avaliacao dos metodos de diagnostico - TCC On-line

Propaganda
AVALIAÇÃO DOS MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA
INFECÇÃO PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV) EM BANCOS
DE SANGUE
Solange Rojovicz Oliveira1; Carlos de Almeida Barbosa2 e Elenice Stroparo3
1-Acadêmica do Curso Superior em Tecnologia em Bioprocessos e Biotecnologia da
Universidade Tuiuti do Paraná.
2- Biólogo Professor Especialista da UTP.
3- Farmacêutica Bioquímica, Mestre pela UFPR, Profa. Adjunta da UTP.
Endereço para correspondência do Orientador: [email protected]
Endereço: Rua Sydnei A Rangel Santos, 238, Curitiba, PR
CEP 82.010-330. Telefone: 41-33317862
RESUMO: o agente etiológico da AIDS é o HIV e ao longo dos 30 anos de sua
descoberta ainda é uma das grandes preocupações na área da saúde humana.
A partir da descoberta do vírus do HIV houve uma grande preocupação com o
diagnóstico do vírus no organismo humano e principalmente sua transmissão. Com
isso surgiu a necessidade de se ter testes cada vez mais sensíveis para a triagem
de doadores em bancos de sangue. A triagem sorológica do HIV não possibilita
100%
de
segurança
quanto
infectocontagiosas pelo sangue.
à
possibilidade
de
se
transmitir
doenças
Os testes utilizados para o diagnóstico do HIV
visam detectar anticorpos que o organismo poderá produzir após a infecção. As
metodologias mais utilizadas baseadas na detecção de anticorpos é o teste de
ELISA juntamente com o teste confirmatório Western Blot. Neste trabalho foi
realizada uma avaliação dos principais métodos utilizados atualmente para
diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV em bancos de sangue, estudos
confirmatórios e novas tecnologias que poderão ser empregadas, como a biologia
molecular, para um diagnóstico mais sensível e específico com relação à infecção
pelo HIV em serviços hemoterápicos. Garantindo que a utilização do sangue e seus
componentes na hemoterapia sejam mais seguros e não apresentem riscos de
transmitir doenças infectocontagiosas como é o exemplo do HIV abordado no
trabalho. Pode-se concluir com esta revisão de literatura que são vários os métodos
empregados no diagnóstico do HIV em bancos de sangue. Os métodos diferem em
sua sensibilidade, especificidade, custo e tecnologia empregada. A segurança
transfusional está evoluindo com o passar dos anos em função dos novos estudos e
técnicas que estão sendo desenvolvidas garantindo assim uma melhora na
segurança do sangue, diminuindo o risco de transmissão de doenças.
PALAVRAS-CHAVE: HIV. Diagnóstico laboratorial. Transfusão sanguínea.
ABSTRACT: The etiologic agent of AIDS is HIV and throughout the 30 years since its
discovery, it is still a major concern in the area of human health. After the discovery
of the HIV virus, there was great concern with the diagnosis of the virus in the human
body and especially its transmission. Along came the need to have more and more
sensitive tests for screen donors to blood transfusion. Serological screening for HIV
does not show 100% certainty as to the possibility of transmitting contagious and
infectious diseases through blood. The tests made for HIV diagnosis aim to detect
antibodies that the body is able to produce after infection. The most commonly used
methods based on detection of antibodies are the ELISA with confirmatory Western
Blot test. This work presents an evaluation of the main methods currently used for
laboratory diagnosis of HIV infection in blood banks, confirmatory studies and new
technologies that can be employed, such as molecular biology, for a more sensitive
and specific diagnosis involving HIV infection in hemotherapic services; ensuring that
the use of blood and blood components in hemotherapy are safer and present no risk
of transmitting infectious diseases such as HIV, which is the example of the
presented work. This study of literature concludes that there are various methods
used in the diagnosis of HIV in blood banks, methods which differ in their sensitivity,
specificity, cost and technology applied. The transfusion safety is evolving over the
years and depends on further studies and techniques being developed thus ensuring
enhancement on blood safety, reducing the risk of disease transmission.
KEY-WORDS: HIV. Laboratory diagnosis. Blood transfusion.
1. INTRODUÇÃO
A síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (AIDS) foi descrita pela
primeira vez no ano de 1981, e as notificações foram feitas no Centro de Controle e
Prevenção de Doenças (CDC, 2011).
O HIV pertence á família Retroviridae é um lentivírus causador de infecção
crônica e de replicação lenta. Diversos tipos de HIV, como o HIV-1 e HIV-2 possuem
suas diferenças relacionadas aos invólucros e proteínas nucleares, o que pode
causar no indivíduo infectado respostas clínicas e sorológicas diferentes. Após a
exposição ao HIV, o organismo do indivíduo infectado pode apresentar anticorpos
contra as proteínas do vírus (Polesky, 2006).
O HIV “É um vírus RNA que se caracteriza pela presença da enzima
transcriptase reversa, que permite a transcrição do RNA viral em DNA, que pode,
então, se integrar ao genoma da célula do hospedeiro, passando a ser chamado de
provírus.” (Rachid, 2000).
Quando abordamos a AIDS associada à transfusão, devemos levar em
consideração que o sangue, quando transfundido, mesmo que adequadamente
preparado e corretamente indicado, poderá acarretar riscos, pois não existe
transfusão totalmente isenta de riscos (Pereira, 2009). Foi estimado que o período
médio que um indivíduo apresenta frente a incubação do vírus depois da transfusão
e o diagnóstico de AIDS é de 4-5 anos. Ainda hoje existem casos de testes para HIV
falso-negativos, quando o indivíduo se apresenta na janela imunológica e o vírus
não é identificado no organismo do receptor e este por sua vez não sabendo da
infecção pelo vírus é um agente em potencial de transmissão do HIV (Polesky,
2006).
O diagnóstico sorológico para o HIV fundamenta-se no desenvolvimento de
anticorpos que o organismo infectado irá produzir. Alguns aspectos devem ser
levados em consideração antes da realização dos testes anti-HIV, como, por
exemplo, aspectos clínicos relacionados à infecção: transmissão, práticas de maior
ou menor risco, prevenção, significado do resultado do teste, janela imunológica –
período em que o organismo ainda não produziu anticorpos em níveis detectáveis e
por conseqüência os testes sorológicos são negativos pelos métodos convencionais
(Rachid, 2000).
No Brasil, para a realização do diagnóstico laboratorial da infecção pelo
HIV, somente podem ser utilizados testes registrados na Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), do Ministério da Saúde. O Ministério determina a
realização de diversos testes para doenças infectocontagiosas em todas as
unidades de sangue que são coletadas no país (Carrazzone et al, 2004).
Na atualidade, o método mais utilizado nos serviços de hemoterapia é o
ensaio imunoenzimático (ELISA – Enzime Linked Immunosorbent Assay), este teste
é baseado na detecção indireta de anticorpo; os testes de segunda e terceira
geração onde são utilizados antígenos recombinantes; e ainda os outros testes de
triagem de doadores de sangue, como por exemplo, a hemaglutinação, aglutinação
de partículas e quimioluminescência (Carrazzone et al, 2004). Ainda se enquadram
os
métodos
confirmatórios:
Western
Blotting
(WB),
Ensaio
Immunoblot
recombinante, Imunofluorescência, Neutralização e Reação em Cadeia de
Polimerase (Poleski, 2006).
Neste contexto vale ressaltar a importância da janela imunológica: anticorpos
específicos contra o HIV começam a ser produzidos após o contágio. No entanto, o
tempo exato para seu aparecimento depende de vários fatores, relacionados ao
hospedeiro e ao agente viral, dentre outros. Esses anticorpos podem estar presentes
em níveis baixos durante a infecção recente, mas não no limite de detecção de
alguns ensaios (Ministério da Saúde, 2008).
Um grande passo em frente, tanto teórico como prático, ocorre devido ao
aperfeiçoamento de novos exames de diagnóstico. Um dos testes que tem uma
enorme vantagem no diagnóstico direto do vírus do HIV é a metodologia do NAT
(Nucleic Acid Amplification Test). Este teste utiliza a técnica de biologia molecular
PCR (Polimerase Chain Reaction – Reação em Cadeia de Polimerase) que visa
detectar o material genético viral e não a presença de anticorpos produzidos pelo
organismo como é o caso dos testes sorológicos de rotina para HIV como o teste de
ELISA (Grmek, 1994).
2. DISCUSSÃO
O presente trabalho tem por objetivo avaliar os métodos de diagnóstico
laboratorial para a detecção da infecção pelo HIV em bancos de sangue,
comparando-os de acordo com especificidade, sensibilidade, custo e rapidez. A
pesquisa da avaliação dos métodos foi feita por bases de dados do Scielo, livros de
medicina que tratam sobre o assunto HIV e seu diagnóstico, livros de técnicas
modernas em banco de sangue.
Os testes para detectar anticorpos anti-HIV podem ser classificados como:
ensaios de triagem: desenvolvidos para detectar todos os indivíduos infectados, ou
ensaios confirmatórios: desenvolvidos para identificar os indivíduos que não estão
infectados, mas apresentam resultados reativos nos ensaios de triagem. Os testes
de triagem possuem um alto grau de sensibilidade – capacidade de um teste em
identificar os indivíduos verdadeiramente positivos ou a sua capacidade em detectar
antígenos ou anticorpos na amostra, mesmo quando presentes em pequenas
quantidades. Enquanto os testes confirmatórios possuem um alto grau de
especificidade
–
capacidade
de
um
teste
em
identificar
os
indivíduos
verdadeiramente negativos ou a sua capacidade de caracterizar amostras nãoreagentes, nas quais antígenos ou anticorpos não estão presentes. Testes com alta
sensibilidade produzem poucos resultados falso-negativos, enquanto os testes com
alta especificidade produzem poucos resultados falso-positivos (Portaria Nº
59/GM/MS, 2003).
A pesquisa foi realizada no período de março de 2011 a novembro de 2011,
usando como termos: “diagnóstico de HIV em bancos de sangue”, “métodos de
diagnóstico molecular para HIV”, “HIV na transfusão sanguínea”, “vírus transmitidos
por hemoterapia”, artigos científicos, resumos, portarias e resoluções.
2.1 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA – HIV
2.1.1 HISTÓRIA E A EPIDEMIA
De acordo com dados históricos da AIDS (Acquired Immunodeficiency
Syndrome – Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida) esta foi relatada no
início da década de 80 pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention –
Centro de Controle e Prevenção de Doenças). Dentro de alguns meses a doença foi
então identificada em usuários de drogas injetáveis de ambos os sexos e em
receptores de transfusões de sangue e hemofílicos. Ao longo da descoberta do
padrão epidemiológico da doença, a evidência da provável epidemia era de um
agente infeccioso que se transmitia por contato sexual e por transfusão sanguínea
(Fauci & Lane, 2011).
O agente etiológico da AIDS é o HIV e de acordo com o CDC qualquer
indivíduo infectado pelo HIV com contagem de células T CD4+ menor que 200/µl
tem AIDS por definição, assintomático ou não. O HIV-1 é distribuído mundialmente,
porém, o HIV-2, é mais restrito ao continente africano, e está relacionado ao vírus da
imunodeficiência símia (encontrado em macacos) pouco comum em humanos (Fauci
e Lane, 2011).
Segundo dados recentes da UNAIDS (Joint United Nations Program on
HIV/AIDS – Conjunto de Programa das Nações Unidas sobre HIV/AIDS) estima-se
que em 30 anos da AIDS, cerca de 34 milhões de pessoas vivem com HIV e quase
30 milhões de pessoas morreram de causas relacionadas à AIDS desde o primeiro
caso relatado na década de 80. Cerca de 7 mil pessoas são infectadas pelo HIV
todos os dias no mundo, ao mesmo tempo que a metade (50%) das pessoas
infectadas (34 milhões) não sabem que são portadoras do vírus. Em torno de 2 mil e
500 jovens, no mundo, são contaminados pelo HIV todos os dias. 41% das novas
infecções se dão em jovens de 15 a 24 anos. Na idade de 10 a 19 anos, cerca de 2
milhões de adolescentes estão vivendo com o HIV. O acesso ao tratamento pode
transformar a luta contra o HIV/AIDS na próxima década. Ainda nesse contexto vale
ressaltar que a terapia antirretroviral impede a morte das pessoas e também evita a
transmissão do vírus para mulheres, homens e crianças. (UNAIDS, 2011).
2.1.2 O VÍRUS
O HIV possui estrutura icosaédrica e tem duas fitas simples de RNA genômico,
um capsídio que é formado por proteínas presentes no envoltório – gp120 externa e
gp41 transmembrana: responsáveis por facilitar a entrada do vírus nas células alvo.
E três enzimas importantes: transcriptase reversa, protease e intregrase – tanto as
enzimas e proteínas são fundamentais para a replicação, desenvolvimento e
sobrevivência do vírus no organismo infectado. O vírus liga-se aos receptores das
células-alvo e em seguida ocorre a fusão do envelope viral com a membrana celular
através da ligação das moléculas de gp120 aos receptores das mesmas. O principal
alvo do HIV são as moléculas CD4. (Ferreira, 2005).
Logo após a infecção das células pelo vírus, o sistema imunológico poderá
apresentar resposta imune humoral - através dos anticorpos anti-HIV como resposta
a celular – respostas das células T citotóxicas. Em torno de 3 a 12 semanas após a
infecção pelo vírus no organismo, anticorpos contra o HIV poderá se apresentar no
soro ou no plasma do indivíduo. Nesse contexto, o paciente pode estar no período
de janela imunológica que é a fase entre o início da doença e a produção de
anticorpos pelo organismo onde os níveis de anticorpos ainda são muito baixos e
dificilmente detectáveis pelos testes de triagem. Após este período ocorrerá a
soroconversão e os anticorpos alcançam níveis detectáveis e permanentes no
organismo do indivíduo, podendo assim serem detectados pelos testes sorológicos
(Ribeiro, 2006).
2.1.3 TRANSMISSÃO DO HIV
A transmissão do HIV se dá por contato sexual, transfusões de sangue ou
hemoderivados, contaminação intraparto e perinatal de mãe para filho, através do
aleitamento (Fauci & Lane, 2011), uso compartilhado de agulhas contaminadas para
consumo de drogas injetáveis e acidentes com perfuro-cortates de pacientes
contaminados (Pereira, 2009).
2.2 TRANSFUSÃO DE SANGUE E HIV
A transfusão de sangue por um longo tempo foi cenário apenas para a
transmissão de um material fisiológico, não tendo muitos riscos a quem recebia. A
partir da descoberta do HIV, causador da AIDS, passou a se ter preocupação com o
sangue doado necessitando a realização dos testes para diagnóstico de doenças
infecciosas, os quais se mostram mais sensíveis (Lima, 2011). A possibilidade de
ocorrer transmissão de doenças infecto-contagiosas por transfusão de sangue e
hemocomponentes é muito pequena, porém, apesar dos cuidados, ainda há
preocupação e segundo a literatura é uma das principais complicações da
transfusão (Polesky, 2006).
Segundo estudos, não é somente o HIV que pode ser transmitido pelo
procedimento de transfusão, destacam-se os vírus da hepatite B e C, entre outros. A
redução dessa transmissão é e continua sendo umas das maiores inquietações na
área da hemoterapia e de estudos que estão sendo desenvolvidos para minimizar a
problemática (Lima, 2011).
A transfusão de sangue pode trazer riscos de imediato ou tardio, por isso, deve
ser criteriosamente indicada (RDC nº 153, 2004). Desde o primeiro caso relatado da
infecção transfusional pelo HIV em 1983, várias medidas foram tomadas para o
combate da transmissão do HIV pelas transfusões (Pereira, 2009).
Reduzir a transmissão de doenças pelo procedimento hemoterápico demanda
várias ações para se garantir a segurança do sangue que será utilizado. Ações
como a captação do doador onde será realizada a triagem clínica. Antes da triagem
clínica, deve-se entregar ao candidato à doação, material informativo sobre as
condições básicas para a doação e sobre as doenças transmissíveis pelo sangue. O
material informativo deve também mostrar ao candidato a importância de suas
respostas na triagem e os riscos de transmissão de enfermidades infecciosas pelas
transfusões de sangue e componentes (Neto, 2007). Até a triagem sorológica que
será realizada a partir de procedimentos descritos em normas e resoluções que será
abordado a seguir.
2.3 DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO
Na medicina transfusional é de fundamental importância os testes que serão
empregados para o diagnóstico da infecção pelo HIV, desde os testes utilizados
para a triagem de doadores como os testes confirmatórios (Neto, 2007). Os testes
sorológicos a serem empregados no sangue doado devem ter, segundo estudos:
sensibilidade, especificidade, disponibilidade no mercado, registro no Ministério da
Saúde, equipamentos e treinamentos necessários (Carrazzone et al., 2004).
A detecção de anticorpos vem sendo a principal ferramenta empregada para o
diagnóstico da infecção pelo vírus do HIV e na triagem sorológica dos doadores de
sangue (Ribeiro, 2006).
Janela Imunológica da infecção pelo HIV – Nota Técnica Nº 275/2009 ULAB/DDST/AIDS/SVS/MS:
“1. Esta nota tem por finalidade orientar os profissionais de saúde no
acompanhamento do indivíduo recém exposto ao HIV ou com suspeita da infecção
recente.
2. A janela imunológica é um conceito originado nos estudos realizados em
bancos de sangue com o intuito de definir o risco de transmissão do HIV. É o
período em que o indivíduo recém-infectado pelo HIV apresenta os testes
sorológicos negativos, porém possui vírus em quantidade suficiente para ocorrer
transmissão por transfusão sanguínea.
2.4 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E HEMOTERAPIA
No Brasil, para a prática do diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV, podem
apenas ser utilizados testes registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), do Ministério da Saúde.
Em um estudo sobre a importância da avaliação sorológica pré-transfusional em
receptores de sangue, os autores destacam o amplo disciplinamento desde a
captação
de
doadores,
processamento,
seleção
e
uso
do
sangue,
hemocomponentes e hemoderivados. Principalmente em relação ao controle de
transmissão de doenças infecto-contagiosas através da transfusão sanguínea.
Destacam dentre várias diretrizes, a resolução nº 343/2002, do Ministério da Saúde
que determina a obrigatoriedade da realização de exames laboratoriais de alta
sensibilidade em todas as doações, para a identificação das doenças transmissíveis
pelo sangue (Carrazzone et al., 2004).
De acordo com a Portaria nº 59/03 é recomendado a realização de um teste
imunoenzimático – ELISA – para o diagnóstico sorológico do HIV em laboratórios
clínicos (Ribeiro, 2006).
No contexto da hemoterapia, segue a Resolução-RDC Nº 153, de 14 de junho de
2004:
“Determina o Regulamento Técnico para os procedimentos hemoterápicos, incluindo
a coleta, o processamento, a testagem, o armazenamento, o transporte, o controle
de qualidade e o uso humano de sangue, e seus componentes, obtidos do sangue
venoso, do cordão umbilical, da placenta e da medula óssea”.
Ainda no contexto da hemoterapia e resolução acima mencionada torna
obrigatória a realização de dois testes para a liberação de bolsas de sangue e
hemocomponentes – um dos testes deve ser imunoenzimático e o segundo poderá
ser por quimioluminescência. E ainda os resultados da triagem devem ser
confirmados através dos testes confirmatórios que serão descritos a seguir (Ribeiro,
2006).
2.5 MÉTODOS DE TRIAGEM
O teste imunoenzimático ELISA é o mais utilizado na detecção de antígenos e/ou
anticorpos anti-HIV, sendo o teste regulamentado para a triagem de doadores de
sangue por ser de fácil automação, o custo é relativamente baixo e apresenta,
segundo estudos, elevada sensibilidade e especificidade (Ribeiro, 2006). Esse teste
emprega anticorpos marcados com enzimas que irá detectar a reação antígenoanticorpo. Essas enzimas necessitam de um substrato que neste caso é um
cromógeno que irá formar um produto colorido e então ser detectada por sua
intensidade e medida por um espectrofotômetro (Ferreira, 2005). A intensidade da
coloração é diretamente proporcional á presença da reação antígeno-anticorpo na
amostra testada (Ribeiro, 2006). Mais um teste para a detecção de anticorpos é a
técnica de Imunofluorescência que é de simples realização, porém de difícil
padronização, com sensibilidade parecida com o método de Western Blotting (WB),
descrito a seguir, porém é um método que depende muito de observação, passível
de ocorrer erros (Rachid, 2000).
2.6 MÉTODOS CONFIRMATÓRIOS
Utiliza-se o teste WB quando aplicado a proteínas. A técnica é usada para
detectar a presença de anti-HIV e para determinar com qual dos componentes virais
reagem os anticorpos. Segundo a literatura é um teste sensível e específico, porém,
por sua complexidade técnica não pode ser utilizada como teste de triagem, além de
ter um custo alto (Polesky, 2011). O WB serve para a confirmação do resultado
reativo na etapa de triagem. O teste segue o mesmo princípio do teste de ELISA,
com a diferença de se revelar a presença de anticorpos contra determinadas
proteínas do HIV (Ribeiro, 2006).
2.7 MÉTODOS MOLECULARES
A
biologia
molecular
tem
permitido
um
avanço
na
compreensão
do
comportamento e patogênese do HIV, e esse agente viral tem representado um
modelo prático da aplicação dos conhecimentos introduzidos pela biologia molecular
(Brígido & Rodrigues, 2006).
O teste mais sensível, fundamentado na literatura, para a detecção da infecção
pelo HIV é a reação em cadeia de polimerase (PCR). O teste depende da
amplificação do material genético (DNA) a ser analisado nas células infectadas.
Esse método tem uma sensibilidade alta, detecta a infecção por HIV antes dos
testes de triagem – diminuindo o período de janela imunológica, porém, depende de
um cuidadoso controle, o custo é elevado e exigirá o desenvolvimento de sistemas
automatizados para diminuir o tempo das etapas desde a extração e preparação das
amostras de DNA para o teste (Polesky, 2011). A PCR tem melhorado
significativamente o diagnóstico molecular nos últimos anos (Rezende, 2002), porém
ainda não está sendo empregada rotineiramente para a triagem de doadores de
sangue (Neto, 2009).
Temos ainda o NAT (Teste de Ácido Nucléico), teste que utiliza a tecnologia de
PCR em tempo real para a detecção do HIV e HCV em amostras de doadores de
sangue. Completando a pesquisa de anticorpos e antígenos desses agentes
infecciosos visando reduzir o período de janela imunológica. O teste apresenta boa
sensibilidade e permite a detecção de amostras positivas para HIV em período de
janela imunológica (Lima, 2011).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da transmissão do vírus HIV ser na maioria dos casos por contato sexual,
a contaminação por transfusão sanguínea ainda é bastante preocupante, pois,
apesar da sensibilidade dos testes sorológicos utilizados, há o risco do contágio em
função da fase de janela imunológica da infecção (Eustáquio, 2009).
Avaliando os estudos, foi constatado que é de extrema importância que os
profissionais que realizam a triagem clínica dos doadores de sangue estejam
preparados para realizar uma avaliação adequada quanto ao comportamento de
risco dos doadores, no intuito de reduzir possíveis doadores de risco. Os critérios de
triagem clínica são fundamentados na proteção do doador e principalmente na do
receptor (Pereira, 2009).
No contexto do HIV desde os seus primeiros relatos até o isolamento e
identificação do HIV como agente causador da síndrome, vários pesquisadores vêm,
ao longo do tempo, procurando métodos laboratoriais adequados para auxiliar no
diagnóstico da infecção. Em 1985 os testes para os doadores de sangue passaram
a serem obrigatórios através do ensaio imunoenzimático (ELISA) como primeira
ferramenta de triagem diagnóstica (Machado, 1999).
O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito pela sorologia a partir do teste antiHIV. O teste mede a presença de anticorpos anti-HIV, contra os principais antígenos
virais (anti-p24, anti-gp41, anti-gp120). O exame sorológico de triagem ELISA antiHIV é utilizado como escolha para a infecção pelo HIV por sua alta sensibilidade e
baixo custo, porém limitado por ocorrerem possíveis falso-positivos ou negativos,
portanto, este teste não pode se recomendado para confirmação diagnóstica. Os
testes confirmatórios de Imunofluorescência e Western Blotting são considerados os
melhores testes empregados como testes confirmatórios para a infecção pelo HIV,
por serem muito específicos e sensíveis, porém, mais caros (MedGrupo, 2011).
Com relação aos testes realizados para o diagnóstico do HIV, na atualidade,
existe uma obrigatoriedade para a realização de duas metodologias de testes
(ANVISA, RDC nº 57) e a partir da portaria nº 262/2002 do Ministério da Saúde, o
teste NAT passou a ser indicado para todos os doadores de sangue do Brasil. A
partir disso vem sendo desenvolvido pela Fiocruz um kit próprio para a detecção do
RNA viral do HIV e também do vírus da hepatite C. A inclusão desse teste em
bancos de sangue é de grande importância, pois, diminui o período de janela
imunológica e elucida os resultados indeterminados pelos métodos sorológicos
utilizados na triagem inicial do material (Lima, 2011). Comprovadamente mais eficaz,
como consta na literatura, apesar do teste NAT ter sido aprovado pela ANVISA
encontra barreiras para ser adotado no Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez
que essa tecnologia requer infraestrutura adequada e altos custos (Calegario,2009).
REFERÊNCIAS
BRÍGIDO, L. F. M.; RODRIGUES, R. Vírus da Imunodeficiência Adquirida. In:
ROSSETTI, M. L. Doenças Infecciosas: Diagnóstico Molecular. Guanabara Koogan,
2006. Cap. 12, p. 148-155.
CARRAZZONE, C. F. V.; BRITO, A. M de; GOMES, Y. M. Importância da avaliação
sorológica pré-transfusional em receptores de sangue. Revista Brasileira de
Hematologia e Hemoterapia, Recife, vol.26. n° 2, p. 93-98. 2004.
CALEGARIO, T. A. Implantação do NAT nos bancos de sangue. 2009. 6 p. trabalho
de disciplina – Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, 2009.
CENTERS FOR DISEASE CONTROL. Current Trends Update on Acquired Immuno
Deficiency Syndrome. In: Morbidity and Mortality Weekly Report. Disponível em:
http://www.cdc.gov/hiv/default.htm. Acesso em: 20 agos. 2011.
EUSTÁQUIO, J. M. J.; LIMA, G. M. de.; MARTINS, R. A.; SOUZA, H. M.; MARTINS,
P. R. J. Ocorrência de doações de sangue com sorologia positiva para o vírus HIV
no hemocentro regional de Uberaba (MG) – Fundação Hemominas no período de
1995 a 2006. Revista de Patologia Tropical, Minas Gerais, vol.38. n° 2, p. 73-81.
2009.
FAUCI, A. S.; LANE, H. C. Doença causada pelo Vírus da Imunodeficiência
Humana: AIDS e distúrbios relacionados. In: HARRISON. Medicina Interna. 17ª
Ed.,Porto Alegre: McGraw Hill (Editora Interamericana do Brasil), 2011. Cap. 182, p.
1137-1203.
FERREIRA, A. G. P. Processo de Transferência da Tecnologia de Produção do
Teste Rápido de HIV-1 e HIV-2 em Bio-Manguinhos: Um Modelo para a
Incorporação de Novas Tecnologias. 2005. 95p. Tese de Mestrado – Instituto
Oswaldo Cruz, Bio-Manguinhos, Rio de Janeiro, 2005.
GRMEK, M. D. História da Sida. Lisboa: Relógio D'Água Editores, 1994. 331 p.
LIMA, D. S. Estudo comparativo de metodologias de traigem para HIV e HCV em
doadores de sangue. 2011. 22p. Projeto de Pesquisa – Academia de Ciência e
Tecnologia, Universidade de Brasília, Brasília – DF, 2011.
MACHADO, A. A.; COSTA, J. C. da. Métodos laboratoriais para o diagnóstico da
infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Medicina, Ribeirão Preto, vol.
32, 138-146, 1999.
MED GRUPO CICLO 1. Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida/ AIDS.
Infectologia vol. 2. Ed. Medyklim Editora. Editor: Cassio Engel. Med Curso 2011.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - Secretaria de Vigilância em Saúde - Programa Nacional
de DST e AIDS. Recomendações para terapia anti-retroviral em adultos e
adolescentes
infectados
pelo
HIV
2007/2008.
Disponível
em:
www.saude.rio.rj.gov.br/aids//media/dstaids_consenso_adulto_2008.pdf. Acesso em
20 agos. 2011.
NETO, C. A. Perfil epidemiológico de doadores de sangue com diagnóstico
sorológico de sífilis e HIV. 2007. 136p. Tese de Doutorado – Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
NETO, C. A.; MENDROME, A. JR.; SALLES, N. A.; CHARMONE, D.A.F.; SABINO,
E. C. O papel do médico na redução do risco residual da transmissão do vírus da
imunodeficiência humana (HIV) por transfusão de sangue e hemocomponentes. São
Paulo, Diagnóstico e Tratamento, vol. 14. n° 2. 57- 61. 2009.
NOTA TÉCNICA Nº 275 /2009 – ULAB/DDST/AIDS/SVS/MS. Disponível na página:
http://www.gaparp.org.br/files/Janela_Imunologica_da_Infeccao_pelo_HIV_GAPA.pd
f. Acesso em 30 agos 2011.
PEREIRA, L. M. C. M. Perfil epidemiológico dos doadores de sangue da fundação
Hemopa em Belém-Pará, infectados pelo vírus da imunodeficiência humana. 2009.
85p. Dissertação de Mestrado – Instituto de Ciências Biológicas, Universidade
Federal do Pará, Belém-Pará, 2009.
POLESKY, H. F. Vírus transmitidos por transfusão. In: HARMENING, D. M. Técnicas
modernas em banco de sague e transfusão. 4ª. Ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2006.
406-418.
PORTARIA Nº 59/GM/MS, de 29 de janeiro de 2003. Disponível na página:
www.aids.gov.br. Acesso em 20 de agos. 2011.
RACHID, M. Manual de HIV/AIDS. 5. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2000. 190 p.
RESOLUÇÃO-RDC Nº 153, DE 14 DE JUNHO DE 2004. Disponível na página:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/resolucao_153_2004.pdf. Acesso em 30
de agos 2011.
REZENDE, P.R.; ALVES, G. B.; MARADEI-PEREIRA, L. M. C.; VALE, T. J. L.;
PIMENTA, A. S. C.; LEMOS, J. A. R. Sensibilidade da técnica de reação em cadeia
de polimerase para HIV-1 em relação à técnica de ensaio imunoenzimático. Revista
Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, Belém-PA, vol. 24. n° 1, 25-28, 2002.
PORTARIA n.º 262/GM, Em 5 de fevereiro de 2002. Disponível na página:
http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2002/Gm/GM-262.htm. Acesso em
13 out 2011.
RIBEIRO, A. S. Confecção de painel sorológico para controle de qualidade de
diagnósticos para detecção do anti-HIV, 2006. 47p. Monografia de Pós Graduação –
FIOCRUZ, Rio de Janeiro, 2006.
UNAIDS - Joint United Nations Program on HIV/AIDS. Disponível na página:
http://www.unaids.org. Acesso em 28 out 2011.
Download