AVALIAÇÃO DOS MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV) EM BANCOS DE SANGUE Solange Rojovicz Oliveira1; Carlos de Almeida Barbosa2 e Elenice Stroparo3 1-Acadêmica do Curso Superior em Tecnologia em Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Tuiuti do Paraná. 2- Biólogo Professor Especialista da UTP. 3- Farmacêutica Bioquímica, Mestre pela UFPR, Profa. Adjunta da UTP. Endereço para correspondência do Orientador: [email protected] Endereço: Rua Sydnei A Rangel Santos, 238, Curitiba, PR CEP 82.010-330. Telefone: 41-33317862 RESUMO: o agente etiológico da AIDS é o HIV e ao longo dos 30 anos de sua descoberta ainda é uma das grandes preocupações na área da saúde humana. A partir da descoberta do vírus do HIV houve uma grande preocupação com o diagnóstico do vírus no organismo humano e principalmente sua transmissão. Com isso surgiu a necessidade de se ter testes cada vez mais sensíveis para a triagem de doadores em bancos de sangue. A triagem sorológica do HIV não possibilita 100% de segurança quanto infectocontagiosas pelo sangue. à possibilidade de se transmitir doenças Os testes utilizados para o diagnóstico do HIV visam detectar anticorpos que o organismo poderá produzir após a infecção. As metodologias mais utilizadas baseadas na detecção de anticorpos é o teste de ELISA juntamente com o teste confirmatório Western Blot. Neste trabalho foi realizada uma avaliação dos principais métodos utilizados atualmente para diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV em bancos de sangue, estudos confirmatórios e novas tecnologias que poderão ser empregadas, como a biologia molecular, para um diagnóstico mais sensível e específico com relação à infecção pelo HIV em serviços hemoterápicos. Garantindo que a utilização do sangue e seus componentes na hemoterapia sejam mais seguros e não apresentem riscos de transmitir doenças infectocontagiosas como é o exemplo do HIV abordado no trabalho. Pode-se concluir com esta revisão de literatura que são vários os métodos empregados no diagnóstico do HIV em bancos de sangue. Os métodos diferem em sua sensibilidade, especificidade, custo e tecnologia empregada. A segurança transfusional está evoluindo com o passar dos anos em função dos novos estudos e técnicas que estão sendo desenvolvidas garantindo assim uma melhora na segurança do sangue, diminuindo o risco de transmissão de doenças. PALAVRAS-CHAVE: HIV. Diagnóstico laboratorial. Transfusão sanguínea. ABSTRACT: The etiologic agent of AIDS is HIV and throughout the 30 years since its discovery, it is still a major concern in the area of human health. After the discovery of the HIV virus, there was great concern with the diagnosis of the virus in the human body and especially its transmission. Along came the need to have more and more sensitive tests for screen donors to blood transfusion. Serological screening for HIV does not show 100% certainty as to the possibility of transmitting contagious and infectious diseases through blood. The tests made for HIV diagnosis aim to detect antibodies that the body is able to produce after infection. The most commonly used methods based on detection of antibodies are the ELISA with confirmatory Western Blot test. This work presents an evaluation of the main methods currently used for laboratory diagnosis of HIV infection in blood banks, confirmatory studies and new technologies that can be employed, such as molecular biology, for a more sensitive and specific diagnosis involving HIV infection in hemotherapic services; ensuring that the use of blood and blood components in hemotherapy are safer and present no risk of transmitting infectious diseases such as HIV, which is the example of the presented work. This study of literature concludes that there are various methods used in the diagnosis of HIV in blood banks, methods which differ in their sensitivity, specificity, cost and technology applied. The transfusion safety is evolving over the years and depends on further studies and techniques being developed thus ensuring enhancement on blood safety, reducing the risk of disease transmission. KEY-WORDS: HIV. Laboratory diagnosis. Blood transfusion. 1. INTRODUÇÃO A síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (AIDS) foi descrita pela primeira vez no ano de 1981, e as notificações foram feitas no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, 2011). O HIV pertence á família Retroviridae é um lentivírus causador de infecção crônica e de replicação lenta. Diversos tipos de HIV, como o HIV-1 e HIV-2 possuem suas diferenças relacionadas aos invólucros e proteínas nucleares, o que pode causar no indivíduo infectado respostas clínicas e sorológicas diferentes. Após a exposição ao HIV, o organismo do indivíduo infectado pode apresentar anticorpos contra as proteínas do vírus (Polesky, 2006). O HIV “É um vírus RNA que se caracteriza pela presença da enzima transcriptase reversa, que permite a transcrição do RNA viral em DNA, que pode, então, se integrar ao genoma da célula do hospedeiro, passando a ser chamado de provírus.” (Rachid, 2000). Quando abordamos a AIDS associada à transfusão, devemos levar em consideração que o sangue, quando transfundido, mesmo que adequadamente preparado e corretamente indicado, poderá acarretar riscos, pois não existe transfusão totalmente isenta de riscos (Pereira, 2009). Foi estimado que o período médio que um indivíduo apresenta frente a incubação do vírus depois da transfusão e o diagnóstico de AIDS é de 4-5 anos. Ainda hoje existem casos de testes para HIV falso-negativos, quando o indivíduo se apresenta na janela imunológica e o vírus não é identificado no organismo do receptor e este por sua vez não sabendo da infecção pelo vírus é um agente em potencial de transmissão do HIV (Polesky, 2006). O diagnóstico sorológico para o HIV fundamenta-se no desenvolvimento de anticorpos que o organismo infectado irá produzir. Alguns aspectos devem ser levados em consideração antes da realização dos testes anti-HIV, como, por exemplo, aspectos clínicos relacionados à infecção: transmissão, práticas de maior ou menor risco, prevenção, significado do resultado do teste, janela imunológica – período em que o organismo ainda não produziu anticorpos em níveis detectáveis e por conseqüência os testes sorológicos são negativos pelos métodos convencionais (Rachid, 2000). No Brasil, para a realização do diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV, somente podem ser utilizados testes registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), do Ministério da Saúde. O Ministério determina a realização de diversos testes para doenças infectocontagiosas em todas as unidades de sangue que são coletadas no país (Carrazzone et al, 2004). Na atualidade, o método mais utilizado nos serviços de hemoterapia é o ensaio imunoenzimático (ELISA – Enzime Linked Immunosorbent Assay), este teste é baseado na detecção indireta de anticorpo; os testes de segunda e terceira geração onde são utilizados antígenos recombinantes; e ainda os outros testes de triagem de doadores de sangue, como por exemplo, a hemaglutinação, aglutinação de partículas e quimioluminescência (Carrazzone et al, 2004). Ainda se enquadram os métodos confirmatórios: Western Blotting (WB), Ensaio Immunoblot recombinante, Imunofluorescência, Neutralização e Reação em Cadeia de Polimerase (Poleski, 2006). Neste contexto vale ressaltar a importância da janela imunológica: anticorpos específicos contra o HIV começam a ser produzidos após o contágio. No entanto, o tempo exato para seu aparecimento depende de vários fatores, relacionados ao hospedeiro e ao agente viral, dentre outros. Esses anticorpos podem estar presentes em níveis baixos durante a infecção recente, mas não no limite de detecção de alguns ensaios (Ministério da Saúde, 2008). Um grande passo em frente, tanto teórico como prático, ocorre devido ao aperfeiçoamento de novos exames de diagnóstico. Um dos testes que tem uma enorme vantagem no diagnóstico direto do vírus do HIV é a metodologia do NAT (Nucleic Acid Amplification Test). Este teste utiliza a técnica de biologia molecular PCR (Polimerase Chain Reaction – Reação em Cadeia de Polimerase) que visa detectar o material genético viral e não a presença de anticorpos produzidos pelo organismo como é o caso dos testes sorológicos de rotina para HIV como o teste de ELISA (Grmek, 1994). 2. DISCUSSÃO O presente trabalho tem por objetivo avaliar os métodos de diagnóstico laboratorial para a detecção da infecção pelo HIV em bancos de sangue, comparando-os de acordo com especificidade, sensibilidade, custo e rapidez. A pesquisa da avaliação dos métodos foi feita por bases de dados do Scielo, livros de medicina que tratam sobre o assunto HIV e seu diagnóstico, livros de técnicas modernas em banco de sangue. Os testes para detectar anticorpos anti-HIV podem ser classificados como: ensaios de triagem: desenvolvidos para detectar todos os indivíduos infectados, ou ensaios confirmatórios: desenvolvidos para identificar os indivíduos que não estão infectados, mas apresentam resultados reativos nos ensaios de triagem. Os testes de triagem possuem um alto grau de sensibilidade – capacidade de um teste em identificar os indivíduos verdadeiramente positivos ou a sua capacidade em detectar antígenos ou anticorpos na amostra, mesmo quando presentes em pequenas quantidades. Enquanto os testes confirmatórios possuem um alto grau de especificidade – capacidade de um teste em identificar os indivíduos verdadeiramente negativos ou a sua capacidade de caracterizar amostras nãoreagentes, nas quais antígenos ou anticorpos não estão presentes. Testes com alta sensibilidade produzem poucos resultados falso-negativos, enquanto os testes com alta especificidade produzem poucos resultados falso-positivos (Portaria Nº 59/GM/MS, 2003). A pesquisa foi realizada no período de março de 2011 a novembro de 2011, usando como termos: “diagnóstico de HIV em bancos de sangue”, “métodos de diagnóstico molecular para HIV”, “HIV na transfusão sanguínea”, “vírus transmitidos por hemoterapia”, artigos científicos, resumos, portarias e resoluções. 2.1 VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA – HIV 2.1.1 HISTÓRIA E A EPIDEMIA De acordo com dados históricos da AIDS (Acquired Immunodeficiency Syndrome – Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida) esta foi relatada no início da década de 80 pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention – Centro de Controle e Prevenção de Doenças). Dentro de alguns meses a doença foi então identificada em usuários de drogas injetáveis de ambos os sexos e em receptores de transfusões de sangue e hemofílicos. Ao longo da descoberta do padrão epidemiológico da doença, a evidência da provável epidemia era de um agente infeccioso que se transmitia por contato sexual e por transfusão sanguínea (Fauci & Lane, 2011). O agente etiológico da AIDS é o HIV e de acordo com o CDC qualquer indivíduo infectado pelo HIV com contagem de células T CD4+ menor que 200/µl tem AIDS por definição, assintomático ou não. O HIV-1 é distribuído mundialmente, porém, o HIV-2, é mais restrito ao continente africano, e está relacionado ao vírus da imunodeficiência símia (encontrado em macacos) pouco comum em humanos (Fauci e Lane, 2011). Segundo dados recentes da UNAIDS (Joint United Nations Program on HIV/AIDS – Conjunto de Programa das Nações Unidas sobre HIV/AIDS) estima-se que em 30 anos da AIDS, cerca de 34 milhões de pessoas vivem com HIV e quase 30 milhões de pessoas morreram de causas relacionadas à AIDS desde o primeiro caso relatado na década de 80. Cerca de 7 mil pessoas são infectadas pelo HIV todos os dias no mundo, ao mesmo tempo que a metade (50%) das pessoas infectadas (34 milhões) não sabem que são portadoras do vírus. Em torno de 2 mil e 500 jovens, no mundo, são contaminados pelo HIV todos os dias. 41% das novas infecções se dão em jovens de 15 a 24 anos. Na idade de 10 a 19 anos, cerca de 2 milhões de adolescentes estão vivendo com o HIV. O acesso ao tratamento pode transformar a luta contra o HIV/AIDS na próxima década. Ainda nesse contexto vale ressaltar que a terapia antirretroviral impede a morte das pessoas e também evita a transmissão do vírus para mulheres, homens e crianças. (UNAIDS, 2011). 2.1.2 O VÍRUS O HIV possui estrutura icosaédrica e tem duas fitas simples de RNA genômico, um capsídio que é formado por proteínas presentes no envoltório – gp120 externa e gp41 transmembrana: responsáveis por facilitar a entrada do vírus nas células alvo. E três enzimas importantes: transcriptase reversa, protease e intregrase – tanto as enzimas e proteínas são fundamentais para a replicação, desenvolvimento e sobrevivência do vírus no organismo infectado. O vírus liga-se aos receptores das células-alvo e em seguida ocorre a fusão do envelope viral com a membrana celular através da ligação das moléculas de gp120 aos receptores das mesmas. O principal alvo do HIV são as moléculas CD4. (Ferreira, 2005). Logo após a infecção das células pelo vírus, o sistema imunológico poderá apresentar resposta imune humoral - através dos anticorpos anti-HIV como resposta a celular – respostas das células T citotóxicas. Em torno de 3 a 12 semanas após a infecção pelo vírus no organismo, anticorpos contra o HIV poderá se apresentar no soro ou no plasma do indivíduo. Nesse contexto, o paciente pode estar no período de janela imunológica que é a fase entre o início da doença e a produção de anticorpos pelo organismo onde os níveis de anticorpos ainda são muito baixos e dificilmente detectáveis pelos testes de triagem. Após este período ocorrerá a soroconversão e os anticorpos alcançam níveis detectáveis e permanentes no organismo do indivíduo, podendo assim serem detectados pelos testes sorológicos (Ribeiro, 2006). 2.1.3 TRANSMISSÃO DO HIV A transmissão do HIV se dá por contato sexual, transfusões de sangue ou hemoderivados, contaminação intraparto e perinatal de mãe para filho, através do aleitamento (Fauci & Lane, 2011), uso compartilhado de agulhas contaminadas para consumo de drogas injetáveis e acidentes com perfuro-cortates de pacientes contaminados (Pereira, 2009). 2.2 TRANSFUSÃO DE SANGUE E HIV A transfusão de sangue por um longo tempo foi cenário apenas para a transmissão de um material fisiológico, não tendo muitos riscos a quem recebia. A partir da descoberta do HIV, causador da AIDS, passou a se ter preocupação com o sangue doado necessitando a realização dos testes para diagnóstico de doenças infecciosas, os quais se mostram mais sensíveis (Lima, 2011). A possibilidade de ocorrer transmissão de doenças infecto-contagiosas por transfusão de sangue e hemocomponentes é muito pequena, porém, apesar dos cuidados, ainda há preocupação e segundo a literatura é uma das principais complicações da transfusão (Polesky, 2006). Segundo estudos, não é somente o HIV que pode ser transmitido pelo procedimento de transfusão, destacam-se os vírus da hepatite B e C, entre outros. A redução dessa transmissão é e continua sendo umas das maiores inquietações na área da hemoterapia e de estudos que estão sendo desenvolvidos para minimizar a problemática (Lima, 2011). A transfusão de sangue pode trazer riscos de imediato ou tardio, por isso, deve ser criteriosamente indicada (RDC nº 153, 2004). Desde o primeiro caso relatado da infecção transfusional pelo HIV em 1983, várias medidas foram tomadas para o combate da transmissão do HIV pelas transfusões (Pereira, 2009). Reduzir a transmissão de doenças pelo procedimento hemoterápico demanda várias ações para se garantir a segurança do sangue que será utilizado. Ações como a captação do doador onde será realizada a triagem clínica. Antes da triagem clínica, deve-se entregar ao candidato à doação, material informativo sobre as condições básicas para a doação e sobre as doenças transmissíveis pelo sangue. O material informativo deve também mostrar ao candidato a importância de suas respostas na triagem e os riscos de transmissão de enfermidades infecciosas pelas transfusões de sangue e componentes (Neto, 2007). Até a triagem sorológica que será realizada a partir de procedimentos descritos em normas e resoluções que será abordado a seguir. 2.3 DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO Na medicina transfusional é de fundamental importância os testes que serão empregados para o diagnóstico da infecção pelo HIV, desde os testes utilizados para a triagem de doadores como os testes confirmatórios (Neto, 2007). Os testes sorológicos a serem empregados no sangue doado devem ter, segundo estudos: sensibilidade, especificidade, disponibilidade no mercado, registro no Ministério da Saúde, equipamentos e treinamentos necessários (Carrazzone et al., 2004). A detecção de anticorpos vem sendo a principal ferramenta empregada para o diagnóstico da infecção pelo vírus do HIV e na triagem sorológica dos doadores de sangue (Ribeiro, 2006). Janela Imunológica da infecção pelo HIV – Nota Técnica Nº 275/2009 ULAB/DDST/AIDS/SVS/MS: “1. Esta nota tem por finalidade orientar os profissionais de saúde no acompanhamento do indivíduo recém exposto ao HIV ou com suspeita da infecção recente. 2. A janela imunológica é um conceito originado nos estudos realizados em bancos de sangue com o intuito de definir o risco de transmissão do HIV. É o período em que o indivíduo recém-infectado pelo HIV apresenta os testes sorológicos negativos, porém possui vírus em quantidade suficiente para ocorrer transmissão por transfusão sanguínea. 2.4 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E HEMOTERAPIA No Brasil, para a prática do diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV, podem apenas ser utilizados testes registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), do Ministério da Saúde. Em um estudo sobre a importância da avaliação sorológica pré-transfusional em receptores de sangue, os autores destacam o amplo disciplinamento desde a captação de doadores, processamento, seleção e uso do sangue, hemocomponentes e hemoderivados. Principalmente em relação ao controle de transmissão de doenças infecto-contagiosas através da transfusão sanguínea. Destacam dentre várias diretrizes, a resolução nº 343/2002, do Ministério da Saúde que determina a obrigatoriedade da realização de exames laboratoriais de alta sensibilidade em todas as doações, para a identificação das doenças transmissíveis pelo sangue (Carrazzone et al., 2004). De acordo com a Portaria nº 59/03 é recomendado a realização de um teste imunoenzimático – ELISA – para o diagnóstico sorológico do HIV em laboratórios clínicos (Ribeiro, 2006). No contexto da hemoterapia, segue a Resolução-RDC Nº 153, de 14 de junho de 2004: “Determina o Regulamento Técnico para os procedimentos hemoterápicos, incluindo a coleta, o processamento, a testagem, o armazenamento, o transporte, o controle de qualidade e o uso humano de sangue, e seus componentes, obtidos do sangue venoso, do cordão umbilical, da placenta e da medula óssea”. Ainda no contexto da hemoterapia e resolução acima mencionada torna obrigatória a realização de dois testes para a liberação de bolsas de sangue e hemocomponentes – um dos testes deve ser imunoenzimático e o segundo poderá ser por quimioluminescência. E ainda os resultados da triagem devem ser confirmados através dos testes confirmatórios que serão descritos a seguir (Ribeiro, 2006). 2.5 MÉTODOS DE TRIAGEM O teste imunoenzimático ELISA é o mais utilizado na detecção de antígenos e/ou anticorpos anti-HIV, sendo o teste regulamentado para a triagem de doadores de sangue por ser de fácil automação, o custo é relativamente baixo e apresenta, segundo estudos, elevada sensibilidade e especificidade (Ribeiro, 2006). Esse teste emprega anticorpos marcados com enzimas que irá detectar a reação antígenoanticorpo. Essas enzimas necessitam de um substrato que neste caso é um cromógeno que irá formar um produto colorido e então ser detectada por sua intensidade e medida por um espectrofotômetro (Ferreira, 2005). A intensidade da coloração é diretamente proporcional á presença da reação antígeno-anticorpo na amostra testada (Ribeiro, 2006). Mais um teste para a detecção de anticorpos é a técnica de Imunofluorescência que é de simples realização, porém de difícil padronização, com sensibilidade parecida com o método de Western Blotting (WB), descrito a seguir, porém é um método que depende muito de observação, passível de ocorrer erros (Rachid, 2000). 2.6 MÉTODOS CONFIRMATÓRIOS Utiliza-se o teste WB quando aplicado a proteínas. A técnica é usada para detectar a presença de anti-HIV e para determinar com qual dos componentes virais reagem os anticorpos. Segundo a literatura é um teste sensível e específico, porém, por sua complexidade técnica não pode ser utilizada como teste de triagem, além de ter um custo alto (Polesky, 2011). O WB serve para a confirmação do resultado reativo na etapa de triagem. O teste segue o mesmo princípio do teste de ELISA, com a diferença de se revelar a presença de anticorpos contra determinadas proteínas do HIV (Ribeiro, 2006). 2.7 MÉTODOS MOLECULARES A biologia molecular tem permitido um avanço na compreensão do comportamento e patogênese do HIV, e esse agente viral tem representado um modelo prático da aplicação dos conhecimentos introduzidos pela biologia molecular (Brígido & Rodrigues, 2006). O teste mais sensível, fundamentado na literatura, para a detecção da infecção pelo HIV é a reação em cadeia de polimerase (PCR). O teste depende da amplificação do material genético (DNA) a ser analisado nas células infectadas. Esse método tem uma sensibilidade alta, detecta a infecção por HIV antes dos testes de triagem – diminuindo o período de janela imunológica, porém, depende de um cuidadoso controle, o custo é elevado e exigirá o desenvolvimento de sistemas automatizados para diminuir o tempo das etapas desde a extração e preparação das amostras de DNA para o teste (Polesky, 2011). A PCR tem melhorado significativamente o diagnóstico molecular nos últimos anos (Rezende, 2002), porém ainda não está sendo empregada rotineiramente para a triagem de doadores de sangue (Neto, 2009). Temos ainda o NAT (Teste de Ácido Nucléico), teste que utiliza a tecnologia de PCR em tempo real para a detecção do HIV e HCV em amostras de doadores de sangue. Completando a pesquisa de anticorpos e antígenos desses agentes infecciosos visando reduzir o período de janela imunológica. O teste apresenta boa sensibilidade e permite a detecção de amostras positivas para HIV em período de janela imunológica (Lima, 2011). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar da transmissão do vírus HIV ser na maioria dos casos por contato sexual, a contaminação por transfusão sanguínea ainda é bastante preocupante, pois, apesar da sensibilidade dos testes sorológicos utilizados, há o risco do contágio em função da fase de janela imunológica da infecção (Eustáquio, 2009). Avaliando os estudos, foi constatado que é de extrema importância que os profissionais que realizam a triagem clínica dos doadores de sangue estejam preparados para realizar uma avaliação adequada quanto ao comportamento de risco dos doadores, no intuito de reduzir possíveis doadores de risco. Os critérios de triagem clínica são fundamentados na proteção do doador e principalmente na do receptor (Pereira, 2009). No contexto do HIV desde os seus primeiros relatos até o isolamento e identificação do HIV como agente causador da síndrome, vários pesquisadores vêm, ao longo do tempo, procurando métodos laboratoriais adequados para auxiliar no diagnóstico da infecção. Em 1985 os testes para os doadores de sangue passaram a serem obrigatórios através do ensaio imunoenzimático (ELISA) como primeira ferramenta de triagem diagnóstica (Machado, 1999). O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito pela sorologia a partir do teste antiHIV. O teste mede a presença de anticorpos anti-HIV, contra os principais antígenos virais (anti-p24, anti-gp41, anti-gp120). O exame sorológico de triagem ELISA antiHIV é utilizado como escolha para a infecção pelo HIV por sua alta sensibilidade e baixo custo, porém limitado por ocorrerem possíveis falso-positivos ou negativos, portanto, este teste não pode se recomendado para confirmação diagnóstica. Os testes confirmatórios de Imunofluorescência e Western Blotting são considerados os melhores testes empregados como testes confirmatórios para a infecção pelo HIV, por serem muito específicos e sensíveis, porém, mais caros (MedGrupo, 2011). Com relação aos testes realizados para o diagnóstico do HIV, na atualidade, existe uma obrigatoriedade para a realização de duas metodologias de testes (ANVISA, RDC nº 57) e a partir da portaria nº 262/2002 do Ministério da Saúde, o teste NAT passou a ser indicado para todos os doadores de sangue do Brasil. A partir disso vem sendo desenvolvido pela Fiocruz um kit próprio para a detecção do RNA viral do HIV e também do vírus da hepatite C. A inclusão desse teste em bancos de sangue é de grande importância, pois, diminui o período de janela imunológica e elucida os resultados indeterminados pelos métodos sorológicos utilizados na triagem inicial do material (Lima, 2011). Comprovadamente mais eficaz, como consta na literatura, apesar do teste NAT ter sido aprovado pela ANVISA encontra barreiras para ser adotado no Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que essa tecnologia requer infraestrutura adequada e altos custos (Calegario,2009). REFERÊNCIAS BRÍGIDO, L. F. M.; RODRIGUES, R. Vírus da Imunodeficiência Adquirida. In: ROSSETTI, M. L. Doenças Infecciosas: Diagnóstico Molecular. Guanabara Koogan, 2006. Cap. 12, p. 148-155. CARRAZZONE, C. F. V.; BRITO, A. M de; GOMES, Y. M. Importância da avaliação sorológica pré-transfusional em receptores de sangue. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, Recife, vol.26. n° 2, p. 93-98. 2004. CALEGARIO, T. A. Implantação do NAT nos bancos de sangue. 2009. 6 p. trabalho de disciplina – Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, 2009. CENTERS FOR DISEASE CONTROL. Current Trends Update on Acquired Immuno Deficiency Syndrome. In: Morbidity and Mortality Weekly Report. 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