VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE POBREZA HÍDRICA (IPH) PARA SEMIÁRIDO CEARENSE, NORDESTE DO BRASIL. Rosa Maria Ramos Maranhão Universidade Federal do Ceará [email protected] Profa. Dra. Vládia Pinto Vidal de Oliveira Universidade Federal do Ceará [email protected] INTRODUÇÃO A água tem se destacado como bem precioso e estratégico e várias ações e programas de gestão participativa são propostos visando um gerenciamento racional dos recursos naturais. Em virtude da importância da água para a manutenção dos ecossistemas, muitas ações atualmente buscam integrar as complexas relações envolvidas na sua gestão, desde as questões de ordem natural até as de ordem econômica e social (SULLIVAN, 2003). Deste modo, a necessidade de um planejamento eficaz é diretamente proporcional à pressão exercida na natureza pelo aumento populacional e o crescimento das cidades nas áreas áridas e semiáridas, que sofrem com a expansão das atividades econômicas. As comunidades e o ambiente são elementos de um sistema complexo e necessitam de uma eficiente gestão dos recursos naturais, principalmente das águas, para que a vida silvestre e os solos sejam preservados e o desenvolvimento local seja atingido de forma sustentável e duradouro. Deste modo, as pesquisas lançam mão de novas tecnologias e vasta revisão teórica para tratar as informações de forma integrada e considerando, ao mesmo tempo, as particularidades de cada local, de modo a serem capazes de apoiar os gestores no manejo adequado dos recursos hídricos. O binômio água-pobreza tem imposto a necessidade de construção de um instrumental analítico multivariado para a visão integrada da diversidade de elementos envolvidos neste processo (LUNA 2007). As informações tratadas devem oferecer elementos para ações atuais e futuras, garantindo o estoque e acesso, promovendo melhores condições de vida no semi-árido. Na atualidade, as comunidades ainda esperam por novas alternativas que considerem as particularidades locais e promovam o desenvolvimento. A importância deste estudo está na aplicação de um modelo geoestatístico que 1 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes pretende, com seus resultados, apoiar a gestão dos recursos hídricos no semiárido cearense. A necessidade de um planejamento eficaz é diretamente proporcional à pressão exercida na natureza pelo aumento populacional e o crescimento das cidades nas áreas semiáridas que sofrem com a expansão das atividades econômicas. Alem de apresentar a relevância dos estudos ambientais nas áreas semiáridas, este trabalho busca relacionar os contrastes sociais resultantes de sua estrutura econômica. Ao integrar os fatores sociais e ambientais nos modelos geoestatísticos, será possível propor políticas públicas mais eficientes, sobretudo nas questões de acesso à água e saneamento e seus reflexos na saúde, no trabalho e no desenvolvimento das localidades. A GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS E A CONVIVÊNCIA NAS ÁREAS ÁRIDAS E SEMIÁRIDAS No Semiárido Cearense as adversidades edafoclimáticas impedem o desenvolvimento de uma agricultura estável. A agricultura rudimentar, o extrativismo vegetal e a abertura de áreas de pasto necessárias à pecuária extensiva, levam ao desmatamento áreas de caatinga de enormes proporções. Além destes fatores, o manejo inadequado da água, o qual ocorre em algumas técnicas de irrigação, compromete mais ainda a qualidade do solo instalando processos de salinização (SOUZA Y OLIVEIRA, 2002). Esses aspectos são partes de um processo cíclico com causas e efeitos intimamente ligados, que se evidenciam com a desestabilização dos ambientes ocupados (TRICART, 1977). A irregularidade pluviométrica e uma área significativa de solos degradados são fatores relevantes que impactam o desenvolvimento social nas terras secas. Pesquisas indicam que 14% da área do Estado do Ceará estão afetadas por intensos processos de degradação que tendem a evoluir para o grau de desertificação. A erosão nos solos descobertos carrega material superficial assoreando rios, comprometendo toda a dinâmica ambiental da região (SOUZA, 2006). Os longos períodos secos abalam a produtividade e as enxurradas nos períodos chuvosos adiantam o processo erosivo. As secas e as fortes chuvas concentradas fazem parte da dinâmica desses ambientes, tornando qualquer intervenção na cobertura vegetal um vetor de aceleração dos processos erosivos. Em muitas áreas já se encontram marcas nítidas de desertificação, que também estão presentes em outras áreas do Estado como o Médio Jaguaribe e o Médio Curú (SOUZA, 2005). A água, como recurso imprescindível à vida, necessita de critérios claros para sua 2 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 gestão, incluindo a participação dos cidadãos nas decisões sobre a utilização, captação, armazenamento e distribuição, de modo a ser enfatizada como o fator preponderante para a manutenção dos ecossistemas. Os desequilíbrios causados pelo uso e ocupação descontrolados desregulam cada vez mais a dinâmica das áreas ocupadas, dificultando a preservação os ecossistemas, incluindo as áreas de nascentes dos rios como ambientes frágeis e facilmente suscetíveis à instabilidade. Uma das características do Semiárido Cearense é a pequena vazão dos corpos d’água. O escoamento através de uma malha hidrográfica de forma dendrítica, pouco profunda e espalhada, ou encaixada nas falhas do embasamento cristalino e sofre a influência direta da dinâmica climática. Estas condições dificultam o armazenamento subsuperficial e subterrâneo o que representa outra dificuldade no manejo eficiente da água. As praticas agrícolas e mau uso da água impactam os solos. O uso de produtos tóxicos pode contaminar os cursos d’água e infiltrar-se, contaminando as águas subsuperficiais e subterrâneas. O regime de chuvas e os fatores geológicos influenciam na reposição dos aquíferos. No caso do Ceará , a permeabilidade dos terrenos é bastante pequena, tornando a gestão um fator de preocupação. Os conflitos pela água também estão presentes e são de grande relevância quando se trata do acesso e da distribuição do recurso e as possibilidades de ganhos e desenvolvimento social para os pequenos agricultores das comunidades sertanejas. As obras contra as secas não são espacialmente distribuídas pela necessidade das comunidades mas, muitas vezes por questões políticas, os açudes e poços se encontram nas grandes propriedades, tornando-se patrimônio privado. A gestão dos recursos hídricos necessita de critérios claros para a sua eficácia, incluindo a participação dos cidadãos nas decisões sobre a utilização, captação, armazenamento e distribuição, como fator preponderante para a manutenção da produtividade destas áreas. Os diversos usos da água, a qualidade e a disponibilidade são problemas que interferem diretamente na qualidade de vida das comunidades da região e são causa de conflitos diversos dificultando a gestão do recurso (SULLIVAN, 2003; ABRAHAM, 2006). No âmbito da gestão dos recursos naturais, as diversas conferencias sobre as questões ambientais impuseram o desenvolvimento de índices e indicadores que demonstrassem as intervenções do homem no meio e as questões de desenvolvimento econômico e social relacionadas. Segundo LUNA (2007) “O indicador pode ser entendido como uma medida que resume informações relevantes de um fenômeno particular e que deixa mais perceptível uma tendência”. 3 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes INDICADORES COMO INSTRUMENTO NO PLANEJAMENTO E GESTÃO. A importância dos indicadores para o planejamento estratégico e para a tomada de decisão está na sua capacidade de sintetizar e representar diferentes realidades, permitindo a observação das relações entre as variáveis, sua relevância e significância, suas correlações, que fazem parte das análises de acordo com o objetivo da aplicação. Os indicadores ambientais têm sido amplamente utilizados em razão dos avanços da informática e do sensoriamento remoto, possibilitando melhor reconhecimento espacial do território, além de proporcionarem o monitoramento mais preciso e eficiente dos dados climáticos, balanços de energia, vazão dos rios e qualidade de água. A partir dos anos 1990, surgiu o interesse no desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade por parte de vários setores da sociedade, governo, sociedades civis, institutos de pesquisa e universidades em todo o mundo. No ano de 2001, a United Nations propôs o desenvolvimento de índices para apoio a gestão dos recursos hídricos, sendo que, no ano 2000, os pesquisadores do Oxford Center Water Research (OCWR) desenvolveram o Índice de Pobreza Hídrica (IPH) que foi inicialmente aplicado em países africanos e foi sendo adaptado e aplicado em outras regiões de áreas áridas e semiáridas. (LUNA, 2007). Ao propor indicadores para análise dos recursos hídricos é necessária prudência, pois eles podem mostrar tendências que não refletem a realidade por tratarem informações de diversos tipos. O Índice de Pobreza Hídrica (IPH) é um modelo geoestatístico que pretende avaliar se os indivíduos possuem água segura (em quantidade e qualidade satisfatória) para uso doméstico e da comunidade. Este índice tenta refletir a disponibilidade física da água, como a população é servida por essa água e a manutenção da integridade ecológica. Existe uma tendência à sua utilização em detrimento à outros em razão do seu caráter holístico, desenvolvido a partir de uma metodologia interdisciplinar, trata as informações quantitativas e qualitativas, para uma compreensão mais ampla sobre a disponibilidade de água e a bem estar social das populações residentes em áreas secas, permitindo identificar e estimar como a escassez hídrica afeta a qualidade de vida e a economia local, podendo ser aplicado na supervisão e monitoramento dos recursos hídricos, sendo um importante instrumento de apoio ao planejamento e gestão da água (SULLIVAN, 2000), de imprescindível utilidade no semiárido cearense. O cálculo do Índice de Pobreza Hídrica foi desenvolvido por Sullivan e sua equipe do Oxford Centre for Water Research (OCWR), no ano 2000 e foi aplicado em vários países da África, Ásia e América do Sul. A composição do IPH se dá através da média 4 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 ponderada calculada para cada componente, a partir de seus sub-componentes (variáveis). A ponderação é aplicada para evidenciar a importância de uma componente para determinada localidade estudadas, comparando os seus valores e a situação de cada componente para cada localidade estudada, pode-se apontar quais as localidades e quais problemas necessitam de intervenções mais urgentes (ABRAHAM, 2006). Para sua aplicação no semiárido brasileiro, foi necessário um ajuste na componente recurso, uma vez que na construção do indicador a nível local foi detectado um desvio que influencia no resultado da componente, desta forma os recursos superficiais e subterrâneos foram associados aos usos e passou a denominar-se Componente Disponibilidade. Este ajuste foi proposto por Luna (2007) na aplicação do IPH na Sub Bacia do Rio Salgado. Para a aplicação nos municípios da área de estudos propomos um ajuste metodológico para a Componente Ambiente. A adaptação proposta para a componente ambiente vem ajustar o modelo às condições e peculiaridades da região dos municípios de Crateús, Independência, Novo Oriente, Parambu, Quiterianópolis e Tauá. A problemática ambiental da área se evidencia pela exaustão das terras devido ao mau uso, e tende a gravar a situação de pobreza pelas das perdas econômicas relacionadas aos eventos de seca. A fragilidade ambiental e a densidade populacional da área estudos se refletem nas condições socioeconômicas e a ambientais, que se estabelecem pelo binômio pobreza-água. Para esta adaptação fundamentamos os conceitos para análise integrada dos ambientes que apoiam a estruturação dos sistemas ambientais e suas compartimentações (SOUZA, 2000). Em tal perspectiva o estudo deve considerar a estabilidade do meio (TRICARD, 1977) e todas as variáveis envolvidas na construção da paisagem daquelas localidades. Utilizamos a Análise Ambiental aplicada no Projeto WAVES para compor o ajuste na componente Ambiente (OLIVEIRA & SOUZA in: GAISER, 2003). MATERIAL E MÉTODO Cálculo do Índice de Pobreza Hídrica para o semiárido cearense Para a escolha da área foram considerados alguns elementos, tais como, a fragilidade ambiental das áreas, principalmente as que compreendem as nascentes, devido às características físico-climatológicas e as condições socioeconômicas da população dos municípios. A construção da pesquisa utilizou de revisão bibliográfica, para identificar conceitos e variáveis relacionadas à pobreza e à água, voltadas à realidade do Semiárido Cearense. 5 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes A área deste estudo compreende parte de duas importantes bacias hidrográficas no Estado do Ceará - o alto curso da Bacia do Rio Parnaíba e a Sub-Bacia do Alto Jaguaribe - que abrigam as nascentes do Rio Poti, no município de Quiterianópolis e as nascentes do Rio Jaguaribe - no município de Tauá - onde encontramos extensas faixas de terras fortemente degradadas. Nesses municípios estão presentes grandes problemas de ordem socioeconômica e ambiental relacionados à disponibilidade e ao acesso aos recursos hídricos e seus reflexos na capacidade econômica das comunidades locais, que são os pontos relevantes de motivação para a realização deste estudo (Figura 1). Figura 1 - Localização da área de estudos Fonte: FUNCEME 2009 Dentre estes municípios, quatro deles estão entre os que possuem elevados índices de aridez e é nessas áreas onde estão os mais críticos processos de desertificação. No ranking proposto pelo IPEA (1995) (Tabela 1), Independência, Novo Oriente, Parambu e Tauá encontram-se dentro das dez primeiras posições; Crateús apresenta um índice moderado de aridez e para Quiterianópolis não foram apresentados dados na pesquisa do IPEA (1995), o que justifica a importância de um estudo que proponha instrumental 6 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 de apoio à gestão dos recursos naturais no Semiárido Cearense. Tabela 1 – Dados da População (prevista 2008), Área, Índice de Aridez e Indicadores Socioeconômicos: Índice de Desenvolvimento Municipal (IDH), Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e Produto Interno Bruto per capta (PIB) dos municípios Rank Aridez critica Município Pop 2008 Índice de SemiAridez 1991 3.218 2,16 0,39 Área km2 IDM 2006 IDH 2000 PIB per capita 2006 R$ 22,79 0,657 2841,00 5º Independência 6º Novo Oriente 27.418 949 0,64 0,39 25,90 0,602 2463,00 7º Parambu 30.596 2.303 1,37 0,39 18,29 0,613 2373,00 9º Tauá 54.273 4.306 2.91 0,40 30,65 0,665 3484,00 Crateús 72.385 2.965 2,01 0,45 34,20 0,676 2003,00 Quiterianópolis 20.079 1.041 0,70 - * 15,95 0,625 2408,00 médio - 25.413 % em relação a área do Estado Fonte: IPEA (1995), IPECE (2009), adaptado - * sem dados de aridez para este município A construção do IPH conforme a metodologia utilizada por Sullivan (2000, 2003) e por Abraham (2005) são considerados 5 elementos fundamentais: recurso, acesso, capacidade, uso e ambiente. Estas variáveis são compostas levando em conta os fatores mais relevantes de sua categoria (através de pesos) e que devem ser tratados e normalizados, para apresentar de forma mais clara os resultados sobre a situação das relações entre os elementos mencionados e como se refletem na sociedade visando propor ações prioritárias e o monitoramento de metas planejadas. Os resultados de cada componente são obtidos através da media ponderada, que por sua vez participam do calculo do IPH, conforme as fórmulas adiante descritas: O cálculo matemático do IPH combina estes 5 elementos através da seguinte expressão geral: Onde o WPI é o IPH para uma localidade específica “X” e o seu componente “i”, da estrutura do IPH para esta localidade; “w” são os pesos aplicados ao componente. O cálculo deve ser repetido para todos os componentes, calculando cada um dos sub- 7 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes componente (variáveis); os componentes irão ser combinados para compor o IPH. Todos os componentes enumerados devem ser calculados pela expressão: A necessidade de um ajuste da metodologia de Sullivan (2000, 2003) para o cálculo em nível local, se dá pela importância do detalhamento das informações, pois a complexidade das variações ambientais é muito dinâmica. O desenvolvimento do Índice de Pobreza Hídrica para o semiárido brasileiro (LUNA 2007), através da adaptação nas componentes Recurso e Uso, do modelo original (SULLIVAN 2000), reduziu de 5 para 4 componentes (Quadro 1). Esta adaptação nas variáveis aproximou os resultados à realidade do semiárido cearense, devido ao desvio apresentado pelos municípios que possuem grandes reservatórios, elevando assim a disponibilidade per capta. Este trabalho apresenta a proposta de ajuste para a componente Ambiente, pois a área escolhida demanda de um diagnostico mais detalhado dos ecossistemas e dos usos da terra, considerando as condições de suporte biofísico e da utilização (Quadro 1). componente Disponibilidade Acesso Capacidade Ambiente sub-componentes (variáveis) disponibilidade da água superficial e subterrânea, subtraindo a água de irrigação, uso da água para pecuária, uso da água na indústria. acesso a água potável, tempo gasto na coleta, % de mulheres envolvidos na coleta, conflitos relacionados ao uso da água. PIB per capita, escolaridade, taxa de mortalidade infantil, cobertura de abastecimento de água e esgoto, coeficiente de desigualdade GINI Declividade do terreno, vegetação (padrão fisionômico), cobertura vegetal (primária/secundária), profundidade do solo, erodibilidade. Quadro 1 - Componentes e subcomponentes para calculo do Índice de Pobreza Hídrica – Fonte: adaptado de Sullivan (2000, 2003), Abraham (2005) e Luna (2007) e a proposta para as variáveis da componente Ambiente (SOUZA & OLIVEIRA in: GAISER, 2003) Para a normalização dos indicadores sociais, utilizamos a relação entre os indicadores sociais locais e os melhores indicadores do estado, no caso a capital estadual, Fortaleza. O resultado indica o percentual relativo e será comparado às faixas e seu respectivo escore. Este escore compõe o cálculo da componente e a seguir o 8 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 cálculo do IPH. Para todas as componentes foram estabelecidos o peso igual a 1. Para a obtenção dos valores das componentes, as variáveis foram normalizadas através da mediana dos dados, gerando os Valores Indicadores (V.I.) de 01 (pior) a 05 (melhor). O uso da média aritmética, por si só, não deve ser considerada por tratar-se de uma medida de tendência central, para corrigir as distorções utilizou-se os a variância e desvio padrão para a delimitação dos intervalos das classes (faixas) de acordo com a variabilidade e distribuição dos índices e gerar os Valores Indicadores (escores). (OLIVEIRA, 2009) Abaixo apresentamos como ilustração três das tabelas utilizadas para construção do Índice de Pobreza Hídrica (IPH) (Tabelas 2, 3 e 4) com a adaptação metodológica para normalização dos intervalos de classes (faixas) e Valores Indicadores (escores). Cobertura Vegetal Cobertura primária/secundária Cobre entre Cobre entre Cobre entre Cobre entre faixa 75% 54 – 75 % 32 - 53 % 15 – 45 % < 10 % V.I. 5 4 3 2 1 Declividade Plano Suave ondulado Ondulado Fortemente Ondulado Montanhoso faixa 0–3% 3–8% 8 – 15 % 15 – 45 % < 10 % V.I. 5 4 3 2 1 faixa V.I. 5 4 3 2 1 Erosão Baixa susceptibilidade Erosão laminar ligeira Erosão com sulcos Erosão com ravinas Ravinas e Voçorocas 3–8% 8 – 15 % 15 – 45 % < 10 % Tabelas 2, 3 e 4 –Apresentação dos intervalos de classes (faixas) e Valores Indicadores (escores) A partir dos Valores Indicadores relativos aos intervalos de classes se constrói a tabela da componente. Neste exemplo apresentamos os valores referentes a componente Ambiente que compõe o cálculo do IPH (Tabela 5). 9 Tema 2 - Expansão e democratização das novas tecnologias em Geografia Física: aplicações emergentes municipio Crateus Independencia Novo Oriente Parambu Quiterianopolis Taua Componente Ambiente declividade vegetação cobertura profund solo erosão 4 3 3 3 4 3 2 2 2 3 3 3 3 3 4 2 3 2 3 4 2 3 3 3 4 3 3 2 2 2 indicador 3,3 2,3 3,0 2,5 2,8 2,5 Tabela 5 – Escores relativos intervalos de classes (faixas) e Valores Indicadores (escores) construção da componente Ambiente RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES O Índice de Pobreza Hídrica (IPH) se apresenta como um instrumento de apoio às ações para a gestão integrada dos recursos hídricos nas áreas áridas e semiáridas. Utilizado em vários países da África e da América do Sul, pode ser utilizado como um Indicador para o controle da desertificação. Para a aplicação a nível local, sua metodologia necessita de ajustes em suas componentes, como a mudanças de algumas variáveis para representar com mais proximidade a realidade. Apenas a ponderação das variáveis não se mostra suficiente para este ajuste. Especificamente para a área de estudos foi imprescindível que as variáveis ambientais fossem tratadas de maneira detalhada haja vista a importância dos recursos naturais para a manutenção da produtividade das terras e a manutenção do homem no campo. Os resultados apontam que a pobreza nestes municípios está associada às questões ambientais, concentração de renda e as dificuldades estruturais para a implantação de uma cadeia produtiva sustentável. Outra observação diz respeito aos fatores climáticos que não são tratados pelo método aplicado. Deste modo, podemos ter um desvio da realidade sobre a situação do volume de água disponível, uma vez que não considera o Balanço Hídrico. Deste modo, apesar dos açudes e poços apresentarem uma considerável capacidade em volume de água disponível, o déficit hídrico na maior parte do ano não é considerado. As políticas do Governo do Estado relacionadas ao aumento da cobertura do serviço de água encanada também pode mascarar as dificuldades de acesso, pois não é garantida a potabilidade da água fornecida pelo sistema de abastecimento. Os resultados apresentados pela pesquisa indicam que a Pobreza Hídrica está claramente associada às questões ambientais, com reflexo direto na capacidade econômica das comunidades do semiárido (Tabela 5). 10 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 município Crateús Independência Novo Oriente Parambu Quiterianópolis Tauá Índice de Pobreza Hídrica para o semiárido cearense Disponibilidade Acesso Capacidade Ambiente 3 3 4 3,3 4 3 2 2,3 4 3 2 3,0 4 3 2 2,5 4 3 2 2,8 3 3 4 2,5 IPH 3,3 2,8 3,0 2,9 3,0 3,1 Tabela 5 – Resultados do Índice de Pobreza Hídrica para o semiárido cearense. BIBLIOGRAFIA ABRAHAM E.M, BEEKMAN G. B. (eds), 2006. Indicadores de La Desertificación para América del Sur. E. Martin Fierro. Mendoza. Argentina. CEARÁ. Secretaria de Recursos Hídricos. 2004. Plano Estadual de Recursos Hídricos. SRH. Fortaleza. GAISER, T.;KROL, M.; FRISCHKORN H.; ARAÚJO, J.C. de (eds), 2003. 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