Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais Realização do Teste Rápido para HIV e Sífilis na Atenção Básica e Aconselhamento em DST/Aids Curso Brasília – DF 2012 1 Sumário Apresentação 03 Introdução 05 Matriz Pedagógica do curso 07 Unidade 1: HIV e Sífilis 08 Unidade 2: Acolhimento e Aconselhamento 09 Unidade 3: Teste Rápido para HIV e Sífilis 11 Unidade 4: Organização do Serviço 12 Unidade 5: Estratégia Pedagógica 13 Programação do Evento 14 ANEXOS Atividades Aconselhamento 23 Atividade para o Modulo Pedagogico 36 Planilha – atividade Reorganização dos Serviços 38 Textos-base N° 1 Acolhimento e Aconselhamento no contexto do Pré- Natal 40 N° 2 Principais Vulnerabilidades e Riscos para a Infecção pelo HIV 42 N° 3 Reorganização dos Serviços 47 N° 4 Tecnovigilância 54 N° 5 Sistema de Qualidade e Biossegurança 56 N° 6 Sífilis 62 N° 7 Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV 65 N° 8 Teste Rápido para HIV e Sífilis 70 N° 9 Estratégias de Mediação: Algumas Possibilidades para Provocar 85 Aprendizagem Significativa 2 Apresentação O Ministério da Saúde orienta a atenção integral à saúde na perspectiva das Redes de Atenção à Saúde (RAS). Alinhando as diretrizes nacionais da política de Atenção Integral à Saúde da Mulher, fundamentadas na perspectiva de promoção e garantia do direito à saúde das mulheres em todos os ciclos de vida, resguardadas as especificidades das diferentes faixas etárias e das distintas populações, norteadas pela busca efetiva da igualdade e equidade de gênero, raça e etnia, e pela ampliação do enfoque da saúde sexual e da saúde reprodutiva, fortalecendo a autonomia e protagonismo das mulheres, lança em 2011 a Rede Cegonha (RC). A RC consiste numa rede de cuidados que visa assegurar à mulher e criança, o direito à atenção humanizada durante o pré-natal, parto/nascimento, aborto seguro, puerpério e atenção infantil em todos os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). Toma diversas ações empreendidas locorregionalmente, mais especificamente aquelas relacionadas às Maternidades e Redes Perinatais no campo da redução da Mortalidade Materna e Infantil, e amplia a qualificação das práticas para o cenário da Atenção Básica. O Apoio Institucional figura como estratégia metodológica capaz de favorecer a mudança da lógica hospitalocêntrica e tecnocrática de gestão e atenção ao parto e nascimento. A operacionalização da RC é orientada pela Portaria nº 1.459 de 24 de junho de 2011, que institui a RC no âmbito do SUS, e pela Portaria nº 650 de 5 de outubro de 2011, que dispõe sobre os Planos de Ação Regional e Municipal. A adesão e fases de execução da RC são gradativas em todo o território nacional a partir de cenários epidemiológicos e grupos de indicadores (Mortalidade e Morbidade, Atenção, Capacidade Hospitalar Instalada e Gestão), conforme autonomia dos gestores de estados e municípios. A RC deve ser organizada de maneira a possibilitar o provimento contínuo de ações de atenção à saúde materna e infantil para a população de determinado território, mediante a articulação dos distintos pontos de atenção à saúde, do sistema de apoio, do sistema logístico e da governança da rede de atenção à saúde, a partir das seguintes diretrizes: I - garantia do acolhimento com avaliação e classificação de risco e vulnerabilidade, ampliação do acesso e melhoria da qualidade do pré-natal; II - garantia de vinculação da gestante à unidade de referência e ao transporte seguro; III - garantia das boas práticas e segurança na atenção ao parto e nascimento; IV - garantia da atenção à saúde das crianças de zero a vinte e quatro meses com qualidade e resolutividade; e V - garantia de acesso às ações do planejamento reprodutivo. A saúde é um direito constitucional traduzido pelo SUS na busca da ampliação do acesso, qualificação das práticas em atenção primária, secundária e terciária, cuidado integral e utilização de dispositivos organizacionais que favoreçam a descentralização e co-gestão. A Política Nacional de Atenção Básica, portaria Nº 2.488, de 21 de Outubro de 2011, caracterizase por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. E tem como fundamentos, ter território, acesso universal e contínuo aos serviços de saúde, ser porta de entrada aberta e preferencial acolhendo os usuários e promovendo a vinculação e corresponsabilização pela atenção às suas necessidades de saúde, estabelecendo mecanismos que assegurem acessibilidade e acolhimento, pressupõe uma lógica de organização e funcionamento do serviço de saúde, que parte do princípio de que a unidade de saúde deva receber e ouvir todas as pessoas que procuram os seus serviços, adscrever os usuários e desenvolver relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a população adscrita 3 garantindo a continuidade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado. A Atenção Básica deve cumprir algumas funções para contribuir com o funcionamento das Redes de Atenção à Saúde, são elas: I- Ser base: ser a modalidade de atenção e de serviço de saúde com o mais elevado grau de descentralização e capilaridade, cuja participação no cuidado se faz sempre necessária; II - Ser resolutiva: identificar riscos, necessidades e demandas de saúde, utilizando e articulando diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos sociais; III - Coordenar o cuidado: elaborar, acompanhar e gerir projetos terapêuticos singulares, bem como acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das RAS. Atuando como o centro de comunicação entre os diversos pontos de atenção responsabilizando-se pelo cuidado dos usuários em qualquer destes pontos através de uma relação horizontal, contínua e integrada com o objetivo de produzir a gestão compartilhada da atenção integral. Articulando também as outras estruturas das redes de saúde e intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais. IV - Ordenar as redes: reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando as necessidades desta população em relação aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo para que a programação dos serviços de saúde parta das necessidades de saúde dos usuários. Compete ao Ministério da Saúde, de acordo com esta portaria no artigo VII - apoiar a articulação de instituições, em parceria com as Secretarias de Saúde Estaduais, Municipais e do Distrito Federal, para formação e garantia de educação permanente para os profissionais de saúde da Atenção Básica. Contudo a descentralização para a realização do Aconselhamento em DST/ HIV e a realização do teste rápido para HIV e Sífilis na Atenção Básica se faz necessário. 4 Introdução De acordo com o estudo de desempenho de diversas marcas de testes rápidos, discussão com diversos segmentos da comunidade científica e instituições regulamentais, foi possível validar um algoritmo para o diagnóstico da infecção pelo HIV, utilizando testes rápidos. Com base nestas especificidades discutidas em segmentos fundamentais da sociedade, foi publicada a portaria no 34/SVS/MS de 29/07/2005, que regulamentava o uso dos testes rápidos como diagnóstico da infecção pelo HIV. Em virtude desta publicação, o Ministério da Saúde promoveu inicialmente a implantação em locais de difícil acesso, uma vez que estas regiões não dispunham de uma rede de serviços de saúde (inclusive laboratórios) que permitia o atendimento eficiente e integral da demanda existente, dificultando, com isso, a assistência à saúde da população. A partir da experiência em regiões de difícil acesso foi possível observar o desempenho dos profissionais de saúde capacitados, conforme o programa de treinamento do Ministério da Saúde, em realizar a metodologia diagnóstica. O bom desempenho destes profissionais fez com que o Ministério da Saúde implantasse o diagnóstico da infecção pelo HIV - utilizando testes rápidos, nas maternidades, inicialmente nas regiões norte e nordeste. Uma vez que esta estratégia promove a melhoria da assistência nestes serviços de saúde, proporcionando as gestantes um acompanhamento especializado. As parturientes hoje podem contar com esta metodologia que garante o diagnóstico para que medidas de prevenção da transmissão vertical sejam tomadas, como a administração de medicamentos e suspensão definitiva do aleitamento. Com a implantação dessa estratégia alternativa e pioneira para implementação do acesso ao diagnóstico da infecção pelo HIV, o Ministério da Saúde vem, mais uma vez cumprir os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde: equidade e integralidade da assistência, bem como da universalidade de acesso aos serviços de saúde. É importante ressaltar que cabe ao Ministério da Saúde, juntamente com os estados e municípios, a implantação dos testes rápidos nos serviços de saúde de acordo com um cronograma de implantação a ser definido conjuntamente. Além disso, são de responsabilidade desse órgão governamental a aquisição e distribuição dos insumos. A partir da avaliação da implantação do teste rápido diagnóstico o Ministério da Saúde publicou em 14/10/2010 a portaria nº151/SVS/MS modificando o diagnóstico sorológico do HIV, tanto na fase laboratorial quanto na testagem rápida. Os profissionais de saúde aptos a realizarem os testes rápidos como diagnóstico da infecção pelo HIV deverão ser capacitados exclusivamente por multiplicadores treinados para a replicação da técnica. Cabe ressaltar que o programa de capacitação deverá ser definido pelo Ministério da Saúde em parceria com Programas Estaduais. Com a análise dos resultados da utilização dos testes rápidos quanto a ampliação do acesso ao diagnóstico do HIV, o Ministério da Saúde esta iniciando a implantação dos testes rápidos nos serviços da Atenção Básica e também a oferta de testes rápidos para outros agravos, como sífilis e Hepatites B e C. A introdução dos testes rápidos para Sífilis e Hepatites B e C estão acontecendo de forma gradual, pois há a necessidade de capacitação de profissionais nas metodologias e também preparação do serviço para implantar esses insumos e atender adequadamente o paciente quanto ao acolhimento, aconselhamento, testagem, encaminhamento e acompanhamento. 5 Os testes rápidos para Sífilis, assim como os testes rápidos para Hepatites B e C, são utilizados como triagem sorológica, ou seja, há necessidade de exames laboratoriais complementares para a finalização do diagnóstico. Uma nova indicação dos testes rápidos para HIV e Sífilis esta no âmbito da Rede Cegonha, no qual os testes serão implantados na atenção pré natal das gestantes, na primeira consulta, e seus parceiros, caso a gestante obtenha resultado reagente em algum dos testes rápidos ofertados. Na Rede Cegonha, os testes rápidos para HIV e sífilis serão implantados de acordo com o cronograma de adesão dos municípios à Rede Cegonha. Após adesão, os profissionais da Atenção Básica deverão ser capacitados para execução dos testes, com aconselhamento, e os cuidados necessários após testagem. Outras informações sobre o processo de implantação e processos de trabalho serão detalhadas nesse material e nos materiais de apoio. Este material tem por objetivo auxiliar os profissionais de saúde que estão sendo capacitados, para que os oriente na implantação dessas estratégias, abordando aspectos inerentes à realização dos testes, a garantia da qualidade, a realização do aconselhamento pré e pós-teste e treinamento de equipes de saúde. 6 Matriz pedagógica do Curso Sujeitos da Aprendizagem Profissionais de saúde de nível superior que atuam no Sistema único de Saúde na realização de teste rápido para HIV e Sífilis e Aconselhamento em DST/Aids. Competências Incorporar testagem rápida com acolhimento e aconselhamento das mulheres gestantes e suas parcerias sexuais em caso de resultado reagente na primeira consulta do pré-natal, instrumentalizando-as quanto aos seus direitos, decisões e possíveis impactos na sua saúde sexual e saúde reprodutiva, garantindo respeito, sigilo e confidencialidade. Objetivos do curso Geral • Formar multiplicadores para a implementação do diagnostico do HIV e triagem da sífilis utilizando metodologia rápida e aconselhamento no âmbito da Rede Cegonha. Específicos • Desenvolver competências profissionais para que o multiplicador possa incorporar testagem rápida com acolhimento e aconselhamento das mulheres, instrumentalizando-as quanto aos seus direitos, decisões e possíveis impactos na saúde sexual e saúde reprodutiva, garantindo respeito, sigilo e confidencialidade; • Capacitar os multiplicadores em princípios e estratégias didático-pedagógicas para qualificação técnica das equipes de atenção básica em testagem rápida; • Fomentar a melhoria do acesso e da qualidade na Atenção Básica no âmbito da Rede Cegonha. Metodologias essenciais para o curso • Exposição dialogada • Metodologia de resolução de problemas • Metodologias ativas Avaliação da Aprendizagem • Formadora: Avaliação realizada no decorrer do desenvolvimento do curso • Final: Com finalidade de melhoria do curso Carga horária: 32 horas Unidades Unidade 1: HIV e Sífilis Unidade 2: Acolhimento e Aconselhamento Unidade 3: Teste Rápido para HIV e Sífilis Unidade 4: Organização do Serviço e Continuidade na Assistência Unidade 5: Estratégia Pedagógica 7 Unidade 1: HIV e Sífilis Carga horária: 3 horas Objetivos: Saber-fazer Contribuir na execução das atividades de testagem e aconselhamento Saber-saber História Natural do HIV e da Sífilis Conceito de Janela imunológica e sua importância no diagnostico Métodos de diagnostico, quais e quando usalos. Abordagem de parcerias Contribuir para adoção de práticas que garantam a qualidade do teste realizado Conceito de especificidade e sensibilidade dos métodos diagnósticos Metodologias de controle de qualidade externo e interno Normas e práticas de biossegurança Contribuir na realização do aconselhamento Janela Imunológica Transmissão do HIV e Sífilis Prevenção do HIV e Sífilis Metodologias de prevenção Abordagem de parcerias 8 Unidade 2: Acolhimento e Aconselhamento Carga horária:8 horas Competências Dimensão Acolhimento: • Acolher a mulher criando um ambiente de confiança e respeito com os profissionais da equipe de Atenção Básica, responsabilizando-se pela integralidade do cuidado, favorecendo o vínculo e a avaliação de vulnerabilidade, garantindo atenção resolutiva e articulação com os outros serviços de saúde para a continuidade da assistência (referência e contra-referência). Dimensão Aconselhamento: • Aconselhar a mulher e suas parcerias sexuais levando em conta suas expectativas, avaliação de riscos e vulnerabilidades em DST, orientando-a e apoiando-a nas decisões a partir dos resultados dos testes rápidos. Saber-fazer Escuta qualificada para identificação das necessidades Saber-saber Conceitos de acolhimento e a sua importância no processo de criação de vínculo com o serviço; Identificação de necessidades da usuária com base em questões chaves; Dar encaminhamento resolutivo, inclusive, Articulando com outros pontos de atenção Criar ambiente propício para confiança e diálogo de forma a criar vínculos e adesão ao serviço Apoiar emocionalmente a mulher no processo de testagem Instrumentalizar a mulher com informações que contribuem em suas decisões Ações e finalidade de encaminhamento Estratégia para a criação de ambientes e formas de comunicação Impactos psicossociais da infecção do HIV e outras DST gravidez, Alterações emocionais e sentimentos Direitos, Saúde sexual e reprodutiva Janela imunológica Especificidades do HIV e da Sífilis Prevenção da TV, HIV e Sífilis Metodologias de prevenção Abordagem de parcerias Metodologia dos testes rápidos Contribuir para Avaliação de risco e vulnerabilidade Conceito de risco e vulnerabilidade, 9 da Práticas sexuais e uso de drogas associados ao risco do HIV, sífilis e gravidez, Comunicar resultado Contribuir para adoção de práticas de cuidado e de prevenção Aspectos essenciais dos resultados positivo e negativo Gerenciamento de risco Uso correto dos insumos de prevenção (preservativo masculino e feminino, gel lubrificante e equipamento para uso de drogas) Aspectos da Vulnerabilidade de gênero e violência sexual Planejamento reprodutivo em caso de resultado positivo ou negativo 10 Unidade 3: Teste Rápido para HIV e Sífilis Carga horária: 8 horas Competências Realizar a triagem da sífilis, e o diagnóstico do HIV, utilizando a metodologia rápida, emitir laudos e dar continuidade à assistência. Saber-fazer Compreender a metodologia dos testes rápidos para HIV e Sífilis Coletar amostra Executar o teste Saber-saber Noções de imunocromatografia Noções sobre reação antígeno e anticorpo Noções de biossegurança Técnica de coleta de amostra de sangue (punção digital); Política de utilização dos testes rápidos na Rede Cegonha Conceito e metodologia dos testes rápidos; Interpretar o resultado Procedimentos de execução dos testes rápidos HIV e Sífilis Critérios de interpretação Registrar o resultado Procedimentos de registro Finalidades do registro Emitir o laudo Componentes de um laudo Finalidades do laudo Sistema de Qualidade e Biossegurança Tecnovigilância Responsabilidade pela emissão Metodologias de controle de qualidade externo e interno Normas e práticas de biossegurança Responsabilidade pela segurança individual e pelo resultado emitido Conhecer os objetivos e importância das práticas de tecnovigilância Fluxo de notificação de queixas técnicas (QT) para o fabricante e para ANVISA. Responsabilidade sobre a qualidade/segurança do teste realizado 11 Unidade 4: Reorganização do Serviço e Continuidade na Assistência Carga horária: 4 horas Competências: Reorganizar o trabalho de modo a incorporar a execução dos testes rápidos na rotina da equipe de Atenção Básica, e adotar documentação para garantir o registro de todas as etapas do processo. Saber-fazer Saber-saber Preparar documentos e formulários para registro de dados Tipos de formulários e suas finalidades 1 – Planilha para solicitação de testes (entrada e saída) 2-Ficha de controle de estoque 3-Relatório de não conformidades 4-Controle de rubricas 5-Folha de trabalho de realização dos TR( Teste Rápido) 6-Ficha de atendimento resumida do Fique Sabendo 7-Relatório controle de temperatura de ambiente 8-Relatório controle de temperatura de geladeira 9-POP( Procedimento Operacional Padrão) de processo de TR nos serviço Gerenciar insumo Regras de controle, armazenamento solicitação de insumos. Materiais, espaço e recursos humanos necessários para organização de serviço. Responsabilidades, passos e interrelações pessoais Redes de atenção à saúde Verificar infra-estrutura Definir fluxo e atribuições Identificar e caracterizar a rede de atenção à saúde Encaminhar e acompanhar a gestante no processo assistencial e Identificação da rede cuidado para gestante com Sífilis e HIV e suas parcerias sexuais positivas. 12 Unidade 5: Estratégia Pedagógica Carga horária: 04 horas Objetivos: • Refletir acerca da estratégia pedagógica utilizada no curso • Contextualizar o processo de ensino aprendizagem na perspectiva da aprendizagem significativa • Discutir o planejamento e desenvolvimento do processo educativo a partir dos princípios de intencionalidade, reciprocidade, significado e transcendência • Conhecer a base normativa e conceitual que estrutura a organização dos processos de gestão da educação na saúde – Educação Permanente em Saúde (EPS). Saber – fazer Saber - saber Planejar e desenvolver um processo Conceito de competência a partir da educativo na perspectiva da aprendizagem construção dos saberes: saber fazer, saber significativa, utilizando a metodologia da saber, saber ser. problematização Aprendizagem significativa Metodologia da Problematização representação, teorização e síntese. - Conceitos de intencionalidade, reciprocidade, significado e transcendência no processo ensino-aprendizagem. Base normativa e conceitual da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (EPS) 13 Programação do evento PRIMEIRO DIA Tempo 8:30 Participante Participe da atividade de abertura, justificativas e objetivos da capacitação 8:45 Participe da apresentação sobre contextualização da Rede Cegonha, a etapa de formação dos multiplicadores, estrutura e metodologia da capacitação Facilitador Coordene a apresentação e esclarecimento de dúvidas sobre a contextualização da Rede Cegonha e a etapa de formação dos multiplicadores Pactue com a turma as regras de Estabeleça em plenária o acordo de convivência convivência durante a capacitação quanto a horários, pontualidade, participação, respeito à fala do outro, uso de telefones celulares, e frequênciaintegral como prérequisito para o recebimento de certificado, dentre outros. 9:30 Participe da dinâmica de apresentação Coordene a dinâmica de apresentação do grupo em plenária solicitando que os participantes se agrupem a partir de características como: • Estado/Município (de onde viemos?) • Categoria profissional (quem somos?) • Experiência em aconselhamento • Experiência com o Teste Rápido • Já se testou para o HIV? • Você convive com uma pessoa portadora do HIV? • Você conhece alguém que sofreu violência por ser homossexual? • Você convive com alguém dependente de drogas? (caso esta atividade não seja retomada na parte da tarde com acréscimo de perguntas, incluir, no momento da manhã questões como: Você utiliza preservativo em todas as suas relações sexuais? Você usou preservativo na sua última relação sexual? Você já usou preservativo feminino? Você já utilizou gel lubrificante numa relação sexual?) (Anexo I) Perceba se as perguntas propiciaram um conhecimento e integração mínimos entre os 14 participantes e deixe o grupo à vontade para comentários. Ao retornarem a seus assentos solicite que cada um escreva em uma folha de papel em branco uma palavra sobre o que pensa a respeito da Aids. Recolha os escritos para ser usado em atividade posterior. 10:00 Participe da exposição dialogada sobre os agravos HIV e Sífilis Coordene a aula expositiva sobre os agravos, ressalte os pontos mais importantes de cada um deles: • Historia natural (fasesclinicas) • Transmissão • Período de incubação • Sinais e sintomas (gerais) • Diagnósticosorológico • Janelaimunológica • Virulência Almoço – 12:30 AS 14:00 14:00 Participe da discussão em plenária Sintetize os registros sobre o que o grupo sobre as representações sociais do escreveu a respeito da AIDS no flipchart grupo a respeito da Aids agrupando sentimentos e percepções mais negativas e as positivas. Aponte os aspectos que diferenciam esta doença das outras (preconceito e estigma, diversidade sexual, uso de drogas e outros) e como o tratamento e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/AIDS são consideradas atualmente e os desafios que ainda enfrentamos. 14:30 Participe da dinâmica de sensibilização para a prática de aconselhamento. Coordene a atividade de sensibilização para a prática do aconselhamento, São três opções para este momento:: Características (continuidade da dinâmica da manhã), Dinâmica da Festa ou a de Concordo/Discordo (Anexo II) Ao final da atividade solicite que os participantes em plenária comentem sobre como se sentiram e que aspectos relacionam com sua prática de atendimento. Coordene a discussão. 15h Solicite que os participantes se dividam em 4 subgrupos. 1) Oriente para que cada grupo discuta sobre aspectos individuais, sociais e institucionais que contribuem para que os indivíduos se infectem Participe das atividades em subgrupos: 1) Exemplifique situações de vulnerabilidade nas dimensões: individual, social 15 e institucional pelo HIV e sífilis, a partir de situações do cotidiano, circunstâncias e diferentes contextos de vida. Solicite a sistematização das discussões com uma síntese organizada no flipchart. 2) Após concluir a síntese das 2) Orientar os subgrupos para a construção dos conceitos de acolhimento e aconselhamento a partir do conhecimento de cada participante do grupo. Solicite o registro no flipchart para apresentação e discussão em plenária no dia seguinte. (Anexo III) vulnerabilidades construir os conceitos de acolhimento e aconselhamento 15 min Intervalo 17:00 Participe da atividade de Coordene a plenária solicitando aos grupos a apresentação em plenária da apresentação dos resultados da discussão. síntese das discussões sobre situações de vulnerabilidade. Organize o debate geral, pontuando aspectos que não foram explorados (gênero, uso de drogas, hierarquia de riscos nas práticas sexuais) Participe da leitura coletiva e discussão da parte dos conceitos sobre vulnerabilidade constantes do texto: “Principais vulnerabilidades e riscos para a infecção pelo HIV”. 18:00 Coordene a leitura coletiva da parte do conceito de vulnerabilidade constante do texto: “Principais vulnerabilidades e riscos para infecção pelo HIV” (Anexo IV) Destaque o aspecto da vulnerabilidade individual como a área principal de atuação do aconselhamento pré e pós-teste. Encerramento do dia SEGUNDO DIA 8:30 Participe da exposição dialogada Aborde noções básicas sobre os testes rápidos: sobre os testes rápidos a) O que são? b) Qual a finalidade? c) Quando podem ser usados? d) Normas técnicas e) Procedimento de execução, interpretação de resultados e emissão de laudos e)Biossegurança e tecnovigilância f) Controle de Qualidade Discuta o passo-a-passo do processo de execução dos testes e da garantia de qualidade Reforce os critérios de segurança durante a execução, principalmente quanto a obediência ao protocolo (bula) de cada teste, respeitando 16 volumes, tempo de incubação e leitura, lotes, validades, etc Discuta os resultados esperados e o que fazer no caso de resultado duvidoso. 10:30 10h45 Intervalo Continuação da exposição dialogada Continuação da exposição dialogada Almoço 12:30 as 14:00 14:00* Participe da exposição dialogada *Caso haja sobre linha de cuidado tempo no período da manhã, esta fala deverá ser antecipada. 14:45 Aborde informações: a) Protocolo de testagem para HIV e Sífilis durante o pré-natal, parto e pós parto; b) Cuidados e tratamentos c) Serviços de referência para acompanhamento Participe da atividade sobre o acolhimento e aconselhamento Coordene a atividade em plenária sobre apresentação dos conceitos de acolhimento e aconselhamento discutidas nos subgrupos Participe da apresentação dos Considerar na discussão as principais conceitos de acolhimento e características que diferenciam o acolhimento do aconselhamento formulados no aconselhamento subgrupo Participe de atividade de Para sistematizar o conhecimento dos conceitos sistematização sobre acolhimento de ACO e ACS: e aconselhamento Opção 1: solicite o retorno aos subgrupos, apresente o caso da gestante Anexo VI e solicite que o grupo faça o atendimento do caso considerando os conhecimentos aprendidos sobre acolhimento e aconselhamento Em plenária reserve alguns minutos para comentários e esclarecimentos de dúvidas Opção 2: Separe duas folhas em branco do flipchart, uma com a palavra acolhimento e a outra com a palavra aconselhamento e disponibilize para os participantes targetas sobre as características de acolhimento e aconselhamento constantes do quadro demonstrativo * e solicite que encaixem nas folhas em branco. Observe os erros e acertos e coordene discussão final esclarecendo dúvidas que ainda forem necessárias 17 Apresente o vídeo “Anjos da Asa Quebrada” e Assista ao vídeo sobre “Anjos da permita comentários se alguém o desejar. Asa Quebrada” 16h15 16h30 Intervalo Participe de atividade aconselhamento pré-teste do Coordene a dinâmica do carrossel (Anexo VI) . Solicite 5 vezes a mudança de lugar, altere a posição de profissional para usuário e de usuário Participe da discussão em plenária para profissional sem mudar de cadeira e solicite comentando sobre como mais 5 vezes a rodada de lugar . vivenciou a dinâmica. Coordene a discussão final, destacando aspectos da relação profissional-usuário, acolhimento, avaliação de risco, conteúdos sobre o teste, janela imunológica, possíveis resultados, sentimentos aflorados, orientação preventiva, aspectos éticos e legais. 18h Encerramento do 2° dia TERCEIRO DIA 09:00 Participe de atividade sobre o aconselhamento pós-teste: entrega de resultado e orientação Grupo 1 preventiva Prepare, em subgrupos, uma dramatização de no máximo 10 min do aconselhamento pós-teste, considerando a utilização do teste rápido para diagnóstico do HIV, a ficha de atendimento, entrega do laudo diagnóstico e orientação preventiva. Apresente a dramatização participe da discussão. Divida o grupo em 3 subgrupos e oriente a definição de um caso de gestante para dramatização do momento do aconselhamento preenchendo a ficha de atendimento entregue previamente. Atenção:oriente um dos casos a dramatizar o pré e pós teste. Informe a cada subgrupo sobre qual resultado do teste para cada caso, sendo que, um subgrupo deverá dramatizar um caso com resultado reagente para sífilis, um segundo não reagente para HIV e um terceiro dramatize um resultado reagente para HIV. Os resultados para cada subgrupo podem ser conhecidos e informados no momento da dramatização e Coordene a dramatização, aquecendo a dupla, identificando as características principais do usuário e do profissional . Após a dramatização, coordene os comentários, iniciando pelos participantes observadores, os protagonistas da cena e por último comentários adicionais sobre conteúdos importantes e que faltaram na comunicação de resultado, orientação preventiva e encaminhamento dos casos 18 positivos. Obs: Se houver dificuldade de algum grupo definir uma situação sugira algum caso constante do Anexo VII 15 min 10:30 INTERVALO Participe de atividade de Apresentação em Power Point sobre Diretrizes sistematização sobre o processo Nacionais sobre o Aconselhamento em de aconselhamento em DST/Aids DST/Aids Sugira como leitura complementar o texto PDF Aconselhamento em DST/AIDS 12:00 14:00 Grupo 2 ALMOÇO Repete a sequência de atividades do grupo 1 Participe do processo de execução Apresentar as informações sobre biossegurança dos testes rápidos e fornecer os EPIs. Fazer demonstração dos componentes dos kits. Orientar sobre preenchimento da folha de trabalho. Demonstrar a execução dos testes com amostra venosa reagente e não reagente. Interpretação dos resultados reagentes e não reagentes. Separe todos os insumos necessários para a realização dos Demonstrar modelos de laudos reagente e não testes. reagente para HIV e Sífilis. Preencha folha de trabalho com as informações dos kits utilizados e identificação do paciente. Você encontra a folha de trabalho no CD de apoio. Pratique o manuseio da pipeta que acompanha o kit. Realize a técnica de punção digital. 19 Execute os testes conforme instruções do fabricante. Realize a leitura, interpretação e transcrição dos resultados na folha de trabalho. Realize emissão de laudo. QUARTO DIA 8h00 – 8h45 Participe da exposição dialogada sobre a organização dos serviços e da apresentação dos documentos necessários para implantação do teste rápido diagnóstico do HIV e triagem de sífilis nas UBS Apresentar as dimensões de organização de serviços para a implantação do teste rápido diagnóstico do HIV e triagem de sífilis nas UBS. (Referencia: texto Reorganização dos Serviços) Apresentar documentos e registros (como exemplos): 1–Planilha para solicitação de testes (entrada e saída) 2-Fichas de controle de estoque 3-Relatório de não conformidades 4-Controle de rubricas 5-Folha de trabalho de realização dos TR 6-Ficha de atendimento resumida do Fique Sabendo 7-Relatório controle de temperatura de ambiente 8-Relatório controle de temperatura de geladeira 9-POP de processo de TR nos serviço 8h45 – 9h15 Participe da atividade em grupo Solicite que os participantes se dividam por sobre implantação dos testes Estado. Oriente para que cada grupo aponte as rápidos nosServiços dificuldades no processo de implantação dos testes e defina articulações e soluções possíveis. Os participantes devem refletir sobre a organização do Serviço e sobre as estratégias para a implantação do TR de HIV e Sífilis nos serviços. Questões que poderão subsidiar as discussões em grupo: Quais são os passos para a implantação do TRD HIV e triagem de sifilis na UBS? Que ações são necessárias? Quem é o responsável por cada uma delas? Em que prazo? Qual a estrutura e insumos necessários? Estimule que os grupos reflitam sobre os fluxos de trabalho e sobre como a testagem rápida será incorporada em sua rotina. Solicite que os grupos sistematizem o que foi discutido na planilha (anexa). 20 15 min de intervalo 9h15 Apresente a sistematização das Sorteie 2 grupos que possam apresentar a discussões em grupo. sistematização das discussões. No Flipshart, escreva as dificuldadesque foram levantados na discussão do grupo, apontando articulações e soluções possíveis. Após as apresentações, sugira que os demais grupos incluam ou questionem o que foi apresentado. Estimule as participações com outras questões que possam enriquecer o debate. O importante, nesse momento é debater com a plenária. Reforce a importância de pensar estratégias a partir de contextos reais e possibilidades concretas. Intervalo as 10h 10:15 Em plenária, participar da apresentação da Unidade Pedagógica de modo a: a) Retomar as discussões desenvolvidas nas Unidades Técnicas e relacioná-las com o conceito de competência; b) Associar a ideia de competência ao saber-saber (conhecimento), saber-fazer (habilidades) e saberser (valores e postura), buscando visualizar a competência descrita para o curso de execução do TR para HIV e Sífilis. Individualmente ou aos pares, refletir acerca do processo de ensino aprendizagem proposto na capacitação, buscando identificar: a) quais os momentos em que há discussão de conhecimentos prévios, experiências, práticas a respeito do tema proposto? Qual a percepção acerca desse espaço de discussão? b) quais são os momentos em que você pôde ampliar suas perspectivas de análise e resolução do problema? Houve 21 Estimular os participantes a retomar as discussões das unidades técnicas, levando o grupo a incrementar o conceito de competência construído no início do curso: a) O entendimento sobre competência mudou ao longo do curso? Por quê? Como você percebe a articulação dos saberes na elaboração da competência? b) Exemplifique uma competência e seus saberes para o desenvolvimento de uma atividade em saúde. Conduzir análise na plenária acerca do processo ensino aprendizagem vivenciado. A estratégia para disparar essa discussão pode partir: a) da análise da dramatização de avaliação, quando ela trouxer uma atividade pedagógica individual ou coletiva, ou b) da análise da própria sequência de atividades vivenciada durante o curso (que é a sugestão descrita na comanda para os participantes), ou c) da discussão de uma breve dramatização acerca de ação educativa conduzida pelos síntese de ideias? profissionais no ambiente de trabalho Discutir alguns elementos que perpassam a prática educativa: a) intencionalidade (quais são objetivos do educador ao apresentar o conceito escolhido? qual é a competência, o saber que se deseja desenvolver?); b) reciprocidade (que estratégias serão usadas para promover nas pessoas a reciprocidade com relação ao conceito? de que modo estabelecer vínculo, coresponsabilizando, implicando o sujeito que aprende?); c) significado (que aspectos do conceito devem ser enfatizados para torna-lo significativo para as pessoas? qual sentido o aprendizado produz? ); d) transcendência (para quais outros aspectos da vida profissional ou pessoal esse conceito pode ser aplicado?). 13hs30min Participar da avaliação da Unidade Pedagógica Encerramento do Evento 14horas 22 ANEXOS: Atividades 23 Anexo I - Dinâmica de sensibilização para a prática de aconselhamento Objetivo: Propiciar que o grupo vivencie alguns aspectos do aconselhamento respondendo coletivamente a perguntas relacionadas com a prática do aconselhamento e seu contexto no serviço. Tempo: aproximadamente uma hora Infraestrutura necessária: ambiente amplo (suficiente para o grupo mover-se em pé) com cadeiras móveis. Atividade: Solicite que o grupo ocupe o espaço destinado a atividade. Todos ficarão em pé. Para que o grupo entenda a dinâmica faça a primeira pergunta a título de aquecimento. Solicite por exemplo que se dividam na sala segundo estado de residência. Os grupos devem estar bem definidos na sala com fronteiras fáceis de serem identificadas. Deixe que as pessoas de um mesmo estado e de pois município se encontrem espontaneamente sem sua ajuda. Nas perguntas seguintes, proponha que as pessoas se dividam de acordo com características como: categoria profissional, experiência em aconselhamento, experiência com o TR, se já se testou para o HIV e outras. O facilitador deve coibir a interferência do grupo, caso ocorra algum tipo de comentário que possa constranger os demais integrantes, interferindo em seu posicionamento, principalmente entre os colegas do mesmo município. Apontar o respeito, a aceitação, o acolhimento, o respeito à diversidade como posturas necessárias na brincadeira, aproveitando para fazer a correlação com a prática do aconselhamento. Perguntas norteadoras: que terá como objetivo a apresentação e integração dos participantes Estado/Município de origem Observar que municípios ou serviços estão menos ou mais representados. Pessoas que vêm sozinhas, representando seu município ou serviço vivenciarão maior dificuldade na implantação do TRD HIV. Categoria profissional Em geral os grupos têm uma maioria de enfermeiros. Esta categoria tem se mostrado muito aberta à implantação do TRD HIV e sífilis e é ela quem mais realiza o TRD HIV na maior parte dos estados. Descontrair o grupo apontando características das categorias profissionais representadas como facilitadoras ou desafios na prática do aconselhamento. Lembrar que o destaque de características é apenas um recurso para refletir e as características são generalizantes e caricaturais. Exemplo: biomédicos, bioquímicos, biólogos costumam trabalhar com amostras biológicas e tem pouco ou nenhum contato com pacientes. Enfermeiros “adoram” protocolos e rotinas pré-estabelecidas. Psicólogos tendem a valorizar todo tipo de demanda e perdem o foco do trabalho em DST/AIDS. Experiência na realização do aconselhamento em DST/AIDS Aproveite para contratar com o grupo o apoio dos mais experientes no desenrolar das atividades futuras e faça um combinado com os menos experientes que aproveitem ao máximo o tempo destinado às discussões de aconselhamento para tirarem dúvidas e proporem questões sem inibição. Experiência na realização do TR 24 Você já fez teste anti-HIV? Depois que o grupo se separar em sim e não, perguntar se aqueles que fizeram o teste foi por terem vivenciado alguma uma situação de risco. Neste momento alguns se deslocam para o grupo do não. Relacionar a relação entre viver situação de risco e decidir se testar por conta dela... uma longa distância. Você convive ou conviveu com uma pessoa portadora do HIV? - Considerar parentes, amigos, vizinhos, conhecidos – “paciente do serviço não vale”. Na sala separar quem conhece, dos que não conhecem. Na sequência, pode-se separar aqueles que já perderam alguém com HIV/AIDS e refletir sobre a interferência ou não, na prática do aconselhamento da vivência da perda e proximidade de alguém que vive com HIV. Você conhece ou conheceu alguém que sofreu violência por ser homossexual? Considerar parentes, amigos, vizinhos, conhecidos – “paciente do serviço não vale”. Depois que o grupo se separar em sim e não, voltar-se para o grupo do não e complementar: “e se eu disser que a vivência de discriminação também é uma violência alguém muda de grupo?” Aproveitar a oportunidade para refletir que muitos participantes não incluem a discriminação na categoria de violência e que a maioria identifica apenas a violência física como determinante para posicionarse na sala. Relacionar esses aspectos com a prática de aconselhamento. Será fácil aos usuários expressarem que não são heterossexuais? A importância do não julgamento e acolhimento da diversidade. Facilitador: Observe se as perguntas propiciaram descontração, conhecimento e integração mínimos entre os participantes. 25 Anexo II : Opção 1 Dinâmica da festa Objetivo: Sensibilizar para o risco de exposição sexual ao HIV e às demais DST Descrição da atividade: Entregar para cada um dos participantes uma folha em branco com apenas uma figura já desenhada pelo facilitador. Para cada grupo de 10 participantes, o facilitador deve desenhar a seguinte sequencia: • Triangulo: Sifilis • Retângulo: Gonorreia • “X”: HIV • “X” circulado: HIV com preservativo • Triângulo circulado: Sífilis com preservativo • Estrela: sadio • Estrela circulado: sadio com preservativo • Quadrado: Hepatites B e C Repeti-la conforme o numero de participantes O facilitador coloca uma musica e os participantes devem andar ou dançar pela sala. Num determinado momento, o facilitador para a musica e solicita aos participantes que parem e copiem o desenho e os n0mes dos colegas que estiverem mais próximos.Esse processo deverá ser repetido 2 ou 3 vezes. Encerrada a atividade, o facilitador pergunta ao grupo qual o suposto significado das figuras, antes de revela-los (circulo = pessoa sadia; quadrado = portador de DST; triangulo = portador de HIV; figura com “ponto no meio” = uso de preservativo). Facilita a discussão, estando atento aos seguintes pontos: • Avaliação do grau de risco a que se expuseram • É possível prever quem é ou quem não é portador de DST ou do HIV? • Quais fatores poderiam aumentar ou diminuir as vulnerabilidades dos contatos. • Sentimentos envolvidos após a revelação da exposição aos riscos. Material: aparelho de som, caneta ou lápis, “Cartão de contatos” Tempo: 30 minutos Opcão 2 Dinâmica do concordo/discordo Objetivo: refletir sobre a construção sociocultural dos preconceitos, mitos e tabus Descrição da atividade O facilitador mostra que na sala estão afixados dois cartazes. “Confortável/ concordo” e “desconfortável/ discordo”, e informa que o grupo que fará a leitura de uma série de frases que serão discutidos. Pede às pessoas que se posicionem, livremente, junto ao cartaz que melhor expresse seu sentimento em relação ao que for lido e que observem o que acontece com os outros e consigo mesmo. Não existe posicionamento intermediário. O facilitador só passa à leitura da frase seguinte depois que todos estiverem posicionados e tiver registrado o numero de pessoas que permaneceram em cada um dos lados. Encerrado o exercício, a experiência é compartilhada com o grupo e o facilitador media a discussão, estando atento aos seguintes pontos: • Contradições entre a norma social e a prática de vida • As regras sociais e culturais são variadas e determinadas em cada situação 26 • • • As regras sociais e culturais têm força coercitiva, mas não são imutáveis A importância de termos clareza sobre as nossas posições e sentimentos frente aos preconceitos, mitos e tabus Observar que existem experiências humanas sobre as quais há muita polêmica e pouco consenso Material: dois cartazes, um com a palavra “confortável/concordo” e outro “desconfortável/discordo”, fita adesiva e lista de frases. com Tempo: 50 a 60 minutos Sugestões de frases • A maioria das mulheres não se protege da aids porque o uso da camisinha depende do homem • As relações extraconjugais são aceitáveis para ambas as partes desde que não ameacem a relação • A masturbação faz bem à saúde • A aids nada mais é que uma punição por um comportamento irresponsável • Uma pessoa pode estar apaixonada por duas pessoas ao mesmo tempo • As relações homossexuais não são normais • A virgindade é um fator importante para o êxito do casamento • Meu parceiro (minha parceira) está envolvido(a) com outra pessoa • Todo HIV positivo tem alguma culpa por sua infecção • A mulher tem menos necessidades sexuais do que o homem • As pessoas portadoras de HIV que continuam a ter relações sexuais sem proteção deveriam ser presas • Toda pessoa que usa uma droga “leve” acaba usando uma droga “pesada” • Nos dias de hoje, é uma irresponsabilidade ter relações sexuais sem camisinha • Minha filha arrumou uma namorada • As pessoas que usam camisinha para se proteger do HIV são estimuladas a ter um comportamento promíscuo • Eu só me casaria com quem já tivesse tido relações sexuais 27 Anexo III - Atividade sobre conceito de vulnerabilidade Solicite que os participantes se dividam em 4 subgrupos. Parte 1- Oriente para que cada grupo discuta sobre aspectos individuais, sociais e institucionais que contribuem para que os indivíduos se infectem pelo HIV e sífilis, sistematizando exemplos no flip chart, bem como, levantando questões de como avaliar as diferentes vulnerabilidades para apresentação em plenária. Coordene a plenária solicitando aos grupos a apresentação dos resultados da discussão em subgrupo. Organize o debate geral. Explore aspectos relacionados às questões de gênero que aumentam a vulnerabilidade da mulher, desigualdade, hierarquia de riscos relacionada as práticas sexuais e diferentes formas de uso de drogas . 28 Anexo IV – Leitura do Texto “Principais vulnerabilidades e riscos para a infecção pelo HIV” Coordene a leitura coletiva da parte do texto sobre o conceito de vulnerabilidade e retome os exemplos apresentados pelo grupo na atividade anterior para auxiliar na apropriação dos conteúdos. Destaque o aspecto da vulnerabilidade individual como a área principal de atuação do aconselhamento pré e pós-teste. 29 Anexo V – Atividade sobre conceitos de acolhimento e aconselhamento Parte 2 - Solicite que os subgrupos discutam o que sabem e construam os conceitos de acolhimento e aconselhamento, registrem no flip chart para serem apresentados em plenária Coordene a apresentação em plenária sobre os conceitos de acolhimento e aconselhamento. Circule em vermelho as palavras chaves dos conceitos apresentados e aponte características que coincidiram entre os grupos. Sistematizacão dos conceitos de acolhimento e aconselhamento 30 Anexo VI - Opção 1 Separe 2 folhas do flip chart, uma para acolhimento e outra para aconselhamento . Disponibilize as targetas recortadas previamente sobre as características do ACO e ACS constantes do Quadro Demonstrativo e solicite que os participantes disponham os conteúdos recortados com as características dos dois conceitos nas folhas em branco relacionando o que se refere ao acolhimento ou ao aconselhamento. Considerar na discussão em plenária aspectos do aconselhamento nas suas dimensões éticas, objetivos e componentes. Anexo VI - Opção 2 Apresentação de um caso de gestante e identificação no atendimento dos aspectos do acolhimento e aconselhamento DISCUSSÃO DE CASO - GESTANTE CARACTERISTICAS DO USUÁRIO CARACTERISTICAS DO CONTEXTO Gestante, 28 anos, chega com atraso UBS tradicional com 1 clinico, 2 pediatras, 2 menstrual de 2 meses para consulta ginecologistas, 3 enfermeiras, 5 auxiliares de ginecológica. Realizado TR de gravidez com enfermagem, 1 dentista e 3 recepcionistas. resultado positivo. Funciona das 7 as 19 hs. Possui parceiro fixo há 8 anos. Nos últimos 10 meses teve dois parceiros sexuais ocasionais. Realiza coleta de materiais biológicos todos os Não costuma usar preservativo. dias das 7 as 8 hs. O serviço já implantou a ação de acolhimento e Nunca fez teste de HIV, nem de sífilis, embora também executa a atividade de aconselhamento tenha tido 2 abortos anteriores. Relata quando ela se faz necessária. história de corrimento vaginal recorrente. Parceiro fixo é usuário crônico de álcool. EXERCÍCIO: 1) Estruture e detalhe (em passos), todo o atendimento a ser oferecido pelo serviço a este usuário específico, isto é, indique tudo (cada ação) que o serviço e os profissionais desenvolverão para BEM atendê-lo, utilizando de forma precisa e cuidadosa as tecnologias de ACOLHIMENTO E ACONSELHAMENTO. Para desenvolver esse exercício, o grupo deve levar em consideração toda a discussão teórica sobre a natureza, objetivos, especificidades e inserção das tecnologias de ACOLHIMENTO E ACONSELHAMENTO neste caso específico. a) Pensar no que deve ocorrer no momento de entrada do indivíduo ao serviço. b) Em tudo que deve ocorrer antes da situação de testagem. c) Em tudo que deve ocorrer depois da situação de testagem. 2) Das ações propostas e descritas por vocês, aonde identificamos a aplicação da tecnologia do aconselhamento e de acolhimento? 3) O grupo visualiza alguma dificuldade para implantar ou executar estas tecnologias? Quais? Como poderiam ser superadas? 31 Anexo VII – Dinâmica do Carrossel COORDENADOR: • É recomendável que a dinâmica seja desenvolvida por 2 profissionais, um para desenvolver a atividade e outro para observar e anotar os dados importantes para a discussão final. • O coordenador deverá ter claros os objetivos intrínsecos à encomenda da atividade, em que contexto a dinâmica se insere no treinamento e com que população irá trabalhar. • Requisitos do coordenador: conhecimento de coordenação de grupos, capacidade de escuta e síntese. Nº DE PARTICIPANTES: idealmente - máximo 26 pessoas OBJETIVO GERAL: • Propiciar aos participantes a vivência dos aspectos principais do aconselhamento préteste. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: • Refletir sobre as possibilidades de resultados de testes, suas implicações e condutas adequadas para cada caso. • Rever orientações técnicas e encaminhamentos. • Reforçar os princípios e objetivos do acolhimento e aconselhamento. • Trabalhar as questões subjetivas do profissional frente às situações de testes anti HIV, sífilis, hepatites e outra DTS. • Dar continência às demandas do grupo na exposição de seus sentimentos frente aos processos dificultadores ou facilitadores que possam emergir durante as discussões. ESTRATÉGIAS: • Carrossel de aconselhamento. • Plenária. • Avaliação oral. MATERIAIS: Flip-chart, pincéis, casos pré-elaborados, cronômetro/relógio, cadeiras móveis. DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE: 1. Elaborar casos pequenos sobre as variadas temáticas e situações que ocorrem ou possa ocorrer no serviço (HIV/AIDS, DST, gestante adulta, gestante adolescente, RD). 2. Recortá-los para uso na atividade. 3. Preparar dois círculos com as cadeiras, de modo que os participantes se posicionem um de frente para o outro. 4. Separar o grupo de participantes em dois subgrupos. 5. Posicioná-los nas cadeiras em círculos, conforme o preparo prévio. 6. Distribuir os casos (um para cada participante). Orientá-los a ler individualmente, incorporar a estória, e se quiserem, complementá-la conforme sua vivência, necessidade ou criatividade sem sair do foco do caso. 7. Durante a atividade, o círculo interno é fixo. 8. O circulo externo é móvel. 9. Utilizar a técnica de troca de papéis: quando os participantes do grupo interno desenvolvem o papel de aconselhando, os participantes do grupo externo desenvolvem o papel de aconselhador e vice-versa. 10. O coordenador do grupo controla o tempo de “rodada” dos casos. 32 11. Co-coordenador observa e anota o que ocorre no grupo para enriquecer as discussões e apontar questões importantes que muitas vezes não são levantadas pelo grupo. 12. O espaço de tempo para cada caso varia de 1 minuto no mínimo, a no máximo 2 minutos. 13. Todos participantes devem ser contemplados nos papéis de aconselhador e aconselhando. 14. Abrir plenária de discussão. 15. Propiciar reflexões sobre todos os aspectos emergentes no grupo. CASOS 1. Gestante, 24 anos com parceiro usuário de drogas injetáveis, presidiário cumprindo pena por homicídio, se relaciona com ele e não faz uso do preservativo porque ele não gosta. 2. Mulher de 38 anos, grávida de 8 meses, tem 4 filhos, casada há 5 anos, compareceu para fazer teste, solicitado no pré-natal, mas não acredita na possibilidade de pegar algo, já que transa só com o marido. 3. Homem casado há 16 anos, há 2 meses teve um relacionamento extraconjugal com uma colega de trabalho, usou preservativo, mas ele estourou. Está angustiado e ansioso, sentindo cansaço, dores de cabeça e acredita ter se contaminado nesta relação, pois descobriu que esta moça já saiu com vários outros homens do serviço. 4. Menina, grávida, 13 anos, grávida de 5 meses, nunca usou camisinha nem pílula. Acreditava que não ia engravidar por ser “novinha”. O médico “mandou” fazer o teste de aids. 5. Evangélica, 24 anos, quarto ano de enfermagem, gestante de 4 meses. Não sabe como enfrentar a igreja, a família. O namorado também é evangélico. Pensam em aborto, estão confusos. Pensa: O que devemos fazer? 6. Adolescente, 17 anos, usuária de drogas injetáveis veio fazer o exame porque descobriu que está grávida. Não sabe quem é o pai da criança. 7. Rapaz de 28 anos compareceu para realizar o teste para aids, pois encontra-se casado há 4 anos e esposa está gestante de 8 meses e teve seu resultado reagente para HIV. O casal nunca usou camisinha. 8. Mulher evangélica de 46 anos, marido faleceu de aids, se submeteu ao teste anti HIV por solicitação médica. 9. Homem casado há 5 anos, esposa está grávida. Há dois anos mantém um relacionamento extraconjugal, não usa preservativo e agora descobriu que esta moça é portadora do HIV. 10. Mulher gestante de 3 meses, com resultado anti HIV indeterminado, o marido não aceita fazer o teste. 11. Adolescente, 17 anos, tem um relacionamento a três, onde o casal tem mais ou menos 30 anos de idade e são casados, para ambos é a maravilha para o seu casamento, aquele algo mais. O casal pediu que fizesse o teste. 12. Mulher, 33 anos, grávida de 3 meses, encaminhada pelo médico para fazer o teste para HIV. Não sabe para que, pois só tem relação com o marido. 13. Moça de 24 anos teve duas relações sexuais na vida, usou preservativo nas duas, mas está com muito medo, porque apareceu uma ferida na região da vagina, e tem certeza que é uma DST, porque lê muito a respeito destas doenças. 14. Jovem, 19 anos, evangélica, gestante de 4 meses. Veio fazer o exame só porque o médico pediu, diz: “meu marido não sai com outras pessoas”. 15. Mulher soropositiva há 10 anos. Não usa camisinha com seu marido. Quer um filho, está gestante de 3 meses. 16. Mulher, 38 anos, vai ao ginecologista de 3 em 3 meses. Vai fazer o teste porque o médico pediu para uma cirurgia. Só faz sexo com quem conhece, se é “limpinho” não usa camisinha. 17. Soronegativa, 28 anos, namorado é soropositivo, às vezes não usam preservativo, querem um filho. Diz: “O que me aconselha?” 33 18. Gestante de 6 meses, veio fazer o segundo teste para HIV (primeiro teste com resultado negativo), pois relata que seu marido teve resultado reagente recentemente. E agora? O casal nunca fez uso de preservativo 19. Homem chega ao serviço muito nervoso e desconfiado, sua esposa chegou em casa com um pedido de teste anti HIV, falando que o médico pediu só porque ela está grávida, nunca viu isso, está achando que ela “botou um par de enfeites na cabeça dele”. 20. Rapaz de 19 anos, teve relação há 2 dias, com uma prostituta, só recebeu sexo oral feito por ela e está apavorado, porque lhe falaram que também se pega HIV deste jeito. 21. Rapaz de 22 anos veio fazer o teste porque a namorada pediu, para liberarem a camisinha. 22. Executivo, 38 anos, casamento estável, pai de 3 filhas adolescentes. Às vezes sai com rapazes. Veio fazer o teste, pois está preocupado com a aids. Demonstra muita ansiedade com a perspectiva do resultado. 23. Homem casado há 19 anos, nunca teve um relacionamento extraconjugal, esposa está internada, falaram que ela é portadora do vírus HIV. 24. Rapaz de 23 anos, solteiro, se relaciona com duas mulheres casadas (cada qual desconhece a existência da outra). Não usa preservativo porque confia nas duas e elas nele. 25. Rapaz 22 anos, homossexual, procura o serviço de DST com queixas de verrugas genitais e foi indicado pelo médico a realizar o teste de HIV. Apresenta dificuldades em aceitar sua homossexualidade, se culpa pelo HIV, expressa pensamentos suicidas. 26. Moça, 24 anos, usuária de crack, faz programas eventuais para conseguir a droga e nem sempre usa preservativo. Não sabe quem é o pai do bebê. 27. Mulher de 50 anos, não sabe ler nem escrever. O marido com o qual foi casada durante 23 anos, faleceu há 4 dias e a mandaram fazer o teste por que disseram que ele morreu de aids. 28. Rapaz, 33 anos, sai com muitas mulheres, não uso camisinha porque “brocha”. Veio fazer o teste após ter aparecido uma ferida no pênis. 29. Mulher de 21 anos, homossexual assumida, não usa proteção com a namorada. De vez em quando faz programas com homens para faturar, nem sempre usa camisinha. 30. Travesti trabalha na noite fazendo programas na avenida, não tem hábito de usar camisinha, porque não acredita em aids e nem em DST. 31. Usuário de drogas injetáveis veio fazer o exame porque “sua mina pediu”... 32. Homem de 56 anos, viúvo, bissexual ativo/passivo. Procurou o serviço por queixa de vermelhidão no pênis, não tem o hábito de usar preservativos e freqüenta cinemas, saunas, etc. Encaminhado para fazer teste de HIV. 33. Evangélica, 48 anos, o marido faleceu e não sabe de que, dizem que é de aids, vai realizar o teste porque o médico pediu, mas não pretende fazer tratamento porque acima do homem está DEUS, e tem certeza que ele a vai curar. 34. Adolescente de 12 anos, virgem, pai morreu de AIDS, mãe trouxe para fazer o teste. 35. Mulher de 23 anos solteira conheceu um rapaz, mas ele lhe falou que é portador do vírus HIV. Está em dúvida se deve continuar neste relacionamento. Coordene discussão final, destacando aspectos da relação profissional-usuário, acolhimento, aspectos éticos e legais, sentimentos aflorados e os conteúdos sobre o teste, janela imunológica, avaliação de risco e orientação preventiva. Problematize sobre as mudanças no processo de aconselhamento com a utilização da testagem rápida para o HIV. 34 Anexo VIII - Dramatização de situações de Aconselhamento pós-teste Objetivos: • Propiciar a vivência da prática de aconselhamento. • Exercitar a capacidade de identificar componentes do aconselhamento. • Reconhecer a possibilidade de múltiplas alternativas de intervenção. Descrição da atividade: O instrutor solicita que o grupo se divida em três subgrupos, pedindo que cada subgrupo desenvolva uma situação de aconselhamento pós-teste preenchendo a ficha de atendimento entregue neste momento. Um subgrupo deverá definir o caso com resultado reagente para HIV, o 2º subgrupo não-reagente para HIV e o 3º grupo com diagnóstico positivo para sífilis. Os subgrupos devem escolher dois voluntários para a dramatização, sendo um dos personagens o aconselhador e o outro, aquele que estará recebendo o resultado do teste. (40 min) Durante a dramatização, o instrutor pode “congelar” a cena em alguns momentos, perguntando ao personagem “aconselhador” o que acha que a “pessoa em atendimento” está querendo e como pretende conduzir o atendimento. Faz essa mesma pergunta para alguns observadores. Em seguida, pergunta ao personagem “usuário” o que ele está sentindo e o que gostaria que o “aconselhador” fizesse. Solicita-os a continuar a cena, até achar conveniente interromper. (máx 10 min) Ao final de cada situação dramatizada, o instrutor solicita as pessoas que atuaram na cena, a expressarem os sentimentos vivenciados em cena e pede a opinião dos observadores quanto às posturas, atitudes e habilidades evidenciadas durante as dramatizações. Durante a discussão, o instrutor reforça os aspectos positivos da cena e pontua alternativas para intervenções indesejadas. Deve levar em conta a retomada de aspectos teóricos já trabalhados e de outros, indicados nos casos sugeridos para dramatização. Material: Sugestão de casos em anexo e/ou sugeridos pelo grupo. Tempo: 180 minutos. Sugestões de casos para dramatização (opcional) CASO 1 (Aconselhamento pós-teste – resultado reagente para sífilis) Mulher de 28 anos, casada, descobriu que está grávida de 3 meses. Foi encaminhada para fazer o teste para HIV e sífilis. Relata que eventualmente faz programas e que o marido não sabe. Costuma usar camisinha, a menos que o cliente pague mais para não a usar, mas refere que os homens com quem costuma transar são saudáveis e de classe alta. Profissional: Realizar aconselhamento pós-teste para HIV (resultado não reagente) e sífilis (resultado positivo). Aspectos importantes: Riscos de transmissão (vertical e horizontal), abordagem do parceiro, aspectos éticos e legais, mitos e preconceitos, manejo de reações emocionais e orientação preventiva na relação conjugal e de trabalho. CASO 2 (Aconselhamento pós-teste - resultado reagente para HIV) Mulher de 25 anos, casada há 3 anos com seu primeiro parceiro sexual. Ambos mantêm uma relação de fidelidade e muito afeto. Está grávida há 5 meses e só agora foi para um serviço de pré-natal. 35 Profissional: Realizar aconselhamento pós-teste para HIV (resultado reagente) e sífilis (resultado negativo). Aspectos importantes: Riscos de transmissão vertical e horizontal, uso profilático de antirretrovirais durante a gestação e o parto, não amamentação, abordagem do parceiro, mitos e preconceitos, manejo de reações emocionais e rede de apoio. CASO 3 (Aconselhamento pós-teste - resultado não-reagente para HIV) Mulher, 20 anos, grávida de 3 meses, usuária de crack, ex-usuária de drogas injetáveis. Comparece a unidade básica de saúde para a 1ª consulta de pré-natal e realização de TR para HIV e sífilis. Não sabe quem é o pai de seu filho. Já tentou parar de usar drogas, sem sucesso. A família não sabe mais o que fazer. Profissional: Realizar aconselhamento pós-teste para HIV (resultado não-reagente), gestão de risco. Aspectos contidos: Avaliação dos riscos, estratégia de redução de danos, rede de apoio, referência a outros serviços, mitos e preconceitos. CASO 4 (Atendimento ao parceiro) Homem, 27 anos, casado, teve uma relação extraconjugal com uma mulher que está grávida de 4 meses. Procura atendimento no posto de saúde em função de uma ferida no pênis e após a realização de TR para sífilis e HIV, recebe o resultado positivo de sífilis. Profissional: Realizar aconselhamento pós-teste para sífilis (reagente) e HIV ( não reagente). Aspectos importantes: Abordagem de parceiras, aspectos ético e legais, encaminhamento para exames complementares, mitos e preconceitos. 36 Anexo VI X - Atividades para o módulo pedagógico Orientações para o participante Em plenária, participar da apresentação da Unidade Pedagógica de modo a: a) Retomar as discussões desenvolvidas nas Unidades Técnicas e relacioná-las com o conceito de competência; b) Associar a ideia de competência ao saber-saber (conhecimento), saber-fazer (habilidades) e saber-ser (valores e postura), buscando visualizar a competência descrita para o Curso “Realização do Teste Rápido para HIV e Sifilis na Atenção Básica e Aconselhamento em DST/Aids” 2. Individualmente ou aos pares, refletir acerca do processo de ensino aprendizagem proposto na capacitação, buscando identificar: a) quais os momentos em que há discussão de conhecimentos prévios, experiências, práticas a respeito do tema proposto? Qual a percepção acerca desse espaço de discussão? b) quais são os momentos em que você pôde ampliar suas perspectivas de análise e resolução do problema? Houve síntese de ideias? 3. Participar da avaliação da Unidade Pedagógica. Orientação para o facilitador 1. Estimular os participantes a retomar as discussões das unidades técnicas, levando o grupo a construir o conceito de competência; 2. Explorar a necessidade de articulação entre os saberes para a construção da competência, independente da natureza do trabalho (saúde, educação, artes, ciências sociais). Indicar o processo de incorporação do conceito de competência nas áreas do trabalho e educação. Apresentar os objetivos e textos da Unidade Pedagógica, e localizar o grupo num duplo papel: participante do curso e potencial multiplicador da proposta, justificando a discussão pedagógica. Referência: texto “Estratégias de mediação: algumas possibilidades para provocar aprendizagem significativa” 2. Conduzir análise plenária acerca do processo ensino aprendizagem vivenciado. A estratégia para disparar essa discussão pode partir: a) da análise da dramatização de avaliação, quando ela trouxer uma atividade pedagógica individual ou coletiva, ou b) da análise da própria sequência de atividades vivenciada durante o curso (que é a sugestão descrita na comanda para os participantes), ou c) da discussão de uma breve dramatização acerca de ação educativa conduzida pelos profissionais no ambiente de trabalho. 37 Avaliar a melhor estratégia para subsidiar a discussão, lembrando que o objetivo é provocar a reflexão acerca dos elementos do processo ensino aprendizagem, identificando propostas educativas participativas ou verticalizadas, atividades que não equacionam bem prática e teoria, ações que contribuem para autonomia do sujeito x atividades prescritivas, ações centradas na figura do professor X atividades centradas do estudante. Destacar a partir das dicotomias das metodologias utilizadas, os sentimentos provocados no sujeito que aprende, sua disponibilidade para aprender. Qualificar as diferenças indicando os princípios da aprendizagem significativa, estratégias que mobilizam o grupo para discussão, os momentos de representação, teorização e síntese, que conduzem a problematização. Discutir alguns elementos que perpassam a prática educativa: • intencionalidade (quais são objetivos do educador ao apresentar o conceito escolhido? qual é a competência, o saber que se deseja desenvolver?); • reciprocidade (que estratégias serão usadas para promover nas pessoas a reciprocidade com relação ao conceito? de que modo estabelecer vínculo, co-responsabilizando, implicando o sujeito que aprende?); • significado (que aspectos do conceito devem ser enfatizados para torna-lo significativo para as pessoas? qual sentido o aprendizado produz? ); • transcendência (para quais outros aspectos da vida profissional ou pessoal esse conceito pode ser aplicado?). 38 Anexo X - Instrumentos de planejamento para implantação do TR Avaliar: O que tenho? O que preciso? Ações Sensibilização da gestão e equipe Espaço físico e equipamentos Disponibilidade dos Insumos e materiais de apoio Organização do fluxo e definição de papéis 39 Responsáveis Prazo ANEXOS: Textos de referência 40 Texto de referência 1 Acolhimento e Aconselhamento no contexto do Pré- Natal Nos serviços de saúde que prestam assistência ao pré-natal e puerpério as ações de acolhimento e aconselhamento são imprescindíveis para reduzir as infecções e a transmissão vertical. O bom acolhimento contribui para o estabelecimento de vínculos com o serviço e com o profissional de saúde, o que significa uma condição favorável para o aconselhamento se desenvolver de forma mais efetiva. Sabemos que a gestante está com sua atenção voltada quase que exclusivamente para a sua criança, porém os cuidados no pré-natal devem ser uma oportunidade para discutir e orientar sobre as necessidades de forma integral, ou seja, que este momento falar dos riscos para as doenças sexualmente transmissíveis poderá contribuir para discernimento e consciência de situações pouco refletidas na vida e que pode ajudá-la a entender certas dificuldades e melhor lidar com elas. Considerando este momento como uma ajuda estruturada e personalizada a oferta do teste para o HIV deve ser bem explicada, pois este exame tem um impacto importante, incluindo mudanças necessárias a serem feitas a partir de um resultado positivo, que contrariam expectativas na maternidade para a maioria das mulheres, como a amamentação e parto normal. O aconselhamento a estas gestantes deve: I. Promover reflexão da importância da realização das sorologias neste momento da vida (gestação e momento do parto); II. Discutir possíveis resultados e seus significados, bem como formas e importância do tratamento; III. Registrar em prontuário as formas de contato; IV. Discutir possíveis formas de manter contato (contrato de sigilo) nos casos em que o serviço de saúde necessitar passar informações; V. Discutir a importância do diagnóstico e tratamento do parceiro sexual em caso de resultados reagentes e discutir possíveis formas de manter contato nos casos em que o serviço de saúde necessitar passar informações; VI. Monitorar e documentar (prontuários e carteira da gestante) o tratamento administrado na gestante e no seu parceiro sexual. O envolvimento e abordagem da parceria sexual requerem cuidados especiais, pois a mulher em idade reprodutiva ou gestante cujo parceiro sexual não foi diagnosticado e tratado pode reinfectar esta mulher, possibilitando a transmissão da doença para o seu filho. O Ministério da Saúde, reconhecendo a importância do papel do homem neste cenário, vem estimulando os futuros pais a fazerem um “check-up” durante o pré-natal. O objetivo é estimular os homens a se envolverem nos cuidados preventivos com a saúde e incentivá-los a realizarem exames para diagnóstico precoce e tratamento de doenças que possam afetar a saúde da mulher e, por conseqüência, a do bebê e eliminar a sífilis congênita. A convocação do parceiro sexual deve ser voluntária e realizada de modo que toda a informação permaneça confidencial após a paciente compreender a intenção desta ação. Esta convocação pode ser feita através da gestante, que conversa com seu parceiro sexual, ou por um profissional de saúde quando a gestante não se sentir apta a fazê-lo, fornecendo autorização e informações sobre a melhor forma de convocá-lo. 41 Nos casos em que a gestante não se sentir apta a convocá-lo, o profissional deve preferencialmente solicitar assinatura em prontuário, para a autorização de contato e da melhor forma de realizá-lo. Toda a convocação deve: I. Ser discutida e consentida pela gestante; II. Ter resolutividade quando da chegada do parceiro sexual ao serviço; III. Garantir aconselhamento a ambos; IV. Garantir tratamento e seguimento ambulatorial a ambos, quando indicado. O profissional que irá atender deve: I. Assumir uma postura acolhedora e não julgadora; II. Reafirmar a confidencialidade e o sigilo das informações prestadas; III. Identificar as crenças e os valores do cliente acerca das DST, HIV e aids; IV. Utilizar linguagem compatível com a cultura do cliente; V. Informar sobre o teste que será realizado; VI. Informar sobre as possibilidades de resultados, procedimentos e conduta em caso de resultado reagente; VII. Conhecer informações específicas sobre a Sífilis Congênita; VIII. Explicar as complicações decorrentes da não realização do tratamento ou deste ser incompleto ou da automedicação; IX. Monitorar e documentar a realização do tratamento. 42 Texto de referência 2 PRINCIPAIS VULNERABILIDADES E RISCOS PARA A INFECÇÃO PELO HIV O aconselhamento para as DST/aids constitui-se num processo de diálogo entre o profissional de saúde e o usuário do serviço acerca das vivencias deste em relação aos riscos de infecção pelo HIV e das possibilidades de adoção de medidas preventivas. É preciso que o profissional de saúde esteja atento para ouvir as vivências do usuário, suas experiências, dificuldades, dúvidas, crenças, pois é isso que lhes permitirá identificar conjuntamente os contextos de vulnerabilidade e os riscos presentes na vida de cada pessoa que busca o serviço, bem como as possibilidades de proteção de que cada uma dispõe. O que é risco? É a probabilidade que indivíduos ou grupo de pessoas têm de adquirirem alguma doença. É um conceito muito útil na epidemiologia, pois permite a quantificação das chances de adoecimento desses indivíduos ou grupos e, assim, a elaboração de ações ou intervenções que reduzam essas chances. No caso do HIV, por exemplo, podemos dizer que todas as pessoas que compartilham seringas quando usam drogas injetáveis ou que têm relações sexuais sem camisinha correm o risco de se infectar pelo HIV. Apesar da grande importância deste conceito para compreendermos a epidemia de aids e muitas outras doenças, é preciso levar em consideração que vivemos em uma sociedade dinâmica e complexa e que, por isso mesmo, nem todos dispõem das mesmas possibilidades e condições de se proteger de todos os riscos de adoecimento que existem. Muitas vezes, as pessoas vivem situações de risco que independem de sua vontade. É para nos ajudar na compreensão dessas situações que utilizamos a noção de vulnerabilidade. O que é vulnerabilidade ? É a interação de fatores individuais e coletivos que fazem com que diferentes pessoas e grupos estejam mais ou menos suscetíveis a infecções e adoecimentos, uma vez que dispõem de maiores ou menores possibilidades de se proteger ou se prevenir. Significa dizer, então, que todas as pessoas estão suscetíveis a adquirir doenças ou a sofrer danos no dia a dia de suas vidas, mas algumas têm maiores condições de evitá-las porque dispõem de mais recursos (informações, emprego, renda, escolaridade) do que outras. No caso do HIV e das outras DST, por exemplo, dificuldades econômicas podem impedir o acesso de algumas pessoas ao preservativo e aos serviços de saúde, o que aumentará as chances dessas pessoas terem mais relações sexuais desprotegidas do que aquelas que conseguem comprar os preservativos. Outras situações que determinam diferentes vulnerabilidades entre as pessoas são o acesso a ações e serviços de educação, a idade, o gênero, o acesso aos meios de informação, entre outros. Quando atuamos na perspectiva da vulnerabilidade estamos não apenas identificando as situações em que as pessoas correm maior ou menor risco de se expor às DST, ao HIV ou de fazer uso de drogas, mas sim, procurando compreender os diferentes contextos de vida e contribuir para que cada pessoa perceba as chances que têm de se infectar ou se proteger. 43 Para melhor compreender os diferentes contextos de vulnerabilidade existentes, podemos analisá-la a partir de 3 dimensões: individual, social e programática. Vulnerabilidade Individual: refere-se aos conhecimentos e comportamentos de cada pessoa e que as deixam mais ou menos expostas aos riscos de infecção pelo HIV. Alguns fatores relacionados a essa dimensão da vulnerabilidade são: falta de acesso a informações e a atividades educativas sobre as formas de transmissão e prevenção das DST/HIV; pouca motivação ou sensibilização pessoal para avaliar e compreender os riscos de infecção a que estão expostas; pouca habilidade para adotar medidas preventivas, incluindo hábitos de vida mais seguros. É importante destacar, entretanto, que esses comportamentos não devem ser entendidos como resultado apenas da vontade e da livre escolha de cada um, mas sim na sua relação com o contexto em que vivem as pessoas e as condições que elas têm de modificar tais contextos. Vulnerabilidade Social: refere-se às formas de organização de cada sociedade - suas crenças, seus hábitos, seus costumes, a distribuição do poder entre os grupos - que faz com que pessoas pertencentes a diferentes grupos sociais disponham de maior ou menor acesso aos recursos materiais, à escola, aos serviços de saúde e com isso tenham mais ou menos chances de modificar seus comportamentos e seus contextos de vida. Por exemplo, nas sociedades em que as mulheres têm menor poder do que os homens – tem menos oportunidades de irem à escola, recebem salários menores, são sobrecarregadas com os cuidados da casa e da família – ela tendem a depender economicamente de seus companheiros ou maridos e com isso passam a ter menores chances de negociar o uso do preservativo nas relações sexuais. Outro exemplo seria nas sociedades em que as comunidades indígenas são discriminadas pelos demais grupos. A discriminação poderá dificultar o acesso dessas comunidades a bens como emprego, escola e serviços de saúde, fazendo com que dessa forma tenham menores chances de obter informações e insumos para se prevenir do HIV. Vulnerabilidade Programática: diz respeito ao compromisso dos governos e das instituições da sociedade civil em desenvolver de ações voltadas para a promoção, prevenção e a recuperação da saúde das populações, mobilizando os recursos (financeiros, humanos, políticos) necessários e articulando essas ações. Quanto maior for esse comprometimento, maiores serão as chances das pessoas terem acesso aos recursos de que necessitam para se protegerem ou se tratarem – no caso do HIV, informações, preservativos, seringas, testagem, aconselhamento, medicamentos, entre outros. A existência, por exemplo, de ações de educação em saúde e de aconselhamento para HIV voltadas para comunidades indígenas que respeitem seus valores e que possam ser traduzidas para os idiomas dessas comunidades aumentam sensivelmente as possibilidades de seus membros adotarem medidas de prevenção frente aos riscos de infecção que vivenciam. Tendo essas reflexões em mente, podemos agora pensar sobre como abordar os riscos e vulnerabilidades no processo de aconselhamento: Práticas sexuais sem preservativos: No Brasil, as ações desenvolvidas para a prevenção das DST/aids primam pela recomendação do uso do preservativo em todas as relações sexuais. Abordagens que recomendam a diminuição do número de parceiros, a abstinência e a fidelidade são pouco factíveis e viáveis e desrespeitam o direito que cada pessoa tem de decidir quando e com quem se relacionar sexualmente e por isso não compõem o elenco de estratégias voltadas para a prevenção no país. Abordar as diversas práticas sexuais (anal, vaginal, oral), destacando as diferentes vulnerabilidades masculinas e femininas (biológica e de gênero) é fundamental para que homens e mulheres percebam as situações de risco que vivenciam, não apenas a partir do seu comportamento sexual, mas também de suas parcerias (homo e/ou heterossexual). 44 É importante lembrar que diversas situações podem dificultar a negociação do uso do preservativo, tais como a crença na fidelidade entre as parcerias estáveis, a pratica do sexo comercial, a dependência econômica de um dos parceiros, a violência sexual, entre outros. Uso de Drogas O uso, o abuso e a dependência de substâncias psicoativas sempre estiveram sujeitos ao julgamento moral. Entretanto, as pessoas que usam drogas têm direito, como todos os cidadãos, de ter acesso aos serviços de saúde e de terem suas necessidades atendidas, sem que sejam obrigadas a parar de usá-las. É fundamental que os profissionais de saúde estejam dispostos a conversar com os usuários sobre o uso de drogas sem julgá-los, perguntando objetivamente sobre isso, independentemente da idade, pois este é um fator de vulnerabilidade importante e que muitas vezes não é revelado pelo usuário por receio de denúncias à polícia e a família. A ênfase exclusiva na abstinência como hábito saudável pode afastar o usuário do serviço, uma vez que nem todos desejam ou conseguem parar de usar drogas. Ao longo dos atendimentos, é preciso que sejam discutidas alternativas diversas para manutenção da saúde deste usuário, na perspectiva da redução de danos. Quando a demanda para o tratamento visando à abstinência for solicitada pelo próprio usuário é fundamental que o serviço conte com os mecanismos necessários para encaminhá-lo a um serviço especializado. No que concerne à prevenção do HIV, é importante também que sejam abordados o efeito do uso de substâncias sobre as práticas sexuais. Muitas drogas - como álcool, maconha, cocaína, ecstasy – alteram os sentidos e a percepção de risco dos usuários e podem dificultar o uso do preservativo nas relações sexuais. No caso das drogas injetáveis, o compartilhamento de agulhas, seringas e recipientes para a diluição da droga (cocaína) são práticas de altíssimo risco para a infecção do HIV. Deve-se recomendar a utilização de equipamentos individuais e, sempre que possível, disponibiliza-los nos serviços de saúde. Para o público que faz uso de drogas, a solicitação do teste de hepatites B e C, bem como as orientações sobre vacinas e prevenção são fundamentais. No caso dos usuários de drogas soropositivos com indicação para tratamento com antiretrovirais, é necessária atenção especial visando à adesão ao tratamento e ao esclarecimento de que o uso de drogas não os impede de utilizar os medicamentos. A única droga que já se observou interação com anti-retrovirais com graves conseqüências é o ecstasy. No caso do álcool, sabe-se que seu uso concomitante com anti-retrovirais pode potencializar o desenvolvimento de doenças hepáticas. No entanto, a suspensão do uso dos anti-retrovirais tem conseqüências muito mais graves e não deve ser recomendada em função do uso de álcool. Presença de outras Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST A existência de uma DST aumenta as chances de uma pessoa se infectar pelo HIV, pois pode gerar lesões nos órgãos genitais e diminuir a imunidade do portador de DST. Além disso, ter tido uma DST significa que a pessoa não está usando a camisinha e, portanto, está se expondo ao HIV. É importante que estas doenças sejam diagnosticadas precocemente e que sejam dadas informações claras sobre elas aos usuários dos serviços de saúde. Os usuários devem ser orientados sobre a importância do tratamento de suas parcerias e o serviço deve buscar formas de promover o acesso dessas parcerias ao tratamento. No caso das mulheres, em especial, é preciso alertar para a prevenção e tratamento da sífilis e as conseqüências no caso de uma gravidez. Abaixo estão algumas questões objetivas para uma avaliação de risco junto ao usuário. Cabe ao profissional verificar a pertinência destas questões em cada atendimento. 45 Este roteiro não é uma “camisa de força” e, para que assim não pareça, é fundamental promover um diálogo que permita a abordagem destes assuntos de forma que fique claro para o usuário quais as situações que potencialmente o colocaram em risco de infectar-se pelo HIV ou por outras DST. A partir desta compreensão ele poderá refletir sobre estratégias viáveis para prevenção dos riscos por ele vivenciados e decidir se fará o teste anti-HIV. Comportamento sexual pessoal 1. Quantos parceiros sexuais teve no último ano? 2. Praticou sexo com um parceiro novo ou diferente nos últimos três meses? 3. Tipo de relação sexual: sexo anal, vaginal e oral. Com ou sem proteção? 4. Teve qualquer outra DST no último ano? Uso de droga 1. Usou álcool ou outras drogas antes ou durante o sexo? Quais? (Esta é uma questão importante pelo fato das drogas poderem alterar a percepção de risco e atitude preventiva). 2. Usa droga injetável? Compartilha seringa e/ou equipamentos? (No uso de droga injetável, compartilhar seringas e os demais equipamentos representa um alto risco de infectar-se ou transmití-lo). Outros fatores de risco pessoal1. Recebeu transfusão de sangue e/ou derivados ? Quando ? 2. Tem alguma tatuagem? Foi feita com material descartável ? 3. Participou de algum ritual que envolva o compartilhamento de objeto perfuro cortante. 4. Outros fatores de risco. Comportamentos dos parceiros (as) sexuais 1. Fazem sexo com outras pessoas ? 2. Têm ou já tiveram alguma DST ? 3. São portadores do HIV ? 4. Usam drogas ? Atitudes de proteção do usuário 1. Quais são os cuidados que o usuário adota para proteção contra DST e HIV? 2. Usa preservativo? Com que freqüência? Com quem? 3. Quais as dificuldades que o usuário enfrenta para adotar atitudes preventivas? Bibliografia: Brasil. Ministério da Saúde. Ações de Prevenção ao HIV e outras DST na Atenção Básica à Saúde. In: Cadernos de Atenção Básica – Programa de Saúde da Família. Caderno da Atenção Básica as DST e Infecção pelo HIV/Aids. Brasília, 2003. Brasil. Ministério da Saúde. Aconselhamento em DST/HIV/Aids para a Atenção Básica. Brasília, 2003. 46 Ayres, José Ricardo de Carvalho Mesquita; França Júnior, Ivan; Calazans, Gabriela Junqueira; Saletti Filho, Heraldo César. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia, Dina; Freitas, Carlos Machado de. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003. Meyer, Dagmar E. Estermann; Mello, Débora Falleiros de; Valadão, Marina Marcos; Ayres, José Ricardo de Carvalho Mesquita. Você aprende. A gente ensina?": interrogando relações entre educação e saúde desde a perspectiva da vulnerabilidade. Cad. Saúde Pública, Jun 2006, vol.22, no.6. 47 Texto de Referência 3 Reorganização de Serviço. Preparando a implantação do Teste Rápido Diagnóstico - TRD do HIV e Teste rápido triagem para sífilis nos serviços de saúde e unidades básicas de saúde. A implantação do TRD HIV e triagem de sífilis na unidade envolve adequação de aspectos organizacionais e por vezes estruturais. A primeira questão a refletir é: O gestor, coordenação de atenção básica, área técnica saúde da mulher e coordenação de DST/AIDS estão em articulação e apoiam a implantação do TRD HIV e triagem para sífilis no âmbito da Rede Cegonha em seu município? O apoio do gestor e articulação entre as coordenações citadas tem importância crucial para o sucesso da implantação do TRD HIV e triagem para sífilis em seu município. Portanto o primeiro passo é certificar-se deste movimento. É importante lembrar que o profissional que está sendo capacitado para a realização do TRD HIV e triagem para sífilis tem papel fundamental na implantação destes procedimentos em sua unidade de origem. Ele deverá ser capaz de informar à gerência da unidade sobre aspectos a ser considerados na implantação destas estratégias. Além disso, o profissional capacitado deverá ser capaz de sensibilizar e esclarecer o que é, e como funciona o TRD HIV e a triagem para sífilis. Portanto cada profissional tem a sua disposição a apostila e o material de apoio com as aulas disponibilizadas em CD. São quatro as dimensões a serem consideradas na implantação do TRD HIV e triagem para sífilis nos serviços de saúde: • Sensibilização da equipe, profissionais da unidade e divulgação dos procedimentos de testagem rápida para público alvo e entre os usuários do serviço, • Espaço físico e equipamentos, • Disponibilidade dos insumos e material de apoio, • Organização do fluxo e definição de papéis. A seguir abordaremos cada dimensão em particular: 1. Sensibilização da equipe, profissionais da unidade e divulgação do TRD HIV e triagem da sífilis para população alvo e entre os usuários do serviço. Embora o processo de implantação no Brasil esteja em andamento desde 2004 ainda enfrentamos resistências devidas ao desconhecimento dos profissionais acerca desta metodologia diagnóstica. Por isso, no processo de implantação é preciso informar e esclarecer os profissionais da unidade de saúde onde irá ocorrer a implantação da testagem rápida. Para tanto 48 podem ser utilizados os espaços de reunião além de outras estratégias. Parte desta divulgação inclui a demonstração da metodologia, definição do público alvo – gestante, e parcerias sexuais das gestantes com resultados reagentes e o esclarecimento de dúvidas. É importante que os médicos sejam particularmente considerados nesta divulgação uma vez que eles devem ser capazes de reconhecer a validade diagnóstica desta metodologia sem necessidade de realização de testes confirmatórios posteriores. Na unidade a implantação não pode ocorrer baseada em um único profissional. Desta forma é importante envolver toda equipe de Atenção Básica no apoio de implantação dos testes. Evidentemente a coordenação da equipe, a direção da unidade pode ser considerada pessoaschave. O processo de informar esclarecer profissionais de saúde pode levar vários encontros. Alguns municípios têm aproveitado este momento para divulgar a estratégia para além das equipes que irão realizar os procedimentos na rede municipal de saúde, laboratórios, coordenadores de programas. Outro aspecto é prever a divulgação do TRD HIV e triagem de sífilis para a população e principalmente para os usuários do serviço onde será ofertado. O tema pode ser inserido em trabalhos de grupo já existentes, trabalhos de sala de espera, exposição de cartazes, distribuição de folders etc. É importante lembrar o papel estratégico dos profissionais, assim os mesmos devem estar em condições para esclarecer as dúvidas de usuários durante as consultas e atendimentos realizados na unidade. Quanto à divulgação para a população em geral os municípios têm utilizado estratégias diversas como informes por meio dos trabalhos dos Agentes Comunitários de Saúde, entrevistas em rádios e TV local, utilizar carros de som, faixas, etc. 2. Adequação do espaço físico e aquisição de equipamentos A primeira questão a ser definida neste aspecto é o local de realização do procedimento do teste. Para implantação do processo de testagem rápida (acolhimento/cadastramento; aconselhamento pré-teste; testagem rápida; entrega de resultado com aconselhamento pós-teste) em serviços de saúde que irão inaugurar – estrutura física nova, a ambiência e os equipamentos poderão ser instalados de maneira ideal ao funcionamento dos procedimentos de testagem. Em unidades básicas de saúde e demais serviços já estruturados, o processo de testagem poderá ser organizado conforme estrutura física pré-existente, contemplando as normas de biossegurança. Quando o processo de testagem rápida for realizado em serviço de saúde pré-existente recomendamos que a sala seja reservada para a realização do procedimento tenha piso lavável, seja bem iluminada, tenha pia (não é obrigatório, mas recomendável). O fundamental é que a sala tenha condições de higiene e garanta privacidade. 49 No entanto, muitas unidades sofrem com falta de espaço físico e não é necessário dispensar uma sala exclusivamente para a realização do TRD HIV e triagem de sífilis. É necessário que a equipe organize o processo de testagem rápida dentro da estrutura física disponível sendo possível utilizar um carrinho móvel para execução dos TR em qualquer sala disponível na unidade (tipo carrinho de emergência). Neste carrinho mantém-se todo o material necessário para realização do TR - formulários, insumos de testagem, biossegurança e pop resumido atualizado. Os materiais deverão estar acessíveis para equipe que executará os testes. Na unidade é importante verificar a presença de equipamentos necessários à sua realização no serviço: geladeira (se necessário), cronômetro, termômetro digital, aventais para funcionários, mesa impermeável. No caso de utilizar-se a mesma geladeira que armazena as amostras até que estas sejam enviadas ao laboratório utilizar estantes distintas colocando os testes na prateleira superior da geladeira. Nunca armazenar os testes na geladeira com vacinas ou medicamentos. 2.1. Recomendação para organização em serviços novos, a serem inaugurados: Recepção: • 01 computador para cadastramento dos usuários (opcional); • 01 impressora (opcional) – reservada para solucionar problemas referentes aos laudos; • 01 bebedouro • Preservativos Sala aconselhamento pré-teste • 01 televisor – vídeos sala aconselhamento pré-teste (opcional); • 01 DVD - vídeos sala aconselhamento pré-teste (opcional); • Folders de prevenção ao HIV e sífilis, • Folder sobre TR de HIV e triagem de sífilis, • Folder TV do HIV e sífilis Sala de testagem • 01 Pia com água corrente • 01 geladeira, se necessário • Termômetro digital • Cronometro ou relógio • Mesa impermeável para testagem (caso não tenha bancada na sala) • Bancada para apoio • 01computador para digitar resultados de exames (opcional) • 01 impressora para emissão de laudos (opcional) • 01 lixeira (pelo menos 01) 50 • Testes rápidos HIV – T1 – Solicitados ao Departamento por meio planilha mensal • Testes rápidos HIV – T2 - Solicitados ao Departamento por meio planilha mensal • Testes rápidos sífilis - Solicitados ao Departamento por meio planilha mensal • Álcool swab ou algodão e álcool gel • Gaze • Curativo adesivo • Papel toalha • 01 resma papel A4 • Canetas • Luvas • Avental ou jalecos • Óculos de proteção Sala aconselhamento pós-teste • Cadeiras para o aconselhador e o usuário • Insumos de prevenção – Preservativos masculinos e feminino 3. Disponibilidade dos insumos para a realização do teste e material de apoio (formulários) Pode parecer óbvio, mas nunca é demais se lembrar de verificar se todos os componentes necessários à realização do algoritmo completo estão presentes: • Testes, • Tampões, • Pipetas coletadoras • Lancetas, • Caixa de descarte, • Material para limpeza, • Luvas, • Almotolia com soro fisiológico. Lembre que parte da credibilidade e confiabilidade no teste depende de como o teste é realizado e se os profissionais demonstram cuidados e domínio da técnica. Além dos insumos descritos acima é necessária a preparação prévia dos formulários que serão utilizados no processo (materiais de apoio): • Planilha para solicitação de testes (entrada e saída) • Ficha de controle de estoque, • Relatórios de não conformidades • Controle de rubricas 51 • Folha de trabalho de realização dos testes, • Formulários para emissão de laudo diagnóstico, • Fichas de atendimento, • Registro controle de temperatura da geladeira e ambiente • Formulários de cadastro de serviço • POP de bancada e POP de serviços do diagnóstico do HIV e triagem de sífilis (POP - Procedimento Operacional Padrão) Este item foi especificamente abordado durante a capacitação e os modelos estão anexados nesta apostila. Cada unidade deve inserir seus logos e adequar os formulários à sua realidade. Lembrando que nenhum item pode ser retirado deles apenas acrescentados. Além do material de apoio reiteramos aqui a importância de elaboração do POP abordado em outro texto. Só relembrando, lembrar-se de manter a documentação do POP atualizada e arquivada em local acessível. 4. Organização do fluxo e definição de papéis Este item talvez seja o mais dinâmico e mutável no processo de implantação do teste. Trata-se de definir com gerência do serviço, equipe e demais profissionais envolvidos o fluxo e papel de cada um na oferta e realização do TRD HIV e triagem de sífilis no serviço de saúde. Para organizar o fluxo considere as seguintes perguntas como guia: Como será ofertado o teste rápido no serviço? Qual o fluxo de atendimento para demanda espontânea? Qual o fluxo de atendimento para gestantes para os quais o TRD HIV e triagem de sífilis serão ofertados? Onde será realizado o procedimento? Quem realizará o TRD HIV e triagem de sífilis? Quem realizará aconselhamento pré e pós-teste? Onde serão armazenados os insumos? Quem é responsável pelo controle de estoque dos testes e formulários utilizados? Quem será responsável pelo controle da temperatura? Quem é responsável por solicitar testes a Regional de Saúde, ou Central de Almoxarifado da região? Qual é o Serviço de Assistência Especializada em DST/Aids - SAE encaminhamento das gestantes com resultados positivos para HIV? 52 de referência para Depois de definido o fluxo considerar a implantação de uma fase piloto que pode ser de dias, uma semana, uma quinzena, etc. Posteriormente reavaliar o que precisa ser aperfeiçoado no fluxo para que o TRD HIV e triagem de sífilis se incorporem na rotina do serviço. Muitos serviços têm optado pela realização do teste por um profissional e pela realização do aconselhamento pré e pós-teste por outro. É desejável que o profissional que iniciar o processo de aconselhamento com o usuário seja o mesmo que entregue o resultado, considerando que já se estabeleceu um vínculo entre profissional e usuário. Lembrar que o profissional num dia pode ser responsável pela realização do procedimento do teste e emissão do laudo e em outro ficar responsável pela parte do aconselhamento. O processo também pode ser todo feito pelo mesmo profissional que vai do pré-teste, realização do procedimento e entrega do resultado (laudo) no aconselhamento pós-teste. Nenhum resultado de teste deve ser entregue sem o aconselhamento pós-teste. Encaminhamentos pós testagem rápida dos casos positivos para HIV Para todas as gestantes positivas para HIV e suas parcerias sexuais positivas, os casos deverão ser encaminhados aos Serviços Especializados – SAE. Os endereços destes serviços poderão ser encontrados na homepage http://www.aids.gov.br/pagina/servicos-de-saude ou mesmo com as coordenações estaduais DST/Aids do seu estado. Toda parceria sexual de gestante com TRD HIV reagente, deverá coletar amostra venosa para realizar pesquisa LABORATORIAL do HIV. Porém analisar a oportunidade e necessidade da realização de testagem rápida da parceria. Sugerimos o material “Recomendações para profilaxia da transmissão vertical do HIV e terapia antirretroviral em gestante”, Ministério da Saúde/2010, sobre abordagem de assistência e tratamento para gestante e bebe. Encaminhamentos pós testagem rápida para os casos reagentes de sífilis 1 A gestante com teste rápido treponêmico reagente– TR triagem de sífilis - deverá ser avaliada clinicamente, especialmente verificar a presença de lesões características de sífilis. A sorologia laboratorial deve ser realizada para orientação do profissional que está acompanhando a paciente para definição do esquema terapêutico, se for necessário. Porém nas situações descritas abaixo o tratamento será imediato: • Ausência de histórico de sífilis, cujo diagnóstico tenha sido excluído laboratorialmente por registro de prontuário ou cartão de gestante e/ou, • Inexistência de comprovação de tratamento adequado para sífilis no passado, por registro em prontuário ou no cartão da gestante. 53 Importante: *Além do tratamento imediato deve-se coletar amostra e submetê-la ao fluxograma laboratorial e também realizar o controle de cura, além de adequar o esquema de tratamento à forma clínica. *A regra geral quando o resultado do teste rápido treponêmico for reagente é de coletar uma amostra venosa para realizar pesquisa LABORATORIAL de sífilis. Somente em situações especiais realiza-se o tratamento imediato. 2. Toda parceria sexual de gestante com teste rápido treponêmico reagente, deverá ser testado. Também deverá ser analisado a oportunidade e necessidade da realização de testagem rápida da parceria. Somente em situações especiais realiza o tratamento da parceria sexual da gestante com TR positivo: • Toda parceria sempre deve ser testada antes de ser tratado. • Se o teste da parceria for negativo: tratar com 2.400.000UI de penicilina. • Se o teste da parceria for positivo: tratar conforme fase clínica da infecção*. Importante:*Além do tratamento imediato deve-se coletar amostra e submetê-la ao fluxograma laboratorial e também realizar o controle de cura, além de adequar o esquema de tratamento à forma clínica. Resumo dos esquemas terapêuticos para sífilis em gestantes e controle de cura: ESTADIAMENTO PENICILINA G BENZATINA INTERVALO ENTRE AS SÉRIES CONTROLE DE CURA (SOROLOGIA) 1 série Sífilis primária Dose total: 2.400.000 UI IM Dose única 54 VDRL mensal 2 séries Sífilis secundária ou latente com menos de 1 ano de evolução Sífilis terciária ou com mais de um ano de evolução ou com duração ignorada Dose total: 4.800.000 UI IM 3 séries 1 semana VDRL mensal Dose total: 7.200.000 UI IM 1 semana VDRL mensal *1 série de penicilina benzatina = 1 ampola de 1.200.000 UI aplicada em cada glúteo 55 Texto de Referência 4 TECNOVIGILÂNCIA A Tecnovigilância, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, do Ministério da Saúde – MS, visa à segurança sanitária de produtos para saúde pós-comercialização (equipamentos, materiais, artigos médico-hospitalares, implantes e produtos para diagnóstico de uso "in-vitro"). Consiste em um sistema de vigilância de eventos adversos (EA) e queixas técnicas (QT) de produtos para a saúde na fase de pós-comercialização, com vistas a recomendar a adoção de medidas que garantam a proteção e a promoção da saúde da população. Considera-se EA aquele evento que causou dano à saúde de um usuário. Se, até o momento da notificação, o problema observado no produto ainda não tiver causado nenhum dano à saúde, este deverá ser notificado como (QT) 1. O objetivo principal da Tecnovigilância é monitorar e, quando apropriado, verificar a segurança e o desempenho de produtos para a saúde no período de pós-comercialização, com vistas a identificar eventos e desvios da qualidade que produzem ou potencialmente podem produzir resultados inesperados ou indesejáveis, que afetam a segurança do paciente. Outro objetivo importante é a coordenação nacional dessas atividades2. As diversas competências dessa área da ANVISA/MS estão descritas na Portaria nº 593, de 25 de agosto de 20003, atualizada pela Portaria nº 406, de 14 de outubro de 20054. Os eventos adversos (EA) e as queixas técnicas (QT) de produtos para a saúde, na fase de póscomercialização, podem ser notificados à Tecnovigilância/ANVISA/MS pelo NOTIVISA2. Trata-se de um sistema informatizado na plataforma web, previsto pela Portaria n° 1.660, de 22 de Julho de 20095, do Ministério da Saúde. Podem utilizar o NOTIVISA os profissionais de serviços de saúde, ANVISA, Vigilâncias Sanitárias Estaduais e Municipais, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, Laboratórios de Saúde Pública, Universidades/Centros de pesquisa, além dos profissionais que atuam em drogarias e farmácias e em empresas detentoras de registro de produtos sob vigilância sanitária (fabricantes, importadores e distribuidores) e os profissionais de saúde liberais. Para acessar o Sistema, é preciso se cadastrar de acordo com a categoria do notificante. Por exemplo, profissional liberal deve se cadastrar como Profissional de Saúde, mas se for um profissional vinculado a alguma instituição/empresa, deve ser providenciado o cadastro institucional6. Os cidadãos poderão notificar EA e QT por meio dos formulários próprios de notificação7. Referências 56 1 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA/MS. Tecnovigilância. [disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/anvisa/posuso/tecnovigilancia/] [Acessado em 30/4/2012, as 12h18) 2 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Manual de Tecnovigilância: abordagens de vigilância sanitária de produtos para a saúde comercializados no Brasil. [Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/378e9d00474587af9170d53fbc4c6735/manual_te cnovigilancia.pdf?MOD=AJPERES]; [Acessado em 30/4/2012, 12h6]. 3 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA/MS. Portaria nº 593, de 25/8/2000]; Dispões sobre o Regimento Interno; [Disponível em http://www.anvisa.gov.br/institucional/anvisa/regimento.pdf]; [Acessado em 30/4/2012, as 11h40]. 4 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA/MS. Portaria nº 406, de 14/10/2005. Dispõe sobre alterações na Portaria nº [http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/406_05_ret2.pdf]; 593, [Acessado de em 25/8/2000. 30/4/2012, as 14h23]. 5 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA/MS. Portaria n° 1.660, de 22 de Julho de 2009. Institui o Sistema de Notificação e Investigação em Vigilância Sanitária - VIGIPOS, no âmbito do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, como parte integrante do Sistema Único de Saúde SUS. [Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect]; [Acessado em 27/4/2012, as 9h32]. 6 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Notivisa. [Disponível em http://www.anvisa.gov.br/hotsite/notivisa/apresenta.htm]; [Acessado em 30/4/2012, as 13h5]. 7 - Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA/MS. Notificação Tecnovigilância Avulsa. [Disponível em http://www.anvisa.gov.br/sistec/notificacaoavulsa/notificacaoavulsa1.asp]; [Acessado em 30/4/2012, as 12h54]. 57 Texto de Referência 5 SISTEMA DA QUALIDADE E BIOSSEGURANÇA O Sistema da Qualidade e Biossegurança deve ser desenvolvido atendendo as determinações das normas: ISO/IEC NBR 17.025/20051; Dicla nº 083/20112 e Dicla nº 017/20103. Devem ser observadas também as recomendações e Notas Técnicas publicadas pelo Ministério da Saúde. AVALIAÇÃO EXTERNA DA QUALIDADE O controle externo dos testes rápidos deve ser realizado em conformidade com a RDC nº 302, de 14 de novembro de 20054. Essa legislação da ANVISA tem âmbito federal e se refere a práticas de laboratórios clínicos e postos de coleta. O objetivo dessa norma é garantir a qualidade dos exames e a diminuição dos riscos inerentes aos processos de trabalho desses serviços de saúde. A regulamentação detalha todos os passos para a coleta de material, análise de amostras e emissão dos resultados do exame – laudos5. A metodologia para Avaliação Externa da Qualidade dos conjuntos diagnósticos para HIV e Sífilis consiste em painéis elaborados por instituições de referência, contendo amostras de resultados conhecidos. Os painéis são encaminhados aos serviços de saúde que oferecem os testes rápidos, após terem sido devidamente capacitados pelo Ministério da Saúde e que participam desse processo, três vezes ao ano6. Esta iniciativa vem em cumprimento a legislação federal da ANVISA nº RDC302/2005, Foram capacitados profissionais de saúde indicados pelas coordenações estaduais de DST/Aids e pela SESAI. Foi realizada, ainda, a capacitação desses profissionais para a execução dos testes rápidos DPP HIV e sífilis5. A metodologia DTS para Avaliação Externa da Qualidade consiste em painéis contendo amostras secas que serão encaminhados aos locais capacitados. Os painéis de Avaliação Externa da Qualidade serão enviados três vezes ao ano a partir de março de 2012. Esta iniciativa vem em cumprimento a legislação federal da ANVISA nº RDC302/2005, que se refere à garantia da qualidade dos resultados dos testes laboratoriais. Foram capacitados profissionais de saúde indicados pelas coordenações estaduais de DST/Aids e pela SESAI. Foi realizada, ainda, a capacitação desses profissionais para a execução dos testes rápidos DPP HIV e sífilis7. AVALIAÇÃO INTERNA DA QUALIDADE 58 Os testes rápidos a serem utilizados possuem controles internos que permitem monitorar a validade dos procedimentos técnicos realizados, bem como o bom funcionamento do teste em questão. As bulas dos conjuntos de diagnóstico contêm informações a respeito desses controles, cuja visualização, por meio do aparecimento de uma linha na área de controle, é obrigatória em todo e qualquer procedimento realizado. Caso não seja visualizada a linha na área de controle do teste, o resultado deverá ser considerado inválido e o profissional deverá realizar novo teste. No caso de o teste ser constatado “inválido”, o profissional de saúde deverá notificar o fabricante e à Coordenação de Tecnovigilância, da ANVISA/MS (verificar as orientações abaixo, no texto sobre o tema)8. O Ministério da Saúde recomenda que os diagnósticos do HIV e da Sífilis sejam realizados em conformidade com as Portarias pertinentes aos temas, disponíveis no sítio Departamento de DSTAids e Hepatites Virais – http://www.aids.gov.br9. O Departamento de DST-Aids e Hepatites Virais validou, conforme consta na Portaria nº 151/ e recomenda os seguintes testes: BIOSSEGURANÇA As atividades em laboratório, ou na área de realização do teste rápido para HIV e Sífilis, requerem do profissional de saúde uma série de cuidados, justificado pelo risco à saúde e a disseminação de contaminação, em função do manuseio de material biológico possivelmente contaminado; bem como da utilização de vidraria, equipamentos e produtos químicos8. Algumas normas são fundamentais para minimizar ou até mesmo eliminar este risco: Ao entrar no laboratório ou área de realização do teste o profissional o profissional de saúde deve estar trajando: roupa e calçados fechados; avental branco (jaleco) de manga comprida e punho retrátil. Sugere-se que a roupa seja de textura grossa (jeans ou brim). O uso do jaleco e luvas deverá ser apenas nas dependências do laboratório ou área de realização do teste rápido. Fora desta área é terminantemente proibido. Se o cabelo for comprido prender o cabelo, utilizar gorro ou toca confeccionado em microfibra de polipropileno; Recomenda-se o uso de calças compridas de tecido O profissional de saúde não deve usar o avental (jaleco) em outros ambientes, fora do laboratório ou área de realização do teste rápido; bem como com luvas. O trabalho deve ser executado num ambiente limpo e organizado, com muita atenção e cuidados. Não é permitido fumar, comer e beber, bem como portar ou conservar alimentos no recinto 59 do laboratório ou da área de realização dos testes rápidos. Antes de iniciar cada experiência ou serviço de rotina, é necessário ler com atenção a técnica (POP) a ser executada. Vidraria e equipamentos danificados não devem ser utilizados. Os testes rápidos que apresentarem algum problema em sua composição (por exemplo falta de algum dos componentes) não devem ser utilizados. Os componentes dos testes rápidos (tampão, alças, lancetas etc.) dos lotes não devem ser substituídos por qualquer componente de outro lote. Em caso de risco para os olhos, devem ser utilizados óculos de proteção, evitando lentes de contacto. Na execução de qualquer técnica em ambiente de laboratório (ou área de realização de teste rápido) e manuseio de material com risco de contaminação microbiológica, deve-se usar luvas. Lembrar que essas luvas devem ser descartadas, em recipiente apropriado e específico para descarte de material potencialmente contaminado, logo após a execução da técnica específica. Evitar tocar em locais comuns a outras pessoas como, por exemplo, maçanetas de portas e de armários com as luvas que foram utilizadas para a realização dos testes. O material contaminado com produtos químicos ou agentes biológicos deve ser tratado adequadamente e, em seguida, descartado em recipiente apropriado. No recipiente de descarte dos materiais resultantes da execução dos testes (plataforma do teste, lancetas, luvas etc.) deverá conter a sinalização específica do risco, conforme preconizado pelas normas de biossegurança vigentes. Ao término das atividades no laboratório ou área de execução do teste rápido, bem como após a execução de técnicas específicas, as mãos devem ser exaustivamente lavadas com sabão líquido e enxugadas com toalha de papel. A área física onde os testes foram realizados deverá ser devidamente limpa, pós a conclusão dos trabalhos do turno como, por exemplo, trocar o papel que cobre a mesa ou bancada de realização dos testes rápidos, descarte correto dos materiais utilizados etc. Se necessário, realizar práticas de descontaminação do local (álcool 70% ou hipoclorito de sódio) onde possa ter ocorrido uma possível contaminação (queda de reagentes ou amostras). Todos os acidentes com objetos contaminados deverão ser reportados ao responsável pela instituição e documentados8. OBSERVAÇÃO: É importante que o profissional de saúde esteja atento as atualizações/publicações relacionada às normas de biossegurança. 60 EXEMPLOS DE EXPOSIÇÕES ACIDENTAIS DE SIGNIFICÂNCIA 1. Perfuração com agulha contaminada. 2. Ferida causada por instrumentais contaminados. 3. Contaminação de qualquer ferida aberta ou membrana mucosa por saliva, sangue ou qualquer outro fluido que possa transmitir doenças infecciosas8. OBSERVAÇÃO: Exposição de pele intacta a fluidos corporais do paciente não é considerada de importância. RECOMENDAÇÕES 1. Limpar imediata e cuidadosamente a ferida usando sabão antisséptico e água, abundantemente. Em caso de contaminação dos olhos, lavá-los com solução salina (Soro Fisiológico), que deve estar disponível nas dependências do laboratório ou área de realização dos testes rápidos8. 2. Caso o paciente possa ser identificado e esteja presente, o responsável pelo setor de saúde deverá obter sua permissão para testes sorológicos8. 3. O responsável pelo setor de saúde deve acompanhar o acidentado ao local de referência para notificar o acidente. Mediante sua autorização, a amostra de sangue do paciente fonte deverá ser testada no menor tempo possível. Deverão ser realizados testes para HIV, Sífilis e hepatites B e C8. 4. A pessoa exposta a contaminação (por exemplo, o profissional de saúde acidentado) também deverá ter a amostra de sangue coletada para realização dos diagnósticos para os mesmos vírus. Caso seja vacinada contra a hepatite B, o seu nível de anticorpos protetores deverá ser avaliado, para que seja confirmada a presença de proteção8. PROCEDIMENTOS COM AS VESTES 1. A roupa utilizada no laboratório ou área de teste rápido deverá permanecer em um recipiente exclusivo, separado das demais peças de uso pessoal, até o momento da lavagem8. 2. Ao lavar: Lavar separadamente das demais roupas de uso pessoal; Submeter a roupa à temperatura de 70º C por 15 a 30 minutos ou mergulhá-la em solução aquosa de hipoclorito de sódio (água sanitária diluída em 5 partes de água) por 30 minutos; Proceder à lavagem normal com sabão em pó ou similares. 3. Não deixar de passar as roupas de trabalho, pois o calor desenvolvido pelo ferro também ajuda a eliminar os possíveis micro-organismos. Ao entrar no laboratório ou área de realização dos testes os profissionais de saúde deverão retirar joias, bijuterias e relógio. 3.3.4 - DESINFECÇÃO DE SUPERFÍCIES E PROTEÇÃO COM BARREIRAS 61 1. As superfícies que serão tocadas ou pelo profissional ou por materiais contaminados durante os procedimentos deverão ser desinfetadas com álcool 70% e protegidas com barreiras5. 2. Como regra, essas superfícies devem ser minimizadas. 3. Procedimento de desinfecção: a desinfecção de superfícies deverá ser feita usando álcool 70%, que deve ser esfregado por 60 segundos contra a superfície a ser desinfetada (a aplicação do álcool 70% deverá ser repetida três vezes). Luvas grossas para limpeza e máscara deverão ser usadas durante o procedimento de desinfecção, para evitar possíveis irritações à pele e inalação direta da substância desinfetante8. PROCEDIMENTO DE COLETA DE AMOSTRAS 1. Antes de coletar a amostra por punção, separar todos os componentes do kit que serão utilizados sobre uma superfície limpa e seca. 2. O profissional deverá estar com seu EPI (avental de manga longa, luvas, óculos e máscara). 3. A amostra deverá ser coletada conforme instruções do fabricante. 4. Escolher a ponta do dedo médio, anelar ou indicador (qualquer destes que esteja com menos calosidade). 5. Se necessário, aquecer a mão com uma toalha umedecida ou com água aquecida para aumentar o fluxo de sangue local. Recomenda-se proceder à ordenha, colocando-se a mão voltada para baixo. 6. Limpar a ponta do dedo com álcool e permitir a secagem pelo ar. Posicionar a mão com o lado da palma para cima. 7. Usar uma nova lanceta para cada pessoa. Colocar a lanceta aproximadamente sobre a lateral da ponta do dedo. 8. Pressionar firmemente a lanceta contra o dedo e perfurar a pele. 9. Descartar a lanceta em um recipiente apropriado para descarte de materiais de risco biológico. 10. Segurar o dedo em uma altura menor que o cotovelo e pressionar leve e intermitentemente a base do dedo perfurado, várias vezes para que o sangue flua. 11. Recolher o sangue com a pipeta ou alça (de acordo com o acessório disponível no kit em uso) na gota de sangue. 12. Evitar bolhas de ar8. Obs: Aplicar o material coletado no dispositivo do teste, observar todo o processo conforme orientações da bula do fabricante. 62 Referência 1. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR ISO/IEC 17.025/2005. [acessado em 9 de maio de 2011]. Disponível em http://www.abnt.org.br/. 2. Instituto Brasileiro de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - Inmetro. DICLA 083/2001. [Acessado em 15 de fevereiro de 2011]. Disponível em http://www.inmetro.gov.br/qualidade/Brasil. 3. Instituto Brasileiro de Metrologia, Qualidade e Tecnologia - Inmetro. DICLA 017/2010. [Acessado em 23 de março de 2012]. Disponível em http://www.inmetro.gov.br/qualidade/Brasil. 4 –. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. RDC nº 302/2005. [Acessado em 26 de abril de 2012]. Disponível em http://www.anvisa.gov.br/legis/index.htm. 5 – Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Brasil ganha legislação sanitária sobre laboratórios clínicos. [Acessado em 2/5/2012]. Disponível em http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2005/171005.htm. 6 – Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Capacitação na metodologia DTS (Dried Tube Specimens) para Avaliação Externa da Qualidade AEQ dos testes rápidos para HIV e sífilis. [Acessado em 4 de maio de 2012]. Disponível em http://www.aids.gov.br/pagina/cursos-de-capacitacao. 7 - Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Capacitação na metodologia DTS (Dried Tube Specimens) para Avaliação Externa da Qualidade AEQ dos testes rápidos para HIV e sífilis. [Acessado em 30 de abril de 2012]. Disponível em http://www.aids.gov.br/pagina/cursos-de-capacitacao. 8. Secretaria do Estado de São Paulo. Capacitação para o Diagnóstico da Infecção do HIV utilizando testes rápidos. Manual do Multiplicador. 2010. 63 Texto de Referência 6 SÍFILIS O agente etiológico da sífilis é uma bactéria, espirogueta, denominada Treponema pallidum, gênero Treponema, da família dos Treponemataceae, que inclui ainda dois outros gêneros: Leptospira e Borrelia. A transmissão do T. pallidum ocorre, na maioria dos casos, durante as relações sexuais. Outras formas de transmissão podem ser observadas: transfusões sanguíneas, passagem transplacentária da mãe infectada para o feto, pela saliva e contato com exsudatos de lesões recentes da pele ou mucosas1. O gênero Treponema possui quatro espécies patogênicas e pelo menos seis não patogênicas. Uma das espécies patogênicas é o Treponema pallidum, subespécie pallidum, causador da sífilis. Existem ainda o Treponema carateum, responsável pela pinta, e o Treponema pertenue, agente da bouba ou framboesia. A espécie variante T. pallidum, subespécie endemicum, causa o bejel ou sífilis endêmica2. O T. pallidum tem forma de espiral (10 a 20 voltas), com cerca de 5-20mm de comprimento e apenas 0,1 a 0,2mm de espessura. Não possui membrana celular e é protegido por um envelope externo com três camadas ricas em moléculas de ácido N-acetil murâmico e N-acetil glucosamina. Apresenta flagelos que se iniciam na extremidade distal da bactéria e encontram-se junto à camada externa ao longo do eixo longitudinal2. A doença é classificada em “sífilis adquirida recente” quando há menos de um ano de evolução, e é subclassificada em primária, secundária e latente recente; “sífilis adquirida tardia”, quando há mais de um ano de evolução, pode ser latente tardia ou terciária; “sífilis congênita recente” que pode ser diagnosticada até o 2º ano de vida; e a “sífilis congênita tardia” que é diagnosticada após o segundo ano de vida2. Caso a sífilis não seja identificada no seu estágio primário, de10 a 90 dias, ou no seu estágio secundário que ocorre de 1 à 6 meses, mas que também pode perdurar por anos na sua forma latente ou assintomática, a sífilis entra no estágio terciário. Nessa fase o diagnóstico é bem preciso, mas várias sequelas podem advir da doença3. DIAGNÓSTICO DA SÍFILIS O diagnóstico da sífilis deve ser realizado a partir da avaliação clínica e da identificação do agente etiológico, por meio dos exames laboratoriais. No entanto, a triagem desta doença pode ser feita pela utilização de Teste Rápido (TR) que tem grande importância no auxílio do diagnóstico da sífilis. A grande vantagem dos TR é que o resultado pode ser obtido em curto espaço de tempo, de cinco a vinte minutos; entretanto, esses produtos devem ser utilizados em situações especiais, apenas para triagem. Outra vantagem é que esses testes podem ser realizados para além das bancadas dos laboratórios. No entanto, esses produtos não devem ser 64 usados como critério exclusivo para o diagnóstico da infecção pelo T. pallidum4, e os seus resultados não devem ser considerados conclusivos e seguros para emissão de laudos. Para que ocorra a escolha adequada da metodologia para o diagnóstico da sífilis deverá ser considerada a fase evolutiva da doença. Na sífilis primária e em algumas lesões da fase secundária, o diagnóstico poderá ser direto; ou seja, feito pela demonstração do agente do T. pallidum. A metodologia mais frequentemente utilizada é sorologia, tendo em vista que o paciente, na maioria das vezes, quando procura o serviço de saúde, já não mais se encontra na fase inicial da doença, que se caracteriza pelo surgimento da úlcera ou cancro. As provas sorológicas constituem a forma de identificação para a fase latente da sífilis adquirida, na qual não são observados quaisquer sinais ou sintomas clínicos que sugerem a doença. A utilização da sorologia poderá ser feita a partir da segunda ou terceira semana, após o aparecimento do cancro, quando os anticorpos começam a ser detectados5. 1.2 – METODOLOGIAS O diagnóstico da Sífilis deve ser realizado de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde e em conformidade com a Portaria 3.242, de 30 de dezembro de 20116. O desenvolvimento de testes rápidos para sífilis treponêmico foi elaborado pela necessidade de simples execução, possíveis de serem realizados em locais para além da bancada de laboratórios, incluindo os pontos de cuidado dos países com recursos financeiros limitados. A maioria de testes rápidos detecta os anticorpos IgM, IgG, e de IgA7 e envolvem as tiras imunocromatográficas com um ou com a recombinação de múltiplos antígenos de T. pallidum, que é aplicado às tiras de nitrocelulose como os reagentes da captação8. Se o teste rápido der positivo, deve-se coletar outra amostra e encaminhar para o laboratório de referência local para a realização dos exames confirmatórios. Referências 1 - Rouquayrol MZ et al. Epidemiologia e Saúde. 5a. Rio de Janeiro: MEDS; 1999. 2 - Brasil. Ministério da Saúde. Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST. 3 ed.; 1999. Disponível em http://sifilisdst.blogspot.com/, acessado em 20/12/2011, as 11h35. 3 - http://pt.wikipedia.org/wiki/S%c3%adfilis#Diagn.C3.B3stico, 20/12/2011, 8h14. 4 - Avelleira JCR, Bottino G. Sífilis: diagnóstico, tratamento e controle. An. Bras. Dermatol. 2006; 81(2): 111-26. 5 - Santana LR et al. Teste VDRL para o diagnóstico de Sífilis. Avaliação dos resultados em uma unidade de atenção primária de saúde. RBAC, vol. 38(2): 71-3, 2006. 65 6 - Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.242, de 30 de dezembro de 2011. Dispõe sobre o Fluxograma Laboratorial da sífilis e a utilização de testes rápidos para triagem da sífilis em situações especiais e apresenta outras recomendações. [Disponível em http://www.aids.gov.br/pagina/legislacao]; [Acessado em 3 de maio de 2012, as 17h48]. 7 - Point of Care Diagnostics for Global Health. RDT info: syphilis diagnostic overview. 2008 [Disponível em http://www.rapid-diagnostics.or/rti-syphilis-diag.htm]; [Acessado em 28 de maio de 2010]. 8 - Zarakolu P, Buchanan I, TAM M, Smith K, Hook EW. Preliminary evaluation of na immunochromatographic strip test for speceific Treponema pallidum antibodies. J Clon Microbiol 2002; 40:3064-3065. 66 Texto de Referência 7 2 - VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV) O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um retrovírus, ou seja, é um vírus com genoma de ácido ribonucléico (RNA), que infecta as células e, por meio da sua enzima transcriptase reversa, produz uma cópia do seu genoma em ácido desoxiribonucléico (DNA) e incorpora o seu próprio genoma no genoma humano, localizado no núcleo da célula infectada. A infecção pelo HIV causa a Síndrome da Imunodeficiência adquirida – AIDS ou SIDA - é uma doença do sistema imunológico humano causada pelo HIV1-3. A transmissão desse vírus se dá por meio do contato direto de uma membrana mucosa ou na corrente sanguínea com um fluido corporal infectado com o vírus (sangue, sêmen, secreção vaginal, fluido preseminal e leite materno)1-3. Essa transmissão pode acontecer durante o sexo anal, vaginal ou oral, transfusão de sangue, agulhas hipodérmicas contaminadas, o intercâmbio entre a mãe e o bebê durante a gravidez - transmissão vertical, parto, amamentação ou outra exposição a um dos fluidos corporais4,5. A Aids é considerada uma pandemia e reduz progressivamente a eficácia do sistema imunológico da pessoa infectada, tornando-as suscetíveis a infecções oportunistas e tumores6. Em dezembro de 2000, 21.8 milhão de pessoas no mundo inteiro morreram com essa doença. Em 2007, estimava-se que 33,2 milhões de pessoas viviam com a doença em todo o mundo, e que cerca de 2,1 milhões faleceram, sendo que 330.000 eram crianças7. Mais de três quartos dessas mortes ocorreram na África Susaariana8. As principais vias de transmissão do HIV são por meio do contato sexual, exposição a fluidos ou tecidos corporais infectados e a transmissão da mãe para o feto ou criança transmissão vertical, durante o período perinatal. A transmissão desse vírus pode acontecer durante o sexo anal, vaginal ou oral, transfusão de sangue, agulhas hipodérmicas contaminadas, o intercâmbio entre a mãe e o bebê durante a gravidez, parto, amamentação ou outra exposição a um dos fluidos corporais. É possível encontrar o HIV na saliva humana, lágrimas e urina dos indivíduos infectados, mas não há casos registados de infecção por essas secreções e o risco de infecção é insignificante1. O espaço de tempo entre a infecção e a detecção de anticorpos anti-HIV, por meio de testes sorológicos (positivação da sorologia), é chamado de janela imunológica. Por isso, é preciso estar atento a esse período em casos de risco de infecção recente e resultado negativo de 67 sorologia anti-HIV. A janela imunológica pode variar, uma vez que pode levar de três a seis meses para soroconversão e obtenção de resultado de teste como positivo. A terapêutica com antirretroviral em pacientes infectados reduz significativamente sua capacidade de transmitir o HIV para outras pessoas, pois reduz a quantidade de vírus em seus fluidos corporais para níveis indetectáveis9. Um dos fatores que favorece o aumento da transmissão do HIV é que muitas pessoas desconhecem que estão infectadas10 e, apesar do número dessas pessoas que vivem com AIDS esteja aumentando, as terapias de novas drogas eficazes têm mantido o período de vida das pessoas infectadas mais longo e com melhor qualidade, além de reduzir dramaticamente a taxa de mortalidade4. Os tratamentos para a AIDS e HIV retardam o curso da doença, entretanto, não há até o momento nenhum procedimento que proporcione a cura ou uma vacina. No entanto, o tratamento com antirretrovirais diminui, consideravelmente, a mortalidade e a morbidade da infecção pelo HIV, mas estes medicamentos são caros e o acesso a esses medicamentos não está disponível em todos os países11. Tendo em vista a dificuldade em tratar a infecção pelo HIV, a prevenção da infecção é um objetivo-chave para controlar a pandemia da AIDS, com organizações de promoção da saúde do sexo seguro e programas de troca de seringas na tentativa de retardar a propagação do vírus4. 2.1 - DIAGNÓSTICO DO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV) O diagnóstico da AIDS em uma pessoa infectada com o vírus HIV é baseado na presença de certos sinais e sintomas. Desde 1981 muitas definições têm sido desenvolvidas para a vigilância epidemiológica desse vírus; nos países em desenvolvimento é usado o sistema de estadiamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) para infecção pelo HIV e para a doença, por meio de dados clínicos e de laboratório. Nos países desenvolvidos é considerado o sistema de classificação do Centers for Disease Control and Prevention (CDC). A exatidão e a confiabilidade nas análises laboratoriais são essenciais para as políticas públicas que objetivam a diminuição da incidência de patologias que carregam uma característica de transmissibilidade que pode ser minimizada a partir do conhecimento e do diagnóstico12. Os testes para detecção do vírus HIV são, geralmente, realizados a partir de amostra do sangue venoso; entretanto, muitos laboratórios utilizam testes de triagem que detectam anticorpos anti-HIV (IgG e IgM) e do antígeno p24 do HIV. A detecção de anticorpos anti-HIV ou antígeno em um paciente previamente conhecido como negativo, é evidência de infecção pelo vírus. Indivíduos cuja primeira amostra indica evidências de infecção pelo HIV terão uma repetição do teste em uma segunda amostra de sangue para confirmar os resultados13. A estratégia de implantar TR nos serviços do Serviço Único de Saúde tem um papel fundamental que contribui com o controle por meio do diagnóstico precoce, tendo em vista que 68 são produtos que podem ser utilizados para além das bancadas de laboratórios, apresentam sensibilidade e especificidade satisfatórias para o diagnóstico confiável, e pode ser executado em condições mínimas de estrutura física14. O diagnóstico da infecção pelo vírus HIV, geralmente, é realizado em laboratórios por meio de testes sorológicos. No Brasil o diagnóstico desse vírus é regulamentado por meio da Portaria nº 151, de 14 de outubro de 200915; sendo que para o diagnóstico deve-se considerar também a fase da doença, dada sua grande capacidade de manifestar-se de diferentes formas em cada pessoa. Na fase aguda, apresentam-se as patologias virais. Na fase inicial da Aids propriamente dita, deve ser analisado o quadro clínico do paciente e o órgão atingido, por exemplo, meningites bacterianas para afecções do Sistema Nervoso Central ou pneumonias para doenças do trato respiratório16. O tempo necessário para que o teste para Aids detecte a presença do vírus HIV no sangue é geralmente de quatro a doze semanas, depois da infecção, com período médio de aproximadamente dois meses. A detecção do vírus durante o período de janela imunológica é possível por meio da metodologia da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) e as evidências sugerem que essa infecção pode ser detectada mais cedo do que quando se utiliza outras metodologias. Os resultados positivos obtidos por PCR são confirmados por testes convencionais com anticorpos. Testes de HIV utilizados rotineiramente para a infecção em recém-nascidos e lactentes (pacientes com menos de 2 anos de idade), nascidos de mães HIV-positivas, não têm valor por causa da presença de anticorpos maternos para o HIV no sangue da criança11. 2.1.1 – METODOLOGIAS Teste Rápido para o diagnóstico do HIV Teste para detectar anticorpos para os vírus da imunodeficiência humana, tipos 1 e 2 (HIV-1 e HIV-2), em amostras de sangue total venoso, após punção digital, em soro ou plasma humano. O teste se baseia na tecnologia de imunocromatografia e utiliza plataforma de duplo percurso. O seu uso é adequado em algoritmos de múltiplos testes para suporte ao diagnóstico da infecção pelo HIV. Resultados reagentes são evidências de exposição ao HIV-1 ou HIV- 2 e podem ser usados como suporte ao diagnóstico clínico17. O TR é indicado também para realização de diagnóstico do HIV, por profissionais de saúde, de acordo com as disposições da Portaria nº 151, de 14 de Outubro de 200921 que normatiza o algoritmo para o diagnóstico da infecção pelo HIV, por meio da utilização exclusiva de TR16. 69 Os diagnóstico do HIV, por meio dos TR, está disponibilizado para segmentos populacionais prioritários, como: gestantes, parturientes, pacientes com sintomas da Aids, populações vulneráveis, populações flutuantes, moradores de rua, dentre outros16. Foto do dispositivo dos testes com as reações/resultados: Obs: não há necessidade de confirmação laboratorial caso o T1 e T2 tenham apresentado resultado reagente, como dito a cima, os testes rápidos para HIV definem diagnóstico22. Referências 1 - World Health Organization (WHO). UNAIDS. AIDS epidemic update. 2007. [Disponível em http://data.unaids.org/pub/EPISlides/2007/2007_epiupdate_en.pdf); [acessado em 7/2/2012]. 2 - Kent A. Sepkowitz, M.D (2001). "Aids – The first 20 years". N. Engl. J. Med. 2001; 344 (23): 1764–72. 3 - Weiss RA.. How does HIV cause AIDS? Science; 1993; 260 (5112): 1273–9. 4 - Cecil, Russell. Textbook of Medicine. Filadélfia: [s.n.], 1988: 1523-1799 p. 5 – Estados Unidos da América. Center for Disease Control and Prevention (CDC). Divisions of HIV/AIDS Prevention. HIV and Its Transmission. [Disponível em http://www.cdc.gov/hiv/aboutDHAP.htm]; [Acessado em 3/2/2012, 15h52]. 6 - San Francisco AIDS Foudation. How HIV is spread. 2006. 8 - Kallings LO. "The first postmodern pandemic: 25 years of HIV/AIDS". J Intern Med. 2008; 263 (3): 218–43. 70 9 - Leynaert, B., Downs, A. M. and de Vincenzi, I. (1998). "Heterosexual transmission of human immunodeficiency virus: variability of infectivity throughout the course of infection. European Study Group on Heterosexual Transmission of HIV". Am. J. Epidemiology; 148 (1): 88-96. 10 - Center for Disease Control and Prevention (CDC). Facts about AIDS & HIV. [Disponível em http://www.cdc.gov/hiv/resources/factsheets/]; [acessado em 4/2/2012; 15h23]. 11 - Center for Disease Control & Prevention (CDC). Revised Classification System for HIV Infection and Expanded Surveillance Case. Definition for AIDS Among Adolescents and Adults. 1993. [Disponível em http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/00018871.htm); [acessado em 7/9/2006]. 12 - Weber B. (2006). "Screening of HIV infection: role of molecular and immunological assays". Expert Rev. Molecular Diagnostic; 6 (3): 399–411. 13 - Baleta A. (2003). "S Africa's AIDS activists accuse government of murder". Lancet; 361 (9363). 14 - Wikipedia. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. [Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/AIDS#Hist.C3.B3ria_e_origem]; [acessado em 3/2/2012, 13h10]. 15 – Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 151, de 14 de Outubro de 2009. [Disponível em http://www.aids.gov.br/sites/default/files/portaria151_2009.pdf]; [Acessado em 2/5/2012, as 10h54]. 16 – Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Capacitação na metodologia DTS (Dried Tube Specimens) para Avaliação Externa da Qualidade AEQ dos testes rápidos para HIV e sífilis. [Disponível em http://www.aids.gov.br/pagina/cursosde-capacitacao]; [Acessado em 30/4/2012, as 15h37]. 17 – Brasil. Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz. Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Biomanguinhos. TR DPP®HIV 1/2. [Disponível em http://www.bio.fiocruz.br/]; [Acessado em 2/5/2012, as 16h39] 71 Texto de Referência 8 Teste Rápido para HIV e Sífilis 1. INTRODUÇÃO De acordo com o estudo de desempenho de diversas marcas de testes rápidos, discussão com diversos segmentos da comunidade científica e instituições regulamentais, foi possível validar um algoritmo para o diagnóstico da infecção pelo HIV, utilizando testes rápidos. Com base nestas especificidades discutidas em segmentos fundamentais da sociedade, foi publicada a portaria no 34/SVS/MS de 29/07/2005, que regulamentava o uso dos testes rápidos como diagnóstico da infecção pelo HIV. Em virtude desta publicação, o Ministério da Saúde promoveu inicialmente a implantação em locais de difícil acesso, uma vez que estas regiões não dispunham de uma rede de serviços de saúde (inclusive laboratórios) que permitia o atendimento eficiente e integral da demanda existente, dificultando, com isso, a assistência à saúde da população. A partir da experiência em regiões de difícil acesso foi possível observar o desempenho dos profissionais de saúde capacitados, conforme o programa de treinamento do Ministério da Saúde, em realizar a metodologia diagnóstica. O bom desempenho destes profissionais fez com que o Ministério da Saúde implantasse o diagnóstico da infecção pelo HIV - utilizando testes rápidos, nas maternidades, inicialmente nas regiões norte e nordeste. Uma vez que esta estratégia promove a melhoria da assistência nestes serviços de saúde, proporcionando as gestantes um acompanhamento especializado. As parturientes hoje podem contar com esta metodologia que garante o diagnóstico para que medidas de prevenção da transmissão vertical sejam tomadas, como a administração de medicamentos e suspensão definitiva do aleitamento. Com a implantação dessa estratégia alternativa e pioneira para implementação do acesso ao diagnóstico da infecção pelo HIV, o Ministério da Saúde vem, mais uma vez cumprir os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde: equidade e integralidade da assistência, bem como da universalidade de acesso aos serviços de saúde. É importante ressaltar que cabe ao Ministério da Saúde, juntamente com os estados e municípios, a implantação dos testes rápidos nos serviços de saúde de acordo com um cronograma de implantação a ser definido conjuntamente. Além disso, são de responsabilidade desse órgão governamental a aquisição e distribuição dos insumos. A partir da avaliação da implantação do teste rápido diagnóstico o Ministério da Saúde publicou em 14/10/2010 a portaria nº151/SVS/MS modificando o diagnóstico sorológico do HIV, tanto na fase laboratorial quanto na testagem rápida. Os profissionais de saúde aptos a realizarem os testes rápidos como diagnóstico da infecção pelo HIV deverão ser capacitados exclusivamente por multiplicadores treinados para a replicação da técnica. Cabe ressaltar que o programa de capacitação deverá ser definido pelo Ministério da Saúde em parceria com Programas Estaduais. Com a análise dos resultados da utilização dos testes rápidos quanto a ampliação do acesso ao diagnóstico do HIV, o Ministério da Saúde esta iniciando a implantação dos testes rápidos nos serviços da atenção básica e também a oferta de testes rápidos para outros agravos, como sífilis e Hepatites B e C. A introdução dos testes rápidos para sífilis e Hepatites B e C estão acontecendo de forma gradual, pois há a necessidade de capacitação de profissionais nas metodologias e também 72 preparação do serviço para implantar esses insumos e atender adequadamente o paciente quanto ao acolhimento, aconselhamento, testagem, encaminhamento e acompanhamento. Os testes rápidos para sífilis, assim como os testes rápidos para Hepatites B e C, são utilizados como triagem sorológica, ou seja, há necessidade de exames laboratoriais complementares para a finalização do diagnóstico. Uma nova indicação dos testes rápidos para HIV e sífilis esta no âmbito da Rede Cegonha, no qual os testes serão implantados na atenção pré natal das gestantes, na primeira consulta, e seus parceiros, caso a gestante obtenha resultado reagente em algum dos testes rápidos ofertados. Na Rede Cegonha, os testes rápidos para HIV e sífilis serão implantados de acordo com o cronograma de adesão dos municípios à Rede Cegonha. Após adesão, os profissionais da Atenção Básica deverão ser capacitados para execução dos testes, com aconselhamento, e os cuidados necessários após testagem. Outras informações sobre o processo de implantação e processos de trabalho serão detalhadas nesse material e nos materiais de apoio. Este material tem por objetivo auxiliar os profissionais de saúde que estão sendo capacitados, para que os oriente na implantação dessas estratégias, abordando aspectos inerentes à realização dos testes, a garantia da qualidade, a realização do aconselhamento pré e pós-teste e treinamento de equipes de saúde. 2 - Teste Rápido para HIV Os testes rápidos para HIV são utilizados para diagnosticar a infecção pelo HIV em situações especiais, determinadas na Portaria 151 de 14 de outubro de 2009. Para definir o diagnóstico de HIV utilizando testes rápidos deve-se seguir o fluxograma do Anexo IV desta portaria. Os testes rápidos para HIV devem ser executados de maneira sequencial, ou seja, realiza-se um teste rápido T1, caso esse seja não reagente o diagnóstico já esta definido como Não Reagente para HIV. Caso o T1 seja reagente, deve-se realizar o teste rápido T2 (de marca diferente do teste utilizado como T1), dando T2 reagente, o diagnóstico esta definido como Reagente para HIV. Se o T2 apresentar resultado não reagente, ou seja, resultados discordantes entre T1 e T2, uma amostra deve ser colhida por punção venosa e enviada ao laboratório para ser submetida ao Fluxograma Laboratorial para Diagnóstico da Infecção pelo HIV. Obs: não há necessidade de confirmação laboratorial caso o T1 e T2 tenham apresentado resultado reagente, como dito a cima, os testes rápidos para HIV definem diagnóstico. As instituições de saúde públicas e privadas que realizam testes rápidos devem manter os processos de qualificação e educação permanente para os profissionais de saúde e utilizar somente os testes rápidos validados pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Até o momento, temos 8 testes aprovados nesses processos de validação: 73 “HIV-1/2 Bio-Manguinhos”, “HIV Rapid Check”, “Determine HIV-1/2”, “Uni-Gold HIV”, “HIV 1/2 Colloidal Gold” “BD Chek HIV Multi-test”, “HIV 1/2 Colloidal Gold”, “BD Check HIV Multi-test”. Nota: Diante dos resultados encontrados, recomendamos que os TR “HIV Rapid Check” e “BD Chek HIV Multi-test” não sejam utilizados simultaneamente em um mesmo fluxograma, pois podem resultar em um diagnóstico falso-positivo devido ás suas idênticas características de desempenho quanto à sensibilidade e especificidade com as amostras utilizadas no estudo. Os testes rápidos HIV-1/2 são testes qualitativos, de alta especificidade e sensibilidade para a detecção de anticorpos específicos para o vírus da imunodeficiência humana dos tipos 1 e 2. Podem ser realizados com amostras de soro, plasma e sangue total. Teste Rápido Rapid Check HIV 1&2 Identificação dos componentes e apresentação • 25 testes rápidos (acondicionados em envelopes aluminizados com saquinho de sílica) • 25 pipetas plásticas descartáveis • 25 lancetas descartáveis • 01 frasco de solução tampão (3 ml) • 01 manual de instrução de uso Cada teste consiste de um dispositivo de suporte (corrida de teste) contendo em seu interior uma tira de nitrocelulose impregnada com proteínas recombinantes do HIV-1 e HIV-2 e anticorpos anti-IgG e anti-IgM humanos • O teste deve ser utilizado somente para realizações de testes in vitro • Uma vez aberta a embalagem, a umidade será atraída para a membrana. Portanto, recomenda-se que a embalagem só seja aberta no momento da utilização do teste • O profissional deve identificar corretamente o teste no momento da execução do teste • Todos os procedimentos para execução do teste devem ser rigorosamente seguidos, conforme 74 orientação do fabricante • Os procedimentos de biosegurança devem ser adotados em todas as etapas de manipulação e processamento. Conservação e estocagem do material • O teste e a solução tampão devem ser armazenados em temperatura, entre 5ºC e 30ºC. Ultrapassando 30ºC, deve-se armazenar em geladeira, entre 2 a 8ºC • Nenhum componente do kit pode ser congelado, nem utilizado após a data de validade. Teste Rápido DPP Bio-Manguinhos HIV 1/2 Identificação dos componentes e apresentação • 20 suportes DPP HIV 1/2 embalados individualmente em papel aluminizado mais saquinho de sílica • 01 Frasco de corrida de 3 mL • 20 alças coletoras descartáveis de 10 µL • 20 frascos para eluição com 1 mL • 20 lancetas estéreis descartáveis • 20 curativos adesivo estéreis • Manual de instrução de uso Cuidados e precauções • Somente para uso em diagnóstico in vitro. • Este conjunto diagnóstico contém produtos biológicos e químicos podendo representar uma fonte de risco. Ao manusear este conjunto, observe as precauções de biossegurança necessárias • Os testes nunca devem ser utilizados após sua data de validade • Os envelopes contendo os suportes de teste devem permanecer lacrados até o momento de sua utilização • Componentes ou kits de lotes diferentes nunca devem ser misturados • A integridade dos componentes do kit sempre deve ser verificada. Em especial, assegurar-se de que a embalagem dos suportes esteja intacta. Caso algum dos componentes do kit demonstre irregularidade, descartá-lo(s) • Nunca fracionar os kits Conservação e estocagem do material • O kit deve ser mantido/armazenado entre 2°C e 30°C. Recomenda-se a conservação do kit em geladeira somente em locais onde a temperatura ambiente ultrapasse 30°C. • Não congele o kit ou seus componentes. 75 • O tampão de corrida também deve ser mantido entre 2ºC e 30ºC, em seu recipiente original (frasco conta-gotas). 76 PROCEDIMENTOS SEQÜENCIADOS PARA DETECÇÃO DE ANTICORPOS ANTI-HIV EM INDIVÍDUOS COM IDADE ACIMA DE DEZOITO MESES UTILIZANDO TESTES RÁPIDOS 77 Com o objetivo de realizar a detecção de anticorpos anti-HIV para o diagnóstico da infecção pelo HIV, utilizando testes rápidos, é exigido o cumprimento rigoroso dos procedimentos de acordo com o algoritmo disposto nesse documento. Todos os conjuntos de diagnóstico utilizados deverão estar obrigatoriamente registrados na Agência de Vigilância em Saúde – ANVISA, e ter sido validado pelo Ministério da Saúde de acordo com o estudo pré-estabelecido de validação. Os serviços de saúde que realizarem testes rápidos para o diagnóstico da infecção pelo HIV por punção digital deverão adotar, obrigatoriamente, o fluxograma da portaria nº 151 de 14 de outubro de 2009. A) A amostra que apresentar resultado não reagente no teste rápido 1 (TR1), terá o diagnóstico definido como "Amostra Não Reagente para HIV"; B) A amostra que apresentar resultado reagente no teste rápido 1 (TR1) deverá passar obrigatoriamente para a realização do segundo teste (TR2). B.1) Amostras reagentes nos TR1 E TR2 terão o diagnóstico definido como “Amostra Reagente para HIV”. B.2) Amostras reagentes no TR1 e não reagente no TR2 (DISCORDANTES), não terão o resultado definido e uma nova amostra deverá ser solicitada por punção venosa para ser submetida ao Fluxograma Mínimo para o Diagnóstico Laboratorial da Infecção pelo HIV. NOTA: Caso não apareça a banda controle ou ocorra algum problema no processo de realização e leitura do teste, esses serão considerados INVÁLIDOS e o teste deverá ser repetido com a mesma metodologia e com mesmo conjunto diagnóstico, de preferência com outro lote. OBSERVAÇÕES: 1) A detecção de anticorpos anti-HIV em crianças com idade inferior a 18 meses não caracteriza infecção devido à transferência dos anticorpos maternos anti-HIV através da placenta, sendo necessária a realização de outros testes complementares para a confirmação do diagnóstico. 2) Os testes rápidos devem ser realizados imediatamente após a coleta da amostra e o indivíduo orientado a aguardar o resultado no local. 3) Deverão constar dos laudos do diagnóstico sorológico da infecção pelo HIV, o nome do ensaio, as metodologias de cada conjunto diagnóstico realizado e a interpretação final da amostra, que será “Amostra Reagente para HIV” ou “Amostra Não Reagente para HIV”. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE SVS/MS Nº 151, DE 14 DE OUTUBRO DE 2009 DOU 16.10.2009 A SECRETÁRIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE SUBSTITUTA, no uso das atribuições que lhe confere o Art. 45, do Decreto nº. 6.860, de 27 de maio de 2009, Considerando a necessidade de se criar alternativas para a ampliação do acesso ao diagnóstico da infecção pelo HIV, em atendimento aos princípios da equidade e da integralidade da assistência, bem como da universalidade de acesso aos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS; Considerando a necessidade do diagnóstico rápido da infecção pelo HIV em situações especiais; Considerando que a identificação dos indivíduos infectados pelo HIV é importante porque permite o acompanhamento precoce nos serviços de saúde e possibilita a melhora na qualidade de vida; Considerando que a definição do estado sorológico de um indivíduo infectado pelo HIV é fundamental para a sua maior proteção e para o controle da infecção e da disseminação do vírus; 78 e Considerando que o diagnóstico sorológico da infecção pelo HIV deve ser realizado em indivíduos com idade acima de 18 meses, resolve: Art. 1º Aprovar, na forma dos Anexos a esta Portaria, etapas sequenciadas e o Fluxograma Mínimo para o Diagnóstico Laboratorial da Infecção pelo HIV em indivíduos com idade acima de 18 (dezoito) meses, de uso obrigatório pelas instituições de saúde públicas e privadas. Art. 2º Determinar o uso do teste rápido para o diagnóstico da infecção pelo HIV em situações especiais, conforme disposto no Anexo II a esta portaria. Art. 3º Definir que as amostras podem ser de soro, plasma, sangue total ou sangue seco em papel filtro e devem ser coletadas em conformidade com o que é preconizado pelo fabricante do teste a ser utilizado. Parágrafo Único. Fica vedada a mistura de amostras (pool) para a utilização em qualquer teste laboratorial, com o objetivo de diagnosticar a infecção pelo HIV. Art. 4º Estabelecer que todos os reagentes utilizados para o diagnóstico da infecção pelo HIV devem ter registros vigentes na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, de acordo com o disposto na Resolução RDC nº. 302/ANVISA, de 13 de outubro de 2005, suas alterações, ou outro instrumento legal que venha a substituí-la. Art. 5º O Ministério da Saúde, por intermédio do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde - DDSTAIDS/SVS/MS, definirá as normas técnicas necessárias aos programas de validação de reagentes para uso no diagnóstico da infecção pelo HIV. Art. 6º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. Art. 7º Revogar a Portaria nº. 34/SVS de 28 de julho de 2005, publicada no Diário Oficial da União nº. 145, Seção 1, pág. 77, de 29 de julho de 2005. ANEXO II Diagnóstico da infecção pelo HIV por Testes Rápidos 1. Do Diagnóstico Rápido O diagnóstico rápido da infecção pelo HIV é feito exclusivamente com testes rápidos validados pelo Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. As instituições de saúde públicas e privadas que utilizem testes rápidos devem promover e manter os processos de qualificação e educação permanente para os profissionais de saúde em conformidade com as diretrizes do Ministério da Saúde. 1.1. O diagnóstico rápido poderá ser realizado nas seguintes situações especiais: a) Rede de serviços de saúde sem infraestrutura laboratorial ou localizada em regiões de difícil acesso; b) Centro de Testagem e Aconselhamento - CTA; c) Segmentos populacionais flutuantes; d) Segmentos populacionais mais vulneráveis; e) Parceiros de pessoas vivendo com HIV/AIDS; f) Acidentes biológicos ocupacionais, para teste no paciente fonte; g) Gestantes que não tenham sido testadas durante o pré-natal ou cuja idade gestacional não assegure o recebimento do resultado do teste antes do parto; h) Parturientes e puérperas que não tenham sido testadas no pré-natal ou quando não é conhecido o resultado do teste no momento do parto; i) Abortamento espontâneo, independentemente da idade gestacional; j) Outras situações especiais definidas pelo Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. 79 1.2. As amostras deverão ser coletadas de acordo com as instruções dos fabricantes dos conjuntos diagnósticos. 2. Da Realização do Teste Rápido O diagnóstico rápido da infecção pelo HIV deve ser realizado com testes rápidos (TR) capazes de detectar anticorpos anti-HIV 1, incluindo o grupo O e anticorpos anti-HIV 2, de acordo com o fluxograma do Anexo IV. 2.1. Os testes rápidos devem ser realizados imediatamente após a coleta da amostra e o indivíduo orientado a aguardar o resultado no local. 3. Do resultado dos testes rápidos 3.1. A amostra com resultado não reagente no teste rápido 1 (TR1) será definida como: "Amostra Não Reagente para HIV". 3.1.1. O laudo deverá incluir a seguinte ressalva: "Em caso de suspeita de infecção pelo HIV, uma nova amostra deverá ser coletada 30 dias após a data da coleta desta amostra". 3.2. A amostra com resultado reagente no TR1 deverá ser submetida ao teste rápido 2 (TR2). Quando disponível no serviço de saúde, o Imunoblot rápido também poderá ser utilizado como TR2. 3.2.1. A amostra com resultados reagentes no TR1 e no TR2 terá seu resultado definido como: "Amostra Reagente para HIV". 3.3. A amostra com resultados discordantes entre TR1 e TR2 não terá seu resultado definido. Nesse caso, o laudo não será liberado. Uma amostra deverá ser coletada por punção venosa e submetida ao Fluxograma Mínimo para o Diagnóstico Laboratorial da Infecção pelo HIV em indivíduos com idade acima de 18 Meses, de acordo com o Anexo III a esta Portaria. 3. 4. Caso o resultado do TR1 ou do TR2 seja inválido, deve-se repetir o teste com o mesmo conjunto diagnóstico, se possível com um lote distinto do que foi utilizado inicialmente. 3. 5. Persistindo o resultado inválido, uma amostra deverá ser coletada por punção venosa e submetida ao Fluxograma Mínimo para o Diagnóstico Laboratorial da Infecção pelo HIV em Indivíduos com Idade acima de 18 Meses, de acordo com o Anexo III a esta Portaria. 4. Do Laudo 4.1. Deverão constar no laudo do diagnóstico rápido da infecção pelo HIV, o nome do ensaio e as metodologias de cada conjunto diagnóstico utilizado. 4.2. Deverá constar, no mesmo laudo, a interpretação final do resultado da amostra, que será: Amostra Reagente para HIV ou Amostra Não Reagente para HIV. 4.3. O laudo deverá estar de acordo com o disposto na Resolução RDC nº 302/ANVISA, de 13 de outubro de 2005, suas alterações, ou outro instrumento legal que venha a substituí-la. 80 3 - Teste Rápido para Sífilis O teste rápido para sífilis é um teste imunocromatográfico, treponêmico, de uso único para detecção de anticorpos específicos para Treponema pallidum. Pode ser realizado com amostra de sangue total, soro ou plasma. Dentro da proposta de ampliação do acesso ao diagnóstico, o teste rápido para sífilis é utilizado em situações especiais e como triagem. O Fluxograma para Pesquisa de Sífilis Utilizando Teste Rápido Treponêmico da Portaria nº 3.242, de 30 de dezembro de 2011, deverá ser seguido. De acordo com o fluxograma, obtendo-se resultado reagente no teste rápido para sífilis, há a necessidade de coletar amostra por punção venosa e encaminhar para o laboratório para que o Fluxograma Laboratorial para Pesquisa de Sífilis seja realizado (Portaria nº 3.242). Em situações específicas, em caráter de exceção, há a recomendação de tratamento somente com resultado do teste rápido reagente. Essas situações estão dispostas no Manual de Teste Rápido para Sífilis. Teste Rápido Rapid Check Sífilis Identificação dos componentes e apresentação • 25 testes rápidos (acondicionados em envelopes aluminizados com saquinho de sílica) • 25 pipetas plásticas descartáveis • 25 lancetas descartáveis • 01 frasco de solução tampão (3 ml) • 01 manual de instrução de uso Cada teste consiste em uma fita de nitrocelulose impregnada com: proteínas recombinantes do Treponema pallidum-TP, partículas de látex conjugadas a antígenos recombinantes de TP, anticorpos antiimunoglobulina humana conjugados às partículas de látex. • O teste deve ser utilizado somente para realizações de testes in vitro • Uma vez aberta a embalagem, a umidade será atraída para a membrana. Portanto, recomendase que a embalagem só seja aberta no momento da utilização do teste • O profissional deve identificar corretamente o teste no momento da execução do teste • Todos os procedimentos para execução do teste devem ser rigorosamente seguidos, conforme orientação do fabricante 81 • Os procedimentos de biossegurança devem ser adotados em todas as etapas de manipulação e processamento. Conservação e estocagem do material • O teste e a solução tampão devem ser armazenados em temperatura, entre 5ºC e 30ºC. Ultrapassando 30ºC, deve-se armazenar em geladeira, entre 2 a 8ºC • Nenhum componente do kit pode ser congelado, nem utilizado após a data de validade. 82 PROCEDIMENTOS SEQÜENCIADOS PARA DETECÇÃO DE ANTICORPOS TREPONÊMCIOS EM INDIVÍDUOS COM IDADE ACIMA DE DEZOITO MESES UTILIZANDO TESTES RÁPIDOS Com o objetivo de realizar a detecção de anticorpos treponêmicos para a triagem de sífilis, utilizando testes rápidos, é exigido o cumprimento rigoroso dos procedimentos de acordo com o algoritmo disposto nesse documento. Todos os conjuntos de diagnóstico utilizados deverão estar obrigatoriamente registrados na Agência de Vigilância em Saúde – ANVISA. Os serviços de saúde que realizarem testes rápidos para a triagem da sífilis por punção digital deverão adotar, obrigatoriamente, o fluxograma da portaria nº 3.242 02 de janeiro de 2012. A) Para a amostra com resultado Não Reagente no teste rápido treponêmico, reportar no laudo o resultado obtido. "Amostra Não Reagente para Sífilis"; B) Para a amostra com resultado Reagente no teste rápido treponêmico, reportar no laudo o resultado obtido. “Amostra Reagente para Síflis”; O laudo deverá incluir as seguintes ressalvas: "Uma amostra por punção venosa deverá ser colhida imediatamente para a realização do Fluxograma Laboratorial da Sífilis." "O resultado laboratorial indica o estado sorológico do indivíduo e deve ser associado à sua história clínica e/ou epidemiológica". NOTA: Caso não apareça a banda controle ou ocorra algum problema no processo de realização e leitura do teste, esses serão considerados INVÁLIDOS e o teste deverá ser repetido com a mesma metodologia e com mesmo conjunto diagnóstico, de preferência com outro lote. 83 OBSERVAÇÕES: 1) A interpretação clínica dos resultados obtidos nos testes realizados e a definição de conduta terapêutica ficarão a cargo do profissional solicitante ou de outro que esteja acompanhando o paciente. 2) Os testes rápidos devem ser realizados imediatamente após a coleta da amostra e o indivíduo orientado a aguardar o resultado no local. 3) A detecção de anticorpos para sífilis, em crianças com idade inferior a 18 meses, não caracteriza infecção, em virtude da transferência dos anticorpos maternos ao feto, sendo necessária a realização de outros testes complementares para a confirmação do diagnóstico. 4) Deverão constar dos laudos para pesquisa sorológica da sífilis, o nome do ensaio, as metodologias de cada conjunto diagnóstico realizado e a interpretação final da amostra, que será “Amostra Reagente para Sífilis” ou “Amostra Não Reagente para Sífilis”. DOU Nº 1 de 02 de janeiro de 2012 GABINETE DO MINISTRO PORTARIA Nº 3.242, DE 30 DE DEZEMBRO DE 2011 Dispõe sobre o Fluxograma Laboratorial da Sífilis e a utilização de testes rápidos para triagem da sífilis em situações especiais e apresenta outras recomendações. O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso das atribuições que lhe conferem os incisos I e II do parágrafo único do art. 87 da Constituição; e Considerando a Portaria Nº 699/GM/MS, de 30 de março de 2006, que regulamenta as Diretrizes Operacionais dos Pactos pela Vida e de Gestão; Considerando a Portaria No- 399/GM/MS, de 22 de fevereiro de 2006, que divulga o Pacto pela Saúde 2006 - Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais do referido Pacto; Considerando o Plano Operacional para a Redução da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis no Brasil; Considerando a meta de eliminação da sífilis congênita até 2015 (<0,5/1.000 nascidos vivos) de acordo com os objetivos do milênio; Considerando as recomendações do Manual de Controle das DST, do Ministério da Saúde, referentes ao diagnóstico, tratamento e acompanhamento da sífilis, suas alterações ou outro documento que venha a substituí-lo; Considerando as recomendações do Manual de Teste Rápido para Sífilis e HIV do Ministério da Saúde, referentes à utilização dos testes rápidos e seguimento do paciente, suas alterações ou outro documento que venha a substituí-lo; Considerando a sífilis como uma doença milenar, que apresenta métodos de diagnósticos simples e tratamento eficaz; Considerando que a definição do diagnóstico da sífilis, assim como o seu tratamento oportuno, é fundamental na redução da transmissão vertical e da morbimortalidade; Considerando a necessidade de se criarem alternativas para ampliar o acesso ao diagnóstico da sífilis e melhorar a qualidade deste, em atendimento aos princípios da equidade e da integralidade da assistência, bem como da universalidade de acesso aos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS; 84 Considerando a rotina estabelecida no Brasil para a definição do diagnóstico laboratorial da sífilis, a necessidade de normatização e as situações especiais que justificam a utilização de testes rápidos para sífilis; Considerando que a pesquisa sorológica da sífilis deve ser realizada em indivíduos com idade acima de 18 meses, com ressalva para a investigação de sífilis congênita, resolve: Art. 1° Ficam determinado que as instituições de saúde públicas e privadas utilizem o "Fluxograma Laboratorial da Sífilis em Indivíduos com Idade acima de 18 Meses" e cumpram a sequência de etapas, conforme disposto no anexo I a esta Portaria. Art. 2° Ficam determinado o uso do teste rápido treponêmico para sífilis em situações especiais, conforme disposto no anexo II a esta Portaria. Art. 3° As Considerações e Recomendações dispostas no anexo III a esta Portaria devem observadas para pesquisa de Sífilis. Art. 4° As amostras podem ser de soro, plasma, sangue total, líquido cefalorraquidiano ou amostras colhidas em papel-filtro e devem ser coletadas em conformidade com o que é preconizado pelo fabricante de cada conjunto diagnóstico (kit), não sendo permitidas adaptações de metodologias diagnósticas. Parágrafo Único. Fica vedada a mistura de amostras (pool) para a utilização em qualquer teste laboratorial, com o objetivo de diagnosticar sífilis. Art. 5° Todos os reagentes utilizados para o diagnóstico da sífilis devem ter registros vigentes na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), de acordo com o disposto na Resolução RDC No- 302, de 13 de outubro de 2005, suas alterações ou outro instrumento legal que venha a substituí-la. Art. 6° O Ministério da Saúde, por intermédio do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais, da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), Ministério da Saúde (MS), definirá as diretrizes para os programas de capacitação (formação) profissional visando à realização dos testes rápidos para sífilis. Art. 7° Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. ALEXANDRE ROCHA SANTOS PADILHA UTILIZAÇÃO DE TESTE RÁPIDO TREPONÊMICO PARA SÍFILIS EM SITUAÇÕES ESPECIAIS 1 - Da utilização de teste rápido treponêmico A detecção da sífilis utilizando teste rápido treponêmico em situações especiais é feita exclusivamente com testes rápidos com registro vigente na Anvisa. O teste rápido treponêmico somente poderá ser realizado por profissionais capacitados e certificados para a execução, leitura e interpretação dos resultados. A capacitação é de responsabilidade das instituições. A detecção da sífilis com teste rápido treponêmico deverá ser realizada nas seguintes situações especiais: a) Localidades e serviços de saúde sem infraestrutura laboratorial ou regiões de difícil acesso; b) CTA - Centro de Testagem e Aconselhamento; c) Segmentos populacionais mais vulneráveis às DST, de acordo com situação epidemiológica local; d) População indígena; e) Gestantes e seus parceiros em unidades básicas de saúde, particularmente no âmbito da Rede Cegonha; e f) Outras situações especiais definidas pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais/SVS/MS para ampliação do diagnóstico da sífilis. 85 A amostra deverá ser submetida ao teste rápido treponêmico seguindo instruções do fabricante para a execução, leitura e interpretação do resultado. Os testes rápidos devem ser realizados imediatamente após a coleta da amostra, orientando o indivíduo a aguardar o resultado no local. 2 - Da realização, leitura e interpretação do teste rápido treponêmico (anexo II-A) Todo teste deve ter uma região para leitura do resultado da amostra e outra para o controle do teste. O teste será considerado válido sempre que aparecer reatividade na região controle. Caso não apareça reatividade na região controle, o teste não é considerado válido e recomenda-se a realização de outro teste rápido treponêmico do mesmo lote ou, se disponível, com número de lote diferente. Persistindo teste não válido, coletar amostra por punção venosa e encaminhá-la para realização do Fluxograma Laboratorial da Sífilis. Amostra será reagente quando houver reatividade na região para leitura do resultado da amostra e também na região para controle do teste. Amostra será não reagente quando houver reatividade somente na região para controle do teste. Para a amostra com resultado Não Reagente no teste rápido treponêmico, reportar no laudo o resultado obtido. O laudo laboratorial deverá incluir a seguinte ressalva: "O resultado laboratorial indica o estado sorológico do indivíduo e deve ser associado à sua história clínica e/ou epidemiológica". Para a amostra com resultado Reagente no teste rápido treponêmico, reportar no laudo o resultado obtido. O laudo deverá incluir as seguintes ressalvas: "Uma amostra por punção venosa deverá ser colhida imediatamente para a realização do Fluxograma Laboratorial da Sífilis." "O resultado laboratorial indica o estado sorológico do indivíduo e deve ser associado à sua história clínica e/ou epidemiológica". 3 - Do laudo Os resultados dos testes rápidos treponêmicos deverão ser expressos como Reagente ou Não Reagente. O laudo deverá estar de acordo com o disposto na Resolução RDC No- 302/Anvisa, de 13 de outubro de 2005, suas alterações ou outro instrumento legal que venha a substituí-la. Deverão constar no laudo o nome do teste, a metodologia utilizada, as informações sobre lote e validade e o resultado da amostra. As ressalvas devem estar presentes nos laudos de acordo com os resultados encontrados na amostra analisada. 86 Texto de Referência 9 Estratégias de mediação: algumas possibilidades para provocar aprendizagem significativa Léa Depresbiteris O trabalho do educador, do professor tornado educador, é esse o trabalho de interpretação do mundo, para que um dia este mundo não nos trate mais como objetos e para que sejamos povoadores do mundo como homens. (Milton Santos) I- A polissemia do termo mediação O termo mediação vem sendo utilizado, cada vez com maior frequência, na literatura dos diversos campos do conhecimento: jurídico, terapêutico, educacional. Este texto busca focar a mediação na educação, com a finalidade de suscitar reflexões sobre o atual papel do professor no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. Logo de início, desejo esclarecer que o papel de professor como mediador não deve ser vislumbrado na idéia de um facilitador da aprendizagem, como algumas pessoas conceituam a mediação na sala de aula. O professor, que se pretenda mediador, é um elemento ativo, com intencionalidade na busca de autonomia cognitiva e afetiva do educando. Nesta perspectiva, deve ser um profundo conhecedor dos conteúdos de sua área de atuação e uma pessoa que tenha como crença de que todos nós podemos aprender não importa idade, sexo, etnia, gênero e raça. Para melhor compreender a mediação na escola, creio que seria interessante discorrer sucintamente sobre possíveis significados desse conceito, por meio de algumas situações. Situação 1 Depois de vinte anos de casados, Teresa e Vicente, resolveram separar-se. Brigas e mais brigas permeiam a divisão de bens do casal. Paulo, contratado como advogado, deverá mediar o conflito. - Ele é um traidor, gritou Teresa. - Você, reagiu Vicente, é que não tem noção do que está pedindo (sua voz mostrase alterada e seus gestos demonstram irritação). A idéia de mediação de Paulo é que, em uma causa jurídica, não deve haver “perdedores” nem “ganhadores”. O mediador é aquele que se coloca entre duas partes, que não se confunde com elas, mas tem credibilidade para ambas, estabelecendo um traço de união pela negociação, pela conciliação. 87 Situação 2 Dois colegas conversam sobre um projeto de responsabilidade social da empresa. No início da conversa, mostram-se interessados em compreender os objetivos estabelecidos, de modo a escolher as melhores estratégias de ação. Em um determinado momento, os dois começam a ter conflitos: uns deles acham que, no projeto, deve-se incluir uma grande quantidade de pessoas de baixa renda. Afinal, o projeto é de responsabilidade social; o outro não concorda com o número de participantes sugeridos pelo colega. Sua idéia é de que o dinheiro deve ser melhor utilizado em marketing do projeto. A discussão atinge um clímax de tensão e os dois colegas começam a desviar-se do tema propriamente dito, com ataques específicos a características pessoais. - Você é muito inflexível. Acho que sua mulher o abandonou por causa disso. - Ah! Eu sou inflexível? E você, que é individualista. Nunca quis saber de pessoas pouco favorecidas. Você quer é ter cada vez mais aprovação do chefe, não é mesmo? Nesta situação, os colegas precisam de uma terceira pessoa, um mediador. Situação 3 Ana Maria acredita na mediação da aprendizagem tanto com jovens, como com adultos. Ela conta que em certa ocasião ficou surpresa ao perguntar a professores da educação básica, o conceito de quadrado. Alguns professores falaram sem hesitar: uma figura com quatro lados iguais. Ana desenhou, no quadro, o conceito mencionado traçando quatro segmentos de reta (I I I I). Imediatamente as pessoas perceberam a intenção de Ana, e começaram a conversar e a descrever melhor essa figura geométrica. Alguns professores sentiram a fragilidade do conceito e acrescentaram as seguintes informações: os lados iguais devem estar interligados, formando uma figura e que ela deveria formar ângulos. - Mas são ângulos retos, completou uma professora atenta a todas as palavras dos colegas. - Retos? Eu lembro que na escola estudei isso, mas esqueci, declarou um professor de História. - Retos são ângulos com 90º, retrucou a professora atenta. As pessoas pareciam extremamente interessadas na descrição do que era a figura geométrica do quadrado. Algumas expressaram sua admiração, dizendo que mesmo escolarizadas, com anos de experiência na docência, nunca tinham atentado para a necessidade de o educador não dizer o conceito, mas reconstruilo com o grupo. Acharam que Ana incentivou a todos a participar da discussão, de modo muito agradável, com humor. Levou-os `a análise e à síntese de que o conceito de quadrado é o de uma figura geométrica composta de quatro lados iguais, unidos entre si, formando quatro ângulos retos. Ana sabe que em uma educação 88 tradicional o papel do aluno parece ser o de reproduzir as respostas para as quais foram preparados. Os conceitos são elementos isolados, vazios de sentido, facilmente esquecidos. É por isso que ela defende a idéia de que, os conteúdos devem fazer sentido para os alunos. Quantos alunos sabem conjugar verbos, mas não sabem empregá-los adequadamente em uma frase? Ana acredita que a mediação pode transformar essa maneira de agir. Em todas essas situações, a mediação está presente, contudo seus significados e abordagens são diversos. Na situação 1, o conceito de mediação está relacionado ao campo jurídico. Um advogado está em meio a um conflito da separação de um casal. Ele acredita que os envolvidos devem expressar seus pontos de vista, explicitar não somente o foco do conflito, no caso a divisão dos bens, mas expressarem suas emoções, interesses, mágoas. O advogado deverá criar um ambiente propício para isso. Ele aprendeu a ser mediador de conflitos em outras situações. Ele sabe que na mediação de conflitos, busca-se livremente soluções, que podem não estar delimitadas pelo conflito em si, mas que podem ter sido geradas no passado ou no próprio processo de discussão, a partir de diferenças das partes envolvidas. Nessa mediação, não se analisa apenas o lado objetivo do conflito, mas, sobretudo, o lado subjetivo. Aliás, esse é um dos princípios mais importantes da mediação na área jurídica: trabalhar a subjetividade do conflito, o lado oculto que todo conflito apresenta, o não verbal, o que se esconde no conteúdo latente do conflito, e que, muitas vezes, é diferente do conteúdo que nele se manifesta. Em síntese, o lado emocional torna-se extremamente importante na mediação. Na segunda situação, ocorre algo constante nas relações interpessoais nos dias de hoje: a dificuldade de diálogo. Ofensas pessoais, perda de controle, taquicardia, nervosismo, atos violentos são algumas evidências dessa afirmativa, na contramão do que hoje se defende: lidar com as diferenças. Não se pretende dizer que se deva repetir ou concordar plenamente com o outro, mas que é necessário encontrar argumentos para uma discussão na qual o conflito não se instale como empecilho ao agir. Gergen (1999) apresenta algumas formas de coordenação de ações para um diálogo transformador, destacando a mais adequada para a mediação que é a da co-constituição. A co-constituição para um diálogo transformador busca manter uma mutualidade de ritmo, pelo qual os participantes de uma conversa podem aproximar-se, dividir um espaço de modo construtivo. Um dos caminhos propostos por Gergen (op.cit) para alcançar essa mutualidade é por meio do “sombreamento” (shading) semiótico, ou seja a substituição de uma palavra ou sintagma por um equivalente próximo. Por exemplo, tensão no lugar de antagonismo, irritação em vez de raiva. Dizer que há uma tensão entre nós, em vez de antagonismo, reduz o grau de hostilidade implícita, substituindo a sensação de ataque pessoal e possibilitando que a conversa flua de modo mais objetivo. Para esse estudioso, deve-se evitar dois tipos de coordenação: a tanatópica (terminal) e a sedimentada. A primeira leva à morte do significado. Produz argumentos hostis, aniquilação mútua, uma relação em que uma pessoa menospreza as idéias do outro, encontrando defeitos, demonstrando superioridade. Na coordenação sedimentada as pessoas querem saber a opinião das outras, mas podem provocar o congelamento do significado, uma vez que existe pouca possibilidade de transformação. As relações são baseadas em princípios de interdependência profundamente arraigados, por exemplo, pacientes e médicos, professor e aluno e não favorecem, muitas vezes um ambiente propício para a negociação. Finalmente na terceira situação, Ana mostra-se como mediadora educacional. Reforço, novamente, que um professor mediador não é um facilitador da aprendizagem, mas uma 89 pessoa que age com intencionalidade, busca a reciprocidade de suas ações, luta para que se desvele um significado para o que se está aprendendo e, mais além, possa transcender, aplicar seus conhecimentos para melhorar sua vida escolar, no trabalho e na sociedade. Mas, enfim, o que significa mediar no contexto educacional? Muitos leitores devem estar questionando. Nesse momento, creio que seria interessante voltar um pouco no tempo e analisarmos a origem etimológica da palavra mediação. Segundo o dicionário da língua francesa, foi só no século XV, que o termo mediação aparece como idéia de intermediar conflitos, conciliar pessoas. Se tomarmos a raiz antiga da palavra mediação no latim, verificamos que med significava, entre outros sentidos, divisão (DIEZ &TAPÍA, 1999). Outro significado da raiz med foi o de curar, levar a ordem onde há perturbação, cuidar. Por exemplo, a Medicina. A raiz med completada pelo sufixo tor, que significa ação começa a definir o mediador como aquele que age, que intervém para buscar soluções mais adequadas para as partes de um conflito. No campo jurídico, a mediação caminha no sentido de evitar ganhadores e perdedores. Schinitman (1999) conceitua mediação como um método de solução de conflitos no qual as partes envolvidas recebem a intervenção de um terceiro, o mediador que, por meio da reabertura do diálogo contribui para chegar a possibilidades inventivas para a solução da disputa, a fim de que ambos fiquem satisfeitos com as decisões. No campo educacional, muitos estudiosos vêm defendendo a idéia de mediação. Sócrates, por exemplo, famoso filósofo grego, em vez de dar aulas como um mestre tradicional, conversava, fazia perguntas, debatia, principalmente quando iniciava uma conversa com os aprendizes. Sócrates tinha uma técnica: agia como se nada soubesse. Ao longo dos debates, levava os oponentes a reconhecer a fraqueza de seus próprios argumentos e a compreender os problemas encontrados no diálogo. Sócrates fazia uma analogia de sua função de mestre e da profissão de sua mãe que era parteira. Para ele, não se dava a luz à criança, apenas auxiliava-se a parturiente. Nessa comparação, Sócrates mostrava que seu diálogo era feito em dois momentos: o primeiro correspondia às "dores do parto". Nesta etapa, o filósofo partia da premissa de que nada sabia e levava o interlocutor a apresentar suas opiniões. Em seguida, fazia-o perceber as próprias contradições ou ignorância para que realizasse uma depuração intelectual. Mas, para Sócrates, só a depuração não levava à verdade. Chegar a ela constituía a segunda fase do processo. Aí, ocorria o "parto das idéias" (expresso pela palavra maiêutica), momento de reconstrução do conceito, em que o próprio interlocutor ia "polindo" as noções até chegar ao conceito verdadeiro por aproximações sucessivas. O papel do educador para Sócrates era o de ajudar o discípulo a caminhar na busca de uma amplitude de idéias, despertando sua cooperação para que ele conseguisse, por si próprio, "iluminar" sua inteligência e sua consciência. O verdadeiro mestre não era um provedor de conhecimentos, mas alguém que despertava os espíritos. Segundo Sócrates, admitir a reciprocidade ao exercer sua função iluminadora, permitia que os alunos contestassem seus argumentos da mesma forma que ele contestava os argumentos dos alunos. Para este filósofo, só a troca de idéias dá liberdade ao pensamento e à sua expressão, que são condições imprescindíveis para o aperfeiçoamento do ser humano. A idéia de mediação é central na teoria de Vygotsky (2004), em que essa mediação é feita pela linguagem, ferramenta essencial para capacitar uma criança a representar mentalmente 90 objetos, situações, enfim, fenômenos do mundo. Pela linguagem, a criança pode lidar com sistemas simbólicos e chegar a abstrações e generalizações. Para Vygotsky (op.cit), os sistemas simbólicos, que se interpõem entre o sujeito e o conhecimento, fundam-se no social. Ele estabelece uma analogia entre a linguagem e os instrumentos de trabalho que os seres humanos foram criando ao longo dos tempos. A linguagem tem um papel fundamental na formação das características psicológicas humanas. É pela linguagem que os seres humanos podem designar os objetos do mundo e a qualidade das relações entre eles. É pelos instrumentos de trabalho que o homem lida com o meio. Quando o homem inventou o arco, a flecha e os instrumentos cortantes, gerou formas de sobreviver e de transmitir sua cultura às futuras gerações que as foram aperfeiçoando e criando novos instrumentos. O mesmo ocorreu com a linguagem que foi se aperfeiçoando e se tornando o verdadeiro instrumento de mediação do homem para com o mundo (MARTINS, 2004). A linguagem permite que as pessoas lidem com os objetos do mundo exterior, mesmo que eles estejam ausentes. Pela linguagem, os seres humanos incorporam conceitos. Ao falar de conceitos, Vygotsky enfatiza a diferença entre conceitos espontâneos e conceitos científicos. Os conceitos espontâneos referem-se aos conceitos do dia-a-dia da criança. Os conceitos científicos são aqueles adquiridos por meio do ensino realizado numa escola ou fora dela, mas sempre construídos de maneira sistematizada, organizada. Assim, um conceito, por exemplo o de cachorro, é algo impregnado de experiência. O conceito de cachorro, como animal mamífero, deve ser construído. A principal diferença é que os conceitos científicos, quando comparados aos conceitos cotidianos, são sistemáticos, adquiridos por meio de um sistema de instrução formal. Para Vygotsky, o significado da palavra constitui a unidade de pensamento e linguagem. O significado da palavra é, ao mesmo tempo, um fenômeno verbal e intelectual. O foco central no desenvolvimento dos significados das palavras não será uma mera acumulação de associações entre palavras e objetos, mas uma transformação estrutural do significado. Paulo Freire, importante educador brasileiro, é outro estudioso da mediação, da interação dialógica entre professor e aluno. Freire (MARTINS, 2004) tem a pergunta e a linguagem como estratégias fundamentais para uma aprendizagem que possibilita a ampliação do processo de pensar. " É necessário que o educando, ao perguntar sobre um fato, tenha na resposta uma explicação do fato e não a descrição pura das palavras ligadas ao fato. É preciso que o educando vá descobrindo a relação dinâmica, forte e viva, entre palavra e ação, entre palavra-ação-reflexão. Aproveitando-se, então, de exemplos concretos da própria experiência dos alunos durante uma manhã de trabalho dentro da escola, no caso de uma escola de crianças, estimulá-los a fazer perguntas em torno de sua própria prática e as respostas, então, envolveriam a ação que provocou a pergunta. Agir, falar, conhecer estariam juntos (Freire e Faundez, p.49)." Reuven Feuerstein, psicólogo romeno, diz que a mediação é um fenômeno que surgiu com o começo da humanidade, no momento em que o homem tomou consciência da morte e, com ela, do desejo de prolongar sua existência, por meio das futuras gerações. Neste sentido, o fundamento da mediação é transmitir a outros um mundo de significados, ou seja, a cultura, entendida, aqui, não como classificação de raças, etnias, mas como um conjunto de características que um povo tem em comum (MARTINS, 2004). 91 Feuerstein explica a diferença entre a aprendizagem pela exposição direta do organismo aos estímulos e a aprendizagem por meio da mediação. Na aprendizagem pela exposição direta, a criança aprende sozinha, relacionando-se com pessoas, objetos e acontecimentos de seu meio ambiente. Assim, por exemplo, se uma criança se choca contra uma mesa é provável que da próxima vez faça um esforço consciente para desviar-se dela, mesmo sem ter sido advertida por outra pessoa. Seu comportamento modifica-se por meio da retroalimentação que recebe de seu contato com o mundo. Essa aprendizagem é, em grande parte, incidental, não planejada e dependente das circunstâncias. Na aprendizagem por mediação, a criança não aprende apenas pela exposição direta ao estímulo, mas por intermédio de alguém que serve de mediador entre ela e o meio ambiente. A situação mediada consiste numa interação interpessoal que possui características estruturais especiais. Em vez de relações causais com diversos componentes fragmentados do meio ambiente, na experiência de aprendizagem mediada existe um mediador, desempenhando o papel educacional de atuar sobre o estímulo. O mediador seleciona, assinala, organiza e planeja o aparecimento do estímulo, tudo de acordo com a situação estabelecida por ele e a meta de interação mediada. Pela mediação, o mediado adquire os pré-requisitos cognitivos necessários para aprender, para beneficiar-se da experiência e conseguir modificar-se. Desta maneira, a aprendizagem mediada caracteriza-se como um processo intencional e planejado. Na aprendizagem mediada, os processos de desenvolvimento e de aprendizagem compreendem, necessariamente, a presença do "outro" como representante da cultura e mediador de sua apropriação. Embora considere que ambas as abordagens sejam necessárias para o pleno desenvolvimento do ser humano, Feuerstein acredita que a aprendizagem por exposição direta aos estímulos pode ser enriquecida pela mediação, que parte da interação do indivíduo com o mundo, tornando-o mais receptivo para o que ocorre ao seu redor. Na perspectiva de Feuerstein, o mediador é aquele que é capaz de enriquecer a interação do mediado com seu ambiente, utilizando ingredientes que não pertencem aos estímulos imediatos, mas que preparam a estrutura cognitiva desse mediado, para ir além dos estímulos recebidos, transcendendo-os. Em síntese, o mediador: • Tem um papel de parceiro na aprendizagem; • É uma testemunha privilegiada do embate entre mediado e o ambiente; • É um observador do comportamento do mediado, avaliando-o e favorecendo seu progresso, sua melhoria no pensar; • Instaura uma relação de ajuda e não de sancionamento, de coerção; • Tem uma tarefa essencial de organizar o contexto, imaginando e propondo situaçõesproblema adequadas; • Consegue colocar-se no lugar do "outro", perceber sua lógica e intenções. II- Sugestões de estratégias para a mediação no processo de ensino e aprendizagem Evidentemente, o professor mediador deve estar consciente de sua responsabilidade como educador e deverá contar com condições (principalmente tempo) para que efetive a mediação. 92 Contudo, mesmo sem as condições ideais, o professor que deseja ser mediador pode utilizar alguns princípios para tornar a aprendizagem de seus alunos mais significativa. Vejamos algumas sugestões voltadas para esse propósito. Pautar-se pelos critérios essenciais de mediação de Feuerstein Os critérios essenciais de mediação para Feuerstein são os seguintes: Intencionalidade – Por este critério, o mediador planeja uma série de ações conscientes, voluntárias e intencionais com a finalidade de levar o educando a perceber melhor, a prestar atenção, a compreender, tomar decisões, distinguir informações relevantes das não relevantes no desenvolvimento do conteúdo de sua disciplina. Reciprocidade - A reciprocidade implica troca, permuta. O mediador deve estar aberto para as respostas do mediado, sendo que este último deve fornecer indicações de que está cooperando, que se sente envolvido no processo de aprendizagem. A reciprocidade é um caminho que torna explícita uma relação implícita e faz com que a ação se torne consciente. Um professor recíproco estimula o educando a falar, a contar o que está sentindo, bem como procura entender as razões de seus comportamentos. Significado - O critério de significado diz respeito ao valor, à energia que o educando atribui à atividade, aos objetos e aos eventos que o cercam. Pelo critério de significado, o mediador demonstra interesse e envolvimento emocional para com o mediado e explicita o porquê da realização da atividade. Mediar o significado indica dotar o conteúdo que está sendo ensinado de dimensões afetivas e éticas, ou seja, de sentimentos e crenças. Esta característica é o componente dinâmico da mediação, que constitui a razão capaz de levar o aluno a cooperar com o mediador e, também, a razão que leva o mediador a cumprir seu papel. Transcendência - O critério de transcendência visa promover a aquisição de princípios, conceitos ou estratégias que possam ser generalizados para outras situações. Envolve encontrar uma regra geral que possa ser aplicada a situações correlatas. Se um educando percebe que deve organizar melhor suas coisas para não ter trabalho de procurá-las, talvez possa transcender que organizando as informações de um problema poderá resolvê-lo mais facilmente. Captar a representação mental do educando Os conhecimentos sobre a realidade implicam em diferentes representações fatos, experiências pessoais, atitudes, normas. Por exemplo, o conhecimento de João, que frequenta a 1ª série do ensino fundamental de uma escola rural, sobre árvores, é relacionado às seguintes idéias: muitas árvores juntas formam um bosque (conceito), algumas árvores possuem folhas verdes (fatos), para plantar árvores é preciso fazer buraco na terra (procedimento), as árvores não devem ser maltratadas (normas), as árvores crescem quando chove (explicações), seu avô adora árvores (atitudes). Assim, João que vive num meio rural, provavelmente com mais árvores do que Pedro que vive numa região bem urbana (COLL, 1996). Coll (op.cit) diz que ao enfrentar um novo conteúdo a ser aprendido, o aluno sempre o faz armado de uma série de conceitos, concepções, representações e conhecimentos adquiridos no decorrer de suas experiências anteriores. Assim, graças ao que o aluno já sabe, ele pode fazer uma primeira leitura do material e atribuir um primeiro significado ao processo de sua aprendizagem. Uma aprendizagem é mais significativa quanto mais relações com o sentido, o 93 educando for capaz de estabelecer. A aprendizagem significativa não é sinônima de aprendizagem finalizada, ela sempre pode ser aperfeiçoada. A representação mental nos leva à idéia de conhecimentos prévios que são chamados pelos construtivistas de esquemas. Um esquema de conhecimento é definido como a representação que uma pessoa possui em um determinado momento de sua história sobre uma parcela da realidade. Os alunos possuem uma quantidade variável de esquemas de conhecimento, isto é, eles não têm um conhecimento global e geral da realidade, mas um conhecimento exclusivo de aspectos da realidade com os quais entraram em contato. Instigar os alunos com situações-problema Os casos são elementos desencadeadores de um processo de pensar, estimulando a dúvida, a formulação e comprovação de hipóteses, o pensamento inferencial e o pensamento divergente. A estratégia de análise de casos justifica-se com base na concepção de que muitas das informações dadas na escola são despidas de relevância; os educandos são bombardeados com muitos conteúdos e os professores lhes exigem a memorização como se fossem regras fixas. Isso cria certa indisposição, sobretudo nos jovens, em encontrar um significado para o que é aprendido. Jonassen (DEPRESBITERIS&TAVARES, 2009) defende que são mais efetivas as situações de ensino e aprendizagem, que partem de situações-problema significativas, nas quais os educandos são incentivados a colocar, em prática, diversas capacidades de raciocínio. Cumpre ressaltar que, para Jonassen, os casos devem ser autênticos, derivados de situações reais, porque próximos à realidade, eles podem ter maior credibilidade e significado para o educando. Contextualizar os conteúdos, temas Etimologicamente o termo contexto vem do verbo latino contexere que significa entrelaçar, reunir tecendo. Contextualizar equivale a encadear idéias, ligando parte de um todo ou, de forma ainda mais significativa, trazer o que se ensina ao contexto do estudante, fazendo-o associar o aprendido às coisas que faz em seu cotidiano e que conhece. Lembro-me de um curso de Costura Industrial que ajudei a construir. Uma das atividades mais interessantes que a equipe desse curso resolveu fazer foi a de despertar o significado dos produtos da costura por sua historicidade. A idéia era mostrar que critérios de qualidade de um produto não são aleatórios, eles decorrem de sua própria história. Uma camisa, por exemplo, teve diferentes funções através dos tempos. Em uma época bem remota, a camisa era uma peça de roupa mais usada pelas mulheres do que pelos homens. Além de proteger do suor ajudava a esconder o corpo feminino, salvando-o dos olhares indiscretos e comentários maldosos. A camisa era indispensável também para o banho. Como o banho ainda não era um hábito diário, as pessoas que temiam machucar-se pela esfregação do corpo usavam o tecido da camisa como um anteparo para sua pele. Somente com o tempo é que a camisa foi se exteriorizando. Contudo, a camisa não era igual para todos. A dos nobres possuía mangas largas, bordadas com pedras preciosas e altas golas; a camisa dos pobres era confeccionada com tecidos rústicos e, geralmente, não possuía golas. Com o passar dos anos, as mangas foram se tornando menos sofisticadas e as altas golas substituídas por outras de menor porte, 94 enquanto suas funções permaneceram as mesmas. Por exemplo, o poder que as altas golas simbolizava passou para o colarinho, sobretudo o colarinho branco. Talvez, até seja por isso que se criou a expressão ”crime do colarinho branco”, que significa falcatruas cometidas por pessoas com alto poder econômico. Outro exemplo foi o bolso que surgiu nas roupas dos empregados que nele carregavam seus instrumentos de trabalho. Atualmente os bolsos, além de terem a função de guardar coisas, servem para proteger as mãos e enfeitar as roupas. Em síntese, a contextualização, nesse curso, foi a de mostrar que as funções das roupas e de suas partes sofrem interferências sociais e culturais, mas sobretudo econômicas. Por exemplo, uma camisa que vai ser vestida por um trabalhador geralmente possui pala dupla. Por quê? Uma das razões parece ser a de que a origem da pala foi a de um instrumento que os escravos colocavam nas costas para carregar peso. É por isso que hoje a pala de uma camisa usada por um trabalhador é dupla, isto é, tem duas partes do tecido para reforçá-la. Com isso, a camisa dura mais e o trabalhador gasta menos (DEFFUNE & DEPRESBITERIS, 2000). Transcendendo, podemos pensar o que caracteriza a natureza de cada área do conhecimento: informática, idiomas, matemática e assim por diante. Que significado pode ser estimulado em cada uma delas? Estimular o pensamento com perguntas Na relação interativa entre aluno e professor, mediador e mediado, um recurso fundamental são as perguntas. É importante conhecer alguns tipos de perguntas que possibilitam ao mediado um melhor desenvolvimento de sua forma de pensar. Belmonte (2003) nos apresenta alguns exemplos: Perguntas sobre o processo – são questões encaminhadas para se saber como o trabalho foi realizado: Que estratégias você utilizou? Como você encontrou este resultado? Perguntas para reforçar a necessidade de precisão e perfeição: O que você encontrou? Em que lugar da página? Em que exercício? Em que livro? Perguntas que possibilitam mais de uma resposta: Como você resolveu o problema? Alguém fez o problema de outra maneira? Qual é o melhor caminho para se chegar ao resultado? Perguntas sobre estratégias alternativas: Alguém utilizou outra estratégia diferente? De quantas formas podemos iniciar a resolução de um problema? Perguntas que levam a uma atividade de reflexão: Você deu uma resposta, mas está certo dela? Como ocorreu a você esta solução ou você associou a quê? Perguntas de comprovação de hipóteses: Por que você começou por este dado? O que aconteceria se você começasse por outro lugar? Se repetirmos esta seqüência, obteremos o mesmo resultado? Perguntas que estimulam a reflexão e o controle da impulsividade: Você resolveu o problema. Saiu-se bem, mas que passos você deu para chegar a esse resultado? Se não desejo cometer os mesmos erros, que devo fazer? Perguntas de conhecimento crítico: 95 Por que você diz isso? Que razões você tem para fazer essa afirmação? Perguntas de extrapolação: Em que outras situações você poderia ter repetido este processo? Onde poderemos aplicar esta estratégia ou este princípio? Estimular tipos diversos de pensamento Os conteúdos podem e devem ser usados para estimular formas de pensar diversificadas. Quando se solicita a um aluno que descreva princípios de uma teoria, seu cérebro exerce uma ação bem diferente da exercida quando se solicita que ele compare, classifique, infira, deduza, levante hipóteses. As pessoas são diferentes, os pensares são diferentes. O pensamento é uma ação mental que nos permite aproveitar os conhecimentos adquiridos na vida social e cultural, combiná-los logicamente e alcançar uma outra nova forma de conhecimento. Todo esse processo começa com a sensação e termina com o raciocínio dialógico, com a interação entre interlocutores, onde uma idéia se associa a outra e, desta união de idéias nasce uma terceira. O raciocínio humano é uma cadeia infinita de representações. Quando solicitamos que alguém nos descreva um fato, uma idéia ou um objeto, temos as representações dessa pessoa e, muitas vezes, constatamos que não temos as mesmas representações que ouvimos. Utilizar o erro como fonte de aprendizagem O professor deve compreender os erros dos alunos como hipóteses construtivas em relação a um determinado conhecimento. Como diz Torres (2007:15) a criatividade não está no erro, mas nas pessoas que são capazes de gerar novas idéias apoiando-se nele. Existem professores que querem corrigir imediatamente o erro, sem analisar suas causas. Aliás, corrigir (do latim corrigere, correctum) significa tornar reto um membro torto, um itinerário aberrante. O sentido de reformar, curar, suprimir uma malformação, um erro é um sentido derivado (BARLOW, 2006). O erro só pode ser considerado como tal se tivermos uma referência, um padrão. Sem um padrão não há erro. Neste sentido, creio que a melhor palavra para designar o que se denomina de erro é o desvio de um padrão desejado. O erro nos aponta as dificuldades que devem ser “motores” de ações de intervenção docente. O erro deve ser visto como responsabilidade tanto do professor, que deve problematizá-lo e buscar soluções inteligentes, quanto do aluno, na medida de sua receptividade às mudanças propostas pelo professor. Estimular a metacognição e a autorregulação dos alunos Etimologicamente, a palavra metacognição significa para além da cognição, isto é, a faculdade de conhecer o próprio ato de conhecer. Em outras palavras, metacognição é a capacidade de analisar e avaliar como se conhece. Implica em diálogo interno, envolvendo um processo de auto-interrogação sobre as maneiras de resolver um problema de qualquer natureza. Estimular a metacognição exige que se estabeleça uma parceria entre educador e educando, no sentido de compreensão das dificuldades e compartilhamento dos desafios para superá-las. 96 Atualmente, a metacognição surge com destaque na literatura de avaliação da aprendizagem. Sua finalidade é mostrar a importância de conhecer como o aluno pensa, verificar que estratégias se utiliza para aprender. Pela metacognição, a avaliação torna-se dinâmica e não estática. Na avaliação estática, o professor apresenta várias tarefas para o educando, observa e registra os resultados de seus desempenhos. A interação entre o professor e o aluno é muito reduzida. A intenção é a busca da neutralidade, de modo a obter resultados os mais objetivos possíveis. Na avaliação dinâmica há uma profunda interação entre o professor e o aluno, uma vez que o foco são os processos de pensar, de modo a fornecer informações sobre as estratégias de intervenção a serem usadas. Baker (apud BURÓN OREJAS, 2000) confirma a importância da autorregulação na metacognição, dizendo que não basta que o aluno se dê conta daquilo que não entende, mas que precisa conhecer quais estratégias deve usar para entender. Para isso, deve aprender a aprender, refletindo sobre seus próprios processos de pensar e deduzir, por si mesmo, que estratégias são mais eficazes para um determinado problema. Só assim será metacognitivamente autônomo. Algumas perguntas deveriam ser um guia para a metacognição e autorregulação do aluno. Perguntas para metacognição e autorregulação. Resolvi o problema impulsivamente, por ensaio e erro? O problema estava claro para mim? Explorei sistematicamente todos os dados e informações? Estabeleci relações entre as informações? Possuía vocabulário e conceitos prévios para a solução do problema? Planejei estratégias para a resolução do problema? Escolhi outras estratégias diferentes daquela que havia planejado? Essas estratégias foram mais adequadas? Levantei hipóteses e as comprovei? Cometi imprecisões na coleta dos dados? Revi os caminhos percorridos? Comuniquei claramente e com coerência minhas decisões? Fonte: Elaborado por Depresbiteris, 2009 III- Considerações finais Alguns conhecimentos me parecem imprescindíveis para o desenvolvimento do saberconviver. Afinal, desenvolver o aprender a pensar e o aprender a fazer são recursos complexos que necessitam de uma sólida base de conhecimentos para serem concretizados, o mesmo ocorrendo com a aprendizagem do saber – conviver, mesmo considerando dimensões mais subjetivas dos sentimentos e das emoções. Para mim, não se trata de racionalizar as emoções, mas compreendê-las para que uma pessoa possa usá-las de modo mais construtivo para si mesma e para o meio em que vive. 97 Creio que posso afirmar que a mediação é uma maneira de agir poderosa no sentido de estimular o desenvolvimento cognitivo e afetivo dos educandos. Atitudes de cooperação, solução de conflitos, solidariedade aprendidas na escola podem ser transcendidas. O professor, como principal mediador na escola, não pode furtar-se a esse papel, deve intervir com situações que possam facilitar não só a razão, o pensamento, mas o sentir. Na verdade, o professor é aquele que interfere para orientar, porque segundo Boff (1999), em uma perspectiva filosófica, é aquele que cuida. Cuidar é mais que um ato, é uma atitude. Abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo. Representa uma atitude de preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. O professor que cuida se "pré-ocupa" com o que vai ensinar, procura conhecer as representações daqueles a quem vai se dirigir, leva em conta suas culturas, suas formas de vida. Contudo, quando se fala em cuidar, não só o aluno deveria ser mediado em sua aprendizagem. O professor também merece cuidados. Excluí-lo da possibilidade de desempenhar bem sua tarefa, oferecer-lhe parcas condições de formação e de salário, tudo isso tem grande probabilidade de influenciar sua atuação. Cortella (2005:22) cita uma frase que o chocou quando leu os sermões do padre Antonio Vieira : “O peixe apodrece pela cabeça” . Diz ele, que também vivemos um “apodrecimento” de alguns valores, de dignidade, da capacidade de convivência, de civilidade. Esses valores devem ser retomados não como uma preocupação com moral, mas com a ética. Em complementação, La Taille (2005:8) diz que moral diz respeito aos deveres e ética a questões relativas, à vida, à felicidade, não só individual, mas com o outro (idéia de grupo, da cooperação) e para o outro (idéia de benevolência, generosidade). Com base nessa afirmativa, penso que a escola enfrenta um enorme desafio. Integradamente com a dimensão cognitiva, deve zelar por desenvolver competências de convivência, de atitudes éticas, de cidadania 98 Referências bibliográficas BARLOW, Michel (2006) Avaliação escolar: mitos e realidades. Porto Alegre:Artmed. BELMONTE Lorenzo Tebar. El Perfil del Profesor Mediador, Madrid, SANTILLANA/EDUCACIÓN, 2003. BOFF, Leonardo Saber cuidar - ética do humano- compaixão pela terra. Petrópolis, RJ:Vozes, 1999. BURON OREJAS, Javier. Enseñar a aprender- Introducción a la metacognición. Espanha, Bilbao: Ediciones Mensajero, 2000. COLL, César. O construtivismo em sala de aula. São Paulo: Ática, 1996. CORTELLA, Mário Sérgio & LA TAILLE, Ives. Nos labirintos da moral. Campinas: Papirus, 2005. DEFFUNE, Deisi & DEPRESBITERIS, Léa. Competências, habilidades e currículos de formação profissional- crônicas e reflexões. São Paulo: Editora SENAC São Paulo,2000. DEPRESBITERIS, Lea & TAVARES, Marialva Rossi. Instrumentos de Avaliação: diversificar é preciso. São Paulo: Editora Senac, 2009. DIEZ, Francisco & TAPIA, Gachi. Herramientas para trabajar en mediación. Buenos Aires, Paidós, 1999 GERGEN, J Kenneth. Rumo a um vocabulário do diálogo transformador IN: SCHNITMAN, Dora Fried & LITTLEJOHN, Stephen (orgs) Novos paradigmas em mediação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. LA TAILLE, Yves. Nos labirintos da moral. Campinas: Papirus, 2005. MARTINS, Ana Maria de Souza, DEPRESBITERIS, Lea, TELLES MARCONDES, Osny. A mediação como princípio educacional- Bases Teóricas das abordagens de Reuven Feuerstein. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004. SCHNITMAN, Dora Fried. Novos paradigmas na resolução de conflitos IN: SCHNITMAN, Dora Fried & LITTLEJOHN, Stephen (orgs) Novos paradigmas em mediação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. VYGOTSKY, Lee S. A. (2004). Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes. TORRE, Sarturnino de la Aprender com os erros: o erro como estratégia de mudança. Porto Alegre: Artmed, 2007. 99 Colaboraram para a elaboração deste material: Ministério da Saúde/SVS/Departamento DST/Aids/HV Alexsana Sposito Ana Luísa Nepomuceno Ana Mônica de Mello Andrea Rossi Andressa Bolzan Denise Serafim Edivaldo Santos Heloisa Helena Casagrande Martha Storti Ministério da Saúde/SAS/ DADAPES/ Área Técnica de Saúde da Mulher Denis Ribeiro Ministério da Saúde/ SAS/ Departamento de Atenção Básica Charleni Scherer Márcia Helena Leal Coordenações estaduais de DST/Aids Karina Wolfenbutel – SP Marcia T. Fernandes Santos – SP Rosa Maria C. Monteiro – PB Vera Cristina Zanetti – PR Universidade Federal do Espírito Santo/Núcleo de Doenças Infecciosas Moisés Palaci Rodrigo Ribeiro Rodrigues Outros colaboradores: Anália Silva de Amorim Dulce Blitzkow Léa Depresbíteres Nélio Zuccaro Tânia Regina Correa de Amorim 100