Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 1 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Juanir Badaró Campos Júnior – [email protected] Atenção Farmacêutica e Farmacoterapia Clínica Instituto de Pós-Graduação - IPOG Belo Horizonte, MG, 05 de agosto de 2015 Resumo O objetivo da Atenção Farmacêutica não é intervir no diagnóstico ou na prescrição de medicamentos, mas sim garantir um tratamento farmacológico seguro, eficaz e custo efetivo. Envelhecer é um processo que ocorre naturalmente, implicando em algumas mudanças relacionadas à idade que ocorrem de forma inevitável. É um fenômeno progressivo que ocorre no ser humano, levando a um desgaste orgânico, além de provocar alterações nos aspectos culturais, sociais e emocionais do indivíduo. O número de idosos tende a aumentar drasticamente a nível mundial, uma vez que as melhorias nas condições de vida e os avanços na medicina, inclusive no nível dos tratamentos farmacológicos, tem contribuído para tal. A população idosa é a que mais é acometida pelas doenças e agravos crônicos não transmissíveis, sendo estados permanentes ou de longa permanência, requerendo acompanhamento constante, uma vez não possuem cura. Quanto mais avançada a idade, mais expressivamente as doenças e agravos tendem a se manifestar, e estão freqüentemente associadas (comorbidades). A assistência ao idoso deve levar em consideração primeiramente a qualidade de vida, considerando as perdas advindas do processo natural do envelhecimento e as possibilidades de prevenção, manutenção e reabilitação do seu estado de saúde. Conclui-se, portanto que, o farmacêutico, na realização da atenção farmacêutica, deve atender à necessidade de saúde do idoso, com sensibilidade para compreendê-lo em seu contexto sociocultural e orientá-lo de sua condição limitante, bem como suas potencialidades. Palavras-chave: Saúde. Idoso. Seguimento. Farmacoterapia. 1. Atenção Farmacêutica Atenção Farmacêutica, é uma prática recente da atividade farmacêutica, onde é priorizado a orientação e o acompanhamento farmacoterapêutico, ocorrendo a relação direta entre o farmacêutico e o usuário de medicamentos. Esta atividade já é realidade na maioria dos países desenvolvidos e tem demonstrado ser eficaz na redução de agravamentos dos portadores de patologias crônicas e de custos para o sistema de saúde (PEREIRA; FREITAS, 2008). A Assistência Farmacêutica é uma prática que não se restringe à produção e distribuição de medicamentos, mas aborda todas as práticas relativas à promoção, prevenção e recuperação da saúde, individual e coletiva, porém centradas no medicamento. Tais práticas envolvem as ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 2 atividades de pesquisa, produção, distribuição, armazenamento, prescrição e dispensação dos insumos medicamentosos. O farmacêutico é o profissional importante nessa assistência, uma vez que sua formação técnico-científica é fundamentada na articulação de conhecimentos das áreas biológicas e exatas. Como profissional de medicamentos, esse profissional traz também para essa área de atuação conhecimentos de análises clínicas e toxicológicas e de processamento e controle de qualidade de alimentos (ARAÚJO; UETA; FREITAS, 2005). De acordo com Correr; Otuki (2011), para que a Assistência Farmacêutica seja de qualidade, além de recursos disponíveis e planejamento adequado, devem-se seguir corretamente as etapas do ciclo, tais como: seleção dos medicamentos, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, prescrição, dispensação e utilização dos medicamentos. Dessa forma, pode-se evidenciar que a Atenção Farmacêutica está presente na etapa final da Assistência Farmacêutica, ou seja, no momento da dispensação e utilização dos medicamentos. A Atenção Farmacêutica está inserida na assistência farmacêutica e é a provisão responsável da terapia farmacológica que tem como finalidade obter resultados definidos na saúde que melhorem a qualidade de vida do paciente através da minimização dos problemas de saúde relacionados à terapia medicamentosa, do aumento da adesão ao tratamento e da otimização e racionalização dos investimentos e recursos disponíveis (CARMO, 2007). O objetivo da Atenção Farmacêutica não é intervir no diagnóstico ou na prescrição de medicamentos, mas sim garantir um tratamento farmacológico seguro, eficaz e custo efetivo. Esta prática envolve vários componentes como a educação em saúde, orientação farmacêutica, dispensação e atendimento farmacêutico, mensuração e avaliação dos resultados, detecção de problemas relacionados com os medicamentos e erros de medicação (NOVAES, 2007). No Brasil, esta atividade farmacêutica ainda é dificultada por alguns fatores em sua implantação, sendo eles a dificuldade de acesso ao medicamento por parte dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), Unidades Básicas de Saúde sem farmacêutico e a ausência de documentação científica que possibilite demonstrar aos gestores do sistema público e privado que a implementação da Atenção Farmacêutica representa investimento e não custo. Nos dias atuais o exercício profissional do farmacêutico busca a concepção clínica de sua atividade, além da integração e colaboração com os membros da equipe de saúde, cuidando diretamente do paciente (PEREIRA; FREITAS, 2008). Entende-se que o farmacêutico deve ser incorporado nas ações de saúde, contribuindo para a redução de custos, pois é um profissional de nível superior com sólida formação na área do medicamento e, muitas vezes, o único com quem o paciente tem contato fora do serviço de saúde, o que justifica a implementação da Atenção Farmacêutica (PEREIRA; FREITAS, 2008). No decorrer dos anos a Atenção Farmacêutica vem sendo discutida, analisada e encaminhada junto às instituições de saúde e de educação como uma das diretrizes principais para redefinição da atividade farmacêutica em nosso país, embora nas condições específicas da realidade brasileira, ainda restem algumas questões a serem enfrentadas na transposição desse referencial (CHAUD, GREMIÃO, FREITAS, 2004). ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 3 A fim de se padronizar o serviço do farmacêutico, faz-se necessário a criação de protocolos que documente todo serviço e orientação prestados ao paciente. Dessa forma cria-se a Declaração de Serviço Farmacêutico (DSF). Este documento respalda o paciente, mas principalmente o profissional farmacêutico, no qual deve ser arquivada nas dependências do seu ambiente de trabalho, disponível para auxiliar nos futuros tratamentos e para eventual auditoria de órgãos fiscalizadores. A Declaração de Serviço Farmacêutico segundo a RDC 44/09, é um documento que deve ser elaborado mediante a prestação de serviços farmacêuticos, a fim de se protocolar de forma sistematizada o atendimento. Deve ser elaborada em papel com identificação do estabelecimento, contendo nome, endereço, telefone e CNPJ, assim como a identificação do usuário ou de seu responsável legal, quando for o caso. A Declaração de Serviço farmacêutico deve ser emitida em 2 vias, sendo uma entregue ao paciente e a outra arquivada no estabelecimento. Os dados constantes no formulário são sigilosos, sendo somente utilizados para realização dos serviços. A figura 1 representa um modelo de DSF. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 4 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 5 Figura 1 - Modelo de Declaração de Serviços Farmacêuticos Fonte: Conselho Regional de Farmácia (PR) 2. Senescência e Senilidade Envelhecer é um processo que ocorre naturalmente, implicando em algumas mudanças relacionadas à idade que ocorrem de forma inevitável. É um fenômeno progressivo que ocorre no ser humano, levando a um desgaste orgânico, além de provocar alterações nos aspectos culturais, sociais e emocionais do indivíduo (CIOSAK et al ., 2006). A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera: O envelhecimento é um processo sequencial, individual, cumulativo, irreversível, universal, não patológico de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte. Ainda para a OMS, o limite de idade entre o indivíduo adulto e o idoso é 65 anos em nações desenvolvidas e 60 anos nos países emergentes. Dessa forma, pode-se definir senescência como um processo que ocorre de forma natural, sendo alterações devido a diminuição progressiva das reservas funcionais, não provocando qualquer problema. Senilidade é uma condição patológica do envelhecimento, sendo alterações devido a complicações, ou seja, doenças, que requer assistência (Ministério da Saúde, 2006). O tempo transcorre homogêneo para todos os seres, mas seus efeitos são diferentes em cada um devido à variabilidade e subjetividade individual. O envelhecimento começa quando o indivíduo nasce, ocorrendo paulatinamente. Na segunda década de vida, considerando os aspectos biofuncionais, ele é quase imperceptível. As primeiras alterações funcionais e estruturais surgem no final da terceira década, e a partir da quarta, há uma perda de aproximadamente 1% da função por ano, nos diferentes sistemas orgânicos. As perdas funcionais que ocorrem com o envelhecimento são eventos normais, porém aumentam a probabilidade de doenças ou acidentes (BRAZ; CIOSAK, 2006). À capacidade de adaptação do indivíduo aos rigores e agressões do meio ambiente, e variáveis como sexo, origem, lugar em que vive, tamanho da família, aptidões para a vida e as experiências vivenciadas, exposições ao estresse físico e mental, vícios, sedentarismo, má nutrição são fatores ligados ao envelhecimento e que podem determinar a qualidade de tal (CIOSAK et al ., 2006). Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), pessoas com mais de 65 anos serão mais de um quarto dos brasileiros em 2060, conforme demonstrado na Tabela 1. O percentual desse grupo representa 7,4% do total de pessoas que vivem no país em 2013. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 6 Tabela 1 - Projeção etária brasileira entre 2013 e 2060 Fonte: IBGE. Diretoria de Pesquisas. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Projeção da População por Sexo e Idade para o Brasil. Grandes Regiões e Unidades da Federação. 2013. O número de idosos tende a aumentar drasticamente a nível mundial, uma vez que as melhorias nas condições de vida e os avanços na medicina, inclusive no nível dos tratamentos farmacológicos, tem contribuído para tal (ABRANTES, 2013). O aumento da expectativa média de vida leva ao aparecimento de várias patologias relacionadas ao aumento da idade, prevalecendo às doenças crônicas (SOUSA, 2011). 3. Problemas de saúde relacionados ao idoso A população idosa é a que mais é acometida pelas doenças e agravos crônicos não transmissíveis, sendo estados permanentes ou de longa permanência, requerendo acompanhamento constante, uma vez não possuem cura. Quanto mais avançada à idade, mais expressivamente essas doenças e agravos tendem a se manifestar, e estão frequentemente associadas (comorbidades). Isto pode gerar um processo incapacitante, que afeta a funcionalidade dos idosos, impedindo ou dificultando a realização de suas atividades rotineiras de forma independente. Mesmo quando não são fatais, comprometem significativamente a qualidade de vida dos idosos (Ministério da Saúde, 2006). Estudos mostram que a dependência para a realização das atividades de vida diária (AVD) tende a aumentar cerca de 5% entre os idosos de 60 anos para cerca de 50% entre os com 90 anos ou mais (NOVAIS, 2007). O Gráfico 1 retrata a intensidade e as doenças que mais atingem os idosos, segundo o IBGE. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 7 Gráfico 1 - Doenças que mais atingem os idosos Fonte: IBGE. 2008. Segundo o gráfico, percebemos que a hipertensão atinge mais da metade das pessoas com mais de 60 anos (correspondendo ao 1º lugar na classificação), e as cardiovasculares (4º lugar) quase 20%. Pode-se observar que doenças osteoarticulares (2º e 3º lugar) e diabetes (5º lugar) se destacam como as doenças mais freqüentes. Observa-se ainda que mais de 20% da população de idosos vive sem doença. Segundo a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2010), a hipertensão arterial é definida como “pressão arterial sistólica maior ou igual a 140 mmHg e uma pressão arterial diastólica maior ou igual a 90 mmHg, em pessoas que não estão usando medicações para controle da pressão arterial.” Ainda segundo a ANVISA, a hipertensão arterial, conhecida popularmente como pressão alta, se apresenta na maior parte dos casos assintomática, ou seja, sem sintoma, sendo um fator de risco para doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais. Mais da metade dos hipertensos (75% deles) recorrem ao Sistema Único de Saúde (SUS) para serem atendidos na rede de Atenção Básica. A hipertensão arterial é hoje uma das causas mais frequentes de internação hospitalar. Os ossos são estruturas do nosso corpo, concedendo-lhe comprimento e forma. Mas eles estão suscetíveis a lesões e podem apresentar diversas patologias. As mais comuns são os traumas e as doenças degenerativas como escoliose, lordose, cifose, ou a perda de minerais, conhecida ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 8 como osteoporose. A partir da infância, a densidade óssea vai aumentando, passando pela adolescência e atingindo seu máximo na idade adulta jovem. Essas mudanças ocorrem durante o processo de remodelação no osso, como resultado do desequilíbrio entre as células de reabsorção (osteoclastos) e as células formadoras (osteoblastos). Como parte do processo natural de envelhecimento, a partir dos 30 anos os ossos e articulações começam a se deteriorar. As doenças osteoarticulares constituem um grupo de patologias que afetam de forma grave as pessoas, as famílias e as sociedades. Sendo assim, doenças como dores nas costas ou coluna, artrites e reumatismos se tornam comum em idosos (LOBÃO, 2011). Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes 2013 - 2014. Diabetes mellitus (DM) não é uma única doença, mas um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que apresenta em comum a hiperglicemia, a qual é o resultado de defeitos na ação da insulina, na secreção de insulina ou em ambas. A classificação atual do DM baseia-se na etiologia, e não no tipo de tratamento, portanto os termos DM insulinodependente e DM insulinoindependente devem ser eliminados dessa categoria classificatória. A classificação proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Associação Americana de Diabetes (ADA) inclui quatro classes clínicas: DM tipo 1 (DM1), DM tipo 2 (DM2), outros tipos específicos de DM e DM gestacional. Ainda há duas categorias, referidas como pré-diabetes, que são a glicemia de jejum alterada e a tolerância à glicose diminuída. Essas categorias não são entidades clínicas, mas fatores de risco para o desenvolvimento de DM e doenças cardiovasculares (DCVs). Depressão, asma ou bronquite, insuficiência renal e câncer são doenças que atingem menos de 10% da população de idosos, mas que ainda sim se apresentam freqüentes, e trazem prejuízos à qualidade de vida deles. 4. Atenção Farmacêutica ao idoso Considerar que todas as alterações que ocorrem com o idoso sejam decorrente de seu envelhecimento natural, impedindo a detecção precoce e o tratamento das doenças, e tratar o envelhecimento natural como doença a partir da realização de exames e tratamentos desnecessários, originários de sinais e sintomas que podem ser facilmente explicados pela senescência, são dois grandes erros muitas vezes cometidos por profissionais de saúde, e que devem continuamente ser evitados (Ministério da Saúde, 2006). Atualmente, para manter um estado de boa saúde, os idosos se submetem a tratamentos que incluem diversos medicamentos, pertencentes a várias classes farmacológicas, favorecendo o surgimento de interações medicamentosas (IM) e várias reações adversas, que podem muitas vezes, afetar de maneira grave a saúde do idoso. Com isso, a terapia medicamentosa do idoso pode ser desfavorecida devido a prescrição de vários medicamentos, fazendo com que ele não adere a terapêutica. A idéia da Atenção Farmacêutica surge justamente daí, propondo métodos de seguimento farmacêutico, com o objetivo de garantir uma terapia medicamentosa segura, racional e custo efetiva, através da orientação farmacêutica durante o atendimento, da correta dispensa de medicamentos, além da promoção e educação para a saúde (ABRANTES, 2013). ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 9 A assistência ao idoso deve levar em consideração primeiramente a qualidade de vida, considerando as perdas advindas do processo natural do envelhecimento e as possibilidades de prevenção, manutenção e reabilitação do seu estado de saúde. O farmacêutico, na realização da atenção farmacêutica, deve atender à necessidade de saúde do idoso, com sensibilidade para compreendê-lo em seu contexto sociocultural e orientá-lo de sua condição limitante, bem como suas potencialidades (CIOSAK et al ., 2006). Segundo Correr; Otuki (2011), entre as metodologias de atenção farmacêutica mais citadas no Brasil estão o Método Dáder, o Pharmacotherapy WorkUp e o Therapeutic Outcomes Monitoring (TOM). Todos esses visam fornecer ao farmacêutico algumas ferramentas e um pacote de abordagens e procedimentos para a realização do atendimento clínico. De modo geral, todos os métodos de atenção farmacêutica disponíveis advêm de adaptações do método clinico clássico de atenção à saúde e do sistema de registro SOAP (Subjective, Objective, Assessment, Plan) proposto por Weed na década de setenta. De maneira a incentivar uma maior adesão à terapêutica pelo idoso é necessário que o farmacêutico, conhecendo a multiplicidade de aspectos envolvidos no processo de adesão, implemente estratégias adequadas a este grupo, agregando mudanças de comportamentos condizentes com melhores condições de tratamento, de forma a contemplar as singularidades de cada situação, respeitando as suas crenças e valores (NOVAIS, 2007). Condição Duração do problema Aguda Limitada (dias, semanas) Longo (> 3 meses, anos) e não autolimitada Crônica Foco / Objetivos Terapêuticos Cura e alívio de sintomas Prioridade no plano de cuidado Duração do seguimento Alta. Requer ação imediata Controle e prevenção de complicações Variável. Depende da presença de agravo e controle da condição Curto prazo. Focado na resolução do problema e na alta. Longo prazo. Focado na estabilização e no suporte ao autocuidado. Tabela 2 - Características da atenção farmacêutica segundo a condição do paciente Fonte: CORRER; OTUKI (2011) Segundo Correr; Otuki (2011); na prática diária o farmacêutico atenderá seus pacientes um a um, em consultas individualizadas. Inicialmente, o objetivo será coletar e organizar dados do paciente. Para isso utilizam-se técnicas de semiologia farmacêutica e entrevista clínica. É aberta uma ficha para registro do atendimento, que será arquivada no prontuário do paciente. De posse de todas as informações necessárias, o farmacêutico será capaz de revisar a medicação em uma abordagem clínica e identificar problemas relacionados à farmacoterapia presentes e potenciais do paciente. Será elaborado então um plano de cuidado em conjunto com o paciente, que pode incluir intervenções farmacêuticas e/ou encaminhamento a outros profissionais. Deverá ser entregue ao paciente ao final da consulta a Declaração de Serviço Farmacêutico1, que registra e materializa ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 10 o atendimento. Por fim, o farmacêutico deve agendar o retorno ou a freqüência de seguimento, a fim de avaliar os resultados de suas condutas. Todo processo é reiniciado no surgimento de novos problemas, queixas ou mudanças significativas no tratamento. CORRER; OTUKI (2011). Devem ser de conhecimento do farmacêutico todos os medicamentos em uso pelo paciente, incluindo suas indicações, regime posológico tais como dose, via de administração, freqüência e duração, e a resposta, isto é, a efetividade e segurança (SES-MG, 2010). Depois da identificação dos problemas relacionados ao paciente devem ser documentados e será estabelecidos níveis de prioridades, determinando quais problemas requerem ações mais urgentes. A avaliação da farmacoterapia gera uma lista de problemas a serem resolvidos, com uma determinada ordem de prioridade entre eles (CORRER; OTUKI, 2011). O Quadro 1 apresenta uma categorização de problemas relacionados à farmacoterapia e suas causas mais comuns. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 11 Quadro 1 - Categorização de problemas relacionados à farmacoterapia e suas causas mais comuns Fonte: Correr; Otuki, 2011 É necessário considerar tanto os medicamentos prescritos quanto aqueles usados por ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 12 automedicação, plantas medicinais, suplementos vitamínicos e vacinas, normalmente pouco valorizados pelos pacientes como medicamentos. É importante fazer uma abordagem valorizando o conhecimento do paciente, sua percepção dos problemas, sua cultura e condição social e como os medicamentos se encaixam em sua rotina de vida, seus horários e seus hábitos (GOMES et al., 2007). O método clínico de atenção farmacêutica segue as etapas detalhadas na Figura 2. Figura 2 - Processo geral de Atenção Farmacêutica do paciente Na prática diária o farmacêutico atenderá seus pacientes um a um, em consultas individualizadas. Inicialmente, o objetivo é coletar e organizar dados do paciente. Para isso utilizam-se técnicas de semiologia farmacêutica e entrevista clínica. É aberta uma ficha para registro do atendimento, que será arquivada no prontuário do paciente. Depois da coleta das informações necessárias sobre o paciente, o farmacêutico deve aplicar um raciocínio clínico sistemático a fim de avaliar e identificar todos os problemas relacionados à farmacoterapia do paciente. Por fim, o farmacêutico deve agendar o retorno ou a freqüência de seguimento, a fim de avaliar os resultados alcançados. Todo processo é reiniciado no surgimento de novos problemas, queixas ou mudanças significativas no tratamento (CORRER; OTUKI 2011). A avaliação sistemática da necessidade, efetividade e segurança de todos os medicamentos ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 13 em uso pelo paciente e de sua adesão ao tratamento consiste na revisão abrangente da medicação. Esta revisão é iniciada após o levantamento das informações do paciente durante a entrevista clínica. O farmacêutico deve conhecer a indicação, dose, via de administração, freqüência e duração do tratamento para cada medicamento em uso e deve reunir as informações clínicas necessárias para avaliar a resposta do paciente, em termos de efetividade e segurança (SABATER et al., 2007). Figura 3 - Características de uma farmacoterapia ideal Fonte: Baseado nos estudos de Cipolle, Strand, Morley e Fernández-Llimós et al Levando em consideração o paciente idoso, propõe-se com este trabalho a anamnese farmacêutica direcionada para este tipo de população. Deve-se avaliar primeiramente identificar o problema do paciente e aconselhar o paciente sobre o uso apropriado dos medicamentos e identificar o idoso (nome, endereço, idade, ocupação, raça, entre outros). Logo após, deve-se saber qual a queixa principal e a duração da mesma. Depois, identificam-se parâmetros como: equilíbrio e mobilidade, função cognitiva, deficiências sensoriais, condições emocionais e presença de sintomas depressivos, disponibilidade e adequação de suporte familiar e social, condições ambientais, capacidade ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 14 funcional - Atividades da Vida Diária (AVD) e Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD), e estado e risco nutricionais. Devem-se investigar problemas como: dispnéia, edema, perda de peso, palpitações, elevação ou diminuição da pressão arterial, disfagia, alterações miccionais ou intestinais, fadiga. Dores, transtorno do sono, depressão, esquecimento, quedas, autonomia, dependência e independência do paciente idoso. Checa-se a história da patologia atual, seus antecedentes pessoais sendo, história da patologia pregressa = hábitos, vícios, alergias, intolerâncias e imunizações. Tendo protocolado todos os dados acima, deve-se identificar fatores de risco versus reações adversas, eliminar medicamentos sem benefícios terapêuticos, eliminar medicamentos sem indicação clinica e substituir por medicamentos seguros (menos tóxicos), evitar tratar uma reação adversa com outro medicamento, e preferir monoterapias, monodrogas. O ideal é manter sempre um contato com o paciente, a fim de monitorá-lo, até este receber alta do tratamento, ou mesmo atingir a estabilização do problema/patologia. 5. Conclusão Conclui-se com este trabalho, que os idosos correspondem a uma população de grande importância clínica, uma vez que as estimativas e que o número deles aumente mundialmente com o passar dos anos. A Atenção Farmacêutica tem se mostrado essencial no cotidiano dos profissionais desta área, uma vez que é peça fundamental no monitoramento das terapêuticas selecionadas para cada indivíduo em particular. Notadamente, quando se aplica a atenção farmacêutica no grupo dos idosos, observa-se que a fidelização destes à adesão a terapia por meio da melhoria do atendimento tende a aumentar, uma vez que são carentes de informação e cuidado. A assistência ao idoso deve levar em consideração primeiramente a qualidade de vida, considerando as perdas advindas do processo natural do envelhecimento e as possibilidades de prevenção, manutenção e reabilitação do seu estado de saúde. Com o aumento da expectativa média de vida, ocorre o aparecimento de várias patologias relacionadas ao aumento da idade, prevalecendo às doenças crônicas. A população idosa é a que mais é acometida pelas doenças e agravos crônicos não transmissíveis, sendo estados permanentes ou de longa permanência, requerendo acompanhamento constante. Quanto mais avançada à idade, mais expressivamente essas doenças e agravos tendem a se manifestar. A Atenção Farmacêutica propõe métodos de seguimento farmacêutico, com o objetivo de garantir uma terapia medicamentosa segura, racional e custo efetiva, através da orientação farmacêutica durante o atendimento, da correta dispensação de medicamentos, além da promoção e educação para a saúde. Neste contexto o profissional farmacêutico, na realização da atenção farmacêutica, deve atender à necessidade de saúde do idoso, com sensibilidade para compreendê-lo em suas necessidades, limitações, bem como em suas potencialidades. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 15 Referências ABRANTES, Mário Filipe Barbeitos, Dissertação de mestrado. Seguimento farmacoterapêutico em idosos polimedicados. Universidade Fernando Pessoa. Faculdade das Ciências da Saúde, 2013. ARAÚJO, A. L. A.; UETA, J. M.; FREITAS, O. Assistência farmacêutica como um modelo tecnológico em atenção primária à saúde. Revista Ciência Farmacêutica Básica Aplicada, v.26, n.2, 2005. BLANSKI CRK; LENARDT MH. A compreensão da terapêutica medicamentosa pelo idoso. Rev Gaúcha Enferm., 2005. BRAZ E; CIOSAK SI. O perfil do envelhecimento. In: Braz E, Segranfredo KU, Ciosak SI. O paradigma da 3ª idade. Cascavel –PR: Coluna do Saber, 2006. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Atenção Farmacêutica em pacientes idosos Julho/2016 16 CARMO, T. A. 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