Anais 2º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Corumbá, 7-11 novembro 2009, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p.187-193. Atualização da base cartográfica de hidrografia da bacia do rio Paraguai/Jauquara Mato Grosso, Brasil: subsídios para o planejamento e gestão ambiental Jesã Pereira Kreitlow1 Marcela de Almeida Silva1 Rosália Casarin2 Sandra Mara Alves da Silva Neves2 Ronaldo José Neves2 1 Acadêmico do Curso de Geografia/ Campus Jane Vanini de Cáceres/MT - Unemat Bolsista de Iniciação Científica - Probic/Unemat Av. São João, s/nº- bairro Cavalhada - 78200-000 - Cáceres/MT, Brasil [email protected] 2 Acadêmica do curso de Turismo/ Campus Jane Vanini de Cáceres/MT - UNEMAT Bolsista de Iniciação Científica/ CNPq Av. São João, s/nº- bairro Cavalhada - 78200-000 - Cáceres/MT, Brasil [email protected] 3 Professores adjuntos do Departamento de Geografia Campus Jane Vanini- Cáceres/MT - UNEMAT Av. São João, s/nº- bairro Cavalhada - 78200-000 - Cáceres/MT, Brasil [email protected]; [email protected]; [email protected] Resumo. Este texto apresenta os resultados obtidos através da pesquisa atualização da base cartográfica de hidrografia da bacia do rio Paraguai/Jauquara-BHPJ, localizada na região sudoeste do estado de Mato Grosso, Brasil. A pesquisa foi realizada a partir da vetorização, a partir dos fotolitos, da rede hidrográfica contida nas cartas topográficas (IBGE, 1976), e atualização desta base através da imagem de satélite. Palavras-chave: hidrografia, base digital, sensoriamento remoto. 187 Anais 2º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Corumbá, 7-11 novembro 2009, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p.187-193. Abstract. The aim of this paper is present the results obtained through research actualization of the cartographic base of the hydrographic basin of the Rio Paraguai/Jauquara-BHPJ, located in the southwestern state of Mato Grosso, Brazil. The survey was conducted the vectorization, from Photolithography, the river network contained in the topographic maps (IBGE, 1976), and actualization this database using satellite image. Key-words: hydrography, digital base, remote sensing. 1. Introdução A utilização dos SIGs tem aumentado ultimamente por fornecer meios para o planejamento de ações sobre o espaço de forma simplificada, com agilidade e sem a subjetividade que ocorre quando os cruzamentos são feitos de forma manual. Os SIGs possibilitam a introdução de novas variáveis e cálculos, otimizando os estudos ambientais e melhorando a qualidade dos mapeamentos. A presente pesquisa desenvolveu estudos na Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai/Jauquara (BHPJ), área que possui grande importância no contexto da região do Alto Rio Paraguai por contribuir com importantes cursos fluviais para o regime hídrico do Pantanal mato-grossense. A BHPJ localiza-se na porção sudoeste do estado de Mato Grosso entre as coordenas geográficas de 14º 10’ e 17º S, 56º e 59º 30 W, conforme apresentado na Figura 1. A bacia possui área territorial de 16.195 Km2, distribuída entre os municípios: Alto Paraguai (11%), Arenápolis (2,67%), Barra do Bugres (26.44%), Cáceres (8.23%), Denise (7.78%), Diamantino (4.08%), Lambari D’Oeste (1.42%), Nobres (0.40%), Nortelândia (7.25%), Nossa Senhora do Livramento (2.15%), Nova Marilândia (3.21%), Nova Olímpia (7.27%), Porto Estrela (12.62%), Rosário Oeste (2.50%), Santo Afonso (0.95%) e Tangará da Serra (1.58%). As atividades desenvolvidas na área de montante da BHPJ tiveram inicio no século XVIII, a partir de 1728, com a descoberta de ouro e diamante, principalmente, nas margens dos rios Diamantino, Santana, São Francisco Xavier, Córrego do Ouro, Ribeirão Areias. Dando origens ao núcleo urbano de Diamantino e, mais tarde outros povoados. Na parte sul da bacia, a ocupação teve inicio a partir de 1778 com a fundação do município de Cáceres, onde foi instalado um “Registro” posto de controle de passagem pelo rio Paraguai. As cidades de Porto Estrela, Barra do Bugres, Denise e Nova Olímpia tiveram suas origens no século XIX, com a extração da poaia (Psychotria ipecacuanha) e do látex da seringueira (Hevea brasiliensis). O município de Tangará da Serra teve inicio na década de 1960, com a implantação de programas agropecuários. Casarin et. al (2007) aos estudarem a BHPJ identificaram que ela possui, segundo o modelo de Otto Pfafstetter, 9 unidades hidrográficas: quais sejam: Interbacia do Rio Paraguai Médio; Bacia Hidrográfica do Córrego Cachoeirinha; Bacia Hidrográfica do Salobra; Bacia Hidrográfica do Rio Branco; Bacia Hidrográfica do Rio dos Bugres; Bacia Hidrográfica do Rio Jauquara; Bacia Hidrográfica do rio Pari; Bacia Hidrográfica do Rio Santana e Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai/Diamantino.Quanto à geomorfologia, a BHPJ é composta pelas unidades geomorfológicas do Planalto dos Parecis, da Província Serrana e Depressão do Rio Paraguai, constituída de rochas do grupo São Bento e Alto Paraguai e da Formação Pantanal (Neves et al., 2008). As unidades hidrográficas da BHPJ são bem drenadas e os rios Santana, Diamantino, São Francisco Xavier, Areias e tributários foram amplamente degradados pela exploração de ouro e diamante. Inicialmente a devastação é feita pelas escavações e, posteriormente pela lavagem do cascalho para separar o ouro da terra. Atualmente a região sofre com os desmatamentos para a implantação da moderna agricultura, provocando, muitas vezes o desaparecimento de cursos de primeira ordem. 188 Anais 2º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Corumbá, 7-11 novembro 2009, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p.187-193. Figura 1. Mapa de Localização da área de estudo. Org.: Kreitlow, 2009. 2. Objetivo Este trabalho teve como objetivo principal a atualização da base cartográfica referente à drenagem da Bacia Hidrográfica Paraguai/Jauquara, através de imagem de satélite, visando gerar informações úteis para o planejamento ambiental. 3. Material e Métodos Para a realização da pesquisa foi utilizado duas imagens Landsat 5 TM, órbita/ponto 227-70 e 227-71 do mês de maio de 2008, obtidas no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); Cartas Topográficas geradas pelo IBGE e DSG, na escala 1: 100.000. As imagens foram georreferenciada no SPRING do INPE, através do modo tela a tela, cujas coordenadas foram adquiridas das cenas ortorretificadas obtidas no site da NASA. Na seqüência procedeuse o mosaico das cenas, onde as duas imagens georreferenciadas foram unidas para formar uma única. Para a atualização foi utilizado 14 cartas topográficas que foram vetorizadas a partir dos fotolitos. Este procedimento ocorreu de forma semi-automático, através da extensão ArcScan 189 Anais 2º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Corumbá, 7-11 novembro 2009, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p.187-193. no SIG ArcGis. O arquivo com a digitalização das cartas foi gerado na extensão shape, e no programa as 14 cartas foram unidas para formar o mosaico da hidrografia da BHPJ, o mosaico foi gerado pela mascara da bacia. Foi necessário organizar um banco dados geográficos, onde foram inseridos: a imagem satélite, o MDE gerado a partir do SRTM, a base cartográfica vetorizada, bem como, outros elementos. A atualização da base cartográfica vetorizada foi realizada através da técnica de sobreposição, ou seja, o layer de hidrografia foi sobreposto à imagem. Foi observado as traçados contínuos de vegetação, típico de áreas úmidas. Para organização dos trabalhos de vetorização a BHPJ foi dividida por sub-bacias, na perspectiva de se evitar que áreas da bacia ficassem sem ser atualizadas. Os trabalhos de campo para validar o mapeamento derivado do processo de atualização ocorreram em pontos amostrais das sub-bacias, devido à sua extensão. Esta base foi elaborada para fins de estudos temáticos, atendendo a representação (mapas) de pequenas e médias escalas e de obtenção de informações sobre o estado de conservação dos rios da bacia. 4. Resultados e discussão A Figura 2 mostra o resultado do trabalho de atualização da rede, onde a drenagem vetorizada aparece em azul; os cursos fluviais extintos estão na cor vermelha na cor amarela estão representados os 197 cursos que foram mapeados a partir da imagem de satélite, portanto, esses cursos não foram registrados em 1976. Os canais identificados, através do processo de atualização podem ser visualizados em várias áreas da BHPJ, porém a maior parte está em sub-bacias que apresentam relevo da Província Serrana (movimentado), como exemplo citamos a sub-bacia do rio Santana. Nesta perspectiva, há duas situações a serem analisadas em toda a BHPJ, a primeira os canais foram degradados até completo desaparecimento e/ou não existiam, sendo erro de interpretação ocorrido no processo de mapeamento da época conforme pode ser visto na figura abaixo (Figura 3). Quarenta e um canais foram extintos em toda a BHPJ, desse total trinta e três pertencem à sub-bacia hidrográfica do rio Paraguai/Diamantino (Figura 3). No caso desta sub-bacia, aventam-se duas situações para o fato: o número expressivo de áreas utilizadas para a extração de ouro e diamante e/ou a implantação de práticas agrícolas, sem um manejo que evitasse a degradação dos canais fluviais. Nessa bacia, na porção nordeste, a conversão da vegetação natural de Cerrado para inserção de pastagens causou o desaparecimento de diversos canais, principalmente em áreas próximas as nascentes do rio Paraguai. Em áreas centrais existem diversos garimpos que causaram grande degradação, como a contaminação das águas dos canais com mercúrio, a remoção de cascalhos para extração do ouro deixou na paisagem imensos buracos, e o assoreamento dos cursos fluviais, provocados pelo transporte de sedimentos gerados do processo de garimpagem. 190 Anais 2º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Corumbá, 7-11 novembro 2009, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p.187-193. Figura 2. Carta-imagem da BHPJ, apresentando os canais fluviais identificados na atualização. Nessa bacia, na porção nordeste, a conversão da vegetação natural de Cerrado para inserção de pastagens causaram o desaparecimento de diversos canais, principalmente em áreas próximas as nascentes do rio Paraguai. Em áreas centrais existem diversos garimpos que causaram grande degradação, como a contaminação das águas dos canais com mercúrio, a remoção de cascalhos para extração do ouro deixou na paisagem imensos buracos, e o 191 Anais 2º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Corumbá, 7-11 novembro 2009, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p.187-193. assoreamento dos cursos fluviais, provocados pelo transporte de sedimentos gerados do processo de garimpagem. Figura 3. Carta-imagem com a drenagem atualizada bacia do Paraguai/Diamantino- MT. Este fato constatado é preocupante, pois destruição de cursos d’água de primeira ordem desta sub-bacia influência diretamente o rio Paraguai, conseqüentemente o bioma Pantanal, uma vez que correspondem as áreas das nascentes do rio Paraguai. Um fator importante na atualização da rede de drenagem foi à escala utilizada no processo de atualização, pois nas cartas trabalhadas a escala é de 1:100.000, nesse sentido foi dado zoom nas imagens de satélite, sendo fixadas em escala maior, de 1.70.000. 192 Anais 2º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Corumbá, 7-11 novembro 2009, Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p.187-193. 5. Conclusões Através deste estudo foi possível verificar que a BHPJ necessita de mais atenção de todos por conter as nascentes do rio Paraguai e por ela estar em uma área que é dispersora fluxo das bacias Amazônica e Platina. Em algumas áreas da BHPJ, percebeu-se que mais um numero maior de canais desapareceram e em outras áreas não aconteceu o desaparecimento de canais. Mesmo nas áreas que os canais não desapareceram não se pode dizer que a vegetação esteja em boas condições já que muitas áreas da bacia se encontram em risco por causa da atividades agropecuárias que são praticadas nessa região. Na bacia do Paraguai/Jauquara desde o processo de colonização até os dias atuais pode ser observado que não existiu e não existe muita preocupação com a preservação ambiental. Em uma área que se localiza a menos de 10 Km da nascente do rio Paraguai pode ser perceber que vários canais desapareceram. O numero de canais que foram observados na imagem e que não existiam no mapeamento realizado na década de 1970 pelo IBGE indicam que a vegetação que antes era densa foi retirada para diversos usos sendo que os principais usos que são dados na bacia são a pecuária, lavouras sendo que as principais são as culturas de soja, cana-de-açúcar e milho. Os maiores números de canais que foram observados estão localizados na Bacia Hidrográfica do Rio Santana. Antes de ser atualizada a base cartográfica contava com 3.222 canais e depois do processo de atualização a rede oficial mais a edição atingiu o total de 3.419 canais 6. Notas Esta pesquisa em caráter de iniciação científica foi gerada a partir dos dados do projeto “Erosão Laminar do Solo e Qualidade da Água na Bacia do Alto Rio Paraguai-MT: Procedimentos Metodológicos de Educação e avaliação Ambiental”, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso – Fapemat. Membros do grupo de pesquisa Serpegeo – Unemat. 7. Referências Casarini, R.; Neves, S. M. A. S.; Neves, R. J. Uso da terra e qualidade da água da bacia Hidrográfica Paraguai/Jauquara-MT. Rev. Geográfica Acadêmica. v. 2, n. 1, 2008. Casarin, R. Caracterização dos principais vetores de degradação ambiental da Bacia Hidrográfica Paraguai/Diamantino. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Geografia, Instituto de Geociências. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2007. Christofoletti, A. Geomorfologia. 2ª. São Paulo: Edgard Blüncher, 1980. Conte, M. L.; Leopoldo, P. R. Avaliação dos Recursos Hídricos: Rio Pardo, um Exemplo. São Paulo: UNESP, 2001. Moreira, M. A. Fundamentos do sensoriamento remoto e metodologias de aplicação. Viçosa: UFV, 2003. Felicidade, N. L;. Martins, R. C; Leme, A. A. Uso e gestão dos recursos hídricos no Brasil: velhos e novos desafios para cidadania. São Carlos: RiMa, 2003. Neves, S. M. A. S; Soares, E. R. C; Casarin, R. Neves, R. J; Delmon, J. M. G. Uso do sensoriamento remoto na avaliação das áreas desmatadas e suas implicações nos cursos fluviais da Bacia Hidrográfica ParaguaiJauquara/MT – Brasil. Anais... IX Simpósio Nacional do Cerrado, Brasília, DF, 2008. 193