F031/032 - Tópicos em Astronomia e Astrofísica Aula 04: 10/09/2009 * fotometria (introdução): emissão de radiação * filtros, sistemas de cores e sua relação com temperaturas Imagens e Gráficos: Michael Richmond sob CCL Prof. Ernesto Kemp UNICAMP – IFGW – DRCC [email protected] Fotometria: conceitos gerais Emissão de radiação: Espectro de corpo-negro Lei do deslocamento de Wien Temperaturas efetivas Cores: Bolometria Índices de cor Espectro de Corpo-negro: a quantização da energia Max Planck descreveu a forma do espectro de corpo negro pela função: B(T) é a chamada “densidade espectral”, ou a densidade de energia por intervalo de comprimento de onda de radiação emitida Espectro de Corpo-negro: a quantização da energia Em coordenadas esféricas: É a potência emitida por intervalo de comprimento de onda, de um corpo negro a temperatura T, por elemento de área, em um ângulo sólido dΩ Espectro de Corpo-negro: a quantização da energia Temos B em função do comprimento de onda, ou da freqüência: Estas são as chamadas “Funções de Planck”. A constante de Planck é: h = 6,626 x 10 -27 erg.s Obs.: Demonstre a equivalência das relações acima Luminosidade Podemos utilizar a função de Planck para relacionar observáveis físicos (magnitude aparente, fluxo radiante) com propriedades dos astros (raio, temperatura). Vamos considerar como nosso modelo de estrela uma esfera aquecida a uma temperatura T com propriedades de um corpo-negro. Seja um elemento de área dA que emita radiação isotropicamente (de forma igual em todas as direções). A luminosidade ( energia / unidade de tempo) emitida pela estrela em um certo intervalo de comprimento de onda é Luminosidade Integrando a parte angular (resultado = π) e a área da superfície emissora (4 π R2) , temos: Onde Lλ é a luminosidade monocromática, para um λ específico. A Lei de Stefan revista Lembrando a Lei de Stefan-Boltzmann: L = 4πR2 σ Tef 4 Integrando Nos leva a Cores ... para os astrônomos e astrofísicos Como observamos as cores das estrelas? Cores ... para os astrônomos e astrofísicos Desfocalizando e tomando uma exposição longa, podemos observar melhor as diferenças de cores •Como “quantificar” as cores? •Podemos tirar proveito disso? Índices de Cor: registro da luz A luz registrada de um astro segue a seqüência: astro => meio interestelar => atmosfera (*) => instrumento óptico => detector (*) Para instrumentos baseados na superfície da Terra. Para instrumentos em órbita não se aplica Instrumento Óptico: mecanismo para otimizar a coleta de fótons (telescópio) Detector: sistema de registro (placas fotográficas, CCDs, fototubos) Índices de Cor: registro da luz Cada item da seqüência abaixo, após o astro, altera a informação original astro => meio interestelar => atmosfera => instrumento óptico => detector Meio interestelar: poeira, fótons de fundo Atmosfera e Instrumento Óptico : atenuação, espalhamento, refração Detector: eficiência TODAS as perturbações acima dependem, de forma diferente, do comprimento de onda. O resultado das MEDIDAS é a convolução do espectro original da estrela, com funções matemáticas que descrevem cada uma das perturbações acima Índices de Cor: filtros Suponha que instalemos filtros na entrada do telescópio de forma a selecionar um certo intervalo de comprimentos de onda (filtros passa-banda). Exs: U (ultravioleta): centro em 365 nm largura de 68 nm B (azul): centro em 440 nm largura de 98 nm V (visual): centro em 550 nm largura de 89 nm Obs.: R (vermelho) e I (infravermelho) Índices de Cor: filtros O sistema abaixo é conhecido como Johnson-Cousins UBVRI (~1950), ou sistema “Genebra” A cor de um astro pode ser precisamente determinada por medidas do fluxo de fótons em diferentes “bandas” de emissão. Vamos Índices de Cor: filtros analisar qualitativamente as respostas a diferentes filtros: Com o filtro azul (banda B) o fluxo radiante de uma estrela quente é maior que de uma estrela fria. Ou seja, na banda B a estrela quente é mais brilhante. Vamos Índices de Cor: filtros analisar qualitativamente as respostas a diferentes filtros: Com o filtro vermelho (banda R) o fluxo radiante de uma estrela fria é maior que de uma estrela quente. Ou seja, na banda R a estrela fria é mais brilhante. Índices de Cor: definições Assim, podemos associar o fluxo radiante medido com cada filtro, a uma magnitude de cor específica: U = mu , B = m B , V = m V , R = mR e I = mI Se conhecermos a distância do astro, podemos estabelecer sua magnitude absoluta de cor: M u , M B , M V , MR e M I Índices de Cor: definições Definimos como índices de cor U-B e B-V as diferenças entre as magnitudes absolutas de cor: U-B = Mu - MB B-V = MB - MV As magnitudes decrescem com o aumento do brilho, logo, uma estrela com índice B-V pequeno é mais azulada que uma com índice B-V grande Índices de Cor: magnitude bolométrica Antes, havíamos discutido as magnitudes m : aparente e M : absoluta referentes aos brilhos dos astros em TODOS os comprimentos de onda da luz por eles emitida. É a chamada magnitude bolométrica mbol e Mbol Definimos o índice de correção bolométrica (BC) como a diferença entre a magnitude bolométrica do astro e sua magnitude visual BC = mbol – V = Mbol – MV Índices de Cor: definições Os índices U-B e B-V são de uso mais comum, mas de forma geral, temos que o índice de cor (CI) é dado por CI = mλ1 – mλ2 + const λ1 e λ2 são os comprimentos de onda efetivos (centrais) dos filtros utilizados A constante é arbitrária e define o “zero” da escala, para cada tipo espectral de estrela (veremos adiante) em cada λi escolhido Índices de Cor: definições Da definição de magnitude podemos escrever: A=−2,5 log ∞ ∫ F λ S A dλ C A 0 Onde A é a designação da banda espectral que estamos calculando a magnitude, Fλ é o fluxo radiante da estrela, e SA(λ) é a chamada “função de sensibilidade da banda A” e define a fração de fótons do fluxo total da estrela, associada à banda A, que atinge o detector. Ou seja: SA(λ) é a função matemática que descreve o filtro A Índices de Cor: exemplos de convolução Fλ Estrela quente: Fluxo radiante AZUL é maior que o VISUAL SA(λ) Índices de Cor: exemplos de convolução Fλ Estrela fria: Fluxo radiante VISUAL é maior que o AZUL SA(λ) Índices de Cor: definições Aplicando nossa definição, e escolhendo uma referência (ex.: a brilhante estrela Vega, α Lyrae), temos: ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ ∞ U =−2,5 log 0 ∞ B=−2,5 log 0 ∞ V =−2,5 log 0 ∞ R=−2,5 log 0 ∞ I=−2,5 log 0 F λ S u dλ C U F λ S B dλ C B As constantes CA são determinadas de modo que as magnitudes de cor UBVRI de Vega sejam ZERO: U=B=V=R=I=0 F λ S V dλ C V F λ S R dλ C R F λ S I dλ C I Atenção: isso não implica que os fluxos radiantes de Vega para cores diferentes sejam IGUAIS! Índices de Cor: definições Obs.: Como todo sistema de referência e certas convenções na astrofísica, “acidentes” históricos são propagados e certas definições tornam-se complicadas com o passar do tempo. As constantes para definir o ponto-zero, hoje em dia, são calculadas sobre uma estatística realizada com várias estrelas similares a Vega. Índices de Cor: exemplo de medidas Observemos o Cruzeiro do Sul: Índices de Cor: exemplo de medidas Pela definição, o ponto zero é Vega, logo, para Vega m(V) = 0, m(B) = 0 => CI é (B-V) = 0.0 Estrelas com B-V < 0 são mais azuladas que Vega Estrelas com B-V > 0 são mais avermelhadas que Vega Estrela m(B) m(V) B-V Alfa Crucis 0.56 0.81 -0.25 Beta Crucis 1.15 1.30 -0.15 Gama Crucis 3.22 1.63 +1.59 Delta Crucis 2.59 2.78 -0.19 Índices de Cor: ponto importante Índices de Cor não dependem da distância Pela definição: ∞ ∫ F λ S U dλ U −B=−2,5 log 0 ∞ C U −B ∫ F λ S B dλ 0 Os termos distância e raio da estrela, no fluxo radiante F , são fatorados da integral e se cancelam ! Expressões similares são escritas para os outros índices Índices de Cor: mais sobre filtros O sistema UBVRI é conhecido como sistema de “banda larga”, pois tem pequena resolução Definição de resolução: r= λef σ Onde r é a resolução, λef é o comprimento de onda efetivo da banda e σ é a largura de banda Índices de Cor: mais sobre filtros O sistema UBVRI, tipicamente apresenta resoluções da ordem de r~5 Índices de Cor: mais sobre filtros O sistema de sistema uvby de Strömgren tem basndas mais estreitas (banda intermediária) Útil para detalhar espectros em situações específicas Índices de Cor: mais sobre filtros Ex.: Medidas de discrepância entre o espectro real e o espectro de corpo-negro O déficit na banda u é devido à absorção-reemissão de fótons na atmosfera estelar. Ou seja: não se configura o equilíbrio térmico => Desvio do comportamento de corpo-negro Índices de Cor: mais sobre filtros O sistema uvby , tipicamente apresenta resoluções da ordem de r ~ 30 Índices de Cor: mais sobre filtros Filtros especiais: de altíssima resolução (banda estreita), para aplicações específicas, como investigar detalhes do espectro, como linhas de emissão/absorção específicas (temas do nosso próximo assunto: espectroscopia) Índices de Cor: mais sobre filtros Os filtros de banda estreita , tipicamente apresenta resoluções da ordem de r ~ 60 Índices de Cor: por que usá-los? Se o espectro inteiro contém informações muito mais ricas e detalhadas que os índices de cor, por que usá-los? R:Tempo de medidas Espectros levam horas para serem feitos, índices de cor levam minutos Praticidade em uma informação inicial. Em caso de necessidade, buscam-se detalhes Obs.: tempo de telescópio custa muito dinheiro. Índices de Cor: exemplo Uma estrela da classe espectral O5 (a ser definida nas aulas adiante) tem temperatura superficial de 44500 K e índices de cor U-B = -1,19 e B-V = -0,33. Pela Lei de Wien Na região do ultra-violeta do espectro. Ou seja, consistente com o valor negativo e U-B. Índices de Cor: exemplo O pico de emissão é em 652 Ǻ. Esse comprimento de onda é muito menor que as bandas usuais do sistema UBVRI, implicando que a parte do espectro observada é o “rabo” da função de Planck. filtros espectro Índices de Cor: exemplo Vamos usar os valores dos índices de cor para estimar as constantes de calibração CU-B e CB-V. Aproximação: vamos usar uma função degrau para descrever a sensibilidade espectral: filtro S(λ) = 1 dentro do filtro S(λ) = 0 fora do filtro espectro Índices de Cor: exemplo As integrais podem então ser aproximadas pelo valor da função de Planck no centro da banda do filtro Bλ0 , multiplicado pelo valor da largura de banda Δλ . Δλ Bλ0 Índices de Cor: exemplo Usando as características dos filtros vistas anteriormente: Índices de Cor: exemplo O valor calculado CB-V = 0.66 está em excelente acordo com valores obtidos por métodos sofisticados (CB-V = 0.67) Os valores para o ultravioleta, em geral são menos concordantes. Veremos a causa da discrepância ao estudarmos a estrutura das estrelas. Índices de Cor: exemplo Conclusões importantes: A astrofísica envolve um bocado de coisas “práticas” É uma ciência que necessita grande poder de fogo em cálculo numérico: Simulações, TRAGAM cálculos, modelagem a CALCULADORA NA PROVA ! Boa Noite!