Quando dizemos: Francisco é surdo, Pedro é rico, foão é cego, os

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SEU õ ES GRAMMATICAES
Quando dizemos: Francisco é surdo, Pedro é rico, foão é
cego, os attributos que aqui seaífirmam dos sujeitos Francisco,
Pedro, João designam qualidades, estados habituaes, duradouros, permanentes; quando, porem, empregando o verbo
estar, dizemos: Francisco está surdo, Pedro está rico, João
está cego, enunciamos estados accidentaes, não permanentes,
qualidades actuaes, que datam de pouco tempo.
C o m muita propriedade c exacção emprega esses verbos
o Padre António Vieira no exemplo seguinte:
«O amigo por ser antigo ou por estar ausente, não perde o
merecimento de ser amado. »
Isto não obstante, encontram-se cm nossos melhores
clássicos do século 10 e 17 exemplos do emprego do verbo
ser exactamente na mesma accepção de estar, como se poderá
ver nos trechos seguintes:
«Depois da frota ser dentro» (Damião de Góes); «Amanhã serei
em Lisboa» (Souza); «E o duque de Viseu, que também era ahi, foi
com a infanta D. Isabel até o extremo» (G. de Rezende); aE ainda
vos digo que as pessoas que lhe bem queriam não devem ser tristes»
(Bem. Ribeiro).
«Não eram os traquetes bem tomados,
Quando dá a grande e súbita proceda:
Amaina, disse o mestre a grandes brados,
Amaina, disse, amaina a grande vela.»
(Cam.)
E m certos modos de dizer, não só entre os escriptores
antigos, senão também entre os modernos, encontra-se ainda
o verbo ser empregado pelo verbo ter:
«Depois d'el-rei D. Affonso ser vindo de França» (G. de Rezen
« Era chegada a noite; era chegado o momento fatal» ; «Era apenas
entrado na adolescência.»
De meneio mui trilhado, em phrase forense, é a expressão
«foi vindo a meu cartório» em vez de «veiu a meu cartório».
380
LEXICOLOGIA
*
* *
Dos verbos auxiliares —Chamam-se auxiliares dos verbos
certas formas verbaes que se ajuntam ao verbo abstracto ou
concreto, para exprimir diversos aspectos sob que se considera
a ideia fundamental por elle enunciada.
Entre os auxiliares contam-se em nossa lingua os verbos
estar, ter, dever, ir, vir, andar.
Todos elles, como auxiliares, formam linguagens compostas
com as variações verbaes indefinitas a que se appõem.
Mas nem sempre são auxiliares taes verbos: só o são,
quando formam as ditas linguagens compostas: Estou escrevendo, tenho escripto, hei de escrever, devo de voltar ced
vou vivendo, vem entrando, ando vendo.
«Andam pela ribeira alva arenosa
Os bellicosos Mouros acenando. »
(Cam.)
« O mal que vos muda a cor
(Se eu posso julgar de cores),
Pois a cor mata de amores,
Deve de ser mal de amor.»
(F. R. Lobo).
A existência dos auxiliares no portuguez e nas linguas
românicas explica-sc pelas tendências analyticas desses idiomas, desde a primeira phase de sua evolução.
Por elles torna-se mais clara, mais precisa, mais completa
a enunciação da existência exprimida pelo verbo, considerada
não já meramente em si mesma, senão á varia luz, debaixo
dos variadíssimos aspectos por que o pensamento a encara,
concebe e representa.
B e m que não fosse c o m m u m no latim o emprego das
formas auxiliares, já em muitos escriptores, ainda entre os
de maior celebridade, na idade áurea da litteratura romana,
se notam exemplos onde figura como auxiliar o verbo latino
SERÕES GRAMMATICAES
381
habere: a Copias quas heibebai paratas» ( C o m . ) ; <• I)e Caesare
sniis diciiiin habeo» (Cie); «Satis babes cognitum» (Id.);
« Vectigalia parvo pretio redempta habet» (Cães.); «Urbem
quam parte captam, parte dirutani habet •> (Tito Livio).
O emprego dessas formas auxjJiares, pouco encontradiço,
é verdade, nas construcções do latim litterario, mais frequente
se torna, á medida que a lingua latina se vai vulgarizando
mais, dando nascimento, pela differenciação a que se submettem os dialectos, delia oriundos, ás linguas românicas
e m cujo numero figura a nossa lingua portugueza.
If
Dos verbos concretos c sua classificação
(>s verbos com retos dividem-se em absolutos ou intransitivos
e relativos ou transitivos.
São intransitivos os verbos que e m si m e s m o s têm u m
sentido determinado ou completo; taes são os verb is brincar,
existir, morrer, nascer, permanecer, durar, ficar, cahir,
desapparecer, viver, amanhecer, alvorecer, dormir, rir. enlouquecer.
Relativos ou transitivos dizem-se os que não têm e m si
u m sentido completo, sendo mister u m complemento ou objecto
para lho determinar e completar; taes são os verbos amor,
receber, defender, matar, admittir, estimar, encher, trazer,
saber, conhecer, ter, levar, conduzir, collocar, perder, //unhar,
metter, possuir, concluir, terminar, completar.
Estes OU pedem depois de si u m complemento directo
ou immediato, chamado também pelos grammaticos inglezes
objecto directo, e então se d e n o m i n a m transitivos directos;
ou pedem u m complemento indirecto ou mediato, a que lambem
se dá a denominação de objecto indirecto e então se dizem transitivos indirectos.
São transitivos directos os verbos amar, colher, possuir,
perder, ganhar: Amo ti cinto/e; colho flores efrucios; possuo
uma chácara; perdi um conto de réis; ganhei a sorte grande.
382
LEXICOLOGIA
São transitivos indirectos os verbos obedecer, pertence
tender, resistir, carecer, precisar, depender, emanar, em
Obedeço á voz de minha consciência; o h o m e m publico não
pertence a si, pertence ao seu paiz, á sua pátria; os corpo
tendem para o centro da terra; resistiu aos maus impulso
careço de dinheiro, careço do teu auxilio; preciso de tu
luzes; este negocio depende de muita prudência e discreção;
esta autoridade emana de um poder legitimo; a luz vai emer-
gindo destas trevas.
Entre os transitivos alguns ha que pedem dois complementos: u m directo; outro, indirecto; dá-se-lhes o nomo de
bitransitivos. Taes são os verbos dar, entregar, remett
restituir, oferecer, attribuir, contar, dizer, referir
em phrases como as seguintes: Dar esmolas a um mendigo;
entregar uma carta a alguém: remetter uma carta a um amigo;
restituir a alguém as forças, o vigor; oferecer seus ofí
a um amigo; attribuir tudo á má sorte; attribuir a algué
a autoria de um crime; contar seus segredos a alguém; diz
referir, relatar seus males, suas desventuras a alguém.
Verbos concretos ha em nossa lingua que têm u m duplo
emprego, ora são usados em sentido transitivo, directo ou
indirecto, ora se lhes clá u m sentido absoluto ou intransitiv
No primeiro caso a acção indicada pelo verbo clara e
determinadamente recai no objecto directo ou indirecto; n
segundo é ella designada de modo geral, sem referencia a
objecto algum em particular.
Assim dizemos no sentido transitivo: cantar uma serenata;
cantar uma ária; cantar o Guarang de Carlos Gomes e no
sentido intransitivo: cantam as aves; cantam os moinhos;
cantam os malhos e martellos: cantam as fabricas; cantam as
escolas; cantam os ventos. «Quem canta seus males espanta»
(Prov.).
Verbos ha, outrosim, que, afora o objecto que os acompanha, têm ao demais u m complemento circumstancial, regido
invariavelmente em nossa lingua por determinadas preposições.
SERÕES GRAMMATICAES
383
Essa variedade de sentido põem-na em luz os seguintes
verbos portuguezes:
Abafar: .Abafar o fogo; abajur o doentinho.
«E foi tanto o concurso de gente e tanto o aperto dos que lhe
queriam tocar a roupa a alcançar a sua benção, eme esteve em notório perigo de o abajarem» (Brito— Chron.).
«Por certo que eu m e espanto como não abajei em tanta gloria^
perdi os espiritos» (Eujros.).
«Vemos muitos que com pouco trabalho abafam e perdem o tino»
(Souza).
Abaixar: abaixar a cabeça, os hombros, a cerviz; abaixar o
chapéu; a temperatura abaixou.
«Os vícios nos abaixam e a virtude levantae ennobrece »> (Leitão).
«Abaixam inchados rios pelas Íngremes ladeiras» (Cort. Real).
Abalar: «Abalou (o Padre Gaspar) a cidade de Goa com os
sermões que fazia» (Luc); «Abalam o peito essas lastimosas palavras
e enchem os olhos de lagrimas» (Arraiz). As casas abalaram com
o terremoto; os dentes todos abalaram.
«Abalou o collegio quasi todo em procissão pelas ruas de Coimbra »
(I!. Telles).
Abalroar: «Abalroaram os nossos por ambas as partes» (André
— Chron.).
« Pumlo o peito As tranqueiras, abalroaram por tudo» (Couto).
Abater: Abater o orgulho, a vaidade, a vista, os olhos, os fumos,
as armas, as bandeiras.
«As delicias e vícios sensuaes abatem o esforço e escurecem
a razão» (Luc). Por estar toda socavada abateu áquella immensa
muralha; todo o terreno abateu.
Acabar: «Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo
digere, tudo acaba» (Vieira). «Alli onde o mar acaba».
«Acabai de acabar tantas tristezas,
Pois acabastes já vãs esperanças;
Acabem já também minhas firmezas,
Acabe a vida, acabarão lembranças,
Mas tudo esta por vós tão acabado.»
(Cam.)
384
LEXICOLOGIA
Acalmar: O remédio acalmou as dores do dente. O vento subitamente acalmou.
Adiantar: Adiantar os negócios; adiantar dinheiro; adiantar os
preparativos da jornada.
As tribulações adianíaratn-lhe a morte. «Fácil fica de entender
quanto adiantou nas lettras, no decurso de tão entendido leitorado»
(L. Souza).
Afrouxar: «O decurso do tempo não ajrouxara a indignação»
(A. Herc). «A autoridade moral de seus accordãos ia ajr o lixando
a olhos vistos» (Lat. Coelho).
Amainar: «Amaina, disse, amaina, a grande vela» (Cam.). Amainaram os mares, amainaram os ventos, as tormentas, a febre, o
calor, o furor.
Arrancar: «Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas»
(Vieira). «F dizendo isto, arranca meia espada» (Camões).
«Suas capellas, seus cabellos d'ouro,
Arrancam e desfazem.»
(A. Ferreira).
«Como tinha uma galé bem esquipada, arrancou e rijo foi dar u
cabo á galé de L. Brito » (Couto). «Quando na força desta contenda
arrancaram furiosamente as galés » (L. de Souza).
Arrastar: «As luzes do nascimento de Jesus arrastaram as purpuras dos reis» (Vieira). Os vestidos arrastam; as serpentes arrastam.
«Á serpe disse: a mais abominada
Serás de quantas coisas ha na vida;
Andarás sobre peitos arrastando,
Ficar-te-ás sú da terra sustentando.»
(Rolini de Moura).
Arremetter: «Arremettem ao inimigo, como leões» (L. de Souza)
A fera arremede contra os varões da jaula.
Arrebentar: As minas arrebentaram o edifício; arrebentou fecho
e tranquetas. «F o escarcéu arrebentou todo em llor» (Fern. Mendes ).
«1", arrebentando a terra em borbolhões d'agua, se sovertia toda
a cidade» (Idem ).
Aspirar: «Flores
, impregnadas de tão subtil veneno, que
SEUÕES GRAMMATICAES
385
esta ao beijal-as aspirou a morte» (A. Cast.) Aspirar ás dignidades,
aos postos elevados, ao senhorio. É u m a ambição a que não cessa
de aspirar. «Onde tudo aspirava amor» (Vieira).
Assistir: Assistir alguém com mezadas, com dinheiro, com conselhos, com esmola. Assistir á missa, ás exéquias, aos officios divinos;
assistir ao moribundo, á cerimonia. «Se as não assiste este divino
e todo poderoso soccorro» (Vieira).
Auyiuentar: Augmentar alguém suas rendas, seu capital, seus
fundos, seus haveres c fortuna. A cidade augmentava cada anno em
poder e grandeza.
Avultar: «Tudo o que lhe fallo quero que pareça alguma coisa
e para isso o avulto com termos e acções encarecidas» (M. Bernardes,
Luz e Calor). « AvultaAhe as faces» (A. Vieira). «Com a evidencia
do ventre da Senhora, que já avultava» (Telles, Ilist.j.
Balbuciar: Balbuciar historias, contos, desculpas; balbuciar seus
cândidos pensamentos. A timidez balbucia.
Branquear: Esse preparado branqueei as mãos; a velhice branquea
os cabellos; a neve branquea os campos.
«E por isso dizem bem, que dizer e fazer não é para todo o homem,
que nem é ouro tudo o que reluz, nem farinha o que branquea. (Ferreira, Eufros.).
Cantar: Cantar as armas, os heroes, as proezas, os feitos gloriosos, o amor, a palinodia, uma cavatina, uma serenata, uma ária:
«Cantam as oíficinas c as fabricas» (A. Cast.).
" Ao longo d'agua o níveo cysne canta,
Rcspondedhe do ramo a philomela»
(Idem).
Chorar: «Chorava alli minhas maguas» (B. Ribeiro).
«De veras chora o coração de considerar isso»
(F. M. de Mello).
«Vivo; impero; sou tua: e tu me choraras?!»
(A. Cast.).
« Se uma lagrima ainda, o mãi, turbar teus olhos,
Dize: o meu anjo bom não me quer ver chorar»
(Idem).
19
386
LEXICOLOGIA
« E debulhada em pranto assim parece
Alvo lirio do prado, em cujo cálix
Chorou a aurora ao despontar do dia »
(Garrett).
Chovei". Deus fez chover o manná do céu. Chova Deus sobre vós
as bênçãos de sua munificência. «Muitas bênçãos, muitas graças
chovam nesta habitação» (A. Cast.). «Choviam os papelinhos de
pastilhas» (R. da Silva).
Coar: «O vento vinha coado pelas fisgas da porta» (A. Herc).
«Coar mosquitos e engolir camellos»
«Sentia a piedade eoar-lhe no coração» (A. Herc).
Colher: Colher fructos, colher flores, colher applausos, colher
louros o triumphos. A morte colheu-o cedo; a frecha não poude
colher o alvo; colheu-o á unha; colheras velas. Esse teu argumento
não colhe.
Comer: A ferrugem come o ferro; os vermes lhe comerão as
carnes. «Aqui gastei a vida; já agora quero que esta terra me coma
também os ossos» (Camillo). «E porque havia três dias que jejuava,
comeu á tripa forra» (Idem). «Come como u m alarve».
Correr: Correr a campanha, correr terras, mares, ruas; correr
folha, correr o ferrolho, correr a posta, correr Seca e Meca, correr
o mundo, correr a via-sacra; correr a cortina; os ventos correm os
rumos da agulha. «Entre nós e Deus não corre a mesma lei que entre
nós e o mundo» (Paiva). «Pouco basta para quem de uma vez se
sabe determinar e correr contas com o mundo» (L. de Souza).
«Abaixou os olhos e eorreu-os pela espada» (A. Herc.).
Declinar: Declinar o perigo, a acção da justiça, declinar o
nome de seus cúmplices. «Declinaram o caminho para a mão
esquerda» (Leitão). O dia começou a declinar; sua saúde começou
a declinar.
Derivar: Derivar u m a palavra de outra; derivar toda a sua
riqueza da herança paterna. «Não são os que derivam o poder real
do divino em linha recta» (Garrett). «Deste facto psychoiogico deriva
principalmente a hypocrisia» (A. Herc).
Desfallecer: «Já a chaga cruel m e desjalleee» (J. F. Barretto).
«Depois que a grã R o m a desjalleeer do seu senhorio» (Barros).
Descaiiçar: Deseançar os membros fatigados; descançar o braço
sobre a cadeira; o campo descançou muito,
SEItÕES GRAMMATICAES
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« Dcscança, frauta, agora» (Cam.).
Desfechar: Desjeehar o sello, a porta; desjeehar settas, tiros
golpes. O drama desfechou tristemente; a bombarda estava para
desjeehar.
Dizer: Dizer verdades, dizer mentiras, dizer parvoíces; dizer a
missa, as horas canónicas. Não lhe dizem bem essas louçainhas.
As duas janellas diziam para a praia do Flamengo.
«Se dizem, fero amor, que a sede tua
N e m com lagrimas tristes se mitiga,
E porque queres, áspero e tyranno,
Tuas aras banhar em sangue humano»
(Cam.).
Dobrar: Dobrar o joelho, dobrar os golpes, os muros, as fortif
cações, os esforços, o cuidado; dobrar o pranto, os soluço-, as
lagrimas. « Era um espirito vigoroso e um caracter d'aço, dobrou,
mas tornou a erguer-se» (R. da Silva).
«O animo de subir lhes acovarda ;
Dobra co'as trevas o terror, augmenta
Com a grita confusa a sanha, a fúria
D'um lado e outro, e longo permanece
Entre tanto valor dúbia a victoria»
(Garrett).
Douilejar: Doudejanameaças, doudejar finezas; deixai-o doudeja
doudejam as borboletas na campina.
Embrutecer: A vida material o embrutece; os vícios e as paixões
o embrutecem. Alli não medra o entendimento, mas embrutece.
Empolgar: Empolgar o poder, empolgar o dinheiro alheio, empolgar a herança; a águia, ave de Jovc, empolga o raio. «Os bens em
que os reis empolgam, não os soltam facilmente» (L. de Souza).
Emmudecer: «Se Deus emmudecera os oráculos» (Vieira).
« Emmudeceu uma bocca eloquente, morreu um grande homem em
Portugal» (Lat. Coelho).
Enfraquecer: A escuridão enfraquece os ânimos; a doença o
tem enfraquecido; com os annos vai elle enfraquecendo.
388
LEXICOLOGIA
Encarecer: Encarecer a culpa, afineza,os favores, os talentos e
os merecimentos de alguém. «Não encareço este negocio, porque
conheço a piedade e*zelo de V. A. » (Vieira). As vitualhas vão encarecendo.
Envelhecer: Ávida afanosa, os trabalhos e as tribulações envelhecem o homem. «Os corações verdadeiramente bons não envelhecem: tocam a meta cia perfeição» (Santo Agostinho). «Envelhecera
alli u m século em sete dias» (R. da Silva).
Errar: Errou o caminho, o nome, a lição, o golpe, o alvo, o tiro,
a conta, o calculo.
«Se por algum acerto Amor vos erra » (Cam.).
«Nunca o mau agouro erra» (Lobo).
Esforçar: «EsJorea, coração, não desfalleças cm coisas de
tamanho contentamento» (Barros).
« Dest'arte a gente força e esforça Nuno » (Cam.).
«O cysne morrendo a voz esforça em doce melodia» (Sáde Menezes).
Espadanar: «Viu cahir destroncado o corpo espadanando sangue» (R. da Silva). «Das rochas espadanam as fontes» (Idem).
Espertar: Espertai aquelle homem. Ao ruido do povo espertou
a cidade.
Faiscar: «Os olhos Jaiscando raios de amor» (Lobo). Faísca a
pederneira; debaixo do malho jaisca o ferro sobre a bigorna. «Afigurava-se-lhe que em roda delle balançava a caverna, e a luz fumosa
da tocha que ardia, segura no braço do ferro, cravado na pedra,
parecia-lhe jaiscar emfitascor de sangue» (A. Herc).
Ferver: Ferver bagas de zimbro, cabeças de papoulas em
dois litros de agua. «Ferviam as aguas nas fragas, despenhando-se
em caixão na ribeira» (R. da Silva).
Filtrar: Filtrar u m licor,filtrara agua. Este xaropefiltralentamente.
Gelar: «Gelas a contricção no fundo (Palma» (Bocage). Gela o
coração de horror e medo; gela o orvalho nos campos. «O som das
trombetas geloude súbito» (A. Herc).
Gottcar ou gottejar: As flores pela manhã gotteam orvalho.
«Veremos a mesma espada já gotteando sangue nosso» (Vieira).
SERÕES GRAMMATICAES
389
«Ha muito quo meus olhos não gottejam
o repassado fel de atra amargura»
(Gonçalves Dias).
«Cinco té seis passos na mesma rocha nasce uma fontezinha
d'agua, a qual (le fora não dá mais signal de si que sentir-se gottejar» (Fr. Pantaleão (PAveiro).
«Nas grinaldas, nos festões, nas rosas
com que se enflora, gotteja o orvalho
da aurora, dictamo dos corações»
(G. Dias).
Imperar: «A rainha a qual cm nossos tempos imperou os
Ethiopes» (Barros). «Lembra-me haver ouvido c lido do imperador
D. Fernando o segundo, pai do que hoje impera, que não quiz dormir
em unia cama por lh'a terem perfumado » (Francisco M. de Mello).
Inchar: Os ventos incham as velas, o gaz incha o balão, a tormenta incha o mar; incharás como a cigarra da fabula, a O que só
'
• que Ioda esta monarcliia de Portugal se não deixe inehar
desejo (
muito do vento da fortuna » (Vieira ).
Indemnizar: «lira necessário que a sociedade me indemnizasse do
património» (Camillo). «Para o defender e indemnizar de quaesquer
damuos» (Lat. Coelho). «Indemnizar a camará apostólica por teclas
as despesas» (Idem). «Como poderia indemnizar-d sua pátria das
producções futuras?» (A. Cast.).
Interessai". Nada os interessa; o golpe interessou o pulmão, a
carótida. » Para os interessar na sua defesa» (A. Herc). «Que logo
conhecereis quanto lhe devia interessar» (A. Cast) (.(Interessava
honra d!el-rei e á memoria de seu pai» (A. Herc).
Jogar: Jogar cartas, jogar abusões, injurias, remoques, jogar
dados, jogar afortuna dos filhos, o dinheiro alheio; jogar o bilhar,
o gamão, o xadrez. «Se não se emendar, um dia, jogo-lhe u m remoque desagradável» (Cam.). «Velho na idade, moço nafigura,joga,
graceja e ri» (A. Ferreira).
« Esbelta joga a fragata
Como um eorsel a nitrir»
(G. Dias).
390
LEXICOLOGIA
Ladrar: «Atraz elles vinham os outros mouros, que os vinham
ladrando» (Ruy de Pina). «Não fujas nem ladres, senão asso-te
numa camisa de pez» (R. da Silva). Ladrar insultos, calumnias,
pragas, maldições, blasphemias.
Levantar: Levantar a cabeça, as mãos, os braços; levantar uma
carta, um mappa geographico; levantar u m edifício, u m a planta;
levantar trincheiras, muralhas, fortificações, u m a estatua, u m
monumento ; levantar o cerco ; levantar a lebre; levantar a luva.
«Como não levantara ella a áurea fronte
Entre tantas nações, que a só conhecem
Por ter dobrado o horrendo Promontório
Por u m antigo brado de conquista! »
(F. M . do Nascimento).
O tempo levantou; os géneros alimentícios levantaram; o pão
levantou bem desta fornada; o barco levanta muito de proa.
Mergulhar: Mergulhou-os essa noticia na mais acerba tristeza;
mergulhar a cabeça na torrente. O pescador de pérolas mergulha
muito.
Moer: «O pai moeu-a muito bem moidade pancadaria» (Camillo).
Este anno o nosso engenho moeu tarde. « C o m aguas passadas
não móe moinho ».
Montar: Montur um cavallo; montar Mm collegio, u m a loja, u m
armazém, uma fabrica; este cruzador monta muitas peças. «Quanto
V. S. está em Coimbra, tanto monta Roma, como Lisboa» (Vieira).
Navegai*: Estes povos navegam sempre aquelles mares. «Navegamos dez léguas neste dia sem susto e divertidos» (B. do Grão
Pará).
Passar: Passar o rio, a ponte, o estreito, os valies, os montes,
os limites, as fronteiras. Tudo passa e acaba.
«De todo aquelle idyllio tão vivo só eu resto; guardadora, choça,
rebanho, passou tudo» (A. Cast.). «O homem passou e morreu:
é a lei da caduca humanidade» (Lat. Coelho).
Purpurcar: A luz da aurora purpúrea o horizonte; a natureza
purpúrea varias conchas. «Fazpurpurear aspallidas areias» (Gabriel
P. de Castro). « Longe purqmrêa a aurora».
Quebrar: Quebrar o silencio, as leis, os privilégios, o seguro,
as pazes, a verdade, o pacto, a fé, os contractos, a promessa.
SERÕES GRAMMATICAES
391
«A reputação ó espelho cristallino: qualquer toque o quebra,
qualquer bafo o empana» (Francisco M. de Mello).
Áquella dama já principia a quebrar; o vento quebrou durante
a noite; quebrava com todos.
cr H o m e m de antes quebrar que torcer» (Sá de Miranda).
«A esmola monta a mais de mil cruzados, ainda que quebra muita
desta quantia pela differença de cambio» (Fr. Pantaleáo dAveiro).
Querer: Quero vel-o sempre assim; Deus assim o quiz. «Se o
destino assim o quer, Faça-se» (A. Herc). «Officiaes que lhe queriam,
como a pai» (J). de Góes). «Havia na casa outra religiosa que lhe
queria muito» (Luiz de Souza). «Mariana é minha irmã: quero-U\c
muito » (A. Cast.).
Rebentar: A mina rebentou a abobada. « As lagrimas rebentaratnllie como punhos» (A. Herc).
«Eis rebenta a meus pés u m phantasma» (G. Dias). «As portas.
os pateos, as ruas rebentando de gente» (Vieira).
Recuar: Recuar um carro, uma segs>, um movei : recuar o pas-...
o olhar; recuar o atrevimento, a protervia, a audácia, o insulto.
«Oh! se eu pudesse recuar tua existência!» (A. Cast.).
«A concepção humana recuaria aterrada, se pudesse observar
nesse momento a alma tenebrosa do monge, revendo-se com acre
e phrenetico deleite nas sensações de u m ódio encanecido, emtim
satisfeito, satisfeito alem de tudo o que esperava» (A. Herc).
v Recuai, refugi, vaidosos monumentos, diante o serio varão»
(A. Cast.).
Reflectir: Os espelhos reflectem a imagem dos objectos.
*E a saphyra que o azul do céu reflecte» (Garrett).
«Pensa, prevê, recorda-sc, reflecte,
N u m ponto sobe aos cens, desce num ponto.»
(J. A. de Macedo).
Reger: Reger o reino, reger o império, reger uma orchestra, reger
uma cadeira. «Não tem ella tanto interesse como nós, em que leis
sabias rejam e homens sábios administrem?» (A. Cast.). «Onde
regem e trabalham reis christãos» (Lat. Coelho). «Que forma de
governo tem regido em Portugal?» (Idem). «Cumpra-se o ajuste;
e Rómulo quem rege» (A. Cast.).
Rolar: As correntes vão rolando o navio; o rio rola as areias
e pedrinhas de seu leito. Rola o mar; rolam os annos.
392
LEXICOLOGIA
Mil obséquios
Na cabeça lhe rolam c o transportam».
((
(A. Diniz da Cruz).
Semear: Quem semea ventos, colhe tempestades; quem não semea,
não colhe.
Sorrir: A aurora vinha sorrindo. «O amor e a poesia sorrindo
graças, esperanças, illusões» (Lat. Coelho).
Subir: Subiu muito no conceito publico. «Dignidade a que o subira
a munificência de Pombal» (Lat. Coelho).
Suspirar: Suspirar tristes endechas; suspirar suas maguas, seus
queixumes, sua dor, seus males.
«Agora o velho suspira os tempos cia mocidade); (4. Cast.).
O rouxinol suspira na soidão; suspira o sabiá na selva.
Torcer: Torcer o pé, o braço, o rosto, os olhos, o caminho, o
sentido de algum trecho; torcer a vocação, o génio, a consciência,
as orelhas e o nariz.
«Emquanto a natureza vai torcendo no fuso o eterno fio» (A.
Cast.). « H o m e m d'antes quebrar que torcer» (Sá de Miranda).
Tornar: «E os donos todos delias se foram a el-rei de França
clamar e pedir que lhes fizesse tornar o seu» (G. de Rezende).
«Despediu-se do capitão tornando na ordem em que veiu» (Barros).
Trovejar: «O povo trovejava gargalhadas» (Camillo). « O meneio
compassado, quando a oração deslizavafluentee remansado ; nervoso
e arrebatado, se a paixão trovejava nos lábios do orador» (Lat.
Coelho). «Troveja a olympia sala» (Francisco Man.).
Urrar: Urra o elephánte na jaula. « Urrando ameaças e blasphemias » (A. Cast.).
Variar: Variar o estylo, a phrase, as comidas, a dieta. Variam
as estações, os gostos, os costumes, as modas, os usos. « E m
beldades varia a natureza» (Cam.).
«E quando de esmeraldas se toucava
A terra alegre, e de diversas cores
O natural dos prados variava».
(Fern. Soropita).
Voar: «A mina com tremendo estampido voou pelos ares toda
a face do muro» (Jac Freire). «Sempre eram sete léguas, mas
roei-as» (L. Felippe Leite).
SEROES ORAMMATICAES
393
«Têm a/.as todas as novas tristes para chegarem, voando, o"nde
mais hão de magoar» (Fr. L. de Souza).
Vozear: «Eil-os prestes as lagrimas e aos risos; á audácia e á
execução vozeiam loas» (A. Cast.).
«Corre, vozeia, ataca, rompe, abate».
(Bocage).
Zumbir: «Já desde os seus derradeiros triumphos o anda a morte
espiando e zumbindo-\he no meio das vaidades o secreto presentimento, de que eram acabadas dentro em pouco para elle as batalhas
e fúnebres já os louros da tribuna» (Lat. Coelho). «Zumbia o enxame
popular» (R. da Silva). « Pois só porque a abelha zumbiu aos ouvidos
do caçador faminto, arrojará elle para longe de si o mel de seu favo
e esmagará o insecto?» (A. Herc).
Zurrar*. Zurrar sandices, desatinos, disparates, conceitos tolos
e parvos. nZurras, turras deveras» (Bocage)
C o m o ossos, conta ainda a nossa lingua copia abundante
do verbos que, conforme as circurtistancias, são pelos nossos
escriptores empregados já absoluta ou intransitivamente, já
relativa ou transitn nmente.
Entre os verbos concretos intransitivos alguns ha que,
afora o attributo que implicam e encerram e m seu radical,
têm mais u m attributo extrínseco, sendo neste ponto semelhantes ao verbo ser. Taes são os verbos ficar, estar, parecer.
permanecer, nascer, viver, morrer, existir, e m phrases c o m o
as seguintes: Fiquei attento; estou doente; parece louco;
permaneceu firme; nasceu, viveu e morreu pobre: aquelle
monumento ainda existe intacto c o m o testemunho de seu
puder.
«Nãofiquei homem não; mas mudo e quedo
E junto de u m penedo, outro penedo.»
(Cam.).
Esses verbos ligam aos sujeitos das proposições por elles
constituídas u m attributo tomado fora cios m e s m o s , sem o
qual (içaria a proposição incompleta e sem sentido ou pelo
menos não exprimiria c o m verdade o que se deseja exprimir.
5d
394
LEXICOLOGIA
Designamol-os, por isso, verbos de attributo duplo, super
posto ou secundário.
Verbos essencialmente intransitivos ha a que se ajuncta,
ás vezes, u m complemento cognato ou pleonastico, dandose-lhes sentido transitivo; taes são os verbos viver, morrer
dormir nos seguintes modos de elocução: dormir um somno
tranquillo e socegado; morrer morte honrada, morte afrontosa, morte natural; viver uma vida cheia de amarguras.
«Morre morte traidora» (Vieira).
«Antes quizera ser pedra ou ser nada do que viver vida semelhante» (Bernardes). «A vida viverei que o céu m e ordena» (Fern.
Alv. do Oriente). «Ella vos distinguira daquelles que dormem o
somno do esquecimento» (Monte-Alverne). «Oh! minha vida que
ainda u m a vez te viverei!» (Garrett).
Todos os verbos transitivos directos ou indirectos e ess
últimos, a que chamamos de attributo duplo, secundário o
superposto, denomina-os C. P. Mason verbos de predicação
incompleta e Alexander Bain, em sua Higher English Grammar, verbos incompletos ou de apposição.
Quanto á forma e conjugação são* os verbos concretos
divididos em reyulares, irrcçjulares, defectivos e prononiinados.
Hegulares dizem-se os que são inteiramente conformes ao
typo de sua conjugação. Taes entre outros os seguintes:
amar, cantar, contar, livrar, defender, render, partir, ad
Irregulares são os que se apartam do verbo typo de sua
conjugação. Taes os seguintes: dar, estar, sobrestar, ser
caber, saber, poder,prazer, querer, fazer, ver, ir, vir,p
Defectivos chamam-se os verbos a que faltam tempos,
modos, números ou pessoas.
Os defectivos ou são de sujeito indeterminado ou de suje
determinado.
Os dejectivos de sujeito indeterminado chamam-se impes
soaes. Esses ou são essencialmente impessoaes, como chover,
chuviscar, granizar, relampejar, saraivar, trovejar,
SERÕES GRAMMATICAES
395
ou accidentahiionfe impessoaes, c o m o as locuções dança-se,
brinea-se, corre-se, dorme-se.
Alguns des968 essencialmente impessoaes ha que no sentido
figurado podem algumas vezes empregar-se c o m sujeito
determinado: As balas choviam de lodosos lados; chevem-me
lagrimas dos olhos; chovem apodos e baldões; &a ira de Deus
que do céu chove»; ((choviam papelinhos de pastilhas»; «relauipaijueie a estes olhos a verdade-»; «a quem Deus chovia pão do
cru» (Paiva); «o pavimento juncado de flores e até o tecto
chovendo rosas» (Vieira); «o céu de todas as partes chovendo
lanças e Jitlminando raios» (Idem); ((muitas bênçãos, muitas
graças chovam nesta habitação» (A. Cast. ).
Occorre o mesmo no latim e no francez: «Deitaria adorea
pluebaut» (Statius). « Sang ninem pluiSSC nuntiatum est» (Cie).
«Dieu plcut surte c/atm/i du juste com na- snr celui du pi-cheur»
(Bossuet).
De modo semelhante empregam os inglezes o verbo to rain (chovor), de que sejam prova os seguintes versos deShelley:
« From One lonely eloud
The moon rains out her beams, anil henren is orerJUtn-ed»
Os defectivos de sujeito determinado são unipessoacs ou
pessoaes: os unipessoacs só se empregam na terceira pessoa do
singular. Taes são as fornias verbaes importa, releva, convém,
cumpre.
Todos os mais são pessoaes: ou careçam de algumas
pessoas nus tempos c modos usados na lingua. c o m o os
verbos feder, carpir, brandir, remir; ou se empreguem e m
todas as pessoas desses m e s m o s tempos e modos, c o m o poder,
querer, etc.
O s verbos essencialmente impessoaes contêm e m seu radical uni attributo que exprime phenomenos meteorológicos,
mudanças e variações ther m o métricas, alternativas do dia e
da noite e distinguem-se dos ttnipessoaes, porque estes tem
sempre uni sujeito que se pode determinar, exprimido já por
396
LEXICOLOGIA
u m verbo que se lhes segue no infinitivo, já por u m a proposição constituída pelo subjunctivo; aquelles, porem, têm u m
sujeito vago, indeterminado, sem palavra alguma expressa
que o precise, defina e individue.
Para indicar esse sujeito indeterminado serve-se a lingua
franceza do pronome- il, que evidentemente não tem o m e s m o
cunho de determinação do pessoal il, e por isso lhe c h a m a m
alguns pronome indefinito.
Verbos pronomiiiados, geralmente chamados pronominaes,
denominam-se os que e m toda a sua conjugação se acomp a n h a m de u m
pronome, complemento
directo ou indirecto,
real ou apparcnto, c o m o arrepender-se, atrever-se, prezar-se,
manter-se, etc.
A forma pronominada encerra muitos verbos de sentido
differente: são os pronominados
reflexos, os recíprocos, os de
sentido passivo, os impessoaes, os emphaticos ou expletivos e
os de espontaneidade de acção.
C h a m a m - s e reflexos ou reflexivos os verbos cujos sujeitos
fazem recabir sobre si m e s m o s , por meio dos pronomes de sua
m e s m a pessoa, a acção por elles exprimida: O vaidoso ama-se
em extremo; o fátuo preza-sc mais do que deve.
«Coimbra acordando mirava-se com todo o orgulho de formosa
no espelho que o Mondego arqueava alem da ponte» (R. da Silva).
Pronominados recíprocos são os que indicam a acção reciproca
de dois ou mais sujeitos. Indicam esses verbos acção e reacção
entre seus sujeitos e objectos: Pedro e Carlos odeiam-se; elles lá
se entendem; Eduardo carteia-se com seus amigos; corresponde-se
com eminentes homens da Europa.
«O ódio com que em todos os tempos os escriptores se expuzer
irrisão dos ignorantes, mutuando-se affrontosas injustiças» (Camillo).
«As artes entre si se eommunieam;
Cada u m a ajuda a outra em seu officio»
(A. Ferreira).
SERÕES GRAMMATICAES
397
«liste fortuito mas desde logo amoroso encontrar de dois sympathicos e castissimos olhares, que de longe e furtivamente se estão
reciprocando terníssimos alíectos» (Lat. Coelho).
Nos casos em que se podem confundir a forma pronominada reflexa e a reciproca, para evitar toda a ambiguidade
c equivocação, empregam-se depois da forma pronominada
reciprocaos advérbios mutuamente, reciprocamente, a locução
adverbiada de parte aparte, ou qualquer outra expressão de
sentido análogo c depois da pronominada reflexa, as expressões a si mesmos, a si próprios ou outra equivalente : Pedro c
Carlos amam-se
reciprocamente; mutuamente
estimam; os vaidosos amam-se
se prezam
e
a si mesmos.
Pronominados de sentido passivo dizem-se as formas verbaes
que indicam u m a acção soffrida ou recebida pelo sujeito:
Os bons livros vendem-sc caros; são lindíssimos os dois eavallos
que se compraram na feira; o monumento que. se erqueu na
praça Duque tle Caxias.
Verbos passivos não os conhece e m rigor a nossa lingua.
que não tem, c o m o a latina, as formas ou desinências passivas.
Para traduzir os verbos passivos da lingua matriz, o portuguez recorre sempre a u m a periphrase, já usando das varias
formas do verbo ser, ajuntando-lhes os participios passados
do verbo que se apassiva, já empregando a forma pronominada,
de que acabamos de fallar: não ha verbos passivos, senão
Locuções passivas, proposições ou sentidos passivos.
«Floresça, fatie, cante, ouça-se e viva
A portugueza língua»
(Ferreira).
d Que este nome de Olaia, que amo tanto
Será de Albano em verso eelebrado,
• Feliz assumpto de mais alto canto »
(X. de Mal tos).
398
LEXICOLOGIA
Já no latim a lição dos próprios clássicos nos depara
exemplos desse modo analytico de exprimir a passiva, em
certos tempos e modos: Amatus sum, amati sunt, amattts ero,
amati erunt; amatus essem; amati essent.
Muitas vezes têm em nossa lingua sentido passivo verbos
que não vem revestidos da forma passiva.
Assim que se diz em linguagem portugueza: épara notar;
não é para estranhar; está por fazer, por escrever; está
concluir; é para admirar; è de crer; casas para vender;
prédios para alugar, obra começada a imprimir, em lugar de
é para ser notado; é para ser estranhado; está por ser jeit
por ser escripto ; está por ser concluído; é para ser admira
é para ser crido; casas para ser vendidas; prédios para s
alugados; obra começada a ser impressa ou a imprimir-sè.
«Está ainda por escrever um livro, em que, sem espirito de
occasião, de parcialidade e de systema, se apreciem e aquilatem os
serviços eminentes que fizeram» (Lat. Coelho). « O juizo esthetico
do poema está ainda por jazer» (Idem). «Começada a tratar a
matéria» (Luiz de Souza). « U m a torre já começada a derribar»
(Duarte N. de Leão). «Tornado a povoar assim o mundo» (Vieira).
«Começado a povoar pouco antes» (A. Herc). São essas construcções habituaes á lingua, modos peculiares de tecer o discurso, em
que o infinitivo sob forma activa implica u m a ideia passiva.
Ha demais disso verbos que se tomam no mesmo sentido,
já revestidos da forma pronominada, já despidos delia. Taes
são, entre muitos, os seguintes: casar e casar-se, assentar
assentar-se, ajoelhar e ajoelhar-se, augmentar e augme
tar-se, encarecer e encarecer-se, derivar e derivar-se,
monizar e harmonizar-se, conformar e eonformar-se, afroux
e afrouxar-se, senhorear e senhorear-se, retirar e retira
sobrelevar e sobrelevar-se, rematar e rematar-se, retrah
retrahir-se, recolher e recolher-se, espraiar e esprai
rir e rir-se.
Pronominados impessoaes são formas verbaes, usadas apenas
na terceira pessoa do singular com u m sujeito vago e indeter-
SERÕES GRAMMATICAES
399
minado: Dançou-sc muito naquelle baile; vive-se muito naquelle
paiz; alli se vive de roubos e tropelias.
Semelhantemente diziam os Latinos: «vivitur e<£ rapto» (Ovid.);
a Negai Epieurus, jueunde posse vivi nisi cum virtuie vivatur » (Cie);
«Ad me curritur» (Ter.); «Pacto statur et arbitrium Romulus urbis
habet» (Ovid.).
Pronominados emphaticos ou expletivos appellídam-se aquelles
c m que o segundo p r o n o m e que os acompanha é mero expletivo, que torna a phrase mais doce, cheia e sonora:
«Isto feito, se partiram de Cechim para Cananor» (Góes).
«O Padre Francisco sai do recolhimento da oração ao convez...
sobe-se ao chapitéu, pede u m a soldares a Pedro Vaz, próprio mestre
do navio» (Luc). « Ao que se elle sorriu e disse . . . » (Fern. M. Pinto).
«Para casa velozes se partiram-» (A. 1). da Cruz). «Os campos
seeeam-se; asfloresmureham-se; passa-se o tempo; passam-se os
annos».
«A pobre mãi morria-se de aflficção »
« Por spíem elle se morria de amores» (Cast. — Os Fastos).
«F vestida de roupas cstrelladas
Serena e clara a noite se lhe ria ».
Verbos pronominados de espontaneidade de acção chamam-se
as formas verbaes que indicam espontaneidade de acção da
parte do sujeito:
«Lá se ficaram, cá me estou » (Cruz).
«Os olhos se estavam docemente
á sombra daquellas sobrancelhas»
(Bern. Ribeiro).
a Os peixes lá se vivem nos seus mares» (Vieira). «File se estava
muito descançado em seu palácio» (Idem).
«Lá nas covas marítimas se entram os delphins» (Cam.).
400
LEXICOLOGIA
«Cá me vivo no meu suburbano com tudo o que m e é caro»
(A. Cast.). « E m tão bom remanso me estava, pois, u m a tarde destas
cuidando entre mim naquelle ruim prognostico de Pelletan» (Idem).
Verbos ha que se não conhecem senão sob a forma pronominada. Taes são os verbos arrepender-se, atrever-se ('),
amercear-se, abster-se, queixar-se, refestelar-se, repotrear-s
jactar-se, etc. Esses são essencialmente pronominados.
Outros, porem, ha que só por accidente lhes dá a nossa
lingua a forma pronominada, c o m o amar-se,
enganar-se,
Mudir-se, chamar-se, etc. A estes últimos lhes c h a m a m os
grammaticos accidentalmente pronominados.
A
ideia fundamental, de que
concretos, ajuntam-se c m
são
signaes os verbos
alguns as ideias accessorias de
augmento ou intensidade, reduplicação, diminuição, frequência, começo de acção, imitação do actos, qualidades, acções,
systema ou doutrina, o que dá lugar a outras divisões menos
importantes.
Assim é que, conforme taes ideias, se distinguem ainda os
verbos e m augmentativos ou intensivos, diminutivos, frequentativos, inchoativos e imitativos ou analógicos.
Entre os aiujmentativos figuram os verbos esbombardear,
esbravejar, esmurraçar, labutar, resfriar, retorcer, requeimar
estorcer, recuidar, contorcer, recrescer, requentar, repassa
reseccar, tresjurar, tresandar, trèssuar, retalhar, conturba
retinir, reflorir,
repisar.
trescalar, refilhar, rebramar, recalcar,
Entre os diminutivos coníam-se os verbos chuviscar, ehu-
pistar, esparrinhar, fervilhar, escrevinhar, polvilhar, saltit
saltarinhar, dormitar, dejiennicar, lambisear, namoricar ou
namoriscar, belliscar, dedilhar, tremelicar, choramigar, gemelicar, mollinhar, pipilar, pipilar.
São frequentativos: Járejar, relampejar, folhear, fumegar,
gottejar,florejar,vicejar, manquejar, praquejar, sandejar,
(\) A s formas intransjtivas, c o m que Ac primeiro figuravam os verboà mi eperuler-se
e alicicr se, hoje e m dia são inusitadas.
SERÕES
401
GRAMMATICAES
doudejar, voltejar, manusear, toscanejar, pestanejar, rumorejar, mercadejar.
Inchoativos são enriquecer, empobrecer, apodrecer, empallidecer, abolorecer, amadurecer, alvorecer, amanhecer, embarbecer, entenebrecer, amollecer, endurecer,
emmurchecer,
embrandecer, embranquecer, amarelleeer, empretecer, escurecer, anoitecer, envelhecer, envilecer, enverdecer, envermeIhecer, entardecer. (')
Imita tivos são os verbos acaçapar-se, asnear. narcisar-se
abelhudar,
abespinhar-se, borboletear, p/atear,
patinhar.
apavonear-se, engatinhar, corvejar, pavonear, platonisar,
estoicizar,
enearanguejar, formigar,
mosquejar, cabritar,
encorajar, cabrejar, abelhar-se, grecizar, judear, romanizar,
encanzinar-se, empertigar-se, foguetar on foguetear, papagaiar e muitos outros.
III
Flexões do verbo
Como o substantivo, o pronome e o adjectivo, é o verbo
u m a palavra de flexão. São varias essas modificações accidentaes, (pie nos apresenta este elemento do discurso para
indicar os tempos, os modos, os números e as pessoas, o
n e n h u m a palavra flexiva as tem n e m c m maior numero, n e m
mais variadas.
Afora, pois, as modificações que lhes acerescenta a apposiçâo das formas auxiliares, modificações de algum m o d o
exteriores, a que bem poderíamos chamar modos auxiliares,
são os verbos sujeitos ás flexões modaes, temporaes, pessoaes
(1) A terminação eeei dos verbos inehoaticos portuguezes, assim chamados do latim
a», aoi, uiinii. nre, tem por origem a terminação secre da terceira conjugação, a
qual forneceu á lingua franceza o maior grupo dos verbos e m ir da segunda, que e m
alguns tempos intercalavam a syllaba íss, originaria do grupo consonante se, igualmente
collocado entre a raiz ou thema e a desinência: Grandescerc (lat.), engrandecer (port.),
grandiísait, grandisse (Franc. i: auturesoere I lat. l, amadurecei (port.), múrissait, múrisse
(franc.); rejuvenescere (lat.), rejuvenescer (port.), rajeunissait, rajeunisse (franc.)
rlridescere (lat.), « I N
port.), nerdUsait, cerdisse (franc).
51
402
LEXICOLOGIA
e numeraes, as quaes se realizam nclles mesmos, em sua
própria forma e não em elementos extrínsecos, que se lhes
apponham.
a ) Dos modos
Modos são as differentes maneiras pelas quaes o verbo
apresenta a ideia da existência.
Ha dois modos geraes: o definito e o indefinito.
O primeiro comprebende o indicativo ou afirmativo, o
condicional ou supposilivo, o imperativo e o subjunctico.
O segundo comprebende o infinitivo pessoal e o impessoa
e o modo participial, constituído pelo participio presente
passado.
O modo indicativo ou affiruiativo exprime a acção presente,
passada ou futura como u m facto positivo: Amo, amava, amei,
amara, amarei.
Affiruiativo lhe chamam por ser o modo em que domina
a affirmação. A esse modo denomina Mason modo de facto,
porque nelle c affirmada a acção como u m facto actual,
independente da concepção de quem falia, por opposição ao
subjunctivo a que chama modo de concepção, porque nelle
a existência ou acção se affirma meramente como concepção
do espirito e não como matéria de facto.
O condicional, que é antes u m submodo ou modo secundário,
indica a existência ou acção como submettida a u m a condirão:
Sahiria hoje, se não esperasse u m amigo; iria hoje passear,
se não chovesse; se elle fosse meu amigo, não faria isso.
Esse submodo indica u m a modificação accessoria, que lhe não
pertence sú e exclusivamente, mas podem possuil-a outros modos;
demais disso a ideia de condição nem sempre o acompanha: Quando
chegaria o paquete? Saberia António de tua viagem a Lisboa? Teria
elle comprehendido todos os teus intentos? Quem tal diria! Vós
sabieis que eu contaria tudo a vosso pai.
O imperativo exprime a existência ou acção como dependente da vontade da pessoa (pie falia: Ama, amai; recebe,
recebei; applaude, applaudi; vê, vede.
403
SERÕES GUAM.MATICAES
« Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lagrimas são agua c o nome amores. »
(Cam.)
« eu velo a barca;
tu ferra a vela c dorme com descanço;
Adeus.»
(A. Cast.).
Ao imperativo denomina Mason modo de volição, porque
por meio delle se exprime u m a
ordem, u m
pedido, u m a
exhortação de molde á vontade do que falia.
») snbjunctivo indica que a acção on existência por elle
enunciada está sob a dependência de outra a que se cila ajunta
e liga: Desejo que venhas; receio que sejas mal suecedido;
duvido que consigas isso.
E 0 m o d o da duvida, da indecisão, da incerteza.
O
infinitivo indica a existência de u m
modo
simples,
absoluto, indeterminado; o impessoal, sem variar de forma.
applica-se a todos os tempos, a todos os números e a todas
as pessoas; o pessoal, bem que varie de forma, para exprimir
o accessorio de pessoa, é applicavel a todos os tempos: Julgo
ser sabedor, julgo seres sabedor; creio ter acertado, creio
termos acertado, creio teres acertado, creio lerdes acertado.
«Fingiu serem vindos os embaixadores d'el-rei da Pérsia a cobra
o tributo» (Bernardes).
O modo participial é constituído pelo participio presente ou
gerúndio e pelo participio passado.
O participio presente indica u m a acção que apresenta u m a
coincidência de tempo com u m a epoca presente, passada ou
futura: Estou,lo doente, não posso, não podia, não pude, não
pudera, não poderei trabalhar.
O participio passado indica u m a existência passada; quer
forme linguagens compostas com as formas auxiliares, quer
entre na composição das proposições passivas: Tenho
amado,
404
LEXICOLOGIA
tenho trabalhado, tinha recebido, tinha estudado, terá estudado, terei concluído, teremos terminado, sou amado, fui
recebido, fomos applaudidos, é estimado, fora considerado.
A s formas verbaes ante, ente, inte dos participios presentes
perderam e m nossa lingua seu caracter primitivo e hoje outra
coisa não são que meros substantivos attributivos ou adjectivo
verbaes: Amante, commandante, mandante, estudante, mordente, temente, pedinte,filante,ouvinte, obediente, crente,
andante, fallante, assistente, passante, sciente, tirante, of
rente, preopinante, conducente, occorrente, referente, carecente, docente, discente, olente, adherente, fremente, ridente
fluente.
E m alguns casos pode o participio presente, cuja forma se
identifica com a do gerúndio, ser precedido da preposição em,
o que communica á enunciação certo sainete e toque de graça
e elegância:
«As estrellas no meio das trevas luzem e resplandecem mais;
mas em appareeendo o sol, que é luz maior, desapparecem as
estrellas» (Vieira). «Nobreza desunida não pode ser, porque, em
sendo desunida, Jogo deixa de ser nobreza, logo é vileza» (Idem).
«Em nascendo, já fazem a um clérigo,a outro frade, a outro soldado»
(L. de Souza).
«Apenas do universo alguns nomes de amor
Ouvireis resoar nas preces, que ao Senhor,
Em reflorindo a aurora, em rejervendo o dia,
Em desmaiando a tarde, o coro entretecia».
(A. Cast.).
A s formas e m ante, ente, inte, que, segundo acabamos de
dizer, só se empregam hoje c m dia c o m o substantivos attributivos ou adjectivos verbaes, eram até o século 1G características
do participio presente.
Assim que se encontra c m C a m õ e s :
« Suas perlas ricas e imitantes a cor da aurora » ;
e no autor da Monarchia Lusitana:
«Eu o Conde D. João Affonso, temente minha morte.. .»
405
SERÕES GRAMMATICAES
S e m embargo da obliteração do caracter participial dessas
formas, ainda nos v e m ás vezes aos ouvidos as seguintes
locuções: elle ó muito temente a D e u s ; é u m a cor tirante a
verde, tirante a amarello, onde claro se nospatentêa o caracter
participial dos adjectivos temente, tirante.
Essas formas antigas do participio presente eram
mais
chegadas aos sulíixos untem, entem, ientem dos participios
latinos da 1.% 2.", 3." e 4.3 conjugações, modelando-se hoje as
formos deste participio portuguez pelas formas peculiares ao
gerúndio latino.
Os participios passados, considerados c m si m e s m o s , são
essencialmente passivos.
Unidos ás varias formas dos auxiliares ter c haver, são, no
uso actual da lingua, invariáveis e constituem formas verbaes
compostas, acompanhadas ou não de complemento na contextura du discurso; associados, porem, aos verbos ser, estar,
ficar, parecer e outros análogos, variam sempre, inculcando
ordinariamente sentido passivo: Tenho lido, tenho estudado,
tinha trabalhado, tinha dormido, liaria visto muitas cidades,
tinha percorrido muitos paizes, havia morrido muita gente
naquelle anno; elle é estimado, ella è instruída,
elles são
estimados, ellas são instruídas, elle è precipitado, elle parece
Mustrado,
elles parecem
educados, estou encantado, está
admirado, ficou conhecido, ficará irritado.
Participios passados ha, todavia, de formas variáveis, que
apresentam sentido activo.
Taes são os que entram nas seguintes locuções: É
homem
muito lítio,
um
muito conversado, muito reconhecido;
criança sabida; já m e aborrece subir esfas cançadas escadas;
è homem
muito viajado, muito trabalhado; estas cançadas
ladeiras m a t a m - m e ; bem vestido, bem bebido e bem
comido;
já estou almoçado, já estou jantado, já estou ceado.
«A caridade é paciente e sofrida nas tribulações ».
- V sua paciência muito soffrida» (Vieira). «Subindo e descendo
aquellas cançadas escadas» (Idem).
400
LEXICOLOGIA
«Venham ceados» (R. Lobo). «Presto andariam almoçados»
(Fr. João de Ceita).
Ao revez disso, davam os antigos sentido passivo á forma
em ante do verbo dar, dizendo: Dante em Almeirim, dante em
Lisboa por dado em Almeirim, dado cm Lisboa, ou datado de
Almeirim, de Lisboa.
Por outra parte, os participios passados, acompanhados do
verbo ter ou haver, os quaes são hoje em dia invariáveis, eram
antigamente empregados, ás vezes, sob a forma variável, como
se nota cm Camões, Barros, Fernão Mendes, Jacynlho Freire,
Luiz de Souza c muitos outros clássicos:
o E porque como vistes tem passados
Na viagem tão ásperos perigos,
Tantos climas e céus experimentados»
(Cam.).
«A qual será posta no catalogo das mercês que este reino dell
tem recebidas» (Barros). «Para remissão de quantas culpas tenham
commettidas» (F. Mendes). «Como foram os que até agora tendes
Jeitos» (Jac. Freire). «Também nos tinham mortos grandes e bons
soldados» (L. de Souza).
As formas em tido dos participios passados da segunda co
jugação portugueza, tão em voga até o século 15, em que se
dizia entendudo, sabudo, recebudo, temudo, tangado, torn
ram-se obsoletas, notando-se apenas no vocábulo contendo,
considerado hoje substantivo, no adjectivo mantendo, de longe
em longe usado, e na locução tenda e manteuda, formula bem
conhecida etrilhada cm linguagem forense, applicavel á mulher
que alguém sustenta e mantém á sua conta.
b) Dos tempos
Tempos são as formas ou flexões por meio das quaes o ver
determina u m a epoca.
Os tempos dos verbos são relativos a u m a epoca com que
SERÕES GRAMMATICAES
107
se comparam e lhes serve de ponto de partida; é essa epoca,
unidade comparativa dos vários tempos, o m o m e n t o preciso, o
acto m e s m o da palavra.
Toda a existência que coincide ou é simultânea com esse
momento da palavra se chama presente; toda a existência que
é anterior a esse momento recebe o n o m e de passado; toda a
existência que lhe é posterior se diz futuro.
(>s tempos, pois, são o presente, o passado e o futuro.
Dividem-se os tempos e m principaes e secundários: os
primeiros determinam u m a epoca, referindo-a só ao momento
da palavra : Amo, amei, amarei.
Os tempos secundários, porem, enunciam duas relações:
u m a com o momento preciso da palavra, outra com unia epoca
determinada no discurso.
Assim ((uando dizemos: «.eu jantava, quando Francisco
entrou», as formas verbaes jantava e entrou, cada u m a delias
indica separadamente u m passado com respeito ao acto da
palavra, m a s ambas consideradas e m suas mutuas relações
indicam u m a coincidência c simultaneidade: a acçãi» de jantar
considera-so presente com referencia á acção, ao acto da
entrada de Francisco o vice-versa.
N a phrase: Tibério foi imperador depois de Augusto, a
fornia verbal foi indica u m passado respectivamente ao
momento da palavra e u m futuro no tocante ao período do
império ou governo de Augusto.
Muitos grammaticos distinguem os tempos e m absolutos e
relativos.
Taes denominações, porem, julgamol-as impróprias, porque, sendo, como já vimos, todos os tempos relativos a u m a
epoca fixa, a cujo respeito se dizem presentes, passados ou
futuros, não os lia e m rigor senão relativos.
Sendo o presente circumscripto ao instante indivisível,
ponto intangível entre o passado e o futuro, só admiíte u m
tempo: já não corre assim c o m o passado c o futuro. C o m
elTeilo. sendo u m a acção no passado c no futuro mais ou menos
próxima do momento preciso da palavra, força é tenha a
408
LEXICOLOGIA
lingua diversas divisões nas formas verbaes que traduzam os
momentos successivos da duração no passado c no porvir.
Isto não obstante, o presente, sem deixar de sel-o, c o m bina-se na linguagem c o m o futuro o c o m o passado por
maneira, que ora avança e usurpa alguns instantes daquelle,
ora recua, parecendo c o m este fundir-se e confundir-sc.
*
# #
O modo indicativo conta os seguintes tempos: o presente,
o passado imperfeito ou simultâneo, o passado definito, o passado indefinito, o passado mais que perfeito, o futuro imperfeito,
e o futuro perfeito, anterior ou passado.
O condicional tem dois tempos: o presente c o passado.
O imperativo tem apenas u m tempo, que é o futuro.
O modo subjuiictivo encerra os tempos seguintes: o presente,
o imperfeito, o passado indefinito, o mais que perfeito, o futuro
imperfeito e o futuro perfeito, passado ou anterior.
O infinitivo conta dois tempos: o presente e o passado.
O modo participitil igualmente dois tempos: o presente c o
passado.
O presente do indicativo denota que u m a coisa se faz no
m o m e n t o da palavra.
Esse tempo não pode dividir-se, porque a actualidade não
pode ser mais ou menos presente: Escrevo.falio, leio, converso, estudo.
Indica aindaoprese/iíe u m a acção habitual, u m facto ligado
a u m a lei ou regra geral de u m a verdade constante ou coisas
que são verdadeiras e sempre o serão, sejam quaes forem as
circumstancias fortuitas e eventuaes: Pedro fuma; Carlos bebe
muito; Henrique trabalha sempre; Deus existe; a matéria não
morre: transforma-se; a herança é u m a grande lei biológica.
«Na vida são os Mecenas que douram com os brilhos mundanos,
que lhes sobejam, os louros altivos dos Virgilios; na morte são os
Virgilios, que illuminam e perpetuam com os reflexos da sua gloria
os vultos secundários dos Mecenas» (Lat. Coelho).
409
SEROES GRAMMATICAES
Algumas vezes exprime u m a acção que não só comprebende o m o m e n t o presente ou actual, senão que se extende ao
passado: Ha muito tempo resido neste bairro.
Designa outras vezes este m e s m o tempo u m passado que,
pela rapidez e vivacidade do pensamento, se representa e
concebe c o m o presente. E o que se chama presente histórico:
d Venho, vejo-o o aperto-o nos m e u s braços». ((Chego, pego-lhe
do braço, c o recolho, e o enxugo, e o aqueço, e o agasalho no
meu collo».
E finalmente o presente empregado pelo futuro, sendo o
tempo real determinado e lixado por alguma circumstancia
deduzida do próprio contexto: Amanhã
no domingo
vou jantar comtigo;
vindouro realiza-SC a sessão magna
da sociedade;
depois d)amanhã chega o vapor do norte; sino no primeiro vapor.
O passado imperfeito ou simultâneo indica u m a acção passada
com respeito ao m o m e n t o da palavra, m a s presente relativamente a outra e m
um
tempo igualmente passado; as duas
acções coincidem, são simultâneas: Pensava em
ti. quando
entraste.
Indica também o passado imperfeito u m a acção habitual
ou muitas vezes repetida n u m passado não determinado ou
definido: Outrora eu lia muito; Tiradentes era amante de seu
pai/.: Alexandre era ambicioso.
«Na (iran Bretanha floresciam os maiores engenhos da tribuna » (Lat. Coelho).
«Do teu príncipe alli te respondiam
As lembranças, que na alma lhe moraram,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus formosos se apartavam »
(Camões).
Os escriptores clássicos soccorriam-sc às vezes desse
tempo, e m
vez do
imperfeito do
subjunctivo. praticando
syntaxe análoga á franceza. Testemunhas são os exemplos
seguintes:
5!
410
LEXICOLOGIA
«Que os havia de afogara todos elles e aos montes, o ao mundo
se se não emendavam» (Vieira). « Prometteu-lhe ser sua mordoma, se
lhe dava saúde» (Souza).
O passado definito, chamado geralmente pretérito perfeit
passado perfeito, indica u m a acção feita em tempo passado,
ou seja esse passado determinado, circumscripto e preciso,
ou não: A semana passada estive com Pedro; hontem jantei
em casa de u m amigo; hoje veio Carlos visitar-me; ainda ha
pouco sahiu daqui; recebi noticias importantes da Capital
Federal; o Guarany de Carlos Gomes foi muito applaudido no
theatro de Milão.
O passado indefinito indica uma acção feita em u m tempo ou
momento indeterminado, não de todo decorrido: Tenho sentido
muito tua ausência; este anno tem havido muitas laranjas;
tenho recebido muitos telegrammas do Rio; tenho estado muito
receioso do desenlace desta minha moléstia; tenho empregado
todos os recursos para o desviar cio mal.
O mais que perfeito exprime u m a acção não só passada em
si, senão também passada com respeito a outra igualmente
passada: Acabara ou tinha acabado ou havia acabado toda a
leitura, quando entraste na sala.
«Fora a cidade antigamente habitada de brâmanes» (Jac. Freire)
«Quizera o governador dissuadil-o» (Idem).
Emprega-se também esse tempo para exprimir uma existência ou acção condicional, em lugar do suppositivo ou
condicional:
«Se eu fora um dos beneméritos, em mim mesmo e no meu
próprio merecimento, achara tão grandes razões de m e consolar, que
sem outra mercê nem despacho, m e dera por mui contente e
satisfeito» (Vieira). «E se Deus não cortara a carreira ao sol com a
entreposição da noite, fervera-se e abrazara-se a terra, arderam as
plantas, seccaram-se os rios, sumiram-se as fontes e Joram verdadeiros e não fabulosos os incêndios de Phaetonte» (Idem).
SERÕES GRAMMATICAES
41 1
Neste caso, c o m o se vê, o imperfeito do subjunclivo reveste
também
as formas do mais que perfeito: assim o fora do
primeiro exemplo e o cortara do segundo a s s u m e m formas
emprestadas, e m vez de suas formas próprias fosse c cortasse.
0 futuro imperfeito denota que a existência ou acção será
ou sc Cará c m uni tempo posterior ao acto da palavra: A m a n h ã
irei ver-tc; a m a n h ã partirei para a capital.
Esse tempo é algumas vezes empregado pelo imperativo
para indicar unia prescripção, u m a regra ou norma de procedimento, u m a ordem ou mandamento: N ã o matarás; não
pirai iís e m váo o santo n o m e do Senhor.
O futuro passado ou anterior indica u m a acção que se fará,
quando outra igualmente futura se tiver executado: Quando
vieres, lerei partido para o c a m p o : quando chegarem
os
reforços, já terá entrado e m fogo o exercito.
O condicional presente exprime u m a acção que sc realizaria
e m u m tempo presente, mediante certa condição: Seria feliz,
se seguisse os teus conselhos; gozaríamos de muita paz e
franquillidade, st1 seguíssemos sempre os diclames de nossa
consciência.
E outrosini usado o condicional presente, quando se pretende indicar u m a
existência passada, incerta, duvidosa.
simultânea c o m outra existência lambem passada. Equivale ao
passado imperfeito, a que acompanha u m a ideia de duvida e
incerteza: Seriam quatro horas da tarde, quando cahiu sobre
a cidade u m a furiosa tormenta, que desfechou c m trovões;
seriam onze horas, quando começou a festa.
O condicional passado indica uma. acção que se teria feito
no passado, se se tivesse cumprido e realizado a condição cie
que dependia: Teria dado u m passeio ao Botafogo, se m'o
tivesse o tempo permittido; teria sabido da capital, se Emilio
m e não tivesse avisado de sua chegada de Lisboa.
O imperativo tem, c o m o já notamos, apenas u m tempo, que
é 0 futuro; porque, exprimindo u m a ordem, u m a supplica ou
exhortação, deve a execução desta ordem ou exhortação seguir
412
LEXICOLOGIA
mais ou menos immediatamente á expressão que a externa
c representa: Amai ao próximo, como a vós mesmos.
«A estas criancinhas tem respeito» (Camões).
« Cala-te e dorme,
— Lhe disse— é tarde, tudo jaz em calma,
Todo o céu vai já limpo ; eu velo a barca ;
Tnjerra a vela e dorme com descanço;
Adeus
»
(A. Cast.).
Em certas maneiras de dizer toma este modo as formas do
subjunclivo. Isto é bem de ver nas seguintes phrases negativas:
«Não cedas ás suas rogativas»; anão mefttjas»; «não creias
nisso»; onde, se fora affirmativa a enunciação, disséramos:
«cede ás suas rogativas»; «foge-me»; «ere nisso».
O presente do subjunctivo designa u m a acção que coincide
com u m presente : E mister que eu saia agora ; vosso irmão é
modesto, bem que seja muito instruído.
Essa mesma forma verbal indica muitas vezes u m a existência, ou acção futura: E mister que partas amanhã; desejo
que sejas feliz nessa tua empresa; duvido que elle venha no
fim do anno; receio que chova; é provável que sejas bem
suecedido.
O imperfeito do subjunctivo enuncia u m a acção passada em
relação ao acto da palavra, mas considerada presente relativamente a outra acção, igualmente passada: «Eu duvidava que
e\\efizesseessa viagem ». A acção exprimida pela forma verbal
fizesse é passada com relação ao acto da palavra, mas parece
coincidir com o momento ou instante da duvida: elle não
gostou que em sua presença escrevesse eu essa carta.
Serve, outrosim, a m e s m a forma verbal para designar:
1.° u m passado considerado futuro relativamente a outro
passado: Carlos receiava que eu escrevesse a seu pai; 2." u m
presente condicional: Para saber elle tudo seria mister que eu
escrevesse já; 3." u m futuro condicional: Seria mister que eu
escrevesse amanhã.
413
SEROES GRAMMATICAES
0 passado do subjunctivo corresponde ao passado indefinito
do indicativo; por isso o denominamos c o m o u m
distincto
grammatico passado indefinito. Indica esse tempo do subjunctivo u m passado sem outra alguma ideia accessoria, alem da
dependência e subordinação, que é característica de toda- as
formas do modo subjunctivo: Não julga que eu tenha CSCriptO
a seu pai.
Pode esse tempo
indicar c m
alguns casos u m futuro
anterior: Não fecharemos esta carta, sem que a tenhacs lido.
O mais que perfeito do subjunctivo indica unia acção passada
anterior a outra também passada: Não julgava que tivesses
referido tudo a seu pai; elle duvidava que eu tivesse escripto
aquellas cartas.
Pode a m e s m a forma temporal significar u m a acção passada
anterior a u m futuro condicional: Elle não fecharia áquella
caria, sem que m'a tivesse mostrado.
0
futuro imperfeito do subjunctivo exprime já u m
anterior, já u m
futuro
simultâneo
com
futuro
outro: Se
fores
applicado, aprenderás; quando lá chegares, encontrar-me-ás;
emquanto estiveres aqui, ouvirás meus conselhos.
Encontramol-o ás vezes empregado c m lugar úosubjunctivo
presente, c o m o nestes pontos:
«Onde quer que se puzer o pensamento» (Lucena). «Apenas
raiara aurora, eu serei comtigo» (Herc).
O futuro passado indica unia acção futura, mas sempre
acabada e anterior a outra igualmente futura: Se até
amanhã
não tiver recebido noticias de meu pai, telegrapharei para o Rio.
O infinitivo, que por si m e s m o
indica u m presente, u m
nenhum
passado ou u m
tempo exprime,
futuro, conforme o
verbo que o rege ou determina está no presente, no passado ou
no futuro: Vejo-o passar; via-o passar; vel-o-emos passar.
0 passado do infinitivo denota sempre u m passado relativamente ao tempo do verbo que o rege: Julgo ter acertado;
julgava ter acertado; julgamos ter acertado; julgará ter acertado;
julgaria ter acertado.
414
LEXICOLOGIA
O modo participial, constituído cm nossa lingua pelas formas
verbaes ando, endo, indo, ondo, ado, ido, originarias dos
gerúndios latinos e m ando, endo e cios suffixos atum, itum,
comprehende, como atrazficoudito, o participio presente ou
imperfeito, chamado também gerúndio, e o participio passad
O primeiro, considerado só por só, não exprime determinadamente tempo algum, mas, posto em relação no contexto da
phrase com outro verbo, designa u m a coincidência já com u m
presente, já com u m passado, já com u m futuro: Achando-se
muito atarefado, não pode, não podia, não ponde, não pudera,
não poderá, não poderia prestar-lhe altenção.
O participio passado indica sempre u m passado: Tenho
estudado, terei concluído, terá terminado.
Alguns grammaticos, seguindo neste particular as ideias de
Duelos, distinguem os actuaes participios imperfeitos portuguezes cm ando, endo, indo, ondo do gerúndio, cuja forma
é idêntica.
Este, segundo esses grammaticos, enuncia sempre uma
acção passageira, a maneira, o modo, o meio, o tempo de uma
acção, que se subordina a outra; o participio indica a causa da
acção ou o estado da coisa de que se falia.
E m despeito de sc acharem esses differentes sentidos nas
formas ando, endo, indo, ondo. parece-nos, todavia, mais
simples se clè a estas formas a denominação geral de participios do presente ou imperfeitos, comprehendido, sob essa
denominação geral, não só o participio presente, cujas formas
originarias desappareceram cm nossa lingua no sentido que
lhe davam no latim, senão também a modificação verbal appellidada gerúndio.
Muitos casos ha, por outro lado, cm que, segundo a doutrina
do mesmo Duelos, o gerúndio e o participio imperfeito podem
tomar-se indifferentemente u m pelo outro.
Donde parece tal distineção é mais subtil e capciosa, que
positiva e fundamental.
Muitos verbos ha que têm dois participios passados: u m
inteiro c regular, outro contracto e irregular.
415
SERÕES GRAMMATICAES
Assim se diz indifferentemcnte: tinhajoa^arfo ou tinha pago;
tinha entre/pulo ou entregue; tinha gastado ou gasto; tinha
e.rpellido ou expulso; tinha salvado ou salvo; tinha imprimido
ou impresso; tinha rompido ou roío; m a s já não se costuma
dizer hoje: tinha escrevido, tinha preserevido, tinha proscrevido, tinha Iranscrcvido, tinha abrido, tinha encobrido c o m o
nol'o testificava a lição dos escriptores mais antigos; aqui
prefere o uso as formas
irregulares escripto, prescripto,
proscripto, transcripto, aberto, encoberto.
E m muitos outros verbos portuguezes se observa ainda essa
dualidade de formas de participios passados, n e m
sempre
usados com a m e s m a frequência. Alem dos já apontados servem
de exemplos os seguintes: acceitar, acceitado, acceito c aa eite:
accender, accendido e acceso; affligir, qffligido e aj/licto; absorver, absorvido e absorto; aftender, attendido e attento; adherir,
adherido o ad/ieso; annexar, a anexado
c annexo; abstrahir,
abstrahido e abstracto; captivar, captivado e captivo; descalçar,
descalçado c descalço; difíundir, diffundido e difuso; digerir,
digerido e digesto: eximir, eximido e e templo: esconder, escondido e esconso; enxugar, enxugado
e enxuto; exceptuar, exce-
ptuado e excepto; expulsar, expulsado o expulso; exhaurir,
exhaurido e exhausto; infestar, infestado e infesto; extinguir,
extinguido c extincto; expressar, expressado e expresso; fartar,
l'urindo e farto; convencer, convencido e convicto: misturar,
misturado e misto; defender, defendido e defeso; frigir,frigido
efricto; erigir, erigido c erecto; envolver, envolvido c envolto;
corromper, corrompido o corrupto; excluir, excluído e excluso;
incluir, incluído e incluso; concluir, concluído e concluso;
converter, convertido e converso; suspeitar, suspeitado e suspeito; matar, matado c morto: salvar, salvado e salvo: libertar,
libertado e liberto; opprimir, opprimido e oppresso; sepultar,
sepultado e sepulto; suppruiiir, supprimido e suppresso; nascer,
nascido, nato ou
nado: tingir, tingido e tincto; assumir,
assumido e assumpto; limpar, limpado e limpo: surgir, surgido e
surto; submergir, submergido e submerso; repellir. repellido e
r,-pulso ; resolver, resolvido o resoluto; etc.
410
LEXICOLOGIA
É de notar que os participios passados de forma regular
são os verdadeiros participios, já invariáveis no uso actual
da lingua e conjugados com as formas cio auxiliar ter ou
haver, já variáveis e conjugados com o verbo abstracto ser;
os de forma irregular, contractos ou anómalos, perderam, pe
maior parte, seu caracter de participios, tornando-se verda-
deiros adjectivos.
Sobre o emprego dessas duas formas de participios passados
não podem cstabclcccr-sc regras universaes c invariáveis.
O uso, a lição assídua dos bons escriptores, que são textos
desenganados e modelos seguros do bom fallar, indicarão
quando sc deve em nossa lingua ciar preferencia a u m a ou
outra forma.
A antiga fornia participial em tido, tida dos verbos da
segunda conjugaçãoficou,já o dissemos, immobilizada no
adjectivo ou substantivo.
As formas latinas cm andas, anda, andam; endtts, enda,
enclum, dos participios passivos do futuro, desappareceram
no portuguez, não o fazendo, porém, sem deixar indícios
manifestos de sua existência, não só em adjectivos usados
principalmente cm linguagem poética, ein que transparece
o sentido que originariamente sc lhes altribuia, senão também
em substantivos, usados analogicamente com suffixos correspondentes aos suffixos participiaes da lingua matriz. Attestam-nos isso os vocábulos seguintes." adorando, admirando,
miserando, nefando, execrando, abominando, tocando, desp
ciendo, invejando, expiando, usados em linguagem poética;
e em linguagem c o m m u m : educando, multiplicando, examinando, doutorando, ordinando, bacharelando, prebenda,
colendo, reverendo, dividendo, vianda, vivenda, operan
oferenda, lenda, legenda, moenda, locanda.
«Sem cuidai' donde os mármores me venham
Para invejandos pórticos»
(F. Elys.)
SERÕES GRAMMATICAES
117
«Ê despiciendo o Garção, o Diniz».
(Idem).
«Teu execrando amor os céus puniram ».
(Garrett).
«E da sua conservação não despicienda» (Cast.).
Dos participios activos do futuro em uras. ura, urum
restani-nos vestígios inequívocos nas palavras vindoiro, nascituro (termo jurjd.), perecedoiro, i/nmorredoiro e com o m e s m o
sulfixo os substantivos portuguezes logradoiro,
sumidoirp,
escoadoiro, babadoiro, sangradoiro, bebedoiro,
coradoiro,
comedoiro, desaguadoiro, varredoiro, espojadoiro. matadoiro,
nascedoiro e alguns mais, cujo suffixo se representa também.
por ouro: vindouro, perecedouro, bebedouro, sangradouro, etc.
c) Do numero e pessoas
Numero é a modificação na forma do verbo, em virtude
da qual esse elemento do discurso indica sc falíamos de u m a
só pessoa ou coisa ou de mais de u m a .
Ha, pois, dois números no verbo, c o m o no substantivo:
o singular e o plural: amo, amas, ama; amamos, amais.
amam.
Pessoas são as varias modificações ou flexões que apresenta
o verbo para indicar que o que falia ou falia de si m e s m o ,
ou da pessoa ou pessoas a q u e m se dirige, ou de alguma
outra pessoa ou coisa: Eu leio, tu cantas, elle dorme; nós lemos,
vós cantais, elles dormem.
Só ha (res pessoas para cada numero, designadas pela
denominação de primeira, segunda c terceira.
A primeira pessoa é exprimida pelo pronome eu para o
singular, e nós para o plural; a segunda è exprimida por tu
para o singular, c vós para o plural", a terceira, por elle, ella
para o singular, c elles, cilas para o plural.
A primeira pessoa representa o sujeito que falia : a segunda,
o sujeito a (piem é dirigido o discurso; a terceira, o sujeito
ile (piem se falia.
53
418
LEXICOLOGIA
IV
Da conjugação
O vocábulo conjugação é tomado cm duas accepções differentes: ou exprime a reunião systematica cie todas as formas
temporaes. modacs, numéricas c pessoaes por que suecessivamente passa o verbo, ou a classe a que esse pertence, conforme
a semelhança c analogia de suas varias flexões e desinências.
No primeiro caso emprega Tracy o termo declinação, como
mais adaptado a denotar essas variações por que passa o verbo
em sua terminação, para designar os tempos, os modos, os
números c as pessoas.
Mas a palavra declinação, embora mais precisa nesse
sentido, não está em voga entre os grammaticos. Quer num,
quer noutro sentido, portanto, é hoje em dia empregado só
o vocábulo conjugação, quando se falia do verbo.
Ha no portuguez três conjugações, que se distinguem pela
desinência do infinitivo.
A primeira conjugação comprebende todos os verbos cuja
desinência infinitiva acaba em ar: Amar, cantar, dançar,
saltar, jogar, brincar, ele.
A segunda abrange os verbos terminados no infinito cm er:
Defender, receber, fender, render, vender, caber, saber,
poder, etc.
A terceira encerra os terminados em ir: Admittir, applaudir,
partir, mentir, cuspir, carpir, subir, tossir, etc.
Alem dessas três conjugações ha o grupo dos verbos
acabados cm or, que só encerra verbos que têm a mesma
raiz, constituído pelo verbo pôr e todos os seus compostos,
como depor, dispor, appor, compor, recompor, decompor,
descompor, repor, pospor, suppor, presuppor, oppor, imp
entrepor, interpor, contrapor, sobrepor, superpor, jttx
sotopor, transpor, expor, prepor, propor, predispor, ant
indispor.
O verbo pôr, que constituo para a maioria dos grammaticos
o modelo dos verbos da quarta conjugação, é u m verbo que
SERÕES GRAMMATICAES
419
se contrahiu do antigo verbo portuguez poer, da segunda
conjugação, de que ainda nos restam reminiscências nos
vocábulos poente, depoente, expoente, poedouros, poedeira,
delle derivados.
Alem dos vinte e sele verbos apontados, que têm por
modelo o verbo pôr e que cm rigor não constituem mais que u m
só verbo, differenciando-se apenas pelos affixos, nenhum verbo
conhece a nossa lingua em or. E, pois, essa conjugação, se
podemos assim appellidal-a, u m a conjugação infecunda e
morta; o que não corre com respeito á conjugação em ar, a
mais fecunda de todas as conjugações, correspondente aos
verbos em are da lingua latina c aos terminados em cr da
lingua franceza, os quaes, assim nesta, como em nossa lingua.
formam a verdadeira conjugação viva, fonte perenne de novas
creações, não existindo em os nossos verbos terminados cm cr,
ir a mesma força immanente de vida.
Afora todas essas modificações ou llexões concernentes
aos modos, tempos, números e ás pessoas, distingue-se nos
verbos a modificação particular indicada em nossa lingua o
nas novo-latinas não por mudanças deflexões,senão por
outros meios subsidiários: é o que se appellida vos do verbo.
Voz são as modificações verbaes que exprimem ser o
sujeito da proposição o que exercita a acção, ou representa, ao
contrario, não já o agente, senão o objecto dessa mesma acção
indicada pelo verbo.
No primeiro caso a voz se diz activa; no segundo, passiva.
Assim amo, amava, amou, amará, amará, amaria, formas
verbaes, que entram nas proposições Emílio ama, António
unitiva, Pedro amou, elle amara, Carlos amará. Pedro amaria,
são fornias da vos activa do verbo amar; são. porem, formas
da vos passiva do mesmo verbo as que entram nas proposições
Emílio ê amado. Maria era amada, Pedro foi amado, elle fora
amado. Petlro será amado, Carlos seria amado.
Alem de traduzirmos a voz passiva por meio do verbo ser,
unido a u m participio [>assado. é muito c o m m u m cm nossa
lingua exprimirmol-a servindo-nos do pronome se da terceira
420
LEXICOLOGIA
pessoa, acostado ao verbo, que, neste caso, deve considerar-se
formando c o m o pronome u m a só expressão verbal de sentido
passivo: Avista-se o morro
lcvantou-sc um
de muitas léguas de distancia;
magnifico monumento
na praça
Duque
de
Caxias; vcndein-sc bons livros na livraria Berthier.
«Ha u m coração, terra de paraíso, em que só se devem semear os
bons affectos» (A. Cast.). « H o m e m emfim de quem nunca se disseram
tantos louvores, que não ficasse merecendo mais» (Luiz de Souza).
«Que as verdades poucas vezes se dizem e menos vezes se ouvem»
(Idem).
«Por elle o mar remoto navegamos,
Que só dos Jeiosphocas se navega»
(Cam.).
Este modo de apassivar o sentido da proposição não é
privativo da nossa língua: no francez, e m
muitos casos,
exprime-se semelhantemente a voz passiva, c o m o nos assegura
a lição dos bons modelos dessa lingua:
« Tout ce qui se mange avee plaisir se digere avecJaeMté»
(Bem. de Saint Pierre).
«Et de ee mélange divers
Se composent nos destinées»
(Malherbe).
O verbo, considerado c m seus elementos morphicos, consta
de raiz ou radical e terminação. A raiz contem a ideia fundamental do verbo; a terminação exprime as ideias accessorias
de modos, tempos, números e pessoas.
C o m o na ordem lógica é o verbo ser o primeiro dos verbos,
conjugal-o-emos c m primeiro lugar, já e m seus tempos simples
somente,.já e m seus tempos simples e compostos ao m e s m o
passo, apresentando depois a conjugação dos auxiliares estar,
ter, haver, dos verbos e m ar, er, ir, or, o paradigma da conjugação passiva, constituída pelo verbo ser e o participio passado
do verbo que se apassiva, c a conjugação dos pronominados
empregados affirmativa ou negativamente.
SERÕES GRAMMATICAES
I
Da conjugação do verbo SEU em seus tempos simples
(MODO DEFINITO)
MODO INDICATIVO OU AFFIRMATIVO
Presente
N. S. Eu sou X. P. Nós somos
Tu és
filie é
Vós sois
Elles são
Passado imperfeito ou simultâneo
N. S. Eu era N. P. Nós éramos
Tu eras
Elle era
Vós éreis
Elles eram
Passado definito
N. S. Eu fui N. P. Nós fomos
Tu foste
Elle foi
VÓS fustes
Elles foram
Passado mais que perfeito
N. S. Eu fora N. P. Nós fôramos
Tu foras
Vós fureis
Elle fora
Elles foram
Futuro imperjeito
N. S. Eu serei N. P. Nós seremos
Tu serás
Vós sereis
Elle será
Elles serão
Condicional (modo secundário)
N. S. Eu seria N. P. Nós seriamos
Tu serias
Vós serieis
Elle seria
Elles seriam
121
422
LEXICOLOGIA
MODO IMPERATIVO
Futuro
N. S. Sé tn N. P. Sede vós
MO no SUBJUNCTIVO
Presente
N. S. Eu seja N. P. Nós sejamos
Tu sejas
Vós sejais
Elle seja
Elles sejam
Tmperfeito
N. S. Eu fosse
Tu fosses
Elle fosse
N. P. Nós fossemos
Vós fosseis
Elles fossem
Futuro
N. S. Eu fór
Tu fores
Elle fòr
N. P. Nós formos
Vós fordes
Elles forem
(MODO INDEFINITO)
MODO INFINITIVO
Infinitivo imjressoal
Ser
Infinitivo pessoal
N. S. Ser eu
Seres tu
Ser elle
N. P. Sermos nós
Serdes vós
Serem elles
MODO PARTICIPIAL
Participio presente
Sendo
Participio passado
Sido
SERÕES GRAMMATICAES
423
II
Da conjugação do verbo 8EB em seus tempos simples e compostos
MODO INDICATIVO OU AFFIIiMATIVO
Presente
N. S. Eu sou
T u és
Elle e
N. P. Nós somos
Vós sois
filies São
1'assado imperfeito ou simultâneo
N. S. Eu era N. P. Nós éramos
T u eras
Elle era
Vós oreis
Elles eram
Passado definito
N. S. Eu fui
Tu foste
Elle foi
N. P. Nus fomos
Vós fostes
Elles furam
Passado indefinito
N. S. Eu tenho sido
Tu tens sido
Elle tem sido
N. P. Nós temos sido
Vós tendes sido
Elles têm sido
Passado mais que jrerjeito
N. S. Eu fora
Tu foras
Elle fora
N. P. Nós furamos
Vós fôreis
Elles foram
Outro
N. S. E u tinha sido
Tu tinhas sido
Elle tinha sido
N. P. Nós tínhamos sitio
Vós tínheis sido
Elles tinham sido
Futuro imperjeito
N. S. Eu serei
Tu serás
Efle será
N. P. Nós seremos
Vós sereis
Elles serão
LEXICOLOGIA
424
Outro
N. S. Eu hei de ser N. P. Nós havemos de ser
Tu has de ser
Vós haveis de ser
Elle ha de ser
Elles hão de ser
Futuro passado ou anterior
N. S. Eu terei sido N. P. Nós teremos sido
Tu terás sido
Vós tereis sido
Elle terá sido
Elles terão sido
Condicional presente ,
N. S. Eu seria N. P. Nós seriamos
Tu serias
Vós serieis
Elle seria
Elles seriam
Condicional j)assado
N. S. Eu teria sido N. P. Nós teriamos sido
Tu terias sido
Vós terieis sido
Elle teria sido
Elles teriam sido
MODO IMPERATIVO
Futuro
N. S. Sê tu N. P. Sede vós
MODO SUBJUNCTIVO
Presente
N. S. Eu seja N. P. Nós sejamos
Tu sejas
Vós sejais
Elle seja
Elles sejam
Imperjeito
N. S. Eu fosso N. P. Nós fossemos
Tu fosses
Vós fosseis
Elle fosse
Elles fossem
SERÕES G R A M M A T I C A E S
425
Passado indefinito
N. S. Eu tenha sido N. P. Nós tenhamos sido
Tu tenhas sido
Vós tenhais sido
Elle, tenha sido
Elles tenham sido
Passado mais que perjetto
N. S. Eu tivesse sido
T u tivesses sido
Elle" tivesse sido
N. P. NÓS tivéssemos sido
Vós tivésseis sido
Elles tivessem sido
Futuro imperjeito
N. S. E u fòr
Tu fores
Elle
N. P. Nus formos
Vós fordes
Elles furem
fór
Futuro passado ou anterior
N. S. Eu tiver sido
Tu tiveres sido
Elle tiver sidu
N. P. Nós tiver
S sido
Vós tiverdes sido
Elles tiverem Sido
(MODO INDEFINITO)
MODO INFINITIVO
Infinitivo impessoal
Ser
Passado
Ter sido
Infinitivo j>essoal
N. S. Ser eu N. P. Sermos nós
Seres tu
' Ser elle
Serdes vós
Serem elles
Passado do infinitivo pessoal
N. S. Ter cu sido N. P. Termos nós sido
Teres tu sido
Terdes vós sido
Ter elle sido
Terem elles sido
420
LEXICOLOGIA
MUDO PARTICIPIAL
Participio presente
Sendo
Participio passado
Sido, tendo sido
III
Da conjugação dos auxiliares TER, ESTAR e HAVER
(MODO DEFINITO)
INDICATIVO OU AFFIRMATIVO
Presente
N. S. Eu tenho Eu estou Eu hei
Tu tens
Tu estás
Elle tem
Elle está
N. P. Nós temos
Nós estamos
Vós tendes
Vós estais
Elles têm
Elles estão
Tu hás
Elle há
Nós havemos
Vós haveis
Elles hão
Passado imperfeito ou simultâneo
N. S. Eu tinha Eu estava Eu havia
Tu tinhas
Tu estavas
Elle tinha
Elle estava
N. P. Nós tínhamos
Nós estávamos
Vós tínheis
Vós estáveis
Elles tinham
Elles estavam
Tu havias
Elle havia
Nós havíamos
Vós havíeis
Elles haviam
Passado definito
N. S. Eu tive Eu estive Eu houve
Tu tiveste
Tu estiveste
Elle teve
Elle esteve
N. P. Nós tivemos
Nós estivemos
Vós tivestes
Vós estivestes
Elles tiveram
Elles estiveram
Tu houveste
Elle houve
Nós houvemos
Vós houvestes
Elles houveram
SERÕES GRAMMATICAES
421
Passado mais que perjeito
N. S. Eu tivera Eu estivera Eu houvera
Tu tiveras
T u estiveras
Elle tivera
Elle estivera
N. P. Nós tivéramos
Nós estivéramos
Vós tivéreis
Vós estivéreis
Elles tiveram
Elles estiveram
Tu houveras
Elle houvera
Nós houvéramos
Vós houvéreis
Elles houveram
Futuro impei jeito
N. S. Eu terei Eu estarei Eu haverei
T u terás
T u estarás
Elle terá
Elle estará
N. P. Nus teremos
Nus estaremos
Vós tereis
Vós estareis
Elles terão
Elles estarão
T u haverás
Elle haverá
Nus haveremos
Vós havereis
Elles haverão
Condicional presente
N. S. Eu teria Eu estaria Eu haveria
Tu teria
Tu estarias
Elle teria
Elle estaria
N. P. Nós teríamos
Nós estariamos
Vós terieis
Vós estaríeis
Elles teriam
Elles estariam
Tu haverias
Elle haveria
Nus liaveriamos
Vós haveríeis
Elles haveriam
MODO IMPERATIVO
Futuro
N. S. T e m tu
N. P. Tende vós
Está tu
Estai vós
H a tú
Havei vós
E u esteja
T u estejas
Elle esteja
Nós estejamos
Vós estejais
Elles estejam
Eu haja
Tu hajas
Elle haja
Nós hajamos
Vós hajais
Elles hajam
MODO SUBJUNCTIVO
Presente
N. S. Eu tenha
Tu tenhas
Elle tenha
N. P. Nós tenhamos
Vós tenhais
Elles tenham
428
LEXICOLOGIA
Imperfeito
N. S. Eu tivesse
Tu tivesses
Elle tivesse
N. P. Nós tivéssemos
Vós tivésseis
Elles tivessem
Eu estivesse
Tu estivesses
Elle estivesse
Nós estivéssemos
Vós estivésseis
Elles estivessem
Eu houvesse
Tu houvesses
Elle houvesse
Nós houvéssemos
Vós houvésseis
Elles houvessem
Futuro
N. S. Eu tiver
Tu tiveres
Elle tiver
N. P. Nós tivermos
Vós tiverdes
Elles tiverem
Eu estiver
Tu estiveres
Elle estiver
Nós estivermos
Vós estiverdes
Elles estiverem
Eu houver
Tu houveres
Elle houver
Nós houvermos
Vós houverdes
Elles houverem
( M O D O INDEFINITO)
MODO INFINITIVO
Infinitivo impessoal
Ter
Estar
Haver
Infinitivo pessoal
N. S. Ter eu
Teres tu
Ter elle
N. P. Termos nós
Terdes vós
Terem elles
Estar cu
Estares tú
Estar elle
Estarmos nós
Estardes vós
Estarem elle
Haver eu
Haveres tú
Haver elle
Havermos nós
Haverdes vós
Haverem elles
MODO PARTIC1PIAL
Participio presente
Tendo
Estando
Havendo
Participio passado
Tido
Estado
Havido
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