Rosa Maria Ramos Maranhão, Vládia Pinto Vidal de Oliveira

Propaganda
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE POBREZA HÍDRICA (IPH) PARA SEMIÁRIDO
CEARENSE, NORDESTE DO BRASIL.
Rosa Maria Ramos Maranhão
Universidade Federal do Ceará
[email protected]
Profa. Dra. Vládia Pinto Vidal de Oliveira
Universidade Federal do Ceará
[email protected]
INTRODUÇÃO
A água tem se destacado como bem precioso e estratégico e várias ações e
programas de gestão participativa são propostos visando um gerenciamento racional
dos recursos naturais. Em virtude da importância da água para a manutenção dos
ecossistemas, muitas ações atualmente buscam integrar as complexas relações
envolvidas na sua gestão, desde as questões de ordem natural até as de ordem
econômica e social (SULLIVAN, 2003). Deste modo, a necessidade de um planejamento
eficaz é diretamente proporcional à pressão exercida na natureza pelo aumento
populacional e o crescimento das cidades nas áreas áridas e semiáridas, que sofrem
com a expansão das atividades econômicas.
As comunidades e o ambiente são elementos de um sistema complexo e necessitam
de uma eficiente gestão dos recursos naturais, principalmente das águas, para que a
vida silvestre e os solos sejam preservados e o desenvolvimento local seja atingido de
forma sustentável e duradouro. Deste modo, as pesquisas lançam mão de novas
tecnologias e vasta revisão teórica para tratar as informações de forma integrada e
considerando, ao mesmo tempo, as particularidades de cada local, de modo a serem
capazes de apoiar os gestores no manejo adequado dos recursos hídricos.
O binômio água-pobreza tem imposto a necessidade de construção de um
instrumental analítico multivariado para a visão integrada da diversidade de elementos
envolvidos neste processo (LUNA 2007). As informações tratadas devem oferecer
elementos para ações atuais e futuras, garantindo o estoque e acesso, promovendo
melhores condições de vida no semi-árido. Na atualidade, as comunidades ainda
esperam por novas alternativas que considerem as particularidades locais e promovam
o desenvolvimento.
A importância deste estudo está na aplicação de um modelo geoestatístico que
1
Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
pretende, com seus resultados, apoiar a gestão dos recursos hídricos no semiárido
cearense. A necessidade de um planejamento eficaz é diretamente proporcional à
pressão exercida na natureza pelo aumento populacional e o crescimento das cidades
nas áreas semiáridas que sofrem com a expansão das atividades econômicas. Alem de
apresentar a relevância dos estudos ambientais nas áreas semiáridas, este trabalho
busca relacionar os contrastes sociais resultantes de sua estrutura econômica. Ao
integrar os fatores sociais e ambientais nos modelos geoestatísticos, será possível
propor políticas públicas mais eficientes, sobretudo nas questões de acesso à água e
saneamento e seus reflexos na saúde, no trabalho e no desenvolvimento das
localidades.
A GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS E A CONVIVÊNCIA NAS ÁREAS
ÁRIDAS E SEMIÁRIDAS
No Semiárido Cearense as adversidades edafoclimáticas impedem o
desenvolvimento de uma agricultura estável. A agricultura rudimentar, o extrativismo
vegetal e a abertura de áreas de pasto necessárias à pecuária extensiva, levam ao
desmatamento áreas de caatinga de enormes proporções. Além destes fatores, o
manejo inadequado da água, o qual ocorre em algumas técnicas de irrigação,
compromete mais ainda a qualidade do solo instalando processos de salinização
(SOUZA Y OLIVEIRA, 2002). Esses aspectos são partes de um processo cíclico com
causas e efeitos intimamente ligados, que se evidenciam com a desestabilização dos
ambientes ocupados (TRICART, 1977). A irregularidade pluviométrica e uma área
significativa de solos degradados são fatores relevantes que impactam o
desenvolvimento social nas terras secas. Pesquisas indicam que 14% da área do Estado
do Ceará estão afetadas por intensos processos de degradação que tendem a evoluir
para o grau de desertificação. A erosão nos solos descobertos carrega material
superficial assoreando rios, comprometendo toda a dinâmica ambiental da região
(SOUZA, 2006).
Os longos períodos secos abalam a produtividade e as enxurradas nos períodos
chuvosos adiantam o processo erosivo. As secas e as fortes chuvas concentradas fazem
parte da dinâmica desses ambientes, tornando qualquer intervenção na cobertura
vegetal um vetor de aceleração dos processos erosivos. Em muitas áreas já se
encontram marcas nítidas de desertificação, que também estão presentes em outras
áreas do Estado como o Médio Jaguaribe e o Médio Curú (SOUZA, 2005).
A água, como recurso imprescindível à vida, necessita de critérios claros para sua
2
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
gestão, incluindo a participação dos cidadãos nas decisões sobre a utilização, captação,
armazenamento e distribuição, de modo a ser enfatizada como o fator preponderante
para a manutenção dos ecossistemas. Os desequilíbrios causados pelo uso e ocupação
descontrolados desregulam cada vez mais a dinâmica das áreas ocupadas, dificultando
a preservação os ecossistemas, incluindo as áreas de nascentes dos rios como
ambientes frágeis e facilmente suscetíveis à instabilidade.
Uma das características do Semiárido Cearense é a pequena vazão dos corpos
d’água. O escoamento através de uma malha hidrográfica de forma dendrítica, pouco
profunda e espalhada, ou encaixada nas falhas do embasamento cristalino e sofre a
influência direta da dinâmica climática. Estas condições dificultam o armazenamento
subsuperficial e subterrâneo o que representa outra dificuldade no manejo eficiente da
água. As praticas agrícolas e mau uso da água impactam os solos. O uso de produtos
tóxicos pode contaminar os cursos d’água e infiltrar-se, contaminando as águas subsuperficiais e subterrâneas. O regime de chuvas e os fatores geológicos influenciam na
reposição dos aquíferos. No caso do Ceará , a permeabilidade dos terrenos é bastante
pequena, tornando a gestão um fator de preocupação. Os conflitos pela água também
estão presentes e são de grande relevância quando se trata do acesso e da distribuição
do recurso e as possibilidades de ganhos e desenvolvimento social para os pequenos
agricultores das comunidades sertanejas. As obras contra as secas não são
espacialmente distribuídas pela necessidade das comunidades mas, muitas vezes por
questões políticas, os açudes e poços se encontram nas grandes propriedades,
tornando-se patrimônio privado.
A gestão dos recursos hídricos necessita de critérios claros para a sua eficácia,
incluindo a participação dos cidadãos nas decisões sobre a utilização, captação,
armazenamento e distribuição, como fator preponderante para a manutenção da
produtividade destas áreas. Os diversos usos da água, a qualidade e a disponibilidade
são problemas que interferem diretamente na qualidade de vida das comunidades da
região e são causa de conflitos diversos dificultando a gestão do recurso (SULLIVAN,
2003; ABRAHAM, 2006). No âmbito da gestão dos recursos naturais, as diversas
conferencias sobre as questões ambientais impuseram o desenvolvimento de índices e
indicadores que demonstrassem as intervenções do homem no meio e as questões de
desenvolvimento econômico e social relacionadas. Segundo LUNA (2007) “O indicador
pode ser entendido como uma medida que resume informações relevantes de um
fenômeno particular e que deixa mais perceptível uma tendência”.
3
Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
INDICADORES COMO INSTRUMENTO NO PLANEJAMENTO E GESTÃO.
A importância dos indicadores para o planejamento estratégico e para a tomada de
decisão está na sua capacidade de sintetizar e representar diferentes realidades,
permitindo a observação das relações entre as variáveis, sua relevância e significância,
suas correlações, que fazem parte das análises de acordo com o objetivo da aplicação.
Os indicadores ambientais têm sido amplamente utilizados em razão dos avanços da
informática e do sensoriamento remoto, possibilitando melhor reconhecimento
espacial do território, além de proporcionarem o monitoramento mais preciso e
eficiente dos dados climáticos, balanços de energia, vazão dos rios e qualidade de
água. A partir dos anos 1990, surgiu o interesse no desenvolvimento de indicadores de
sustentabilidade por parte de vários setores da sociedade, governo, sociedades civis,
institutos de pesquisa e universidades em todo o mundo. No ano de 2001, a United
Nations propôs o desenvolvimento de índices para apoio a gestão dos recursos
hídricos, sendo que, no ano 2000, os pesquisadores do Oxford Center Water Research
(OCWR) desenvolveram o Índice de Pobreza Hídrica (IPH) que foi inicialmente aplicado
em países africanos e foi sendo adaptado e aplicado em outras regiões de áreas áridas
e semiáridas. (LUNA, 2007).
Ao propor indicadores para análise dos recursos hídricos é necessária prudência,
pois eles podem mostrar tendências que não refletem a realidade por tratarem
informações de diversos tipos. O Índice de Pobreza Hídrica (IPH) é um modelo
geoestatístico que pretende avaliar se os indivíduos possuem água segura (em
quantidade e qualidade satisfatória) para uso doméstico e da comunidade. Este índice
tenta refletir a disponibilidade física da água, como a população é servida por essa
água e a manutenção da integridade ecológica. Existe uma tendência à sua utilização
em detrimento à outros em razão do seu caráter holístico, desenvolvido a partir de
uma metodologia interdisciplinar, trata as informações quantitativas e qualitativas,
para uma compreensão mais ampla sobre a disponibilidade de água e a bem estar
social das populações residentes em áreas secas, permitindo identificar e estimar como
a escassez hídrica afeta a qualidade de vida e a economia local, podendo ser aplicado
na supervisão e monitoramento dos recursos hídricos, sendo um importante
instrumento de apoio ao planejamento e gestão da água (SULLIVAN, 2000), de
imprescindível utilidade no semiárido cearense.
O cálculo do Índice de Pobreza Hídrica foi desenvolvido por Sullivan e sua equipe do
Oxford Centre for Water Research (OCWR), no ano 2000 e foi aplicado em vários países
da África, Ásia e América do Sul. A composição do IPH se dá através da média
4
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
ponderada calculada para cada componente, a partir de seus sub-componentes
(variáveis). A ponderação é aplicada para evidenciar a importância de uma
componente para determinada localidade estudadas, comparando os seus valores e a
situação de cada componente para cada localidade estudada, pode-se apontar quais as
localidades e quais problemas necessitam de intervenções mais urgentes (ABRAHAM,
2006).
Para sua aplicação no semiárido brasileiro, foi necessário um ajuste na componente
recurso, uma vez que na construção do indicador a nível local foi detectado um desvio
que influencia no resultado da componente, desta forma os recursos superficiais e
subterrâneos foram associados aos usos e passou a denominar-se Componente
Disponibilidade. Este ajuste foi proposto por Luna (2007) na aplicação do IPH na Sub
Bacia do Rio Salgado. Para a aplicação nos municípios da área de estudos propomos um
ajuste metodológico para a Componente Ambiente. A adaptação proposta para a
componente ambiente vem ajustar o modelo às condições e peculiaridades da região
dos municípios de Crateús, Independência, Novo Oriente, Parambu, Quiterianópolis e
Tauá. A problemática ambiental da área se evidencia pela exaustão das terras devido
ao mau uso, e tende a gravar a situação de pobreza pelas das perdas econômicas
relacionadas aos eventos de seca. A fragilidade ambiental e a densidade populacional
da área estudos se refletem nas condições socioeconômicas e a ambientais, que se
estabelecem pelo binômio pobreza-água. Para esta adaptação fundamentamos os
conceitos para análise integrada dos ambientes que apoiam a estruturação dos
sistemas ambientais e suas compartimentações (SOUZA, 2000). Em tal perspectiva o
estudo deve considerar a estabilidade do meio (TRICARD, 1977) e todas as variáveis
envolvidas na construção da paisagem daquelas localidades. Utilizamos a Análise
Ambiental aplicada no Projeto WAVES para compor o ajuste na componente Ambiente
(OLIVEIRA & SOUZA in: GAISER, 2003).
MATERIAL E MÉTODO
Cálculo do Índice de Pobreza Hídrica para o semiárido cearense
Para a escolha da área foram considerados alguns elementos, tais como, a
fragilidade ambiental das áreas, principalmente as que compreendem as nascentes,
devido às características físico-climatológicas e as condições socioeconômicas da
população dos municípios. A construção da pesquisa utilizou de revisão bibliográfica,
para identificar conceitos e variáveis relacionadas à pobreza e à água, voltadas à
realidade do Semiárido Cearense.
5
Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
A área deste estudo compreende parte de duas importantes bacias hidrográficas no
Estado do Ceará - o alto curso da Bacia do Rio Parnaíba e a Sub-Bacia do Alto Jaguaribe
- que abrigam as nascentes do Rio Poti, no município de Quiterianópolis e as nascentes
do Rio Jaguaribe - no município de Tauá - onde encontramos extensas faixas de terras
fortemente degradadas. Nesses municípios estão presentes grandes problemas de
ordem socioeconômica e ambiental relacionados à disponibilidade e ao acesso aos
recursos hídricos e seus reflexos na capacidade econômica das comunidades locais, que
são os pontos relevantes de motivação para a realização deste estudo (Figura 1).
Figura 1 - Localização da área de estudos Fonte: FUNCEME 2009
Dentre estes municípios, quatro deles estão entre os que possuem elevados índices
de aridez e é nessas áreas onde estão os mais críticos processos de desertificação. No
ranking proposto pelo IPEA (1995) (Tabela 1), Independência, Novo Oriente, Parambu e
Tauá encontram-se dentro das dez primeiras posições; Crateús apresenta um índice
moderado de aridez e para Quiterianópolis não foram apresentados dados na pesquisa
do IPEA (1995), o que justifica a importância de um estudo que proponha instrumental
6
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
de apoio à gestão dos recursos naturais no Semiárido Cearense.
Tabela 1 – Dados da População (prevista 2008), Área, Índice de Aridez e Indicadores
Socioeconômicos: Índice de Desenvolvimento Municipal (IDH),
Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) e Produto Interno Bruto per capta (PIB) dos
municípios
Rank
Aridez
critica
Município
Pop
2008
Índice
de SemiAridez
1991
3.218
2,16
0,39
Área
km2
IDM
2006
IDH
2000
PIB
per capita
2006
R$
22,79
0,657
2841,00
5º
Independência
6º
Novo Oriente
27.418
949
0,64
0,39
25,90
0,602
2463,00
7º
Parambu
30.596
2.303
1,37
0,39
18,29
0,613
2373,00
9º
Tauá
54.273
4.306
2.91
0,40
30,65
0,665
3484,00
Crateús
72.385
2.965
2,01
0,45
34,20
0,676
2003,00
Quiterianópolis
20.079
1.041
0,70
- *
15,95
0,625
2408,00
médio
-
25.413
%
em
relação
a área
do
Estado
Fonte: IPEA (1995), IPECE (2009), adaptado - * sem dados de aridez para este município
A construção do IPH conforme a metodologia utilizada por Sullivan (2000, 2003) e
por Abraham (2005) são considerados 5 elementos fundamentais: recurso, acesso,
capacidade, uso e ambiente. Estas variáveis são compostas levando em conta os
fatores mais relevantes de sua categoria (através de pesos) e que devem ser tratados e
normalizados, para apresentar de forma mais clara os resultados sobre a situação das
relações entre os elementos mencionados e como se refletem na sociedade visando
propor ações prioritárias e o monitoramento de metas planejadas.
Os resultados de cada componente são obtidos através da media ponderada, que
por sua vez participam do calculo do IPH, conforme as fórmulas adiante descritas:
O cálculo matemático do IPH combina estes 5 elementos através da seguinte
expressão geral:
Onde o WPI é o IPH para uma localidade específica “X” e o seu componente “i”, da
estrutura do IPH para esta localidade; “w” são os pesos aplicados ao componente. O
cálculo deve ser repetido para todos os componentes, calculando cada um dos sub-
7
Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
componente (variáveis); os componentes irão ser combinados para compor o IPH.
Todos os componentes enumerados devem ser calculados pela expressão:
A necessidade de um ajuste da metodologia de Sullivan (2000, 2003) para o cálculo
em nível local, se dá pela importância do detalhamento das informações, pois a
complexidade das variações ambientais é muito dinâmica. O desenvolvimento do
Índice de Pobreza Hídrica para o semiárido brasileiro (LUNA 2007), através da
adaptação nas componentes Recurso e Uso, do modelo original (SULLIVAN 2000),
reduziu de 5 para 4 componentes (Quadro 1). Esta adaptação nas variáveis aproximou
os resultados à realidade do semiárido cearense, devido ao desvio apresentado pelos
municípios que possuem grandes reservatórios, elevando assim a disponibilidade per
capta. Este trabalho apresenta a proposta de ajuste para a componente Ambiente, pois
a área escolhida demanda de um diagnostico mais detalhado dos ecossistemas e dos
usos da terra, considerando as condições de suporte biofísico e da utilização (Quadro
1).
componente
Disponibilidade
Acesso
Capacidade
Ambiente
sub-componentes (variáveis)
disponibilidade da água superficial e subterrânea, subtraindo a água de
irrigação, uso da água para pecuária, uso da água na indústria.
acesso a água potável, tempo gasto na coleta, % de mulheres envolvidos
na coleta, conflitos relacionados ao uso da água.
PIB per capita, escolaridade, taxa de mortalidade infantil, cobertura de
abastecimento de água e esgoto, coeficiente de desigualdade GINI
Declividade do terreno, vegetação (padrão fisionômico), cobertura vegetal
(primária/secundária), profundidade do solo, erodibilidade.
Quadro 1 - Componentes e subcomponentes para calculo do Índice de Pobreza Hídrica – Fonte:
adaptado de Sullivan (2000, 2003), Abraham (2005) e Luna (2007) e a proposta para as
variáveis da componente Ambiente (SOUZA & OLIVEIRA in: GAISER, 2003)
Para a normalização dos indicadores sociais, utilizamos a relação entre os
indicadores sociais locais e os melhores indicadores do estado, no caso a capital
estadual, Fortaleza. O resultado indica o percentual relativo e será comparado às faixas
e seu respectivo escore. Este escore compõe o cálculo da componente e a seguir o
8
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
cálculo do IPH. Para todas as componentes foram estabelecidos o peso igual a 1.
Para a obtenção dos valores das componentes, as variáveis foram normalizadas
através da mediana dos dados, gerando os Valores Indicadores (V.I.) de 01 (pior) a 05
(melhor). O uso da média aritmética, por si só, não deve ser considerada por tratar-se
de uma medida de tendência central, para corrigir as distorções utilizou-se os a
variância e desvio padrão para a delimitação dos intervalos das classes (faixas) de
acordo com a variabilidade e distribuição dos índices e gerar os Valores Indicadores
(escores). (OLIVEIRA, 2009)
Abaixo apresentamos como ilustração três das tabelas utilizadas para construção do
Índice de Pobreza Hídrica (IPH) (Tabelas 2, 3 e 4) com a adaptação metodológica para
normalização dos intervalos de classes (faixas) e Valores Indicadores (escores).
Cobertura Vegetal
Cobertura primária/secundária
Cobre entre
Cobre entre
Cobre entre
Cobre entre
faixa
75%
54 – 75 %
32 - 53 %
15 – 45 %
< 10 %
V.I.
5
4
3
2
1
Declividade
Plano
Suave ondulado
Ondulado
Fortemente Ondulado
Montanhoso
faixa
0–3%
3–8%
8 – 15 %
15 – 45 %
< 10 %
V.I.
5
4
3
2
1
faixa
V.I.
5
4
3
2
1
Erosão
Baixa susceptibilidade
Erosão laminar ligeira
Erosão com sulcos
Erosão com ravinas
Ravinas e Voçorocas
3–8%
8 – 15 %
15 – 45 %
< 10 %
Tabelas 2, 3 e 4 –Apresentação dos intervalos de classes (faixas) e Valores Indicadores (escores)
A partir dos Valores Indicadores relativos aos intervalos de classes se constrói a
tabela da componente. Neste exemplo apresentamos os valores referentes a
componente Ambiente que compõe o cálculo do IPH (Tabela 5).
9
Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
municipio
Crateus
Independencia
Novo Oriente
Parambu
Quiterianopolis
Taua
Componente Ambiente
declividade vegetação cobertura profund solo erosão
4
3
3
3
4
3
2
2
2
3
3
3
3
3
4
2
3
2
3
4
2
3
3
3
4
3
3
2
2
2
indicador
3,3
2,3
3,0
2,5
2,8
2,5
Tabela 5 – Escores relativos intervalos de classes (faixas) e Valores Indicadores (escores)
construção da componente Ambiente
RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES
O Índice de Pobreza Hídrica (IPH) se apresenta como um instrumento de apoio às
ações para a gestão integrada dos recursos hídricos nas áreas áridas e semiáridas.
Utilizado em vários países da África e da América do Sul, pode ser utilizado como um
Indicador para o controle da desertificação. Para a aplicação a nível local, sua
metodologia necessita de ajustes em suas componentes, como a mudanças de algumas
variáveis para representar com mais proximidade a realidade. Apenas a ponderação
das variáveis não se mostra suficiente para este ajuste.
Especificamente para a área de estudos foi imprescindível que as variáveis
ambientais fossem tratadas de maneira detalhada haja vista a importância dos recursos
naturais para a manutenção da produtividade das terras e a manutenção do homem no
campo. Os resultados apontam que a pobreza nestes municípios está associada às
questões ambientais, concentração de renda e as dificuldades estruturais para a
implantação de uma cadeia produtiva sustentável.
Outra observação diz respeito aos fatores climáticos que não são tratados pelo
método aplicado. Deste modo, podemos ter um desvio da realidade sobre a situação
do volume de água disponível, uma vez que não considera o Balanço Hídrico. Deste
modo, apesar dos açudes e poços apresentarem uma considerável capacidade em
volume de água disponível, o déficit hídrico na maior parte do ano não é considerado.
As políticas do Governo do Estado relacionadas ao aumento da cobertura do serviço de
água encanada também pode mascarar as dificuldades de acesso, pois não é garantida
a potabilidade da água fornecida pelo sistema de abastecimento.
Os resultados apresentados pela pesquisa indicam que a Pobreza Hídrica está
claramente associada às questões ambientais, com reflexo direto na capacidade
econômica das comunidades do semiárido (Tabela 5).
10
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
município
Crateús
Independência
Novo Oriente
Parambu
Quiterianópolis
Tauá
Índice de Pobreza Hídrica para o semiárido cearense
Disponibilidade
Acesso
Capacidade
Ambiente
3
3
4
3,3
4
3
2
2,3
4
3
2
3,0
4
3
2
2,5
4
3
2
2,8
3
3
4
2,5
IPH
3,3
2,8
3,0
2,9
3,0
3,1
Tabela 5 – Resultados do Índice de Pobreza Hídrica para o semiárido cearense.
BIBLIOGRAFIA
ABRAHAM E.M, BEEKMAN G. B. (eds), 2006. Indicadores de La Desertificación para
América del Sur. E. Martin Fierro. Mendoza. Argentina.
CEARÁ. Secretaria de Recursos Hídricos. 2004. Plano Estadual de Recursos Hídricos.
SRH. Fortaleza.
GAISER, T.;KROL, M.; FRISCHKORN H.; ARAÚJO, J.C. de (eds), 2003. Global Change and
Regional Impacts: Water Availability and Vulnerability of Ecosystems and Society in
the Semiarid Northeast of Brazil. Spring-Verlag, Berlim Heidelberg.
LUNA, R. M., 2007. Desenvolvimento do Índice de Pobreza Hídrica para o Semi-Árido
Brasileiro. Tese de doutorado. UFC. Fortaleza, Ceará.
OLIVEIRA, H. P . V. de,. 2009. Avaliação dos indicadores do potencial turístico do
município de Itapipoca (Ceará): subsidio para o desenvolvimento sustentável do
turismo. Dissertação de Mestrado, UFC. Fortaleza, Ceará.
SOUZA, M. J. N., 2000. ‘Bases Naturais e Esboço do Zoneamento Geoambiental do
Estado do Ceará’. In: LIMA, L.C.; MORAIS, J.O. de; SOUZA, M.J.N. de.
Compartimentação territorial e gestão regional do Ceará. Fortaleza: FUNECE.
SOUZA, M. J. N.de y OLIVEIRA, V. P. V. de . 2002. ‘Semi-árido do Nordeste do Brasil e o
Fenômeno da Seca.’ In: HUBP, J. L. y INBAR M. (Org.) Desastres Naturales em
América Latina. Fundo de Cultura Econômica.México.
SOUZA, M. J. N. de (relator) 2005., Panorama da Desertificação no Ceará. Grupo
Permanente de Combate à Desertificação – GPCD, CE.
11
Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física:
aplicações emergentes
SOUZA, M. J. N. De, 2006. ‘Contexto Geoambiental do Semi-árido do Ceará: Problemas
e Perspectivas.’ in: SOBRINHO, J. F., FALCÃO, C. L. da C. (org). Semi-árido:
diversidades, fragilidades e potencialidades. Sobral, Ce
SULLIVAN, C. 2000. The Water Poverty Index: A tool for monitoring and prioritisation in
the
water
sector,
acess:
16/11/2008
in:
http://ocwr.ouce.ox.ac.uk/research/wmpg/wpi/
TRICART, J. Ecodinâmica. 1977. FIBGE. Rio de Janeiro.
WALLACE, J. S., ACREMAN, M. C. e SULLIVAN, C. A. 2003. The sharing of water between
society and ecosystems: from conflict to catchment-based co-management. The
Royal Society, London, England.
12
Download