dese vo-lv`imento rural, sust ntabilidade e ord amento territorial

Propaganda
articula~aa
entre as tematicas desenvolvimento rural,
, u,;te"tabilidade e ordenamento territorialtraz uma
& bl~rdlaqem multidimensional e interdisciplinar sobre
que permitem novas formas de reflexao sobre os
~an'inl'os do desenvolvimento levando em conta a
~ u,!stiio da sustentabilidade nei senti do mais amplo do
bem como do ordenamento territorial como
~strategiia
inclusiva e de
organiza~ao
racional da
,oc:iedlade, Estas tematicas sao objeto de estudo central
muitos,dos pesquisadores que assinam os artigos
compiiem este volume, Ao trazer abordagens
lnt,erc,on<!ctlld~,s
destas tematicas, a publica~ao procura
' sti,mu·lar a sistematiza~ao com
0
proposito de
!XE,lor'aciio e apropria~ao da combina~ao dos
ion,hecilt,entos que, se tomados separadamente"nao sao
iap,aZl!s de abarcar a logica das suas inter-rela~iies,
forma, ainda que relacionados a realidade
,ocioe,co"o~nic,a,
fisi,ca e tecnica de Brasil, Espanha e
~or'tuclal. os traba,lhos apresentados nessa edi~ao
, bl)rdam remas que ultrapassam fronteiras nacionais, a
"
que focalizam questiies amplas e abrangentes
iehnil)nclda,s as formas de organizalao do uso,da terra
referencia para
0
desenvolvimento sustentavel.
DESE VO-LV'IMENTO RURAL,
SUST NTABILIDADE E
ORD AMENTO TERRITORIAL
UNIVERS IDADE FEDERAL DE VJ(;OSA
Rei tara: Nilda de Fatima Ferrei ra Soares
CE NTRO DE CIEN CIAS AG RARIAS
Diretor: Sergio H. Brommonschenkel
DEPARTAME NTO DE ECONOM IA RURAL
Chefe: Bricio dos Sa ntos Reis
© 2011, Programa de Pos -G radua,ao em Extensao Rural
Un ivers idade Federa l de
Vi~osa
Impressao:
Grafica Suprema
Tiragem : 1.000 exemplares
Capa, projeto grilfico e di a g ra ma~ao;
Carlos Joaquim Einloft
Pedidos:
www.assentamentos.com.b r
Ficha cataJografica pre parada peJa Se~ao de CataJoga~ao
e Cl a ssifica~ao da Biblioteca Central da UFV
Desenvolvi mento rura l, sustentabili dade e ordenamento territoria l /Jose
Ambrosio Ferreira Neto, Carlos Joaqu im Einloft, Renata Luiz Gon<;alves. - Viscond e do Rio Branco, MG: Suprema, 20 11.
284p. ; 23cm .
Inclui bibliografia.
ISBN: 978. 85.60249.99-2
1. Desenvo lvimento rural. 2. RecurSDS natura is. 3. Sistemas de informa~ao geografica. I. Ferreira Neto, Jose Ambrosio, 1963-. II Einl oft, Carlos
Joaq ui m, 1974-. III. Gon~a l ves, Renato Lu iz, 1981-. IV. Un iversidade Fede-
ral de Vic;osa. Departamento de Economia Rura l.
COD 22. ed. 307.14 12
lODOS as DIREITOS RESERVADOS
E proib ida a reprodu!;.3o, total ou parcial, de qualquer forma ou
por qualquer meio. A vio l a~ao dos direitos do au tor (Lei n!! 9.610/98)
crime estabelecido pelo art. 184 do C6digo Penal.
e
Dmamica e
Desenvolvlmen to rural, Sustentabilidade e Ordenamento territorial
Dinamica e servi~os da paisagem no Nordeste de Portugal
servl ~os
da paisagem no Nordeste de Port uga l
do territaria (de Groo t, 1987). A ideia de servi,o (bens e servi,os, nalguma tipol ogias)
esta inti mamente ligada ao conce ito de valor e essa e, efetivamen te, a origem e a justi ficac;ao para a seu dese nvolvimento. Os serv i~ os de ecossist ema t em a sua origem na
Joao C. Azevedo
Joao P. Castro
Helena Pinh eiro
Cesa r Moreira
Simone Magalhaes
Carlos Loureiro
Paulo M. Fernand es
econom ia eco logica, ambiental ou dos rec urs os natu ra is onde a va lorat;,:ao da naturez a
(e dos seu s servi~os) e urn componente cent ral. 0 co nce ito de se rvic;a de ecassistema
desenvolve-se a parti r de meados dos anos 60 com urn cresci menta exponencial nas
decadas mais recen tes (de Groot et aI., 2002). Em 1997 foi apresentada uma estimanva
do va lor e do cap ital nat ural dos ecossistemas
a esca la mundial (Costanza et aI., 1997) e
multi plicam-se esfor~os para a avaliac;ao, va lo ra~ao e mon itoriza<;ao de urn numero crescent e de servic;os e dos ecossistemas que os gera m (Pe reira et aI., 2009) . A abordagem
aoS ecossistemas basea da nos se us servic;os te rn atu al mente como propo sit o principa l a
RESUMO
con duc;ao de analises economicas comparativas au outras.
Neste traba lho sao abordados as
se r v i ~os
de ecossistema relevantes
a escala da pai-
A cl assificaC;ao dos servic;os tem co mo papel fac ilitar a valorac;ao e
m on it o r iza~a o
dos
sagem num contexto de tra nsformac;ao do territ6rio. 0 principa l objetivo e avali ar as
ecossistemas com base na discretizac;ao das fu nc;6es e processos partic ulares dos ecos-
efeitos potenciais das aJterac;oes da paisagem no servic;o de regulac;ao de pe rt urbac;oes
sistemas que, indlvidualmente au em conj unro, sao responsaveis pela oferta de bens
(fogo) proporc ionado pel 05 sistemas ecolagicos na reg iao do Nordeste de Portugal (Tras-
ou
os- Montes). Discute-se a co nceito de se rvic;o de ecoss istema explorando as aspetos que
ecossistemas uma ti pologia si mplifi ca da de bens e servic;os com base em 17
se r vi~o s.
Costanza et al. (1997) util izou na sua anal ise de va lor e capital natura l dos
fu n~6es .
de
mais co ntribu iram pa ra a popul arizac;aa desta abordagem e para a sua aplicaC;ao em
Groot et al. (2002) expandi u 0 numero de fu nc;5es para 23, repa rtidas par 4 classes: re-
politica s e prilticas de gestao e co nservac;ao de ecoss istemas e paisagens. Sao desta-
gulac;ao, hab itat, produc;ao e informac;ao. Os servic;os resultam de processos eco16gicos
e exclusivo au apenas integralme nte abordavel
a escala da paisagem, aqui designados par servic;os de paisagem, nomeadamen te as
e com ponentes parti cu lares dos ecossistemas, class ifica dos de acordo com
servic;os de regu lac;ao do fogo. Descrevem -se os processos de alterac;ao da paisagem em
ta, os servic;os de ecossis tema sao organ izados em servic;os de suporte, de prod w;ao e de
cados os servic;os cujo enquadram en to
fu n~6es.
A
ti pologia do M illenium Ecosyste m Assessment (M EA) e, porem a mais genera lizada. Nes-
curso na regiao do Nordeste de Portu gal com base nos casas das freguesias de Franc;a e
re gu l a~ao
Deilao onde nos ultimos 50 anos se verifica u uma reduc;ao ace ntuada da area agricola
de su port e dizem respe ita aos se rvic;os dos ec ossist emas necessa rios
e ainda
se r vi~os
culturais (Hassan et aI., 200S; Pereira et aI., 2009). Os se rvic;os
aoferta dos res tan -
e uma exp ansao das areas fio restai s, em bora com efeitos opostos na estrutura dessas
tes se rvic;os e incl uem processos base como a form ac;ao de so lo, ci rculac;:ao de nutrien-
paisagen s. Analisa -se, neste co ntexto, a forma como estas a lt era~6es afetam a regulac;a o
tes e suporte de biodiversi dade, entre outros. Os servic;os de prod uc;ao di zem respe ito
do fogo com base em resultados de t rabalhos de modelac;ao e sirnu lac;ao do co mporta-
a produc;ao de bens como al imentos, agua, madeira, lenha, fibras, cog umelos, plantas
menta do fogo conduzidos nas mesmas freguesias. Ve rificou-s e que a pa isagem tende
med ici nais ou outros. Os servic;os de regu lac;ao incluem as benefici os resultantes dos
a acumular e a aument ar a conti nuidade espacial de combustive l ao longo do tempo a
processos de regulac;ao desempe nhados pelos ecossistemas, nomeadamente da co m-
que e correspond ida pel a aumen to do ri sco de ince ndi o na pai sage m, favo recendo a
posi<;ao da atmosfera, do clima, da qual idade e regularid ade da agua, de perturba,6es
ocorrencia de fogos de maior intens idade em areas ma is extensas. No fi nal, discute-se a
e ca tastrofes, entre outro s. Os servic;os cu Jtu rais sao os benefic ios nao materiais obtidos
pape l da gestio em pa isagens cultu ra is em rap ida t ra nsforma<;aa e no fornecimento de
dos ecossistemas in cl uindo atividades de recreio e
servic;os, nomeadamente de pai sagem.
estetica e emocionais proporcionadas par esses ecossistemas.
ed u ca~ao
be m como de apreciaC;ao
Uma abordagem aos sistemas nat urais e semi-natu ra is tendo como base os servic;os
1. INTRODU<;:AO
ce ecossistema apresenta uma serie de van tagens em relac;ao a outras, sobre tudo de
ordem pratica, que pe rmitem explicar 0 sucesso do usa destes
se r vi~os
em
va l o r a~ao,
Servic;os de ecossiste ma sa o os benefic ios que as socied ades obtem dos ecoss istemas
gestao e mon itor izac;ao dos ecos sis temas. Em prime iro lugar, pe rmite atribu ir va lor aos
atraves de fun ~6es ou processos parti cu lares a eles as soci ados (Cos tan za et aI., 1997;
ecossistemas e aos seus servic;os. Qualque r ecoss isterna, mesmo nao produ zindo bens
Hassan et al., 2005). Trata-se de um conceito Simp les e intuitivo mas com imp licac;6es
com va lor de mercado, tern va lor que res ulta do valor dos servic;os que proporciona. Essa
signi ficativas na abordagem aos sistemas naturais e sem i-naturals e na defi nic;ao de politi cas ambientais, de gestao de rec ursos, conservac;ao da biodiversi dade e ordenamento
~';-;;,;.--------------------158
definic;ao
e fe ita com base nas necessidades e expectativas das sociedades humanas e
nao em co nce itos exotericos, ambiguos e de difici l concec;ao pDr parte da sociedade em
159
Desenvolvimento rural. Sustentabili dad e e Ord ename nto territorial
DiniHntca e servi<;os dJ paisage m no Nordest e de Portugal
geral mas tambem de decisores, planeadores e gestores de recursos naturais. E urn con-
de processos, funt;:6es, servit;:os e val or. A paisagem e a entidade natural de integrac;:ao
ceito tota lmente antropocentrico e por isso fac ilmente compreens fve l pela sociedad e 0
de aspetos biofisicos e socioeconomicos e, por esse motiv~, a sistema a conside rar em
que faci lita a comunicac;ao entre decisores, gestores, produ tores e utilizadores dcs servi-
planeamento e gestao do territerio IMatthews and Selman, 2006; Selman et aI., 2006;
<;:05,
melhora ndo 0 re lacionamento entre ambos,
0
que
e decisivo para a implementa t;ao
5wanwick, 2009). A paisagem apresenta co ndi t;:6es para assegurar
0
papel de conceito/
de programas de gestao sustentavel dcs recursos. Dutra con sequencia relevante resul ta
esca!a uniftcadora de interesses de especial ist as de d iversas areas cientiftcas e propri e-
do facto de tal abordagem pressupor uma concer;ao e analise holfstica dcs ecossistemas
tarios e/ou utili zado res na definic;:ao de cenarios e politicas de desenvolvimento multi -
de acordo com a qual as beneficios obtidos pelas sociedades dependern da existencia
funeio nal
do ecossistema como urn todD (superior
a soma das partes que 0
comp6e) e do qual
nao podem ser dissociados, apesar de, para efeitos de analise, se recor rer
adisseca!,;ao
de fun~6es, processos e servit;:os. Oessa forma, torn a-se mai s natural e, eventualmente,
a eseala loeallTermorshuizen and Opdam, 2009; Willemen et aI., 2010).
Considera -se frequentemente que a paisagem tem um papel determinante na regu -
la,ao do regime do fogo, prestando dessa forma um servi,o Ibenefieio)
a comunidade
Ide Guenn i et aI., 2005). A dimensao da s areas cons umidas par urn fogo, a periodieida-
mais efetivo, suportar em ter mos eticos, socials e econo mico s a gestao sustentada dos
de com que ocorre e a sua intensidade (Iibertac;:ao de energia) ou severidade (impacto
ecossistemas e a conservac;:ao da biod iversidade. Torna tamb em mais concreta a avalia-
ecologico) deftnem a reg ime do fogo. 0 regime do fogo, e por conseguinte a sua regu-
~ao
do estado dos ecossistemas e dos efeitos da sua degrada~ao nas socieda des a partir
la~ao,
esta relaciona do com a combustibilidade de cada ecossistema particular, funt;:ao
dos servi~os prestados e do seu valor. Os serv i~ os de ecossistema sa o atualmente uma
da carga e arranjo estrutural do combustivel, mas em grande medida com a composic;:ao
area de investiga~ao e desenvolvimento em rapida expansao e a adesao aos con ce itos
(tipos e proport;:6es dos ecossistemas presen te s) e configurac;:ao da paisagem (numeros,
e processos de avalia~ao dos servi!,;os (Millenium Ecosystem Assessment, por exemplo)
dimensoes, formas e arranjo espacial desses ecossistemas) que afetam a comportamen-
por parte tanto da comunidade cientifi ca, como das QNG s, das instituir;6es governamen-
to espacial do fogo. Q efeito da estrutura da paisagem no fogo e t ao importante que a
tais e da industria (f1orestat nomeadamente) tern side m assiva.
model ac;:ao do seu compo rtamento considera necessaria mente esta perspeti va (FARSITE
e FlamMap, por exemplo; ve r detalhes ad iante). 0 fogo, por seu lado, altera a eompo -
2. SERV I<;:OS DE PAISAGEM - 0 CASO DA REGUlA<;:AO DO FOGO
si,ao e configura,ao da paisagem IViedma et aI., 2006; Moreira et aI., 2011) . Paisagens
humanizadas (culturais) apresentam um padrao espadal de usos do solo muito diversi-
A escala da pa isagem esta frequentemente presente na concept ualiza~ao de servir;os
fi cado e de baixa resolut;:ao que cond iciona a progressao do fogo (Figura 1). Por outro
de ecossistema. Determinadas funr;6es e processos re sponsaveis pela oferta de servir;os
lado, paisagens cult ura is sao caracter izadas par elevados numeros de ign ic;:6es. Contudo,
particu lares sao apenas concebfve is cons iderando uma escala espacial mais ampla e ter-
a dimensao das areas ardidas e frequentemente pequena, em media, dadas as condi -
ritorios ecologicamente heterogeneos. Urn caso evidente
e 0 do servir;o cu ltural de apre-
~5e s
da paisagem para a ocorrencia de fogo s de grande escala serem limitadas.
cia~ao estetica de uma paisagem que depende de um a area consideravel e heterogenea,
Alterac;::6es na paisagem podem re sultar na modificac;:ao do regime de fogo com efei -
pelo menos em relac;:ao a um fator ambiental, para a su a oferta. Os processos e servh;:os
tos nos servic;:os prestados (Moreira et ai., 2011) . As alterac;:6es em curso nas paisagens
hidralegicos Ipor exemplo, pradu,ao de agua, regula,ao da qualidade e da regularidade
de regi6e s de montanha em Portugal tem efeitos potencia is nesses servil.;os, nomeada-
a escala do ecossist ema
mente ao nivel da biodiversidade, do valo r cenico da paisagem e da regulal.;ao de per-
da agua e conservat;ao do solo) sao abordados necessa ria mente
mas sao apenas integralmente explicados e, por conseguinte, tratados como servic;:os, con-
turba,6es IAguia r et aI. , 2009). 0 servi,o de regu la,ao do fogo podera ser severa mente
siderando 0 resu ltado desses processos ao nfvel de bacias hidrogra ficas, de var ias ordens,
afetado nessas pa isagens. Considerando, adicionalmente, os efeitos potenciais das al-
onde habitual mente varios ecossistema s interagem. Qutros se rvic;:os de ecossistema que
tera,6es climaticas Imodifica,6es nos padr6es de precipita,ao e de temperatura), as
dependem da escala da paisagem sao os servic;:os de regula!,;ao de perturbac;:oes. Embora
transforma<;oes do uso e coberto do solo em curso poderao ter efeitos muito re levantes
os processos responsaveis pela regulat;:ao de perturbac;:6es po ssam ser analisados
a escala
neste servi,o Ide Guenni et aI., 2005).
do ecossistema, eles dependem de processos que ocorrem a escalas espaciais mais amplas que inc!uem areas heterogeneas, habitu al mente designadas par paisagens (Forman,
3_ AlTE RA<;:AO DA PAISAG EM EM TRAs-oS-M ON TE S
1995). Par esse motiv~, a esca la da paisagem e essen ciaI para abordar a regulat;:ao de processos como cheias, pragas florestais ou fogo (Coulson and Tchakerian, 2011).
Apesa r da esca la e do conce ito de pai sagem estarem presentes na ana lise dos servi-
Na reg iao do Nordeste Transmontano, que corresponde, grosse modo, ao distrito de
Braganc;::a, tem-se observado varios epis6dios de emigrac;:ao desde a inicio do Seculo xx.
c;:os de ecossistema, eta raramente e considerada de forma implfcita . Algumas excec;:6es
Emigra c;:ao massiva para
recent es tem vindo a destaca r a papel das paisagens en quanto sistemas na abordagem
a par de migrac;::6es para as ex-col6nias portuguesas em Africa, causa ram uma redU(;ao
160
0
Brasil entre 1900 e 1930 e para Franc;::a nos finais dos ano s 50,
161
Dinamica e servi~os da paisagem no Nordeste de Portugal
Desenvo lvimento rural, Su stentabil idade e Ordenamento t erri t or ial
cola, com infcio nas areas marginais, e a substituic;ao das culturas temporarias por culturas permanentes. Estas alterac;6es, com efeitos ma is marcados na paisagem nos ultimos
60 anos, afetam
seu padrao e funcionamento com efeitos potenciais sabre os servir;os
0
de ecossistema e paisagem.
A evoluc;ao da paisagem na regiao do Nordeste de Portuga l encontra-se estudada de
forma detalhada nas fregues ias de Fran,a (Moreira et aI., 2008; Azevedo et aI., 2011)
e Deilao (Moreira et aI. , 2008; Pinheiro, 2009; Magalhaes, 2011; Pi nheiro et aI., 2011)
(Figura 2). Fran,a (5700ha) e uma fregues ia tipicamente de montanha com vastas areas
a elevada altitude (acima de 1000m; maximo 1481m) e vales profundos e encaixados.
A precipitac;ao med ia anual e superior a 1200mm (maximo 1600mm) e a temperatura
media anual infe rior a 8 QC. Nesta freguesia dom inam as cond ic;6es bioftsicas do macic;o
montan hoso da Serra de Montesinho, fortemente condicionantes da atividade agrfcola
(solos escassos e dispersos, relevo comp Jexo, condic;6es cl imaticas extremas e perfodo
de crescimento vegetativo muito curto). A populaC;ao, repartida par 3 nucleos urbanos, e
de 239 habitantes (4.2 hab./km ' ) (INE, 2011). Esta fregues ia tem vindo a perder popu la,ao desde 1960 quando registava 834 residentes. Na ultima decada (2001-2011) perdeu
36 habitantes (13%) (INE, 2011) .
A freguesia de Deilao (4200ha) loca liza-se numa regiao planaltica entre os 600 e os
900m (maximo 958m) de altitude de relevo ondu lado intercalado par vales encaixados.
A precipitar;ao media anual e de 732m m e a temperat ura media anual de 12,2°C. Em
Figura 1. Em pa isagens rurais a complexidade do padrao e da dinam ica interna afetam 0 comportamento do
fogo e 0 seu regime. Sao Juliao de Palacios, Bragan~a, Portugal.
Deilao as condic;6es do relevo, dos solos e do clima sao menDs extremas que em Franc;a,
apesar de ma rcadamente continen ta is . Nos tres nucleos urbanos que constituem a fre-
significativa na popular;ao local, principalmente entre as gerar;6es maisjovens. As causas
guesia, residem 168 habitantes (4 hab./km 2 ). menos 51 hab itantes que em 2001 (23%)
deste abandono sao diversas estando geralmente associadas ao subdesenvolvimento
(INE, 2011). As duas freguesias integram
a insustentabilidade do aumento da popular;ao desde finais do
a redur;ao da produtividade e degradar;ao dos sistemas natura is
desta regiao do interior,
seculo XIX conducente
Freguesia de
Fran~a
\
e do Velho Continente no pas-guerra. Eventos como a f1orestar;ao dos baldios 1 a partir
dos anos 30 terao acelerado estes processos demograficos. A escassez de solos agr fcolas
0
Parq ue Natu ra l de Montesinho (PNM) e a
Rede Natura 2000 (Uniao Europeia) (Figura 2).
(Aguiar et aI., 2009) e ao apelo das economias em rapido crescimento do Novo Mundo
de qualidade,
0
acidentado do terreno e os reduzidos perfodos de crescimento das cul-
Freguesia de Deiliio
"
/ J\"
turas derivados do clima impediram a industrializar;ao da agricultura contribuindo para
o despovoamento da regiao. Mais recentemente, fluxos internos para
0
litoral, onde se
situam as principais centros urbanos, industriais e comerciais do pais, e do meio rural
para os centros urbanos da regiao, onde a oferta de trabalho e condir;6es de vida e, apesar de limitada, maior, aceleraram a processo geral de abandono.
No infcio do Seculo XXI os indices demograticos apontam para uma muito redu zida
densidade populacional e elevado envelhecimento das popular;6es rurais residen tes no
Nordeste (INE, 2011). Ao despovoamento correspondeu 0 abandono da atividade agr;-
Baldios sao areas comunitarias geridas localmente e com expressao significativa nas montanhas do Norte de
Portugal.
1
'i';4~.":'----------------------
162
,
o
"
Figura 2. Localiza~ao das freguesias de Fran~a e Deilao em Portugal. A
area sombreada representa 0 Sitio Montesinho/Nogueira (PTCON0002)
da Rede Natura 2000.
163
-Desenvolv imento rural, Sustentabilidade e Qrdenamento terr itoria l
o estuda
Dinamica e servi1;os da paisagem no Nordeste de Portugal
60
das altera,6es do usa do solo entre 1958 e 2005/06, com base em fa -
tointerpreta!,;ao de fotografia aerea historica e atual, revelou
altera~5e5
significativas
SO
na composic;ao e configurac;ao da paisagem destas freguesias. Observou-se em ambos
as cases urn decresci mo acentuado da area agricola no perfodo em estudo (Figura
dono de 19,5ha/ano. Em Deilao a area agricola decresceu de 2228ha (53% da area da
freguesia) pa ra 1525ha (37%) no mesmo periodo (redu,ao de 32%; 14,6 ha/ano) . As
•
•
40
3). Em Fran,a esta classe passou de 1174ha (22% da fregues ia) em 1958 pa ra 260ha
(5%) em 2005 (redu,ao de 77%). A estas altera,6es corresponde uma taxa de aban-
•
•
•
~
•e
- ..... - Area Agricola
30
-<
20
fiarestas aumentaram de expressao. No casa de Fran,a, de 741ha (1 4% da freguesia)
Franl;a
em 1958 para 1118ha (21%) em 2005 e em Deilao de 33ha em 1958 para 1354ha em
•
Area de Malos
.. . ... . . Area Floreslal
... ---- --.
...•.
•..
10
2006 (32% da area da freguesia) apesar de se ter observado urn maximo absoluto em
- ...
1992 com 1635ha de floresta. As areas de mates au mentaram ligeiramente em Fran!,;a
0
1950
(de 47% para 52.5% da freguesia) e decresceram de forma marcada em Deilao (46%
1960
1970
para 30%).
1960
1990
2000
2010
Ano
Em Fran<;a houve urna te ndencia para a substitui<;ao das areas agrfcolas par mates
nurn curto es pa<;o de tempo. As flore stac;oes fcram feitas sobretudo em areas de matos
exceto no perlodo mais rece nte em que ocuparam tam bem areas agricolas.
entre areas de matos e f10resta foram muito irregulares devido
60
Transi~oes
a ocorrencia de fogos e
matos au par florestas. As florestas expandiram-se, no entanta, sabretudo
•
a custa das
As propor<;:6es das gra ndes cla sses de usa e coberto do solo na paisagem variaram
de forma distinta nas duas freguesias. Em Fran<;:a, a pai sa gem fai dominada por mates
"
-..--,.-- ---- .-
40
areas de matos. As flaresta<;:oes na area tiveram lugar principalmente entre 1980 e 1992
e entre 1992 e 2006.
"
50 .
posterior refloresta~ao. Em Deilao as areas agricolas abandonada s foram ocupada s por
•
C
"~
30 -
.<
., '
20
Deilao
--~.- .:t.. - - -_- - - -.
. ..... ..•
- -- - Area Agricola
•
•
Area de Matos
. .. • . . Area Florestal
•
desd e 0 infcio do periodo em analise veriftcando-se mesmo um refor ~o no final desse periodo. Com a quase desapareci mento da agricultura e aumento das f1orestas, a pa isagem
e atualmente ocupada sobretudo par areas de matas e florestas que representam urn
tota l de 73% da area da freguesia. No caso de Deilao, a desequilibrio verificado em 1958
o-
foi anulado observando-se em 2006 urn equi libria das tres principais classes (Fig ura 3).
1950
A analise da confi gura~ao baseada em metricas (Tabela 1) indica uma redu<;:aa da
heterage neidade da paisagem em Fra n-;a e urn aumento em Deilao ao lango do periodo
.,'
10
..
'
1960
1970
1980
1990
2000
2010
Ano
Figura 3. Va ria(,:ao das prinei pais classes de uso/ cober to do solo entre 1958 e 2005/ 6 nas freguesias de Franr;a
e Deilao. Adaptado de Azevedo et al. (2011) e Pinheiro (2009) .
estudado. Em Fran~a decresceu 0 numero de manchas e a metrica LP! (percenta gem da
paisagem ocupada pela mancha de maior dimensao entre tadas as classes de uso do
Em Deilao abservou-se um au mente nos indices de diversidade e equitabilidade
solo). As metricas de orla e forma das manchas apresentaram va\ores iniclais e finais
(Tabela 1). Observou-se tambem urn aumento acentuado do numero de manchas, da
praticamente iguais apesar da forte va ria <;:ao observa da entre 1958 e 1993, periodo de
exten sa o de aria s e a dimjnui~ao de LPI. As areas floresta l e de matos aumentaram em
marcada transi<;:ao de areas agricolas para matos. A diversidade e equitabilidade de-
nurnero de manchas enquanta que na area agricola se regi stou urn dirninui-;ao. Aumen-
cresceram. Metricas calculadas ao nivel das classes individuais (nao apresentadas neste
tou ainda a area media das manchas e as orlas da classe flore sta l diminuindo no caso da
trabalho) indicaram que fiorestas e are as de matos se tornaram mais agregadas criando
classe agricola e matos. 0 Indice LPI decresceu acentuadam ente na area agricola e de
menos unidades mas de maior dimensao enquanto as areas de agricultura se torn aram
matos e aumentou na area de floresta.
muito fragmentadas e localizadas nas proximidades de areas urbanas e solos mais fe-rteis
(Azevedo et aI., 2011).
As altera<;:6es registadas em Fran<;:a estao em concordancia com as tend €mcias observadas noutras partes da Europa (Zomeni et aI., 2008). Par seu lado, as altera,6es
- - - - - -- - - -- - - -- - -- - - - -
1;r~;;.;r
.
164
165
po
Dinamica e se rv i~ o s da paisage m no Nordeste de Portugal
Desenvolvtmeoto rural, Suste nlabilidade e Ordena mento territo rial
em curso em Dei lao tern sido observadas em pa isagens inicialmente simplificadas par
Azevedo et al. (2011) utiliza ram como ferramentas de modela,:;o FARSITE e FlamMap
dominancia da atividade agricol a (Aranzabal et aI. , 2008).
enquanto Magalhaes (2011) utilizou FlamMap. FlamMap 3.0 (Finney, 2006) permitiu analisar espacialmente 0 comportamento potencial do fogo na totalidade da area de estudo em
4. EFEITOS DA AlTERA<;:AO DA PAISAGEM NOS SE RVI<;:OS DE REG Ul A<;:AO DO FOGO
cada uma das datas em con sideral;ao, produ zindo mapas de intensidade da frente de fogo,
velocidade de propaga,ao au comprim ento da chama. FARSITE (Finney, 1998) permitiu simular de forma espacia lmente explicita a progressao do fogo no terreno a partir de ignic;6es
o se rvi ~o de regulac,:ao de perturba c;5es como 0 fo go e es senci almente urn servic;o da
num conjunto de locais selecionados ao acaso e em perfodos de tempo determinados.
paisage m. A al te rac;ao da composic,:ao e configura c;ao da paisa ge m, atraves da alterac;ao de
Os resultados de FlamMap indicaram que, ao lango do periodo an alisado, as areas
condi c;oes de co mbustibilid ade das unidades que a comp5e e das re lar;,:5es espaciais entre
de Perigo de Incendio mais elevado (EXTREMO: Inte nsid ade da Frente de Fogo>10000
comporta mento do fogo . as efe itos da alterac;ao da paisagem no
kW/ m) aumentaram consideravelmente nas duas freguesias (Figura 4). No enta nto, em
com portamen to potencial do fogo fcram estu dados nas freguesias de Franc;a (Azeved o et
Franc;a este aumento foi ma is pronu ncia do. Para alem do aum ento da area total desta
essas unidad es, afeta
0
aI., 2011) e Deilao (M agalh aes, 2011) com recurs o a modela,ao e sim ula,ao com base nas
cond i,oes do coberto vegetal nas duas areas entre 1958 e 2005/06. Fixando as parametros meteoro16gicos e do terren o entre datas foi possivel avaliar
0
efeito da alterac;:a o da
co mposil;ao e configural;ao da paisagem na dimensao das areas ardida s e na intensid ade
potencia l do fogo ao longo do periodo no qual se estudaram as alteral;oes na pai sa gem .
_
"""
""" I
"""
"""
1500
t
it
..i
Ta bel a 1. Metricas da paisagem avali adas entre 1958 e 2005/6 pa ra as fr eguesias de Fra n~a e Deilao co m
base numa cl a ss i fica~ao generica do uso e coberto do solo. M etricas caJculadas com FRAGSTATS (McGariga l
and M arks, 1995). Adaptado de Azevedo et al. (2011) e Pinheiro (2009).
Ano
1958
1968
1978
1992-3
835
905
754
765
751
LPI (%)
23,9
14,6
19,1
14,9
15, 7
166,1
170,3
168,3
164,5
166,6
rndice de Form a (sem unidades )
i
~
~J
'""I
~
,
Densidade de a rias (m/ lOOhaJ
indice de Diversidade de Shanno n (s/ unidadesJ
'""
"""
2005·6
Freguesia de Franr;a
Num ero de M anchas (numero)
7-
£
30,4
31, 2
30,8
30,1
30,5
1,3509
1,34 77
1,3256
1,3662
1,3364
rndice de Diversidade de Si mpson (s/u nida des)
0,6880
0,6864
0, 6607
0.6550
0, 6551
indice de Equitabilidade de Shan non (s/unidades)
0,7540
0,75 22
0,7398
0,7021
0,6868
indice de Equitabi lidade de Simpson (s/unidad es )
0,82 56
0,8237
0, 79 29
0,7770
0,7 643
"'"
,~,
l D7S
1993
'"'
• EXTR EMa
~
'"''
• ElEVAOO
,-
"'"
_ MOOERAOO
SAI)(Q
'L
'I
"'"
'"'
,~,
"'"
0
Figura 4. Area (h a) por cia sse ~e Perigo de Incendio com base na Inten sid ade da Frente de Fogo (IFF) ent re
1958 e. 2005/2006 nas f~~gueslas de Fra~-;a (E squerdaJ e Deilao (Di rei ta ). Resu ltados de simula-;oes em FAR.
SITE (Finney, 1998) dasslficados nas segUintes Classes de Perigo de Incendio (Alexa nder and l anoville, 1989):
BAIXO · IFF < 500kW/m ; MODERADO - IFF de 500 a 2000 kW/m ; ELEVADa· IFF de 2000 a 10000kW/m ' EXTREMa · IFF >10000 kW/ m.
'
Freguesia de Oeilao
Num ero de M ancha s (mimero )
lPII%)
56
99
106
146
131
48,9
39,4
32,1
26.6
24,7
• EXTREMO
Densidade de Orlas (m/lOOha)
67,6
68,4
n ,5
76,3
73,3
Ind ice de Forma (s/un idades)
10,9
12,5
13,4
13,9
13,3
ind ice de Diversi dade de Shannon (s/unid ades)
0,75 12
0,9845
1,097
1,0997
1,1237
in dice de Dive rsida de de Simpso n (s/unidades)
0, 5085
0,5948
0,6533
0,6544
0,6682
indice de Equ itabi lidade de Shannon (s/unidadesJ
0,5419
0,71 01
0,79 13
0,7933
0,8106
in dice de Equitabili dad e de Sim pso n (s/uni dades)
0,678
0,7931
0, 8711
0,8725
0,8909
LPI: percentagem da area ocupada pela m ancha de maior dimensao. fndice de forma uti lizado: l SI (McGa rigal and M arks, 1995 ).
166
-ElEVADO
_ MOOERAOO
_ BAI XO
o
..
"
""
1993
"'"
Figura 5. Area media (hal po r cl asse de Perigo de Incend io com base na Intensida de da Frente de Fogo (I FF)
entre 1958 e. 2005/2006 nas freguesias de Fra n ~a. Resultados de sim ular;5es em FARSITE (Fi nney, 1998) . Ver
legenda da Figura 4 para detalhes sobre a cJassifica~ao utilizada.
167
Desenvolvime nto rural, Sustentabilidade e Ordename nto territorial
Din amica e se rvi~o s da paisagem no Nordeste de Portugal
cia sse, verificou-se ainda um aumento da dimensao media das suas areas individuais nas
Os resultados simplificados aqui apresentados indicam que as modifica~6es sofridas
duas freguesias (Figura 5; Figura 6).
As simula~5es efetuadas com FARSITE indicaram que, de acordo com as condi~6es da
pel a paisagem ao longo dos ultimos 50 anos favoreceram a surgimento de fogos ma is
intensos e em areas progressivamente maiores. Estas varia<;5es devem-se sobretudo as
paisagem de Fran<;a entre 1958 e 2005, houve uma tendencia para as fogos se propaga-
altera~6es
rem de forma cada vez mais rapida nas horas in iciais apes a igni~ao. Isto foi particula r-
de
mente evidente para as primeiras duas horas do fogo.
Deilao tem associada uma probabilidade elevada de resultar em fogos catast reficos.
no uso e coberto do solo descritas inicialmente, simultaneamente em termos
composi~ao
Fran<;a
pa~ao
e arranjo espacial. A ocorrencia de igni<;6es nas paisagens de
F ran~a
e
e um caso extremo em termos de condi<;5es bioffsicas e de historia de ocu-
do te rritorio. 0 padrao da paisagem de Deilao aproximou-se, no entanto, con -
sideravelmente do de Fran,a no periodo estudado, sendo igualmente de prever nesta
freguesia a ocorrencia de eventos catastroficos mantendo-se 0 modelo de
transi~ao
do
uso do solo observado nas ultimas decadas (Magalhaes, 2011). Dutra forma de abordar
os resultados obtidos
e considerar que 0
efeito de regu la<;ao do fogo na paisagem foi
gradualmente reduzido ao longo do perfodo estudado, atraves das
altera~5es
observa-
das na paisagem.
1980
1968
1958
Im .. nsidade da fr eme de fogo
(J.:W m)
5. CON5IDERAI;OES FINAlS: PAPEL DA GESTAO NO FORNECIMENTO
DE SERVII;OS EM PAISAGENS CULTURAIS EM TRANSFORMAI;AO
o conceito de servi~o de ecossistema/paisagem e independente do grau de naturalida-
o
de dos ecossistemas/pa isagens considerados. As paisagens culturais oferecem um conjun-
0·500
to de
500 2000
servi~os
de elevado valor que incluem principalmente
servi~os
serv i ~os
de aprovisionamento
_
2000- 4000
(alimentos, madeira, fibra, agua, etc.) mas tambem
_
4000_ 10000
nizadas podem oferecer tais como a aprecia<;ao estetica da paisagem, particularmente no
_
> 10000
caso de paisagens hist6ricas. A oferta de
servi~os
unicos que so paisagens huma-
de paisagem
e afetada pelas altera<;6es
da composi<;ao e configura<;:ao na paisagem resultantes de altera~6es de necessidades e in-
2006
1992
teresses dos proprietarios/usufruidores diretos a que, por sua vez,
Figura 6. Evolu~ao do perigo de incendio na freguesia de Deilao entre 1958 e 2006 com base na Intensida de da
Frente de Fogo. Resultados de simu la~6es em FAR51TE (Finney, 1998).
As
altera~6es
em curso nas freguesias de Fran<;:a e Deilao resultaram sobretudo do des-
agricultura e da pastorfcia em areas marginais e a substitui~ao de culturas temporarias por
350M
30000
~ ' 00 00
1
"''''''
5000
III
000
1958
"'"
.,,'"
0 2.30
1.1 2 eOO
I·
r""
100.00
cu lturas perenes e de baixa
II
~
g 25000
1978
'eo
~~
1993
Apesar do
ba lan~o
manuten~ao
destas altera<;:6es nos
como a fio resta ou os pomares de castanheiro.
servi~os
de ecossistema e de paisagem ainda
estar por realizar, sao previsfveis determinadas tendencias de
modifica~5es.
Preveem-se
m 1-30
• , 00
naturais
. 030
perdas que podem ser significativas uma vez que 0 despovoamento abandona parte ou a
redu~5es
nos servir;os de produr;ao de alimentos. A diversidade genetica sofrera
tota lidade das ra<;:as e cultivares desenvolvidas loca lmente e utilizadas para fins alimentares, medicinais, artfsticos e outros. Para lela mente, desaparecera 0 conhec imento e a cultu2005
Figura 7. Contribui~ao medi a de cada intervalo de tempo para a area ardida dura nte perfodo inicial de tres
horas na f regues ia de Fran~a entre 1958 e 2005. Resultados de s i mula~6es em FlamMap (Finney, 2006) com
base em 20 repeti~6 e s.
168
socioeconomicas desse sistema e de outros funcionando a escalas mais amplas.
povoamento destas areas, por motivos diversos, com efeitos no abandono da atividade
400.00
~
e fun~ao das condi~5es
ra do uso desta biodiversidade (Frazao-Moreira et aI., 2007). A diversidade de ecossistemas
sera tambem reduzida por eliminar;ao de muitos tipos de agroecossistemas na paisagem e
dominancia de mates e fioresta. Os efeitos sobre a diversidade de especies podem ser mistos com a favorecimento das especies da fauna de maior porte e das especies associadas a
169
Din5mlCa e servi c;:os da paLsagem no Nord este de Por tugal
Desenvolvlln ento rural, Sustentabi lidade e Ord enamento territo rial
habitats sem perturba,ce s e a degrada,ao de condi,ces de habitat de especies associa das
na paisagem conducentes
a alterac;:a o do regime do fogo . A presenc;a hu mana e, assim,
a paisa gens perturbadas e muito heterogeneas (Aguiar et aI., 2009). Pode esperar-se ainda
fu nda menta l para assegurar as servic;os que atua lmente se espera m desta paisagem . No
que a qualidade e a regulari dade da oferta de agua superficial aumentem mas diminuira a
entanto, esta presen<;a tem vindo a ser reduzida desde os anos 60 do secu lo passado e
sua quantidade ao nivel das bacias hidrograficas. Os servi-;os de regul a-;a o da composi-;ao
as perspetivas de manutenc;:ao sao re duzidas. Apesar disso, 0 ordenamento e gestao da
da atmosfera e do clima at raves da
fixa~ao
de dioxido de ca rbona pe[a paisagem au men·
area proteg ida (co m urn horizon te tem poral de algumas decadas) continua a assentar
servi~o
no padrao paisagfstico dos anos 70, com base no qual foi estab elecida, e nos niveis de
tam de importancia (Pinh eiro et aI., 2011). Pelo exposto nas seCl;6es anteriores, 0
de
regula~ao
gem para
do fogo pela paisagem sofrera efeitos consideraveis com a evoluc;:ao da paisa·
condi~6es
povoa mento existentes antes desse perfo do.
As solu ~6es para este paradoxa nao sao lineares. Con sideramos duas possiveis al-
que favorecem fogos de grande dimensao e intensidade.
ea
ternativas ex trema s para a futura gestao destes territorios: i) al te ra~ao dos objetivos da
da definic;:ao dos servic;:os que no futuro se pretende que estas paisagens assegurem.
area protegi da e ii) altera,ao da gestao da area protegida. A altera,a o dos objetivos per-
Neste contexto, algumas quest5es relevantes podem ser co locadas. A primeira
Esta e uma questao central em plan eamento e gestao da paisagem (Swanwick, 2009).
E
mitiria assumir e enquadrar as alterac;:6e s em cu rsa no planea mento e gestao da area.
particularmente relevante em modelos de gove rna ~ao descentralizados e participativos,
Permitiria rever, de forma mais realistica, os servic;os esperados para as ecossistemas e
da base para 0 tapa (bottom-up) na medida em que permite deftnir um sistema de refe-
da paisagem desta area, preferencialmente co m a participac;ao dos utilizadores locais.
rencia com base nas necessidades e interesses dos agentes envolvidos diretamente na
Permitiria tambem assumir inevitaveis efeitos negativos nalguns servic;os relevantes
pa isagem (Termo rshuizen and Opdam, 2009). No entante, nesta e noutras areas prate·
pa ra a soci edade, nomeada mente as cultu ra is. Esta alternativa levaria, eventua l mente,
gidas e classificadas do pais, a modele de governa c;:ao e esse ncial mente top·down. Pelo
a reclassificac;ao da area com possiveis impactos negativos na economi a e demografia
estatuto de conservac;:ao e pelos objetivos do ordenamento em vigor na area protegida
locais. A segunda alternativa cons iste em mod ificar a gestae da area utilizando modelos
em que as areas de estudo se situa m (ICN, 2007a, b), 0 pri ncipal servic;:o que se espera
e praticas que substituam a presenc;a humana. Trata-se de definir praticas que imitem,
garanti r e a do suporte de biodiversid ade, a todos as niveis.
em intensid ade, area e canfigurac;:ao, perturbac;6es antropicas. Ao nivel de alguns ecas-
o modelo
de con servac;:a o preconizado para um a area protegid a da categoria Par·
que Nat ural subentende, no entanto, a
manuten~ao
de niveis elevados de
de origem antropica nos ecossistemas e na pa isagem e a
cl a ss ifi ca~ao
perturba~ao
sis temas, particula rme nte dos agroecassistemas, naa ha substituic;6es possiveis. No en·
tanto, ao nrvel de outros ecossistemas e da paisagem, e passivel, quer atrave s de meios
destas areas de
acordo com a Directiva s Aves e Habitats (Rede Natura 2000) nao impede que estes n[veis
de perturb ac;:a o se mantenham. Nos instrumentos de planeamento e ordenamento em
Tabela 2. Princip ais servic;:os de ecossist ema/paisagem nos terr ito ries de Fra nl;a e Deila o. Ad aptado de
(Aguiar et aI., 2009) com base nas cla ss ificac;:6es de (Hassan et aI., 2005) e (Pereira et aI. , 2009).
vigor preconiza-se um model a de desenvolvimento sust entave l baseado na conserva·
C l ass ifica~ao
C;ao e nas atividades econ6m icas compativeis, gera lmente as desenvo lvidas de forma
ProdUl; ao de alimentos (incluindo cogu melos, cal;a e pesca)
tradicional au com baixo nivel de impacto. Desta forma, a conservac;ao nao e servic;:o
exclusive da area e outres se rvic;:os podem/devem se r equacionad os no ambito do de·
ProduI;50
senvolvimento desta regiao (Tabe la 2).
Os servic;:os referidos assentam em tres pilares fun damentais: biodiversidade, riqu e·
Regu lac,:a o
Produ~ao
de ali mentos an imais
Predu~ao
de agua
R eg ula ~ao da composic,:ao da atmosfera
Regu lac,:ao do fogo
peciftco e da pai sage m), do patrimonio cultural (sobretudo imateria l) e de altera,ces
Atividades de recreac;:ao e tu rismo
Cult ural
1
170
de materiais lenhosos
Regula<;ao de processos hidrol 6gicos
abandon o, principalmente at raves de perdas de biodiversi dade (ao nlve l genetico, es·
"A riqu eza natura l e paisagistica do macic;:o montanhoso Montezinho-Coroa e os valiosos elementos cultu rais
das comun idades humana s que ali se estabelecera m justificam que urgentemente se iniciem acc;:6es com vista a sa lvaguarda do patrimonio e a anima~ao socio-cu ltural das popu lac;:6es." (Preambu lo do Decreto-Lei n.!!
355/79 de 30 de Agost o, relativo a cria~ao do Parque Natural de Montesinho).
3 "A instit uit;ao de um parque natu ral capaz de mobil izar as populat;oes, levan do-as a participar na pracura de
soluc;:6es, na pesquisa de form as de relant;amento das suas economias trad icionais e da dignificac;:ao da sua
cultura, apresenta-se como 0 processo mais acon selhado" (Preambu lo do Decre to-l ei n.Q 355/ 79 de 30 de
Agosto, relativo a uiac;:ao do Parqu e Natu ral de M ontesinho) .
P rodu~ao
Regulac,:ao dimatica
za paisagistica 1 e comun idades humanas). Como resultado das alterac;:oes em curso as
servi,os de ecossistem a e paisagem podem ser co mprom eti dos pelo despovoamento/
Servi~o de ecossistema/paisagem
M anutenc;:ao do saber ecologico tradicional
Apreciac;:ao visual, espiritua l, emocional
Forma~a o
Supo rte
e retenc,:ao do so lo
Cicio de nu trientes
Sequest ra de ca rbono
Refugio de biod iversidade
171
Dinamica e servi~o' da paisagem no Norde<;te de Portuga l
Desenvolvi mento rural, Sustentabilidade e Ordenamento territorial
medinicos quer do fogo, mimetizar urn conju nto de pe r tu rba~oes com urn resu ltado
In : li, c., l afortezza, R., Chen, J. (Eds.), l andscape Ecology in Forest Management and
que se pode aproximar da estr utura da paisage m humanizada, da mesma forma que se
Conservation: Ch allenges and Solutions for Global Change. HEP-Springer, Beijing, pp.
gere m areas naturai s tendo como referen cia regimes naturais de perturba<;ao (DeLon g
and Tanner, 1996; Pe rera et aI. , 2004). Esta alte rnativa carece, no entan to, de senti do
329-351.
Costanza, R., dArge, R., deGroot, R., Farbe r,S ., Grasso, M., Hannon, B., Li mburg, K., Na-
(porque man ter uma paisagem com caracteristicas de paisagem cu ltural nao sendo, de
eem, S., One ill, R.v., Pa ruelo, J., Ra skin, R.G., Sutton, P., vanden Belt, M., 1997. The
facto, huma nizada?). Par outro lad 0, a manuten<;ao deste tipo de praticas para garantir
value of th e wor ld's ecosystem services and natural cap ital. Natu re 387, 253-260.
as resu ltados desejave is tem e ncargos previsive lrnente m uito eleva das a que par si
56
invia biliza ria a util izac;aa de urn modelo inteiramente asse nte nesta alternativa.
Considera-se, contudo, de for ma mais realista, que possa existir sempre algum nivel
Coulson, R. N., Tchakeria n, M.D., 2011. Basic l andscape Ecology. KEl, College Station, TX.
de Groot, R.S., 1987. Enviro nmental Functions as a Unifying Concept for Ecology and
Economics. Environmental ist 7, 105-109.
de presenc;:a humana neste terr it6rio (ligado ao turismo au por via de regresso ao cam-
de Groot, R.S., W ilso n, M.A., Boumans, R.M.J., 2002. A typology fo r the classification,
po das pessoa s, par exemplo). Considera-se, por outro lado, que alterac;:5es na gestao
desc ripti on an d valuation of ecosyste m functions, goods and servi ces. Ecol. Econ. 41,
atual dos ecossistemas e da paisagem a par duma presenc;:a humana residual paderaa
393 -408.
justificar e permitir manter a car.kter huma nizado da paisagem (n ao 0 dos anos 70 mas
de Guenni, l.B., Cardoso, M ., Goldammer, J., Hurtt, G., Mata, l.J. , 2005. Regu lation of
algo mais parecida com a situac;aa atu al) e os servic;:os associados. Neste context o, serao
Natu ra l Hazards: Floods and fires. Chap. 16. In : Hassan, R., Scholes, R., As h, N. (Eds.),
prioritarias medidas que contribuam para 0 au mento do servic;o de regu lac;ao do fogo.
Para qu e tal acontec;:a, terao que ser feitas modi ficac;6es importantes qu er ao nfvel
dos objetivos e paradigma quer das medidas a adotar na gestao dos ecossistema s e da
paisagem. Atividades co m inte rferencia na estrutura des ecossistemas e da pai sagem
devem, individual mente au de forma combinada, cont rib ui r para a manute nc;:ao da he-
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Usda Forest Service Rocky Mou ntain Forest and Range Experimen t Station Resea rch
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