O FIM DA TERRA E DO CÉU Marcelo Gleiser Companhia das Letras, 2001 10 Escatologia : ramo da teologia que estuda questões relacionadas com o fim do tempo. 19 O poder mais importante do feiticeiro era sua habilidade de ler os céus, de interpretar as mensagens escritas pelos deuses, através das estrelas e outras aparições celestes. 23 A crença religiosa na imortalidade da alma serve de antídoto à inevitabilidade da morte. 29 Quando o assunto é uma clara definição entre o bem e o mal, devemos considerar o masdeísmo, uma religião que surgiu ao leste do Oriente Médio. Quando Mazda criou o mundo, criou igualmente os opostos e a tensão entre eles, dando aos homens a liberdade de escolher seu caminho moral, ou seja, de optar pelo bem ou pelo mal: o indivíduo deve exercer o seu livre-arbítrio. Essa foi uma solução brilhante para o problema do mal, já que cabe ao homem assumir a responsabilidade de suas escolhas, e não a Deus; Deus não é responsável pela existência do mal, e sim aqueles que optam por esse caminho. 31 Um dos paradoxos mais irônicos que enfrentamos em nossa vida é o conflito entre a consciência que temos da passagem do tempo e nossa necessidade de ignorar essa passagem. Tales de Mileto: considerado o primeiro dos filósofos, argumentou que a essência de todas as coisas era a água; Anaxímenes, o ar; Heráclito, o fogo, e Anaximandro, uma substância intangível, abstrata, que permeava toda a realidade. Platão, por sua vez, acreditava na existência do Demiurgo, o Artesão Cósmico, que encarnava o ideal de Perfeição Absoluta. Aristóteles, discípulo de Platão, postulou a existência do “Movedor Imóvel”, a causa primeira de todos os movimentos cósmicos. 33 A ciência também almeja atingir um estado de perfeição racional, embora seja claro para os seus praticantes que a verdadeira perfeição é uma abstração impossível de ser atingida. 34 Da mesma fora que é hoje absurdo afirmar que a Terra tem somente 6 mil anos, é absurdo declarar que a ciência tem todas as respostas, ou mesmo que seja capaz de obtê-las. Para começar existem certas questões que estão simplesmente fora do âmbito cientifico. Mais ainda, nós nunca seremos capazes de formular todas as perguntas, muito menos todas as respostas. 39 Como irá escrever santo Lactâncio alguns séculos mais tarde, “o virtuoso é aquele que consegue suportar as piores privações”. Quanto mais sofrimentos você for capaz de suportar, mais virtuoso você é, e mais maravilhosa ser[a sua recompensa no Paraíso. Que receita magnífica para a paralisia social! Suporte seus sofrimentos com dignidade e graça, tenha fé, e Deus irá cuidar do resto para você. 51 A ambigüidade pode ser uma arma de propaganda extremamente útil: ao insinuar sem comprovar, ao sugerir sem definir, ao criar imagens fantásticas que inspiram o fascínio e o terror sem oferecer uma clara interpretação de seu significado, você decerto irá despertar a curiosidade de muitas pessoas. Se, em sua mensagem você assegurar uma recompensa àqueles que seguirem as suas idéias, alguma espécie de conforto para as tribulações da vida, seu sucesso estará praticamente garantido. (...) Sua ambigüidade é sua virtude.[Ameaçar os ignorantes aparentando saber algo que eles não sabem.] 56 Em um mundo o Mal é uma presença palpável e a tentação está por toda parte, a Igreja oferece o único refugio moral e emocional. Todos os aspectos da vida (e da morte) estão ligados à religião e à superstição. As cicatrizes desse longo e entrevado período estão profundamente esculpidas na nossa psique. Volta e meia elas reemergem, sobretudo em períodos de maior insegurança social, provocando um retorno ao desespero apocalíptico. 57 Embora os sinais do Fim estivessem escritos nos Céus (incluindo eclipses e cometas), ainda havia tempo para o arrependimento e a conversão dos pecadores. O “soldados de Cristo” em geral são os pobres e destituídos, os que não têm nada, senão a vida, a perder. 58 O que alimenta á fé não é uma busca racional pela verdade, mas uma crença apaixonada na revelação divina. 59 Podemos chamar nossos medos e inimigos de nomes diferentes, mas nossas expectativas são basicamente as mesmas: a certeza de que fazemos parte da sociedade, de que não existimos apenas à sua margem, e um mínimo de conforto material e espiritual para vivermos com dignidade. Se essas condições não forem satisfeitas nesta vida, terão de ser satisfeitas na próxima. 66 Giovanni Boccaccio descreve com vigor a chegada da Peste Negra em Florença, sem saber ao certo se a epidemia surgira “pela ação dos corpos celestes ou de devido aos nossos erros, que a justa ira divina tentou reparar”. Para a maioria das pessoas, uma implicava a outra, pois as aparições celestes e a ira divina estavam profundamente relacionadas. “Tudo isso passará, pois as almas mais puras irão sobreviver às privações, o Anticristo será destruído e uma nova era de paz e prosperidade há de vir” 74 Em 83, uma pesquisa do Gallup revelou que 62% dos norte-americanos não têm nenhuma dúvida de que Jesus irá retornar à Terra em algum momento no futuro. Em 92, 53% acreditavam no seu retorno iminente, que seria seguido por vários cataclismos. 76 Nos últimos séculos houve varias ocasiões em que um movimento milenarista, a principio com intenções perfeitamente pacificas, se isolou do mundo à sua volta, e seus membros foram hipnotizados por um líder carismático que os convenceu a levar sua missão apocalíptica até o fim. O que acontece é que a mensagem profética de salvação e martírio trazida por esse líder responde aos anseios e sonhos daqueles humilhados por uma vida de privação, transformando sua devoção em uma missão divina, em uma etapa necessária em direção à felicidade eterna. 78 Em 1978, 913 discípulos de James Warren Jones, cometeram suicídio coletivo bebendo Que-suco com cianeto. Apesar de ser fácil atribuir essas mortes à loucura de radicais religiosos, cegos pela própria superstição e terror, uma investigação mais detalhada mostra que, muitas vezes, pessoas aparentemente normais também sucumbem a paroxismos de terror inspirados pela mensagem apocalíptica. 81 Parece paradoxal que, no início de um novo milênio, em meio a uma era que orgulhosamente chamamos de “era da ciência”, tantas pessoas ainda encarem as profecias do Apocalipse com uma mistura de expectativa e terror. Nós elevamos nossos mecanismos de destruição e extermínio a proporções míticas, partilhando com os deuses o poder de dizimar nossa espécie e nosso planeta múltiplas vezes. E tudo isso graças à Ciência! 95 Mesmo a idéia de equilíbrio, que parece implicar a ausência de mudança, muitas vezes se relaciona com um balanço dinâmico entre sistemas de dimensões diferentes. 98 Sêneca, 4 a. C. – 65 d. C., previu que “O dia há de vir em que nossos descendentes irão se chocar com a nossa ignorância de tantas coisas que para eles são tão óbvias”. 101 A cauda de um cometa sempre aponta na direção oposta ao Sol. [Mais adiante a resposta.] O cinturão de Kuiper (contendo bolas de gelo e poeira), se localiza um pouco além da órbita de Netuno, é um berçário de cometas: vez por outra, raras colisões, ou uma maior proximidade entre seus integrantes, ou mesmo a aproximação de uma estrela ou nebulosa, perturbam a órbita de uma bola de gelo, que é então atraída para a região central do sistema solar. Com a maior proximidade do Sol, e o conseqüente aumento da temperatura, os diferentes materiais que compõem essa bola de gelo são vaporizados um a um. A bola de gelo, parcialmente em combustão, se transforma em um cometa. A variação na composição química dos cometas explica as possíveis variações de cor em suas caudas. Por sua vez, a cauda de um cometa nada mais é do que o material volatilizado empurrado na direção oposta ao Sol devido à pressão proveniente do “vento solar”, um fluxo de partículas produzidas pelo Sol que se movem a altas velocidades. 111 Racionalismo: sistema segundo o qual todos os aspectos do mundo natural e da sociedade podiam ser compreendidos mediante a aplicação metódica de princípios e leis inspirados pelo pensamento newtoniano. (...) A tarefa do filósofo natural é descobrir o conjunto das leis físicas, aplicando-as na descrição dos fenômenos naturais. René Descartes (1596-1650), dizia: “Dê-me matéria e com ela eu construirei um mundo”. Emanuel Kant (1724-1804) Pierre Simon Laplace (1749-1827) Momento linear: P=mv (massa x velocidade). Uma bicicleta e um caminhão movendo-se a vinte quilômetros por hora em linha reta têm a mesma velocidade mas momentos lineares bem diferentes, devido à grande diferença entre as suas massas. [Momento angular é o que explica o fato da patinadora girar cada vez mais rápido à medida em que encolhe os braços.] 121 Muitas vezes, a opinião de alguém respeitado, mesmo que errada, sobrevive por muito tempo. 125 As nebulosas têm uma composição química de 3 elementos de hidrogênio para 1 de hélio. 130 Algumas coisas ainda não são explicadas. Por exemplo, por que os planetas Vênus, urano e Plutão, giram em torno de seus eixos no sentido oposto ao sentido de rotação do Sol; por que o eixo de rotação de Urano é desviado quase noventa graus com relação ao plano orbital dos planetas (como um pião que está prestes a cair); por que Marte tem uma atmosfera tão rarefeita; por que a Terra tem tanta água etc. (...) suas causas são atribuídas a diversos fenômenos catastróficos, desde o bombardeio de meteoros e cometas sofrido pelos planetas durante a sua infância até colisões cataclísmicas com satélites ou asteróides de grande porte. Portanto, para completar a descrição do processo de formação do sistema solar, somos obrigados a incorporar a existência de eventos catastróficos como parte necessária de sua história. Não podemos falar sobre a dinâmica do sistema solar sem invocar cataclismos. A destruição é parte da criação e a criação é parte da destruição. (...) As chuvas que fazem crescer o trigo também podem inundar e destruir cidades inteiras; a aparição celeste que anunciou o nascimento de Jesus também pode ser um prenúncio do Fim que se aproxima. 134 A quantidade de energia logo antes do impacto – a energia de movimento, ou energia cinética, do projétil – deve ser igual à quantidade de energia após o impacto, ou seja, a quantidade de energia dissipada no solo e na atmosfera à sua volta. A energia cinética é proporcional ao produto da massa do projétil pelo quadrado de sua velocidade. 135 O número atual de crateras descobertas é 150 e cresce a uma média de 5 por ano. Hoje sabemos que um objeto com um diâmetro de 10 quilômetros caiu na região da península de Yucatán, no golfo do México, 65 milhões de anos atrás, extinguindo 40% da vida na Terra. [Mais adiante.] O impacto que dizimou os dinossauros foi tão violento que uma coluna de água e rochas elevou-se até a metade da distancia entre a Terra e a Lua, despencando com uma fúria terrível que devastou uma área de milhares de quilômetros quadrados. 137 Como escreveu Walter Alvarez, “líquidos e gases se esquecem, mas as rochas se lembram”. A tarefa dos geólogos é decifrar a memória das rochas. 138 O ingrediente-chave ausente na teoria de Darwin é a genética. Com ela a Teoria da Evolução baseada na seleção natural passou a ser fundamentada nas falhas de transmissão de material genético de uma geração para outra, mutação, que pode ser causada por radiação de alta energia (raios X, gama, cósmicos, radioatividade natural) ou por contaminação química. 140 (...) o acúmulo de provas nos últimos 30 anos sugere que a evolução da vida na Terra é marcada por períodos em que novas espécies apareceram em um ritmo explosivo. (...) uma mudança abrupta no meio ambiente, causada pela colisão de um objeto extraterrestre ou por alguma causa local, ou mais raramente, por uma causa global, força uma redefinição da noção de sobrevivência dos mais adaptados. Inúmeras espécies antes perfeitamente bem adaptadas, seriam incapazes de sobreviver dentro das novas condições ambientais, enquanto outras seriam beneficiadas por elas. 145 (...) a emergência de vida inteligente parece ser o resultado de um evento aleatório que teria poucas chances de se reproduzir em outros planetas. (...) Por outro lado, é difícil imaginarmos que, em um Universo com centenas de bilhões de galáxias, cada uma com centenas de bilhões de estrelas, a vida inteligente não tenha aparecido em muitos outros locais. (...) Prefiro acreditar que o Universo está repleto de vida inteligente, mesmo se espalhada a distâncias enormes; prefiro imaginar que algumas dessas civilizações tenham atingido um tal nível de sofisticação que encontraram soluções para vários dos problemas que afligem a humanidade, como as guerras, a fome, a pobreza e a intolerância. (...) Outra idéia popular é que nós fomos “plantados” aqui por seres extraterrestres, que somos a prole de exploradores intergalácticos de outrora. Se isso for verdade, sofremos um seriíssimo caso de abandono paterno, já nossos pais nunca vêm nos visitar. (...) Algumas pessoas precisam tanto acreditar na existência deles que imaginam tê-los visto, talvez flutuando sobre uma estrada do interior ou em algum ponto de difícil acesso (...). 147 Na madrugada do dia 30 de junho de 1908, o céu sobre a bacia do rio Tunguska, na região central da Sibéria, foi rasgado por uma lâmina luminosa. Um objeto que hoje acreditamos ter sido um asteróide com perto de trinta metros de diâmetro viajando a vinte quilômetros por segundo, explodiu a uma altitude oito quilômetros. 150 As colisões (com a Terra) podem ocorrer tanto com cometas como com asteróides que, como vimos, são dois tipos muito diferentes de objetos celestes. Os asteróides, na sua maioria encontrados no chamado cinturão de asteróides entre Marte e Júpiter, são planetesimais rochosos que não chegaram a formar um planeta maior devido ao efeito destrutivo da gravidade de Júpiter. Os cometas são compostos principalmente de gases congelados e poeira, localizados além da órbita de Netuno, cerca de 50 mil vezes mais distante do Sol do que a Terra. Quando, ao aproximar-se do Sol, esses objetos se transformam em cometas, suas órbitas têm períodos normalmente bastante longos, demorando entre centenas de milhares até milhões de anos para completar uma única órbita em trono do Sol. 153 No início de 2001, mais de 9 mil asteróides já haviam sido numerados e “batizados”. Desse grupo, mais de 220 têm diâmetros acima de cem quilômetros. Os asteróides menores são bem mais abundantes; existem mais de 752 mil com diâmetros acima de um quilometro e por volta de 28 milhões maiores do que um campo de futebol. 155 Mesmo com o uso de tecnologias avançadas, seriam necessárias centenas de anos para os astrônomos que trabalham no projeto Spacewatch catalogarem todos os asteróides potencialmente capazes de cruzar a órbita terrestre, um tempo longo demais. (...) Os cometas são mais difíceis de serem detectados devido às suas órbitas incertas e, também, devido ao fato de eles só se tornarem luminosos quando já estão próximos de Júpiter, ou seja, a somente um ou dois anos de viagem da Terra. A meta do Levantamento de Proteção Espacial é bastante ambiciosa: detectar, até 2010, 90% dos asteróides com órbitas que passem perto da Terra ou interceptem a órbita da Terra – os NEAS, “asteróides próximos da Terra” – e com diâmetros acima de um quilometro; isso requer uma eficiência oito vezes maior do que a atual. 160 Armagedom – local onde o Bem e o Mal travam sua batalha final. 167 O sucesso recente da missão NEAR Shoemaker (do inglês Near Earth Asteroid Rendevouz, “encontro com asteróide próximo à Terra) da NASA, em que uma espaçonave operada remotamente da Terra não só orbitou em torno de um asteróide e o fotografou em detalhe, mas também conseguiu pousar nele, mostra que já temos em mãos a tecnologia necessária para uma interceptação. Os cometas, disse Newton, reanimam o Universo, alimentando mundos moribundos com seus vapores regeneradores. (...) O fim de uma era marca o início de outra, a criação seguindo a destruição, em um ciclo orquestrado pela dinâmica celeste, que avança indiferente à condição humana. 176 A adoração do Sol atingiu o clímax durante o reinado do faraó Akhenaton (akhen, “devoto”; aton, “globo solar”), que corajosamente decretou a falsidade de todas as divindades, impondo uma doutrina monoteísta baseada no culto ao Sol. 178 Tal como os faraós, o senhor Inca descendia diretamente do Deus Sol, o Criador Supremo, que era chamado Inti (luz). A maior parte das religiões dedicadas ao Sol preocupavam-se (e preocupam-se) com o mesmo tema: a preservação da vida depende da estabilidade do Sol, da luz e do calor gerados por ele. O culto ao Sol é uma expressão tanto desse fato como do nosso temos de que, um dia, ele simplesmente pare de brilhar. 181 (...) as altas temperaturas fazem os átomos vibrar intensamente; como, no nível atômico e molecular, temperatura significa movimento, quanto mais alta a temperatura, maiores as velocidades dos átomos e maior o numero de colisões entre eles. Praticamente toda a massa do átomo reside em seu núcleo, que é extremamente compacto (100 mil vezes menor do que o átomo) e formado por prótons, que têm carga elétrica positiva, e nêutrons, que, como já diz o nome, são eletricamente neutros. (Bohr não sabia da existência dos nêutrons em 1913, pois eles só foram descobertos em 1932 pelo inglês sir James Chadwick.). Os elétrons, cm suas cargas negativas, movem-se em trono do núcleo em órbitas específicas. Eles não podem estar entre duas órbitas, do mesmo modo que nós não podemos pisar entre dois degraus de uma escada. A órbita mais próxima do núcleo, o primeiro degrau da escada, é chamado de estado fundamental do átomo, enquanto os degraus seguintes são os estados excitados. 188 O físico neozelandês Ernest Rutherford demonstrou, através de experiências, que a transmutação entre os elementos químicos é possível por um de dois processos: a fusão de dois ou mais núcleos e a ruptura (ou fissão) de um núcleo em outros. 195 Enquanto a força da gravidade quer comprimir a estrela ao Maximo, a radiação gerada por essa contração cria uma contrapressão que impede o seu colapso. 199 O modelo de Bohr para o átomo não explica o que impede todos os elétrons de um átomo de simplesmente agrupar-se na órbita mais baixa possível, a mais próxima do núcleo. (....) Apenas dois elétrons podem ocupar a mesma órbita, dois a dois em cada degrau. 228 Segundo Einstein, a atração gravitacional entre dois corpos maciços pode ser interpretada como a curvatura do espaço em torno desses corpos. 231 O “mistério” vem de nossa cegueira, do que não pode ser visto, apenas imaginado. 243 (...) “é precisamente na fronteira do conhecimento que a imaginação tem o seu papel mais importante; o que ontem foi apenas um sonho, amanha poderá se tornar realidade”. Horizonte de eventos: é o limite de influência de um evento cósmico (ou força) qualquer. 248 O que é perfeito não muda e, portanto, existe fora do tempo. A eternidade não é apenas um período de tempo infinitamente longo, mas a ausência do tempo, a ausência de mudanças, de renovação, “o eterno presente”, como disse santo Agostinho. O Antigo e o Novo Testamento declaram que o tempo chegará ao fim quando o Bem derrotar o Mal. Enquanto ambos coexistirem, o tempo continuará a marchar inexoravelmente avante. ... o progresso não só resolve questões como gera outras. Hoje, nós vivemos em uma época extremamente paradoxal, em que o sucesso de nossa observações astronômicas vem criando também grandes incertezas com relação ao cosmo. 251 Einstein usou a repulsão criada pela constante cosmologica para estabilizar o seu universo; um Universo estático com uma distribuição homogênea de matéria entraria em colapso devido à sua própria gravidade, como uma estrela incapaz de liberar energia em seu interior. A possível existência e natureza dessa intrusa, que, apesar de sua deselegância, equilibrou o universo de Einstein, é hoje um dos grandes mistérios da física. A densidade de energia é dada pela energia total dividida pelo volume que a contém; se uma caixa contiver uma certa quantidade de energia e você diminuis os lados da caixa pela metade, a densidade de energia aumentará oito vezes; quanto menor a caixa, maior será a densidade de energia nela. 253 A densidade crítica é aproximadamente um átomo de hidrogênio em um cubo de meio metro de lado. 255 Efeito Doppler: a freqüência de uma onda aumenta se sua fonte está se movendo em nossa direção (ou nós em direção a ela) e diminui quando a fonte se afasta (ou nós nos afastamos da fonte). Apesar do Universo estar em expansão, Andrômeda está se aproximando da Via Láctea porque a atração gravitacional entre as galáxias suplanta a expansão cósmica e seu movimento é determinado pela força da gravidade em sua vizinhança. 265 A criação do Universo, tanto para a religião como para a ciência, é uma questão da Primeira Causa, a Causa que deu origem à existência. Aristóteles chamou-a de Primum Móbile, o Movedor Imóvel, o Ser situado na fronteira externa do cosmo, de onde todos os movimentos se originam. Os cosmólogos preferem referir-se a essa questão como o problema das “condições iniciais”. 267 A expansão cosmologica não distende objetos ligados por forças locais, como átomos, pessoas, planetas, estrelas, sistemas solares, galáxias ou aglomerados de galáxias. 270 A segunda lei da termodinâmica pode ser expressa de vários modos, todos equivalentes. Na sua versão mais simples, ela afirma algo obvio, que o calor sempre fui de um corpo mais quente para um corpo mais frio. (...) Um observador imaginário dentro d’água conclui que o tempo deixa de fluir quando o sistema gelo-água atinge o seu estado final de equilíbrio. O tempo define o ritmo da existência. É quando concentramos nossa atenção exclusivamente no início e no fim do tempo, esquecendo-nos de nossos vínculos com o que ocorre agora, que caímos vítimas do fervor religioso, do desespero existencial ou da suposta rigidez científica. Parafraseando livremente John Lennon: a vida é o que acontece enquanto você se preocupa com a morte. A morte deve nos inspirar, mas jamais nos paralisar. 276 O próton é composto por três quarks, dois ups e um down (uud), enquanto o nêutron é composto por dois down e um up (udd). Os experimentos atuais não dão nenhuma indicação de que quarks adicionais são necessários para descrever as partículas encontradas em experimentos. 277 Aqui entram as 4 forças fundamentais da Natureza. Já encontramos 3 delas: a força gravitacional, a força eletromagnética, que age sobre partículas com carga elétrica, e a força nuclear forte, que descreve de que modo quarks formam hádrons, como os prótons e nêutrons, e também de que modo prótons e nêutrons formam os núcleos atômicos. O último membro do quarteto de forças é a força nuclear fraca, cujo efeito mais importante é promover a desintegração de núcleos instáveis, como o urânio ou o plutônio. Tal como a força nuclear forte, a força graça também atua somente dentro de distâncias nucleares; em nossa vida diária, nós apenas experimentamos os efeitos das forças de longo alcance, as forças gravitacional e eletromagnética. 278 Fótons não têm massa. Sua energia é medida apenas pela sua freqüência. (...) O mesmo ocorre com a gravidade. O gráviton, a partícula que supostamente é a medidora das interações gravitacionais (ela ainda não foi observada), também não tem massa. 280 o que nós percebemos em nosso mundo quadridimensional como as forças gravitacional e eletromagnética pode, em um mundo em cinco dimensões, ser visto como sendo apenas uma força. (...) Tal como uma mangueira, quando vista de longe, se assemelha a uma linha unidimensional, a dimensão circular extra só pode ser “vista’ a distâncias muito pequenas. (...) Não é à toa que, se o Universo tem de fato mais de 4 dimensões, elas são invisíveis aos nossos olhos; os experimentos mais modernos chegam a investigar distâncias subnucleares de 10 (-16) cm, um feito impressionante, mas essas distâncias ainda são muito maiores do que o comprimento de Planck. 285 Para continuar nossa corrida em direção ao “evento inicial”, devemos descrever processos físicos ocorrendo a energias cada vez mais altas. (...) quanto maior a energia, mais as forças se assemelham, até que, nos primeiros instantes de existência do cosmo, todas elas se comportem como uma única força, o “campo “unificado”. [Tive uma idéia agora para titular tudo o que tenho a dizer: À Procura de Deus.] 288 Toda partícula na Natureza, seja ela uma partícula de força – como um fóton ou um glúon -, é associada a um campo. A unificação eletrofraca se deu em tempos anteriores a aproximadamente um trilionésimo [10 (-12)] de segundo após o “evento inicial”. Essa escala de tempo parece ser ridiculamente pequena para nós, mas é uma eternidade para um fóton, que é capaz de atravessar o diâmetro de um próton em 10(-24) segundo, um intervalo de tempo 1 trilhão de vezes menor! (...) o prótons, sendo feito de quarks, não é uma partícula estável, podendo desintegrar-se quando seus quarks se transformarem em léptons. Em outras palavras, a matéria da qual nós somos feitos não é eterna! O valor previsto para a longevidade dos prótons varia de acordo com a Teoria de Grande Unificação, mas inicialmente ela foi calculada em 10(30) anos, numero aparentemente enorme quando comparado com a idade do Universo, cerca de 1,4 x 10(10) anos. 291 No mundo das partículas, não sabemos por que os prótons e os elétrons têm a mesma carga elétrica (com valores opostos), nem o que determina as suas massas. 293 O Sol existe há pouco menos de 5 bilhões de anos; esse é o raio de seu horizonte causal. Um habitante de um planeta a 6 bilhões de anos-luz de distância do Sol não saberá da existência dele por mais 1 bilhão de anos. Voltando ao ago: imagine que jogamos duas pedras, separadas por uma boa distância; apenas quando as ondas por elas provocadas se cruzarem é que as pedras terão “conhecimento” uma da outra. 299 Se você usar um chapéu maior que a sua cabeça, ele cobrirá os seus olhos. Claro, o balão como um todo ainda tem curvatura, mas a curvatura “local” da região inicial é desprezível. A cosmologia inflacionária Poe o Universo observável dentro de uma região que foi quase perfeitamente achatada pela expansão; é impossível medir qualquer vestígio de sua curvatura. 302 Na ausência de forças externas, na Natureza tudo tende a evoluir ao estado de menor energia possível, como a pedra que, quando largada, cai no chão. 305 Essa previsão do Universo inflacionário é um dos grandes triunfos da ligação entre o micro e o macro, estabelecendo uma profunda conexão entre a dinâmica do Universo primordial (quando ele tinha apenas 10(-36) segundo de existência) e as estruturas de larga escala que observamos hoje, das galáxias a aglomerados de galáxias com milhões de anos-luz de extensão. De acordo com a física quântica, tudo na Natureza flutua; é impossível medirmos a posição de um elétron ou outra partícula com uma precisao arbitraria sem ao mesmo tempo criar erros na medida de sua velocidade. 307 O Universo está hoje em expansão acelerada e essa expansão pode ser explicada pela presença de uma constante cosmologica – ou algo que imita os seus efeitos – que contribui em aproximadamente 60-70% da densidade critica. A matemática é simples: adicionando a matéria comum e a matéria escura ao total de 30-40% da densidade crítica com essa suposta constante cosmologia a 60-70% da densidade crítica, nós obtemos o valor mágico necessário para um Universo plano, tornando a previsão do Universo inflacionário e as medidas das flutuações da radiação cósmica consistentes com as observações astronômicas. 310 De acordo com o a versão forte do princípio antrópico, o Universo deve necessariamente ter as propriedades que levam à existência de vida inteligente. Ou seja, se existe um Universo, deve existir vida inteligente. Em sua versão fraca, o principio antrópico afirma que os valores observados de certas quantidades físicas e cosmológicas, como a massa do elétron ou o valor da constante cosmologica, não são acidentais, mas determinados pela existência de formas de vida baseadas no carbono (e, possivelmente outras) no Universo. Em outras palavras, o principio antrópico fraco afirma que, de todos os universos possíveis, velhos ou jovens, cada um contendo constantes fundamentais com valores diferentes, este em que vivemos com certeza satisfaz as condições para a existência da vida; o Universo é como ‘porque nós estamos aqui. Suponha que nosso Universo seja parte de um “Multiverso”, onde uma multidão de universos diferentes (que chamarei de “cosmóides”) são criados e destruídos continuamente, como bolhas em uma sopa, alguns sobrevivendo por um longo tempo, outros desaparecendo tão logo nascem. Eu me posiciono no extremo do grupo de cientistas que refuta o princípio antrópico, em sua versão forte ou mesmo na fraca. Na minha opinião, o princípio não oferece nenhuma fonte de explicação cientifica, apenas justificando nossa presença neste Universo a posteriori; ele é o equivalente cientifico do “jogar a toalha”, uma desistência de uma busca mais quantitativa, baseada em princípios físicos. (...) O objetivo da ciência não é justificar e sim explicar. Talvez nós sejamos mesmo uma presença irrelevante na vastidão do cosmo, isolados em um pequeno planeta que órbita em torno de uma pequena estrela em meio a centenas de bilhões de outras e flutua em uma galáxia em meio a bilhões de outras. 314 Talvez seja paradoxal o fato de que quanto mais aprendemos sobre o Universo, menos parecemos saber sobre ele. Nós sabemos que o Universo tem geometria plana e idade em torno de 14 bilhões de anos. Para que o universo tenha geometria plana, ele precisa contar com 3 contribuições para a sua densidade de energia: a de matéria comum, como prótons e elétrons, que não chega a 5% do total; a de um ou mais tipos de matéria escura, de natureza desconhecida, que representa cerca de 30% do total, e a de uma ou mais formas de energia escura, que representa o resto. E por que não chamarmos essa teoria de GOD (como “Deus” em inglês), sigla de Geometry of Destiny (Geometria do Destino), em vez do atual TOE (do inglês, Theory of Everything) – TDT, Teoria de Tudo? Afinal, o que nos separa do divino é nossa existência finita, o fato de os nossos corpos parecerem com o tempo, enquanto as nossas idéias podem sobreviver à sua passagem. Nós existimos no tempo, enquanto Deus existe fora dele. Apenas através de nossa criatividade é que podemos transcender nossa “barreira” corpórea para nos unirmos ao eterno. 318 É difícil aceitar a idéia de que nós somos relativamente insignificantes dentro do contexto cósmico, de que nossa existência individual ou mesmo como espécie tem tão pouca influência no desenrolar das criações e destruições que se propagam pelo Universo. Nós somos seres complicados, imaturos, capazes das mais belas criações e dos crimes mais horrendos. Talvez, ao aprendermos mais sobre o mundo à nossa volta, sobre os vários ciclos de criação e destruição que acontecem continuamente nos Céus e na Terra, sejamos capazes de crescer um pouco mais, de enxergar além das nossas diferenças, e de trabalhar juntos para a preservação do nosso planeta e da nossa espécie.