MERCADO NAS VITRINES, A FORÇA DO MARKETING CULTURAL De 4 a 13 de outubro, o Shopping Pátio Higienópolis transforma-se em uma galeria de arte. É a 7ª Mostra Nacional de Vitrines E la foi almoçar com o presidente da Coca-Cola e pediu um guaraná Antarctica. Também ficou longo tempo ao telefone tentando vender um projeto para a Kibon, só que estava falando com um diretor da Siemens, que no fim da conversa, desfeito o equívoco, admitiu ter ficado com grande vontade de tomar sorvete. Ok, isso acontece. Afinal, até sete anos atrás Luz Marina Simonsen era uma dona de casa com três filhos pequenos, sem nenhuma experiência profissional e que nunca se imaginou tentando vender seja lá o que fosse. Além disso, como diz, “era uma pessoa supertímida”. Isso começou a mudar quando o publicitário Alex Periscinoto lhe deu a idéia de criar um evento que se materializaria na 1ª Mostra Nacional de Vitrines. Foi o início da transmutação de Luz Marina Simonsen em empresária da área do marketing cultural. Nascia a LMS – Planejamento e Organização de Eventos, que se prepara, em seu sétimo ano de existência, para inaugurar a 7ª Mostra Nacional de Vitrines. De 4 a 13 de outubro, sete vitrines criadas por artistas plásticos renomados ficarão expostas no Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo, e depois seguirão para shopping 6 Luz Marina Simonsen: de dona de casa a empresária de sucesso na área do marketing cultural MARKETING CULTURAL - SETEMBRO 2002 Em mostra anterior, Antônio Peticov uniu três bicicletas da Caloi e criou uma escultura. centers de outras capitais: Brasília, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre. Qual foi a idéia de Alex Periscinoto que mudou a vida de Luz Marina? Deixemos que ela explique: “A idéia foi oferecer às empresas um projeto que ligasse o seu nome a um grande artista plástico e permitisse mostrar a sua marca em um local público de grande expressão, como são hoje os shopping centers, centros de convivência cada vez mais procurados pelas pessoas, pela segurança, pelo lazer.” Exemplos de como se dá essa união empresa-artista, produto-obra de arte: “Para a Sadia, o Cláudio Tozzi fez uma belíssima escultura do S da marca. Para a Caloi, o Antônio Peticov uniu três bicicletas e criou uma escultura com um jogo de iluminação. Para a Petrobras, o Ivald Granato desenvolveu uma escultura de acrílico recortado, pintada com as cores da empresa, mostrando as plataformas marítimas. Todas essas obras, hoje, estão na sede de cada empresa”. Bom, as coisas não acontecem assim tão rapidamente: idéia = sucesso. É Luz Marina que lembra: “O Alex me deu a vara para pescar e eu, que nunca tinha trabalhado na área de Publicidade e Marketing, fui formatando projeMARKETING CULTURAL - SETEMBRO 2002 tos da melhor maneira possível. Corri atrás das empresas, recebi muitos nãos, mas não desisti, até que uma empresa disse sim, outra também disse sim, e a primeira mostra de vitrines criadas por artistas se tornou viável”. O “sim” das empresas é o início do casamento com os artistas. Escolhido o pro- duto a ser trabalhado para a mostra de vitrines, o artista prepara um layout da obra que, aprovado, é então executado e colocado dentro de um cubo transparente de 2 x 2 metros. “A Mostra Nacional de Vitrines agrega valores importantes às empresas e à comunidade. Procuramos levar às pessoas uma comunicação de cultura e arte. A escultura, a obra de arte, a instalação fica dentro de um cubo de vidro, com todas as especificações do trabalho e informações sobre o artista.” A 1ª Mostra Nacional de Vitrines foi montada no Shopping Eldorado, as três seguintes no Shopping Morumbi e as últimas duas no Shopping Pátio Hi- Com o S da Sadia, Cláudio Tozzi esculpiu um tótem em vermelho, azul e amarelo. 7 Para a Petrobrás, Ivald Granato fez uma escultura em acrílico, enfocando a alta tecnologia das plataformas marítimas. gienópolis, que também abrigará a sétima edição do evento. Sempre em shopping centers, porque, segundo Luz Marina, “a idéia, o conceito, é levar uma galeria de arte para dentro de um local público”. Esses três shopping centers são de São Paulo. Mas desde o início a mostra de vitrines se fez itinerante, ocupando espaços em shopping centers de outras capitais, como o Brasília Shopping, BH Shopping, Shopping Iguatemi de Maceió e Barra Shopping no Rio de Janeiro. Essa vocação se mantém e Luz Marina, hoje uma empresária mais atirada, pretende expandi-la em nível internacional. É nisso que deu a imaginação de Alex Periscinoto. Bem-sucedida na idéia original, Luz Marina lançou-se a outras iniciativas, entre elas uma exposição de obras de artistas brasileiros na Hilt Gallery, na Basiléia, Suíça, com patrocínio da BMF e do Banespa. Também passou a organizar palestras para lojistas nos shopping centers, sobre arte, eventos culturais e exposição de produtos. E, se não conseguiu convencer o diretor da Siemens a pro- 8 mover sorvetes, convenceu a própria Kibon. Em suas palavras: “O Kibon Arte foi um evento importante que fizemos. A Unilever comprou a Kibon e percebeu que a marca do K estava ficando velha. Isso numa pesquisa internacional. Então, resolveu mudar do K para o coração. Eu apresentei um projeto, reunimos dois grandes artistas plásticos brasileiros, cada um dando a sua visão do novo coração, do novo conceito, da nova logomarca. Essa exposição foi aberta num coquetel para 400, 500 pessoas, e foi tão bom o resultado que a diretoria me chamou para que ele se tornasse itinerante. Um dado importante, que me foi passado pela diretoria da Kibon, é que esse projeto teve três vezes mais mídia espontânea do que o próprio lançamento da logomarca em nível nacional. Para mim foi o maior reconhecimento de que um trabalho bem feito, ligado à arte e à cultura, agrega muitos valores à marca de uma grande empresa.” Em sete anos de vida empresarial, Luz Marina estabeleceu uma relação de investimento em marketing cultural com muitas empresas, entre elas a Petrobras, Varig, Kodak, Philco, Volkswagen, Sadia, Kibon e Caloi. Em sua opinião, há um crescente interesse pelo marketing cultural, “porque vivemos num mundo de competitividade em todos os setores e a área de entretenimento e cultura agrega valores reais à marca das empresas. Elas estão valorizando a cultura, valorizando o país, valorizando os seus funcionários, que participam dos projetos que envolvem cultura.” Cláudio Tozzi e a vitrine foi ele criada nos 20 anos de O Boticário. MARKETING CULTURAL - SETEMBRO 2002 Novamente Cláudio Tozzi, agora apresentando uma leitura tridimensional de produtos Valisère. nunca desistir, ir sempre em frente, acreditar nos seus sonhos e correr atrás”. Só não conseguiu – é ela que ressalta – a palavra do marqueteiro. “Eu falo muito com o meu coração”. Está sendo ouvida. A TRANSFORMAÇÃO DE PRODUTOS COMERCIAIS EM ARTE Guto Lacaz inovando na exposição das sandálias havaianas. Luz Marina adicionou um valor social à Mostra Nacional de Vitrines, que faz uma contribuição a uma instituição sem fins lucrativos. “Já doamos para o Instituto Ayrton Senna e este ano estamos ainda escolhendo a instituição. Funciona assim: um artista doa uma obra, por nossa solicitação e porque eles têm também o maior interesse em colaborar com uma instituição séria. Ou é arrecadado um valor de cada empresa e esse valor é repassado para a instituição.” É isso. Luz Marina Simonsen está ultimando a 7ª Mostra Nacional de Vitrines e a expectativa é de um novo sucesso. Com toda a experiência que adquiriu, diz que descobriu algumas qualidades e fatores em sua personalidade que estavam meio embutidos: “Determinação, força de vontade, acreditar em alguma coisa e nunca desistir”. “É isso que eu quero passar para as pessoas, essa coisa de Para a Kodak, Alex Cerveny fez escultura representando a empresa do futuro. MARKETING CULTURAL - SETEMBRO 2002 A 7ª Mostra Nacional de Vitrines será formada por obras de arte criadas por alguns dos artistas plásticos mais conceituados do país, usando produtos de empresas participantes. Elas serão expostas em vitrines de 4 metros quadrados cada. Antônio Peticov, Cláudio Tozzi, New- ton Mesquita, Caciporé Torres, Tomie Otake, Guto Lacaz e Leda Catunda são os artistas que participarão do evento. A Mostra Nacional de Vitrines vem confirmando, ao longo desses sete anos, uma tendência cada vez mais incorporada nas grandes empresas. Depois de investimentos diretos em publicidade, as instituições voltam suas atenções à arte e à cultura como ferramenta fundamental para o fortalecimento da marca. São três os princípios que norteiam o projeto. Exibição é o primeiro, já que leva arte para um público que não freqüenta, necessariamente, espaços expositivos. Associação é o segundo, considerando a associação da marca da empresa ao nome do artista (abrindo novas possibilidades de trabalho para ambos). E, por último, o desenvolvimento de uma atividade institucional de longo prazo. "A transformação de um produto comercial em arte acrescenta uma aura a este e lhe agrega valor", diz Luz Marina. ◆ Serviço: LMS - Planejamento e Organização de Eventos - Tel.: (11) 3289-2020 9