Texto de apoio ao curso de Especialização

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Texto de apoio ao curso de Especialização
Atividade física adaptada e saúde
Prof. Dr. Luzimar Teixeira
DISTÚRBIO BIPOLAR
O que é?
O transtorno afetivo bipolar era denominado até bem pouco tempo de psicose maníacodepressiva. Esse nome foi abandonado principalmente porque este transtorno não
apresenta necessariamente sintomas psicóticos, na verdade, na maioria das vezes
esses sintomas não aparecem. Os transtornos afetivos não estão com sua classificação
terminada. Provavelmente nos próximos anos surgirão novos subtipos de transtornos
afetivos, melhorando a precisão dos diagnósticos. Por enquanto basta-nos compreender
o que vem a ser o transtorno bipolar. Com a mudança de nome esse transtorno deixou
de ser considerado uma perturbação psicótica para ser considerado uma perturbação
afetiva.
A alternância de estados depressivos com maníacos é a tônica dessa patologia. Muitas
vezes o diagnóstico correto só será feito depois de muitos anos. Uma pessoa que tenha
uma fase depressiva, receba o diagnóstico de depressão e dez anos depois apresente
um episódio maníaco tem na verdade o transtorno bipolar, mas até que a mania
surgisse não era possível conhecer diagnóstico verdadeiro. O termo mania é
popularmente entendido como tendência a fazer várias vezes a mesma coisa. Mania em
psiquiatria significa um estado exaltado de humor que será descrito mais
detalhadamente adiante.
A depressão do transtorno bipolar é igual a depressão recorrente que só se apresenta
como depressão, mas uma pessoa deprimida do transtorno bipolar não recebe o mesmo
tratamento do paciente bipolar.
Características
O início desse transtorno geralmente se dá em torno dos 20 a 30 anos de idade, mas
pode começar mesmo após os 70 anos. O início pode ser tanto pela fase depressiva
como pela fase maníaca, iniciando gradualmente ao longo de semanas, meses ou
abruptamente em poucos dias, já com sintomas psicóticos o que muitas vezes confunde
com síndromes psicóticas. Além dos quadros depressivos e maníacos, há também os
quadros mistos (sintomas depressivos simultâneos aos maníacos) o que muitas vezes
confunde os médicos retardando o diagnóstico da fase em atividade.
Tipos
Aceita-se a divisão do transtorno afetivo bipolar em dois tipos: o tipo I e o tipo II. O tipo I
é a forma clássica em que o paciente apresenta os episódios de mania alternados com
os depressivos. As fases maníacas não precisam necessariamente ser seguidas por
fases depressivas, nem as depressivas por maníacas. Na prática observa-se muito mais
uma tendência dos pacientes a fazerem várias crises de um tipo e poucas do outro, há
pacientes bipolares que nunca fizeram fases depressivas e há deprimidos que só
tiveram uma fase maníaca enquanto as depressivas foram numerosas. O tipo II
caracteriza-se por não apresentar episódios de mania, mas de hipomania com
depressão.
Outros tipos foram propostos por Akiskal, mas não ganharam ampla aceitação pela
comunidade psiquiátrica. Akiskal enumerou seis tipos de distúrbios bipolares.
Fase maníaca
Tipicamente leva uma a duas semanas para começar e quando não tratado pode durar
meses. O estado de humor está elevado podendo isso significar uma alegria
contagiante ou uma irritação agressiva. Junto a essa elevação encontram-se alguns
outros sintomas como elevação da auto-estima, sentimentos de grandiosidade podendo
chegar a manifestação delirante de grandeza considerando-se uma pessoa especial,
dotada de poderes e capacidades únicas como telepáticas por exemplo. Aumento da
atividade motora apresentando grande vigor físico e apesar disso com uma diminuição
da necessidade de sono. O paciente apresenta uma forte pressão para falar
ininterruptamente, as idéias correm rapidamente a ponto de não concluir o que começou
e ficar sempre emendando uma idéia não concluída em outra sucessivamente: a isto
denominamos fuga-de-idéias.. O paciente apresenta uma elevação da percepção de
estímulos externos levando-o a distrair-se constantemente com pequenos ou
insignificantes acontecimentos alheios à conversa em andamento. Aumento do interesse
e da atividade sexual. Perda da consciência a respeito de sua própria condição
patológica, tornando-se uma pessoa socialmente inconveniente ou insuportável.
Envolvimento em atividades potencialmente perigosas sem manifestar preocupação
com isso. Podem surgir sintomas psicóticos típicos da esquizofrenia o que não significa
uma mudança de diagnóstico, mas mostra um quadro mais grave quando isso acontece.
Fase depressiva
É de certa forma o oposto da fase maníaca, o humor está depressivo, a auto-estima em
baixa com sentimentos de inferioridade, a capacidade física esta comprometida, pois a
sensação de cansaço é constante. As idéias fluem com lentidão e dificuldade, a atenção
é difícil de ser mantida e o interesse pelas coisas em geral é perdido bem como o prazer
na realização daquilo que antes era agradável. Nessa fase o sono também está
diminuído, mas ao contrário da fase maníaca, não é um sono que satisfaça ou
descanse, uma vez que o paciente acorda indisposto. Quando não tratada a fase
maníaca pode durar meses também.
Exemplo de como um paciente se sente
...Ele se sente bem, realmente bem..., na verdade quase invencível. Ele se sente como
não tendo limites para suas capacidades e energia. Poderia até passar dias sem dormir.
Ele está cheio de idéias, planos, conquistas e se sentiria muito frustrado se a
incapacidade dos outros não o deixasse ir além. Ele mal consegue acabar de expressar
uma idéia e já está falando de outra numa lista interminável de novos assuntos. Em
alguns momentos ele se aborrece para valer, não se intimida com qualquer forma de
cerceamento ou ameaça, não reconhece qualquer forma de autoridade ou posição
superior a sua. Com a mesma rapidez com que se zanga, esquece o ocorrido negativo
como se nunca tivesse acontecido nada. As coisas que antes não o interessava mais
lhe causam agora prazer; mesmo as pessoas com quem não tinha bom relacionamento
são para ele amistosas e bondosas.
Sintomas (maníacos):
Sentimento de estar no topo do mundo com um alegria e bem estar inabaláveis, nem
mesmo más notícias, tragédias ou acontecimentos horríveis diretamente ligados ao
paciente podem abalar o estado de humor. Nessa fase o paciente literalmente ri da
própria
desgraça.
Sentimento de grandeza, o indivíduo imagina que é especial ou possui habilidades
especiais, é capaz de considerar-se um escolhido por Deus, uma celebridade, um líder
político. Inicialmente quando os sintomas ainda não se aprofundaram o paciente sentese como se fosse ou pudesse ser uma grande personalidade; com o aprofundamento do
quadro esta idéia torna-se uma convicção delirante.
Sente-se invencível, acham que nada poderá detê-las.
Hiperatividade, os pacientes nessa fase não conseguem ficar parados, sentados por
mais do que alguns minutos ou relaxar.
O senso de perigo fica comprometido, e envolve-se em atividade que apresentam tanto
risco para integridade física como patrimonial.
O comportamento sexual fica excessivamente desinibido e mesmo promíscuo tendo
numerosos parceiros num curto espaço de tempo.
Os pensamentos correm de forma incontrolável para o próprio paciente, para quem olha
de fora a grande confusão de idéias na verdade constitui-se na interrupção de temas
antes de terem sido completados para iniciar outro que por sua vez também não é
terminado e assim sucessivamente numa fuga de idéias.
A maneira de falar geralmente se dá em tom de voz elevado, cantar é um gesto
freqüente nesses pacientes.
A necessidade de sono nessa fase é menor, com poucas horas o paciente se
restabelece e fica durante todo o dia e quase toda a noite em hiperatividade.
Mesmo estando alegre, explosões de raiva podem acontecer, geralmente provocadas
por algum motivo externo, mas da mesma forma como aparece se desfaz.
A fase depressiva
Na fase depressiva ocorre o posto da fase maníaca, o paciente fica com sentimentos
irrealistas de tristeza, desespero e auto-estima baixa. Não se interessa pelo que
costumava gostar ou ter prazer, cansa-se à-toa, tem pouca energia para suas atividades
habituais, também tem dificuldade para dormir, sente falta do sono e tende a
permanecer na cama por várias horas. O começo do dia (a manhã) costuma ser a pior
parte do dia para os deprimidos porque eles sabem que terão um longo dia pela frente.
Apresenta dificuldade em concentra-se no que faz e os pensamentos ficam inibidos,
lentificados, faltam idéias ou demoram a ser compreendidas e assimiladas. Da mesma
forma a memória também fica prejudicada. Os pensamentos costumam ser negativos,
sempre em torno de morte ou doença. O apetite fica inibido e pode ter perda significativa
de peso.
Generalidades
Entre uma fase e outra a pessoa pode ser normal, tendo uma vida como outra pessoa
qualquer; outras pessoas podem apresentar leves sintomas entre as fases, não
alcançando uma recuperação plena. Há também os pacientes, uma minoria, que não se
recuperam, tornando-se incapazes de levar uma vida normal e independente.
A denominação Transtorno Afetivo Bipolar é adequada? Até certo ponto sim, mas o
nome supõe que os pacientes tenham duas fases, mas nem sempre isso é observado.
Há pacientes que só apresentam fases de mania, de exaltação do humor, e mesmo
assim são diagnosticados como bipolares. O termo mania popularmente falando não se
aplica a esse transtorno. Mania tecnicamente falando em psiquiatria significa apenas
exaltação do humor, estado patológico de alegria e exaltação injustificada.
O transtorno de personalidade, especialmente o borderline pode em alguns momentos
se confundir com o transtorno afetivo bipolar. Essa diferenciação é essencial porque a
conduta com esses transtornos é bastante diferente.
Qual a causa da doença?
A causa propriamente dita é desconhecida, mas há fatores que influenciam ou que
precipitem seu surgimento como parentes que apresentem esse problema, traumas,
incidentes ou acontecimentos fortes como mudanças, troca de emprego, fim de
casamento, morte de pessoa querida.
Em aproximadamente 80 a 90% dos casos os pacientes apresentam algum parente na
família com transtorno bipolar.
Como se trata?
O lítio é a medicação de primeira escolha, mas não é necessariamente a melhor para
todos os casos. Freqüentemente é necessário acrescentar os anticonvulsivantes como o
tegretol, o trileptal, o depakene, o depakote, o topamax.
Nas fases mais intensas de mania pode se usar de forma temporária os antipsicóticos.
Quando há sintomas psicóticos é quase obrigatório o uso de antipsicóticos. Nas
depressões resistentes pode-se usar com muita cautela antidepressivos. Há
pesquisadores que condenam o uso de antidepressivo para qualquer circunstância nos
pacientes bipolares em fase depressiva, por causa do risco da chamada "virada
maníaca", que consiste na passagem da depressão diretamente para a exaltação num
curto espaço de tempo.
O tratamento com lítio ou algum anticonvulsivante deve ser definitivo, ou seja, está
recomendado o uso permanente dessas medicações mesmo quando o paciente está
completamente saudável, mesmo depois de anos sem ter problemas. Esta indicação se
baseia no fato de que tanto o lítio como os anticonvulsivantes podem prevenir uma fase
maníaca poupando assim o paciente de maiores problemas. Infelizmente o uso contínuo
não garante ao paciente que ele não terá recaídas, apenas diminui as chances disso
acontecer.
Pacientes hipertensos sem boa resposta ao tratamento de primeira linha podem ainda
contar com o verapamil, uma medicação muito usada na cardiologia para controle da
hipertensão arterial que apresenta efeito anti-maníaco. A grande desvantagem do
verapamil é ser incompatível com o uso simultâneo do lítio, além da hipotensão que
induz nos pacientes normotensos
Última Atualização: 15-10-2004
Ref. Bibliograf: Liv 01 Liv 19 Liv 03 Liv 17 Liv 13 Psychiatry Research 2001; 103: 229235
Age of Onset of Bipolar II Derpessive Mixed State
Franco Benazzi
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