.
Observou-se em 40% das lâminas do grupo I e em 47%
das lâminas do grupo II, presença de células com pigmentos
de melanina intracitoplasmáticos, em ambos os tipos celulares epiteliais com maior evidência nas células superficiais
hipocoradas e presença de células com bordos citoplasmáticos dobrados, ambos de acordo com os achados citados na
literatura (11,12).
Destaca-se a presença de células epiteliais vacuolizadas
intracitoplasmaticamente ao redor do núcleo, totalizando
40% no grupo I e 33% no grupo II, em algumas células esses vacúolos chegaram a deslocar o núcleo lateralmente. Esse
achado representa um sinal de degeneração celular (13), o
qual não está de acordo com os resultados obtidos nesse estudo haja vista todos os animais não estarem com alteração
ocular evidente.
Grandes quantidades de neutrófilos, foram observados,
principalmente em animais do Grupo II, em que os mesmos
apresentavam-se agrupados ao redor das células epiteliais, ou
agrupados entre si, formando grandes feixes celulares em al-
Referências
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guns casos incontáveis, sinais não normalmente encontrados
em olhos de animais sadios (7). A abundância de neutrófilos em
geral indica, inflamação aguda ou ativa em andamento, devendo-se suspeitar inicialmente de uma etiologia bacteriana8. Em
menor proporção porém em quantidade significativa, pôde-se
observar presença de linfócitos, plasmócitos e especialmente
macrófagos. Raros neutrófilos e linfócitos já foram observados por outros autores (5). Se não vierem associados a achados
oculares pode ser considerado normal. Os linfócitos correspondendo 30% a 70% costumam ser indícios de uma forte resposta
imune na inflamação crônica e os macrófagos estão presentes
em lesões inflamatórias quando há grande quantidade de restos teciduais, estimulação imune ou atração por agentes patológicos específicos (8). A conjuntivite está relacionada ao tipo de
célula predominante, podendo ser neutrofílica quando associada com agentes infecciosos, como bactérias e vírus, assim como
causas não-infecciosas (1,14). Um grande número de neutrófilos irá caracterizar sempre uma inflamação supurativa, qualquer que seja a proveniência e o tipo do material examinado (1).
Conclusão
Com base nos achados obtidos neste estudo foi possível
concluir que a citologia de impressão com swab de algodão e
a coloração pelo Panóptico são eficazes tanto no que diz respeito à forma de coleta, de fácil execução, quanto em relação
à amostragem celular que em quantidade suficiente para a
elaboração de diagnósticos. Dessa forma, pode-se recomendar tanto a técnica de coleta como a coloração empregada
para o diagnóstico de enfermidades conjuntivais.
Outrossim, é válido ressaltar que a presença de células
inflamatórias na conjuntiva de cães não é um fator preponderante para o diagnóstico de enfermidades inflamatórias desta
estrutura.
8.
9.
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Recebido para publicação em: 03/11/2009.
Enviado para análise em: 03/11/2009.
Aceito para publicação em: 11/11/2009.
Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 477-477.
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Trabalho de pesquisa
Observações clínicas e eletrorretinográficas em cães
com perda súbita de visão
Electroretinographic and clinical observation in dogs with sudden vision loss
Marianna Bacellar – MV,Estudante de Mestrado UFPR
Suelen B. Baldotto – MV, Residente de Oftalmologia Comparada da UFPR
Fabiano Montiani-Ferreira – MV, MSc, PhD, Professor da UFPR
Bacellar M, Baldotto SB, Ferreira FM. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009; 7(23); 479-483.
Resumo
O diagnóstico diferencial da perda súbita de visão inclui doenças neurológicas como intoxicações do
sistema nervoso central, amaurose idiopática, neurite óptica retrobulbar, compressão ou neoplasia no
quiasma óptico, tumores pituitários e outras cegueiras centrais de manifestação brusca. Além disso, a
degeneração súbita adquirida de retina (DSAR), os descolamentos de retina e as toxicidades coriorretinianas são outras causas importantes de cegueira súbita, assim como crises de hipertensão. A DSAR
é uma doença que afeta cães de meia-idade, geralmente obesos, cujo principal sinal clínico é a perda
de visão associada a fundoscopia sem alterações. Para chegar ao diagnóstico preciso, há a necessidade
da realização da eletrorretinografia (ERG), a fim de se avaliar a funcionalidade da retina. O objetivo
do presente trabalho é relatar a prevalência dos casos de cegueira súbita, particularmente de DSAR,
atendidos na casuística do Serviço de Oftalmologia Comparada da UFPR. Nove animais foram encaminhados ao Serviço de Oftalmologia comparada com a queixa de perda súbita da visão. Todos foram
submetidos a consulta oftalmológica completa, seguida de indicação da ERG. Em três casos foi feita
documentação fotográfica do fundo de olho empregando uma lâmpada de fenda com capacidade de
oftalmoscopia indireta. Dos nove casos, quatro foram submetidos ao ERG pelo protocolo “QuickRetCheck”, o qual consiste em estímulos por flashes de luz com intensidade de de 3000 e 10000 mcd.s/
m2. Para o exame os animais foram pré-medicados com 0,5 mg/kg midazolam e 0,5 mg/kg morfina,
IM, foi instilada uma gota do colírio de Tropicamida 1% em ambos os olhos, durante a adaptação ao
escuro (20 minutos). Foram anestesiados com 1,5 mg/kg/min de propofol e 0,5 mg/kg/min cetamina
S(+), IV, até a perda dos reflexos palpebrais e tolerância ao blefarostato. Dos animais avaliados, três
foram considerados suspeitos de DSAR, dois foram diagnosticados com retinotoxicidade induzida
por drogas (fármacos) e quatro com DSAR. Não foi detectada qualquer alteração na fundoscopia
dos animais e nos exames de eletrretinografia foi observada ausência de resposta. A prevalência dos
casos de DSAR na casuística total do Serviço de Oftalmologia Comparada foi de 1,18% (quatro de 339
casos) e dentro dos nove casos de cegueira abrupta foi de 44,5% (quatro de nove casos). Concluindo,
para um diagnóstico preciso da DSAR é necessária a eletrorretinografia, mas infelizmente, ainda se
classifica a DSAR como uma doença sem cura, apesar dos animais se adaptarem com certa facilidade
a vida sem visão.
Palavras-chave: Retinotoxicidade, cães, prevalência, degeneração súbita adquirida de retina
479
Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23);479-483.
Observações clínicas e eletrorretinográficas em cães com perda súbita de visão
Abstract
The differential diagnosis of sudden vision loss include neurological diseases such as central nervous system intoxication, optic neuritis, retrobulbar lesions, compression induced by a tumor in the optic chiasm, pituitary tumors and other sudden central blindness. Furthermore, acute hypertension, sudden acquired retinal degeneration
(SARD), retinal detachment and chorioretinal toxicities are other important causes of sudden blindness. SARD is
a disease that affects dogs of middle age, usually obese and the main clinical sign is the vision loss associated with
normal fundus, to get to a diagnosis, there is a necessity of electroretinography to evaluate retinal function. The
purpose of this study is to report the prevalence of cases of sudden blindness, particularly SARD, seen at the Comparative Ophthalmology Service, UFPR. Nine animals were sent to the Comparative Ophthalmology Service with
the complaint of sudden loss of vision. All patients were submitted to a complete ophthalmic exam, in three cases
fundus photographs were taken using a slit lamp with a indirect ophthalmoscope built in, in three cases blood tests
were performed. An ERG was suggested to all of them but only in four cases it was performed. The ERG protocol
selected was “QuickRetCheck”, which consists of stimulation by flashes of light with intensity of 3,000 and 10,000
mcd.s/m2. For the test, animals were premedicated with 0.5 mg / kg midazolam and 0.5 mg / kg morphine, IM.
A drop of 1% tropicamide in both eyes was applied during dark adaptation (20 minutes). They were then anesthetized with 1.5 mg / kg / min of propofol and 0.5 mg / kg / min ketamine S (+), IV, until loss of eyelid reflexes
and tolerance to eyelid speculum. In all nine cases of sudden blindness, three had the presumptive diagnosis of
SARD; two were diagnosed with retinal toxicity induced by drugs and four with confirmed SARD. No changes
in the fundus of the animals diagnosed with SARD were found and no response in ERGs was observed also. The
prevalence of SARD cases seen considering the total caseload of UFPR´s Comparative Ophthalmology Service
during one year was 1.18% (four out of 339 cases). Within the total of nine cases of sudden blindness a prevalence
of 44.5% of confirmed SARDs was seen (four out of nine cases). In conclusion, for an exact diagnosis of SARD the
electroretinography is necessary. Unfortunately, SARD still ranks as an incurable disease, despite the animals to
adapt quite easily to live without vision.
Keywords: retinal toxicity, dogs, prevalence, SARD.
Introdução
Causas de cegueira súbita
O diagnóstico diferencial da perda súbita de visão inclui
doenças neurológicas como intoxicações do sistema nervoso
central, amaurose idiopática, neurites ópticas, incluindo as
retrobulbares (por meningoencefalite granulomatosa, por
exemplo), compressão ou neoplasia no quiasma óptico, tumores pituitários e outras cegueiras centrais de manifestação
brusca (1). Episódios agudos de hipertensão também podem
causar cegueiras súbitas em cães e gatos. Além disso, a degeneração súbita adquirida de retina (DSAR), os descolamentos
de retina e as toxicidades coriorretinianas são outras causas
importantes de cegueira súbita. O diagnóstico de todas essas condições é baseado no histórico, nos sinais clínicos, nos
exames oftálmico e neurológico, com especial atenção para a
fundoscopia e eletrorretinografia (2).
Etiologia da degeneração súbita adquirida de retina (DSAR)
Pouco se sabe ainda sobre a correta etiologia e fisiopatologia da DSAR (1). Um estudo revela a possível relação entre a
concentração elevada de glutamato no vítreo levando a toxidade da retina; embora essa teoria tenha sido explorada, ela
ainda é desconhecida (2). Alguns casos de DSAR têm mostrado uma forte relação com hepatopatia que pode cursar concomitantemente. Tais casos geralmente apresentam níveis de
480
fosfatase alcalina sérica, aminotransferase sérica, colesterol
sérico ou bilirrubina sérica elevada (3). Miller et al. (4), sugerem que, independente da etiologia da doença, a apoptose dos fotorreceptores leve a degeneração da retina, porém
é desconhecido o caminho ou distúrbio sistêmico que leva a
esse mecanismo. Entretanto, sabe-se que a apoptose é quase
sempre o resultado final. Bellhorn et al (5), adicionalmente,
propuseram a possibilidade da DSAR ser imunomediada,
uma vez que cinco dos cães por ele estudados apresentaram
anticorpos antirretina, levando a hipótese da DSAR ser uma
retinopatia autoimune.
Histórico e sinais clínicos da DSAR
A doença afeta principalmente cães de meia idade, obesos, ou que frequentemente obtiveram ganho de peso e sem
predisposição racial, sendo caracterizada pela perda abrupta
da visão (1). A maioria dos cães afetados apresenta moderada
dilatação pupilar, reflexo pupilar presente, mas geralmente
diminuído ou ausente além de leve/moderada hiperemia
conjuntival em alguns casos. No inicio da doença o fundo
ocular aparece sem alterações à fundoscopia, entretanto em
estágios mais avançados a atenuação de vasos da retina e o
aumento da reflexidade tornam-se aparentes (6).
Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 480-483.
Observações clínicas e eletrorretinográficas em cães com perda súbita de visão
Eletrorretinografia da DSAR
A eletrorretinografia (ERG) é um método diagnóstico rápido e não-invasivo para avaliação da funcionalidade da retina. Com o exame é possível realizar uma avaliação geral da
função das células fotorreceptoras, que são as responsáveis
pela fototransdução que, em conjunto com as outras células,
transmitem a informação elétrica ao nervo óptico (7,8,9). Com
frequência a ERG é usada na rotina clínica de pequenos animais para auxiliar nos diagnósticos de doenças como atrofia
progressiva de retina (APR) e degeneração súbita adquirida
de retina (DSAR) e para avaliação da função geral da retina
antes de cirurgias de catarata (10). A ERG é de grande importância diagnóstica para determinar a causa da cegueira,
sendo uma chave para o diagnóstico diferencial já que em
animais com DSAR, a atividade elétrica da retina é ausente,
e nas doenças neurológicas causadoras de cegueira súbita, a
atividade elétrica da retina é presente.
Objetivos do estudo
Este estudo retrospectivo tem o objetivo de relatar a prevalência dos casos de cegueira súbita, particularmente de
DSAR, atendidos na casuística do Serviço de Oftalmologia
Comparada da UFPR. Adicionalmente, o estudo demonstra
a importância do uso da eletrorretinografia, além de outros
exames complementares, como ferramenta de auxílio ao médico veterinário ao diagnosticar a DSAR e outras cegueiras
abruptas.
Material e método
Foram examinados 9 cães de acordo com a Tabela 1, encaminhados ao Serviço de Oftalmologia Comparada da UFPR,
com a queixa principal de perda súbita de visão.
Tabela 1: Pacientes encaminhados ao Serviço de Oftalmologia Comparada da UFPR com queixa de perda súbita de visão durante o período de
um ano.
Raça
Idade (anos)
Sexo
Peso (kg)
Diagnóstico
Pinscher
8
Fêmea
2,7
suspeita de DSAR
Sem raça definida
2
Fêmea
2,1
Toxicidade induzida por drogas
Dachshund
3
Fêmea
5,3
Retinotoxicidade induzida por drogas
Schnauzer
10
Fêmea
8,5
Hiperadrenocorticismo, suspeita de DSAR
Poodle
7
Fêmea
7
DSAR
Poodle
6
Macho
8
DSAR
Cocker Spaniel
5
Fêmea
10,5
DSAR
Lhasa Apso
3
Fêmea
5
DSAR
Pinscher
8
Fêmea
3,6
suspeita de DSAR
Todos os pacientes foram submetidos à consulta oftalmológica completa e em 3 casos procedeu-se documentação fotográfica de fundo de olho empregando uma lâmpada de fenda com capacidade de oftalmoscopia indireta
(Hawk eye, Dioptrix, L´Union, França). Exames hematológicos e bioquímica sérica (ALT, creatinina, fosfatase
alcalina, glicose, GGT e ureia) foram realizados em três
dos nove casos, uma vez que houve anuência dos proprietários.
Houve indicação da realização da ERG para todos os casos, mas somente em quatro deles os proprietários autorizaram o exame. O protocolo de exame (ERG) selecionado foi
o “QuickRetCheck” (RetVet™ Corp, Columbia,Missouri), o
qual consiste em estímulos por flashes de luz com intensidade
de de 3000 e 10000 mcd.s/m2.
Antes de cada procedimento, os animais foram submetidos a um jejum alimentar de 12 horas e hídrico de 6 horas.
A medicação pré-anestésica, constituída por midazolam (0,5
mg/kg, Dormire®, Cristália, São Paulo-SP, Brasil) e morfina
(0,5 mg/kg, Dimorf®, Cristália, São Paulo-SP, Brasil), IM, foi
aplicada durante a adaptação ao escuro, que durou 20 minutos, junto com a instilação de uma gota do colírio de Tropicamida 1% (Mydriacyl®, Alcon, São Paulo, SP) em ambos
os olhos. Todos os animais receberam suporte hídrico parenteral (fluidoterapia) e suplementação com oxigênio, quando
necessário.
Realizou-se a indução anestésica com propofol (1,5 mg/
kg/min, Propovan®, Cristália, São Paulo-SP, Brasil) e cetamina S(+) (0,5 mg/kg/min, Ketamin-S(+)®, Cristália, São
Paulo-SP, Brasil), IV, até a perda dos reflexos palpebrais e
tolerância do animal ao uso de um blefarostato. Na sequência, eram posicionados os eletrodos do tipo subdérmicos
(FD-E2-24, Grass Tecnologies, Astro-Medical, Inc., West
Warwick, RI). O primeiro deles é denominado de “terra” e
foi inserido na região lombar do animal, seguido do “referência”, esse inserido a 2,5 cm do canto temporal da rima
palpebral do olho a ser examinado. Com o auxílio de um
blefarostato, o eletrodo de contato (ERG-jet, Nicolet Instruments , Madison ,WI) foi posicionado sobre a córnea do
animal. Em seguida, deu-se início ao teste utilizando um
eletrorretinógrafo portátil (HMsERG 1000, RetVet Corp,
Columbia, EUA). Após completo o teste em um olho, era
repetida a operação no olho contralateral. Os dados obtidos foram observados utilizando o programa de computador (software) ERGVIEW 2.1.1.0 (RetVet Corp, Columbia,
EUA).
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Observações clínicas e eletrorretinográficas em cães com perda súbita de visão
Resultados
Durante a consulta oftálmica, a queixa principal de todos
os casos era que o paciente teria perdido a visão rapidamente.
Nos quatro casos (dois Poodles, Lhasa Apso e Cocker Spaniel) nos quais foram realizadas as ERGs e no caso de um dos
animais (da raça Pinscher), os proprietários procuraram o
Serviço de Oftalmologia Comparada da UFPR somente com
a queixa de perda abrupta de visão.
No total concluímos que dos nove casos de cegueira
abrupta atendidos pelo Serviço de Oftalmologia Comparada
da UFPR, quatro deles receberam o diagnóstico de DSAR e
três, como suspeitos de DSAR.
Com relação aos outros dois casos, em um deles o proprietário de um cão SRD relatou a ingestão acidental de
ivermectina (comprimido de 12 mg) com queixa de vômito
e perda de visão. O outro animal, da raça Dachshund, estava sendo tratado com carprofeno 25mg SID e cefalexina 50
mg por via oral e havia recebido pomada de cloranfenicol
para o tratamento de uma conjuntivite, e o proprietário relatou perda de visão abrupta dois dias antes do paciente ser
referido ao Serviço de Oftalmologia Comparada da UFPR.
Nesses dois casos, atribuídos à toxicidade de sistema nervoso central (SNC) e retina, respectivamente, induzida por
drogas (fármacos), como esperado, a visão dos pacientes
voltou em aproximadamente duas semanas, não sendo
considerados portadores de DSAR, a despeito das ERGs
não terem sido realizadas .
Dentre os casos suspeitos de DSAR, o animal da raça Schnauzer já estava sendo tratado para hiperadrenocorticismo
quando o proprietário observou a perda da visão. Por último,
um animal que o proprietário relata a perda da visão logo
após um assalto em sua casa. Foi observado também que dos
nove casos somente um era macho.
Com relação aos exames sanguíneos, notou-se em três
animais (dois casos e um suspeito de DSAR), um aumento
na ALT e FA. Sendo que em um dos casos já havia histórico
prévio de hiperadrenocorticismo.
Durante o exame, foram feitas fotografias da fundoscopia
realizada, e como se pode observar na figura 1, todos os animais apresentaram o fundo de olho sem alterações ou lesões
detectáveis.
Figura 1: Fundo de olho de três dos quatro casos atendidos e diagnosticados como DSAR (Hawk eye, Dioptrix, L´Union,
França). Na fundoscopia tais animais não apresentaram qualquer lesão que indicasse perda da funcionalidade da retina.
Todavia, em todos eles não havia qualquer resposta aos estímulos de flashes luminosos, indicando perda da funcionalidade
da retina (“flat” ERG) – indicando DSAR. A) cão da raça Poodle, 7 anos, fêmea; B) cão da raça Cocker Spaniel, 5 anos,
fêmea; e C) cão da raça Lhasa Apso, 3 anos fêmea.
Sabe-se que o eletrorretinograma é extinto nos casos
de DSAR, mas permanecem nas outras causas de cegueira
abrupta que não comprometem a retina (11). Com relação
ao exame eletrorretinográfico dos quatro animais, sendo 8%
dos exames de ERG no período de um ano de atendimento
do Serviço de Oftalmologia Comparada da UFPR, todos não
apresentaram qualquer resposta aos estímulos de flashes luminosos, indicando perda da funcionalidade da retina (“flat”
ERG) Figura 2, sendo assim, de acordo com histórico e exame
oftálmico de cada um deles, foi diagnosticada a DSAR.
Figura 2: Resultados dos ERGs dos quatro
casos confirmados de DSAR sobrepostos sobre
um mesmo eixo. Nota-se que não há respostas
compatíveis com relação ao tempo implícito e
amplitude de onda “a” ou onda “b”.
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Observações clínicas e eletrorretinográficas em cães com perda súbita de visão
A prevalência da DSAR na casuística total do Serviço de
Oftalmologia Comparada da UFPR foi 1,18% (quatro de 339
casos) e a prevalência dentro dos casos de cegueira abrupta
foi 44,5% (quatro de nove casos).
Discussão
A degeneração súbita adquirida de retina (DSAR), acomete animais normalmente com mais de 5 anos de idade e a
perda de visão geralmente acontece num período de 24 horas
até 4 semanas, observando-se uma evolução a cegueira muito
rápida (12). No estudo pôde-se observar que as idades acometidas pela DSAR variaram consideravelmente (2, 3 anos de
idade em três dos nove casos e chegando até 10 anos de idade
em um dos casos), contrariamente ao relatado pelos autores
já citados. Na literatura encontra-se a citação de que a DSAR
geralmente é acompanhada por um histórico de poliúiria, polidpsia e polifagia, o que não foi observado ou relatado pelos
proprietários, a não ser pelo caso de DSAR acompanhada de
hiperadrenocorticismo no qual o proprietário relatou polifagia, discordando assim dos achados de Montgomery et al. (1).
Assim como Montgomery et al. (1), pudemos notar um
aumento nas enzimas ALT e FA em 2 casos de DSAR, nos
outros dois as enzimas estavam no valor limite. Foi observada também essa alteração no caso de hiperadrenocorticismo.
Outras alterações relatadas não foram observadas. Um dos
casos (Schnauzer) mostra uma possível associação da DSAR
com o hiperadrenocorticismo, corroborando com McLellan
(6), que relata que os animais que demonstram anormalidades a estimulação com ACTH ou supressão de dexametasona em doses baixas, apresentaram a DSAR. Todavia, a DSAR
pode estar associada também a outras afecções endócrinas
como o hipotireoidismo e o diabetes (6).
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Concordando com Acland et al. (11) todos os animais
diagnosticados com DSAR não apresentaram lesões detectáveis na retina. Tal situação de achados clínicos fez com que
originasse uma frase famosa para a DSAR: “Nesta doença o
animal não vê nada e o médico veterinário não vê nada também”.
A eletrorretinografia é o exame utilizado para a confirmação do diagnóstico de DSAR, confirmando a perda da função
das células fotorreceptoras da retina (12). Na DSAR, o exame
eletrorretInográfico mostra um traçado com a ausência de ondas (Flat ERG), observado nos quatro animais submetidos ao
exame (Fig. 2).
Resultados de testes recentes feitos em seres humanos
com doenças de retina sugeriram que algumas doenças poderiam ser medicadas com vitaminas e minerais, e que o
uso dessas retardariam os sinais da DSAR (13). Também foi
relatado em 2007 por Grozdanik, o uso imunoglobulina intravenosa (IVIg), segundo ele, o perfil molecular da DSAR é
muito semelhante ao da retinopatia imunomediada induzida por anticorpos em seres humanos, sendo isso a chave do
tratamento com IVIg.; em seu trabalho, observou-se cura em
apenas dois casos.
Apesar das informações recentes sobre tratamento, infelizmente ainda classificamos a DSAR como doença sem cura.
A retina é uma extensão do nervo óptico e especificamente do
diencéfalo e dessa forma, como célula neural, não se regenera
assim como os outros tecidos nervosos, fazendo com que os
animais afetados permaneçam cegos (6). Porém, diferentemente da cegueira nos seres humanos, muitos cães adaptamse em algumas semanas ou em alguns meses, memorizando
os obstáculos e locais da casa, assim podendo deambular com
certa tranquilidade em ambientes familiares.
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Recebido para publicação em: 24/11/2009.
Enviado para análise em: 24/11/2009.
Aceito para publicação em: 21/12/2009.
Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2009;7(23); 483-483.
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