15 PEDOLOGIA NA ESCOLA: A ABORDAGEM DO SOLO NO ENSINO FUNDAMENTAL DE GEOGRAFIA1 Thamyres Sabrina GONÇALVES2 [email protected] Ludmilla Oliva Malveira LOPES [email protected] Iana Tayná Belém DURÃES [email protected] RESUMO: O solo é um dos mais importantes componentes do meio ambiente. Entretanto, apesar de sua importância, não é abordado pela maioria dos professores de Geografia no ensino fundamental com a devida relevância. Este artigo visa abordar os problemas na transmissão de conhecimentos sobre os solos no ensino fundamental. Serão também discutidas alternativas para a melhoria no ensino de solos nas aulas de Geografia como a realização de cursos, publicações, experimentos, exposições didáticas e uso dos recursos midiáticos. A metodologia de pesquisa desenvolve-se a partir da observação participante das aulas de geografia entre as turmas do 6º ao 9º ano durante o estágio curricular supervisionado em Geografia na Escola Estadual Vereador Francisco Tófani. As observações foram feitas ao longo dos meses de março a maio de 2012 totalizando 30 horas. Dentre esse período foi observada a abordagem do professor a respeito do solo sendo avaliadas as dificuldades dos alunos na apreensão do conteúdo e também os problemas encontrados pelos professores em abordar sobre o solo nas aulas de geografia. Posteriormente foi feito um estudo sobre a abordagem do conteúdo de solos nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, leituras de livros didáticos com intuito de avaliar a abordagem dos mesmos á respeito de solos e da contribuição das instituições de ensino superior no ensino dos solos. Ao final do estágio 1 Artigo exigido como requisito para obtenção de nota parcial da disciplina Estágio Curricular Supervisionado em Geografia, orientado pela professora Maria Cleusa de Freitas. 2 Graduandas do Curso de Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. 15 foi elaborado um projeto de intervenção na melhoria do ensino do solo a ser desenvolvido nas escolas com intuito de sanar a lacuna existente no conhecimento da ciência do solo com base na proposta curricular dos parâmetros nacionais de ensino. Palavras Chave: Solo, Geografia, Ensino Fundamental, Educação Brasileira. INTRODUÇÃO. Devido à sua influência sobre os ambientes e as sociedades o solo é, evidentemente, um dos recursos naturais essenciais para a vida na Terra. (RUELLAN, 1988). Segundo (Reichardt, 1988) é de suma importância estudar o solo, devido à amplitude de suas utilidades para o ser humano, como: produzir alimentos, fibras, conservar os ecossistemas, aqüíferos, construir estradas, edifícios e cidades. Por ser um recurso natural amplamente exposto as fragilidades da ação antrópica, o solo sofre com freqüência os impactos da ação humana de forma negativa. A degradação dos solos se traduz em desequilíbrios ambientais e perda de vida no ecossistema, algo que afeta espaços urbanos e rurais. A degradação do solo pode ser percebida de várias maneiras como: redução da fertilidade natural e do conteúdo de matéria orgânica; erosão hídrica e eólica; compactação; contaminação por resíduos urbanos e industriais; alteração para obras civis (cortes e aterros); decapeamento para fins de exploração mineral; e a desertificação e arenização (IBGE, 2012). Neste contexto, a escola mostra-se como ambiente propício para propagação de conhecimentos acerca da importância ecológica, social e econômica da conservação dos solos (FONTES & MUGGLER, 1999). Estudos de pedologia, a produção e disseminação de informações acerca do papel fundamental que o solo exerce sobre a sociedade são fatores que auxiliam na conservação dos solos. Entretanto, a significância do solo como parte do ambiente e componente de primordial importância para o homem é freqüentemente subestimada pelos professores de Geografia na escola. É compreensível que a simples disseminação de informações sobre o solo não será a total resolução do problema da conservação visto que a degradação ambiental correlaciona-se a uma série de aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais. Ainda sim, é possível afirmar que, a escola é um importante caminho para que se possa colocar a ideia da necessidade da conservação do solo no cotidiano da sociedade através das aulas de Geografia e de outras disciplinas escolares como ciências, biologia e química. A 15 melhoria na qualidade das aulas de Geografia sobre solos certamente aumentaria a consciência ambiental dos alunos em relação a esse recurso natural, algo que embora não seja resolução do problema, seria grande avanço na reversão do processo de degradação dos solos e importante contribuição no que se refere à conservação. Este artigo objetiva abordar as dificuldades na transferência de conhecimentos sobre o solo nas aulas de geografia do ensino fundamental e posteriormente propor alternativas de melhoria para a abordagem do conteúdo de solos no ensino fundamental. A metodologia de pesquisa desenvolve-se a partir da observação participante das aulas de geografia entre as turmas do 6º ao 9º ano durante o estágio curricular supervisionado em Geografia na Escola Estadual Vereador Francisco Tófani. Durante as observações feitas ao longo dos meses de março a maio de 2012 totalizando 30 horas. Dentre esse período foi observada a abordagem do professor a respeito do solo sendo avaliadas as dificuldades dos alunos na apreensão do conteúdo e também os problemas encontrados pelos professores em abordar o solo nas aulas de geografia. Posteriormente foi feito um estudo sobre a abordagem do conteúdo de solos nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, leituras de livros didáticos com intuito de avaliar a abordagem dos mesmos á respeito de solos e da contribuição das instituições de ensino superior no ensino dos solos. Ao final do estágio foi elaborado um projeto de intervenção na melhoria do ensino do solo a ser desenvolvido nas escolas com intuito de sanar a lacuna existente no conhecimento da ciência do solo com base na proposta curricular dos parâmetros nacionais de ensino. DESENVOLVIMENTO. O solo é um meio complexo, no qual coexistem múltiplas interações entre processos geográficos, físicos, químicos e biológicos. A complexidade desse tema representa um grande desafio para os professores de geografia no ensino fundamental devido às dificuldades que estes possuem de compreensão sobre a heterogeneidade do solo e de suas fases cíclicas (DOMINGUEZ et al., 2005). O estudo do solo, ou seja, a pedologia apresenta grande interdisciplinaridade, utilizando-se de conhecimentos de geologia, física, química, biologia, climatologia, hidrologia, geomorfologia entre diversas outras ciências. Porém segundo Falconi (2004) os professores avaliam que as dificuldades no ensino do solo não estão somente relacionadas com a complexidade do assunto, mas que 15 estas limitações no ensino relacionam-se também com a formação docente de modo que existe uma grande dificuldade em compreender a abordagem que os livros didáticos fazem do assunto. Conforme destacam Gonzales & Barros (2000, p. 41): O conteúdo de pedologia começa a ser trabalhado a partir das séries iniciais, ou seja, pela primeira fase do Ciclo Básico de Alfabetização, tanto sob o enfoque geológico, quanto edafológico. Desta forma, o trabalho deve ser feito interrelacionado, para que a criança assimile os conteúdos pedológicos não desvinculados do conhecimento historicamente construído, mas que este aprenda mais que uma leitura de palavras; uma leitura de vida, da sociedade em que está inserida e seu papel dentro dela. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o solo é abordado no ensino fundamental predominantemente no contexto das ciências naturais (BRASIL, 1997). Contudo, o solo poderia ser abordado também integrando o conteúdo do tema transversal “meio ambiente” podendo assim, ser trabalhado em diversas matérias escolares para que a compreensão do aluno fosse mais ampla e mais completa. Na orientação dos PCN de ciências naturais, a abordagem sobre o solo na primeira fase do ensino fundamental (1º ao 5º ano) deve ser feita de maneira introdutória do tema solo. De acordo com os PCN elaborados pela Secretaria Nacional de Ensino Fundamental - SNEF (BRASIL, 1997, p. 47): Os conteúdos pretendem uma primeira aproximação da noção de ambiente como resultado das interações entre seus componentes - seres vivos, ar, água, solo, luz e calor - e da compreensão de que, embora constituídos pelos mesmos elementos, os diversos ambientes diferenciam-se pelos tipos de seres vivos, pela disponibilidade dos demais componentes e pelo modo como se dá a presença do ser humano. Na abordagem do solo nas séries que vão do 6° ao 9° ano espera-se que o aluno saiba identificar e compreender as relações entre solo, água e as atividades humanas quanto á fenômenos como: escoamento de água, erosão e fertilidade dos solos (BRASIL, 1997, p. 57-58). Também é necessário que os alunos compreendam as diferenças espaciais entre 15 o espaço rural e urbano para que a partir dessa compreensão o professor possa ensinar sobre as diferentes formas de uso do solo em ambos ambientes. Além disso, na abordagem geográfica sobre os recursos tecnológicos, o solo volta a ser assunto de destaque em diversas abordagens tais como: água, lixo, saneamento básico, poluição e, sobretudo no ensino sobre os processos de uso e ocupação do espaço geográfico. Ainda de acordo com as orientações pedagógicas dos PCN (BRASIL, 1998, p. 110): Ao discutir o solo e as atividades agrícolas, retomam-se os estudos já propostos para o segundo ciclo, com maior profundidade e abrangência. Agora, a fertilização, a irrigação ou a drenagem podem ser trabalhados considerando-se seus aspectos físico-químicos, associando-se suas características aos processos de correção e aos ciclos naturais. (...) Os processos de degradação dos ambientes por queimadas, desmatamento e conseqüente erosão do solo, ao lado de medidas de contenção e correção, também podem ser retomados, buscando-se uma abordagem mais ampla, por meio de suas relações com os ciclos dos materiais. (...) Ao abordar a degradação de ambientes em áreas urbanas, retomam-se os estudos sobre poluição do ar, da água e do solo. De acordo com as observações durante o estágio foi possível constatar que quanto aos alunos há uma grande dificuldade em associar os conhecimentos adquiridos em cada uma das fases de aprendizagem, ou seja, em associar os conteúdos teoricamente apreendidos em cada uma das séries escolares de modo que esses conhecimentos aparentam estar desconexos na compreensão do aluno. Sposito (1999, p. 34), atribui críticas ao modo como os PCN abordam algumas temáticas da geografia física, dentre elas o solo, pois segundo o autor tais parâmetro não se adequam integralmente as necessidades do professor. Ainda segundo Pontuschka (1999, p. 16) essa preocupação é expressa ao afirmar que: Os PCN destinam-se à minoria dos professores bem formados, que com maior ou menor intensidade já conhecem a bibliografia mais atualizada e acompanham a trajetória percorrida pela ciência (...) O texto ainda é teórico demais para o professor que ainda utiliza o livro didático como sua única ou 15 principal bibliografia. Desse modo, ao lado dos PCN, muitas outras ações precisam ser efetivadas para que o público-alvo possa elevar a qualidade de seu trabalho de acordo com os objetivos previstos pelo MEC. Essas afirmações indicam à necessidade de ações voltadas a elaboração de Parâmetros Curriculares Nacionais com uma linguagem que se adeque a realidade dos professores, (neste caso especificamente aos de geografia) que possa tornar mais simplificada a inserção do conteúdo de solos e diversas outras disciplinas da geografia física nas escolas do Brasil. O professor do Ensino Fundamental de geografia demonstra ter dificuldades em entender o solo como um elemento integrante da paisagem, e o ensino de solos, quando existe, é mecânico e sem utilidade para o aluno (RODRIGUES, 2003; ABREU, 2000). Outra importante percepção a ser relatada é a existência de aulas meramente expositivas onde o aluno não percebe nenhum tipo de aplicação prática ao conteúdo estudado em sala de aula (FALCONI, 2004), muitas vezes os alunos se expressam com questionamentos: “o que que eu tenho a ver com isso?” ou “que diferença isso vai fazer na minha vida?” Tal situação permite inferir que o aluno não consegue compreender o motivo pelo qual é importante para ele aprender sobre a composição de um solo, ou porque os solos devem ser conservados e muito menos a importância que o solo exerce no desenvolvimento da sociedade. Mas será que os professores sabem disso? No ensino fundamental as aulas de geografia são desenvolvidas principalmente á partir de material didático impresso, destacando-se o livro didático e as apostilas que na maioria das vezes não apresentam ao aluno nenhum tipo de problema a ser desenvolvido afim de que ele possa comprovar de uma maneira prática a apreensão do conteúdo. Pressupõe-se que a aprendizagem do solo seria mais atrativa aos alunos se houvesse mais experimentos que lhes permitissem absorver com mais clareza o conteúdo teórico do livro didático ou o exposto pelo professor em sala de aula conforme o exemplo (MARTINS, 1997, p. 8): 15 Experimento que mostra a importância da vegetação no Solo Comparando-se as orientações dos PCN ás informações contidas nos livros didáticos há uma grande falta de conexão seja pela ausência, divergência ou inadequação dos textos relacionando – os (AMORIM & MOREAU, 2003). De modo geral, as abordagens dos livros didáticos trazem uma visão estática, agrícola e meramente geológica do solo, ignorando na maioria das vezes o ponto de vista ecológico conforme afirmado por Rebollo et al (2005). Foi perceptível durante as observações em sala de aula, que a grande falta de aproximação com o objeto de estudo (o solo) dificulta bastante o aprendizado dos alunos visto que, por estarem em um ambiente urbano não conseguem perceber a importância do solo que é associado como parte da paisagem apenas dos ambientes rurais. A abordagem do solo nos livros didáticos de geografia do ensino fundamental segundo Amorim & Moreau (2003), é voltada para produção agrícola e, portanto destoa-se da realidade espacial dos alunos da área urbana. Fato que pode ser parcialmente comprovado pela compreensão geral que se tem na sociedade acerca da fertilidade dos solos. Um solo fértil para a maioria das pessoas é um solo propicio para ampla produtividade agrícola, portanto, a concepção de fertilidade pedológica que há 15 anos se propaga nas escolas não considera a importância ecológica do solo no ecossistema como um todo e nem as atividades biológicas existentes no solo. Tem-se, por exemplo, a difusão geral de que os solos do cerrado são “solos pobres”, entretanto estudos de levantamento da flora regional apontam imensa riqueza na diversidade de espécies vegetais nativas nas áreas de cerrado. Porém o solo do cerrado, precisa passar por diversas correções para que possa oferecer níveis de produtividade satisfatórios a atividades agrícolas como a silvicultura, cuja escala de produção é voltada para o monocultivo, daí a concepção de solo “pobre”. Essas visões distorcidas dos livros didáticos não se restringem aos conteúdos de geografia segundo Megid Neto & Fracalanza (2003, p. 154), esses autores afirmam que o livro didático não corresponde a uma versão fiel das diretrizes e programas curriculares oficiais, nem a uma versão fiel do conhecimento científico, pois tem contribuído para introduzir ou reforçar equívocos, estereótipos e mitificações com respeito às concepções de ciência. Foi feita a leitura dos livros didáticos utilizados pelos professores de Geografia do 6º ao 9º ano na escola de realização do estágio curricular supervisionado em Geografia com intuito de avaliar a abordagem dos mesmos á respeito de solos. Foram encontradas diversas dificuldades tanto de aprendizagem pelo aluno como de ensino pelo professor, a tabela seguinte apresenta a avaliação feita dos livros didáticos analisados: Nas conversas informais com os alunos, foi possível perceber que existem divergências 15 entre os interesses dos alunos, quanto ao que desejam estudar e aquilo que o professor acha mais importante ou prefere lhes ensinar. Estudos feitos por Oliveira et al. (2001, p. 305), e Rieder (1996, p. 288) constatam que, os estudantes do Ensino Fundamental têm grande interesse em estudar sobre os solos. No entanto essas pesquisas também apontam que os professores apresentam resistência em trabalhar o tema em sala de aula. No ano de 2011 foi feita uma pesquisa pelos acadêmicos do curso de Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros dentro da disciplina Geomorfologia através de entrevistas semiestruturadas com professores de Geografia em algumas escolas da cidade. Para Triviños (1987, p. 146) a entrevista semiestruturada tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Dentro dessa perspectiva teórica foram feitas as seguintes perguntas: Qual a importância do solo e da Geografia Física para o ensino Fundamental? Quais as dificuldades de trabalhar com o tema solo? Você (professor) gosta desse tema? Qual sua opinião a respeito da abordagem do solo nos livros didáticos? Foram entrevistadas seis escolas no total, dentre estas três de rede pública e três da rede privada. De uma maneira geral percebeu-se um interesse aparentemente reduzido dos professores em lecionar sobre esse tema nas escolas e ainda conforme um dos entrevistados quanto à importância do tema esse professor informou achar mais importante o ensino de geografia humana por entender que é melhor na formação de opinião e que conteúdos como eras geológicas, pedologia e noções de astronomia não tem nenhuma importância para os alunos. Esse aparente desinteresse dos professores de Geografia em trabalhar com os conteúdos pertinentes a Geografia Física, a exemplo o solo pode ser entendido como resultado de uma série de fatores, de modo que são problemas difíceis de resolver caso analisados dissociadamente. Quanto ao ensino de geografia, a própria epistemologia do conhecimento geográfico contribui de certo modo para que a compreensão de conteúdos de natureza física seja fragmentada e entendida como uma analise separada das relações humanas, quando na verdade todo o conhecimento existente sobre os fenômenos da natureza possui relação com o processo de ocupação do homem pelo espaço geográfico. Ora para que compreender a natureza se não para nos compreender dentro dela? Aprende-se a Geografia desde a escola até a universidade como sendo uma ciência subdividida, e isso torna difícil integrar 15 conhecimentos recebidos de maneira fragmentada pelo professor. Entretanto, como separar o homem da natureza? É sobre o ambiente natural que qualquer civilização se desenvolve, a ocupação do espaço, o surgimento de cidades se dá quase sempre as proximidades de um rio. Grande parte das migrações humanas foi em função do esgotamento da fertilidade dos solos (LEPSCH, 2002). As movimentações populacionais relacionam-se com movimentações de ordem ambiental, ainda que mediadas pela cultura (BARBOSA & SCHMITZ, 2008). A dicotomia entre Geografia Humana e Geografia Física enfraquece a ciência geográfica, pois, ao renegar uma delas, o geógrafo restringe o seu campo de trabalho (SILVA, 2007). E ao passar essa concepção epistemológica dicotômica para os alunos o professor produz um conhecimento fragmentado e ineficiente da geografia já que se perde a compreensão do homem como parte da natureza e de que o meio ambiente é constantemente moldado pelo homem. O ambiente é um saber sobre as formas de apropriação do mundo e da natureza através das relações que se inscreveram nas formas dominantes de conhecimento (Leff, 2001). Além disso, á analise de questões como estas mostram as divergências existentes entre os anseios dos estudantes e a realidade do sistema educacional brasileiro. A universidade possui papel de destaque na produção de melhorias no ensino de Geografia na temática de solos seja por meio de ações de pesquisa, ensino ou extensão. Segundo Lima (2005) a abordagem da pedologia nos cursos de graduação em Geografia deve ser diferenciada para os cursos de bacharelado e licenciatura, mas isso nem sempre acontece. A melhoria na abordagem do conteúdo de solos no ensino fundamental, nas aulas de Geografia prescinde em uma melhoria de toda uma estrutura funcional do sistema de ensino geográfico. De modo que é necessária uma atuação multisetorial para que a Geografia física seja melhor ensinada nas escolas públicas brasileiras. Um dos caminhos mais profícuos para efetivação de melhorias na abordagem do solo nas escolas é a interdisciplinaridade. É importante para o ensino que as falhas na educação sejam detectadas para que se possa compreender com clareza a realidade das escolas públicas no Brasil. Contudo é imprescindível que as criticas venham acompanhas de possíveis soluções, a maior parte das publicações científicas que abordam sobre a educação trazem apenas criticas, no entanto criticas sem alternativas não são capazes de resolver o problema do ensino do solo e da geografia como um todo. A transmissão e formação de conceitos elementares da Geografia para a construção de visões determinantes do aluno, deve exclusivamente partir do professor 15 para que a essência e a totalidade da ciência estejam presentes em sala de aula (LOPES & NOBRE, 2011). É preciso que a universidades direcionem os alunos da graduação a produzir alternativas de melhorias para o ensino através de seminários, oficinas, grupos de estudos e todas as alternativas possíveis para produzir professores mais qualificados didaticamente e também socialmente. É preciso que façamos parte de todo processo de renovação e debate da Geografia. Estas ações, que podem trabalhar de maneira integrada os conhecimentos de diferentes áreas, permitem o exercício tão necessário da interdisciplinaridade, útil à formação dos professores e à mudança de comportamento frente às suas atividades de ensino. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar da importância do solo para a sociedade o que se percebe é que a abordagem deste tema nas escolas brasileiras está aquém do esperado e principalmente do necessário. Contudo não procede apontar culpados ao problema do ensino do solo nas aulas de Geografia, pois as dificuldades existentes na transferência de conhecimentos no ensino fundamental vão além da própria questão educacional já que envolve processos ambientais, políticos econômicos e, sobretudo as dinâmicas sociais vigentes no Brasil e nos estados brasileiros. Pois o que se passa de conhecimento pedológico aos alunos na escola é um pouco do que se pensa sobre a Geografia dos solos no Brasil. Sem dúvida possui a teoria pedagógica uma importância referencial para o professor em sua prática, entretanto não poderemos mudar a educação unicamente discutindo seus conceitos, seus teóricos, grandes escritores grandes pedagogos, precisamos buscar a educação de cada dia, em cada escola e principalmente colocar o aluno como principal referencial para análise do ensino, em sua prática e vivência. A principal contribuição esperada das instituições de Ensino Superior na melhoria da qualidade do ensino dos solos é repensar e redefinir os princípios que direcionam a formação dos professores que atuarão no ensino de solos na educação fundamental. A didática não pode ficar restrita a dar um apoio técnico e instrumental para os professores: de como organizar sua aula, ministrá-la, avaliar seus alunos. Precisa cumprir sua função social, auxiliar na formação de cidadãos, que saibam criar outro tempo, econômico, social, intelectual, cultural e, sobretudo como torná-lo mais humano. Quando ao Estado espera-se que haja uma redefininação dos paradigmas da política educacional no Brasil. E aos professores fica a 15 responsabilidade da busca de alternativas, contudo compreende-se que essa procura não deve começar somente após a graduação, mas sim fazer parte do processo de formação do professor de Geografia nas universidades brasileiras. Ao questionarem-se os conhecimentos, as habilidades e os valores passados aos alunos na escola estaremos também questionando a sociedade, e propondo uma transformação da escola e do ensino. Sua didática será então seu método; que prevê um novo professor, um novo aluno, uma nova escola, uma nova sociedade e um novo homem, com renovadas maneiras de agir e interagir sobre o seu ambiente. A educação brasileira insiste em permanecer essencialmente inalterada: continuamos a confundir um amontoado de fatos com o conhecimento; muitos professores insistindo em permanecer na posição frontal diante de suas classes, transmitindo seus poucos conhecimentos. Essa situação é, provavelmente, uma das principais responsáveis pelo baixo rendimento dos alunos e da falta de interesse destes pelo ensino na escola pública. REFERÊNCIA: ABREU, Â. O ensino de solos nos níveis fundamental e médio: o caso da Escola Estadual Cidade dos Meninos. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia, Belo Horizonte. 2000. (Monografia). AMORIM, R. R.; MOREAU, A. M. S. S. Avaliação do conteúdo da ciência do solo em livros didáticos de geografia do Ensino Médio. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA, Rio de Janeiro, 2003. Revista do Departamento de Geografia, n. especial, p. 74-81, 2003. 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