A importancia do trabalho de campo na formacao do profiss

A IMPORTANCIA DO TRABALHO DE CAMPO NA FORMAÇÃO DO
PROFISSIONAL DA GEOGRAFIA: UMA EXPERIÊNCIA A PARTIR DA
DISCIPLINA CARTOGRAFIA TEMÁTICA
Maria de Fátima Albuquerque Rangel Moreira1
Diego de Oliveira Silvestre2
Ina Maria Correia Ferro de Lima3
Resumo: O presente trabalho se propõe a analisar criticamente a importância do
trabalho de campo no ensino de Geografia. Neste trabalho tomamos como exemplo a
aula de campo da disciplina de Cartografia Temática realizada no município de Lucena
com alunos do quinto período. O objetivo principal da prática do trabalho de campo é
de fornecer aos alunos a oportunidade de aprender Geografia mediante a observação
direta e fazê-los apreender a relação entre os aspectos físicos - naturais e as atividades
humanas. O trabalho de campo da disciplina Cartografia Temática, teve como finalidade
levar o aluno a compreensão do que é uma pesquisa exploratória e assimilar de forma
clara a representação do relevo observando o princípio da construção das curvas de
nível como elemento fundamental da carta topográfica primando pela qualidade das
informações obtidas. O objeto estudado foi o espaço geográfico representado pela carta
topográfica Rio Soé. Os resultados mostraram que os métodos da pesquisa de campo
são importantes na formação do professor/pesquisador e acadêmico, como um meio de
unir prática e teoria.
Palavras-chaves: Trabalho de Campo, Geografia, Espaço Geográfico
Résumé: Ce document vise à examiner de façon critique l'importance du travail de
terrain dans l'enseignement de la géographie. Dans ce travail, nous prenons comme
exemple le domaine de la catégorie de discipline de la Cartographie thématique tenu
dans la ville de Lucena avec des étudiants de la cinquième période. L'objectif principal
de la pratique du travail de terrain est d'offrir aux étudiants la possibilité d'apprendre la
géographie par l'observation directe et les faire étudier la relation entre le physique naturel et les activités humaines. Le travail de terrain pour la discipline Cartographie
thématique, a été conçu pour permettre à l'étudiant de comprendre ce qu'est la recherche
exploratoire et d'intégrer une représentation claire du relief sur le principe que la
construction de lignes de contour comme un élément clé de la proéminence
topographique pour la qualité informations obtenues. L'objet étudié est la zone
géographique représentée par le Soe topographiques de Rio. Les résultats ont montré
que les méthodes de recherche sur le terrain jouent un rôle important dans la formation
de l'enseignant / chercheur et universitaire, comme un moyen d'unir la théorie et la
pratique.
Mots-clés: travail sur le terrain, Géographie, Travail de Champ, Zone Géographique
1
Professora
Doutora
em
Geografia
do
Departamento
de
Geociências,
[email protected]
2
Graduando de Geografia (Bacharelado e Licenciatura), UFPB – [email protected]
3
Graduanda de Geografia (Bacharelado e Licenciatura), UFPB – [email protected]
UFPB,
2
A IMPORTANCIA DO TRABALHO DE CAMPO NA FORMAÇÃO DO
PROFISSIONAL DA GEOGRAFIA: UMA EXPERIÊNCIA A PARTIR DA
DISCIPLINA CARTOGRAFIA TEMÁTICA
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho se propõe a analisar criticamente a importância do trabalho de
campo no ensino de Geografia, tendo como exemplo a prática do trabalho de campo da
disciplina Cartografia Temática do curso de Geografia da Universidade Federal da
Paraíba. As áreas referentes à pesquisa exploratória no campo compreendem a carta de
Rio Sóe elaborada pelo Exército brasileiro na década de 1970.
A justificativa para tal estudo de campo partiu do fato de se querer saber mais
sobre o espaço paraibano. O trabalho de campo surge como um recurso importante no
processo de ensino-aprendizagem para se compreender a relação existente entre as
informações obtidas em sala de aula e a prática de campo para melhor aproveitamento
do conteúdo apreendido, tendo como objetivo principal familiarizá-lo com os aspectos
físicos e naturais e com as atividades humanas relacionadas ao uso da terra, percebendo
assim a identidade do lugar ou da comunidade.
2. IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE CAMPO NA FORMAÇÃO DO
PROFISSIONAL DA GEOGRAFIA
O trabalho de campo para não ser somente um empirismo, deve articular-se a
formação teórica que é, ela também, indispensável (LACOSTE, 1985). A maioria dos
profissionais da geografia considera que o momento fundamental e, talvez, o principal
do fazer geográfico, seja o trabalho de campo, tanto no desenvolvimento de uma
pesquisa, como na transmissão de conhecimento para outras ciências. Tal fazer
geográfico é reconhecido como instrumento de suma relevância para verificação e
registro das transformações das paisagens. Esta abordagem também é conduzida para o
ensino da cartografia temática na geografia, levando–se em consideração a
representação cartográfica como um meio lógico de abordar criticamente e de forma
clara a realidade. Para (Oliveira, 1977),
A Geografia tem por tarefa descrever, analisar e predizer os acontecimentos
terrestres. A descrição, análise ou predição geográfica dos fenômenos é
sempre realizada tendo em vista suas coordenadas espaciais e mediante a
3
observação de campo. Como o conceito geográfico de espaço coincide com
o de toda a Terra, o geógrafo teve necessidade de recorrer à representação da
superfície terrestre para realizar seus estudos (OLIVEIRA, 1977).
Segundo Souza et al. (2008), por meio do trabalho de campo é possível
desenvolver as habilidades de observar, descrever, interpretar fenômenos naturais e
sócios espaciais nos alunos, e inferir na boa formação de profissionais na área das
geociências.
A Geografia surge enquanto ciência no século XIX, cujo objeto de estudo é o
espaço geográfico; portanto o objeto de interesse da Geografia é este espaço, um espaço
social, resultante da produção humana ao longo do tempo (Martinelli, 1990), porém a
prática do trabalho de campo já era realizado atráves das viagens exploratórias do então
naturalista Alexander Von Humboldt (1769–1859), um dos sistematizadores da
disciplina, em século antes.
Na chamada Geografia Tradicional, o trabalho de campo norteava-se na
observação e na descrição dos elementos contidos nas paisagens, o que resultava numa
prática de ensino puramente descritiva e numa leitura acrítica do espaço geográfico.
Sobre essa analise acrítica ALVES et.all explana o seguinte,
Durante muito tempo as viagens se constituíram como o principal processo
para o desenvolvimento do conhecimento dos espaços geográficos. Assim,
esses conhecimentos serviam de instrumento de poder sobre os demais, visto
que os viajantes e expedicionistas detinham informações que serviriam aos
interesses de cunho político e econômico, como projetos de conquista e
colonização de novos territórios. (ALVES et.alli, 2008).
Na chamada Geografia Crítica o trabalho de campo se destaca pela importância
da preparação e da contextualização do mesmo, para que se possa propiciar ao aluno o
interesse pelo estudo do lugar vivido e a compreensão das contradições espaciais
existentes. O trabalho de campo ao ser realizado, especialmente por pesquisador e
estudante da Ciência Geográfica, têm como objetivo proporcionar ao cientista/estudante
a análise das relações existentes no espaço geográfico, bem como realizar observações
de aspectos fisiológicos, urbanos, sociais, econômicos e culturais na paisagem de forma
empírica, buscando sempre a interrelação entre fenômenos, chegando a conclusões
diversas. Sobre a importância da prática do trabalho de campo na Geografia, Valéria di
Marcos (2006) explana seu pensamento,
4
Penso que a maior parte dos geógrafos concorde com o fato de que a ida a
campo seja um instrumento didático e de pesquisa de fundamental
importância para o ensino e pesquisa da/na Geografia. Enquanto recurso
didático, o trabalho de campo é o momento em que podemos visualizar tudo
o que foi discutido em sala de aula, em que teoria se torna realidade, se
‘materializa’ diante dos olhos estarrecidos dos estudantes, daí a importância
de planejá-lo o máximo possível, de modo a que ele não se transforme numa
‘excursão recreativa’ sobre o território, e possa ser um momento a mais no
processo ensino/aprendizagem/produção do conhecimento (MARCOS,
2006).
Na atualidade o trabalho de campo é um recurso metodológico de ensino–
aprendizagem que vem se apossando do seu espaço oficial nas práticas curriculares da
Geografia como um dos instrumentos de maior interesse e produtividade no ensino da
Geografia e na formação do profissional da Geografia.
Cabe ressaltar que o trabalho de campo não deve ser visto como um fim mais
sim com um meio, para elucidar a teoria vista em sala de aula e elencar novas
indagações ao retornar a sala de aula. Ademais, outros valores de grande relevância são
acrescidos, como cooperação na realização de trabalhos em equipe, gosto pelo estudo e
pela investigação, desenvolvimento da sensibilidade e da percepção. Estreitamento das
relações professor–aluno e aluno–aluno e das relações entre comunidade acadêmica e
meio ambiente.
Desse modo, lembramos que durante o desenvolvimento do trabalho de campo,
todo o processo (planejamento, execução, análises e relatórios), o professor tem a
preocupação constante de situar a atividade dentro do contexto dos objetivos pelos quais
estão sendo desenvolvidas as tarefas, isto se faz necessário para evitar o “fazer pelo
fazer”, apenas.
O trabalho de campo como prática pedagógica no ensino da geografia é eficaz
em sua proposta quando precedido de uma discussão além de um levantamento
bibliográfico, cartográfico, estatístico e contatos com possíveis interlocutores. Tal
discussão leva professor e aluno a tematizarem a proposta a ser problematizada em
campo. Este estudo teórico prévio tem a finalidade de construir um embasamento
conceitual e metodológico que fluirá em uma maior aprendizagem.
Fazer trabalho de campo representa, portanto, um momento do processo de
produção do conhecimento que não pode prescindir da teoria, sob pena de tornar-se
vazio de conteúdo, incapaz de contribuir para revelar a essência dos fenômenos
geográficos. Em favor disso Pierre Monbeig (1936) afirmava que, “[...] as excursões
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constituem um valioso auxílio e devem ser aproveitadas e aplicadas com o objetivo
definido, geográfico, afim de que não redundem em simples passeio ou viagem de
turismo”.
Nesse sentido, Alentejano & Rocha-Leão (2006) diz que o trabalho de campo
não pode ser mero exercício de observação da paisagem, mas, parte desta paisagem para
compreender a dinâmica do espaço geográfico, num processo mediado pelos conceitos
geográficos.
Mediante esse fato percebe-se a importância do trabalho de campo como
fortalecimento do discurso contemporâneo dentro do conhecimento geográfico de
desconstruir a dicotomia entre geografia física/geografia humana ainda muito presente
em nosso meio. Ainda para Alentejano & Rocha-Leão (2006) cabe destacar que tanto na
realidade do campo quanto na teoria os aspectos sociais e naturais da realidade são
indissociáveis.
Vale ressaltar que o trabalho de campo é relevante para a Ciência Geográfica,
todavia não se deve utilizá-lo como a única ferramenta para o ensino da geografia, e
sim, como um instrumento que comunga prática e teoria.
Nesse sentido, Tomita (1999) destaca que,
Não se deve encarar essa atividade como um fim, mas como um meio que
tenha o seu prosseguimento ao retornar à sala de aula. Se o objetivo é a
melhoria do ensino em Geografia, só há um caminho a seguir pelo professor:
não ficar ancorado apenas na acumulação de um saber geográfico do livro
didático, sair dos exaustivos discursos, dos questionários sem fundamento,
intensificar a comunicação com os alunos, ter a preocupação em atualizar e
aperfeiçoar o conhecimento e ter satisfação em experimentar as novas
técnicas. (TOMITA, 1999).
3. RELATO DE UM TRABALHO DE CAMPO
A disciplina Cartografia Temática realizou no período 2009.1 um trabalho de
campo que teve como finalidade levar o aluno a compreensão do que é uma pesquisa
exploratória e de assimilar de forma clara a representação do relevo observando o
princípio da construção das curvas de nível como elemento fundamental da carta
topográfica primando pela qualidade das informações obtidas. Como objeto de estudo
foi abordado o espaço físico paraibano mediante a observação direta. Para realização da
pesquisa in loco, se utilizou como auxílio didático o atlas geográfico da Paraíba, como
uma ferramenta para se ter uma noção geral do espaço; aparelhos de GPS, com a
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finalidade de localizar a área de estudo e o caminho percorrido; e, carta da SUDENE,
Rio Soé, na escala 1:25 000, editadas em 1975, para avaliação da paisagem e
comparação desses elementos conforme as modificações ocorridas num determinado
espaço de tempo.
Como primeiro ponto de observação temos a paisagem do Rio Paraíba nas
coordenadas geográficas 7º 06’ 21” de latitude Sul e 34º57’49” de longitude Oeste.
(figura 1).
Figura 1 – Vista parcial Rio Paraíba
Foto: Diego Silvestre – Data: 04/08/2009
A bacia do rio Paraíba corresponde a 18.000km² e representa 32% da área
territorial do estado, que tem mais de 60% de suas fronteiras constituídas de divisores
de águas, sendo que o contorno sul quase reproduz em escala maior a bacia do rio
Paraíba, que deu o nome ao estado. O rio nasce numa das regiões mais secas, o Cariri, e
de água numa região de grande riqueza, a região canavieira, na planície litorânea. A
maior parte de seu percurso se dá no alto da Serra da Borborema. De lá, desce passando
pelo Agreste, atingindo o litoral (SILVA, 2005).
Um ponto a se atentar para o rio Paraiba é o seu alto nível de assoreamento que
nada mais é do que acumulação de particulas sólidas em meio aquoso, que se deveu
sobretudo a retirada de sua mata ciliar para a expansão do cultivo de cana de açucar.
Em 1985 no município de Santa Rita as matas de Cravuçu e Aldeia que
constituiam o maior testemunho da Mata Atlântica existente no Estado, foram, em sua
maior parte, substituídas pela cana e por estradas de acesso as destilarias de Jacuípe e
Japungu no processo de degradação dessa mata nem mesmo as áreas de cabeceiras de
cursos d’água foram preservados (MOREIRA, 1997 apud CARVALHO &
MADRUGA, 1985).
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Esse assoreamneto causa a redução do talvegue do rio que no período de cheia
transborda rapidamente causando prejuizo, tanto aos poucos ribeirinhos que moram as
margens dos rio quanto a cidades inteiras como Cruz do Espiríto Santo, que já foi
totalmente devastada pela enchentes do Rio. Das chuvas irregulares que caem
violentamente em determinadas épocas do ano, resultam as súbitas enchentes, cujas
correntes avançam em forma de cabeças d’água barrentas, levando de roldão tudo o que
encontram pela frente, inchando seu volume e causando enormes prejuízos.
A ausência da mata ciliar nas margens se faz tão ausente que é possivel observar
faixas arenosas que lembram praias que na verdade são os fornecedores de particulas
sólidas ao leito do rio. (figura 2).
Figura 2 - Assoreamento do Rio Paraíba – Foto: Diego Silvestre – Data: 04/08/2009
É possível também observar dentro do leito rio uma pequena ilha formada pelo
imensa quantidade de particulas sólidas que já foi lançada dentro do rio.
Em direção ao segundo ponto de parada podemos observar a homogeneização
que a cana de açucar causou na paisagem rural do trecho oriental de nosso Estado.
Segundo MOREIRA & TARGINO (1997) a paisagem tranformada pela cana
reproduziu em menor ou maior escala a dinâmica de organização do espaço a sua
submissão as novas leis do processo.
Como segundo ponto de observação temos a paisagem do Rio Jacuípe na
Rodovia Estadual - PB 025, mais precisamente nas coordenadas 07º00’00” de latitude S
e 34º59’11” de longitude O. Mediante leitura da carta topográfica do Rio Soé de 1973,
esta área era dominada por vegetação de mata, florestas e bosques. Todavia o que se
observa in loco são pequenos fragmentos dessa vegetação onde podemos afirmar que há
três décadas atrás se fazia abundante (figura 3).
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Os estímulos fornecidos pelo governo federal através do Proalcool a expansão da
cana não só sobre os tabuleiros costeiros e encostas do Brejo, como sobre municípios do
Agreste Baixo, do Agreste Ocidental e do Piemonte da Borborema. Em outras palavras,
o rompimento da barreira ecológica constiuída pelos tabuleiros e encostas íngremes do
Brejo tornou-se possível a partir do momento em que:
[...] os preços do açucar, e posteriomente do álcool, compesaram os
investimentos necessários para a aquisição de novas terras, a modernização
dos equipamentos, a ampliação do emprego de fertilizantes, herbicidas e de
outras variedades de cana mais adaptadas ás novas condições ecológicas
(EGLER & TAVARES, 1984).
Essa expansão fez com milhares de hectares de mata que se desenvolviam sobre
os tabuleiros fossem devastadas para dar lugar a cultura de cana de açucar.
Figura 3 - Áreas devastadas e Fragmentos de mata em Santa Rita
Fonte: Google Earth. Edição de imagem: Diego Silvestre
O Rio Jacuípe embora cercado pela devastação conserva ainda que pequena sua
vegetação ciliar e suas águas ainda se conservam limpidas a olho nú, todavia não
confiavéis sem uma análise mais apurada de sua qualidade química. Já que a dentre os
pesticidas orgânicos (naturais ou sintéticos) e os inorgânicos, os mais utilizados na
região canavieira paraibana estão os compostos clorados e derivados de compostos
organofosforados (Moreira, 1997, apud Mitsunaga, 1990). Devido ao alto poder de
filtração dos tabuleiros têm-se alto grau de contaminação ambiental de nascentes e
lençois freáticos.
Como terceiro ponto de observação tivemos a paisagem das áreas de manguezais
localizadas às margens do Rio Soé, ponto onde o rio recebe influência marinha cujas
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coordenadas 6º57’18” latitude Sul e 34º54’50” longitude Oeste, em uma area de
vegetação predominantemente típica de manguezal que possui raízes externas (aéreas),
com o solo pobre em oxigênio. As plantas possuem sementes compridas, finas e
pontudas, isto ocorre para facilitar a reprodução, pois quando caem no solo úmido,
podem se fixar com mais facilidade (figura 4).
Atualmente, através de imagens obtidas de satélites podemos observar uma
redução bem significativa desta vegetação no entorno do rio.(figura 5)
Figuras 4 e 5 - Vegetação típica de Mangue e Degradação da vegetação margens Rio Soé
Foto e Edição de imagem: Diego Silvestre. Fonte: Google Earth – Data: 04/08/2009
Segundo NOVELLI (1995), essa ocupação desordenada deve-se principalmente
ao
fato
desses
locais
apresentarem
condições
favoráveis
à
instalação
de
empreendimentos os quais normalmente visam atender interesses particulares. Entre as
condições favoráveis, destaca-se, segundo Schaeffer-Novelli (1995): 1 - Oferta quase
ilimitada de água, insumo importante para indústria, como a siderúrgica, a petroquímica
e as centrais nucleares; 2 - Possibilidade de fácil despejo de rejeitos sanitários,
industriais, agrícolas e/ou de mineração; 3 - Proximidade de portos, que facilitam a
importação de matéria prima para a transformação e a exportação de produtos,
diminuindo custos de carga e transporte; 4 - Pressão do mercado imobiliário; e, 5 – A
construção de marinas.
No caso do Rio Soé, além dos exemplos acima citados, grande parte de sua
vegetação foi extraída para dar lugar a estradas de acesso a destilarias como a Jacuípe e
Japungu, e a extensas plantações de cana de açucar que desde seus primórdios deu-se
nas áreas úmidas do Brejo e nas várzeas dos rios do Litoral, só a posteriori com o
avanço e inserção de novas tecnologias na agricultura na década de 1970 que a cana irá
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subir o tabuleiro costeiro. A flora, ou seja, as árvores do manguezal foram também
utilizadas para obtenção de madeira para construção de barcos, casas, cercados,
armadilhas de pesca, além de servirem para produção de combustível na forma de
carvão, para alimentarem as usinas canavieiras.
Outro relevante fato observado no Rio Soé é que neste ponto no momento em
que recebe a influência marinha e onde ocorrem os manguezais, o rio começa a
meandrar. O quarto ponto de observação do trabalho de campo, ocorreu às margens do
Rio da Guia nas coordenadas 06º57’23” de latitude Sul e 34º52’55” de longitude
Oeste. O Rio da Guia tem sua formação a partir de confluência de três rios que são eles:
Sóe, Apira (ou Preto) e Tapira. Na margem direita do Rio da Guia foi possivel observar
a vegetação de mangue com um certo grau de preservação, em contra partida à margem
esquerda, se observou o avanço das residências sobre a vegetação (figura 6).
Figura 6- Rio da Guia – Preservação x Devastação
Fonte: Google Earth. Edição de imagem: Diego Silvestre.
Segundo SHAEFFER-NOVELLI (1995) essa ocupação desordenada deve-se
principalmente ao fato desses locais apresentarem condições favoráveis à instalação de
empreendimentos os quais normalmente visam atender interesses particulares.
Nesse ponto de observação podemos explicar o avanço sobre o mangue a partir
de quatro condições a saber: 1 - Oferta quase ilimitada de água, embora a mesma corra
risco de poluição com a carcinicultura; 2 - Possibilidade de fácil despejo de rejeitos
sanitários e agrícolas; 3 - Pressão do mercado imobiliário, que vendem tais locais como
áreas de tranquilidade e beleza singular; e, 4 - Construção de marinas, para atracação de
iates de luxos, barcos e jet sky.
O último ponto de observação da aula de campo se deu em frente ao santuário de
Nossa Senhora da Guia nas coordenadas 06º57’14” de latitude Sul e 34º52’39” de
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longitude Oeste. Quanto as modificações existentes em relação a carta topográfica Rio
Soé de 1973 a área que ocupava um grande alagado natural foi substituida pela
carcinicultura (representada por doze imensos reservatórios) (figura 7 e 8).
A produção de camarão em viveiro, atividade que foi iniciada no Brasil na
década de setenta, já se desenvolvia em outros países da Ásia e das Américas Central,
do Sul e do Norte, a exemplo de Bangladesh, Vietnã e México. É um mercado seletivo e
exigente quanto à qualidade do produto.
Figura 7 e 8 - Reservatórios de Carcinicultura
Edição de imagem e Foto: Diego Silvestre. Fonte: Google Earth – Data: 04/08/2009
A espécie criada nesses tanques são da espécie L. Vannamei, da costa do
Pacífico, região de clima semelhante área litorânea brasileira foi a que melhor adaptouse, especialmente ao Nordeste. Essa espécie apresentou maior rentabilidade em cultivos
semi-intensivos. Sendo técnica e economicamente viável, esta produção se consolidou
no Brasil, embora o país também produza as espécies nativas, Litopenaeus schmitti,
Fartantepenaeus brasiliensis, Fartantepenaeus.paulensis, bem como algumas exóticas:
L. vannamei, L. stylirostris e Panaeus monodon (IGARASHI, 2005).
Embora a produção do camarão L.Vannamei se adapte bem às áreas estuarina,
tem causado muitos conflitos econômicos e impactos ambientais no Brasil.
Dentre os impactos causados pela carcinicultura no Estado da Paraíba podemos
destacar a disseminação da espécie exótica do camarão; aumento da erosão; mudança na
paisagem (impacto visual); salinização do solo e , principalmente, do lençol freático, já
que os viveiros de camarões foram instalados em terrenos arenosos e outro impacto que
podemos destacar é a eutrofização que é fenômeno responsável pelo aumento de matéria
orgânica no manguezal pode causar um impacto ambiental negativo quando a
eutrofização é sistematicamente repetida e excessiva. Segundo LIMA et alli., (2004) a
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questão da sustentabilidade ambiental da atividade impõe risco aos ecossistemas,
especialmente em áreas estuarinas em muitos paises a criação em cativeiros culminou
com o desaparecimento dos mangues devido aos impactos causados.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância do trabalho de campo deve ser enfatizada como recurso didático e
implantada como dsciplina obrigatória na grade curricular do Curso de Geografia da
UFPB, porque tal recurso oferece potencialidades formativas que devem ser levadas em
consideração no processo ensino-aprendizagem como uma das técnicas pedagógicas
mais acessíveis e eficazes ao pesquisador da ciência geográfica.
A partir de diversos estudos de campo, realizados no Curso de Geografia, foram
observadas mudanças no desempenho do aluno referente ao aprendizado, tanto da
disciplina que ora realiza o trabalho, como na transformação do aluno e sua definição
como estudante da geografia. No exemplo de estudo de campo explicitado neste
trabalho, considerou-se o estudo da carta do rio Soé datada de 1975, feito uma primeira
leitura em sala de aula e uma segunda leitura no campo, ou seja, no recorte espacial
elegido como área de estudo. No decorrer do trabalho, podemos observar que ocorreram
mudanças significativas na paisagem em relação a primeira leitura da carta, de forma a
se distinguir o processo de expansão da cana-de-açúcar iniciado na década de 1970
como o grande vilão da substituição da vegetação nativa (de várzea e de Mata Atlântica)
em quase sua totalidade. Observou-se também, nessa área, que a cana-de-açúcar
adentrou às áreas alagadas, violando os limites naturais da preservação permanente e
proteção dos rios.
Em suma, o exercício de campo trouxe à formação do profissional da geografia a
capacidade de integrar a teoria vista em sala de aula com a realidade da prática de
campo e também de aprofundar os conhecimentos acerca das temáticas propostas para
confecção do relatório. Através da prática do trabalho de campo percebemos e tomamos
consciência de que a realidade tratada no âmbito da sala de aula pode e deve ser
observada fora dela, não apenas pela descrição e beleza da paisagem, mas também pelo
conhecimento científico do conteúdo natural, histórico e social que o espaço transmite e
faz compreender e fazer juízo da sociedade contemporânea e de saber que esse
conhecimento vai ser devolvido à própria sociedade. Desse modo, podemos Constatar
que os objetivos traçados para essa prática de campo, atingiram o domínio cognitivo,
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como também a aquisição e consolidação dos conhecimentos específicos; despertar
consciências do espaço vivido e construído; despertar o espírito crítico e investigativo.
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