XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE NORMALIDADE DA DISTÂNCIA ATLANTOAXIAL DORSAL EM CÃES COM SUBLUXAÇÃO ATLANTOAXIAL 123 Eduardo Alberto Tudury1, Amanda Camilo Silva2 Introdução A subluxação atlantoaxial também conhecida como instabilidade atlantoaxial é uma afecção que causa compressão da medula espinhal e das raízes nervosas, resultando em cervicalgia e deficiências neurológicas em graus variáveis, como ataxia, tetraparesia ou tetraplegia (WHEELER & SHARP, 1999; MOREAU, 2000; SEIM, 2008; FERNÁNDEZ & BERNARDINI, 2010). Essa alteração geralmente resulta da malformação congênita e/ou do desenvolvimento, destacando a agenesia ou hipoplasia do processo odontóide do áxis, e a malformação das estruturas ligamentares que envolvem a articulação; ou ainda decorrente de trauma (LORENZ & KORNEGAY, 2006; SEIM, 2008). Cães de raças toy ou miniatura com menos de um ano de idade são os mais frequentemente acometidos (LORENZ & KORNEGAY, 2006; SEIM, 2008; BECKMANN et al. 2010) e o diagnóstico está condicionado a presença da sintomatologia clínica característica, associada aos achados radiográficos da coluna vertebral cervical em projeção lateral, lateral oblíqua e ventrodorsal (TUDURY, 1997; LORIGADOS et al. 2004; SEIM, 2008; FERNÁNDEZ & BERNARDINI, 2010). O achado radiográfico primário em projeção lateral é o aumento da distância entre o arco dorsal do atlas e o processo espinhoso do áxis, podendo também ser observado o deslocamento dorsal e cranial do corpo do áxis em direção ao canal vertebral (LORIGADOS et al. 2004; KEALY & MCALLISTER, 2005; SEIM, 2008), entretanto, pode-se obter radiografias laterais inconclusivas sem evidências de subluxação atlantoaxial, como observado por Lorigados e colaboradores (2004), sendo necessária a realização das demais projeções que evidenciam melhor a ausência ou fratura do processo odontóide (TUDURY, 1997; LORIGADOS, 2004; SEIM, 2008; FERNÁNDEZ & BERNARDINI, 2010). O índice de normalidade da distância atlantoaxial foi desenvolvido recentemente pelos autores deste relato (TUDURY et al., 2013), e trata-se de um estudo radiográfico envolvendo um índice de correlação de estruturas anatômicas (distância atlantoaxial dorsal e comprimento do processo espinhoso do áxis) em projeção lateral, de forma a permitir a realização de uma avaliação quantitativa, que aumenta a acurácia e diminui a subjetividade do diagnostico radiográfico da ocorrência de subluxação (instabilidade) atlantoaxial. Objetivou-se com este trabalho verificar a eficácia do índice de normalidade da distância atlantoaxial dorsal (distância atlantoaxial dorsal/comprimento do processo espinhoso do áxis) no diagnóstico da subluxação atlantoaxial em cães. Material e métodos Foram obtidas através de arquivos pessoais de vários neurologistas do Brasil, imagens radiográficas da coluna vertebral cervical em projeção lateral com aproximadamente 90 graus de flexão, de 28 animais da espécie canina acometidos de subluxação atlantoaxial, sem distinção de raça, sexo, peso e idade (Tabela 01). Em cada imagem radiográfica foi mensurada a menor distância existente entre o arco dorsal do atlas e a borda cranio-ventral do processo espinhoso do áxis (MDAA), e comprimento do processo espinhos do áxis (CPEA) (Figura 01). Após a obtenção dos dados, os mesmos foram aplicados a fórmula de coeficiente de correlação dimensional (CCD) desenvolvida por Tudury e colaboradores (2013). CCD = MDAA CPEA Onde: CCD = Coeficiente de correlação dimensional MDAA = Menor distância entre o arco dorsal do atlas e o processo espinhoso do áxis em 90 graus de flexão CPEA = Comprimento do processo espinhoso do áxis Os dados foram organizados e analisados através de tabelas, gráficos, medidas de tendência central (média e mediana), medidas de dispersão (desvio padrão), e teste de hipótese: Teste paramétrico t de student para avaliação dos resultados de índices obtidos nesse estudo em comparação com os índices de normalidade obtidos no estudo desenvolvido por Tudury e colaboradores (2013) em cães normais de raças toy, sendo utilizado o nível de significância de 5%. O software utilizado foi o GraphPad InStat versão 3.05. 1 Professor Associado IV do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n. Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900. [email protected]. 2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária da UFRPE. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Resultados e Discussão As raças mais acometidas pela instabilidade atlantoaxial segundo dados obtidos neste estudo foram Yorkshire Terrier (28,57%), Poodle (21,42%), cães sem raça definida (14,28%) e Miniatura Pinscher (10,71%), entretanto a afecção também foi verificada em outros cães de raças como Lhasa apso (7,14%), Maltês (7,14%), Chihuahua (3,57%), e Lulu da Pomerânia (3,57%), e ainda em um cão da raça Schnauzer (3,57%), o que corrobora com os autores Beckmann e colaboradores (2010) ao afirmarem que a subluxação atlantoaxial é mais frequentemente observada em cães de raças toy ou miniatura, contudo pode acometer outras raças. A idade dos animais variou de 3 a 48 meses (tabela 01), o que demonstra que a afecção em questão é realmente mais frequente em animais jovens, sobretudo durante o primeiro ano de vida (60,71%), como citam Chrisman e colaboradores (2005), Lorenz e Kornegay (2006), Seim (2008), e Beckmann e colaboradores (2010), podendo ocorrer um pouco mais tardiamente em animais que geralmente tem a instabilidade desde o nascimento, mas trauma recente pode ter causado compressão significativa da medula espinhal e raízes nervosas, desencadeando a sintomatologia (SEIM, 2008). Os valores de índices obtidos através da fórmula de correlação dimensional (CCD) nos cães com essa afecção variaram de 0,12 a 0,62, com valor médio de 0,28, logo, observamos que todos os valores encontram-se acima dos valores detectado como normais na pesquisa desenvolvida por Tudury e colaboradores (2013), investigação esta que apresentou valor médio de 0,06 e limite máximo normal de 0,10. Na análise estatística para avaliação das diferenças de índices obtidos neste estudo em comparação com os índices de normalidade foi obtido valor de P < 0,0001, considerado extremamente significativo, o que assinala a eficácia diagnóstica do índice de normalidade da distância atlantoaxial dorsal em cães. Esta ferramenta pode ser empregada rotineiramente diante da suspeita clínica da subluxação atlantoaxial, tendo em vista que anula a subjetividade da avaliação radiográfica, e trata-se de um método rápido, objetivo, prático, de fácil reprodução, independente do grau de experiência do profissional. Baseado nos resultados deste estudo, conclui-se que o índice de normalidade da distância atlantoaxial é eficaz quanto a avaliação de animais com subluxação atlantoaxial, podendo ser utilizado rotineiramente como método auxiliar no diagnóstico desta afecção em cães. Agradecimentos Aos professores, André Luis Selmi (Anhembi Morumbi – SP), Alexandre Mazzanti (UFSM – RS), Leonardo Augusto Lopes Muzzi (UFLA – MG), e Mônica Vicky Bahr Arias (UEL – Paraná) pela disponibilidade e concessão de imagens radiográficas para realização deste estudo. Ao CNPq, pela bolsa oferecida, que contribuiu com a realização desta pesquisa. Referências BECKMANN, D.V.; MAZZANTI, A.; SANTINI, G.; SANTOS, R.P.; FESTUGADO, R.; PELIZZARI, C.R.; POLIDORO NETO, D.; BAUMHARDT, R. Subluxação atlantoaxial em 14 cães (2003-2008). Pesq. Vet. Bras. vol.30, n.2, p.172-176, 2010. CHRISMAN, C.; MARIANI, C.; PLATT, S.; CLAEMMONS, R. Quadriparesia, quadriplegia, hemiparesia, hemiplegia agudas. In: _________. Neurologia para o clínico de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2005. Cap. 9, p.203-225. FERNÁNDEZ, V.L.; BERNARDINI, M. Enfermidades da medula com afecção neurológica secundária. In: _________. Neurologia em cães e gatos. São Paulo: MedVet, 2010. Cap 15. p.319-366. KEALY, J.K.; MCALLISTER, H. Radiologia e ultra-sonografia do cão e do gato. 3ed. São Paulo: Manole, 2005. p. 339411. LORENZ, M.D.; KORNEGAY, J.N. Tetraparesia, hemiparesia e ataxia. In: ________. Neurologia veterinária. 4 ed. São Paulo: Manole, 2006. Cap.7. p.175-218. LORIGADOS, C.A.B.; STERMAN, F.A.; PINTO, A.C.B.F. Clinic-radiographic study of congenital atlantoaxial subluxation in dogs. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci. vol.41, n.6, p.368-374, 2004. MOREAU, P. Inestabilidad vertebral. In: PELLEGRINO, F. Síndromes neurológicas em perros y gatos. Buenos Aires: Panamericana, 2000. Cap. 7, p.161-171. SEIM, H.B. Cirurgia da coluna cervical. Instabilidade atlantoaxial. In: FOSSUM, T.W. Cirurgia de pequenos animais. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. Cap.38. pág. 1441-1446. TUDURY, E.A. Radiologia da coluna vertebral de pequenos animais – guia de estudos. Londrina: Editora UEL, 1997. p.13-17. TUDURY, E.A.; SILVA, A.C.; ARAÚJO, B.M.; LACERDA, M.A.S.; AMORIM, M.M.A.; LEITE, J.E.B. Índice de normalidade da distância atlantoaxial dorsal em cães de raças toy. 2013. Trabalho em tramitação de publicação. WHEELER, S.J.; SHARP, N.J.H. Subluxação atlantoaxial. In: ________. Diagnóstico e tratamento cirúrgico das afecções espinais do cão e do gato. 1ed. São Paulo: Manole, 1999. Cap.9, p.109-121. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Tabela 1. Raça, idade e índice da distância atlantoaxial dorsal (IDA), obtido através da fórmula de coeficiente de correlação dimensional, em 28 cães acometidos pela subluxação atlantoaxial. ANIMAL RAÇA 1. SRD 2. YORKSHIRE 3. LHASA 4. LHASA APSO 5. POODLE 6. SRD 7. YORKSHIRE 8. YORKSHIRE 9. YORKSHIRE 10. POODLE 11. MALTÊS 12. POODLE 13. SRD 14. POODLE 15. MALTÊS 16. SRD 17. PINSCHER 18. POODLE 19. LHASA APSO 20. YORKSHIRE 21. CHIHUAHUA 22. POODLE 23. YORKSHIRE 24. SCHNAUZER 25. PINSCHER 26. YORKSHIRE 27. LULU DA POMERANIA 28. PINSCHER MÉDIA DESVIO PADRÃO MÍNIMO MEDIANA MÁXIMO IDA = Índice da distância atlantoaxial IDADE (meses) 24,0 6,0 24,0 48,0 10,0 3,0 6,0 12,0 3,0 6,0 5,0 6,0 17,0 4,0 7,0 5,0 12,0 6,0 3,0 13,0 6,0 20,0 9,0 18,0 5,0 12,0 7,0 18,0 11,25 9,55 3,00 7,00 48,00 IDA 0,21 0,50 0,34 0,19 0,22 0,51 0,39 0,30 0,30 0,23 0,43 0,45 0,62 0,23 0,38 0,15 0,12 0,14 0,33 0,22 0,36 0,18 0,21 0,13 0,26 0,12 0,21 0,23 0,28 0,13 0,12 0,23 0,62 Fonte: Imagem concedida por MAZZANTI, A., 2012. Figura 2. Imagem radiográfica com representação ilustrativa das distâncias mensuradas em projeção lateral com 90 graus de flexão, em um cão da raça Miniatura Pinscher com subluxação atlantoaxial. Legenda: ● (amarelo) = Menor distância entre o arco dorsal do atlas e a borda crânio-ventral do processo espinhoso do áxis (MDAA) ● (verde) = Comprimento do processo espinhoso do áxis (CPEA)